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SEMINÁRIO DE EXTENSÃO E INOVAÇÃO DA UTFPR – 3º SEI-UTFPR
11 de Setembro de 2013 - Câmpus Dois Vizinhos - PR
ANÁLISE E PROPOSTA DE REDEFINIÇÃO DO LAYOUT DE UMA
COOPERATIVA DE CATADORES: CASO COOPER REGIÃO.
J. L. N. Souza*, M. V. C. Rodrigues* e M. A. Ferreira **
*Discente UTFPR, Londrina, Brasil
**Docente UTFPR, Londrina, Brasil
e-mail: [email protected]
Resumo
Mesmo as cooperativas serem empresas
sem fins lucrativos, a melhora da
qualidade de produção é sinônimo de
uma maior renda entre os cooperados. A
evolução do layout é importante para
que o processo produtivo torne-se
melhor. Com um bom layout, tem-se,
diminuição do tempo gasto em diversas
funções, mais segurança aos cooperados
e um ambiente de trabalho mais
agradável. Através deste trabalho foram
elaborados, em parceria com os
cooperados, novos layouts para os
entrepostos da cooperativa de catadores
Cooper Região.
Palavras chave: cooperativa de
catadores, layout, processo produtivo.
Abstract
Even the cooperative are nonprofit’s
companies, the improvement in a
production’s qualities is synonymous of
a highest income between the
cooperative. The layout's evolution is
important to become the productive
process better. With a good layout has,
production’s time decreases, more
security to the cooperative and a better
pleasure place to work. Through this
work were prepared, in partnership with
the cooperative, new layouts to the
warehouses from recycling cooperative,
Cooper Região.
Key words: recycling cooperative, layout,
productive process.
Introdução
Em 2010, o Governo Federal aprovou a
Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS)
através da lei nº 12.305. Um grande avanço na
PNRS foi a incorporação dos catadores por
meio da lei, fato que fomenta a criação de
cooperativas de catadores. “Atualmente, mais
de um milhão de brasileiros trabalham como
catadores, garantindo uma renda mensal que
possibilita o sustento de suas famílias. Na
esteira desses catadores, vemos hoje mais de
700 cooperativas de catadores operando no
Brasil, muitas delas já participando
oficialmente da coleta seletiva de diversas
cidades” [1].
Em Londrina houve uma crise em 2008,
onde os preços praticados no mercado aliado à
falta de estrutura quase inviabilizaram a coleta
seletiva no município. Visando a minimização
desses problemas e a inclusão social dos
catadores informais, nesse mesmo ano foi
instituída, através da lei Municipal nº 10.637, a
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política de gestão de resíduos sólidos
municipal, onde, a partir desta e com o
apoio da administração municipal, os
catadores criaram a cooperativa Cooper
Região, antes chamada Coopersil [2].
O projeto de extensão tem como
objetivo prestar suporte tecnológico e
mercadológico às cooperativas de
catadores de materiais recicláveis de
Londrina-PR, dessa forma houve a
demanda pela construção da logística
interna e elaboração de layouts para
cinco entrepostos da cooperativa Cooper
Região como parte de seu plano
logístico, a fim de que a cooperativa
pudesse se beneficiar dos recursos
disponibilizados pelo projeto Cataforte.
Advindo da parceria entre a Fundação
Banco do Brasil e a Secretaria Nacional
de Economia Solidária do Ministério do
Trabalho e Emprego, o projeto Cataforte
objetiva o fortalecimento da autonomia
das cooperativas de reciclagem através
do fornecimento de subsídios [3].
O layout é uma forma de arranjo
físico que, quando bem projetado,
diminui os padrões de fluxo, otimiza o
estoque de materiais, evita
inconveniências e altos custos [4],
permitindo que a cooperativa tenha uma
dinâmica mais fluente em seus processos
internos. O objetivo do presente trabalho
é apresentar o processo de elaboração de
layouts para os entrepostos de uma
cooperativa de catadores, que contou com a
participação ativa dos cooperados e teve como
finalidade fazer frente às dificuldades
enfrentadas devido ao mau arranjo espacial.
Materiais e Métodos
Objeto de Estudo – O objeto de estudo do
presente artigo é a Cooper Região, cooperativa
de catadores de materiais recicláveis que
realiza a coleta seletiva nas residências e em
alguns grandes geradores de Londrina,
constituindo-se na cooperativa mais expressiva
da cidade em termos de números de
cooperados, quantidade de residências
atendidas e estrutura organizacional.
Em 2012, quando a pesquisa foi realizada, a
cooperativa se dividia em seis entrepostos de
trabalho, dois na zona norte, dois na zona sul,
um na zona central e um na zona leste, sendo
que o último foi posteriormente desativado,
em razão de problemas na estrutura do
barracão e risco de desabamento, dispondo
seus cooperados e montante de material
coletado entre os demais entrepostos.
O processo realizado pela Cooper Região
inicia-se na coleta do material na fonte
geradora, seguido de sua disposição no
entreposto responsável pelo seu recebimento e
posterior triagem do material. O processo de
triagem é realizado nas mesas, onde trabalham
de um a dois cooperados em cada, realizando a
separação do material de acordo com sua
composição. Após a separação, o material é
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levado às prensas, caso seja necessária a
sua prensagem, ao triturador, no caso do
vidro, ou simplesmente é reunido em
fardos, sendo então depositado nos
barracões à espera do transporte que o
levará ao seu comprador.
A falta de espaço nos barracões, ou o
manejo inadequado de seu espaço,
inviabilizava a sua logística interna,
tornando o processo mais lento e penoso
aos trabalhadores, sobretudo nos
entrepostos Leste, Sul C e Norte A, que
possuem as menores dimensões,
sofrendo em maior escala com o
desperdício de energia em seus
processos.
A carência de um layout adequado
muitas vezes culminava na deposição
dos materiais fora dos barracões,
expondo-os às intempéries,
desvalorizando-os, contribuindo para a
multiplicação de vetores (dengue e
outros) e para a percolação de chorume
para o solo, podendo levar à
contaminação dos materiais, além de
intensificar o mau cheiro, tanto no
barracão quanto em seu entorno. Outro
aspecto decorrente da desorganização
espacial é a inexistência ou obstrução de
corredores de evacuação, o que em casos
de emergência dificultaria a saída
imediata dos cooperados,
caracterizando-se assim em um risco à
segurança destes.
O entreposto da região central “Reciclando
Vidas” não recebeu nenhuma proposta de
layout, devido ao sucesso do arranjo espacial
aplicado em suas dependências, que contribui
com a alta produção do posto e com a
satisfação de seus cooperados.
Metodologia – A proposta dos novos
layouts visou um melhor aproveitamento dos
espaços, a otimização e a ergonomia na
realização dos processos. Para tanto, foram
analisados detalhadamente os processos
produtivos realizados no interior dos
entrepostos e do espaço físico disponível. Em
visitas aos entrepostos, uma entrevista foi feita
junto aos cooperados responsáveis, para que
estes relatassem as dificuldades relacionadas
ao arranjo espacial dos barracões e
propusessem alternativas.
Foram retiradas as medidas dos barracões e
foi feita a esquematização dos mesmos,
indicando o local onde são dispostos os
materiais que chegam da coleta, a posição das
mesas de triagem e das prensas, o local de
disposição dos materiais triados, bem como os
caminhos percorridos nos processos de
produção, indicando as entradas e saídas.
Também foram observadas a quantidade e
dimensões das mesas, das prensas e dos
recipientes para o material triado (bigbags,
tambores, sacos plásticos, baldes, bacias, entre
outros). Por fim, foram tiradas diversas fotos,
proporcionando a visualização nítida dos
locais para uma posterior análise e proposição
dos layouts.
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O software usado na esquematização
dos layouts foi o Google SketchUP®,
programa gratuito e de fácil utilização,
que permite a criação de modelos em 2D
e 3D; os modelos foram elaborados a
partir das medidas reais, possibilitando a
visualização em proporção real do
espaço utilizado.
É importante salientar que as
propostas não poderiam envolver
mudanças estruturais nos barracões,
pois, além da falta de propriedade por
parte dos pesquisadores para propor tais
mudanças, a cooperativa não dispunha
de recursos. Ademais, os barracões, em
sua maioria, são alugados.
Posteriormente, os modelos foram
apresentados aos cooperados em reunião
para que fossem validados de forma
coletiva e só então implementados nos
entrepostos. Essa ação visa a
internalização dos conceitos envolvidos
no trabalho para que os catadores
pudessem se apropriar do conhecimento
tecnológico gerado pelo projeto.
Resultados
Nas visitas aos entrepostos, foi
possível identificar a dificuldade em
posicionar os recipientes para os
diferentes materiais triados na área de
triagem, já que a cooperativa
comercializa cerca de 30 materiais,
tornando inviável o uso individual dos
recipientes. Assim, posicionaram-se os
recipientes ao redor das mesas, que, arranjadas
em formato de “L”, permitiam que os
recipientes fossem compartilhados pelos
cooperados.
O layout do entreposto Leste (Figura 1) foi
elaborado em formato de “L”, onde o
caminhão com o material coletado entra pela
porta frontal de ré e deposita o material no
fundo do barracão; o abastecimento das mesas
é feito pelo corredor à direita e a retirada do
material triado pode ser feita tanto por este
corredor quanto pelo corredor à esquerda, de
onde o material segue para a área das prensas
(representadas pelos paralelepípedos) e depois
é depositado próximo à porta principal para o
carregamento dos caminhões.
Figura 1: Layout do entreposto Leste.
Devido ao espaço limitado, o layout do
entreposto Sul C (Figura 2) não seguiu uma
geometria específica, porém foi o arranjo que
mais possibilitou a entrada de luz e ventilação
do barracão, tanto pela porta frontal quanto
pelas portas do fundo, que se mantiveram
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desobstruídas, facilitando uma possível
evacuação.
Na proposta, mais uma vez o
caminhão entra de ré pela porta
principal, depositando o material no
centro do barracão à direita; o
carregamento das mesas é feito pela
parte frontal dos conjuntos em “L”. A
retirada do material triado se dá pelo
espaço disponível entre o conjunto de
mesas; à frente destas, ou pelo corredor
traseiro que contorna as paredes do
fundo e da esquerda, sendo levado em
seguida para a área das prensas e
disposto próximo a elas, ao lado porta
principal, facilitando sua retirada.
Figura 2: Layout do entreposto Sul C.
Em estado mais crítico em termos de
espaço, o entreposto Norte A é
prejudicado pela distribuição inadequada
dos ambientes e pela área limitada.
Logo, o layout proposto (Figura 3)
também não segue uma geometria
específica. O material a ser triado é
depositado na entrada frontal do
barracão e então distribuído para as mesas
dispostas tanto no interior do barracão quanto
em uma área externa anexa a este; em seguida
o material é levado para as prensas e
depositado próximo às portas dos fundos,
facilitando o carregamento dos caminhões.
Figura 3: Layout do entreposto Norte A.
O entreposto Sul A possui um grande
espaço e uma vantagem topográfica que
possibilita que o material a ser triado seja
disposto por uma entrada à direita, onde o
caminhão se encontra em um nível superior,
além de favorecer o carregamento do material
triado por duas saídas à esquerda, onde o
caminhão se encontra em um nível inferior,
aproveitando-se, assim, da força da gravidade
ao mover os materiais, necessitando de menos
esforços por parte dos cooperados.
Assim, o layout proposto (Figura 4) apenas
delimitou melhor os espaços e arranjo das
mesas, que podem ser carregadas através dos
corredores laterais e central, conforme fosse
conveniente, e a retirada do material é feita
pelos corredores entre o conjunto de mesas em
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direção às prensas, área onde também
são depositados.
Figura 4: Layout do entreposto Sul A.
O entreposto Norte B, pertencente à
Cooper Região, possui um desnível no
terreno que possibilita a deposição do
material pelo piso superior ao fundo do
barracão, e a retirada do material triado
pelo piso inferior à frente do barracão,
formando um layout linear. Apesar de ter
sido construído para o fim a que se
destina, o barracão possui certos
aspectos que precisam ser modificados,
como o caso do local de triagem e da
deposição do material triado, que
atualmente é feita em baias individuais
cercadas por grades, o que não é
recomendado, já que não existe o
compartilhamento dos recipientes e torna
inoperante o carregamento e retirada do
material triado.
Por esse motivo, o layout proposto
para o entreposto Norte B (Figura 5)
prevê a substituição das baias por mesas
de triagem, cercadas pelos recipientes, onde o
carregamento é feito pelo corredor central, e a
retirada do material triado ocorre pelas laterais
e corredor central, em seguida o material
triado é colocado em baias em frente ao
corredor de mesas, para, então, ser prensado e
disposto na parte frontal do barracão.
Figura 5: Layout do entreposto Norte B.
Os layouts elaborados foram aprovados,
juntamente com o restante do plano de
logística, em reunião realizada em dezembro
de 2012. Nesta reunião, estavam presentes os
cooperados, inclusive o presidente da
cooperativa Sr. Zaqueu de Melo, o executor do
plano de logística Sr. José Carlos de Souza,
representantes da comunidade, como fundação
Banco do Brasil, Prefeitura Municipal de
Londrina e sociedade organizada.
Discussão
A execução de um projeto de arranjo físico
visa, além da melhoria nas questões
operacionais, o comprimento e clareza do
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fluxo de materiais dentro do processo
produtivo; a segurança, conforto e
acessibilidade para os trabalhadores; a
facilidade da gerência em supervisionar
e coordenar; o uso eficiente do espaço e
a flexibilidade do arranjo em relação a
mudanças futuras na demanda produtiva
ou em algum aspecto operacional [4].
A proposição dos layouts objetivou
êxito nos aspectos acima citados, tendo
em vista, no entanto, que grandes
mudanças não poderiam ser realizadas
devido aos recursos escassos da
cooperativa aliados às limitações físicas
dos barracões.
Os arranjos físicos elaborados
permitiriam a inserção de mais
funcionários na segregação dos materiais
ao mesmo tempo em que melhorariam o
ambiente de trabalho. Outro aspecto
positivo foi a possibilidade de uso dos
carrinhos transportadores elétricos, antes
parados devido à falta de espaço para o
trânsito dentro dos barracões; o uso dos
carrinhos deve agilizar o processo
produtivo e diminuir o esforço físico dos
trabalhadores, que antes realizavam o
transporte manualmente [5].
Dessa forma, esperou-se que a prática
dos layouts trouxesse um aumento na
produção dos cooperados, em razão da
maior organização do ambiente de
trabalho e da sua participação na criação
dos layouts, por meio de sugestões e da
votação dos mesmos.
Agradecimentos
À Universidade Tecnológica federal do
Paraná – UTFPR pelo apoio e concessão da
bolsa de extensão.
Referências
[1] Politica nacional de resíduos sólidos.
Disponível em:
http://www.envolverde.com.br/dialogos/not
icias/as-cooperativas-de-reciclagem-na-
politica-nacional-de-residuos-solidos/
Acesso em 4 de jul. 2013.
[2] Ferreira, M. A; Fidelis, R; Cardozo, D. L;
Afonso, L. M. A; Ribas, A. C. “Analise de
variáveis qualitativas e quantitativas para a
estruturação de arranjo físico (layout). Um
estudo realizado em uma cooperativa de
catadores de materiais recicláveis”, In:
Anais do XVII Simpósio de Engenharia
de Produção: Gestão de projetos e
engenharia de produção, Bauru, 8-10 nov.
Disponível em:
http://www.simpep.feb.unesp.br/anais_simp
ep.php?e=5 Acesso em 19 jul. 2013.
[3] Projeto Cataforte, Unitrabalho, 4 fev.
2011. Disponível em:
http://www.unitrabalho.org.br/spip.php?arti
8/8
cle103 Acesso em 2 de jul. 2013.
[4] Slack. N., Chambers S., Johnston, R.
(2002) “Arranjo Físico e Fluxo”, In:
Administração da produção. 2. Ed.
Atlas. São Paulo. p. 200-239.
[5] Souza, J. C. (2012) Plano logístico –
Rede F: Coopersil. Londrina – PR.