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UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS - UNISINOS UNIDADE ACADÊMICA DE GRADUAÇÃO CURSO DE SERVIÇO SOCIAL RÚBIA MENDES LEAL A ATUAÇÃO DO ASSISTENTE SOCIAL NA BUSCA POR JUSTIÇA SOCIAL UMA EXPERIÊNCIA A PARTIR DO PODER JUDICIÁRIO SÃO LEOPOLDO 2016

TCC - Serviço Social - Unisinos - 2016 - Rúbia Leal

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UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS - UNISINOS

UNIDADE ACADÊMICA DE GRADUAÇÃO

CURSO DE SERVIÇO SOCIAL

RÚBIA MENDES LEAL

A ATUAÇÃO DO ASSISTENTE SOCIAL NA BUSCA POR JUSTIÇA SOCIAL – UMA

EXPERIÊNCIA A PARTIR DO PODER JUDICIÁRIO

SÃO LEOPOLDO

2016

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Rúbia Mendes Leal

A ATUAÇÃO DO ASSISTENTE SOCIAL NA BUSCA POR JUSTIÇA SOCIAL – UMA

EXPERIÊNCIA A PARTIR DO PODER JUDICIÁRIO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Serviço Social, pelo Curso de Serviço Social da Universidade do Vale do Rio dos Sinos - UNISINOS

Orientadora: Prof.ª MS Cíntia Ribes Pestano

São Leopoldo

2016

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Ao meu marido Quenani Leal, que tem sido meu grande incentivador e companheiro

na jornada da vida, e a minha família por estarem sempre presentes e me apoiarem

em todos os momentos.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus, por direcionar meus passos e por me manter até aqui. Sua

vida em mim me fez querer um mundo melhor e me encorajou a transformar

realidades também por meio da profissão escolhida.

À Mestre Cíntia Ribes Pestano, pelos momentos de dedicação a orientação

na construção da monografia, pela contribuição na minha formação e seu exemplo

como profissional. Também aos professores e colegas que, ao decorrer do curso,

tanto me ensinaram e regaram em mim o amor pelo Serviço Social.

Às minhas supervisoras de estágio Rossânia Bittencourt Ferreira, Adriana

Fialho Miller, Andresa Cardozo e Michele Borges que foram profissionais generosas

e me deram a oportunidade de apreender, no convívio diário, sobre o trabalho do

assistente social.

Aos amigos e irmãos na fé, pela parceria, por me apoiarem também em

oração e compreenderem minha ausência.

Aos meus pais Alfredo e Edna, pelo exemplo de pessoas que são, e por

terem investido na minha educação desde o princípio e até hoje. Obrigada mãe

também pelas orações diárias. À minha irmã Aline, que sempre me incentivou a ter

uma formação, se colocando a disposição até para a correção do trabalho. Aos

meus sogros Gustavo e Neusa, por estarem presentes e auxiliarem nos dias de

dificuldades. E ao meu marido, pelos chocolates necessários, por ser meu apoio,

meu companheiro, meu amigo. Sem você eu não conseguiria.

A vocês, a minha gratidão.

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O lugar de imparcialidade na avaliação da justiça social e dos arranjos sociais é fundamental para compreensão da justiça. (SEN, 2011, p.153).

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RESUMO

O presente trabalho visa refletir sobre a atuação do Assistente Social

Judiciário na busca por justiça social, a partir da prática vivenciada durante o período

de estágio realizado no Foro de São Leopoldo. O estudo propõe a construção de

uma definição de justiça social por meio do estudo bibliográfico de diferentes

autores, referente ao termo justiça e da atuação profissional no Serviço Social

Judiciário. Parte-se da Declaração Universal de Direitos Humanos, da Constituição

Federal de 1988 e da consideração das Necessidades Básicas Universais, como

base para a análise da prática do profissional neste campo sócio-ocupacional. A

atuação do profissional neste espaço ocorre mediante determinação judicial, para

realização de estudo e parecer social, que serve de ferramenta na decisão do juiz. A

partir das reflexões da prática do assistente social e do termo de audiência,

compreende-se que a atuação do assistente social judiciário na busca por justiça

social é repleta de desafios e incertezas não havendo garantias, atuando de forma

individual entre seus limites e possibilidades.

Palavras-chave: Serviço Social. Poder Judiciário. Justiça Social. Prática

Profissional.

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LISTA DE SIGLAS

CAPS I Centro de Atenção Psicossocial Infantil

CFESS Conselho Federal de Serviço Social

CNA Cadastro Nacional de Adoção

CRESS Conselho Regional de Serviço Social

ECA Estatuto da Criança e do Adolescente

EJA Ensino de Jovens e Adultos

GASJ Grupo de Assistentes Sociais Judiciários do Rio Grande do Sul

LOAS Lei Orgânica da Assistência Social

NBR Normas Brasileiras de Regulação

ONU Organizações das Nações Unidas

PAAS Projeto de Atenção Ampliada a Saúde

RS Rio Grande do Sul

STF Supremo Tribunal Federal

STJ Supremo Tribunal de Justiça

STM Superior Tribunal Militar

SUS Sistema Único de Saúde

TJ Tribunal de Justiça

TRE Tribunal Regional Eleitoral

TRT Tribunal Regional do Trabalho

TSE Tribunal Superior Eleitoral

TST Tribunal Superior do Trabalho

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 8

2 O SERVIÇO SOCIAL NO JUDICIÁRIO ................................................................. 10

2.1 Processos de Trabalho do Assistente Social no Poder Judiciário ............... 12

3 JUSTIÇA SOCIAL ................................................................................................. 21

4 SERVIÇO SOCIAL E JUSTIÇA SOCIAL............................................................... 31

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 44

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 48

ANEXO A – RELATÓRIO DE ATIVIDADES DE MARÇO E ABRIL DOS ANOS DE

2011 E 2016 .............................................................................................................. 54

ANEXO B – PARECER SOCIAL .............................................................................. 56

ANEXO C – TERMOS DE AUDIÊNCIA .................................................................... 60

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1 INTRODUÇÃO

Vive-se em um mundo desigual, percebe-se esta desigualdade nos valores

socioeconômicos, éticos e culturais, nas diferenças de classes sociais e na

dificuldade de acessar direitos. Por este e outros motivos, existem órgãos

reguladores que buscam justiça, igualdade e equidade.

O Judiciário é um destes órgãos que, regido por leis, busca garantir direitos

por meio de processos, porém a burocratização, a demora e o desconhecimento da

realidade impedem a total efetividade de garantia dos direitos e a concretização da

justiça social.

Diariamente, o Serviço Social do Judiciário recebe pessoas que vivenciam esta

desigualdade, têm seus direitos violados e sofrem com a injustiça social. Entretanto,

o trabalho do assistente social judiciário é pouco conhecido pelos usuários deste

serviço, pela rede sociojurídica e pelos próprios funcionários do Foro, trabalho esse

que apoia as varas judiciais na busca pela garantia e efetivação de direitos e da

justiça social.

Cabe ao assistente social conhecer a realidade das famílias envolvidas por

meio de estudo social determinado pelo juiz de direito. Realiza-se entrevista,

possibilitando ao usuário deste serviço ser ouvido mais uma vez, porém, sem se

sentir intimidado ou receoso pela audiência. O resultado é o parecer social, que

pode contribuir para uma decisão de proteção dos direitos do indivíduo.

Na análise dessa realidade, percebe-se que o assistente social tem papel

fundamental neste espaço, possibilitando uma maior humanização e cuidado para

com o usuário e contribuindo para a concretização de justiça social. Assim, a

escolha do tema se justifica pela observação à prática de atuação do assistente

social do judiciário, na busca por garantia de direitos e justiça social, por meio de

estudos e pareceres sociais, realizados por determinação do Juiz a fim de subsidiar

sua decisão. Despertou-me o interesse pelo conhecimento da realidade dos sujeitos

por detrás dos processos, e qual a relevância no intuito de garantir e preservar a

justiça social, a partir do que vivencie no período de estágio obrigatório realizado no

setor do Serviço Social do Foro de São Leopoldo. Tal observação é mediada por

contradições em um espaço que faz cumprir as leis, garantir direitos e punir.

Oportunizar-se-á neste trabalho o conhecimento do serviço prestado pelo

Serviço Social Judiciário desta Comarca, o qual busca viabilizar direitos por meio da

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atuação profissional, na realização de estudos sociais, laudos e pareceres,

contribuindo com a construção da justiça social e com a possível mudança na

realidade do usuário. Desta forma, o objetivo deste trabalho é conhecer o cotidiano

do assistente social do judiciário do Foro de São Leopoldo e sua atuação

profissional na contribuição para a concretização da justiça social.

Para tanto, o trabalho está organizado em cinco capítulos. Além da

introdução, o segundo capítulo trata do conhecimento do campo sócio jurídico e o

processo de trabalho do assistente social judiciário. O terceiro capítulo busca

construir um conceito sobre justiça social por meio de estudo bibliográfico e da

atuação profissional na busca por garantir direitos e diminuir desigualdades. O

quarto capítulo refere-se à experiência vivenciada no período da realização do

estágio em Serviço Social no Foro de São Leopoldo, na análise da atuação do

profissional e na possibilidade de concretização da justiça social. Por fim, o quinto

capítulo contém as considerações finais com uma reflexão acerca da busca por

justiça social a partir da atuação do assistente social do Judiciário. Apontar-se-ão,

também, os desafios que se mostram para a efetivação deste direito.

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2 O SERVIÇO SOCIAL NO JUDICIÁRIO

O Judiciário Gaúcho completou 140 anos, conforme boletim informativo online

do Tribunal de Justiça (TJ) do Estado do Rio Grande do Sul (RS). No sítio eletrônico

do TJ/RS, consta que a Justiça no Brasil começou a ser instalada em 1530, quando

Martim de Souza recebeu amplos poderes de D. João III, Rei de Portugal, para,

inclusive, sentenciar à morte autores de delitos então considerados mais graves.

(SOUZA, 2014).

De acordo com o Portal Brasil, o País é regido por três poderes: o Legislativo,

o Executivo, e o Judiciário. O Poder Legislativo é aquele que tem a função de fazer

as leis do País, sendo composto pela Câmara Legislativa e o Senado Federal. O

Poder Executivo tem a função de governar o povo e administrar interesses públicos

executando as leis elaboradas pelo Poder Legislativo. O Poder Judiciário tem como

função garantir direitos individuais, coletivos e sociais, resolver conflitos entre

cidadãos, entidades e Estado. Compõem o Poder Judiciário Supremo Tribunal

Federal (STF), que zela pelo cumprimento da Constituição. O Supremo Tribunal de

Justiça (STJ), cuja responsabilidade é interpretar, de maneira uniforme, a legislação

federal, sendo composto por 33 ministros nomeados pelo Presidente da República.

O STJ julga causas criminais relevantes envolvendo governadores,

Desembargadores, Juízes entre outras autoridades. (O PODER..., 2010).

O sistema Judiciário federal, segundo o Portal Brasil, também é composto

pela Justiça Federal comum, e a Justiça especializada, como a Justiça do Trabalho,

julga conflitos individuais e coletivos entre trabalhadores e patrões, sendo composta

por juízes trabalhistas que atuam nos tribunais regionais do Trabalho (TRT) e

ministros que atuam no Tribunal Superior do Trabalho (TST). A Justiça Eleitoral tem

como objetivo garantir direito ao voto sigiloso e direto, sendo responsável por

organizar, monitorar, apurar as eleições e diplomar os candidatos eleitos, sendo

composta por juízes eleitorais que atuam nos tribunais regionais eleitorais (TRE) e

por ministros atuando no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Outra justiça

especializada é a Justiça Militar, que tem a função de julgar e processar crimes

militares, composta por militares e os ministros que atuam no Superior Tribunal

Militar (STM). A Justiça estadual, cuja organização compete a cada estado. Nela

estão os juizados especiais, cíveis e criminalistas, atuando os juízes de Direito e

desembargadores. À Justiça estadual cabe processar e julgar causas que não

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estejam na Justiça Federal comum, do Trabalho, Eleitoral e Militar. Tem poder sobre

a Justiça comum federal e estadual o Supremo Tribunal Federal e o Superior

Tribunal de Justiça. (CONHEÇA..., 2009).

A história do Judiciário no RS tem início no dia 3 de fevereiro de 1874. Nesse

dia, foi instalado, na Rua Duque de Caxias, 225, em um prédio alugado que

atualmente não existe mais, o Tribunal de Relações de Porto Alegre, com jurisdição

sobre as Províncias de São Pedro do Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Esse foi

o berço do atual Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul. (RIO GRANDE

DO SUL, 2010).

Conforme a legislação ligada a Comarca de São Leopoldo, sua criação foi em

29/03/1875, através da Lei nº 965, desmembrada da Comarca de Porto Alegre.

Foram anexados outros municípios de abrangência, e posteriormente

desmembrados com a criação das Comarcas de Novo Hamburgo, Esteio, Estância

Velha e Dois Irmãos. Somente em 02/04/1990, pelo Ato nº 06/90-CM, a Comarca de

São Leopoldo foi classificada como de entrância intermediária, de acordo com o

número de processos, densidade demográfica, rendas públicas, meios de

transporte, situação geográfica, bem como outros fatores socioeconômicos de

relevância. Em 2008, o Foro de São Leopoldo ganha nova sede, com a Defensoria

Pública no mesmo prédio e o Ministério Público no prédio vizinho, o que vem

qualificar e agilizar o atendimento das demandas. (PORTO ALEGRE, 1833).

Atualmente, o Brasil beira a marca de 100 milhões de processos judiciais em

andamento, conforme dados do boletim informativo online do Tribunal de Justiça do

Estado do Rio Grande do Sul. Na área Judiciária, o Serviço Social é considerado um

serviço auxiliar, cabendo ao Assistente Social oferecer informações que irão

subsidiar as decisões do magistrado. (SOUZA, 2014).

Conforme entrevista realizada pela acadêmica Caren Coutinho, às servidoras,

Beatriz Braun Martins, Oficial Escrevente do cartório da 1ª Vara de Família, e com a

Assistente Social Beatriz Chaves, desde o final da década de quarenta, o

profissional de Serviço Social é chamado a intervir no Judiciário basicamente como

perito, fornecendo subsídios técnicos na área de sua competência profissional para

decisão judicial. (COUTINHO, 2008).

No estado do RS, o primeiro concurso para técnico dessa área aconteceu em

Porto Alegre, oferecendo dez vagas, sendo que, em 29/12/1955, apenas sete

profissionais foram selecionadas. Atualmente, o Judiciário gaúcho tem

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aproximadamente 110 assistentes sociais, distribuídas em 48 Comarcas, do total de

164 Comarcas, segundo informação de Marleci Hoffmeister, assistente social da

Coordenadoria da Infância e Juventude do Tribunal de Justiça. (informação verbal).1

O Serviço Social Judiciário em São Leopoldo iniciou em janeiro de 1986, sendo

lotada uma assistente social para exercer suas funções junto à 2ª Vara Criminal e o

Juizado de Menores. A partir do interesse do juiz da época, foi aberta mais uma

vaga no setor de Serviço Social, tendo assumido, em agosto de 1994, outro

assistente social, lotado para exercer suas funções junto à Vara da Infância e

Juventude. (COUTINHO, 2008).

2.1 Processos de Trabalho do Assistente Social no Poder Judiciário

A prática profissional do Assistente Social é orientada por princípios e direitos

firmados na Constituição de 1988, por leis complementares referentes a direitos e

políticas sociais e Código de Ética. A profissão é regida pela Lei Federal n°8.662/93

e regulamentada pelo Conselho Federal e Conselhos Regionais.

A Lei n° 8.662/93 dispõe sobre as competências, atribuições privativas,

representação da categoria e sobre o funcionamento dos Conselhos, o Conselho

Federal de Serviço Social (CFESS) e o Conselho Regional de Serviço Social

(CRESS). Essa lei refere, como competência do Assistente Social, o compromisso

com os movimentos sociais e defesa dos direitos “IX- prestar assessoria e apoio aos

movimentos sociais em matéria relacionada às políticas sociais, no exercício e na

defesa dos direitos civis, políticos e sociais da coletividade”. (BRASIL, 1993).

O Código de Ética mais recente foi instituído em 1993, sendo uma revisão do

Código de Ética de 1986. Ele contém um conjunto de princípios, direitos, deveres e

proibições, sendo um projeto profissional contemporâneo comprometido com a

democracia e com o acesso universal dos direitos sociais, civis e políticos.

Considerando a necessidade de criação de novos valores éticos, fundamentados na definição mais abrangente, de compromisso com os usuários, com base na liberdade, democracia, cidadania, justiça e igualdade social. (CFESS, 2012a, p. 18).

Este código está dividido em duas partes: a primeira reafirma valores

fundantes de liberdade e justiça social, tendo como valor ético a democracia, como

1 Informação obtida por communicator interno dia 22 de março de 2016.

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um padrão de organização politico – social e como valores liberdade e equidade. A

segunda parte trata dos relacionamentos com outros profissionais e usuários,

buscando normatizar o exercício profissional e afirmando valores que resultem em

qualidades de serviços e responsabilidades. Valores estes tidos como princípios que

se colocam a favor da justiça social, que assegure universalidade de direitos e

acessos. “V. Posicionamento em favor da equidade e justiça social, que assegure

universalidade de acesso aos bens e serviços relativos aos programas e políticas

sociais, bem como sua gestão democrática”. (CFESS, 2012a, p. 23).

A Constituição de 1988 no seu artigo 3° coloca como objetivos fundamentais

“I - construir uma sociedade livre, justa e solidária; [...] III - erradicar a pobreza e a

marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais”. (BRASIL, 1988).

Tanto a Constituição de 1988 quanto a Lei 8.662/93 e o Código de Ética

buscam a defesa e acessibilidade de direitos coletivos e individuais e valoram a

justiça social. (BRASIL, 1988; BRASIL, 1993; CFESS, 2012a).

Um dos primeiros campos de trabalho na esfera pública no campo

sociojurídico foi o Juizado de Menores2 do Rio de Janeiro, onde, segundo o

documento do CFESS, o Serviço Social deveria tentar manter o controle, assim

desejado pelo Estado, sobre o problema da infância pobre e abandonada, chamada

até de delinquente. (CFESS, 2014). As atuações no chamado campo sociojurídico

foram se expandindo, nas fiscalizações de trabalho infantil, nas medidas

socioeducativas, até os dias atuais em que o Assistente Social do Judiciário atua na

busca por garantia de direitos em diferentes tipos de ações, em processos a pedido

dos Juízes das Varas de Família, Criminal e Juizado de Infância e Juventude. Nessa

última se concentra grande parte do trabalho dos assistentes sociais.

O assistente social judiciário ou forense, como costuma ser denominado, atua nos diferentes órgãos e setores do Poder Judiciário, intervindo prioritariamente nas varas de Infância e Juventude e nas Varas de Famílias e Sucessões dos Tribunais de Justiça em processos cujas decisões judiciais envolvem as vidas de crianças , adolescentes e famílias. (CHUAIRI, 2001, p. 137).

O objeto profissional do assistente social judiciário são as expressões da

questão social, que se expressam por meio da pobreza, da violência, na fragilidade

2 Em 1927 é promulgado o primeiro Código de Menores no Brasil e o Poder Judiciário cria e

regulamenta o Juizado de Menores, somente depois da Constituição Federal de 1988 em seu artigo 227 que é assegurado pelo Estado, com prioridade, o direito da criança e do adolescente, não mais do menor. (SOARES, [2016?]).

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dos vínculos, atuando em situações que envolvem os sujeitos usuários das políticas

públicas sociais do Estado.

O assistente social convive cotidianamente com as mais amplas expressões da questão social, matéria prima de seu trabalho. Confronta-se com as manifestações mais dramáticas dos processos da questão social no nível dos indivíduos sociais, seja em sua vida individual ou coletiva.

(ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ENSINO DE SERVIÇO SOCIAL (ABESS); CENTRO DE ESTUDOS E PROJETOS EM EDUCAÇÃO, CIDADANIA E DESENVOLVIMENTO SOCIAL (CEDEPSS), 1996, p. 154-5).

Nos processos de guarda, quando um familiar quer se responsabilizar por

uma criança ou adolescente, por diversos motivos, estando os pais ainda vivos, o

juiz atribui ao assistente social do judiciário a realização de estudo social na

residência dos guardiões, com a presença da criança ou adolescente e entrevista

para conhecimento da realidade.

Art. 32. Ao assumir a guarda ou a tutela, o responsável prestará compromisso de bem e fielmente desempenhar o encargo, mediante termo nos autos. Art. 33. A guarda obriga a prestação de assistência material, moral e educacional à criança ou adolescente, conferindo a seu detentor o direito de opor-se a terceiros, inclusive aos pais. (BRASIL, 1990).

O profissional observa se estão sendo atendidos os interesses da criança ou

adolescente, opinando pelo deferimento ou indeferimento da guarda, semelhante ao

processo de tutela, em que é feito o mesmo procedimento, porém, em casos de pais

falecidos ou que perderam o poder familiar.

Art. 36. A tutela será deferida, nos termos da lei civil, a pessoa de até 18 (dezoito) anos incompletos. Parágrafo único. O deferimento da tutela pressupõe a prévia decretação da perda ou suspensão do pátrio poder familiar e implica necessariamente o dever de guarda. (BRASIL, 1990).

Nos processos de habilitação para adoção, são realizadas entrevistas para

conhecimento dos pretendentes e suas motivações à adoção. Também é realizada

visita domiciliar, são esclarecidas dúvidas e dadas orientações a respeito do

processo para que o juiz possa conhecer o casal, deferir ou indeferir a habilitação e

colocá-los no Cadastro Nacional de Adoção (CNA).

Quando uma criança ou adolescente tem os genitores destituídos do poder

familiar, sendo constatado que não é possível ser acolhida pela família extensa

porque, segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), não cumprem seus

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deveres de cuidadores, colocando-a em situação de violação de direitos, a mesma é

colocada para a adoção. É então instaurado um processo de preparação para

adoção.

Art. 24. A perda e a suspensão do poder familiar serão decretadas judicialmente, em procedimento contraditório, nos casos previstos na legislação civil, bem como na hipótese de descumprimento injustificado dos deveres e obrigações a que alude o art. 22. (BRASIL, 1990).

O assistente social do judiciário faz uma consulta ao CNA, a partir das

características da criança, o qual apresenta uma lista de pretendentes, por ordem da

sentença da habilitação. “Art. 28. A colocação em família substituta far-se-á

mediante guarda, tutela ou adoção, independentemente da situação jurídica da

criança ou adolescente, nos termos desta Lei”. (BRASIL, 1990).

Uma vez encontrado o pretendente, inicia-se a adaptação por um período,

que varia conforme a idade e vinculação entre ambas as partes. Uma vez vinculados

- pretendente e criança ou crianças, no caso de irmãos - os habilitados recebem a

guarda por um ano, que poderá ser prorrogada por mais um ano, até que termine o

processo de adoção, que deverá iniciar depois de recebida a guarda. Iniciado o

processo, o juiz determina ao assistente social do judiciário que realize estudo social

e dê o parecer sobre o deferimento ou indeferimento sobre a adoção, após verificar

se os direitos da criança estão sendo atendidos.

§ 5o A colocação da criança ou adolescente em família substituta será

precedida de sua preparação gradativa e acompanhamento posterior, realizados pela equipe interprofissional a serviço da Justiça da Infância e da Juventude, preferencialmente com o apoio dos técnicos responsáveis pela execução da política municipal de garantia do direito à convivência familiar. . (BRASIL, 1990).

O assistente social judiciário atua também junto às medidas de proteção. Os

artigos 98, 100 e 101 do ECA referem, como medida de proteção à criança e ao

adolescente, aplicações de lei que atendam aos seus interesses e direitos. Sua

aplicação ocorre quando seus direitos são ameaçados ou violados, seja pela ação

ou omissão da sociedade, Estado, falta dos pais ou responsáveis ou pela sua

conduta. São levadas em conta suas necessidades pedagógicas, visando sempre o

fortalecimento de vínculo entre familiares e comunidade. Pode ser determinada, pelo

juiz, a inclusão em programas de apoio, matrícula e frequência obrigatória na escola,

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tratamento médico, psiquiátrico ou psicológico, acolhimento institucional e colocação

em família substituta. (BRASIL, 1990).

Nesses casos, o juiz determina ao assistente social que verifique a situação

da criança e ou adolescente, devido à denúncia de maus tratos, abuso sexual,

violência doméstica, infrequência na escola e demais direitos violados. São

realizadas visitas domiciliares, entrevistas e contatos com a rede socioassistencial3

para que a criança ou adolescente não permaneça em situação de risco, tentando

evitar um possível acolhimento institucional. Caso não seja possível assegurar que

saiam da situação de risco, não havendo nenhuma familiar que possa se

responsabilizar, a criança ou adolescente é acolhida institucionalmente seja por

atuação do Conselho Tutelar, ou por determinação judicial. O assistente social

judiciário verifica a possibilidade de retorno da criança ou adolescente ao convívio

familiar, junto aos pais ou parentes próximos que tenham vínculos com a mesma.

Ocorrem visitas domiciliares, contatos com a rede socioassistencial, entrevistas e

estudos sociais.

Em alguns casos em que a criança está em situação de risco e de

vulnerabilidade, é colocada em programas de apoio. O juiz direciona ao Serviço

Social para verificar a situação e saber como está à criança, se as combinações

feitas com os familiares ou responsáveis estão sendo cumpridas, e se tudo está

sendo feito para amenizar o sofrimento vivenciado pela criança ou adolescente.

Também são realizados estudos sociais, em processos de investigação de

paternidade. Nesses casos, são chamadas as partes para serem ouvidas e ser

conhecida a existência ou não de parentalidade socioafetiva. Havendo esse vínculo

de afeto, poderá ser mantido o nome do pai e dos avós paternos na certidão de

nascimento da criança ou adolescente, mesmo não sendo seu pai biológico.

Segundo Leite (2015) este é um tema relevante para o assistente social judiciário,

devido às mudanças das famílias que estão em constante transformação e ao

reconhecimento do afeto como valor jurídico. “A paternidade socioafetiva resulta da

convivência, do amor, da solidariedade e do sentimento mútuo que une pais e filhos.

[...] é aquele que exerce a função paterna”. (LEITE, 2015, p. 171).

3 A rede socioassistencial é um conjunto integrado de ações de iniciativa pública e da sociedade que ofertam e operam benefícios, serviços, programas e projetos, o que supõe a articulação dentre todas estas unidades de provisão de proteção social sob a hierarquia de básica e especial e ainda por níveis de complexidade. (MDS, 2005, p. 20).

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Em processos de regulamentação de visitas, são realizadas visitas

domiciliares e chamadas as partes para entrevista, sugerindo a melhor forma de

visitação dos pais ou avós.

O assistente social judiciário também pode ser solicitado pelo juiz a participar

de visitas assistidas, que ocorrem quando se acredita que a criança ou adolescente

corre risco ao se encontrar com um dos pais sozinho, ou quando a própria criança

ou adolescente não aceita a visita, podendo estar ocorrendo 4alienação parental.

Outros processos enviados para estudo social são os de interdição,

substituição de curador e prestação de contas. A interdição é necessária quando o

indivíduo é incapaz de cuidar de si mesmo e seus bens, é mais frequente o processo

de interdição em portadores de alguma deficiência e idosos. Na Lei n° 10.406 de

2002, no artigo 1.767, coloca que estão sujeitos a curatela:

I - aqueles que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o necessário discernimento para os atos da vida civil; II - aqueles que, por outra causa duradoura, não puderem exprimir a sua vontade; III - os deficientes mentais, os ébrios habituais e os viciados em tóxicos; IV - os excepcionais sem completo desenvolvimento mental; V - os pródigos. (BRASIL, 2002).

O artigo 1.768 da mesma lei expõe que somente poderão promover a

interdição, pais, tutores, cônjuges, parentes ou o ministério público. (BRASIL, 2002).

A curatela se dará por meio de um processo de interdição. Nesses processos

também são realizadas visitas domiciliares e entrevistas e, em alguns casos, visitas

institucionais se o interdito estiver institucionalizado.

As demandas também são enviadas ao assistente social do judiciário de

outras Comarcas e recebidas por esta, como cartas precatórias5 de estudo social

para que sejam realizados os mesmos procedimentos conforme o tipo de processo.

4 A Lei nº 12.318 define alienação parental no “Art. 2

o Considera-se ato de alienação parental a

interferência na formação psicológica da criança ou do adolescente promovida ou induzida por um dos genitores, pelos avós ou pelos que tenham a criança ou adolescente sob a sua autoridade, guarda ou vigilância para que repudie genitor ou que cause prejuízo ao estabelecimento ou à manutenção de vínculos com este”. (BRASIL, 2010).

5 A carta Precatória é o instrumento utilizado para requisitar a outro juiz o cumprimento de algum ato necessário ao andamento do processo. É por meio da Carta Precatória que são solicitadas a citação, a penhora, a apreensão ou qualquer outra medida processual, que não poderia ser executada no juízo em que o processo se encontra, devido à incompetência territorial, ou seja, a designação do ato está subordinada ao juízo de outra localidade.(BRASíLIA, 2012).

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Outra nova possibilidade de atuação do assistente social judiciário é a

mediação, um método consensual de solução de conflito no Poder Judiciário

materializado nos processos, que é um trabalho voluntário mediante capacitação.

Os princípios da mediação e seu propósito humanizador de proporcionar a escuta e dar nome e voz as partes representou um bálsamo nas feridas expostas daqueles que travavam uma guerra judicial num mar de processos sem rostos. (FAGUNDES, 2015, p. 38).

Outra competência do assistente social do judiciário é a participação em

Audiências Concentradas do Juizado de Infância e Juventude, a respeito das

crianças e adolescentes estão acolhidas institucionalmente.

Art. 19. § 1º Toda criança ou adolescente que estiver inserido em programa de acolhimento familiar ou institucional terá sua situação reavaliada, no máximo, a cada 6 (seis) meses, devendo a autoridade judiciária competente, com base em relatório elaborado por equipe interprofissional ou multidisciplinar, decidir de forma fundamentada pela possibilidade de reintegração familiar ou colocação em família substituta, em quaisquer das modalidades previstas no art. 28 desta Lei. (BRASIL, 2009).

Conforme artigo 19 da Lei nº 12.010 de 2009, a reavaliação deve ocorrer duas

vezes por ano, juntamente com a rede de apoio sócio jurídica, Conselho Tutelar,

Abrigos e Secretaria de Desenvolvimento Social, assistente social, promotor, juiz e

equipe interdisciplinar. Juntos, buscam garantir direitos e alternativas para o

desabrigamento dessas crianças e adolescentes, analisando a possibilidade de

retorno a família biológica, podendo ser a família estendida, ou a colocação em

família substituta. (BRASIL, 2009).

São realizados também encaminhamentos de prestadores de serviço à

comunidade, orientados pelo assistente social, que direciona o condenado à pena

alternativa de prestação de serviço à comunidade prevista na Lei nº 6.416 de 1977,

em instituições públicas ou filantrópicas, para realizar tarefas gratuitas

(JUNQUEIRA, 2015).

O depoimento especial, antes chamado de depoimento sem dano, atualmente

em curso no sistema judiciário brasileiro, constitui um novo espaço sócio-ocupacional

para o assistente social. Seu propósito é reduzir os danos às vítimas de abuso sexual

que necessitam serem ouvidas em juízo. (HOFFMEISTER, 2013). A vítima é ouvida em

uma sala especial equipada por uma filmadora, ponto e microfones, projetada ao vivo

Page 20: TCC - Serviço Social - Unisinos - 2016 - Rúbia Leal

19

na sala de audiência podendo o juiz falar com o profissional que está realizando o

depoimento, buscando assim evitar a revitimização e o contato com o acusado.

Entre os principais procedimentos utilizados pelo assistente social do

judiciário está o estudo social ou pericia social, sendo, juntamente com o laudo e

parecer social, uma metodologia de trabalho de domínio específico da profissão.

Esse procedimento busca a dimensão de totalidade do sujeito social, sendo este o

objeto da ação judicial.

Essas diversas dimensões interventivas podem se desdobrar em competências, estratégias e procedimentos específicos, e são assim apresentadas nos Parâmetros: [...] Realizar visitas, perícias técnicas, laudos, informações e pareceres sobre acesso e implementação da política de Assistência Social. (CFESS, 2012b, p. 11).

Essa metodologia é fundamental no trabalho do assistente social, sendo uma

das mais utilizadas. Com fundamentação teórica, ética e técnica, é explanada, de

forma detalhada, a realidade do sujeito, sendo objeto de reflexão, podendo garantir e

ampliar direitos dos sujeitos usuários do serviço social do judiciário. (CFESS,

2012b).

O estudo social é um processo metodológico específico do Serviço Social, que tem por finalidade conhecer com profundidade, e de forma crítica, uma determinada situação ou expressão da questão social, objeto de intervenção profissional – especialmente em seus aspectos socioeconômicos e culturais. (CFESS, 2003, p. 42-43).

A visita domiciliar é um instrumento técnico-metodológico, facilitador para o

assistente social. Ela possibilita uma aproximação da realidade da pessoa usuária,

feita com objetivos definidos, aliando a observação, durante a visita domiciliar, à

entrevista para atingir a meta desejada.

A entrevista é outro instrumento utilizado pelo Serviço Social. Trata-se de um

momento de escuta que, segundo Lewgoy e Silveira (2007), é realizada em etapas,

com planejamento, acolhimento, questionamento, reflexão, clarificação, exploração,

silêncio sensível, apropriação do conhecimento e síntese integradora. Esta técnica

proporciona um diálogo entre o assistente social e o usuário, com a intenção de

intervir na sua realidade social, com finalidade articulada às dimensões da

competência profissional.

Page 21: TCC - Serviço Social - Unisinos - 2016 - Rúbia Leal

20

Para o desenvolvimento deste trabalho, geralmente o assistente social estuda a situação, realiza uma avaliação, emite um parecer, por meio do qual muitas vezes aponta medidas sociais e legais que poderão ser tomadas. Na realização do estudo, o profissional pauta-se pelo que é expresso verbalmente e pelo que não é falado, mas que se apresenta como conteúdo integrante do contexto em foco.[...]. (FÁVERO, 2005, p. 36).

O assistente social é um profissional capacitado para tais intervenções, com

domínio de técnicas, instrumentos, teoria e conhecimentos legais e específicos para

a análise de cada caso. Como perito são confiados ao profissional o estudo e

parecer social para auxiliar o juiz quanto à decisão a ser tomada. O perito é

chamado pelo Código de Processo Civil, Lei n° 13.105 de 2005 de auxiliar da justiça.

Art. 149. São auxiliares da Justiça, além de outros cujas atribuições sejam determinadas pelas normas de organização judiciária, o escrivão, o chefe de secretaria, o oficial de justiça, o perito, o depositário, o administrador, o intérprete, o tradutor, o mediador, o conciliador judicial, o partidor, o distribuidor, o contabilista e o regulador de avarias. [...] Art. 156. O juiz será assistido por perito quando a prova do fato depender de conhecimento técnico ou científico. (BRASIL, 2005b).

Na busca pela garantia e ampliação de direitos se faz necessário

compreender justiça social, suas ideias em comum com igualdade e equidade na

busca por uma sociedade melhor. O próximo capítulo busca definir e compreender

Justiça Social.

Page 22: TCC - Serviço Social - Unisinos - 2016 - Rúbia Leal

21

3 JUSTIÇA SOCIAL

Inicialmente, cabe salientar que não existe uma definição simples de justiça

social. Ela é construída a partir dos conceitos de justiça em suas múltiplas esferas

de responsabilidade na sociedade. Historicamente a justiça é uma busca constante

das civilizações, o que evidenciamos o fato no Código de Hamurabi, chamado por si

de o livro das leis de justiça, que o rei sábio Hamurabi estabeleceu. (HAMMURABI,

1994) e na Bíblia, livro que orienta o povo de Deus a viver. O livro de Isaías (Is 64,

6), fala que “[...] nossas justiças são como trapos de imundícia”, afirmando que

somente Deus é justo. Também está no livro de Mateus (Mt 5,6) “Bem aventurados

os que tem fome e sede de justiça, porque estes serão fartos” (EVANGELHO...,

1988).

Em outras palavras, felizes aqueles que buscam incessantemente por justiça.

A bíblia contém um modelo de justiça social, no velho testamento, que era uma

orientação dada ao povo que, a cada 50 anos, as terras deveriam ser redistribuídas,

devolvidas as suas famílias de origem, e dada à oportunidade de serem livres os

escravos e os servos. Era chamado ano do Jubileu Levítico (Lv 25).

A filosofia de Platão refere à injustiça como a que faz nascer o ódio e as

brigas e a justiça como aquela que alimenta a concórdia e a amizade, no sentido

que ela comanda as virtudes do homem. O filósofo identifica a justiça humana com o

suprimento das necessidades de todos. Aristóteles conclui que a justiça é algo

essencialmente humano, uma virtude moral, pois cabe ao homem fazer a escolha,

mas as pessoas se enganam achando que é fácil ser justo, já que podem escolher

serem injustas. Afirma que a justiça se situa em equilíbrio para que ninguém saia

ganhando nem perdendo, pensando no que é vantajoso para o próximo. É a justiça

distributiva que, para Aristóteles, tem cunho político e moral. (AUDARD, 2003). Para

Platão e Aristóteles a justiça é virtude humana e moral, cabe a nós decidirmos.

Santo Agostinho designa a justiça para uma experiência pós-morte em que os

bons recebem recompensa e os maus, castigo. Os bons são os que seguem as

Escrituras Bíblicas. A verdadeira justiça, segundo ele, é exercida por Deus, algo que

dizia não ser compreendido pela mente humana, sendo falível a justiça terrena. Por

isso incentivava ações de cooperação social como prática de fé. (AUDARD, 2003).

São Tomás de Aquino entende justiça quando “[...] se estabelece atribuindo

partes diversas a pessoas diferentes proporcionalmente a seus méritos”. (AUDARD,

Page 23: TCC - Serviço Social - Unisinos - 2016 - Rúbia Leal

22

2003, v. 1, p. 877). Pregava que a fé e a razão não podem ser contraditórias, mas

como uma atitude geral que direciona os atos de todas as outras virtudes.

Incentivando a fazer o que é reto e tem como justas as leis que visam ao bem

comum para construir uma sociedade que visa suprir as necessidades individuais e

coletivas. (AUDARD, 2003).

Santo Agostinho e Tomás de Aquino entendem justiça como algo divino, não

sendo o homem capaz de ser justo, como coloca a bíblia, porém afirmam ser

impossível um homem que se diz bom, que segue a fé e as escrituras, agir de forma

injusta.

O pensamento platônico diz que cada um deve fazer o que lhe compete,

usando seu talento para o bem coletivo. Essa ação pretende a melhora uniforme da

existência de todos. Tanto Platão como Aristóteles pensam em justiça como um bem

coletivo, mas de esforço humano e distributivo, sem receber nada em demasia. Já

São Tomaz de Aquino e Santo Agostinho entendem justiça como inspiração divina

usada para o bem comum, algo que não é somente humano, mas exercida por meio

da fé em Cristo. Tanto Platão e Aristóteles quanto São Tomaz de Aquino e Santo

Agostinho consideram que justiça é o bem estar comum que supre as necessidades

da sociedade.

A evolução do termo Justiça Social foi difundida mais tarde pela Doutrina

Social da Igreja Católica. Em 1891, foi editada, pelo papa Leão XIII, a Encíclica

Rerum Novarum que admitia as múltiplas diferenças e as desigualdades das

condições pessoais. Essas diferenças fazem com que a classe rica e a classe pobre

precisem uma da outra, pois não há capital sem trabalho e nem trabalho sem o

capital. Esta relação deveria ser de equilíbrio, valorização e harmonia. Reconhece a

distância entre a opulência e miséria e busca diminuí-la com disposição de

sacrificar-se pelo próximo, acreditando ser esta a solução para os povos que

almejam a paz social. (IGREJA CATÓLICA, 1891).

Em 1931 a igreja publicou a Encíclica Quadragésimo Anno de Pio XI, que

reafirmava a encíclica anterior, tendo como princípio o direito a justa distribuição, em

que as riquezas resultantes do progresso da economia devem ser repartidas entre

os indivíduos. Esta justiça não é mais chamada distributiva, mas sim, justiça social.

A riqueza não deve ser concentrada na mão de poucos: justiça social implica na

distribuição de renda de forma apropriada. O salário deve ser suficiente para

sustentar sua família, não inviabilizando a empresa, e gerando uma economia que

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23

aumente o numero de empregos. Esta Encíclica defendia a intervenção do Estado

no capital para compartilhar as vantagens obtidas pelo desenvolvimento econômico.

(IGREJA CATÓLICA, 1931).

Pio XI edita a Encíclica Divini Redemptores em 1937, que deixa claro que a

sociedade existe para o homem e o homem para ela, devendo propiciar a felicidade

de todos por meio da união e cooperação social. Todos têm deveres em relação ao

bem comum e a caridade. Em 1961, é editada a Enciclica Mater Et Magistra, por

João XXIII, tendo como imperativo da justiça social que o desequilíbrio econômico

entre as classes deve ser combatido. A Encíclica Pacem in Terris do mesmo papa,

publicada em 1963, pede a todos que contribuam para o bem comum, ajustando

seus próprios interesses às necessidades dos outros. (IGREJA CATÓLICA, 1937;

IGREJA CATÓLICA, 1961; IGREJA CATÓLICA, 1963).

A Constituição pastoral de Gaudium et Spes, de 1965, do Vaticano, preconiza

que o progresso da pessoa humana e da Sociedade está na mútua dependência.

Paulo VI, em 1967 e 1971, nas Encíclicas Populorum Progressio e Octogesima

Adveniens, prega que a justiça social deve nortear os contratos comerciais entre os

povos, exigindo uma repartição dos bens não só no plano interno mais também no

plano internacional, para que cada país desenvolva um sistema de cooperação sem

pretensões de domínio econômico e político. (IGREJA CATÓLICA, 1965; IGREJA

CATÓLICA, 1967; IGREJA CATÓLICA, 1971).

As Assembleias gerais dos Conselhos dos Bispos do Brasil também possuem

o objetivo da ordem e da justiça social, buscando o bem estar de todos. A doutrina

da Igreja Católica ajudou a difundir o termo justiça social que também foi absorvido

pela política posteriormente. Pensando nas necessidades dos outros, ela defende,

em seus documentos, a justiça social como justa e apropriada distribuição de renda

e dos bens, uma vida de equidade, sabendo não ser possível a igualdade de

classes, mas incentivando a cooperatividade e a caridade, acreditando ser possível

uma vida de respeito e divisão adequada de lucros.

1928. A sociedade garante a justiça social, quando realiza as condições que permitem às associações e aos indivíduos obterem o que lhes é devido, segundo a sua natureza e vocação. A justiça social está ligada ao bem comum e ao exercício da autoridade. (IGREJA CATÓLICA , [2016?]).

É possível observar que os documentos da Igreja Católica vêm colocando ao

longo dos anos como valores para a sociedade a ideia de cooperação, de

Page 25: TCC - Serviço Social - Unisinos - 2016 - Rúbia Leal

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solidariedade, tanto na vida familiar como na vida em comum, buscando assim uma

sociedade que viva em harmonia. Coloca a palavra solidariedade em seu sentido

amplo de interdependência mutua que une a comunidade pensando no bem de

todos.

A ideia de Rawls (2000) é que em uma democracia constitucional a

concepção pública de justiça deveria existir independente de doutrinas religiosas e

filosóficas afirmando que esta concepção deve ser política, a teoria da justiça como

equidade. Evidencia que uma teoria da justiça como equidade na politica é uma

concepção moral, naquilo que chama de estrutura básica de uma democracia

constitucional moderna, sendo suas instituições econômicas, sócias e politicas.

Trata-se de uma concepção política em partes porque ela provém de uma certa tradição política. Esperamos que ela possa encontrar pelo menos o que podemos chamar de um consenso por justaposição, ou seja, um consenso que inclua todas as doutrinas filosóficas e religiosas, contrapostas, que podem ser duradouras e encontrar adeptos numa sociedade democrática constitucional mais ou menos justa. (RAWLS, 2000, p. 205).

Rawls (2000) ainda refere que a justiça como equidade valora a liberdade e a

igualdade que permite participar de uma sociedade equitativa e de vantagens

mútuas, em que cada pessoa têm direitos básicos iguais compatíveis e igualdade de

oportunidades. Para Rawls as instituições tem um importante papel, de garantir

condições justas, proporcionando um sistema de cooperação social e a

concretização do que é essencial para a vida humana.

Karl Marx traz a ideia de justiça a partir da esfera da produção material da

vida e nas relações entre indivíduos. O autor coloca a troca como forma

predominante da relação entre os indivíduos na sociedade mercantil, afirmando que

a justiça nas relações de troca é ilusória.

Do mesmo modo que a forma econômica, o intercâmbio, põe em todos os sentidos a igualdade dos sujeitos, o conteúdo ou substância – tanto individual como coletivo - põe a liberdade. Não só se trata, pois, de que a liberdade e a igualdade são respeitadas no intercâmbio baseado em valores de troca , mas que o intercâmbio de valores de troca é a base produtiva, real, de toda igualdade e liberdade. Estas, como idéias puras, são meras expressões idealizadas daquelas ao desenvolver-se em relações jurídicas, políticas e sociais, estas são somente aquela base elevada à outra potência. (MARX, 1985, p. 136).

O economista indiano Amartya Sen comenta que a hipótese de justiça de

Rawls, definida como equidade, é criticável, pois condiciona a efetivação da justiça

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ao comportamento real das pessoas. Sen discorre por vários conceitos sobre justiça

e constata que existe uma pluralidade de sistemas de valores e de critérios para

pensar a justiça, não se limitando a uma distribuição equitativa de bens. O autor

acredita na liberdade concreta e igual dos indivíduos em que o progresso da justiça

é inseparável da democracia. “As teorias da justiça têm como compromisso comum

levar estas questões a sério e ver o que podem fazer quanto a uma reflexão da

razão prática sobre a justiça e a injustiça no mundo”. (SEN, 2011, p.448).

A ideia de justiça social está prevista na Declaração Universal dos Direitos

Humanos, que se baseia em princípios da universalidade, do direito natural a vida, à

liberdade e ao pensamento.

Considerando que o reconhecimento da dignidade inerente a todos os membros da família humana e dos seus direitos iguais e inalienáveis constitui o fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mundo. (NAÇÕES UNIDAS, 1948).

Em seu preâmbulo é reconhecido o direito a igualdade, liberdade, justiça e

paz. Segundo Pestano (2014), alguns autores acreditam que direitos humanos já

eram discutidos desde os Dez Mandamentos. Contudo, seu marco histórico foi a

Revolução Francesa de 1789. Por meio dela iniciam-se reflexões sobre igualdade

entre os homens, que afirmam que todos são iguais perante a lei. Originada pela

Organização das Nações Unidas (ONU), sua aceitação vem progredindo aos

poucos, já chegando a cento e setenta países. Foram adotadas na Declaração o

Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos e o Pacto Internacional de Direitos

Econômicos, Sociais e Culturais. Em uma Conferência no ano de 1993, o sistema

Internacional de Direitos Humanos começa a chamar os direitos coletivos e difusos

de direitos humanos.

Os direitos humanos são classificados em primeira, segunda, terceira, quarta

e quinta geração. São classificados de primeira geração os direitos políticos e civis,

direitos individuais, como o direito à vida, à liberdade e à participação. Os de

segunda geração são de cunho coletivo, como direitos sociais, econômicos e

culturais. Já nos de terceira geração estão incluídos os direitos ambientais, direitos

do consumidor e as minorias. Os de quarta geração estão ligados a questões de

biogenéticas e o de quinta geração, mais recente, abordam sobre direitos de

internet. (PESTANO, 2014).

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26

Direitos humanos são direitos universais, ou seja, estendem se a todas as

pessoas, são fundamentais e inalienáveis, partem da construção de uma sociedade

justa e de condições igualitárias, com o necessário para que se possa ter uma vida

digna. Justiça social e Direitos Humanos partem do mesmo princípio de que cada

pessoa deve ter direitos iguais, políticos e civis, econômicos, sociais e culturais.

Para se efetivar a justiça social, são necessários direitos humanos, aplicados

conforme a necessidade do indivíduo, que pode ser um direito individual, na luta

pela vida, buscando, por exemplo, no judiciário, por medicamentos para a cura de

doenças, ou até na defesa dos direitos das minorias, como na luta de transsexuais

pela mudança de nome, aplicando assim o principio da indivisibilidade na busca por

contemplar Direitos Humanos sem hierarquização.

Nessa busca por garantir direitos, grandes conquistas foram obtidas a partir

da Constituição Federal de mil novecentos e oitenta e oito. A Justiça Social ocupa

uma posição de centralidade na construção da Constituição Federal, que se propõe

a valorar princípios da identidade nacional, fundada na harmonia social, sendo um

dos seus pilares.

Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembleia Nacional Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem internacional, com a solução pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte Constituição da República Federativa do Brasil. (BRASIL, 1988).

Os representantes do povo brasileiro, neste preâmbulo, expressaram desejo

de um país justo e bom para se viver. A Constituição Federal de 1988 foi um marco

para nosso país, quando se fala em direitos, sendo a base da justiça em que, ao

mesmo tempo, valoriza a harmonia social e a liberdade. Desta Carta provém

legislações como a Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS), lei nº 8742, de 7 de

dezembro de 1993, a lei do Sistema Único de Saúde (SUS), lei nº 8080, de 19 de

setembro de 1990, ECA, lei nº 8069, de 13 de julho de 1990, o Estatuto do Idoso, Lei

nº 10.741, de 1º de outubro de 2003, entre outras.

A dignidade da pessoa humana é um dos princípios fundamentais de valor

fundante da Republica Federativa do Brasil conforme o Art. 1, III, (BRASIL, 1988).

Este princípio agrega os direitos e garantias fundamentais da Constituição que tem

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como meta a realização da justiça social, voltado para a superação das

desigualdades sociais.

Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: I - construir uma sociedade livre, justa e solidária; II - garantir o desenvolvimento nacional; III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais; IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. (BRASIL, 1988).

O valor de justiça expresso na Constituição traz a ideia de justiça social, uma

sociedade livre, justa e solidária em que o poder emana do povo por meio de seus

representantes eleitos.

O termo acesso à justiça na teoria jurídica é o que Cappeletti e Garth (2002)

colocam como de difícil definição, conceituando como sistema em que as pessoas

podem reivindicar seus direitos, que devem ser acessíveis a todos com resultados

individual e socialmente justos. O termo justiça social está interligado à experiência e

ao senso de fazer o bem, a fim de combater a injustiça, buscando o melhor para

todos.

“A preocupação fundamental é, cada vez mais, com a justiça social, isto é,

com a busca de procedimento que sejam cada vez mais conducentes à proteção

dos direitos das pessoas comuns”. (CAPPELETTI; GARTH, 2002, p. 93).

São vários os aspectos contidos no termo justiça social. Em um contexto

amplo, trata-se de um convívio harmônico em sociedade, porém, para isso ser

possível, é necessária cooperação social. Busca-se a diminuição da distância

econômica entre pobres e ricos, reduzindo a desigualdade social com distribuição de

renda de forma apropriada, num projeto de bem estar geral individual e coletivo, que

pressupõe o comprometimento de todos.

O acesso à justiça tornou-se, segundo Cappeletti e Garth (2002), direito social

básico e fundamental após o século XIX quando são reconhecidos os direitos e

deveres sociais, um mecanismo que faz valer com efetividade os demais direitos

existentes. Conforme Cappeletti e Garth, funcionando como condicionante a

obtenção de justiça social, a jurisdição é uma função essencial para a afirmação dos

direitos e individuais e sociais no plano prático.

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28

Percebe-se, pelo acima exposto, a justiça social como uma sociedade

solidária que busca promover dignidade, igualdade de direitos e acessos a todos -

acesso a direitos fundamentais, a direitos humanos e ao pleno desenvolvimento.

O Serviço Social é norteado pelos direitos humanos, estando previsto no

Código de Ética da profissão de 1993 no terceiro princípio: “Defesa intransigente dos

direitos humanos e recusa do arbítrio e do autoritarismo.” (CFESS, 1993, p. 23).

Paiva e Sales comentam equidade e a justiça social expressando que esta:

[...] fala da necessidade imperiosa de se atribuir a cada um o que é seu, no sentido do respeito à igualdade de direitos e aos indivíduos. Ela tenta corrigir as insuficiências e problemas decorrentes do modo de os homens se organizarem e produzirem a sua própria vida. Logo, numa sociedade como a capitalista, a justiça figura sempre como um ideal a ser perseguido, cuja objetividade se assenta, de um lado, sobre a legalidade, com todo o seu signo controverso, e, de outro, sobre a igualdade. (PAIVA; SALES, 1996, p. 90).

A ideia de dignidade humana está contida em muitos documentos jurídicos e

em constituições. Uma via de justificação de direitos humanos busca identificar uma

lista de necessidades básicas comuns a todos os seres humanos, também

chamadas universais - a necessidade, no sentido de algo indispensável à motivação

humana, e necessidades sociais, como privação de algo. Pereira (2008) coloca que

necessidades básicas define um conjunto de necessidades no âmbito de todos os

mundos existentes, em que todos os seres humanos existentes independentemente

de cultura ou nação possuem necessidades básicas comuns. Contrapõe ideias que

reduz as necessidades a preferências e desejos ditados pelo mercado, como a

utilitarista que contrapõe a visão relativista o qual coloca as necessidades como algo

local e cultural. Parte do princípio que só haverá vida humana digna a partir de

necessidades fundamentais supridas, podendo haver sérios prejuízos à vida

humana física e social se não forem estas necessidades atendidas de maneira

adequada. São objetivas, pois independem de preferencias individuais.

As necessidades básicas são desenhadas como uma pirâmide: na base estão

as necessidades fisiológicas, seguidas das necessidades de segurança, das

necessidades sociais, necessidades de status e estima e por fim das necessidades

de auto realização. Contudo, existem dois conjuntos de necessidades básicas que,

satisfeitos concomitantemente, fazem com que o ser humano se sinta um indivíduo

digno e com algum valor. Estas são objetivas e universais, sendo elas a

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necessidade de saúde física e a de autonomia, pois sem o cuidado necessário para

satisfazer a saúde física os homens estarão impedidos de até mesmo viver e de

usufruir condições de vida favorável a sua participação social. Sem a autonomia o

individuo ficaria sem condições de agir de modo informado e discernido, sem “[...]

capacidade intelectual de formular seus objetivos e crenças comuns”, sem “[...] confiança

para desejar atuar e participar”, sem conseguir “[...] formular desejos e crenças

consistentes”. Não podendo ser estas duas necessidades separadas, pra satisfazer

necessidades básicas. (PEREIRA, 2008, p. 73).

A satisfação dessas necessidades não tem um fim em si mesmo, mas é

condição prévia ao alcance de objetivos universais de participação social e a

libertação de qualquer forma de opressão. (PEREIRA, 2008). As necessidades

humanas básicas são comuns a todos, mas não se satisfazem de maneira uniforme.

Há os chamados satisfadores ou satisfiers, que atendem às necessidades de forma

específica e contribuem para a melhora da saúde física e da autonomia em qualquer

parte, sendo chamados satisfadores universais. São eles: alimentação nutritiva e

água potável; habitação adequada; ambiente de trabalho desprovido de riscos;

ambiente físico saudável; cuidados de saúde apropriada; proteção à infância;

relações primárias significativas; segurança física; segurança econômica; educação

apropriada; segurança no planejamento familiar, na gestação e no parto. (PEREIRA,

2008).

As necessidades básicas assumem um importante papel na justificação dos

direitos sociais com princípios de igualdade, equidade e justiça social. Os direitos

morais satisfeitos se transformam em direitos sociais e civis, que são os direitos

humanos de primeira e segunda geração, mediante a realização de políticas sociais.

Os direitos humanos concebidos buscam tornar possíveis as condições

básicas de sobrevivência dos seres humanos. Pensar direitos humanos, a partir da

teoria das necessidades básicas, sugere que reconhecer, exercer e proteger um

direito humano é, portanto, satisfazer necessidades indispensáveis para uma vida

digna e consequentemente, necessidades humanas básicas é fundamental para

compreensão de direitos humanos.

Pelo acima exposto, considerando todas as versões estudadas, compreende-

se que a justiça social implica em construir de uma sociedade que corrija as

desigualdades, que dê atenção às necessidades básicas, principalmente as de

autonomia e saúde física, no tocante ao combate à pobreza, tendo a busca por

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garantia de direitos humanos como pré-requisitos que deve ser cumprido pelo

Estado por meio de políticas públicas.

O Poder Judiciário, como instância pública, também é comprometido com a

consecução da justiça social, tendo por finalidade acesso igual e efetivo a todos e

produção de resultados individual e socialmente justos. (CAPPELETTI; GARTH,

2002). O sistema judicial deve ser um elo para a construção da justiça social, em

que todos sejam iguais em dignidade e liberdade. No Judiciário, a sociedade busca

garantir seus direitos e resolução de litígios. É seu papel a correção das

desigualdades pessoais existentes, sendo o assistente social o profissional

qualificado para atuar nas demandas sociais e contribuir para a mudança desta

realidade, buscando a correção das desigualdades, atento as necessidades básicas

e aos direitos humanos, respeitando a autonomia do sujeito e contribuindo para a

saúde física, buscando assim o cumprimento de justiça social.

No próximo capítulo abordará justiça social e direitos humanos na prática do

estágio, vivenciada durante o período de estágio obrigatório no Foro de São

Leopoldo no setor do Serviço Social Judiciário.

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31

4 SERVIÇO SOCIAL E JUSTIÇA SOCIAL

O assistente social judiciário é um profissional que busca garantir justiça

social, igualdade de direitos e acessos, que atua a partir das determinações do juiz

em demandas sociais, buscando a transformação da realidade.

No presente capítulo, abordar-se-ão questões referentes ao período de

estágio curricular e extracurricular, vivenciadas no cotidiano do exercício profissional

do assistente social judiciário no Foro de São Leopoldo.

O Serviço Social no Judiciário tem como propósito fortalecer e potencializar a

emancipação do sujeito atuando na construção da cidadania, buscando a

equalização de direitos e a reparação de danos, contribuindo com o acesso à justiça

e aos direitos humanos e sociais.

O Foro é o local onde são processados assuntos relacionados à justiça, com

o direito, é um serviço muito procurado, por diversos motivos, pela população, para

obter informações e verificar as movimentações de processos, havendo, também

audiências com as partes e perícias.

Consequentemente, o Serviço Social Judiciário também é procurado pelas

mais diversas demandas e esclarecimentos, estes, muitas vezes inacessíveis à

população devido ao vocabulário dos processos e trâmites judiciários. Nesses

casos, os usuários buscam esclarecimentos com o assistente social que, muitas

vezes, é visto como balcão de informações pelos usuários e trabalhadores do Foro.

Procuram o setor por demanda voluntária, por orientação da rede de atendimento ou

pelos servidores da Comarca, querendo agendar um horário de atendimento para

solucionar problemas de conflitos familiares, como responsabilizar os parentes por

um idoso, pedido de internação compulsória, recursos para tratamento de saúde,

medicação e tirar dúvidas das mais variadas.

Isso demonstra o quanto ainda é desconhecido, pela população e rede

socioassistencial, o trabalho realizado pelo assistente social judiciário, que atua

conforme determinação do juiz.

Esse tipo de comportamento, acredita que a justiça tem que resolver toda e

quaisquer situação, o que comprova o aumento da judicialização das demandas

sociais no país.

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32

Tal panorama levou a que o Poder Judiciário passasse a ser o depositário das demandas sociais dos segmentos mais fragilizados e subalternizados da sociedade, na busca de fazer valer os direitos sociais trabalhistas, de proteção de crianças, idosos etc. Ou seja, aquilo que pela pactuação política não está sendo possível conquistar em nosso país [...], está se buscando no Poder Judiciário, pois, sem muitas alternativas, a população não tem como reivindicar fácil acesso a direitos básicos de cidadania. (BORGIANNI, 2013).

A judicialização da questão social é um fenômeno que acorre com a

acumulação de responsabilidades do Judiciário às demais demandas da esfera

pública. Para que sejam efetivados os direitos dos sujeitos é necessário tão somente

o seu reconhecimento quanto à capacidade de atendimento à demanda

representada. Este se torna o desafio do assistente social: a análise desta

conjuntura no sentido ético e político das demandas apresentadas dia a dia a

profissão no judiciário.

Tal fenômeno interfere diretamente no cotidiano do assistente social judiciário

e no aumento das demandas de trabalho.

Gráfico 1 – Relatório Bimestral – Serviço Social Judiciário

Fonte: Elaborado pela autora.

O gráfico 1 é a comparação dos dados coletados do Relatório Bimestral de

Atividades do Setor do Serviço Social Judiciário do Foro de São Leopoldo, dos

meses de março a abril dos anos de 2011 e 2016. Os processos vindos são todos os

processos remanescentes do último relatório referente aos meses de janeiro e

fevereiro. Os processos novos são todos os processos que foram encaminhados

Page 34: TCC - Serviço Social - Unisinos - 2016 - Rúbia Leal

33

para o setor nos meses de março e abril. Os encerrados são todos os processos em

que foram realizadas as demandas determinadas pelo juiz e devolvidos aos

respectivos cartórios. Os remanescentes são todos os processos em aberto em que

ainda não foram realizadas as determinações. Os prestadores de serviço à

comunidade são todos os processos de apenados encaminhados para prestar

serviço à comunidade em instituições cadastradas (Anexo A).

Percebe-se, com a comparação dos dados obtidos em relação a um intervalo

de cinco anos, que as demandas para o profissional judiciário vêm aumentando,

tanto o que se refere a chegada de novos processos, que aumentou em quase 30%,

quanto o aumento de processos remanescentes e vindos, que praticamente dobrou

de tamanho. O encaminhamento de prestadores de serviço à comunidade também

cresceu em 75%. Contudo, o número de profissionais na Comarca não aumentou

com o crescente número de demandas (gráfico 1).

Deve-se levar em consideração o aumento da judicialização das demandas

no judiciário. A intolerância e falta de conciliação resultam no aumento de processos

iniciados. Com isso, há um aumento considerável de trabalho também no setor do

Serviço Social.

A mediação de conflitos é um exemplo, a busca por uma diminuição de

audiências e o aumento de conciliações, como já mencionado no capítulo 2.

Entretanto, esse trabalho ainda é voluntário e não necessariamente proporciona a

diminuição de demandas para o assistente social judiciário, já que é mais um campo

de atuação, não ocorrendo mais contratações para a realização deste.

Ficou constatado à confiança cada vez maior do juiz no trabalho do assistente

social, que o mune de informações por meio do parecer social, dando respaldo às

decisões a serem tomadas.

Outro importante fator de aumento da demanda é a crescente criminalização

e transformação em penas alternativas dos crimes de menor potencial ofensivo,

como alternativas penais à prisão, na tentativa de diminuir o encarceramento e

ocasionar uma real oportunidade de recuperação do réu, principalmente àqueles que

ainda não tiveram nenhum contato com o sistema carcerário.

Analisou-se ainda os dados coletados, percebe-se que o número de

processos encerrados também aumentou, mas o número de processos em que não

são realizados estudos sociais dentro do prazo, os remanescentes e os vindos

(remanescentes do último relatório) demonstram o quão sobrecarregados estão

Page 35: TCC - Serviço Social - Unisinos - 2016 - Rúbia Leal

34

estes profissionais, que trabalham com prazos de 30, 45, 60, 90 dias, que se tornam

insuficientes mediante a quantidade das demandas recebidas. Há, ainda, prazos de

20 dias para casos de urgência.

Conforme relatório bimestral do ano de 2015, o Serviço Social Judiciário

recebeu 654 processos, sendo a grande maioria para realização de estudo social.

Os prazos determinados variam de acordo com a urgência das demandas, as quais

devem ser resolvidas o quanto antes, mas os prazos estipulados e o excesso de

demandas fazem com que o tempo para resolução seja escasso.

As demandas são determinadas quase que exclusivamente por juízes das

Varas de Família, do Juizado da Infância e Juventude e Vara de Execuções

Criminais, com demandas eventuais de outras Varas, como a da Violência

Doméstica.

O Serviço Social Judiciário de São Leopoldo é composto por duas assistentes

sociais selecionadas via concurso público, com carga horária de 40 horas e conta

com o apoio de uma estagiária com 30 horas, não existindo previsão de mais uma

contratação. A Comarca não conta com um profissional da psicologia, o que,

também pode ocasionar uma demora demasiada ao processo. No período de

estágio percebeu-se que, em alguns processos, particularmente em precatórias

vindas de outras Comarcas, o juiz determinou que o assistente social judiciário

fizesse uma avaliação psicológica da situação. Tais precatórias são devolvidas,

informando ao juiz que esta avaliação não cabe ao assistente social realizar, mais

sim, um psicólogo. A precatória é encaminhada para a Comarca Regional de Novo

Hamburgo ou para o Projeto de Atenção Ampliada à Saúde (PAAS) da Unisinos ou

então é designado perito psicólogo para realizar a avaliação. Outras vezes, acaba

sendo realizado o estudo social, com ressalva do juiz de que não há psicólogo na

Comarca, ou seja, a demanda que seria para um profissional de psicologia vai para

o Serviço Social, ocasionando aumento do trabalho.

Outra situação vivenciada no período do estágio demonstra a necessidade de

um profissional da psicologia e a limitação do trabalho do assistente social, conforme

descrevemos abaixo.

Um casal habilitado para adoção pela Comarca de São Leopoldo, ela com 46

anos e ele com 64 anos de idade, recebeu duas meninas em guarda com a

finalidade de adotá-las, conforme perfil desejado. A adaptação foi tranquila, e as

crianças passaram a residir com os candidatos. Anteriormente, eles moravam em

Page 36: TCC - Serviço Social - Unisinos - 2016 - Rúbia Leal

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casas separadas, mas passaram a viver juntos quando obtiveram a guarda das

meninas, e enfrentaram dificuldades como casal para se adaptarem como família.

O marido procurou ajuda no acolhimento institucional, dizendo que sua

esposa estava maltratando as crianças, não sabendo como cuidá-las. A equipe

técnica da entidade o orientou a procurar o judiciário para poderem auxiliar no

processo, e se colocou à disposição para acompanhar a situação. O marido não

procurou o judiciário, e a esposa se negou a ser acompanhada pelos técnicos do

acolhimento. O casal procurou auxílio psicológico particular, e a profissional fez um

parecer de que crianças corriam risco ao permanecerem aos cuidados da guardiã.

Mediante manifestação do Ministério Público, a juíza determinou a busca e

apreensão das crianças, poucos meses depois de terem ido para a guarda do casal,

que acabou se separando. O marido então entrou com processo para reaver a

guarda das meninas.

Foram realizadas entrevistas com o casal, com as crianças, e buscadas

informações com os demais profissionais envolvidos. Muito foi questionado sobre o

melhor para essas meninas, sobre o direito de terem uma figura materna, sobre a

idade já avançada do candidato e, principalmente, quanto ao vínculo existente com o

mesmo. Ao serem questionadas se desejavam ter uma nova família, disseram que

sim, mas remetendo-se ao núcleo familiar em que estavam vivendo com o casal

antes de retornarem ao acolhimento. Em seu parecer, a assistente social expressa

tais dúvidas:

[...] do ponto de vista social, não temos muita certeza se o retorno destas meninas para a companhia de [...] é o que melhor se apresenta para elas, considerando que, entendemos que estas meninas precisam urgentemente de uma família [...] não podemos afirmar que o vínculo afetivo existente entre eles tenha conseguido se estabelecer fortemente [...]. Para tal, com o objetivo de verificar o que realmente aconteceu, como estas crianças sentem-se com o rompimento[...] se entendem que não terão a mãe presente no retorno ao lar ou se o melhor é adaptação com nova família sugerimos que sejam avaliadas pela psicóloga do judiciário na Comarca de Novo Hamburgo, onde deve ser feito com o pedido de prioridade, considerando principalmente a idade de [...] para nova colocação em família substituta, caso assim seja definido no laudo. (RIO GRANDE DO SUL, 2016).

Esta situação mostra que, para poder garantir direitos, é necessário perceber

o limite da atuação do profissional, já tendo realizado tudo a seu alcance esgotou

suas possibilidades técnicas.

Page 37: TCC - Serviço Social - Unisinos - 2016 - Rúbia Leal

36

A Declaração de Viena de 1993, em seu artigo 27 coloca que as profissões

forenses são essenciais para a concretização dos Direitos Humanos e assim

realizarem justiça social. (DECLARAÇÃO E PROGRAMA DE AÇÃO DE VIENA,

1993). A perícia social é a atividade preponderante da profissão no âmbito judiciário,

direcionada por princípios e instrumentos. Nela, o profissional busca traduzir a

realidade dos sujeitos analisando-a e interpretando-a embasado nos conhecimentos

da profissão. Trata-se de uma ferramenta que pode traduzir a realidade do sujeito

aos operadores de direito, servindo tanto como a voz do usuário, como também de

olhos e ouvidos do juiz, como já vimos anteriormente. A busca pela efetivação desse

conjunto de direitos implica em um processo de enfrentamento de interesses

divergentes muitas vezes.

A atuação profissional desenvolvida pelo assistente social judiciário tem

grande poder, podendo interferir em muitos destinos, sendo a perícia social e o

parecer muitas vezes ferramenta para a decisão do juiz. Em muitos processos,

conforme situação e Vara, já em audiência, o juiz determina que seja apurada, pela

assistente social, a situação familiar e qual das partes possui melhores condições de

obter a guarda da criança. Em outros casos, espera que a assistente social apure

denuncias feitas no processo, se são verídicas ou não, ou como está a situação

familiar, se é caso ou não de acolhimento institucional.

Durante o estágio, foi possível vivenciar o uso da pericia social como

ferramenta para a decisão da juíza local da Vara de Família.

Tratava-se de uma ação de separação e guarda dos filhos. A mãe, que hoje

tem 40 anos, sofreu um acidente vascular cerebral há aproximadamente seis anos.

As sequelas foram muitas, graves e permanentes - ela não pode mais se

movimentar ou falar, estando acamada e totalmente dependente. Depois de alguns

anos de tratamento com fonoaudiólogo e fisioterapeuta, passou a emitir alguns sons

e movimentar um pouco a cabeça. Também utiliza, para se comunicar, um programa

de computador que reconhece movimentos faciais para dar os comandos. O marido

decidiu se separar, pois não conseguiu mais conviver com a situação, alegando que

sua decisão foi tomada principalmente pensando em seus filhos, dois meninos de 8

e 12 anos de idade, respectivamente. Esses meninos não conseguiam vivenciar o

luto de ter perdido a mãe que eles conheciam. Mesmo continuando perto, ao mesmo

tempo era como se ela não estivesse ali. O filho mais velho faz acompanhamento

Page 38: TCC - Serviço Social - Unisinos - 2016 - Rúbia Leal

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psiquiátrico e toma medicamentos, pois se mutila, riscando-se e arranhando-se com

peças afiadas.

A audiência de conciliação foi inexitosa, não sendo possível um acordo entre

as partes. Foi determinado que a assistente social ouvisse os genitores e também os

filhos, entrevistando a mãe com auxílio do programa de computador. As entrevistas

foram realizadas. A decisão da assistente social levou em consideração,

principalmente, o direito das crianças, direcionada e respaldada pelo ECA, para

garantir que sejam cuidadas e protegidas, não somente na questão física, mas

também na questão emocional. Seu parecer foi favorável à guarda paterna, sem

prejuízo ao direito de visitas e convívio livre da mãe com os filhos, pensando no bem

estar dos meninos. Nessa situação, ficou evidente o sofrimento dos mesmos ao lado

da mãe, sendo que eles próprios disseram que queriam ficar com o pai. A juíza

pediu a presença da assistente social na audiência para explicar o motivo de sua

decisão.

Foi ouvida a Assistente Social Judiciária, com 25 anos de exercício profissional, que corroborou o teor do estudo social [...], ressaltando que ficaram claras a não existência de alienação parental, bem como a existência de risco, em razão da situação de sofrimento psicológico dos filhos, o grande afeto que sentem pela mãe, porém não querendo o afastamento efetivo, contudo, precisando da mudança de ambiente. A Assistente Social Judiciária, também referiu que a atuação da genitora fica limitada a alguns questionamentos sobre a rotina dos filhos, porém não consegue atuar como cuidadora dos filhos, porque está tetraplégica em razão do AVC Isquêmico sofrido há seis anos, que afetou também a fala, embora tenham conseguido desenvolver uma forma de comunicação própria. A situação mais preocupante de sofrimento fica mais evidente no adolescente [...] , do que em [...], sendo que ambos foram enfáticos em manifestar o desejo de morar com o pai. Pela MM. Juíza foi dito que [...]: 01) A guarda dos filhos permanecerá com o pai. 02) O convívio materno ocorrerá em finais de semanas alternados [...] durante a semana, todas as terças feiras com pernoite, e demais dias mediante prévia combinação;[...]. (RIO GRANDE DO SUL, 2016a).

Fazer justiça social é levar em consideração o sofrimento do indivíduo, mas

acima de tudo é garantir direitos, nesta situação os direitos dos meninos estavam

sendo violados, mesmo que a decisão tomada trouxesse sofrimento à mãe, o

interesse maior era no cuidado da criança e do adolescente.

No período de estágio, acompanhei o trabalho das assistentes sociais

judiciárias da Comarca de São Leopoldo, conheci sua rotina, em um grande número

de visitas domiciliares, sendo em média de 8 a 10 visitas semanais por assistente

social. Ressalta-se que o veículo também é utilizado por oficiais de justiça, não

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sendo possível a realização de visitas em qualquer turno ou sempre que desejado,

sendo marcada previamente. Nestas visitas, foi observado a realidade e convocada

as partes envolvidas no processo para a entrevista que ocorre na sala da assistente

social no prédio do Foro. A visita domiciliar é uma importante ferramenta para o

conhecimento da realidade e realização do estudo social, como visto anteriormente

no capítulo 2.

O trabalho do assistente social judiciário desenvolve-se na perspectiva da

ampliação de acesso aos direitos e na busca pela realização de justiça social. Esta

intervenção só é possível com conhecimento da realidade, como Iamamoto (2004, p.

62) revela.

[...] Pesquisar e conhecer a realidade é conhecer o próprio objeto de trabalho, junto ao qual se pretende induzir ou impulsionar um processo de mudanças. Nesta perspectiva, o conhecimento da realidade deixa de ser um mero pano de fundo para o exercício profissional, tornando-se condição do mesmo, do conhecimento do objeto junto ao qual incide a ação transformadora ou esse trabalho.

Como exemplo, descreve-se uma situação em que o conhecimento da

realidade trouxe mudanças para a vida de uma idosa. Tratava-se de um processo de

interdição em que o juiz determinava estudo social para averiguar as condições em

que se encontrava a idosa internada num Lar de Idosos, a fim de verificar se eram

supridas suas necessidades.

Em visita à idosa na instituição, percebeu-se sua ansiedade, nervosismo e

angústia, a qual ficou muito agitada com nossa presença. Disse que estava

aguardando nossa visita para que disséssemos ao juiz que ela queria sair dali e

morar com sua filha, mas a outra filha, que era a curadora, não queria que ela saísse

da instituição. A idosa afirmou que foi colocada naquela entidade devido à briga por

sua herança. A enfermeira local disse que a idosa sofria de Mal de Alzheimer, com

alguns momentos de lucidez. Quando questionada se estava sendo bem cuidada na

instituição, a idosa piscou um dos olhos e disse que as coisas não eram como

pareciam. O fato era que ela estava doente e necessitava de cuidados.

A assistente social realizou entrevistas com os familiares e constatou-se que,

de fato, uma das filhas queria que a mãe passasse a morar com ela, deixando a

instituição. A profissional informou a situação à juíza e sugeriu uma audiência com

as irmãs. Segue o termo de audiência:

Page 40: TCC - Serviço Social - Unisinos - 2016 - Rúbia Leal

39

[...] foi dito pela Juíza de Direito que, considerando o laudo pericial à fl. 80, as irmãs [...], ambas as filhas da curatelada, e assistidas pelos respectivos procurados neste ato, concordam com a substituição da curatela, passando [...] a figurar, em substituição, no polo ativo da ação exclusivamente. A requerente [...] concorda com a saída da curatelada da instituição, passando a residir com a filha [...]. A interdita foi interrogada pelo sistema audiovisual de gravação [...]. (RIO GRANDE DO SUL, 2016b).

Mediante o conhecimento da realidade é que o profissional pode incidir em

uma ação transformadora e impulsionar o processo de mudança e efetivação de

direitos na vida do sujeito, buscando garantir assim justiça social.

Por meio de visitas domiciliares e entrevistas às partes do processo e núcleo

familiar, é possível ter conhecimento sobre a realidade. Este conhecimento

proporciona uma intervenção profissional que atue frente a não culpabilização dos

sujeitos pelas mazelas da questão social, proporcionando o conhecimento de sua

condição empobrecida, de sua falta de informação e de acessos. Sempre aportado

pela dimensão teórico-metodológica, o profissional pode propor estratégias de

intervenção para o enfrentamento da realidade. Iamamoto (2004) destaca que o

conhecimento é um meio de trabalho do assistente social. Essa dimensão contribui

para direcionar a intervenção, sempre buscando a autonomia do sujeito.

O conhecimento produz autonomia e provoca mudança da realidade, sendo

que, ao profissional cabe: “Respeitar, no relacionamento com o usuário, o seu direito

à tomada de decisões, o saber popular e a autonomia dos movimentos e

organizações da classe trabalhadora”. (CFESS, 1993, p. 5).

Independente da forma como vier a demanda ao assistente social, trata-se o

usuário com dignidade, respeitando sua autonomia. O conhecimento é libertador e

provoca mudanças na realidade. Na experiência de estágio, vivenciei uma

experiência em que a mãe abriu mão da guarda da filha recém-nascida, desejando

encaminhá-la para adoção, tendo sido respeitado o seu desejo e sua autonomia.

O processo teve início quando o hospital do município entrou em contato com

o Ministério Público, avisando a respeito da situação do recém-nascido e da mãe,

que teria informado sua intenção de dar a criança em adoção. Imediatamente, a

juíza marcou audiência no mesmo dia, assim como entrevista com a mãe pelo

Serviço Social Judiciário, momentos antes da audiência. A assistente social

procurou saber os motivos da rejeição da criança, conscientizando a mãe sobre sua

decisão, que seria definitiva, mesmo que posteriormente viesse a se arrepender. A

mãe relatou que foi vítima de abuso sexual, ocasião em que teria sido levada a um

Page 41: TCC - Serviço Social - Unisinos - 2016 - Rúbia Leal

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motel e abusada sexualmente sob ameaça; por isso, não aceitava a gestação, não

contou a ninguém e não fez acompanhamento médico. Não teve coragem de

denunciar o abusador.

A família da puérpera foi questionada sobre a possibilidade de ficar com o

bebê, mas disseram respeitar a decisão da filha, e não ficaram com a criança. A

mãe não viu o recém-nascido e não quis escolher seu nome. Depois da entrevista e

o relatório da assistente social, aconteceu a audiência em que a mãe renunciou ao

poder familiar. Assim que recebeu alta hospitalar, a criança foi diretamente para a

casa de habilitados para adoção.

O assistente social, no judiciário, tem papel investigativo, sendo analisada

cada demanda de forma individual, e construídas estratégias específicas para cada

situação.

No decorrer do período de estágio presenciei uma situação em que a

dimensão investigativa possibilitou a construção de um sólido parecer.

Este era um processo em que a guarda do filho foi retirada da mãe que

morava em outra cidade, porque, segundo informações do Conselho Tutelar local,

foi recebida denúncia, por parte da cuidadora da criança, de abandono pela mãe. O

conselheiro entregou a criança ao pai, morador de São Leopoldo, o qual entrou com

ação de guarda.

Nesse caso, foi determinado estudo social nesta Comarca para verificar a

situação da criança junto ao pai, enquanto que o estudo social com a mãe foi

deprecado à Comarca onde ela reside. Posteriormente, a fim de ter maiores

subsídios para tomar sua decisão, a juíza da Vara de Família de São Leopoldo

determinou que a assistente social realizasse novas entrevistas, dessa vez também

com a mãe, mesmo esta última residindo em outra Comarca.

Em mais de uma visita domiciliar, foi verificado que a criança estava sendo

cuidada por uma tia paterna. Em entrevista, a mãe denunciou que o pai usava álcool

e outras substâncias psicoativas. Afirmou que houve um mal entendido, que não

abandonou o filho, do qual não abriria mão. Em entrevista, o pai estava com os

olhos vermelhos, mas afirmou que só bebeu uma cervejinha (sic). Seu desejo era

que o filho permanecesse sob os cuidados da avó paterna, afirmando que a mãe

batia na criança.

Para melhor entender a situação, a assistente social entrevistou, além das

partes, a avó materna e a avó paterna. Também entrou em contato com o Conselho

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Tutelar e a escola que a criança frequentava quando vivia sob a guarda da genitora.

Em seu parecer, a profissional foi favorável ao retorno da criança aos cuidados da

mãe, confirmando que não se tratava de situação de abandono, e sugerindo que o

Conselho Tutelar da localidade permanecesse acompanhando a família. No termo

de audiência, a juíza coloca que:

Considerando que o relatório social das fls. 159/160v, que se baseou em entrevistas com os genitores do menor e com os avós da criança, visita domiciliar, bem como contato com o Conselho Tutelar e com a escola [...], conclui que não há motivos para manter a criança afastada da genitora; considerando que a avó paterna afirma que o genitor não tem condições de se responsabilizar pelo menino; considerando que a avó materna refere que a genitora está se mostrando responsável e amadurecida e compromete-se em apoiá-la, REVERTO a guarda provisória de [...] em favor da genitora. [...] fixo convívio da criança com o genitor e avós paternos[...]. Oficia-se ao Conselho Tutelar de [...] comunicando a guarda de [...] foi deferida a genitora e solicitando que realize acompanhamento da situação do menor, pelo prazo de seis meses, remetendo relatórios bimestrais a este juízo. (RIO GRANDE DO SUL, 2015c ).

O trabalho do assistente social judiciário é minucioso e investigativo, pois

somente o conhecimento da realidade pode trazer o conhecimento da questão a ser

trabalhada e ocasionar mudanças e garantias de direitos.

A carga de trabalho do assistente social judiciário é elevada, notoriamente em

decorrência da escassez de recursos humanos em relação ao crescente número de

processos. São inúmeros desafios para os assistentes sociais judiciários. Segundo o

Grupo de Assistentes Sociais Judiciários do Rio Grande do Sul (GASJ, 2013), há

baixo investimento em cursos de aperfeiçoamento, falta de comunicação entre

setores, processos fragmentados e há o descumprimento da lei de 30 horas.

Durante o período de estágio pude perceber, que é normal existirem dois

processos sobre a mesma situação. Quando são da mesma Vara, é apensado um

processo ao outro, Entretanto, se são de Varas diferentes, acabam chegando ao

setor do Serviço Social os dois processos, o que muitas vezes é percebido e

realizado o estudo social conjuntamente, comunicando as referidas Varas sobre a

existência do outro processo. Vi que a demanda de trabalho é grande, o que dificulta

a saída do profissional para uma capacitação, e torna cada vez mais difícil o

cumprimento da lei de 30 horas. O fato é que o trabalho é desgastante e pode

causar adoecimento ao profissional atarefado demasiadamente e sempre

preocupado com o cumprimento dos prazos.

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42

Outra constatação no decorrer do estágio é de que o Foro é uma instituição

com contradições e hierarquias, sendo o profissional desafiado a ser respeitado e

reconhecido nesse meio majoritariamente dominado por profissionais da área do

direito. O Foro é um espaço de contradições, com corredores cheios em dias de

audiências, com famílias esperando o parente que chega algemado, local de classes

sociais distintas, de condenação e garantia de direitos, de fazer justiça e de trazer

juízo. É também um espaço com hierarquia clara, tendo o juiz o poder de decisão, o

qual se posiciona no lugar de destaque da sala de audiências, e com o poder de

desconsiderar o estudo social realizado pelo assistente social.

Enquanto estagiária percebi as relações delicadas vivenciadas pelo

profissional na busca por garantir direitos e acesso à justiça social para o usuário.

Em uma das situações, a profissional, em seu parecer, sugeriu que uma idosa

tivesse acesso a programas sociais, devido à situação de vulnerabilidade social, em

especial no que se refere às condições da moradia, mas o juiz ignorou sua

sugestão, limitando-se a decidir sobre a curatela da mesma.

Outra situação vivenciada foi a de um adolescente que estava fora da escola,

e cumpria medida socioeducativa, aplicada a adolescentes infratores mediante

ordem judicial. Ele não sabia ler e escrever, já estava com 14 anos, mas ainda não

era aceito no Ensino de Jovens e Adultos (EJA) por causa da sua idade. A medida

consistia em comparecer ao Centro de Atenção Psicossocial Infantil (CAPSI),

participando de grupos e atendimentos individuais. O fato era que o adolescente não

queria estudar fora do EJA, pois teria que ir para uma turma de idade bem inferior a

sua, de crianças. Ele compareceu uma vez ao grupo do CAPSI e ao atendimento

individual, mas não quis retornar ao grupo; porém, para ter os atendimentos

individuais, teria que participar do grupo. Assim, o CAPSI não mais o atendeu. A

assistente social referiu o interesse do adolescente em retornar aos estudos e

cumprir a medida socioeducativa, solicitando que sua situação fosse analisada de

forma individualizada. Entretanto, até o momento, ele continua fora da escola e

descumprindo a medida socioeducativa, o que pode causar acolhimento

institucional.

Todos os exemplos descritos demonstram a importância da atuação do

assistente social judiciário, que se propõe a ser um elo com o Poder Judiciário na

construção da justiça social, buscando um acesso igual e efetivo. Os instrumentos

utilizados pela profissão, como a visita domiciliar, a escuta sensível, a entrevista, e o

Page 44: TCC - Serviço Social - Unisinos - 2016 - Rúbia Leal

43

parecer social implicam na compreensão da realidade do sujeito, das suas

necessidades individuais e no seu suprimento, já garantido por lei, respeitando sua

autonomia. Com isso, busca-se contribuir para a correção das desigualdades, das

expressões da questão social, do sofrimento, da pobreza e do não conhecimento de

direitos, buscando uma mudança das realidades. Muito contribui o profissional para

a decisão final dos juízes. Infelizmente, essa ainda não é uma realidade para todos

os profissionais do Serviço Social, ocorrendo situações em que não é respeitado seu

trabalho e parecer social. Em outros casos, a decisão final está nas mãos do

assistente social, apoiando-se o juiz totalmente no parecer do profissional.

O assistente social judiciário se propõe a fazer justiça social, porém as

circunstâncias nem sempre são favoráveis para tal, sua atuação tem limites e

possibilidades, ficando sua atuação atrelada ao parecer social que pode não ser

aceito.

Este campo é desafiador, sendo necessário muito trabalho para que a

atuação do assistente social judiciário possa ser efetiva e que a busca por justiça

social possa seja plena.

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44

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em um mundo de desigualdades a vulnerabilidade é um fato real. A violação de

direitos e a injustiça estão presentes em todos os lugares. As leituras diárias de

processos relatando situações de violação de direitos trouxeram a necessidade da

reflexão a respeito de igualdade e justiça social em um espaço de contradições. O

Poder Judiciário é, ao mesmo tempo, órgão garantidor de direitos e punidor.

Questionamentos surgiram sobre a melhor forma de atuação do assistente social

neste campo e as respostas apontavam para a proteção de direitos sociais, que são

formalmente universais, mas não estão totalmente assegurados a todos.

A definição do termo abordado foi de difícil construção. Poucas são as

produções do Serviço Social que abordam Justiça Social. Com a finalidade de

aprofundar o estudo do tema Justiça Social, foi realizado uma revisão bibliográfica

sobre o processo de trabalho do assistente social no Judiciário que é um dos três

poderes que regem nosso País, juntamente com o Executivo e o Legislativo, que,

respectivamente, governam, garantem direitos e fazem as leis. Foi abordado parte

da história do judiciário no RS que chegou aos seus 140 anos recentemente, tendo

início no ano de 1874 e a Comarca de São Leopoldo, em 1875, tornando-se

entrância intermediária em 1990 e com nova sede em 2008. Foi visto que os

primeiros profissionais do Serviço Social foram selecionados em 1955, totalizando

sete, para atuar no Judiciário em Porto Alegre, e que atualmente existem 110

assistentes sociais em 48 Comarcas do RS. Em São Leopoldo a profissão iniciou

com uma assistente social no ano de 1986, para exercer suas funções junto à 2ª

Vara Criminal e o Juizado de Menores e desde 1994 são dois profissionais no setor.

Foi abordado sobre as principais atribuições do profissional no Poder

Judiciário. Afirmei que o objeto de trabalho do assistente social Judiciário, tratando-

se das expressões da questão social que se manifestam em diversos tipos de

processos destinados ao setor, os quais, inicialmente, eram voltados ao Juizado de

Menores, atualmente Juizado de Infância e Juventude, expandido para a Vara de

Família, na qual vem as principais demandas. Foi visto, ainda, que os tipos de

processos mais recorrentes no setor são os de guarda, tutela, preparação para

adoção, adoção, habilitação para adoção, medidas de proteção, curatela e

interdição. São utilizados, predominantemente, além das visitas domiciliares,

entrevistas e escuta ativa e sensível, a perícia social, que juntamente com o laudo e

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parecer social, é a metodologia de trabalho de domínio específico do assistente

social. Esta ferramenta serve de suporte ao juiz para sua decisão final. Outro ponto

citado é o surgimento de novos espaços de atuação no Judiciário para o profissional

do Serviço Social: o depoimento especial e a mediação de conflitos. Com tudo,

pode-se perceber que o assistente social é um profissional capacitado com técnicas

e teorias necessárias para desenvolvimento de tais intervenções podendo ampliar o

acesso a direitos e a justiça social.

A busca pela Justiça social é uma constante nas civilizações, estando a ideia

presente na Declaração Universal dos Direitos Humanos, respeitada e utilizada por

muitos países. Ocupa a posição de centralidade da Constituição Federal, dela

provindo Leis voltadas para a superação das desigualdades sociais e norteando o

Código de ética da profissão, por isso promovê-la é atribuição do profissional do

Serviço Social. Percebeu-se que para cumprir direitos humanos é necessário

primeiramente suprir necessidades básicas universais que são: a autonomia e a

saúde física, pois sem elas não é possível uma vida com dignidade e fazer justiça

social.

Procedeu-se um estudo sobre o conceito de justiça social, no qual se conclui

por um conceito em que a justiça social implica em construir uma sociedade que

corrija as desigualdades, que dê atenção às necessidades básicas, principalmente

as necessidades de autonomia e saúde física, no tocante ao combate à pobreza,

tendo a busca por garantia de direitos humanos como pré-requisitos que devem ser

cumpridos pelo Estado por meio de políticas públicas.

Este conceito, construído a partir do conhecimento sobre justiça, foi identificado

nas buscas feitas por civilizações antigas, no estudo deste tema por filósofos Platão,

Aristóteles e dos teólogos Santo Agostinho e São Tomás de Aquino, que colocam

que a justiça é para o bem estar comum suprindo as necessidades da sociedade.

Esta justiça busca o bem comum e a diminuição das desigualdades, chamada

justiça distributiva, termo este que evoluiu através do tempo sendo utilizado e

difundido como justiça social pela igreja católica. Mencionando o termo em suas

encíclicas, traziam valores para uma sociedade de cooperação e solidariedade.

Outros autores abordados foram Rawls, Marx, Sen, Cappeletti e Garth.

A diversidade de conceitos estudados sobre justiça social permeia a

construção de uma sociedade justa, de igualdade e equidade, como refere Rawls. O

conhecimento da realidade da época, como coloca Marx, mostra o sentido de justiça

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contemporâneo. Sen sintetiza que estes valores e critérios não se limitam à

distribuição de bens ou no conhecimento das expressões da questão social. Ele

acredita no progresso da justiça mediante a democracia.

As políticas sociais são mecanismos que devem possibilitar acessos a serviços

eficientes para que possa ser efetivada a justiça social e o resgate da dignidade. A

justiça social, no âmbito do judiciário, passa decisivamente sobre o amparo das

políticas públicas.

Ao final deste processo concorda-se que o assistente social é capacitado para

que a construção da concretização da justiça social no Poder Judiciário seja

possível. Contudo é uma árdua tarefa, que deve ser analisada de forma individual a

cada processo e cada usuário, buscando suprir suas necessidades básicas,

respeitando sua autonomia e saúde física, a partir de uma análise crítica.

O Poder Judiciário é a instância constituída para cumprir a lei e promover a

justiça e efetivação dos direitos. O assistente social judiciário se torna o elo para a

garantia e equalização destes, contribuindo para o acesso aos direitos humanos e

sociais, na busca pela justiça social.

Neste sentido, chama-se a atenção para a importância do trabalho do

assistente social, que contribui para o acesso aos direitos mediante não somente o

domínio das técnicas e instrumentos utilizados, do conhecimento teórico e dos

fundamentos legais, mas, principalmente, na análise das expressões da questão

social, de modo a construir o estudo social e o parecer íntegro e real, que podem

determinar destinos de vidas humanas. Um estudo social mal formulado, realizado

de forma incompetente, pode resultar em injustiça social.

Acredito que é ainda necessário mudar o conceito comum da realização de

justiça social, que não deve ser discutida apenas no âmbito judiciário, mas deve se

tornar parte da cultura e resultar em uma sociedade com arranjos sociais justos e

uma realidade transformada que satisfaça necessidades humanas, que alcance

objetivos universais de participação social e de libertação de qualquer forma de

opressão

Analisou-se a experiência de estágio no Foro de São Leopoldo, com foco nos

processos de trabalho do assistente social, orientada pelos constructos teóricos

citados no trabalho. Para tal, procurei demonstrar que é possível a concretização de

justiça social por meio da análise do parecer do profissional e do termo de audiência

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de processos que foram determinados pelo juiz, para realização de estudo social,

pelo assistente social judiciário.

O assistente social esbarra na incredulidade de seu trabalho por alguns juízes

e na burocratização do acesso às políticas públicas. O excesso de demandas e a

não contratação de novos profissionais contribuem para a morosidade na atuação do

profissional. O judiciário um espaço predominantemente de profissionais do direito

em que o assistente social busca ser respeitado e conhecido o seu trabalho, pois

muitos ainda não conhecem sua atuação que é ampla nos mais diversos tipos de

processos que chegam até o setor, mas é limitada pela determinação do juiz.

São muitos desafios para que a realização da justiça social no campo judiciário

possa ser efetiva. É urgente a necessidade de contratação de novos profissionais e

o conhecimento da atuação do profissional neste espaço. O trabalho do assistente

social mune o juiz a fim de que sua decisão possa ser realizada de forma a não

cometer julgamentos equivocados, conduzindo a decisão para proteção dos direitos

do indivíduo.

Na construção da definição do termo justiça social foi idealizado a construção

de uma sociedade que viva em harmonia, que corrija as desigualdades e combata a

pobreza. O Poder Judiciário atua por causa de inexistência desta harmonia e por

causa das desigualdades que resultam na violação de direitos. Vi a necessidade

urgente de mudança de atitude nas contradições existentes na vida em sociedade,

no qual os impactos negativos são visíveis, em que o ideal de justiça social não seja

somente uma busca religiosa ou um termo garantido por leis e almejado na

Constituição, mas que possa ser aprofundado o seu conhecimento e garantido no

plano prático.

A atuação do assistente social no sistema judicial deve servir como ligação

para a construção de uma sociedade em que todos sejam iguais em dignidade e

liberdade, para a afirmação dos direitos individuais e sociais no plano prático, não

apenas no plano teórico e legal, mas para que haja, de forma efetiva, a justiça

social.

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ANEXO A – RELATÓRIO DE ATIVIDADES DE MARÇO E ABRIL DOS ANOS DE 2011 E 2016

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ANEXO B – PARECER SOCIAL

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ANEXO C – TERMOS DE AUDIÊNCIA

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