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Atividades sobre Expansão Marítima História/ 3º Bimestre – Professor José Knust
Estudante: _________________________________________ Turma:______
Retirado de: Alexandre Alves e Letícia Fagundes de Oliveira. Conexões com a História. Vol.1. São Paulo:
Editora Moderna, 2010, p.252.
O olhar europeu sobre os indígenas: da selvageria à idealização.
A chegada dos europeus na América permitiu o encontro entre povos que se desconheciam. O choque com
culturas e mentalidades diferentes das praticadas na Europa causou muito impacto no velho continente,
repercutindo em análises e considerações sobre os povos americanos. Os textos a seguir apresentam duas
reflexões antagônicas sobre os indígenas.
TEXTO 1
“Todas as nações de gentes (...) seguem sua gentilidade, são feras, selvagens, montanhesas e desumanas:
vivem ao som da natureza, nem seguem fé, nem lei, nem rei (freio comum de todo homem racional). E em
sinal dessa singularidade lhes negou também o Autor da natureza as letras F, L e R. Seu Deus é seu ventre
(...), sua lei, e seu rei, são seu apetite e gosto. (...) Vivem neles tão apagada luz da razão, quase como nas
mesmas feras. Parecem mais brutos em pé que racionais humanados (...). Nem têm arte, nem polícia alguma,
nem sabem contar mais que até quatro, os demais números notam pelos dedos das mãos e dos pés (...).
Nos mais costumes são como feras, sem política, sem prudência, mentirosos, comilões, dados a vinhos; e só
nesta parte esmerados (...).”
Simão de Vasconcelos. Crônica da Companhia de Jesus [1663]. Petrópolis: Vozes; Brasília: INL, 1977,
p.97-98.
TEXTO 2
“Esses povos não me parecem merecer o qualificativo de selvagens somente por não terem sido senão muito
pouco modificados pela ingerência do espírito humano e não haverem quase nada perdido de sua
simplicidade primitiva. (...). Ninguém concebeu jamais uma simplicidade natural elevada a tal grau,
ninguém jamais acreditou que pudesse a sociedade subsistir com tão poucos artifícios. É um país, diria eu a
Platão, onde não há comércio de qualquer natureza, nem literatura, nem matemática; onde não existe uma
hierarquia política nem domesticidade, nem ricos e pobres. Contratos, sucessão e partilhas aí são
desconhecidas; em matéria de trabalho só sabem da ociosidade; o respeito aos parentes é o mesmo que
dedicam a todos; o vestuário, a agricultura e o trabalho dos metais aí se ignoram; não usam vinho nem trigo,
as próprias palavras que exprimem a mentira, a traição, a dissimulação, a avareza, a inveja, a calúnia e o
perdão só excepcionalmente se ouvem. (...) São homens que saem das mãos dos deuses.
Michel de Montaigne. Ensaios [1580]. São Paulo: Nova Cultural/Círculo do Livro, 1996, v.1, p.196.
Questões
1) Para desenvolver seu raciocínio, Simão de Vasconcelos e Montaigne parte de um mesmo princípio (o
modo de vida dos nativos americanos), mas chegam a conclusões opostas.
a) Quais são as características comuns sobre os indígenas presentes em ambos os textos?
b) A que conclusão chega cada autor?
2) A visão dos europeus sobre o Novo Mundo oscilava entre a identificação com o inferno ou com o paraíso.
a) Qual a posição de cada texto segundo essa dualidade?
b) Transcreva passagens dos textos que justifiquem sua resposta.
3) Leia o texto abaixo e faça o que se pede:
O Brasil foi, realmente, descoberto em 1500? Devemos, antes de mais nada, nos perguntar se, há quinhentos
anos, existia um Brasil para ser descoberto. Quando Cabral aportou seus navios aqui, conforme o próprio
relato dos portugueses, ele encontrou índios, florestas, animais selvagens... Já era isso, então, o Brasil? Ora,
o que é que nós chamamos de Brasil? O Brasil como nós o sentimos e pensamos hoje, é produto do trabalho,
do esforço e da alegria de todos que viveram nessas terras nesses quinhentos anos; do branco, do negro, do
índio; mais ainda, do mestiço, do cafuso, do cariboca, do mameluco, do mulato, do pardo e do retinto...
Bem, o Brasil é uma soma de tudo isso, é uma construção de seu povo, da sua sociedade.
Assim, ao falarmos que Cabral descobriu o Brasil estaríamos dizendo que o país que vive e palpita em nós já
estava lá, naquela manhã enevoada de abril de 1500, esperando pelos portugueses, pronto para ser
descoberto. O Brasil, para ser e existir precisava ainda de muito para acontecer: invenção, criatividade e
trabalho, muito trabalho. Isso ainda não existia em 1500. Adaptado de: Francisco Carlos Teixeira em: Maria Yeda Linhares (org.)
História Geral do Brasil. Rio de Janeiro: Elsevier/ Campus, 2000, p.33
a) Segundo o autor, o Brasil foi descoberto em 1500? Como autor justifica a posição dele?
b) Para o autor, o que é o “o Brasil como nós o sentimos e pensamos hoje”?
4) Leia o texto abaixo e faça o que se pede:
“As sociedades primitivas são sociedades sem Estado: esse julgamento de fato, em si mesmo correto, na
verdade dissimula uma opinião, um juízo de valor, que prejudica então a possibilidade de constituir uma
antropologia política como ciência rigorosa. O fato que se enuncia é que as sociedades primitivas estão
privadas de alguma coisa – o Estado – que lhes é, tal como a qualquer outra sociedade - a nossa, por
exemplo - necessária. Essas sociedades são, portanto, incompletas. Não são exatamente verdadeiras
sociedades - não são policiadas -, e subsistem na experiência talvez dolorosa de uma falta - falta do Estado -
que elas tentariam, sempre em vão, suprir. (...)
Descobre-se nessa abordagem uma fixação etnocentrista tanto mais sólida quanto é ela, o mais das vezes,
inconsciente. A referência imediata, espontânea, é, se não aquilo que melhor se conhece, pelo menos o mais
familiar. Cada um de nós traz efetivamente em si, interiorizada como a fé do crente, essa certeza de que a
sociedade existe para o Estado. Como conceber então a própria existência das sociedades primitivas, a não
ser como espécies à margem da história universal, sobrevivências anacrônicas de uma fase distante e, em
todos os lugares há muito ultrapassada? Reconhece-se aqui a outra face do etnocentrismo, a convicção
complementar de que a história tem um sentido único, de que toda sociedade está condenada a inscrever-se
nessa história e a percorrer as suas etapas que, a partir da selvageria, conduzem à civilização (...)
Já se percebeu que, quase sempre, as sociedades arcaicas são determinadas de maneira negativa, sob o
critério da falta: sociedades sem Estado, sociedades sem escrita, sociedades sem história. Mostra-se como
sendo da mesma ordem a determinação dessas Sociedades no plano econômico: sociedades de economia de
subsistência. Se, com isso, quisermos significar que as sociedades primitivas desconhecem a economia de
mercado onde são escoados os excedentes da produção, nada afirmamos de modo estrito, e contentamo-nos
em destacar mais uma falta, sempre com referência ao nosso próprio mundo: essas sociedades que não
possuem Estado, escrita, história, também não dispõem de mercado. (...) A ideia de economia de
subsistência contém em si mesma a afirmação de que, se as sociedades primitivas não produzem excedentes,
é porque são incapazes de fazê-lo, inteiramente ocupadas que estariam em produzir o mínimo necessário à
sobrevivência, à subsistência. Imagem antiga, sempre eficaz, da miséria dos selvagens.” Pierre Clasters, A Sociedade contra o Estado, edição digital disponível em www.sabotagem.revolt.org, p.3-4
a) Segundo Clasters, nossas caracterizações dos povos primitivos são etnocêntricas. Explique o que isso
significa e qual é a principal consequência disso.
b) Explique quais são os problemas que o autor identifica nos conceitos de “Sociedade sem Estado” e
“Economia de subsistência”.