8
UNIVERSIDADE DO MINHO Unidade curricular de Atelie de Audiovisual e Multimedia III Licenciatura em Ciências da Comunicação, 2º ano Animações 3 D: Novos quadros, para antigas histórias? Por Isabela Duarte Pimentel

Animações 3 D: Novos quadros, para antigas histórias?

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Trabalho produzido para a disciplina Atelie Multimedia, no curso de Ciência da Comunicação, Universidade do Minho, Portugal (2008).

Citation preview

Page 1: Animações 3 D: Novos quadros, para antigas histórias?

UNIVERSIDADE DO MINHOUnidade curricular de Atelie de Audiovisual e Multimedia III

Licenciatura em Ciências da Comunicação, 2º ano

Animações 3 D: Novos quadros, para antigashistórias?

Por

Isabela Duarte Pimentel

Page 2: Animações 3 D: Novos quadros, para antigas histórias?

I - Introdução

• Tema

Este trabalho tem como tema principal a comparação entre a animação tradicional e a 3D,

destacando as mudanças que esta última desencadeou na primeira, em especial no que se refere ao

conceito de realismo nas narrativas fílmicas.

• Delimitação e justificação do tema

Em tempos em que avançadas técnicas de computação gráfica regem as produções, torna-se

necessário averiguar que impactos tais usos tiveram no conceito tradicional de animação e na

percepção do realismo por parte dos espectadores. Será feita uma análise de caso do filme Wall –E,

longa metragem de animação da Pixar, dirigido por Andrew Stanton ( 2008). O objectivo é destacar

as permanências dos elementos da narrativa e da animação clássicas nas produções

tridimensionais.

• Objectivo do trabalho

O objectivo deste trabalho é desenvolver uma análise sobre o impacto que a chegada das novas

tecnologias, como a computação gráfica e a tecnologia dos desenhos 3D tiveram sobre a animação

tradicional . Antes de tudo, é necessário construir uma narrativa sobre a história da animação, desde

seu surgimento, passando por sua época de ouro e chegando aos dias atuais.

• Questão de investigação

Quais as persistências da animação tradicional nos modernos filmes 3D em que se valoriza a

estética do realismo?

II. Enquadramento teórico

• Revisão bibliográfica e fundamentação teórica do tema

Para a realização deste trabalho, foi necessária uma leitura prévia sobre o tema, incluindo conceitos

básicos da animação tradicional e o fundamental sobre as técnicas 3D, presentes em teses e artigos.

Além disso, foram consultados diversos web sites que continham idéias centrais para a resolução do

tema proposto. A bibliografia pode ser consultada ao fim do trabalho.

• Escolha do ponto crítico ou de enfoque do tema

Page 3: Animações 3 D: Novos quadros, para antigas histórias?

Se estamos diante de níveis de desenvolvimento das animações 3D muito elevados, o que explica a

revalorização e permanência de características das animações e narrativas tradicionais?

III. Discussão e análise do trabalho prático

• Origens da animação

A animação possui uma longa história, cuja compreensão é fundamental para um melhor

entendimento de seu estágio atual. Nas primeiras décadas após seu surgimento, era considerada

algo ainda inferior ao cinema tradicional, atingindo o status de divertimento infantil nos anos 50. Nos

anos 80, houve o desenvolvimento de novas tecnologias e dinamização do setor, o que levou a um

aumento de seu prestígio com o público adulto. É fundamental, dessa forma, fazer um recuo no

tempo e desvendar tal processo.

Sabe-se que desde a pré-história já se podia identificar desenhos que expressavam a idéia de

movimento, como nas pinturas ruprestes. Um período de grande avanço foi o do renascimento, no

qual a busca pelo ideal de perfeição humana e os conhecimentos arquitetônicos davam maior

destaque à noção de passagem do tempo e construção de uma narrativa visual.

Pinturas rupestres sugerem idéia de ação

Cabe destacar que a ilusão de vida humana expressa pela animação de imagens ainda não era

presente e só se tornou possível em 1645, com a criação da lanterna mágica, pelo jesuíta romano

Athanasius Kircher. Este aparato permitia a projeção de imagens pintadas em vidro e era usado

como instrumento de catequização. Sua utilização artística teve início em Paris, no ano de 1794.

Foram sendo desenvolvidos outros aparatos, até que, com o surgimento do cinema tradicional, as

animações sobreviveriam apenas através dos trickfilms (filmes baseados em truques de mágica), que

tiveram como precursor George Méliès, que, no ano de 1896, descobriu uma técnica precursora do

stop motion. É importante dizer que neste período as animações ainda não eram vistas como uma

arte independente, mas apenas uma forma de magia.

Page 4: Animações 3 D: Novos quadros, para antigas histórias?

Na primeira década do século XX, James Blackton criou o desenho

animado precursor de todos os demais: Humorous Phases of Funny

Faces. No ano de 1900, o artista apresentou The Enchanted

Drawing, animação que contava com a técnica do stop motion. Mas,

Humorous Phases of Funny Faces (1906) foi o primeiro filme com

stop motion e foi feito frame a frame.

Humurous Phases

No fim da década, os “filmes mágicos” já não mais despertavam o

interesse do público. No ano de 1900, Èmile Cohl fez a descoberta

de que era possível fotografar um mesmo desenho duas vezes sem

retirar a idéia de continuação do movumento e assim, o artista

lançou, em 1908, Fantasmagorie, o primeiro curta-metragem de

animação completamente realizado frame a frame.

Entre os anos de 1910 e 1940, ocorreu nos Estados Unidos um extraordinário desenvolvimento

técnico nas animações e devido às necessidades de redução de custos, surgiram os estúdios, que

até a década de 1920 auxiliaram a industrialização do setor.

Duas inovações técnicas foram fundamentais para o incremento na qualidade das animações: o uso

do acetato , descoberto por Earl Hurd, em 1914 e da rotoscopia, em 1915, por Max e Dave Fleischer.

A utilização do desenho em folha de celulóide transparente (acetato) passou a ser considerada

padrão na indústria e alterou a forma de confecção dos filmes animados, pois era possível utilizar um

mesmo cenário várias vezes, além de permitir uso de planos, acentuar a idéia de profundidade de

campo e aumentar o realismo.

Esse conjunto de mudanças tornou o trabalho dos animadores menos

caracterizado por repetições e contribuiu para que os filmes fossem realizados

mais rápido, levando ao surgimento de séries de personagens e o surgimento

de estrelas de Hollywood, como o Gato Felix, criado por Otto Messmer.

A animação priorizava o humor, em detrimento de uma preocupação com a

narrativa. E, com a Primeira Guerra Mundial, a produção dos países da Europa foi enfraquecida,

culminando com maior abertura de seus mercados aos produtos norte - americanos.

Apesar da Grande Depressão dos anos 30, a área da animação teve seu período áureo, com a

atuação dos estúdios de Walt Disney, fundado em 1923, desenvolvendo uma linguagem artística

própria, não dependente do cinema tradicional. Uma das maiores preocupações de Walt Disney era

a dar a ilusão de vida às obras, com base na verossimilhança, imprimindo em seus personagens

marcas próprias de personalidade, construindo uma linguagem narrativa dramática e que

despertasse no espectador sentimentos.

Aos poucos, a cada nova produção, os estúdios Disney desenvolviam mais prática na animação das

formas humanas, fazendo da música elemento condutor na narrativa. Entre os anos 30 e 40 os

estúdios Warner Bross e MGM reuniram artistas em busca de opções contrárias à estética dominante

Page 5: Animações 3 D: Novos quadros, para antigas histórias?

da Disney, desejando ir além do hiperrealismo, criando anti-heróis como Pernalonga, Patolino e

Papa-Léguas. O desligamenro ao realismo Disney ocorreria com a fundação da United Productions

Of America (UPA). A queda na produção de longa-metragens pelos estúdios Disney e a maior

absorção das animações pelo mercado acabou permitindo maior produção de seriados infantis para

os canais de tv.

A luta dos estúdios Disney em prol da reconquista da popularidade dos longa-metragens pode ser

percebida em filmes como 101 Dálmatas (1961) e Mogli (1967). Asssim, os

anos 80 iriam marcar o renascimento da animação como forma de

entretenimento para além do público infantil. As tecnologias digitais e novos

softwares tornaram possível a utilização da eletrônica com fins artísticos e

estéticos a partir dos anos 80.

• A chegada das novas tecnologias e animação 3D

Na década de 70, o desenvolvimento de novos softwares de gráficos vetoriais e ferramentas para

interação dos usuários possibilitaram o surgimento de programas especializados no tratamento de

imagens, além da computação gráfica com objectivos artísticos. Mas, é a partir dos anos 80 que os

efeitos especiais e as tecnologias 2D e 3D mudam o destino da animação, levando ao surgimento de

muitos estúdios independentes de animação digital, elevando a diversidade técnica e a qualidade

estética. A combinação de técnicas tradicionais com digitais começou a acontecer, mas,

posteriormente, a animação produzida unicamente por via digital passou a concerrer esteticamente

com a tradicional.

Um conceito que foi modificado com a chegada da tecnologia 3D foi o realismo no cinema. Sabe-se

que o conceito de “real “ é extremamente subjectivo, assim como o de realismo, já que por mais que

se aproxime do real, toda produção fílmica será sempre e apenas uma representação e

enquadramento da realidade. Nelson Troca Zagalo explica a diferença entre os dois processos:

“ Enquanto na animação 2D podemos utilizar determinadas técnicas convencionadas para desenhar o andar, correr ou saltar,

com objectos, no 3D temos sempre de animar o personagem da forma mais realista ou seja proxima do real possivel, isto

porque a animação 3D permite uma visualização de 360o ou seja de qualquer ângulo e perspectiva. Desse modo, os

movimentos tem de ser simulações quase perfeitas do real”. ( ZAGALO: 2007. p. 356)

Neste contexto, o desenvolvimento das artes de computação gráfica, refletida nos video jogos foi um

fator que revolucionou a linguagem audivisual, possobilitando interação em tempo real, além de fazer

com que o espectador se sinta peça chave na construção e desenrolar da narrativa.

Os estúdios de Walt Disney foram os primeiros a considerar primordial dar um maior grau de

realismo aos movimentos humanos. De acordo com Lasseter, foi nos anos 30 que a Disney

transformou a animação de uma novidade a uma forma nova de arte, desenvolvendo, para cada

figura, um conjunto de características cada vez mais convincentes, criando personagens com

“personalidades próprias”. Esses personagen realistas, foram, para Lasseter, a chave do sucesso.

Page 6: Animações 3 D: Novos quadros, para antigas histórias?

Uma das convicções de Disney era conhecer o real para depois criar coisas fantásticas baseadas

nele. Através das pesquisas desenvolvidas, os estúdios Disney desenvolveram os 12 Princípios

fundamentais da animação, na década de 30. No final dos anos 90, a Disney criou seu próprio grupo

para produzir desenhos animados com tecnologia digital e a primeira produção deste grupo foi

Dinossauro (2000). É importante também conhecer os mecanismos de produção de um filme 3D,

para que se possa compará-lo com a animação tradicional.

• A produção de um filme 3D

A produção de uma peça 3D conta com as mesmas etapas da animação tradicional, porém, com os

avanços tecnológicos, a primeira passou a exigir cada vez mais procedimentos específicos.

Enquanto na animação tradicional todo processo é feito pela técnica de desenho e pintura, na

animação 3D há utlização de ferramentas virtuais: captura-se as formas geométricas e seus

movimentos ( através do sensor) e estas são posteriormente digitalizadas e assim, de forma

simplificada, a cena está pronta para a animação, são estabelecidos quadros chaves.

Na produção digital de um filme, o computador executa os movimentos programados com base nos

quadro-chaves. Segundo Paula Ribeiro da Cruz, a tendência destes filmes animados digitais é “

apresentar a própria realidade humana; isto é, o universo diegético é concebido e organizado àsemelhança da sociedade contemporânea”. (CRUZ: 2006. p. 86)

É conhecido que Toy Story foi o primeiro filme longa – metragem

totalmente produzido no computador, estruturando-se a partir do

uso artístico da técnica de animação 3D, no ano de 1995, em uma

co-produção sa Disney com a Pixar Animation Studios.

Já foi dito que com as possibilidades oferecidas pela tecnologia

3D, a busca por um maior realismo torna-se um imperativo. Mas,

por outro lado, percebe-se que características da narrativa e da animação tradicionais ainda

encontram-se presentes nos filmes de estética 3D.

Análise de Caso: Wall –E

Wall-E é um filme longa metragem de animação, produzido em formato digital pela Pixar, no ano de

2008. Trata da história de um robô cuja função era limpar o planeta Terra, para torná-lo novamente

habitável. Porém, o tipo de máquina de limpeza da qual Wall fazia parte não resiste às condições de

vida no planeta e ele se torna o único de sua espécie, vivendo sozinho e executando sua tarefa diária

de catar os dejetos de uma distante raça humana que um dia vivera na Terra e que agora habita uma

nave que vaga no espaço enquanto seu lar está poluído demais.

Wall –E é um robô, e apesar disso, possui sentimentos, consciência e

personalidade própria, o que, assim como nos clássicos Disney, é

Page 7: Animações 3 D: Novos quadros, para antigas histórias?

perceptível pelo elevado grau de perfeição e precisão de seus movimentos, o que o aproxima do

real, mesmo sendo um ser “ficcional”. Ele sente saudade, possui expressões de alegria, tristeza, e vê

seu amor despertar quando um robô do gênero feminino chega à Terra: Eva (Examinadora de

Vegetação Alienígena), que pouco tempo depois, retorna à Estação Espacial. O robôzinho

apaixonado resolve seguí-la, em uma grande aventura.

De forma suscinta, percebe-se que o filme trata de questões como a existência de sentimentos

humanos em artefatos artificiais, como um robô. Apesar de toda produção ser digital, nota-se, pela

própria estrutura narrativa clássica ( Início, Clímax, Fim) e pela própria temática de história de amor

envolvendo uma dose de drama, que características da narrativa tradicional continuam presentes,

como a valorização dos bons sentimentos e a luta do bem contra o mal.

Uma volta à animação tradicional?

Sabemos que muitas das técnicas utilizadas atualmente nos filmes de animação têm origem nos

anos 30 e que no contexto atual valoriza-se a proximidade das produções fílmicas com o real. Em

filmes totalmente 3D, percebe-se a coexistência entre as mais modernas técnicas de produção e

temáticas das animações tradicionais. Difícil traçar um caminho para o futuro da animação, mas, neste contexto, torna-se válido refletir

sobre as persistências das antigas e clássicas histórias e temas da animação nos novos e modernos

quadros do 3D.

V. Referências

Da Cruz, Paula Ribeiro. Do Desenho Animado à Computação Gráfica: A Estética da Animação à Luz das Novas Tecnologias. UFBA. 2006.

Lasseter, John. Principles of traditional animation applied to 3D computer animation. Computer Graphics, Volume 21, Número 4, Jullho 1987.

O Mundo Disney: Uma História Visual. 2002. Tradução Teresa Figueira. Disney Enterprise, Inc. Everest Editora,2003.

Zagalo, Nelson Troca . Convergência entre o cinema e a realidade virtual. Universidade de Aveiro. 2007.

Sites Consultados

http://cine_ma.blogs.sapo.pt/9627.html

www.dca.ufrn.br/~lmarcos/courses/compgraf

http://pt.wikipedia.org/wiki/Anima%C3%A7%C3%A3o_tradicional

http://www.animatoons.com.br/movies/chicken_little/news/a_possivel_volta_da_animacao_tradicional.htm

http://www.animatoons.com.br/movies/walt_disney/news/novas-demissoes-e-mudancas-na-disney.htm

Page 8: Animações 3 D: Novos quadros, para antigas histórias?