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Interação em Psicologia, 2008, 12(1), p. 151-164 151 Uma Introdução aos Delineamentos Experimentais de Sujeito Único Angelo Augusto Silva Sampaio Flávia Henriques Baião de Azevedo Luciana Roberta Donola Cardoso Camila de Lima Mateus Brasileiro Reis Pereira Maria Amalia Pie Abib Andery Pontifícia Universidade Católica de São Paulo RESUMO Os delineamentos de sujeito único constituem a abordagem experimental preferida por muitos pesquisadores do comportamento. Com o objetivo de introduzir o tema, discute-se o que é experimentação, definem-se variáveis independentes, dependentes e estranhas e apresentam-se as etapas de um experimento. A definição de delineamento experimental é detalhada, destacando-se suas duas estratégias mais difundidas: delineamentos entre-grupos (ou entre-sujeitos) e delineamentos de sujeito único (ou intra-sujeitos). A partir das diferenças básicas entre essas duas estratégias, apontam- se as principais características dos delineamentos experimentais de sujeito único enfatizando a estratégia dos estados estáveis. Os delineamentos experimentais de sujeito único mais comumente utilizados são apresentados e exemplificados (delineamento de reversão, linha de base múltipla, mudança de critério, de sonda e de retirada), ressaltando suas possíveis vantagens e desvantagens. Por fim, são destacadas as diversas possibilidades de combinação de delineamentos. Palavras-chave: experimentação; delineamentos experimentais de sujeito único; delineamento de reversão; delineamento de linha de base múltipla; delineamento de mudança de critério. ABSTRACT An introduction to Single-Subject Experimental Designs Single-subject designs are the experimental designs of choice for many behavior researchers. The purpose of the present article is to present the basic features of single-subject designs. In order to do so, the related concepts of experimentation, independent, dependent, and extraneous variables and the stages that comprise an experiment are introduced. A definition of experimental design is presented and the two most common research strategies are described: group (or between-subjects) designs and single-subject designs. The basic differences between the two strategies are presented. The main characteristics of single-subject designs and the most common single-subject designs are presented with emphasis on the strategy of steady states. Reverse designs, multiple baseline designs, changing criterion designs, and probe designs are described, as well as their strengths and weaknesses. Finally, the possibility of mixed experimental designs is also discussed. Keywords: experimentation; single-subject designs; reversal design; multiple baseline design; changing criterion design. Conduzir um experimento é uma tarefa complexa composta de diversas etapas. Uma dessas etapas é o delineamento experimental. Pelo menos dois grandes tipos de delineamento experimental convivem na ci- ência: delineamentos entre-grupos e de sujeito único. Neste artigo serão apresentadas e discutidas algu- mas das características mais importantes do método experimental de sujeito único, destacando-se seus delineamentos mais usuais. A ênfase será na aplicação de tal método a pesquisas sobre o comportamento dos organismos. O que é experimentação A experimentação é um modo fundamental de produzir conhecimento no mundo contemporâneo. Mas o que é um experimento? De modo geral,

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Interação em Psicologia, 2008, 12(1), p. 151-164 151

Uma Introdução aos Delineamentos Experimentais de Sujeito Único

Angelo Augusto Silva SampaioFlávia Henriques Baião de AzevedoLuciana Roberta Donola Cardoso

Camila de LimaMateus Brasileiro Reis PereiraMaria Amalia Pie Abib Andery

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

RESUMOOs delineamentos de sujeito único constituem a abordagem experimental preferida por muitospesquisadores do comportamento. Com o objetivo de introduzir o tema, discute-se o que éexperimentação, definem-se variáveis independentes, dependentes e estranhas e apresentam-se asetapas de um experimento. A definição de delineamento experimental é detalhada, destacando-se suasduas estratégias mais difundidas: delineamentos entre-grupos (ou entre-sujeitos) e delineamentos desujeito único (ou intra-sujeitos). A partir das diferenças básicas entre essas duas estratégias, apontam-se as principais características dos delineamentos experimentais de sujeito único enfatizando aestratégia dos estados estáveis. Os delineamentos experimentais de sujeito único mais comumenteutilizados são apresentados e exemplificados (delineamento de reversão, linha de base múltipla,mudança de critério, de sonda e de retirada), ressaltando suas possíveis vantagens e desvantagens. Porfim, são destacadas as diversas possibilidades de combinação de delineamentos.Palavras-chave: experimentação; delineamentos experimentais de sujeito único; delineamento dereversão; delineamento de linha de base múltipla; delineamento de mudança de critério.

ABSTRACTAn introduction to Single-Subject Experimental Designs

Single-subject designs are the experimental designs of choice for many behavior researchers. Thepurpose of the present article is to present the basic features of single-subject designs. In order to doso, the related concepts of experimentation, independent, dependent, and extraneous variables and thestages that comprise an experiment are introduced. A definition of experimental design is presentedand the two most common research strategies are described: group (or between-subjects) designs andsingle-subject designs. The basic differences between the two strategies are presented. The maincharacteristics of single-subject designs and the most common single-subject designs are presentedwith emphasis on the strategy of steady states. Reverse designs, multiple baseline designs, changingcriterion designs, and probe designs are described, as well as their strengths and weaknesses. Finally,the possibility of mixed experimental designs is also discussed.Keywords: experimentation; single-subject designs; reversal design; multiple baseline design; changingcriterion design.

Conduzir um experimento é uma tarefa complexacomposta de diversas etapas. Uma dessas etapas é odelineamento experimental. Pelo menos dois grandestipos de delineamento experimental convivem na ci-ência: delineamentos entre-grupos e de sujeito único.Neste artigo serão apresentadas e discutidas algu-mas das características mais importantes do métodoexperimental de sujeito único, destacando-se seus

delineamentos mais usuais. A ênfase será na aplicaçãode tal método a pesquisas sobre o comportamento dosorganismos.

O que é experimentaçãoA experimentação é um modo fundamental de

produzir conhecimento no mundo contemporâneo.Mas o que é um experimento? De modo geral,

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Um experimento é uma série de ações que resultaem um conjunto de observações especiais que nãoseriam possíveis de outra forma. A experimentaçãoé um modo de simplificar as condições sob as quaisa observação é feita de modo que um fenômenopossa ser observado mais claramente (Johnston &Pennypacker, 1993a, pp. 8-9, destaque no original).

Isaac Newton, por exemplo, em seu experimentoclássico sobre a decomposição da luz, permitiu a en-trada em um quarto escuro, por um furo na venezianada janela, de um pequeno raio de sol (Crease, 2006).Newton organizou o quarto de modo que esse raioincidisse sobre um prisma de vidro; ao atravessar oprisma, o raio se decompôs, projetando sobre um ante-paro à sua frente todas as cores do arco-íris. Newton,além disso, havia feito um furo nesse anteparo, demodo que podia projetar sobre esse furo apenas umadas cores produzidas. O raio de luz colorida que atra-vessava esse furo, por sua vez, atingia um segundoprisma desviando-se da sua rota original (isto é, re-fratava-se) antes de atingir a parede sem se decomporou mudar de qualquer outro modo. A partir desse ex-perimento (e de outros similares) Newton pôde com-provar que a luz branca não era “pura” como se pen-sava na época, mas composta por todas as cores doarco-íris, estas sim “puras”.

Além de produzir uma observação que seria muitodifícil (ou impossível) de se obter cotidianamente (uma“observação especial”), o experimento de Newton, ouainda, o modo como Newton simplificou as condiçõesde observação ao organizar seu quarto com os prismase o anteparo, permitiu-lhe:

estabelecer uma relação causal1 entre a cor dosraios de luz que incidiam sobre o segundo pris-ma e o ângulo em que estes eram refratados: o“tamanho do desvio” quando os raios de luzeram refratados (sua refringência) era uma pro-priedade dos próprios raios de luz, e não dosprismas;

compreender diversos fenômenos naturais rela-cionados (por exemplo, a formação do arco-íris) e

contribuir para várias aplicações práticas (porexemplo, a construção de melhores telescópios).

Estes pontos ilustram três objetivos e pontos fortesda experimentação: o estabelecimento de relações cau-sais, a compreensão de fenômenos e a promoção deaplicações práticas.

Variáveis independente, dependente e estranhaO objetivo essencial de um experimento é estabe-

lecer relações causais entre eventos, ou melhor, rela-ções sistemáticas entre variáveis – aspectos dos fenô-menos que podem assumir qualquer valor de um de-terminado conjunto (o sexo de uma pessoa, por exem-plo, é uma variável, já que pode assumir pelo menosdois valores: masculino ou feminino). Na experimen-tação, dividem-se estas variáveis em pelo menos duascategorias principais: as variáveis experimentais ouindependentes (VIs) e as variáveis observadas ou de-pendentes (VDs)2. As variáveis independentes sãoaquelas manipuladas pelo pesquisador, que está inte-ressado em seus efeitos. As variáveis dependentes, porsua vez, são aspectos/dimensões do fenômeno de inte-resse, são as variáveis que o pesquisador mede embusca dos efeitos das VIs. Aqui, vê-se uma caracterís-tica fundamental dos experimentos: a manipulação devariáveis. No exemplo da decomposição da luz, Newtonprecisou planejar um quarto escuro no qual apenas umpequeno orifício permitia a entrada de luz solar e pre-cisou posicionar adequadamente os prismas e o ante-paro (todos constituindo VIs), de modo a possibilitarsuas observações sobre as mudanças na luz solar (aVD). Sem tais manipulações, ele não teria chegado àssuas conclusões, fundamentais para o desenvolvi-mento da óptica.

Para estabelecer com clareza a relação entre VIs eVDs, o controle experimental é imprescindível. Énecessário o manejo adequado tanto das VIs quantodas VDs e de todos os fatores que possam interferirnos efeitos das primeiras sobre as últimas – tais fato-res (eles mesmos mais variáveis) são chamados devariáveis estranhas (VEs) (Johnston & Pennypacker,1993a). Em um estudo sobre o tratamento da depres-são, por exemplo, as conclusões acerca da eficácia deum novo medicamento (VI) sobre comportamentosconsiderados depressivos (VDs) deveriam levar emconta a possibilidade de que outras variáveis, comofreqüentar uma psicoterapia e fazer exercícios físicos(VEs), possam afetar os resultados.

Portanto, a tarefa que um cientista se propõe ao fa-zer um experimento exige cuidados e planejamento. Apartir de suposições sobre as variáveis que constituemum fenômeno de seu interesse (VDs), o experimenta-dor deve planejar como medir esse fenômeno, comomanipular as condições que têm função em sua deter-minação (VIs) e como diminuir ou, pelo menos, isolaros efeitos de outras condições que podem afetar ofenômeno de interesse, mas que não se pode ou não sepretende manipular (VEs).

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As etapas de um experimentoA realização de um experimento é um processo

complexo no qual o experimentador percorre váriasetapas interrelacionadas. Estas etapas não devem serentendidas como momentos predeterminados envol-vendo uma sequência rígida de passos, mas como umadivisão pedagógica de um conjunto de ações fluido eflexível.

A partir da definição de uma pergunta experimen-tal (o que se busca aprender com o experimento), oexperimentador deve considerar: 1) como o(s) fenô-meno(s) em estudo será(ão) medido(s), garantindo avalidade e a confiabilidade dessas medidas; 2) comoas condições experimental e controle serão arranjadaspara permitir comparações entre elas (delineamentoexperimental); 3) como os dados (as medidas obtidas)serão analisados, e 4) que conclusões são possíveis apartir dos resultados.

Nenhuma dessas etapas pode ser compreendidaisoladamente, já que todas as decisões tomadas pelopesquisador ao longo do planejamento e execução deum experimento dependem umas das outras. Apesarda interdependência das etapas de um experimento, oque se pretende aqui é possibilitar uma visão geral dafase de delineamento experimental.

Delineamento experimentalTodo experimento envolve duas condições básicas:

condição controle (ou linha de base) e condição expe-rimental. A condição controle é aquela na qual a VInão está presente. Ela permite avaliar os efeitos detodas as variáveis, que não a VI, sobre a VD. A condi-ção experimental, por sua vez, é aquela na qual a VIestá presente. Assim, é necessário que haja no expe-rimento pelo menos duas condições que difiram ape-nas quanto à presença da VI. Mantendo todas asvariáveis constantes entre as duas condições e varian-do apenas a VI, o experimentador está em posiçãofavorável para concluir se as possíveis mudanças me-didas são frutos de sua manipulação.

Segundo Johnston e Pennypacker (1993a), delinearum experimento é planejar condições controle e expe-rimentais de modo a permitir comparações significati-vas entre elas, verificar os efeitos da VI e responderao problema de pesquisa. Por esta razão, é extrema-mente importante que o experimentador conheça ascaracterísticas, as possibilidades (os pontos fortes) eos limites (os pontos fracos) dos delineamentos expe-rimentais em geral, e dos delineamentos experimen-tais que planeja.

Dito de outra forma, delinear um experimento édecidir sobre: 1) quantos sujeitos3 serão utilizados; 2)quantas serão as condições (controle e experimental)utilizadas; 3) quando, por quanto tempo e em queordem as condições serão introduzidas; e 4) quando equantas vezes as medidas de interesse serão reali-zadas.

Delineamentos entre-grupos e delineamentos desujeito único

Dois principais tipos de delineamentos experi-mentais são os de sujeito único (ou intra-sujeito) e osdelineamentos entre-grupos (ou entre-sujeitos). Aabordagem mais tradicionalmente utilizada na Psico-logia e nas Ciências Sociais é a que emprega delinea-mentos entre-grupos. Nestes delineamentos os efeitosde uma condição experimental são avaliados pelacomparação entre diferentes grupos de sujeitos, sub-metidos, cada um dos grupos, a diferentes condições.Nos delineamentos entre-grupos cada sujeito é ex-posto a apenas uma das condições do experimento.Além disso, todos os sujeitos de um grupo são expos-tos às condições por um mesmo período de tempo.Finalmente, as medidas de interesse costumam serrealizadas poucas vezes para cada sujeito e, de modogeral, envolvem o agrupamento dos dados relativosaos sujeitos que compõem cada grupo (por exemplo,pela obtenção de médias, desvios padrão, ou porcen-tagens de sujeitos que atingem certo critério). A com-paração entre os resultados dos grupos, por sua vez,muitas vezes envolve o uso de instrumentos da esta-tística inferencial, como testes para avaliar a fide-dignidade estatística dos dados e a significação dasdiferenças encontradas entre os grupos (Johnston &Pennypacker, 1993a, 1993b; Kerlinger, 1973; Kidder,1987). Em um exemplo bem simples, um novo medi-camento poderia ser testado pela distribuição aleatóriade sujeitos em dois grupos. Um grupo recebe o medi-camento (condição experimental) e o outro grupo re-cebe apenas um placebo (condição controle). Os sin-tomas da doença-alvo são medidos apenas duas vezes:antes e depois dos respectivos tratamentos. Os resul-tados obtidos em cada grupo são então estatistica-mente comparados entre si para avaliar a eficácia domedicamento. Se os sintomas tiverem uma reduçãoestatisticamente significativa no grupo que recebeu omedicamento, a redução poderia ser atribuída ao me-dicamento.

Outra abordagem experimental com uma longatradição na história das ciências é o delineamento de

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sujeito único. Sua utilização no estudo do comporta-mento humano tem sido defendida por diversos pes-quisadores (Estes & Skinner, 1941; Ferster & Skinner,1957; Johnston & Pennypacker, 1993a, 1993b; Kazdin,1982; Matos, 1990; Sidman, 1960/1976; Skinner,1938, 1947, 1956). Entre os argumentos a apoiar suautilização destaca-se o fato do comportamento ser umfenômeno característico de organismos individuais,que interagem de maneira única com o mundo – doisindivíduos nunca se comportam da mesma maneira.Argumenta-se também que cálculos que agregamresultados, como médias de desempenhos de gruposde indivíduos, não representam corretamente o de-sempenho de nenhum dos seus membros, pois rara-mente um sujeito se comporta exatamente como essamédia. Além disso, agregar resultados dessa formaenvolve misturar dados efetivamente comportamentais(relativos aos desempenhos dos sujeitos) com a dife-rença entre os desempenhos (de dois ou mais sujeitos)que é um dado não comportamental, o que não é útilna explicação do comportamento de um organismosingular.

Os delineamentos de sujeito único têm como ca-racterística principal tratar os sujeitos individualmen-te, tanto no que se refere às decisões relativas ao pró-prio delineamento, quanto ao processamento dos da-dos – o que não implica a utilização de um único su-jeito por experimento. Neste modelo de delineamento,os sujeitos são expostos a uma série de condições,mensurando-se repetidamente o desempenho do orga-nismo e verificando-se se há uma relação ordenadaentre as condições manipuladas no experimento e asalterações nessas medidas (Matos, 1990). Diferente-mente dos delineamentos entre-grupos, um mesmosujeito é submetido a todas as condições do experi-mento e as observações são realizadas de forma contí-nua no decorrer de todo o processo.

A estratégia dos estados estáveisArranjar comparações entre as condições em um

experimento conduzido com um delineamento de su-jeito único não é uma tarefa simples. A precisão egeneralidade das conclusões dependem da qualidadedas medidas do desempenho do sujeito4.

Caso qualquer coisa no desempenho do sujeito,seja na condição controle, seja nas condições experi-mentais, não for típica dos efeitos usuais destas condi-ções, então ‘subtrair’ o desempenho na condição con-trole do responder sob a condição experimental resul-

tará em uma diferença que é de algum modo engana-dora (Johnston & Pennypacker, 1993a, p. 197).

Ou seja, inferir efeitos da variável independente(VI) apenas pelas diferenças nas medidas da variáveldependente (VD) de uma condição para a outra, semse ter conhecimento suficiente sobre os resultados demedida que seriam típicos em cada uma das condiçõespode levar ao erro. Além disso, a precisão e a genera-lidade dos resultados de um experimento com delinea-mento de sujeito único dependem fortemente do con-trole sobre as variáveis estranhas (VEs) e qualquerconclusão sobre os resultados precisará considerar etrabalhar com a influência destas variáveis. Um recursocentral para se lidar com tais dificuldades quando setrabalha com delineamento de sujeito único é a estra-tégia dos estados estáveis. Essa estratégia envolvemedir repetidamente a VD sob condições que sãomantidas constantes até se obter dados relativamenteestáveis. Estabilidade é definida como um padrão quemostra pouca variação ao longo de um certo períodode tempo.

Nos delineamentos entre-grupos, comparam-se osdados agregados de todos os participantes de um gru-po com os dados agregados dos participantes de outrogrupo e, então, supõe-se que eventuais inconsistênciasou variações não esperadas sejam compensadas entreos sujeitos, de modo que os resultados do grupo todoexpressariam o resultado típico independente de (des-contadas as) variações individuais.

Nos delineamentos de sujeito único essa suposiçãonão pode ser feita. A estabilidade das medidas da VDé um requisito indispensável, uma vez que se comparaem cada sujeito os valores da VD em diferentes con-dições. Se não há estabilidade em cada condição nadase pode afirmar quando se comparam valores em dis-tintas condições para o mesmo sujeito.

No entanto, estabilidade não pode ser confundidacom imutabilidade. Especialmente quando se estudacomportamento há que se esperar contínua variação.Estabilidade dos dados coletados em um experimentono qual se utiliza um delineamento de sujeito únicosignifica, então, que os valores da VD oscilam de certamaneira (com certo padrão) que o experimentadorconsidera estável. Não se deve esperar também quenecessariamente os valores de uma VD mudem ime-diata ou abruptamente quando uma VI é retirada ouintroduzida. Especialmente no estudo do comporta-mento, ao manipular condições ambientais freqüente-mente se está diante de um processo no qual a mudan-

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ça na relação entre sujeito e ambiente gradativamenteestabelece um novo padrão comportamental. Comoconseqüência, nos estudos que utilizam o método dosujeito único atribui-se grande importância à estabili-dade, ao mesmo tempo em que se reconhece que nãohá critérios universalmente bons de estabilidade. Poressas razões também, em cada condição de um expe-rimento múltiplas medidas da VD são necessárias. Épreciso efetuar seguidas medidas em cada condição,até que o resultado dessas medidas atinja algum crité-rio de estabilidade; só então o experimentador pode,com alguma segurança, manipular a condição. Final-mente, outra implicação da chamada estratégia deestados estáveis é que a duração e muitas vezes a pró-pria seqüência de condições do experimento depen-dem do desempenho das medidas da VD (Johnston &Pennypacker, 1993a, 1993b; Sidman, 1960/1976).

A estabilidade nas medidas da VD em cada condi-ção de um experimento com delineamento de sujeitoúnico torna-se, então, critério necessário para se deci-dir pela continuidade ou mudança de condições emcada momento do experimento. Espera-se que o pró-prio resultado das manipulações e medidas seja o“árbitro” das decisões quanto ao delineamento, como,por exemplo, quando introduzir a condição experimen-tal.

Três razões tornam a estratégia dos estadosestáveis e os delineamentos de sujeito único especial-mente proveitosos. Em primeiro lugar, a sistemáticamanipulação de condições para cada sujeito experi-mental e a estratégia dos estados estáveis permite queas relações entre VI e VD sejam inferidas a partir dassistemáticas mudanças mensuradas nas VDs correla-cionadas com mudanças nas condições dasVIs. Oexperimentador pode, assim, identificar característicastípicas da VD, sugerindo o modo como a VD estárelacionada às suas variáveis controladoras (VIs e/ouVEs) e problemas no processo de mensuração.

Em segundo lugar, os delineamentos de sujeitoúnico e a estratégia dos estados estáveis permitemavaliar o grau de controle experimental obtido, ouseja, quanto o pesquisador pode ter certeza de que aVI é responsável pelas mudanças observadas na VD.

Em terceiro lugar, a comparação dos desempenhosda VD em várias condições experimentais, auxilia aafirmação de representatividade (os dados obtidos defato correspondem aos efeitos principais da condiçãoavaliada?) e generalidade (os dados obtidos são repli-cáveis?) dos resultados em cada condição.

Todas essas características dos delineamentos ex-perimentais de sujeito único podem ser alcançadas poruma gama ilimitada de arranjos de condições do expe-rimento. Algumas das opções mais simples e comu-mente utilizadas serão brevemente apresentadas eexemplificadas a seguir.

Desde já é preciso ressaltar que os delineamentosde sujeito único não se resumem àqueles que serãoaqui descritos. O cientista planeja seu experimento demaneira a responder suas perguntas de pesquisa comalguma convicção de que o seu controle experimentaldeu origem a resultados que têm algum grau deprecisão, validade e generalidade. Experimentos con-duzidos com delineamento de sujeito único são plane-jados de modo a ser afetados pelas características dofenômeno em estudo e pelos resultados obtidos jádurante sua execução. Como implicação, não há umlimite preestabelecido para as possibilidades de inova-ção experimental (Sidman, 1960/1976). No entanto,algumas estratégias de delineamento experimental têmsido freqüentemente utilizadas, têm-se demonstradoúteis e serão apresentadas aqui.

Delineamento ABAB ou de reversãoA lógica do delineamento ABAB (onde A = condi-

ção controle e B = condição experimental) consisteem realizar sucessivas comparações entre condiçõescontrole e condições experimentais em um mesmoexperimento (sendo desejáveis no mínimo três condi-ções). Ou seja, com este delineamento busca-se de-monstrar os efeitos de uma VI pela retirada de umacondição e pela reintrodução de outra das condições jáapresentadas (reversão à condição anterior). Por isso,tais delineamentos são também chamados de delinea-mentos de reversão.

Nos delineamentos de reversão cada nova condiçãoproporciona uma nova oportunidade para comparar odesempenho da VD e testar se tal desempenho é alte-rado com a introdução e retirada da VI (Kazdin,1982). Os resultados deste tipo de delineamento po-dem sugerir que a VI foi de fato responsável pela mo-dificação na VD se o desempenho da VD se modificarquando a condição experimental for introduzida (B),voltar para o nível anterior da condição controle (oupróximo a ele) quando a condição experimental forretirada (A) e mudar novamente quando a VI for rea-presentada (B).

Para exemplificar este delineamento, considerem-se os dados apresentados por Miller e Kelley (1994),

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que investigaram os efeitos de um procedimento de“estabelecimento de metas e contrato comportamen-tal” sobre o desempenho nas lições de casa de umacriança de 10 anos (Richard). Para tanto, o procedi-mento se iniciou com a simples observação do com-portamento-alvo (tempo gasto nas lições), sem ne-nhuma interferência programada (condição controle =A). A seguir, introduziu-se a condição experimental(B), na qual a criança era recompensada ao atingirmetas estabelecidas junto com seus pais para a reali-zação de cada lição de casa designada pela escola.Uma fase de reversão à condição controle (A) foi,

então, introduzida e, por fim, retornou-se a uma novacondição experimental (B). Na Figura 1 representa-seo tempo (porcentagem de intervalos) pelo qual Ri-chard permaneceu trabalhando em suas lições nos diasem que a condição controle (A) e a condição experi-mental (B) estiveram em vigor. As mudanças siste-máticas no desempenho de Richard (representadas naFigura 1), quando o contrato foi introduzido e, espe-cialmente, quando foi retirado e novamente reintrodu-zido sugeriram a Miller e Kelley que o contrato (VI)foi variável significativa sobre o fazer lição de casa(VD) de Richard.

Figura 1. Um exemplo de delineamento de reversão (figura adaptada de Miller & Kelley, 1994). As linhas pontilhadas indicam mudançasnas condições do experimento: A = condição controle, B = condição experimental.

Como Kazdin (1982) salientou, os delineamentosABAB não se restringem a quatro condições em umamesma seqüência (como o rótulo sugere). Sempre quese alternam condição controle e condição experimen-tal trata-se de um delineamento de reversão ouABAB. Outras variações são possíveis e freqüente-mente encontradas na literatura. Entre tais possibili-dades destaca-se a inversão da ordem das condições(por exemplo, delineamentos BABA). Tal inversão émuitas vezes necessária em pesquisas aplicadas quan-do o comportamento (a VD) a ser modificado apre-senta características de risco, ou quando só ocorreraramente. Outra possibilidade é a alteração do núme-ro de condições (por exemplo, ABABABAB), o que éespecialmente importante quando se pretende ter maior

clareza sobre os efeitos produzidos em cada condiçãoe sua relação com a variável manipulada. Por fim,pode-se incluir um número maior de condições expe-rimentais ou diferentes VIs. Nesse caso, diferentesletras rotulam distintas manipulações das VIs (porexemplo, ABCADABCD).

Há alguns problemas que podem afetar o delinea-mento ABAB e suas variações, tornando-o indesejávelou impossível de ser utilizado. O primeiro problema éa não-reversão das medidas da VD. Caso haja possi-bilidade da VD não ser revertida para os níveis dacondição controle quando a VI for retirada, então odelineamento de reversão não é adequado. Na avalia-ção de um procedimento de ensino (VI) para a aquisi-ção de leitura (VD), por exemplo, não se deveria espe-

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rar que os participantes deixassem de ler após o tér-mino do procedimento – e, conseqüentemente, não sedeveria utilizar o delineamento ABAB. Por outrolado, se um delineamento de reversão foi utilizado enão se observou a reversão dos valores da VD quandose retirou a VI, pode-se estar diante de um problemade controle experimental. Ou seja, variáveis não con-troladas no experimento (VEs) seriam responsáveispelos resultados, o que não invalidaria o delineamentoutilizado se tal controle puder ser estabelecido. Final-mente, em pesquisas aplicadas, a característica centraldesse delineamento pode trazer um problema quandoa VD envolver comportamentos cuja reversão não édesejável, por exemplo, por razões éticas. Na avalia-ção de um procedimento específico (VI) para reduzir afreqüência de comportamentos auto-lesivos (VD), areversão à condição controle pode levar a um aumentona freqüência dos comportamentos, o que é etica-mente inaceitável.

Delineamento de linha de base múltiplaNo delineamento de linha de base múltipla, mais

de uma VD é mensurada e analisada ao mesmo tempo,são estabelecidas, portanto, mais de uma linha de base(condições controle), e as VIs são introduzidas emmomentos seguidos (distintos) no tempo para cadauma delas. Nos estudos comportamentais essas VDspodem ser: duas ou mais respostas emitidas por ummesmo sujeito ou uma mesma resposta emitida pordois ou mais sujeitos (delineamentos de linha de basemúltipla entre respostas ou comportamentos5), ou umamesma resposta emitida por um sujeito em duas oumais situações ou ambientes físicos/sociais (delinea-mento de linha de base múltipla entre ambientes ousettings) (Kazdin, 1982).

O delineamento é implementado da seguinte for-ma: após todas as medidas de VDs atingirem estabili-dade na condição controle, a primeira condição expe-rimental é introduzida, manipulando-se a VI em rela-ção a uma primeira VD selecionada. Quando as medi-das desta primeira VD atingem estabilidade na condi-ção experimental e, caso as demais tenham se mantidoestáveis na condição controle, manipula-se a VI emrelação a uma segunda VD, mantendo-se a primeira

na condição experimental e as demais na condiçãocontrole. Novamente, espera-se que a segunda VDatinja estabilidade para aplicar a VI em uma terceiraVD, mantendo a aplicação da VI nas anteriores. As-sim, segue o procedimento, até aplicar-se a VI à últi-ma VD. Durante todo o procedimento, são registradosos dados de todas as VDs na condição controle e nacondição experimental.

Como um exemplo deste delineamento entre com-portamentos emitidos por um mesmo indivíduo,Borstein, Bellack e Hersen (1977) trabalharam comcrianças consideradas não assertivas. Depois de avaliarvários comportamentos verbais e não-verbais conside-rados importantes em interações sociais (VDs), pro-moveram treinos de habilidades sociais (VI) para cadaum dos comportamentos que eram emitidos em baixafreqüência pelas quatro crianças dessa pesquisa. Osdados foram coletados em sessões em que a criança seengajava em uma interação com um parceiro. Na Fi-gura 2 são apresentados os resultados relativos a trêscomportamentos que foram alvo de intervenção parauma das crianças (Jane). Neste caso, os comporta-mentos-alvo foram: estabelecimento de contato visualcom um parceiro durante uma conversa, que foi medi-do como a proporção de tempo de interação em que acriança manteve contato visual com o parceiro; falarem tom de voz audível, que foi medido em uma escalade volume de 1 a 5 por observadores; e solicitar que oparceiro mudasse seu comportamento quando inade-quado, medido pelo número de solicitações. Apósmedir as VDs durante a condição controle, aplicou-seo treino de habilidades sociais (VI) para a primeiraVD (contato visual). A taxa de contato visual aumen-tou, mas os outros comportamentos mensurados per-maneceram em baixa freqüência. Quando esta primei-ra VD atingiu estabilidade durante a condição experi-mental, aplicou-se o procedimento de treino (VI) aofalar em tom de voz audível (a segunda VD). Essasegunda VD sofreu efeito do treino (a avaliação devolume aumentou), e, uma vez estabilizado o com-portamento, novamente a VI foi aplicada, agora sobreo terceiro comportamento (VD), que era solicitar mu-dança de comportamento do outro.

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Figura 2. Um exemplo de delineamento de linha de base múltipla entre comportamentos (figura adaptada de Bornstein, Bellack &Hersen, 1977). Cada quadro indica um comportamento e a linha pontilhada indica a introdução da variável independente.

Em um delineamento com uma única condiçãocontrole que é seguidamente reapresentada (ABAB,por exemplo), uma VE pode alterar a VD no exatomomento em que é introduzida a VI, o que gerariaconclusões imprecisas a respeito do que produziu talalteração. O delineamento de linha de base múltipladiminui a possibilidade deste tipo de imprecisão. Elepermite que se teste se de fato a VI é responsável pormudanças na VD, já que mudanças semelhantes nosdesempenhos das várias VDs quando a VI é seguida-mente introduzida refutariam ou, pelo menos, enfra-queceriam a hipótese da influência de VEs nessasmudanças. Também, ter mais de uma resposta, situa-ção ou sujeito em condição controle enquanto outrosestão sob o efeito da VI possibilita a avaliação dequais mudanças nessas VDs seriam ou não efeito daVI.

Além disso, nos delineamentos de linha de basemúltipla não é necessária a reversão para demonstraros efeitos da condição experimental. Especialmenteem pesquisas aplicadas, este delineamento pode terum benefício adicional: se a introdução de uma VIpara a produção de mudanças na VD for relevante, aintrodução da VI em seguidas VDs poderia produzirmudanças efetivas que se estenderiam para outrasVDs. Outra vantagem dos delineamentos de linha debase múltipla, principalmente em situações de pesqui-sa aplicada, é a possibilidade de introdução da VI demaneira mais gradual, permitindo aos experimentado-res avaliar criteriosamente os efeitos dos procedi-mentos empregados, bem como sua execução.

Um dos possíveis problemas com os delineamentosde linha de base múltipla é a possibilidade de interde-

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pendência entre as condições controle. Fala-se eminterdependência entre as condições controle quandono momento em que se introduz uma VI sobre umadas VDs ocorre também alteração em outra VD sobrea qual não foi realizada diretamente a manipulação.Neste caso, pode existir uma variável estranha (VE)provocando a mudança na medida da segunda VD, ou,de fato, a VI de alguma maneira tem efeitos mais am-plos do que o experimentador esperava. De qualquermodo, o efeito da manipulação, ou melhor, o papel daVI se torna ambíguo. Porém, mais uma vez, especial-mente em pesquisas aplicadas, esse efeito pode serpositivo para os participantes. Assim, muitos planosde pesquisa podem prever um delineamento de linhade base múltipla na expectativa de testar se VDs quenão são selecionadas para condição experimental, pelomenos no início de um experimento, podem ser alte-radas, em condição controle, pela introdução de umaVI sobre outras VDs.

Nos delineamentos de linha de base múltipla de-vem-se evitar condições controle prolongadas, já quenesse caso a introdução da VI sobre as últimas VDstem mais probabilidade de sofrer a interferência deoutros eventos não controlados (VEs). Para evitar essetipo de problema são comuns variações nos delinea-mentos de linha de base múltipla em que se reduz onúmero de VDs (respostas, situações ou sujeitos) ouse introduz a VI simultaneamente sobre mais de umaVD.

Outra dificuldade relacionada com os delinea-mentos de linha de base múltipla pode advir quandosão observados efeitos inconsistentes da manipulação,ou seja, quando os efeitos das seguidas introduções daVI sobre novas VDs variam. Neste caso, o experi-mentador pode estar diante de manipulações às quaisfalta controle experimental (VEs podem estar atuan-do), ou pode haver problemas em relação às decisõesexperimentais e à condução do experimento: critériosde estabilidade podem ser inconsistentes (as condiçõesdo experimento podem estar sendo alteradas com cri-térios diferentes em cada momento), ou inadequados(as mudanças de condição são feitas prematuramente,por exemplo, e os resultados mostrariam ainda efeitosde transição); efeitos de ordem na introdução da VIsobre as VDs podem ser relevantes; ou a própria ma-nipulação da VI pode ter problemas (o que é especial-mente provável em situações aplicadas que freqüen-temente envolvem manipulações que dependem deações humanas e não de equipamento).

Delineamento de mudança de critérioOs experimentos com delineamento de mudança de

critério começam com uma condição controle, após aqual a condição experimental é introduzida. A caracte-rística principal desse delineamento é que a condiçãoexperimental é constituída de subcondições ou subfa-ses6. Cada uma dessas subfases corresponde a umvalor da VD estabelecido como critério que indicariao efeito da VI, ou como critério para a apresentaçãode condições ambientais que compõem a VI. Assim, onível de desempenho (o valor da VD) exigido paramudanças na condição do experimento é alterado re-petidamente no curso da condição experimental. Oefeito da VI é revelado mostrando que a VD mudagradualmente ao longo do processo.

Embora possa se assemelhar aos delineamentos desujeito único já apresentados, o delineamento de mu-dança de critério guarda algumas características que odistinguem dos demais: diferentemente dos delinea-mentos de reversão esse delineamento não requerretirada ou suspensão temporária da VI para que sedemonstre seu efeito sobre a VD, e, diferentementedos delineamentos de linha de base múltipla, a condi-ção experimental restringe-se a uma única VD (nosexperimentos comportamentais, uma resposta, oudimensão de resposta ou relação comportamental).

Segundo Kazdin (1982), uma característica im-portante do delineamento de mudança de critério é onúmero de vezes que o critério é mudado na condiçãoexperimental. Como neste delineamento espera-se quea exigência de novos valores nas medidas da VD sejaseguida pela obtenção desses valores (o que seriaindicador dos efeitos da VI), recomenda-se pelo me-nos duas mudanças de critério (ou subfases). Tal deli-neamento, então, é indicado naqueles experimentosem que o estabelecimento de apenas um critério para acondição experimental pode tornar difícil mostrar quea manipulação da VI foi responsável pela mudança naVD.

No delineamento de mudança de critério, a estabi-lidade da VD em determinado critério antes de seintroduzir um outro é de grande importância, pois,caso contrário, é difícil avaliar a relação entre a mani-pulação da VI e o valor da VD. Uma vez obtida aestabilidade em cada subfase, cada uma delas pode serutilizada pelo pesquisador como condição controlepara a seguinte.

Outro ponto a ser considerado nesse delineamentoé como decidir sobre a magnitude das mudanças de

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critério. O tempo necessário para que um critério sejaatendido pode servir de indicador para o pesquisador:o critério não pode ser tão exigente a ponto de não serjamais atingido ou de ser atendido muito tardiamentee nem tão pouco exigente a ponto de não ser possívelobter mudanças significativas nos patamares de medi-da da VD. Isso quer dizer que em experimentos comesse delineamento muitas vezes os critérios estabele-cidos em cada subfase dependem dos desempenhosdos sujeitos e são decididos no decorrer das manipula-ções. Tal característica exemplifica uma das vanta-gens já destacadas dos delineamentos de sujeito único:a possibilidade de ajuste do delineamento a partir dodesempenho concreto do sujeito durante a pesquisa.

O experimento de De Luca e Holborn (1992) é umexemplo do emprego desse delineamento. Três garo-tos obesos e três garotos não obesos foram solicitadosa pedalar uma bicicleta ergométrica com a afirmação“exercite-se o quanto você quiser”. Na condição con-trole, os experimentadores mediram o número de vol-tas pedaladas por minuto em cada sessão, sem pro-gramar nenhuma conseqüência para essa atividade. Nacondição experimental, calculou-se o número médiode voltas por minuto durante a condição controle paracada participante e estabeleceu-se como critério parareforçamento um número de voltas aproximadamente15% acima desta média. Na condição experimental,pedaladas produziam, então, em um esquema de Ra-

zão Variável (VR), cujo valor foi estabelecido comodescrito, o acendimento de uma luz e o toque de umacampainha, juntamente com a liberação de um ponto.Os pontos acumulados eram trocados no final da ses-são por objetos escolhidos pelos próprios garotos(brinquedos, revistas em quadrinho etc.). O número depedaladas exigido para se ganhar um ponto foi gra-dualmente aumentado nas subcondições experimen-tais. A cada nova subcondição o valor da VR exigida(número médio de pedaladas que produziam conse-qüências), foi aumentado em torno de 15%, de modoque ao final do experimento os garotos estavam pe-dalando muito mais do que na condição controle.(Após três subcondições experimentais, a condiçãocontrole foi reintroduzida e, finalmente, o último valorde VR foi retomado para todos os participantes. Essasduas últimas condições não são apresentadas na Figu-ra 3).

Na Figura 3, o desempenho (número médio devoltas pedaladas por minuto em cada sessão) de umdos participantes (Paul) é representado. Os valores deVR estabelecidos em cada subcondição estão repre-sentados pelas linhas tracejadas horizontais: como sepode ver, para ganhar pontos, o participante deveriaemitir 80 pedaladas em média na primeira subcondi-ção. Durante as seguidas mudanças de critério a exi-gência foi gradualmente aumentada até 120 pedaladasem média.

Figura 3. Um exemplo do emprego do delineamento de mudança de critério (figura adaptada de De Luca & Holborn, 1992).LB = linha de base ou condição controle.

Neste delineamento a direção das mudanças decritério das subfases pode ser alterada. Geralmente, osefeitos da VI são avaliados examinando-se uma mu-dança na VD em uma mesma direção ao longo do

tempo (mudanças unidirecionais), por exemplo, umaumento ou uma diminuição na freqüência do com-portamento que constitui a VD. Entretanto, podemsurgir algumas dificuldades na avaliação de mudanças

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unidirecionais ao longo da condição experimental. Odesempenho pode melhorar em função de VEs e nãoda VI e esses efeitos podem ser difíceis de distinguir,a não ser que as mudanças na VD acompanhem estri-tamente o critério estabelecido em cada subfase. Ocontrole exercido pela VI pode ser melhor detectadoalterando-se a direção da mudança de critério: se aexigência de um desempenho da VD em direçãooposta à que vinha ocorrendo for seguida de uma mu-dança correspondente nos valores obtidos, levando auma mudança bidirecional na VD, aumenta a confian-ça do experimentador no controle exercido pela VI.Por exemplo, o critério está sendo aumentado ao lon-go da condição experimental, então, durante umasubfase, ele é diminuído para um nível anterior. Se-gundo Kazdin (1982), essa subfase constitui uma“mini-fase de reversão”. A condição experimental nãoé suspensa, mas as mudanças esperadas no comporta-mento são invertidas. Caso tais mudanças de fatoaconteçam na direção contrária daquelas da fase ante-rior fortalece-se a hipótese de que a VI foi responsávelpela mudança.

Uma limitação do delineamento de mudança decritério é que quando não há uma correspondênciaexata entre a mudança de critério e a mudança nodesempenho, pode ser difícil avaliar se a VI colaborapara a mudança do comportamento.

Delineamentos de sondaOs delineamentos de sonda são geralmente utiliza-

dos para verificar se outras VDs, que não aquela quefoi mensurada nas condições do experimento, foramafetadas pelas manipulações realizadas. Uma sonda,portanto, refere-se a uma avaliação de VDs quandonenhuma condição de VI planejada em relação àque-las VDs está sendo manipulada. Nesses delineamen-tos, avalia-se a transferência dos efeitos observadossobre uma VD para outras (sejam elas respostas dife-rentes, ou uma mesma resposta em situações diferen-tes, por exemplo), realizando medidas (observações)ocasionais de outras VDs que não a VD do experi-mento (Kazdin, 1982). No estudo de Miller e Kelley(1994), citado anteriormente para ilustrar os delinea-mentos de reversão, por exemplo, os pesquisadorespoderiam ter medido ocasionalmente o tempo peloqual a criança permanecia trabalhando em tarefasdomésticas (ajudar os pais na arrumação da casa, lavarpratos etc.). Estas sondas poderiam ter avaliado se osefeitos do procedimento de contrato comportamental(VI) transferiram-se do desempenho nas lições de casa(VD) para outras atividades domésticas de Richard

que não foram diretamente manipuladas (outras VDs).Assim, uma qualidade importante destes delineamen-tos é que eles são um meio econômico de avaliar ageneralidade dos efeitos das manipulações experi-mentais.

Delineamentos de retiradaEnquanto os delineamentos de sonda visam avaliar

a generalização dos efeitos das VIs para outras VDs,os delineamentos de retirada tentam avaliar a genera-lização dos efeitos das VIs ao longo do tempo. Nestesdelineamentos, a condição experimental não é retiradatotalmente, de modo abrupto. O objetivo principal nãoé demonstrar o efeito inicial de uma condição experi-mental, mas verificar se ele se mantém em condiçõesdiferentes – o que é importante especialmente empesquisas aplicadas (Kazdin, 1982). Diferentes partesou componentes de uma condição experimental po-dem ser retirados gradualmente, um de cada vez, emseqüência. Desta forma, pode-se avaliar a cada mani-pulação se há ou não manutenção das alterações men-suradas na VD, antes da retirada total da VI. Outrapossibilidade pode ser aplicada ao se trabalhar comum delineamento de linha de base múltipla, quando aretirada (seja de um componente ou de toda a condi-ção experimental) restringe-se a apenas uma das váriasVDs com as quais se esteja trabalhando (isto é, umdos comportamentos, sujeitos ou situações). Dito deoutra forma, esta possibilidade envolve a introduçãode uma fase de reversão para um dos comportamen-tos, sujeitos ou situações investigadas. Os resultadosdesta fase de reversão podem então apontar (mas nãogarantir) se haverá manutenção, caso se programemfases de reversão para todos os outros comportamen-tos, sujeitos ou situações. No estudo de Bornstein,Bellack e Hersen (1977), citado anteriormente parailustrar o delineamento de linha de base múltipla, porexemplo, após o treino de habilidades sociais ter sidoaplicado aos três comportamentos-alvo de Jane, ospesquisadores poderiam ter retirado a VI da primeiraVD (manter contato visual), introduzindo uma fase dereversão para este comportamento-alvo. Caso o con-tato visual permanecesse em alta freqüência, a VIpoderia então ser retirada das outras VDs (falar emtom de voz audível e solicitar mudança de comporta-mento do parceiro).

CONSIDERAÇÕES FINAISMuitos delineamentos experimentais podem ser

planejados e executados com a combinação de carac-

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terísticas de dois ou mais dos delineamentos discuti-dos até agora. Nesses casos, o objetivo é sempre au-mentar a força da demonstração experimental, isto é,criar mais oportunidades de comparação entre osefeitos da condição experimental e os da condiçãocontrole. Tais delineamentos combinados podem sernecessários para lidar com questões que podem difi-cultar inferências válidas sobre os efeitos da VI emestudos experimentais. Tais questões podem ter sidoantecipadas pelo pesquisador antes mesmo da efetivaimplementação do experimento, ou podem surgir como experimento já em andamento, a partir dos resulta-dos parciais obtidos – o que quer dizer que a decisãode utilizar um delineamento combinado pode ser to-mada mesmo após o início do experimento. A possi-bilidade de modificar o delineamento experimentalquando este já está em andamento é uma característicaimportante dos delineamentos de sujeito único e éuma de suas características distintivas, como argu-mentou Sidman (1960/1976).

A amplitude das possíveis variações de delinea-mentos combinados não permite que se possa discutirou ilustrar todas elas. A combinação de delineamentosem um experimento visa aproveitar os benefícios par-ticulares de cada um deles para o estabelecimento deconclusões experimentais. Deve-se atentar, porém,para o fato de que os problemas pertinentes a cada umdesses delineamentos também podem se estender aodelineamento combinado que os utilize. Por causadisso, o pesquisador sempre deve pesar os prós e oscontras de cada delineamento antes de utilizá-lo.

Por fim, deve-se considerar, em certos casos, apossibilidade de combinação dos delineamentos desujeito único com os delineamentos entre-grupos. Porum lado, cada um desses delineamentos se adequamelhor a diferentes maneiras de fazer perguntas expe-rimentais (ou colocar problemas de pesquisa). Poroutro, certas variáveis podem gerar resultados queconduzem a interpretações distintas sobre seus efeitosquando investigadas com cada um desses delinea-mentos. A avaliação do efeito de um medicamento,por exemplo, quando realizada por meio de um deli-neamento entre-grupos poderia indicar a eficácia domedicamento (para 75% dos sujeitos do grupo expe-rimental), enquanto por meio de um delineamento desujeito único poderia indicar que o medicamento não éeficaz (para os 8 sujeitos obesos estudados). Isto sedaria, neste exemplo, pela dificuldade dos delinea-mentos entre-grupos de captar como a VI interagecom VEs específicas atuando sobre cada indivíduo(por ex., a obesidade dos sujeitos do experimento de

sujeito único). Além disso, certas situações aplicadaspodem permitir a utilização de apenas um desses deli-neamentos. A investigação de problemas médicosraros, por exemplo, pode exigir o uso de delineamen-tos de sujeito único. Tudo isso deve ser consideradoao se escolher qual delineamento utilizar ao se realizaruma pesquisa específica (Kazdin, 1982).

Questões de Estudo1) Defina com suas próprias palavras o que é um

experimento.2) Cite os três objetivos da experimentação.3) Um experimento busca estabelecer relações

sistemáticas entre variáveis. Estas variáveissão divididas em duas categorias principais.Cite-as e explique cada uma delas.

4) No exemplo dado sobre o experimento de re-fração da luz de Newton, quais variáveis po-dem ser classificadas como VIs e qual pode serclassificada como VD?

5) Explique o que são VEs (variáveis estranhas).6) O que significa delinear um experimento?7) Defina condição controle e condição experi-

mental.8) Diferencie delineamento de sujeito único e en-

tre-grupos em relação a: como são planejadasas condições experimentais, como são realiza-das as medidas de interesse e como as medidassão comparadas.

9) Que argumentos são utilizados para defender autilização do delineamento de sujeito únicopara o estudo do comportamento?

10) Explique porque a estratégia dos estados está-veis é indispensável em um delineamento desujeito único. Cite três razões.

11) Construa uma tabela comparando os delinea-mentos de reversão, de linha de base múltipla ede mudança de critério quanto a: definição,vantagens, possíveis variações, e limitações(condições nas quais o delineamento pode nãoser adequado).

12) Qual a importância de um delineamento desonda?

13) Qual o objetivo dos delineamentos de retirada?Com que objetivo pode-se planejá-lo junto aum delineamento de linha de base múltipla?

14) É possível executar delineamentos combina-dos. Qual a função dessa combinação? Quecuidados devem ser tomados?

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Recebido: 23/10/2007Última revisão: 13/05/2008

Aceite final: 25/05/2008

Notas:

1 Os termos causa e relação causal serão utilizados neste artigo de maneira ampla para referir relações observadas ou presumidas entreeventos que estariam envolvidas na constituição do fenômeno observado ou produzido.

2 Matos (1990) faz uma importante discussão sobre os rótulos variáveis dependentes e independentes e propõe em seu lugar os termosvariáveis observadas, ou sob observação, e variáveis experimentais, ou manipuladas. Neste artigo serão utilizados os termos variáveldependente e independente por conta de seu uso generalizado.

3 Ou participantes, respondentes etc., a depender do tipo de pesquisa.4 No caso de trabalharmos com comportamento, sempre medimos algum aspecto, ou dimensão, de um ou mais comportamentos, que

muitas vezes chamamos de desempenho. Ou seja, em estudos comportamentais, a variável dependente (VD) sempre se refere acomportamento. Eventualmente, quando impossibilitados de medir diretamente o comportamento medimos efeitos dos comportamentose, nestes casos, são necessários cuidados metodológicos especiais (Johnston & Pennypacker, 1993a, 1993b).

5 Muitas vezes se faz uma distinção entre os termos “resposta” – que seria a ação/atividade do organismo – e “comportamento” – queseria a relação sujeito-ambiente. Outras vezes essa distinção não é vista como relevante (Glenn & Field, 1994). Nos “delineamentos delinha de base múltipla entre comportamentos” mais freqüentemente se manipulam condições ambientais que afetam respostas, ou seja,manipula-se o ambiente e mensuram-se seus efeitos sobre as atividades dos sujeitos. No entanto, outras vezes manipula-se o ambiente emensura-se o efeito sobre classes de respostas – relações sujeito-ambiente já estabelecidas. Neste artigo utilizam-se os termos resposta ecomportamento como se fossem intercambiáveis.

6 Nos relatos de pesquisa, algumas vezes o rótulo “condição” é utilizado para se referir aos diferentes conjuntos de VIs e VDs enquanto otermo “fase” é utilizado para se referir aos distintos parâmetros de um mesmo conjunto de VIs ou valores de VDs. Outras vezes, ostermos são utilizados inversamente. No presente artigo, são usados como sinônimos e, por esta razão, apresenta-se os termos “subfases”ou “subcondições”, que também são encontrados na literatura experimental.

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Sobre os autores:

Angelo Augusto Silva Sampaio: Mestrando em Psicologia Experimental: Análise do Comportamento (PUC-SP). Bolsista CNPq. Ende-reço eletrônico: [email protected].

Flávia Henriques Baião de Azevedo: Mestranda em Psicologia Experimental: Análise do Comportamento (PUC-SP). Bolsista FAPESP.Endereço eletrônico: [email protected].

Luciana Roberta Donola Cardoso: Mestranda em Psicologia Experimental: Análise do Comportamento (PUC-SP). Endereço eletrôni-co: [email protected].

Camila de Lima: Mestranda em Psicologia Experimental: Análise do Comportamento (PUC-SP). Bolsista CAPES. Endereço eletrônico:[email protected].

Mateus Brasileiro Reis Pereira: Mestrando em Psicologia Experimental: Análise do Comportamento (PUC-SP). Bolsista FAPESP.Endereço eletrônico: [email protected].

Maria Amalia Pie Abib Andery: Doutora em Psicologia Social (PUC-SP). Professora titular da PUC-SP. CNPq – Produtividade emPesquisa.