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Educação Contextualizada: contribuindo para a Convivência com o Semiárido Você já parou para pensar se os conteúdos trabalhados na escola fazem parte do contexto de nossa região? Já listou quanta coisa interessante existe no lugar onde vivemos? Sabe dizer o que os educandos fazem com o conhecimento adquirido na escola? Já pensou como a sala de aula e a realidade local podem construir juntas a educação? Os saberes dos povos do Semiárido nem sempre são reconhecidos pelas práticas de educação formal. Como já dissemos, o Semiárido brasileiro ao longo do tempo, foi estigmatizado como uma região de calamidades, criando-se a ideia de um lugar ruim para se viver. Uma educação que desconsidera a pluralidade cultural dos sujeitos, tornando o conteúdo sem significado fora da sala de aula, pode levar ao distanciamento entre o que se discute na escola e as experiências vivenciadas pelos educandos, desestimulando os mesmos. No entanto, sabemos que um outro modelo de educação é possível e que podemos construir, cada dia mais, uma pedagogia de valorização dos saberes populares, da nossa região e de nossa cultura. Uma educação para Convivência com o Semiárido, inserida no contexto da região, e que por isso chamamos de Educação Contextualizada ao Semiárido. Uma pedagogia que propõe a valorização dos conhecimentos da própria localidade como um dos alicerces da construção do saber. O que é, afinal, Educação Contextualizada? A educação contextualizada propõe a construção do conhecimento considerando as características das regiões. É uma prática pedagógica que pretende integrar o contexto local a educação. Ou seja, dialoga com as especificidades construindo conhecimento a partir da vida do lugar. Dessa forma, a educação contextualizada traz a realidade do nosso Semiárido para o centro do processo educativo. Ao colocar no centro do processo de aprendizagem as vivências cotidianas, a linguagem popular, as expressões culturais, a fauna e flora da região, e a história e a força do povo do Semiárido, um processo educativo contextualizado cria autoestima e valoriza a realidade em que as pessoas vivem, uma vez que se reconhecem na sala de aula.

Texto afinal do que é educação contextualizada (2)

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Page 1: Texto afinal do que é educação contextualizada (2)

Educação Contextualizada: contribuindo para a Convivência com o Semiárido

Você já parou para pensar se os conteúdos trabalhados na escola fazem parte do contexto de

nossa região? Já listou quanta coisa interessante existe no lugar onde vivemos? Sabe dizer o que

os educandos fazem com o conhecimento adquirido na escola? Já pensou como a sala de aula e

a realidade local podem construir juntas a educação?

Os saberes dos povos do Semiárido nem sempre são reconhecidos pelas práticas de educação

formal. Como já dissemos, o Semiárido brasileiro ao longo do tempo, foi estigmatizado como

uma região de calamidades, criando-se a ideia de um lugar ruim para se viver. Uma educação

que desconsidera a pluralidade cultural dos sujeitos, tornando o conteúdo sem significado fora

da sala de aula, pode levar ao distanciamento entre o que se discute na escola e as experiências

vivenciadas pelos educandos, desestimulando os mesmos.

No entanto, sabemos que um outro modelo de educação é possível e que podemos construir,

cada dia mais, uma pedagogia de valorização dos saberes populares, da nossa região e de nossa

cultura. Uma educação para Convivência com o Semiárido, inserida no contexto da região, e que

por isso chamamos de Educação Contextualizada ao Semiárido. Uma pedagogia que propõe a

valorização dos conhecimentos da própria localidade como um dos alicerces da construção do

saber.

O que é, afinal, Educação Contextualizada?

A educação contextualizada propõe a construção do conhecimento considerando as

características das regiões. É uma prática pedagógica que pretende integrar o contexto local a

educação. Ou seja, dialoga com as especificidades construindo conhecimento a partir da vida do

lugar. Dessa forma, a educação contextualizada traz a realidade do nosso Semiárido para o

centro do processo educativo.

Ao colocar no centro do processo de aprendizagem as vivências cotidianas, a linguagem popular,

as expressões culturais, a fauna e flora da região, e a história e a força do povo do Semiárido,

um processo educativo contextualizado cria autoestima e valoriza a realidade em que as pessoas

vivem, uma vez que se reconhecem na sala de aula.

Page 2: Texto afinal do que é educação contextualizada (2)

Desta forma, a educação contextualizada pretende contribuir para formação humanizada dos

sujeitos, bem como para o aprimoramento da convivência com nossa região. Seu desafio é

construir, criar e transformar as possibilidades de viver em nossa região. Isso representa novas

formas de convívio com o clima, com a água, a terra, de maneira geral com a natureza, e ainda

formas alternativas de produção.

A proposta da educação contextualizada se articula com movimentos da sociedade civil que

através da agricultura familiar e práticas agroecológicas tem contribuído para construir a

perspectiva da Convivência com o Semiárido.

A ideia é, então, educar mantendo uma relação de valorização do campo, da cultura, do jeito de

ser, produzir e reproduzir, de lutar pela terra, colocando em evidência a importância da

agricultura na vida das pessoas e para continuidade da vida no campo. É preciso que os

conteúdos trabalhados façam sentido tanto na vida quanto no lugar onde vive uma população.

A educação para convivência com o semiárido deve trazer consigo a capacidade de contribuir

para o fortalecimento da região semiárida, construindo novos olhares e conhecimento para

melhoria da vida da população e sendo mais uma frente na luta por direitos que assegurem uma

vida digna.

ECA – o Direito de ser criança

Ao falarmos de luta por direitos, uma conquista importante foram os direitos das crianças e

jovens. O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), em vigor desde 1990, é considerado um

marco na proteção da infância e reforça a ideia de “prioridade absoluta” da Constituição Federal.

É um ganho para sociedade e a partir dele muitas ações já se concretizaram:

• A implantação dos Conselhos de Direitos das Crianças e dos Adolescentes em níveis

federal, estadual e municipal, na busca da implementação e do controle social de

políticas que garantam os direitos das crianças e dos adolescentes.

• As Conferências Municipais, Regionais, Estaduais e Federais de Direitos das Crianças e

dos Adolescentes, em que se debatem e se sugerem políticas que atendam aos direitos

das meninas e meninos.

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• O Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (Peti), que melhorou a qualidade da

escola, implantou ações complementares a ela e conseguiu tirar do trabalho

exploratório milhares e milhares de crianças.

• O posicionamento diante do debate da qualidade do ensino e da oferta universal de

vagas, determinando a escola como direito essencial e fundamental das crianças e dos

adolescentes.

• O esforço por uma educação contextualizada, que leve em conta a vida real das crianças.

Assim como a educação é um direito básico para a vida de crianças e jovens, a garantia da água

também o é. Com o ECA as crianças e adolescentes puderam ter seus direitos assegurados por

lei, além dos já citados também são garantidos: o direito a brincar, a ser criança e a frequentar

uma escola de qualidade, como atuais sujeitos de direitos.

No entanto, sabemos que garantir os direitos das crianças e dos adolescentes é uma tarefa que

passa por muitos aspectos. A questão da escolarização é um dos desafios postos. A educação

não-contextualizada para a convivência com o Semiárido e a ainda presente exploração do

trabalho infantil são aspectos que afastam as crianças, desde bem pequenas, do acesso a um de

seus direitos fundamentais, que é a educação de qualidade. E o direito de ter uma escola na

própria localidade, na zona rural, adequada com os conhecimentos do campo, é uma frente de

luta que tem sido enfrentada pela sociedade

Educação do Campo

É preciso entender que para colocar em prática essa pedagogia contextualizada uma grande luta

vem sendo travada na educação. A política de educação do campo foi decretada em 2010 e visa

a ampliação e qualificação da oferta de educação básica e superior às populações do campo.

Assegurada por lei, ela responsabiliza o Estado (nas instâncias federais, estaduais e municipais)

pela sua implementação e manutenção.

O Plano Nacional de Educação considera como princípios da educação do campo:

• O respeito à diversidade do campo em seus aspectos sociais, culturais, econômicos, de

gênero, geracional, de raça e etnia;

• Incentivo à formulação de projetos políticos pedagógicos específicos para as escolas do

campo;

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• Políticas voltadas para formação de profissionais da educação visando o atendimento

das especificidades das escolas do campo;

• Valorização da identidade da escola do campo e flexibilidade do calendário escolar,

ajustando-o às especificidades de cada região;

• Controle da qualidade da educação escolar, mediante efetiva participação da

comunidade e dos movimentos sociais.

Tal política tem como objetivo superar as defasagens históricas de acesso à educação escolar

das populações do campo visando: reduzir os índices de analfabetismo; fomentar educação

básica, superior e profissionalizante; produzir material didáticos, pedagógicos, culturais e

literários que atendam as especificidades do campo; contribuir para inclusão digital; garantir

fornecimento de energia elétrica, água de consumo, saneamento básico, dentre outras

condições necessárias para funcionamento das escolas.

Apesar de já observarmos alguns ganhos nessa luta, muito ainda precisa ser feito nesse sentido.

As populações do campo (agricultores familiares, pescadores, ribeirinhos, assentados e

acampados da reforma agrária, trabalhadores assalariados, quilombolas, caiçaras, povos da

floresta e demais populações que produzam suas condições de subsistência no campo) devem

participar dessa construção coletiva de conhecimento. Hoje é direito nosso ter escolas com

projetos políticos elaborados para atender em cada contexto as demandas educacionais das

nossas regiões.

Referências:

Construindo Saberes para Educação contextualizada. 1ª edição. Feira de Santana: MOC, 2011.

124 pág. (Desenvolvimento Sustentável e Convivência com o Semiárido – Caderno 1)

Cisternas nas Escolas: Uma conquista do povo do semiárido (cartilha). 1ª edição. Recife: ASA.

48 pág.

Cristiana Cavalcanti e Mariana Reis

Recife, Janeiro de 2015.