92
NOVELA DA MINHA VIDA (Profissional) Miguel Santos 30 CAPITULOS INÉDITOS Historia real e descontraída de um cidadão, que se dedicou à Comunicação, atuando em Jornais, Rádios e Televisões em Pernambuco.

Novela da Minha Vida - Livro do Jornalista Miguel Santos

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Novela da Minha Vida - Livro do Jornalista Miguel Santos

NOVELA DA

MINHA VIDA

(Profissional)

Miguel Santos

30 CAPITULOS INÉDITOS

Historia real e descontraída de um cidadão,

que se dedicou à Comunicação, atuando em

Jornais, Rádios e Televisões em Pernambuco.

Page 2: Novela da Minha Vida - Livro do Jornalista Miguel Santos

CAPITULO DE APRESENTAÇÃO

Escrever um livro ou uma auto-biografia, mesmo

autorizada, nunca havia passado pela minha cabeça. Até

porque escrever sobre mim mesmo tem um ar de pieguismo

ou de esnobismo ou de exibicionismo e outros ismos....

Mas, com o advento dessa poderosa maquina que é a

Informática e sua tecnologia maravilhosa, me aconselharam

a fazer um livro digital. Você lê uma vez e joga fora a mídia,

para não ocupar espaço na sua estante.

Como um ser aposentado decidi, então, aproveitar a

maioria das minhas horas vagas para escrever essas linhas,

que são, antes de tudo, fragmentos interessantes, curiosos, e

até mesmo gozados da minha vida profissional, que se não

foi tão significativa o foi de grandes e imorredouras

emoções.

Não levem em conta os nomes de amigos e colegas

não citados na narrativa. Afinal, numa tarefa como essa fica

muito difícil a gente lembrar de tudo e de todos.

.Posso garantir que se trata de uma obra que não vai

interessar aos estudantes de Comunicação, mas, que,

certamente, vai deixar “água na boca” nos companheiros

que, mesmo de longe, vão relembrar alguns dos momentos

por mim vividos e aqui narrados.

Miguel Santos

Jornalista/Radialista (com muito orgulho)

Page 3: Novela da Minha Vida - Livro do Jornalista Miguel Santos

CAPITULOS

01 - Rádio no sangue 02 - Bibi Ferreira e eu 03 - Novo Rádio 04 - Jornais & Jornais 05 - Linha virada 06 - Ultima Hora 07 - As Revistas 08 - TVU: 27 anos no batente 09 - Carnaval pela TVU 10 - O Repórter 11 - Verdade ou Mentira ? 12 - Elefante e confusão 13 - Minha estréia no Cinema 14 - Meu Bairro é o Maior 15 - Guina: quanta saudade ! 16 - Show do Homem com “H” 17 - Meu encontro com Lula 18 - Mister John 19 - Luiz Gonzaga – o Rei do Baião 20 - Roberto Carlos em três atos 21 - Claudia Barroso e Garin 22 - O mundo que conheci 23 - Artista é quase isso... 24 - Sustos no ar 25 - Atritos com Celebridades 26 - Dominguinhos e Calheiros 27 - Colegas e Amigos 28 - Campanhas Políticas 29 - Eventos produzidos 30 - Linha do Tempo

Page 4: Novela da Minha Vida - Livro do Jornalista Miguel Santos

Capitulo 1

RADIO NO SANGUE

Com uns 10 anos de idade já era um ouvinte fascinado pelo rádio. Só

existiam duas Emissoras – Radio Jornal do Commercio e Radio Clube.

Tinha um aditivo a mais: meu tio-padrinho era outro que gostava e

conhecia muita gente que atuava em rádio. Lembro que ele costumava

contratar um verdadeiro serviço de alto-falante que era instalado no amplo

terreno em volta de sua casa nos aniversários do meu primo. Eu

comandava o show, fazia brincadeiras com os coleguinhas, uns cantavam,

outros aplaudiam e eu era quem falava ao microfone. Por volta dos 12 anos

de idade, freqüentava o auditório do Radio Jornal, nos domingos, à tarde,

para assistir ao programa comandado por Ernane Seve e sua secretária de

palco, Cacilda Lanuza, levado por uma moça amiga da família.

Fui crescendo e meu padrinho alimentava a idéia de que eu deveria

ser um locutor de rádio. Quando fiz meus 18 anos, ele conseguiu que eu

fizesse um estágio na recém inaugurada Radio Olinda, cuja sede ficava

na ladeira de São Francisco, em Olinda, mas que mantinha um estúdio

avançado de jornalismo num prédio da Avenida Guararapes. Foi nesse

estúdio que recebi as primeiras orientações do jornalista Geraldo Seabra,

que era o chefe do departamento de jornalismo da Emissora. Quando

começava “A Voz do Brasil”, eu entrava no estúdio para gravar o

jornal-falado, que tinha sido irradiado uma hora antes. Devo ter passado

um mês inteiro fazendo isso, até que eu próprio desisti do estágio, porque

naquela época (1957) não era qualquer um que botava a boca na “latinha”.

Mas, o “virus” do rádio já tinha tomado conta do meu sangue. Anos

depois, ingressei na Radio Capibaribe, cujos estúdios ficavam no prédio

da então ”Casa Barreira”, uma loja de auto-peças na Rua Siqueira Campos

e os transmissores instalados na Rua Coronel Urbano de Sena, no bairro da

Campina do Barreto, onde estão hoje os estúdios da Emissora.

Rádio Capibaribe - 1961

Page 5: Novela da Minha Vida - Livro do Jornalista Miguel Santos

Comecei na Radio Capibaribe como produtor, mas exerci outras

atividades, como a de repórter e apresentador de programas. A Jovem

Cap, como está sendo chamada hoje, foi a minha primeira escola

radiofônica. Dirigida pelo Sr. Arnaldo Moreira Pinto e seu filho adotivo,

Humberto Pinto, com direção técnica do engenheiro alemão Otto Schiller,

tive a oportunidade de conviver com outros nomes que participaram dessa

fase inaugural: Genivaldo di Pace, locutor noticiarista de grande talento;

Edson Lima e Miriam Silva, Reginaldo Silva, Jocemar Ribeiro, Samir

Abou Hana. Cezar Brasil e outros mais. Um dos programas que criei foi

“Musicas e Personalidades” (1960/61), no qual gente famosa apontava as

dez musicas inesquecíveis, que eram irradiadas juntamente com dados

biográficos da pessoa focalizada. Além de escrever programas, estreei

como repórter e comunicador, sempre com o sentido de adquirir

experiência, mesmo porque na época a gente tinha que ser polivalente para

trabalhar no rádio.

Cícero, dono do Restaurante Samburá, de Olinda, recepcionando a

direção e funcionários da Radio Capibaribe. Da esquerda para a direita:

Humberto Pinto, Miguel Santos, Cícero, Gilberto Lins, Edson Lima e

Miriam Silva (Ano: 1962)

A Radio Capibaribe foi a minha primeira grande escola. Daí prá

frente, o micróbio do radio não me largou mais. Quando assumi as colunas

de Rádio e Televisão do Jornal do Commercio e Diario da Noite, passei

quase que imediatamente a atuar também no Rádio Jornal, como produtor

de um programa chamado “Disco Brinde” (1966), comandado por Nilson

Lins. Depois, não parei mais: fui produtor do programa de auditório

Page 6: Novela da Minha Vida - Livro do Jornalista Miguel Santos

“Festa de Brotos”, comandado por Antenor Aroxa, , em 1968. E por um

longo tempo, enquanto trabalhava na TVU em um expediente, atuava no

radio em outro. Como produtor de Samir Abou Hana percorri as Rádios

Tamandaré, Olinda, Globo e Clube. Por ultimo, fui produtor do saudoso

Paulo Marques na Radio 103-FM e na Rede Estação Sat. Rádio e

Televisão sempre andaram paralelos durante praticamente toda a minha

vida profissional.

Jáder de Oliveira, apresentador do programa “Varietê”, ao me entregar

premio de melhor produtor do ano de 1971, no auditório do Rádio

Jornal. Nessa época, alguns veículos de comunicação e entidades

faziam pesquisas para apurar quem eram os melhores do Radio e da TV.

Page 7: Novela da Minha Vida - Livro do Jornalista Miguel Santos

AUDITORIO DO RADIO JORNAL DO COMMERCIO – PALCO E PLATEIA

Page 8: Novela da Minha Vida - Livro do Jornalista Miguel Santos

Capitulo 2

BIBI FERREIRA E EU

Um dos maiores nomes do teatro brasileiro abriu o camarim que ocupava

no Teatro de Santa Izabel e muito humildemente me cumprimentou:

- ”Oi, Miguel. Muito obrigada por estar aqui conosco. Você vai nos dar

uma grande ajuda ao nosso espetáculo.”

Depois desse encontro, pensei: será que eu sou tão importante assim

para receber esse elogio da maior atriz do teatro brasileiro ?

Juntei-me ao grupo de figurantes que havia sido convocado para

participar da peça “La Conchita”, uma opereta espanhola, com a qual Bibi

Ferreira encerraria a temporada (de 01 a 13 de Setembro de 1956) no

Recife para seguir de navio para uma turnê pela Europa . Era uma noite de

sexta-feira. Na parte da manhã eu tinha ido visitar um amigo, José

Francisco, e o irmão dele, Guilherme, me recebeu como se eu fosse o

salvador do mundo. Foi logo dizendo:

- “Você chegou na hora certa. Esteja as seis da noite no Teatro de

Santa Izabel para participar da peça da Bibi. Não falte. E não deu mais

detalhes.”

Jovem aventureiro, 18 anos de idade, não fiz outra coisa. Às seis da

noite lá estava eu na porta dos fundos do teatro. Guilherme me levou até o

camarim dos figurantes e me meteram uma roupa meio extravagante e uma

maquiagem da qual fazia parte até um bigode pintado de preto. Tudo isso ia

acontecendo comigo sem que eu viesse a saber, com antecipação, o que eu

teria que fazer no palco. Lá pras tantas, cortina fechada, ouvi o murmúrio

do publico e arrisquei uma olhada pela fresta da cortina. A platéia do

suntuoso teatro estava lotada. Afinal, Bibi Ferreira era um nome

respeitado e consagrado no cenário teatral brasileiro. Na década de 50, ela

montou um repertorio com sua companhia e depois de bem sucedidas

temporadas no eixo Rio-São Paulo, saiu viajando pelo Brasil com elenco

numeroso e uma produção de alto nível. Dentre seus maiores sucessos

estava o espetáculo do qual participei, ao lado do então marido de Bibi, o

ator Herval Rossano, Wanda Marchetti e Francisco Dantas no elenco.

Mas, como já disse, tudo parecia um sonho.

Eu havia experimentado uma sensação um pouco parecida quando

tinha apenas 8 anos de idade. Estudava no Ginásio São Luiz, e fiz parte

de um grupo teatral infantil que inaugurou o teatro-auditorio do colégio de

Ponte D`uchoa. Era um numero que lembrava as noitadas juninas.

Enquanto se ouvia a marchinha “Cai, Cai Balão”, eu e meus

companheiros rodeavam uma fogueira cenográfica E terminava o numero

fazendo uma roda no palco. Foi quando usei a minha primeira calça

comprida. Emocionado, cheguei a desfilar pelo corredor do Auditório para

mostrar que já era um homenzinho...

Page 9: Novela da Minha Vida - Livro do Jornalista Miguel Santos

Com Bibi Ferreira foi um pouco diferente, porque a emoção foi

maior, apesar de que, na primeira noite, eu realmente ia entrar em cena sem

ter feito um simples ensaio e sem saber nada do que ia fazer. Eu era aquele

figurante do empurrão, como caldo-de-cana, feito na hora. No primeiro

ato, os figurantes entravam em fileira indiana pelos dois corredores da

platéia até alcançar o palco. Lá estava eu de mãos dadas a dois

companheiros, terminando por participar de uma dança de roda. Saímos

do palco e retornamos no ato seguinte. Aí , o cenário era um típico cabaré,

com homens e mulheres fumando, bebendo, se beijando e se abraçando,

numa autêntica orgia. Lá estava eu sentado a uma mesa, fazendo que estava

enchendo a cara (a bebida era guaraná). Em dado momento, uma das

figurantes vinha me fazer caricias e sentava no meu colo. Rolavam

simultaneamente outras cenas semelhantes. A figurante que estava sentada

no meu colo sussurrou no meu ouvido:

- “Agora, você vai me empurrar. Vou cair no chão e vou sair de cena.

Você fica e toma mais um copo com raiva de mim. Faz parte da cena. Vai,

me empurra !”

Eu dei um empurrão prá valer na moça e realmente ela se esparramou

no chão e saiu blasfemando... Isso acontecia entre o grupo de figurantes –

(Na minha mesa estavam Leda Alves, Cely, Edmilson Catunda e eu).

Talvez, Leda Alves nem se lembre mais disso. Afinal, ela se destacou no

movimento cultural, chegando a ser Secretaria de Cultura e uma

das pessoas mais influentes do Estado.

Tudo isso, minha gente, foi muito difícil para mim, porque tudo

acontecia como uma grande surpresa. Nas demais noites, ficou mais

perfeito o meu desempenho artístico. Já havia aprendido tudo na difícil

noite da estréia.

Lembro que acabada a nossa participação, alguns figurantes, como

eu, corríam para o camarim, para retirar a maquilagem, mudar de roupa e,

então, seguíamos para a porta principal do teatro para que o publico nos

vissem mais de perto.. Vaidade de artista. Afinal, éramos coadjuvantes de

Bibi Ferreira - a maior estrela do teatro brasileiro. Lembro que numa das

noites, quando eu estava todo empolgado vendo o publico me reconhecer,

uma mocinha apontou prá mim e disse:

- ”Foi esse cara que empurrou aquela moça no chão... Você não tem

vergonha na cara, não ?”

Desapareceria de cena ali um grande ator frustrado. Vilão e canastrão,

que nunca mais quis saber de subir num palco de teatro.

Page 10: Novela da Minha Vida - Livro do Jornalista Miguel Santos

FOTO HISTORICA

FOTO HISTORICA DA MINHA ESTREIA NO TEATRO

DE SANTA IZABEL COM BIBI FERREIA (1956). NA MESA, LEDA

ALVES, EU, CELY E EDMILSON CATUNDA. NA ÉPOCA, ESTAVA

COM 18 ANOS DE IDADE.

Capitulo 3

NOVO RADIO

A Televisão havia chegado com gosto de gás. Será que vai acabar com

o rádio ? Era a preocupação de muitos radialistas. Até porque muita gente

boa migrou imediatamente para o novo veiculo. O interesse pelas novelas

radiofônicas foi diminuindo, os cantores davam preferência à TV e o rádio

sentiu a necessidade de um impulso para sobreviver (alguns pensavam

assim).

Cinco anos depois do advento da TV, o Radio Jornal do Commercio

jogava ao ar uma programação inovadora apelidada de “novo rádio”. A

Page 11: Novela da Minha Vida - Livro do Jornalista Miguel Santos

estreia foi numa segunda-feira, 26 de abril de 1965.

Eu trabalhava como editor de rádio e televisão nos dois jornais da

Empresa – o Jornal do Commercio e e Diário da Noite – e acompanhei

de perto todas as providencias para o lançamento da nova programação. O

gerente geral do Radio Jornal era o Sr. Luiz Felipe Vieira e o gerente de

programação, Abérides Nicéas. O Sr. Vieira disse, numa entrevista:

“A nova programação é o começo de uma série de iniciativas visando

a satisfação do nosso publico ouvinte. O radio, como fator de progresso de

um Estado ou de um País, tem de se aperfeiçoar e se adaptar aos novos

tempos.”

Uma caravana de consagrados artistas nacionais, entre os quais

Erasmo Carlos, Sergio Murilo, Wanderléa e Rosemary, veio abrilhantar o

lançamento da nova programação, realizando apresentações nos programas

”Praça da Alegria”, comandado por Walter Spencer, no sábado, à tarde, e

“Varietê”, sob o comando de Jáder de Oliveira, no domingo, á noite.

A equipe de produtores do “novo rádio” era formada por Aldemar

Paiva, Nelson Pinto, Thalma de Oliveira, Alberto Lopes, Ivan Soares,

Medeiros Cavalcanti, Wladimir Calheiros, Geraldo Silva, e Manoel

Barbosa.

Integrei essa valorosa equipe como coordenador do “Disco Brinde”,

apresentado de segunda a sexta-feira, as duas da tarde, sob o comando de

Nilson Lins. O programa realizava testes de conhecimentos musicais entre

os ouvintes e distribuía discos entre os premiados, numa parceria com a

Fábrica de Discos Rozenblit.

Outros programas se notabilizaram nessa fase do Radio Jornal,

Como o “Cidade Nua”, apresentado ao meio-dia com produção de Manoel

Barbosa e participação do elenco de rádio-teatro, interpretando casos

registrados nas delegacias policiais; Nelson Pinto produzia “No Tempo da

Retreta”; Medeiros Cavalcanti fazia o “Almanaque do Almoço”, aos

domingos; Thalma de Oliveira escrevia “Retalhos do Cotidiano” e era da

consagrada Janete Clair a novela “O Renegado”, exibida as 9 da noite,

enquanto os programas esportivos tinham mais ou menos o mesmo espaço

que ocupam no rádio de hoje. O discotecário na época era o Eraldo

Mendonça. Lembro que ele foi enviado ao sul do país, para adquirir os

mais recentes lançamentos fonográficos e todos os demais discos

necessários para atualizar a discoteca, além de uma nova estrutura para

Page 12: Novela da Minha Vida - Livro do Jornalista Miguel Santos

facilitar o atendimento imediato das solicitações dos ouvintes. O

departamento de radio-jornalismo era comandado pelo competente

jornalista Artur Malheiros e o espaço físico foi ampliado para receber mais

maquinas de escrever e redatores.

Ano seguinte – 1966 – Antenor Aroxa foi contratado para

conduzir o programa “Festa de Brotos”, aos sábados, à tarde, substituindo

Walter Spencer. Passei, então, à exercer a atividade de produtor de

programas de auditório, experiência que me levou a fazer a mesma coisa na

Televisão.

O superintendente da Empresa Jornal do Commercio, dr. Paulo Pessoa

de Queiroz, ao meu lado. Momento em que a TV e o Rádio Jornal eram

homenageadas na cidade de Vitoria de Santo Antão (1968)

Page 13: Novela da Minha Vida - Livro do Jornalista Miguel Santos

Capitulo 4

JORNAIS & JORNAIS

Sempre gostei de escrever. Quando estudava no Ginásio São Luiz

criei um jornalzinho manuscrito, que passava de mão em mão, divulgando

eventos esportivos e culturais e algumas fofocas envolvendo os coleguinhas

do segundo período do curso colegial.

Quando comecei a trabalhar na Sul America – Companhia Nacional

de Seguros de Vida, em 1958, editei o jornal ”O Timoneiro”, este já

produzido em uma gráfica. Circulava internamente, com exemplares

distribuídos entre funcionários, corretores e médicos da empresa.

Ainda em 1958 comecei a colaborar com a “Folha do Povo”, um

jornal criado para apoiar os movimentos do Partido Comunista. A redação

ocupava duas salas no Edifício Vieira da Cunha, na Rua Floriano Peixoto

E aí pude desenvolver todos os meus desejos de ser um jornalista completo.

Comecei escrevendo uma coluna sobre o Rádio (ainda não existia a

Televisão) e, em seguida, fiz diversas matérias avulsas, uma das quais

denunciava a retirada de corpos ainda em estado de decomposição no

Cemitério de Casa Amarela.

A reportagem gerou notas de esclarecimento

por parte da Secretaria de Saúde da Prefeitura do Recife em todos os

jornais da cidade. Como o jornal apoiava o Governo pensei que fosse

afastado, mas recebi parabéns não só porque o jornal faturou a nota oficial

como porque a matéria era verdadeira e ganhou repercussão.

Page 14: Novela da Minha Vida - Livro do Jornalista Miguel Santos

Foi nesse período que ingressei no Diário de Pernambuco para ser

revisor (um episodio dessa época faz parte de outro artigo deste trabalho).

Ainda como colaborador, escrevi para o Diário da Manhã, dirigido pelo

jornalista Heleno Gouveia, cuja sede ainda hoje é na Rua do Imperador.

Já existia a Televisão e passei a editar uma coluna sobre as atividades

desenvolvidas no radio e na TV. Mas, como simples colaborador.

Experimentei vários pseudônimos antes de assumir o Miguel Santos.

Afinal, comecei mesmo num jornal comunista e queria esconder o meu

nome verdadeiro. Fui até Francis, um colunista de discos fonográficos.

Foi a partir de 1963 que efetivamente passei a ser jornalista

profissional atuando na Ultima Hora, um jornal também de cunho

político, sobre o qual dedico um espaço maior em outro artigo deste

trabalho.

Em 1965 fui chamado pelo gerente geral do Radio e da TV, Sr.

Luiz Felipe Vieira, para assumir a editoria das colunas de rádio e televisão

mantidas pelo Jornal do Commercio (matutino) e Diario da Noite

(vespertino). As colunas serviam apenas para noticiar, destacar e enaltecer

o que era feito nas Emissoras pertencentes à Empresa. Portanto, um

jornalismo parcial, que não me agradava. Mas, tive a felicidade de merecer

o apoio e a confiança do Sr. Luiz Felipe Vieira, gerente geral do Rádio e

TV-Jornal. De temperamento forte e comportamento obsessivo pelo zelo,

pelo respeito e pela responsabilidade que todos os funcionários deveriam

ter pela Empresa do “dr. Pessoa”, o Sr, Vieira era visto com maus olhos por

todos. Não é piada, mas houve um caso em que um funcionário foi pedir

um “vale” - um adiantamento de salário - porque a mãe havia falecido e o

Sr. Vieira teria dito: - “A Empresa não tem nada a ver com a morte de sua

mãe”. E negou o adiantamento. Pois esse dirigente de quem todos tinham

medo era uma pessoa afável comigo. Foi quem me ensinou, dentro das

oficinas do Jornal, a fazer a diagramação das colunas, arrumando os textos

linotipados expostos em calandras e os clichês (fotos). Depois da

montagem da coluna um gráfico tirava uma prova a gente fazia

a revisão e autorizava a publicação. Esse trabalho puramente artesanal

levava pelo menos uma hora e era feito pela manhã (para a edição do

“Diário da Noite”, que circulava à tarde) e à tarde (para a edição do “Jornal

do Commercio” que circulava no dia seguinte). O sr. Vieira e o gerente de

programação do Radio Jornal aprovaram a minha indicação para coordenar

o programa “Disco Brinde”, comandado por Nilson Lins.

Posso assegurar que o sr.Vieira foi um dos que contribuíram

para que eu conquistasse um espaço no jornalismo pernambucano,

ampliando meus horizontes em relação também ao rádio.

Page 15: Novela da Minha Vida - Livro do Jornalista Miguel Santos

Uma das colunas produzidas para o “Diário da Noite”. Esta foi

publicada no dia 15 de outubro de 1965.

Page 16: Novela da Minha Vida - Livro do Jornalista Miguel Santos

Capitulo 5

LINHA VIRADA

Foi Fernando Spencer, que escrevia uma coluna de cinema na Folha

do Povo, onde eu colaborava também com uma coluna sobre o rádio, quem

me informou que havia uma vaga de revisor no Diário de Pernambuco.

Depois de um teste, ingressei no secular Diário exercendo uma função

extinta no jornalismo de hoje. Naquele tempo, o texto original escrito pelo

redator ia para as oficinas gráficas e o linotipista transformava o texto em

linhas gravadas no chumbo quente da linotipo. Essa nova impressão seguia

em forma de uma prova, juntamente com o texto original, para ser cotejado

pelo revisor. A tarefa consistia em comprovar as duas versões e observar

se havia algum erro. Assinalado algum erro, o material era devolvido para

que a linha em chumbo fosse corrigida. O revisor era o meio-campo entre

a redação e a oficina gráfica. Eu, pelo menos, quase não conhecia ninguém

da redação. Ao sair do jornal, encontrava na calçada Antonio Camelo,

Joezil Barros, Gladstone Vieira Bello e outros nomes da cúpula do jornal.

Comecei no primeiro turno do expediente da revisão, no período da

tarde. Como todo principiante cheio de orgulho por estar trabalhando no

maior jornal do Nordeste do Brasil naquela época, iniciei revisando textos

sem maior importância, como, por exemplo, os anúncios classificados, os

roteiros de cinema, teatro, anúncios fúnebres, matérias avulsas, etc.

Sempre tive maior aptidão pelas letras. Gostava de ler e escrever. Não foi

difícil a tarefa. Ao me desenvolver no trabalho, fui transferido com

excelente vantagem financeira para o turno da noite – das 7 a 1 da manhã.

A família protestou, mas naquela época não havia a insegurança que

domina as ruas nos dias de hoje. Saia do jornal, na Praça da

Independência, seguia pela Avenida Guararapes e na calçada do prédio dos

Correios tomava o ônibus-corujão em direção à minha casa no bairro de

Parnamirim. Trabalhar no período em que o jornal fechava a edição era da

maior responsabilidade. Matérias mais importantes passavam pelas minhas

mãos, como, por exemplo, a crônica de professor Aníbal Fernandes, o

editorial do jornal, as chamadas de capa, inclusive as legendas das fotos

que ilustravam a primeira pagina. Uma certa noite, com a cabeça pesada

pelo sono, aconteceu o que eu considerei a minha primeira grande tragédia

profissional. Deixei passar uma linha virada na primeira pagina. A linha

de texto foi impressa de cabeça prá baixo. Erro imperdoável. E na capa do

jornal, nem se fala. Ao entrar no elevador, o ascensorista foi logo dizendo:

- “Tem um aviso aqui prá você se dirigir à Superintendência.”.

E o elevador me deixou no terceiro andar. O superintendente era o

dr. Fernando Chateaubriand, filho de Assis Chateaubriand, o todo

Page 17: Novela da Minha Vida - Livro do Jornalista Miguel Santos

poderoso fundador dos Diários Associados, na época a maior cadeia de

jornais e emissoras de rádio e televisão do Pais.

A secretaria me anunciou e eu entrei na sala como se estivesse

carregando um saco de 50 quilos na cabeça. Encontrei atrás de um amplo

birô de madeira de lei um cidadão de quase dois metros de altura, que foi

logo perguntando:

- O senhor foi o revisor disso aqui ? - e apontou para o jornal na

mesa, com um circulo vermelho no texto, onde se encontrava a fatídica

linha virada. Não havia outra resposta, já sabendo por antecipação que

estava demitido sumariamente.

- “Fui eu, sim senhor.”

- “Por que isso aconteceu ?” – quis saber o “todo poderoso”.

- “Estava muito cansado, o sono me pegou.” – confessei.

Aí, veio a grande surpresa. Dr. Fernando olhou prá mim,

acreditou talvez na minha sinceridade, e deu um exemplo de vida que sigo

até hoje: - “Sabia que quando está revisando o jornal o senhor é mais

importante do que eu, que sou o superintendente ?”

Respondi que não sabia. Ele apertou a minha mão e se despediu

assim: - “Procure superar o sono e você será um vencedor na vida. Vá

em frente e que isso jamais se repita.” - O saco de 50 quilos que parecia

carregar despencou da minha cabeça, mas da minha memória esse fato

jamais se apagou.

Secular prédio do Diário de Pernambuco, na Praça da Independência.

Atualmente, o Jornal tem nova sede no bairro de Santo Amaro.

Page 18: Novela da Minha Vida - Livro do Jornalista Miguel Santos

Capitulo 6

ULTIMA HORA

Em 1963, um ano antes da Revolução Militar de 64, eu ingressava no

Jornal Ultima Hora, edição Nordeste, cuja sede ficava na Rua Visconde de

Goiana, na Boa Vista. Para mim, uma escola de jornalismo de alto nível,

Independente de sua linha política, já que apoiava Miguel Arraes, tido

como defensor do regime comunista. Minha coluna de estréia foi

publicada no domingo, 11 de agosto de 10963.

O diretor era Mucio Borges da Fonseca. O editor geral: Ronildo

Maia Leite. Na chefia do departamento fotografico, Clodomir Bezerra.

Assumi a editoria de rádio e televisão. Escrevia uma coluna que não

ultrapassava um quarto de pagina. Diariamente. Dava noticias, fofocas e

entrevistas curtas com gente que atuava nos meios de comunicação.

Tudo dentro do ritmo dinâmico do jornal que primava por matérias

polemicas, linguagem objetiva e direta, evitando os clichês costumeiros

dos demais periódicos. Recordo de um fato que não se passou comigo,

mas que me impressionou bastante. Um fotografo do jornal, cujo nome não

me recordo, foi designado para fazer a cobertura de uma procissão no

centro da cidade. Recomendação do editor:

- “Não quero fotos de andor, nem de padre, nem de freira. Quero

uma foto expressiva para ilustrar matéria de primeira página. Se vire.”.

E o fotografo saiu da redação com uma preocupação na cabeça.

Durante toda a procissão fez dezenas de fotos, mas em todas aparecia uma

parte do andor, ou um padre ou uma freira. Não sabia mais o que fazer para

atender o pedido do editor. Já retornando à redação, avistou uma

criancinha fantasiada de anjo, com as mãos postas como se estivesse

rezando. Tacou o dedo no clique da máquina. Foi essa a expressiva foto ;

primeira pagina do jornal.

Essas provocações eram comuns na redação. O obvio não era o ideal.

As inovações eram bem aproveitadas. Uma linha de matéria redacional

poderia dar uma manchete de oito colunas, como aconteceu comigo.

Certa feita, escrevi na coluna:

- “FPF vai proibir o vídeo-tape do futebol”.

Foram só essas cinco palavras, sem maiores comentários. O fato me

foi confidenciado por um diretor de Televisão, porque na época o futebol

era gravado para exibição na noite do mesmo dia. Quando abri o jornal no

dia seguinte, lá estava a frase em letras garrafais de canto a canto da

pagina, encabeçando a minha coluna. A repercussão foi grande, mas

graças a Deus ninguém contestou a nota. Se não, eu estaria sumariamente

Page 19: Novela da Minha Vida - Livro do Jornalista Miguel Santos

demitido.

Eram colunistas do jornal: Marcel (Sociedade); M. Barbosa (Cidade

Nua); Lula Carlos (Bola na Rede); Celso Marconi (Cinema); Wilton de

Page 20: Novela da Minha Vida - Livro do Jornalista Miguel Santos

Souza (Artes plásticas), Carlos Garcia (Economia), Stelio Gonçalves

(Luzes da Cidade), entre outros.

Sem querer ser redundante, fiquei na Ultima Hora até a sua ultima

hora, 10 horas da manhã do dia 1 de abril de 64. Entreguei minha matéria

na redação e me preparava para sair, Ronildo Maia Leite fez o pedido:

- “Quando você chegar no centro da cidade, observe se há algum

movimento do Exercito e liga prá gente.”

Jovem, sem muito conhecimento dos rumos da política, não soube

avaliar o dramático significado daquele pedido. Naquela mesma manhã

não cheguei a dobrar a Visconde de Goiana em direção à Avenida Manoel

Borba, andando porque não tinha carro. Os caminhões carregados de

soldados do Exercito seguiam em direção ao jornal para empastelá-lo.

Segundo Ronildo Maia Leite: - “Ultima Hora era um jornal que

nada temia e pagou caro pela ousadia.”

Fim melancólico de uma verdadeira escola de jornalismo, criada por

Samuel Wayner, onde aprendi muito convivendo com gente que

realmente sabia fazer jornal.

|

Page 21: Novela da Minha Vida - Livro do Jornalista Miguel Santos

Capitulo 7

AS REVISTAS

Não me perguntem como nem por que, mas o certo é que assumi a

tarefa de ser representante-correspondente da já extinta Revista do Radio,

que na época era a publicação semanal segunda colocada em vendas em

todo o Brasil (a primeira era a Revista “O Cruzeiro”). A Revista do

Radio era dirigida pelo jornalista Anselmo Domingos e tinha como

secretário de redação Borelli Filho. As duas paginas centrais eram

ocupadas pelos “Mexericos da Candinha”, onde os artistas mais

consagrados eram visados pelas fofocas e disse-me-disse. Aliás, nessa

época só existia o rádio e a Nacional do Rio era a mais poderosa

Emissora do País, cujo “cast” reunia os maiores nomes da musica

brasileira. A Revista promovia concursos, entre os quais o que revelava a

Madrinha do Radio e a disputa entre as cantoras Marlene e Emilinha Borba

chegava a empolgar meio mundo, com comentários em todas as rodas.

A coluna que escrevia era “Rádio de Pernambuco”. A matéria era

enviada pelos correios, razão por que existia a preocupação de mantê-la

mais atualizada possível porque chegava na redação da revista com alguns

dias de atraso. Eram pequenas notas sobre o rádio que se fazia em

Pernambuco (novos programas, os artistas que mais se destacavam, as

fofocas, etc), com uma ou duas fotos no máximo. Era minha tarefa

tambem promover a revista nos meios de comunicação. Sempre que

era autorizado pela Editora distribuía exemplares nas portarias dos

programas de auditório da Radio Clube e Radio Jornal. Quando esteve

no Recife, Anselmo Domingos me convidou para trabalhar na sede da

Revista, no Rio de Janeiro, mas o apego à família e a minha própria idade

(pouco mais de 20 anos) me impediram de seguir outro rumo na vida.

Foi nessa época que a Televisão surgiu e fui convidado para atuar

na Revista TVlandia, que nascia como um guia de programação semanal

das TVs Jornal e Clube. A primeira publicação circulou no dia 19

de junho de 1961, com a foto de capa da atriz. Floriza Rossi. Eu assinava

uma pagina sobre o Radio. Outros colaboradores: Hilton Marques (hoje

produtor do programa de Jô Soares); o saudoso ator e diretor teatral Luiz

Mendonça, fundador do espetáculo da Paixão de Cristo de Nova Jerusalém;

Renato Melo, produtor de TV, entre outros. A revista era dirigida pelo

publicitário Oliveira Junior e por Geraldo Mayrink, que tinha uma agencia

de registros de marcas e patentes. Rildo Uchoa integrava a direção

cuidando da publicidade e a Acê Filmes, de Alcir Lacerda, criava as fotos.

Os artistas que mais figuravam nas capas: Heloisa Helena, Floriza Rossi,

Arlete Sales, Nair Silva, Penha Maria, Nel Blue, Geraldo Liberal.

Depois de alguns meses de circulação, assumi a editoria geral da Revista,

que era editada pela Gráfica Ilha, que funcionava no bairro de São José.

Page 22: Novela da Minha Vida - Livro do Jornalista Miguel Santos

Quatro meses depois de circular gratuitamente, TVlandia passou a ser

vendida nas bancas. Uma tiragem media de 1.500 exemplares semanais,

um marco na historia dos periódicos que existiram até hoje em

Pernambuco.

Capa da Primeira Edição da Revista TVLANDIA (1961)

A partir de fevereiro de 1962 a TVlandia passou ao comando do

radialista e publicitário Josenildo de Souza Leão, mais conhecido como

César Brasil. Outra equipe foi formada: Adel Barros na gerencia

geral e os colaboradores Ednaldo Lucena, Waldemar Garcia, Mário Sabino,

Emanoel Rodrigues e outros. A TVlandia viveu até meados de

1963, quando foi criada a Canal, outra revista tipo de bolso, com o mesmo

objetivo. Dirigida pelo casal de atores Jorge Ramos e Fernanda Simões,

com secretaria de Miguel Santos e uma equipe de colaboradores de peso:

Dias da Silva, famoso psicólogo; o teatrólogo Alfredo de Oliveira e os

jornalistas Romildo Cavalcanti e Isaltino Bezerra. Um ano depois de

criada, mudou de direção. Assumiram o publicitário Waldir Machado e

o artista plástico Wellington Virgolino, com a colaboraação editorial de

Fenando Spencer, Redomark Viana, Wilton de Souza e Fernando Bastos.

Canal circulou até meados de 1965. Sempre com uma tiragem média de

dois mil exemplares semanais e uma boa aceitação por parte do publico.

Page 23: Novela da Minha Vida - Livro do Jornalista Miguel Santos

NAIR SILVA FOI A CAPA INAUGURAL DA REVISTA CANAL

Entrevistando Anselmo Domingos, diretor da Revista do Rádio.

Page 24: Novela da Minha Vida - Livro do Jornalista Miguel Santos

Capitulo 8

TVU – 27 ANOS NO BATENTE

A placa ainda existe na recepção. Está escrito: “Com a alta finalidade

de ampliar os horizontes da Educação e de elevar o nível da Cultura do

povo do Nordeste e do Brasil, foi instalada esta primeira Televisão

Educativa, Canal 11, pela Universidade Federal de Pernambuco.

Presidente da Republica: Marechal Arthur da Costa e Silva. Ministro da

Educação e Cultura: Prof. Tarso Dutra. Magnífico Reitor: Prof. Murilo

Humberto de Barros Guimarães. Vice-Reitor: Prof. Jônio Santos Pereira de

Lemos. Coordenador Geral da TV-Universitaria: Prof. Manoel Caetano

Queiroz de Andrade. Recife, 22 de Novembro de 1968.”

Integravam o quadro dos primeiros diretores: José da Costa Porto

(diretor administrativo); Nédio Cavalcanti (diretor técnico); Jorge José

Barros de Santana (diretor de produção); Milton Baccarelli (diretor de tele-

teatro); Mayerber Loureiro de Carvalho (diretor de programação). Havia

também um núcleo de Musica, dirigido por Rafael Garcia. Na TVU

nasceram o Quinteto Violado e a Orquestra Armorial.

Ingressei na TVU como produtor, indicado por Mayerber de

Carvalho, uma das pessoas que mais contribuiu para o meu

desenvolvimento profissional. Comecei como produtor de programas

culturais. O primeiro tinha por titulo “Showclopedia”, que estreou em abril

de 1969, lembrando uma enciclopédia em vídeo. Um dos programas de

maior repercussão, do qual participei junto com Sergio Kyrilllos, foi “A

Noite é do 11”, comandado por José Maria Marques. Em convenio com a

Secretaria Estadual de Educação era desenvolvida uma competição cultural

com a participação das escolas. Para evitar a disputa antipedagógica Escola

x Escola, a briga era alunos x alunas. Meninos contra as meninas,

disputando quem acertava mais perguntas sobre conhecimentos gerais.

Nessa linha cultural, integrei a equipe de produção do programa “A Alma

Encantadora das Ruas”. Durante 8 anos fui o produtor do programa “João

Alberto Informal”, apresentado pelo jornalista João Alberto Sobral. Exercí

a coordenação da equipe esportiva que gravava os jogos do campeonato e

cheguei a participar como repórter da inauguração dos estádios estaduais

de João Pessoa e Campina Grande,

Em 1971, a OEA – Organização dos Estados Americanos –

patrocinou o Projeto Multinacional de Televisão Educativa, com o

propósito de promover o intercambio de técnicos entre os países que

desenvolviam tecnologias educativas. Fui escolhido para representar o

Brasil, juntamente com a companheira Ivanise Palermo. Designados para

as cidades do México (D.F) e Bogotá, Colômbia, participamos da

experiencia durante dois meses, de 18 de março a 11 de maio de 1971.

Page 25: Novela da Minha Vida - Livro do Jornalista Miguel Santos

Professor e alunos do Curso de Radio Educativo – Porto Alegre - RS

ATVU me proporcionou outras viagens. Participei de um Curso de

Radio Educativo, patrocinado pelo Prontel – Programa Nacional de

Teleducação, do MEC, e que foi executado pela Fundação Educacional

Padre Landell de Moura, FEPLAN. O curso foi ministrado pelo produtor

da BBC, de Londres, prof. John Volden e teve como local um centro

educacional mantido pelos Irmãos Marista, em Viamão, na região

metropolitana de Porto Alegre.

Ainda como representante da direção da TVU participei de várias

reuniões de dirigentes de Emissoras Educativas do Brasil. Esses encontros

ocorriam todos os anos sempre numa capital diferente – Rio de Janeiro,

São Paulo, Porto Alegre, Terezina, Fortaleza, Manaus.

Durante 27 anos exerci várias atividades no Canal 11. Depois de

ingressar como produtor, fui repórter, apresentador de programas,

chefe do departamento de jornalismo e vice-diretor, quando resolvi me

Page 26: Novela da Minha Vida - Livro do Jornalista Miguel Santos

aposentar em 1992.

Como diretor de Jornalismo da TVU, sendo cumprimentado por

dirigente do MEC. Na foto, o dr. Francisco Dário Mendes da Rocha,

Diretor Geral do Canal 11 e o vice-reitor Armando Samico, da UFPE.

Com as colegas Wanda Phaelante e Alice Rolim.

Page 27: Novela da Minha Vida - Livro do Jornalista Miguel Santos

A NOITE É DO 11

Comandado pelo saudoso apresentador José Maria Marques, o

programa “A Noite é do 11” reunia estudantes da rede de ensino do

Estado.. Como diretor do programa, contei com a valiosa colaboração

do companheiro Sérgio Kyrillos e a participação de toda a equipe

técnica da TVU.

.

Page 28: Novela da Minha Vida - Livro do Jornalista Miguel Santos

RUI CABRAL E LUIZ MARANHÃO FILHO

Foram companheiros de todas as horas na TV-Universitária.

O saudoso Rui Cabral se notabilizou com o quadro “Cadeira de

Engraxate”, na TV-Jornal, chegando a entrevistar o então Presidente

da Republica, Juscelino Kubstchek. Maranhão, experiente professor

universitário na área da Comunicação Social, advogado e escritor, foi

diretor administrativo e de Jornalismo do Canal 11. Tivemos alguns

“pegas”, mas todos imbuídos da vontade de fazer o melhor pela

Primeira Televisão Educativa do Brasil.

Page 29: Novela da Minha Vida - Livro do Jornalista Miguel Santos

Capitulo 9

CARNAVAL PELA TVU

Na década de 70 o folião se divertia, preferencialmente, de duas

maneiras: os que tinham mais dinheiro para gastar iam aos clubes sociais

(Português, Internacional, Cabanga, Sport, Nautico, etc.) onde as

grandes atrações eram as orquestras contratadas para tocarem nas quatro

noites de Carnaval comandadas pelos maestros Nelson Ferreira, Guedes

Peixoto, José Menezes, Clovis Pereira, Duda, etc. A outra forma, mais

popular, era assistir, no centro da cidade, aos desfiles das agremiações

carnavalescas, que recebiam subvenções da prefeitura para ajudar nas

exibições perante o publico. Algumas agremiações chagavam a arrastar

grandes torcidas ao espetáculo. Entre elas estavam o Clube das Pás,

Estudantes de São José, Gigantes do Samba,. Galeria do Ritmo,

Vassourinhas, Lenhadores, Bloco Batutas de São José, Banhistas do Pina,

Caboclinhos Sete Flechas, e tantas outras. Local dos desfiles: Avenida

Dantas Barreto, num trecho próximo ao Pátio de São Pedro, onde eram

montados palanques para as autoridades e arquibancadas para o publico.

A TV-Universitária tinha uma programação voltada para a

educação e a cultura e práticamente 80% era produção local. No Carnaval,

a TVU se notabilizava ao transmitir os dois grandes bailes pré-

carnavalescos – Bal- Masque e Baile Municipal e os desfiles das

agremiações. Tanto nas quatro noites como no desfile das campeães a

Emissora fazia o registro de tudo, conquistando uma audiência realmente

invejável. Participei desse trabalho, exercendo as atividades de

apreserntador e repórter, e ainda cheguei a comandar um programa na noite

da quarta-feira de Cinzas, intitulado “Balanço do Carnaval”, reunindo

jornalistas, radialistas, dirigentes de agremiações e da Comissão

Organizadora do Carnaval, quando eram analisados os fatos positivos e

negativos dos festejos. Esse programa conseguia movimentar os

carnavalescos, que

Sempre o aguardava com certa ansiedade.

Não posso deixar de reconhecer que fazia tudo com muito

entusiasmo e empolgação . Era um torcedor inveterado, que lutava pelo

engrandecimento do Carnaval mais popular, aquele que nascia na

alma da gente humilde dos bairros mais proletários da cidade.

Infelizmente, a violência e o custo de vida foram modificando hábitos e

costumes do nosso povo. Os desfiles das agremiações já não despertam

o interesse da população, poucos são os bailes carnavalescos e já não

existem frevos como antigamente.

Sem ser saudosista demais, acho que o Carnaval mudou para pior,

lamentavelmente.

Page 30: Novela da Minha Vida - Livro do Jornalista Miguel Santos

Programa “Balanço do Carnaval” - TVU

Miguel Santos,Jader de Oliveira e Zuca Show.

Page 31: Novela da Minha Vida - Livro do Jornalista Miguel Santos

Capitulo 10

O REPORTER

Quando ocupava a função de repórter na TV Universitária tive o

privilegio de ser um dos primeiros repórteres a utilizar o vídeo-tape

portátil, mais conhecido por mini-tape, que substituía as câmeras de

filmagem em 16 milimetros. O filme cinematográfico era mais caro e

mais complicado. Exigia laboratório para revelar as filmagens feitas.

O material era editado para tirar as falhas e o editor tinha que redigir o

texto de acordo com o tempo útil do filme finalizado . No caso do mini-

tape, o custo era menor, não havia muita dificuldade para editar e o repórter

podia fazer a narração e/ou a entrevista simultaneamente com a captção

das imagens, como acontece hoje em dia.

O primeiro vídeo-tape portátil adquirido pela TV-U consistia em

uma câmera e um gravador, que fazia a gravação em fita magnética.

Prático porque quando não precisava de edição a matéria era transmitida

imediatamente.

Com a mobilidade do VT portátil fiz algumas matérias inéditas.

Por exemplo: mostrar todo o funcionamento do tradicional farol

de Olinda. Fui talvez o primeiro repórter de TV e chegar na área onde

a enorme lâmpada gira durante a noite orientando os navios que passam

pela costa pernambucana. Foi preciso autorização do Comando da Base

Naval para a realização da reportagem.

Outra matéria cheia de lances emocionantes foi o acompanhamento

da Buscada de Itamaracá, num barco meio rústico, que exigiu muito

equilíbrio e sangue frio da equipe. O mar agitado quase jogou o câmera e

o seu equipamento no mar. Mas, conseguimos realizar a proeza a tempo

de exibir o vídeo no programa “A Noite é do 11”, comandado por José

Maria Marques.

Quando o novo comandante do Segundo Comando Aéreo foi realizar

a sua primeira visita à Base Aérea de Natal (RN), o mini-tape o

acompanhou. Viajamos num avião militar, documentamos a cerimônia de

apresentação do novo comandante e retornamos ao Recife. Na volta, o

piloto achou por bem sobrevoar o litoral num vôo rasteiro. Quase botei o

intestino pela boca...

Mais dramática foi a explosão da “Fábrica de Pólvora Elephant”,

que existia em Pontezinha, no Cabo de Santo Agostinho, em 1995.

Estava com a pauta da manhã voltada para a chegada no aeroporto do então

Ministro da Educação, Paulo Renato Souza Matéria recomendada até pela

TV-Educativa, do Rio de Janeiro.

No exato momento em que uma Emissora de Rádio divulgou a

ocorrência, que matou sete operários e deixou mais de dez feridos, seguí

Page 32: Novela da Minha Vida - Livro do Jornalista Miguel Santos

para o local, mesmo contrariando a minha equipe que achava mais

importante a chegada do Ministro. Com a câmera postada na frente da

fábrica, fiz a “cabeça” da matéria (repórter em primeiro plano da

ocorrência) registrando ao fundo a passagem das ambulâncias conduzindo

as vitimas. Terminado o trabalho, voltei a tempo de alcançar o Ministro e

gravar a coletiva de imprensa na sala vip do aeroporto.

Quando cheguei na redação levei uma bronca do meu chefe, Luiz

Maranhão Filho, alegando que havia me arriscado muito e, contrariando a

pauta, poderia ter perdido a entrevista com o Ministro, que era muito mais

importante.

As duas matérias foram enviadas, naquele tempo via Embratel,

para a edição nacional do Jornal da TV-Educativa, que era transmitido

para todo o Brasil. E a surpresa foi quando o jornal abriu com a matéria

da explosão da fábrica. A entrevista com o Ministro foi exibida no ultimo

bloco do jornal. Essa mesma fábrica de pólvora foi transferida para o

município de Barreiros, na Mata Sul do Estado, e voltou a explodir em

2013, fazendo novas vitimas.

Reportagem na Base Aérea de Natal (RN), em 1971,

Cinegrafista Jairito e o repórter Miguel Santos..

Page 33: Novela da Minha Vida - Livro do Jornalista Miguel Santos

Capitulo 11

VERDADE OU MENTIRA ?

Polemico, irreverente, ousado, destemido, “Verdade ou Mentira” foi

um programa que se notabilizou na TV nordestina no ano de 1980.

Ninguém até hoje conseguiu fazer algo igual, envolvendo pessoas

conhecidas da sociedade. Foi noticia nos grandes jornais e nas revistas

nacionais de maior circulação, como a “Veja” e “Isto É”. Toda semana

repercutia nas paginas dos jornais com comentários favoráveis e

contraditórios em torno dos personagens que enfrentavam inquisidores

corajosos, que não mediam esforços em fazer colocações para saber o que

Page 34: Novela da Minha Vida - Livro do Jornalista Miguel Santos

era verdade e o que era mentira em relação aos fatos mais contestadores da

vida dos entrevistados.

O programa considerado de mais “baixo nível” foi com o babalorixá Pai

Edu. Um telespectador chegou a escrever na secção ”Cartas`a Redação”, do

Jornal do Commercio: -“O babalorixá Pai Edu, entrevistado num

programa de televisão, tendo à sua frente pessoas ilustres como jornalista,

advogado, pastor evangélico, sociólogo e parapsicólogo, ofendeu, de

maneira gritante, não apenas a dignidade da sociedade, mas o nome do

próprio Deus e de seu filho Jesus Cristo. O “infame” babalorixá zombou

daqueles homens ilustres que o entrevistaram, num cinismo e falta de pudor

que fizeram tremer os céus e a Terra.”

Outro debate que deu repercussão no Brasil inteiro foi com a deputada

Aracy Nejaim, ex-esposa do então prefeito de Caruaru, Drayton Nejaim.

Na Revista “Veja” o caso foi relatado assim:

“PREFEITO CASSA ENTREVISTA DA EX-MULHER NA TV. –

O Prefeito de Caruaru mandou desligar a estação repetidora de televisão da

cidade para evitar que o eleitorado local assistisse a uma entrevista da sua

ex-mulher Aracy Alves de Souza, no programa “Verdade ou Mentira”, da

TV-Jornal do Comercio do Recife. No programa Aracy contou a historia

de sua convivência com Nejaim. Depois de chamá-lo de “safado”, Aracy

acusou o prefeito de “caloteiro”, por ele haver se recusado a pagar

pensões alimentícias.” - A matéria ocupou uma pagina inteira da Revista.

Na “Isto é” a manchete foi esta: “PREFEITO CENSURA SUA EX-

MULHER” - a Revista também dedicou uma pagina ao fato, ilustrada com

fotografias do casal.

Eu fazia a produção do programa, com supervisão de Jorge José e

apresentação de José Maria Marques. Ia ao ar aos domingos, por volta das

11 da noite. Havia sempre pessoas que se recusavam a partiripar do

programa pelo impacto que ele causava na sociedade. Lembro que tentei

levar para a cadeira do “Verdade ou Mentira” o polemico atacante Dario

Maravilha, que jogava pelo Sport. Ele foi incisivo: - “Meu caro, esse

programa está dando muito Ibope. Só vou por tanto. ...” e revelou quanto

queria em dinheiro para participar. O programa não tinha verba para isso e

Dario não foi “saco de pancadas” no programa.

Outras participações surpreendentes, foram a jornalista Fátima Bahia,

o delegado de policia João Acioly, o vereador Brás Batista, o diretor do

DETRAN Walter Benjamin, o “rei do melaço” Gileno de Carli, o professor

Abdias do Nascimento, que chegou a revelar que o Brasil era o país mais

racista do mundo e terminou abandonando o programa diante das duras

perguntas dos entrevistadores, entre eles o antropólogo Roberto Mota.

Até hoje, não houve um programa de Televisão em Pernambuco que

Page 35: Novela da Minha Vida - Livro do Jornalista Miguel Santos

conseguisse superar a popularidade do “Verdade ou Mentira”. A TV-

Cultura, de São Paulo, mantem o “Roda Viva”, mas não chega aos pés da

ousada, corajosa e polemica atração da TV-Jornal. De saudosa memória...

Pagina da Revista “Isto é”

Page 36: Novela da Minha Vida - Livro do Jornalista Miguel Santos

Capitulo 12

ELEFANTE E CONFUSÃO

Como produtor-executivo do “Programa Jota Ferreira”, transmitido ao

vivo do estúdio-auditorio da TV-Jornal, enfrentei varias situações

inusitadas. Programa de grande audiência nas tardes dos sábados, sempre

com o auditório lotado, a atração tinha o formato de variedades, com

quadros de calouros, participação de artistas de passagem pelo Recife e

outras atrações, que preenchiam três horas de duração. Era um programa

completo dentro de suas limitações, com quadro próprio de bailarinas,

grupo musical com 7 musicos e tudo que um programa de variedades

exigia. Pelas pesquisas, em muitos sábados o programa superava a

audiência do inesquecível Chacrinha, que mantinha um programa

.semelhante na Rede Globo.

Eu ficava comandando os passos de Jota Ferreira posicionado diante

dele no espaço entre o palco e a platéia. Usava um interfone para me

comunicar com a suíte e o operador do som. Tinha dois bons auxiliares:

Zuca Show e Wilson Silva, este ultimo coordenava os ensaios dos calouros

do programa, no meio da semana.

Os artistas do sul do País, que viam ao Recife, invariavelmente,

participavam do programa para divulgação de seus shows e de seus discos.

A produção se encarregava também de buscar atrações e uma delas fui

encontrar em um circo de categoria internacional que fazia temporada na

cidade. Após assistir ao espetáculo a direção do circo pediu que eu

escolhesse um dos números para apresentar no programa, em troca da

promoção da temporada. Optei pelo elefante que fazia malabarismos.

Sabia que não haveria qualquer problema de espaço físico para que o

animal adentrasse ao palco, porque as instalações da TV Jornal permitiam

grandes montagens.

O elefante chegou com o seu domador na hora marcada. Na ampla

area da cenografia do Canal 2, onde são montados e guardados os cenários

dos programas, fizemos um pequeno ensaio. Jota subiria no elefante e

daria uma volta pelo palco. Quando Jota anunciou o elefante do circo e

este entrou em cena o au ditório veio abaixo. E quando Jota foi pego pela

tromba e jogado no dorso do animal houve até desmaios de algumas

”fanzocas” diante da coragem do apresentador do programa.

Eufórico e emocionado, Jota procurou no final do programa o

fotografo “Lambe-Lambe”, como era conhecido, que costumeiramente

fotografava tudo o que acontecia no programa para depois vender copias

das fotos entre os artistas, convidados e as pessoas do auditório. Jota disse

para o fotógrafo:

- “Quero copias de todas as fotos em que apareço com o elefante.”

Page 37: Novela da Minha Vida - Livro do Jornalista Miguel Santos

Aí, veio a resposta de “Lambe-Lambe”, que Jota não queria ouvir:

- “Seu Jota, a máquina estava sem filme. Eu esqueci de carregar.

Nessa época, não havia ainda a fotografia digital e Jotinha deixou

de guardar para sempre o inesquecível momento em que passeou no dorso

do gigantesco animal...

Uma realização que marcou a historia do programa foi o

“Campeonato das Feirinhas”, reunindo representações das feirinhas típicas

que funcionavam nos bairros do Recife criadas pela Prefeitura, na

administração do Prefeito Gustavo Krause. Os bairros se agitavam e

havia uma concorrência muito saudável entre os feirantes.

A audiência do programa era tão consagradora, que permitiu que

fosse realizado um grande show comemorativo do primeiro aniversário no

no Geraldão, em 1981, com casa lotada e a presença de consagrados

nomes do cenário artístico nacional.

Outro fato inusitado aconteceu já nos últimos instantes de um

programa. Eu estava passando o nome do próximo cantor, através de uma

“dália” (uma cartolina com o nome que eu mostrava para Jota anunciar –

não existia ainda o ponto eletrônico), quando observei uma agitação entre

as bailarinas. As tapadeiras que compunham o cenário também

balançavam. Não havia dúvida de que estava acontecendo algo fora do

comum nos bastidores. Imediatamente, troquei a “dália” com o nome do

cantor e apresentei outra, na qual estava escrito “Chama intervalo”.

Quando os comerciais começaram a ser exibidos corri para saber o

que estava acontecendo. Era Zuca com um revolver na mão, correndo

atrás de um calouro que havia se insinuado para pegar na coxa de uma

das bailarinas. O corre-corre pelos estreitos corredores dos bastidores

apavorou todo mundo. Gritei para Zuca e ele me atendeu:

-“O cabra safado merecia um tiro na testa.”

Acalmei Zuca, ele esfriou a cabeça e seguimos para concluir aquele

programa que poderia ter dado oportunidade de Jota noticiar mais um

crime como repórter policial em pleno auditório do Canal 2.

Ainda bem que tudo terminou em paz.

Page 38: Novela da Minha Vida - Livro do Jornalista Miguel Santos

Momento de homenagem no Programa Jota

Ferreira. Na foto, Zuca, a bailarina Dalva e o comandante do

programa.

Page 39: Novela da Minha Vida - Livro do Jornalista Miguel Santos

Capitulo 13

MINHA ESTREIA NO CINEMA

Minha primeira e também ultima participação no Cinema foi algo que

me surpreendeu, do mesmo jeito como foi minha atuação ao lado da

estrelissima Bibi Ferreira no teatro.

O cineasta Jarbas Barbosa, irmão do Velho Guerreiro Chacrinha, veio

filmar aqui no Recife “Juventude e Ternura”, o longa-metragem que

marcava a estréia de Wanderléa - Rainha da Jovem Guarda - no cinema.

A cantora estava no auge da fama, com várias musicas nas paradas de

sucesso. Eu trabalhava na TV-Jornal do Commercio, na área

administrativa, e fui encarregado de dar apoio ao evento. Jarbas queria

que a estrela Wanderléa, fosse recebida por uma multidão no aeroporto.

Queria também uma apresentação especial do programa “Bossa 2”,

comandado por José Maria Marques, onde ela faria uma participação como

cantora consagrada pelo publico jovem. Havia também no roteiro do filme

cenas nas praias de Boa Viagem e Candeias e na recepção do Grande

Hotel. Durante uma semana fizemos ampla divulgação dos eventos e tudo

saiu como o cineasta desejou: multidão no aeroporto, auditório lotado e eu

fazendo das tripas coração para que toda a equipe de filmagem transitasse

livremente nas áreas escolhidas para as tomadas de cena. Foi produzida

uma audição especial do programa “Bossa 2”, que era comandado pelo

saudoso José Maria Marques. Além das cenas no auditório, com Wanderléa

cantando acompanhada de conjunto musical e bailarinas e sendo

delirantemente aplaudida pelo público do auditório, foram feitas cenas nos

controles de áudio-e-video, onde o ator Anselmo Duarte, aparece exigindo

um melhor enquadramento na imagem da cantora, já que ele interpreta no

filme o papel de empresário de Wanderléa.

“Juventude e Ternura” é um filme romântico e musical por

excelência. Produzido por “JB Produções Cinematográficas Ltda.”, com

direção do competente cineasta Aurélio Teixeira, fotografia de José Rosa e

direção musical de Erlon Chaves. No elenco, além do consagrado galã

Anselmo Duarte, participam Enio Gonçalves, Bobby de Carlo, entre

outros.

Fiquei o tempo todo colaborando com o diretor do filme e na

cena em que Wanderléa concedia uma entrevista coletiva no hall do

Grande Hotel Jarbas pediu:

- Miguel arranja por aí dois ou três repórteres para participar da cena.

Você mesmo será um deles. Bote paletó e gravata e vá pro hotel. Lembro

que convidei Hélio de Oliveira, que era o produtor do “Bossa 2”, para dar

uma de repórter também.

Nunca pensei que um dia seria protagonista de um filme nacional,

Page 40: Novela da Minha Vida - Livro do Jornalista Miguel Santos

Botei o terno e segui para o hotel. Luzes.... câmeras.... ação. Todos a

postos, após um rápido ensaio, e tudo saiu de primeira. A “avant

premiere” do filme no dia 20 de abril de 1968, teve como patronesse dona

Lotinha Pessoa de Queiroz, que doou toda a renda da bilheteria do Cinema

São Luiz para a Sociedade Pernambucana de Combate ao Câncer.

Com o cinema lotado, compareci à estréia para avaliar o meu desempenho.

Eu apareço fazendo uma pergunta a Wanderléa, embora minha voz tenha

sido dublada. A cena dura uns 10 a 15 segundos, mas dá prá reconhecer

quem eram os personagens. Quem me conhece logo me identificou na cena.

Matéria publicada no jornal Diário da Noite, em 20/04/1968.

Page 41: Novela da Minha Vida - Livro do Jornalista Miguel Santos

Além de haver permanecido em cartaz por 15 dias no cinema São

Luiz, alguns anos depois o filme foi exibido na Rede Globo e na TV

Educativa, inclusive numa homenagem a Anselmo Duarte no dia de seu

falecimento. Para os incrédulos ou invejosos, informo que tenho o filme

inteiro, gravado em DVD e a foto abaixo é uma cena do filme.

Miguel Santos aparece no filme entrevistando a estrela

Wanderléa. Ao lado, o galã do cinema brasileiro, Anselmo

Duarte, ao lado de Hélio de Oliveira. A cena foi gravada no “hall” do

Grande Hotel, na época o mais luxuoso da cidade.

Wanderaléa numa entrevista para o rádio.Ao meu lado o jornalista Paulo Granja.

Page 42: Novela da Minha Vida - Livro do Jornalista Miguel Santos

Capitulo 14

MEU BAIRRO É O MAIOR

As competições realizadas pela Televisão sempre tiveram uma

boa aceitação por parte dos telespectadores. A experiência começou

na TVU com o programa “A Noite é do 11” e ganhou um vulto maior

quando produzimos o “Meu Bairro é o Maior”, na TV-Jornal do

Commercio. Antes disso, a Emissora já havia realizado um torneio

semelhante envolvendo as principais cidades do interior do Estado.

“Meu Bairro é o Maior” proporcionou uma participação ativa das

lideranças comunitárias, das instituições de ensino, das agremiações

sociais, enfim, de todas as pessoas que se empenhavam para que o seu

bairro conquistasse o premio maior do programa, que era a construção de

uma nova praça por parte da Prefeitura do Recife, que dava apoio

institucional à competição.

O programa tinha um sentido de revelar valores artísticos, dando

oportunidades a novos cantores, compositores, dançarinos, atletas

amadores, além de uma gincana de conhecimentos gerais e um show

livre que era organizado e apresentado pelos próprios bairros disputantes.

A comissão que julgava as tarefas era constituída por jornalistas,

professores, universitários e outros segmentos da sociedade. Durante

praticamente todo segundo semestre de 1973 o programa apresentou cerca

de 24 bairros do Recife, sempre aos sábados na programação noturna do

Canal 2, com direção de Jorge José, apresentação de José Maria Marques,

produção de Miguel Santos e coordenação de Djalma Miranda e Marcio

Maia.

Como a disputa era muito acirrada em vários momentos era preciso

a ação de agentes de segurança para conter os ânimos dos mais exaltados.

Alguns lideres comunitários ficaram mais conhecidos nos seus bairros por

causa da visibilidade do programa, e um deles chegou a se candidatar a

vereador na eleições municipais.

A grande final da maratona foi entre os bairros de Casa Amarela e

Arruda, vencendo este ultimo numa disputa realmente muito empolgante. O

prefeito do Recife em exercício, Wandenkolk Wanderley entregou o

troféu ao bairro vitorioso. Em seguida, os participantes e a torcida que

estavam na Televisão, saíram pela Rua do Lima até ao Arruda,

proporcionando um verdadeiro Carnaval fora de época na cidade.

Outros bairros que se destacaram na competição: Iputinga, Torre,

Estância, Cajueiro, Tejipió, Beberibe, Casa Forte e Vila do IPSEP.

Na página seguinte a reprodução de uma das reportagens que o Jornal do

Commercio costumava fazer a respeito do programa.

Page 43: Novela da Minha Vida - Livro do Jornalista Miguel Santos
Page 44: Novela da Minha Vida - Livro do Jornalista Miguel Santos

Capitulo 15

GUINA, QUANTA SAUDADE

Aguinaldo Batista de Assis, pernambucano de Palmares, era um

moço modesto, sempre bem humorado, corpo franzino, um tanto ou

quanto feio de aparência, mas uma alma boa, compreensiva, um homem de

caráter como poucos, apesar de ter sido um humorista. Nasceu com o

gênio do humor nas veias e com o desejo de só fazer o bem.

Conheci Aguinaldo Batista através do comunicador Walter Lins, na

Rádio Clube. Havia feito uma entrevista com Walter para a “Revista do

Radio”, editada no Rio de Janeiro e distribuída para todo o Brasil. Eu era

representante-corrrespondente e mantinha uma coluna semanal com as

noticias do radio pernambucano. Era uma época próxima do Carnaval.

Walter Lins comandava o “Carrocel”, que era apresentado no

pequeno auditório da Radio Clube. Dei a idéia de produzir uma revistinha

carnavalesca para o programa. Ele gostou da sugestão e disse que ia me

apresentar a Aguinaldo, ídolo do grande publico, com seus quadros

humorísticos. Grande parte de sua imensa popularidade se devia ao tipo

“Azarildo”, que ele interpretava no programa “Atrações do Meio-Dia”.

No dia da apresentação, pensei comigo:

- “Esse cara vai me levar na gozação”.

Aconteceu o que eu jamais esperava. Aguinaldo apoiou a minha

idéia, ajudou-me a passar tudo para o papel e realizamos juntos a

revistinha, que teve a participação de atores, cantores, músicos e

dançarinos e causou tanto sucesso que foi repetida na semana seguinte.

Daí em diante, não nos largamos mais. Ficamos amigos inseparáveis.

Para onde um ia o outro ia também. Amigão nosso também era oJosé

Augusto Branco, que ainda atua na Rede Globo morando no Rio de

Janeiro. Sempre magrinho, mas com um coração do tamanho de um

elefante, Aguinaldo era admirado por todos, colegas, ouvintes,

telespectadores, todos enfim. Certa feita, ele me confessou:

Page 45: Novela da Minha Vida - Livro do Jornalista Miguel Santos

- “Tem uma mocinha apaixonada por mim. Ela é linda e de família

rica., Eu sou feio e pobre. Certamente ela está apaixonada apenas pelo

artista. Esse namoro não pode dar certo”

E acabou o namoro. Conheci a moça, realmente muito bonita e de

família abastada. Mas, Aguinaldo era assim. Extremamente sincero. Não

tolerava ser ingrato com ninguém. Na época em que a Empresa Jornal

do Commercio atravessava dificuldades financeiras, Aguinaldo estava

enfrentando também problemas semelhantes. Não dizia a ninguém, mas as

pessoas mais próximas dele desconfiavam. Aguinaldo era sócio de Marcos

Macena num estúdio de gravação. O que fazer para ajudar Aguinaldo de

uma forma que ele não desconfiasse de nada ?

Macena inventou uma historia e deu certo:

- “Aguinaldo, a loja Tiradentes quer um texto para vender rápido 20

geladeiras. Aqui estão os detalhes. Faça o texto logo, porque a loja já

mandou o dinheiro da produção prá voce Aqui está,” – e Macena passou

o dinheiro da cota que fizemos prá ele. Aquinaldo acreditou. Fez o texto,

recebeu o dinheiro e Macena gravou para dar a entender que era tudo

verdade. Só assim ajudamos Aguinaldo a sair de um sufoco, sem que ele

entendesse que era realmente uma ajuda.

Aguinaldo casou-se com a nutricionista e professora, Conceição

Lopes, teve um filho (Guiga) e morava na Madalena. Família feliz, que

vivia na mais completa harmonia.

No ano de 1977, Aguinaldo e Macena comandaram o programa

“Sabado Show”, transmitido do auditório da TV-Jornal aos sábados, à

tarde Eu fazia a produção e muitas vezes me perdia no comando do

programa, porque os dois saiam do roteiro, inventavam mil presepadas e

conseguiam fazer o publico rir o tempo todo. Era, por assim dizer, um

programa de variedades ancorado por dois excelentes comediantes.

Doente dos rins, Aguinaldo chegou a se submeter a sessões de

hemodiálise três vezes por semana. Uma batalha contra a morte. Numa

das sessões o coração não resistiu. No velório do Hospital Português, fui

vê-lo pela ultima vez. Ao invés de rir de suas presepadas, chorei

copiosamente. Que Deus o tenha.

Page 46: Novela da Minha Vida - Livro do Jornalista Miguel Santos

Capitulo 16

SHOW DO HOMEM COM “H”

Tive o privilegio de administrar, juntamente com Jota Ferreira e Jorge

José, um show para o mega-empresário Manoel Poladian. Ficamos

responsáveis pela mídia, contatos com as autoridades, logística de

transporte, hospedagem no Hotel Quatro Rodas, em Olinda, trabalho que

nos rendeu um percentual da renda liquida do espetáculo.

Para quem não conhece, Manoel Poladian está há mais de 50 anos no

batente. É difícil citar um grande artista nacional ou internacional que não

tenha trabalhado com ele. Sarah Vaughan, Julio Iglesias, Ray Charles, Tina

Turner, Liza Minelli, Sting, são algumas celebridades da musica que

tiveram shows administrados por Poladian. Na relação dos brasileiros

estão Roberto Carlos, Rita Lee, Elis Regina, Gal Costa, Caetano Veloso,

Ney Matogrosso, Maria Bethania, entre outros. Como empresário de faro

aguçado e muita experiência, Poladian costuma também contratar um

artista antes de ser sucesso, investe na carreira colocando-o nos melhores

espaços da mídia e quando o mesmo atinge o estrelato começa, então, a

ganhar dinheiro, muito dinheiro, com ele.

Foi assim com Ney Matogrosso, recém-saído do grupo “Secos &

Molhados” para fazer carreira solo. Durante os dois primeiros anos

Poladian consolidou a imagem de Ney como um novo fenômeno, pela

irreverencia e erotismo de sua coreografia em cena, cantando musicas que

ganharam rapidamente o gosto popular. Depois de se exibir no Anhembi,

em São Paulo, no Canecão e Maracanãzinho, no Rio de Janeiro, Ney

trouxe suas plumas e paetês e seus trejeitos para o palco do Geraldão com

a citação em todos os anúncios e matérias em jornais que seria “o maior

show do ano”, o que realmente aconteceu. O espetáculo foi realizado no

dia 15 de outubro de 1981 e agitou o Recife. Os ingressos foram

disputados a peso de ouro uma semana antes do evento. Ocorreram

problemas sérios com a Ordem dos Músicos e o Sindicato dos Músicos,

que queriam embargar o show. Os empresários - Poladian, Jota

Ferreira e eu – fomos todos parar na policia para prestar esclarecimentos

relacionados aos contratos com o artista e os músicos do show. A imprensa,

principalmente o jornal vespertino “Diário da Noite” divulgou com certo

sensacionalismo, os acontecimentos, tanto as informações positivas sobre

a expectativa do publico para o show como, e principalmente, para esses

lances que envolviam um pretenso descumprimento das obrigações

contratuais por parte dos empresários.

Page 47: Novela da Minha Vida - Livro do Jornalista Miguel Santos

Superados esses problemas, surgiram outros bem mais graves. O

Geraldão pegou o maior publico de toda a sua historia. Para mais de 20

mil pessoas, gente apinhada por todo canto, enquanto pelo menos 5 mil

ficaram nas cercanias do Ginásio sem poder entrar, causando tumultos,

quebra-quebra, todo tipo de vandalismo que deu muito trabalho à Policia.

Até o Batalhão de Cavalaria foi chamado para conter a multidão. Lembro

que logo cedo uma mulher, que havia sofrido um mal súbito, foi içada por

cabos de aço da arquibancada para uma viatura do resgate do Corpo de

Bombeiros estacionada ao lado. Foi nessa hora que a policia pediu para

fechar os portões do Geraldão, porque não cabia mais ninguém. O povo

queria entrar à força e alguns portões do Ginásio foram danificados.

Nessa hora um medo tomou conta de mim. Saí de perto do tumulto e

fui tomar uma cervejinha num barzinho, onde fiquei observando tudo à

distancia com muito receio de que o pior poderia acontecer.

. No dia seguinte, o então jornal vespertino Diário Noite publicou

como manchete principal: “Tapas, Roubos e Feridos no Show do Homem

com H”. E foi o que realmente aconteceu. O que não se previu,

certamente, foi a ação dos cambistas, que venderam ingressos falsificados e

causaram toda essa superlotação

O que importa é que aprendemos muito e ganhamos uma excelente

compensação financeira..

Dois meses depois, o mesmo Poladian quis bancar com a gente o

show “Festa do Interior”, titulo da musica que tocava em todo o canto na

voz de Gal Costa. O mesmo grupo local achou que ia se repetir o mesmo

sucesso de publico do show de Ney. Topamos a parada, mas houve um

erro de logística. O show daria mais certo se fosse no Teatro Guararapes,

para um publico mais refinado. O ginásio não era local para Gal. Na ânsia

de voltar a ganhar muito, perdemos tudo, pelo menos o trabalhão que

tivemos.

Fica aqui, para encerrar, a opinião de um empresário que conheço:

- “Bancar show é um perde-ganha pior que jogar no bicho....”

(Nas paginas seguintes, alguns recortes dos jornais noticiando as

broncas verificadas durante o evento. Claro que as paginas de elogios

ao espetáculo não estão aqui publicadas porque foram muitas e em todos

os jornais da época).

Page 48: Novela da Minha Vida - Livro do Jornalista Miguel Santos
Page 49: Novela da Minha Vida - Livro do Jornalista Miguel Santos
Page 50: Novela da Minha Vida - Livro do Jornalista Miguel Santos
Page 51: Novela da Minha Vida - Livro do Jornalista Miguel Santos

Capitulo 17

MEU ENCONTRO COM LULA

Ao assumir a direção da Massangana Multimídia, a produtora de vídeo

da Fundação Joaquim Nabuco, o meu amigo Jorge José Santana me

convidou para participar de alguns projetos da instituição. Um desses

projetos tinha o patrocínio da SUDENE e se destinava a ressaltar a

importância dos incentivos fiscais oferecidos pela autarquia de

desenvolvimento do Nordeste. Os vídeos me levaram a conhecer

destacadas empresas localizadas na região, entre as quais uma industria

de plástico no Distrito Industrial de João Pessoa, uma empresa de

confecções em Natal-RN, a Raymundo da Fonte em Paulista-PE, entre

outras.

Mas, o projeto que mais me emocionou foi o denominado “Nomes

que fazem a diferença”, no qual eram ressaltadas personalidades publicas

que se destacaram em vários segmentos da nossa sociedade. Tive o

privilegio de produzir os vídeos sobre o empresário Armando Monteiro

Filho, o ex-governador Cid Feijó Sampaio e o ex-prefeito do Recife, José

do Rego Maciel. O trabalho consistia em realizar pesquisas sobre cada um

dos entrevistados, obter depoimentos de pessoas do seu rol de amigos,

companheiros de trabalho e familiares, elaborar um roteiro para as

entrevistas comandadas pela experiente apresentadora Carmen Peixoto e,

finalmente, ilustrar a edição, com imagens recentes e/ou colhidas dos

álbuns de família dos entrevistados.

Durante toda essa minha experiência profissional fui repreendido

publicamente duas vezes. A primeira quando tentei captar imagens do dr.

José do Rego Maciel e família assistindo missa na Capela de Jesus Menino

de Praga, existente na Avenida Conselheiro Aguiar, em Boa Viagem.

Cheguei cedo com a equipe, instalamos a câmera, iluminação e som para a

captação da missa e da presença de familiares. Na época, o filho do

homenageado era o Vice-Presidente da Republica, Marco Antonio Maciel.

Poucos minutos antes da missa duas viaturas da Policia Federal chegaram à

Igrejinha, fazendo o cortejo de segurança do carro que conduzia o vice-

presidente. E logo que ele entrou no recinto e viu o nosso “circo” armado

mandou um dos seguranças solicitar delicadamente a nossa retirada do

local, porque não queria que aquele momento íntimo da família fosse

registrado por câmeras, luzes e tudo mais. Fiz o que foi solicitado, mas o

câmera foi orientado por mim para buscar, mesmo de longe e sem a

iluminação adequada, algumas imagens do dr. José do Rego Maciel

ajoelhado, rezando, ao lado do filho. Essas mesmas imagens foram

colocadas no vídeo e causaram a emoção tão esperada por todos nós.

Page 52: Novela da Minha Vida - Livro do Jornalista Miguel Santos

A segunda repreensão foi do empresário Armando Monteiro Filho.

Na lista que tinha sobre os seus grandes amigos estava o nome de Luiz

Inácio Lula da Silva, então pré-candidato a Presidente da Republica.

Demonstrei a Jorge José a minha disposição de ir à Brasília ou à São Paulo,

onde ele estivesse, para obter o depoimento de Lula para o documentário.

Mas, o projeto não dispunha de verba suficiente para essa despesa.

Pesquisei por onde andava Lula e, coincidentemente, ele estava agendado

para receber uma homenagem em Petrolina e que, depois, viria para o

Recife. No dia da homenagem, segui com a equipe para o Aeroporto dos

Guararapes. Em nenhum balcão das empresas aéreas havia o registro do

passageiro Luiz Inácio Lula da Silva. Fui bater com os costados na

Infraero e lá me orientaram para procurar os hangares das empresas que se

utilizam de aviões particulares. Dito e feito. No hangar da Empreiteira

Queiroz Galvão confirmei a chegada de uma aeronave vinda de Petrolina

com o precioso passageiro. Montei meu esquema para gravar o

desembarque de Lula e logo em seguida o depoimento que ele certamente

daria se referindo ao dr. Armando, mas eu não contava que o homenageado

estaria também na recepção. Quando o dr. Armando me viu, foi

categórico:

- “Por favor, não fica bem essa ostentação para o nosso encontro

que não é publico. É encontro muito reservado...”

- “Dr. Armando, vamos ficar escondidos. Lula não vai notar que

estamos aqui. Só depois que o senhor se retirar é que vou conversar com

ele e explicar a nossa intenção.” – foi o que eu disse.

Lula recebeu um forte abraço do dr. Armando ao descer do avião.

Conversaram por um período e, em seguida, dr. Armando foi embora.

Fui ao encontro de Lula, expliquei o que estava buscando e ele, de

imediato, se propôs a dar o depoimento. Enquanto urinava no

banheiro da sala vip ele perguntava detalhes do trabalho que eu estava

realizando. Ainda no banheiro, trocou de camisa, penteou os cabelos

e disse: - “Estou pronto para falar.”

A câmera foi ligada e ele começou:

- “A minha relação de amizade com dr. Armando Monteiro é

uma relação, eu diria, até um pouco recente,. Primeiro, eu conhecia dr.

Armando de leituras sobre o Governo João Goulart; depois eu me inteirei

umn pouco mais sobre dr. Armando nas conversas com Brizola; depois

euconheci um pouco mais dr. Armando nas eleições de 1994, quando ele

era candidato a Senador , e aí eu acho que reside a interação das pessoas.

Como é que nasceu essa nossa amizade ? Eu estava em Petrolina, nós

íamos fazer um comício, eu era candidato a Presidente pelo PT, o Armando

Monteiro era candidato ao Senado na chapa de Arraes, mas apoiava o

Page 53: Novela da Minha Vida - Livro do Jornalista Miguel Santos

Brizola enquanto candidato a Presidente da Republica, e quando dr.

Armando foi falar , o publico de Petrolina, uma parte do publico, deu uma

vaia no dr. Armando. E vaiaram Dr. Armando porque ele falou o nome do

Brizola, ou seja, eu era o presidenciável que estava no palanque e ele

defendeu o nome do Brizola, e por isso deram uma vaia no Dr. Armando.

Eu fiquei pensando que o Dr. Armando estava certo, ele tinha mais era que

defender o Brizola, afinal de contas ele era o candidato do partido do

Brizola, e Brizola era candidato como eu e não era pelo fato de eu estar

naquele palanque que Dr. Armando teria que mudar e me apoiar, porque aí

, com seria virar a casaca da forma mais esdrúxula possível. Foi pensando

assim que eu construí no meu imaginário um respeito muito grande ao

Armando Monteiro (.....) Eu tenho um profundo respeito pelo Armando,

pelo seu passado político, mas sobretudo pelo seu caráter e pelo seu

comportamento ético (....) e prá mim a ética é muito importante neste

Pais onde os governantes são ladrões, onde os políticos são corruptos,

onde delegado rouba, policial rouba, governante rouba, juiz rouba. Quando

a gente encontra um homem honesto, a gente tem que estender a mão e

falar: - “é com esse que eu vou”.

O video documentário sobre Dr. Armando Monteiro Filho foi

lançado no Cine-Teatro da Fundação Joaquim Nabuco, no Derby, no dia

6 de dezembro de 2000 e foi noticia em todos os jornais. Na ultima pagina

deste capitulo, reproduzo uma matéria que foi publicada na “Folha de

Pernambuco”, com fotos sobre o evento.

E sobre Dr. Cid Feijó Sampaio resta a grata satisfação de ter me

aproximado de um homem que eu já admirava como governante, que lutou

pelo desenvolvimento industrial de Pernambuco. Dr. Cid era um politico

obstinado, impetuoso, inovador, um autentico líder empresarial e um

gestor de extraordinária competência no zelo pela causa publica.

Page 54: Novela da Minha Vida - Livro do Jornalista Miguel Santos
Page 55: Novela da Minha Vida - Livro do Jornalista Miguel Santos

Capitulo 18

MISTER JOHN

Houve um período - em um ano que não me recordo - que a carne

bovina desapareceu do mercado. Do mercado só, não: do açougue,

do matadouro, do frigorífico, de todo canto. Não me atrevo a explicar

os motivos desse sumiço porque realmente não me lembro mais. Foi

a “crise do boi”. Quem adorava saborear um churrasco, uma picanha

ou mesmo uma carne moída ficou na pior. O “black-out” da carne foi

geral, tanto das carnes nobres como das partes mais populares do boi.

Foi nesse clima de total abstenção da carne bovina que os meus

companheiros Marcos Macena e Jorge José chegaram com uma boa

noticia:

- “Mister John vai matar um boi na fazenda dele e convidou a

gente. Vamos lá ?” - Macena fez a pergunta prá mim. Jorge José

explicou:

- “ É um amigo da gente. Ele é americano. Está há bem pouco

tempo no Brasil e tem uma fazenda em Tapera”.

Tapera chama-se hoje Bonança e fica no município de Moreno.

Louco prá comer e levar prá casa um fardo de carne ou, pelo menos,

um quilo, aceitei o convite dos colegas e lá fomos no carro de Jorge

em direção à então Tapera. A conversa dos amigos era sobre Mister

John:

- “Como é que um cara como Mister John deixa os Estados

Unidos prá vir morar nesse fim de mundo....”

- “Mas, ele soube aplicar o dinheiro que trouxe. Tem uma

bela fazenda, muito gado e vive feliz com a família. Isso é o que

importa.” – complementou Macena para Jorge concluir:

- “Mister John é um homem feliz mesmo, porque tem uma

mulher loura muito bonita de olhos azuis como ele e duas

crianças que são uma gracinha...”

As opiniões de Macena e Jorge eu ouvia sem poder fazer

um comentário, porque ainda não conhecia Mister John, embora

estivesse cada vez mais ansioso para dar de cara com ele.

Chegamos em Tapera. Deixamos a BR-232 para entrar numa

rua sem pavimento, cheia de buracos. Macena explicou:

- “Não se espante com o lugar, Miguel. A fazenda de Mister

John é meio escondida...fica lá no alto.” – e apontou para um morro.

Jorge dirigia o carro subindo e descendo em ruelas e becos

tão apertados que o veiculo passava roçando os casebres. Diante de

Page 56: Novela da Minha Vida - Livro do Jornalista Miguel Santos

uma casinha bem modesta de porta e janela, o carro parou. Um cara

de meia idade, poucos dentes na boca, barba por fazer, rodeado de

dois meninos bochudos, se aproximou e foi dizendo:

- “Veio buscar carne, dotô” ?

- “ gente veio, sim, Mister John...” – e com uma gargalhada

Macena olhou prá mim. O cara não entendeu a brincadeira, mas eu

senti na pele a gozação. Mister John não era outro senão aquele

cidadão sem camisa, pitando um cigarro, que logo entrou no barraco

onde morava, chamando a gente para segui-lo. No quintal, estava a

“preciosidade”: pedaços de carne ensangüentada em uma bacia de

banho. Ossos em outro vasilhame. Não havia muita higiene e muito

menos a fiscalização da Vigilância Sanitária. Era como se estivesse

ali um produto contrabandeado. Um abate de carne clandestina. O

preço do quilo meus dois “muy amigos” já haviam combinado. Só

que era uma venda casada. Ao levar um quilo de carne tinha-se que

levar também um quilo de osso. Mister John, dirigindo-se a mim,

explicou:

- “Não pode sobrar nada. Com o osso, dotô, o sinhô faz uma

sopa....” Eu concordei com ele. Só não concordei com a gozação

dos dois companheiros... Mister John era uma figura de ficção criada

pela imaginação fértil do excelente produtor de Televisão, Jorge José

e pelo talentoso ator e locutor, Marcos Macena, duas importantes

”figuraças”, pelas quais tenho grande admiração

Marcos Macena, talentoso locutor, ator e comediante, com

quem convivi em várias oportunidades, inclusive na visita a Mister John.

Page 57: Novela da Minha Vida - Livro do Jornalista Miguel Santos

Capitulo 19

LUIZ GONZAGA

O REI DO BAIÃO

Apesar de ter sido produtor de diversos programas de rádio e

televisão, inclusive alguns de auditório, foram poucas as oportunidades

que tive de contatos com Luiz Gonzaga – o Rei do Baião. Três momentos,

porém, marcaram definitivamente a minha vida em relação a esse artista

que se imortalizou como o maior divulgador da musica nordestina.

Lembro de Gonzaga dando uma entrevista no programa de Samir

Abou Hana na Radio Tamandaré num ano que não me recordo mais. A

segunda oportunidade foi mais marcante. Como produtor do “Programa

Jota Ferreira”, mantinha uma equipe de jurados para avaliar o quadro de

calouros, que era uma das grandes atrações do programa transmitido aos

sábados, à tarde, do auditório da TV-Jornal. Uma das juradas era Edelzuita

Barros, uma moça muito simpática, que àquela altura era “namorada” de

Gonzagão. Eu não sabia dessa amizade. Quando decidimos realizar um

grande show no Geraldão para assinalar a passagem do primeiro

aniversario do programa, mais de uma dezena de artistas famosos vieram

do sul do pais para participar da festa. E entre eles estava “seu” Lula.

Antes de o espetáculo começar, fui até a área destinada aos artistas para

anotar os nomes dos que já haviam chegado e me deparei com Edelzuita,

que, ao me ver, correu para me abraçar e me beijar como fazia sempre de

um modo muito carinhoso e respeitoso. Não observei que Gonzagão estava

ao lado dela com uma cara de poucos amigos. Edelzuita percebeu o clima

e disse pro grande artista de Exu:

- “Gonzaga, este é o produtor de Jota Ferreira, que me dá a feliz

oportunidade de participar do programa. É um grande amigo meu”

“Seu” Luiz apertou minha mão, mas senti que o ciúme tomava

conta dele naquele momento.

Page 58: Novela da Minha Vida - Livro do Jornalista Miguel Santos

Edelzuita foi o ultimo grande amor de Gonzagão. Com muita

dedicação e carinho, ela acompanhou sua agonia no Hospital Santa Joana,

onde ficou internado até o fim de sua vida. Como repórter da TVU, estive

por mais de uma vez no hospital e entrevistei o medico que o acompanhou

nos últimos momentos de sua vida.

No dia do velório no plenário da Assembléia Legislativa, lá

estava eu de novo me encontrando com Luiz Gonzaga, desta feita numa

situação extremamente triste: ao lado de sua urna funerária. A TVU

mostrou ao vivo as enormes filas que se formavam ao longo da Rua da

Aurora e as pessoas mais ilustres que chegavam para velar o corpo do

inesquecível artista. Entrevistei, na ocasião, Rosemary, Gonzaguinha,

Reginaldo Rossi, Alcymar Monteiro, entre outros. Eu estava ao lado do

caixão com o microfone da TV, quando chegou o Arcebispo de Olinda e

Recife, Dom Helder Camara para celebrar a missa de corpo presente.

Quis ouvir alguma palavra do nosso inesquecível Arcebispo e perguntei:

- “Dom Helder, um momento de muita dor para todos nós...?”.

Ele encerrou a entrevista sem começar, Disse apenas:

- “O momento é de silencio e prece, meu filho”.

E fiquei com a cara no chão.

Instantes depois, o corpo de Luiz Gonzaga seguiu numa viatura

do Corpo de Bombeiros para o aeroporto militar, onde um avião o levou

para Exu, sua ultima morada.

Page 59: Novela da Minha Vida - Livro do Jornalista Miguel Santos

Capitulo 20

ROBERTO CARLOS EM TRÊS ATOS

A primeira vez foi quando o Rei da Jovem Guarda ainda despontava com

o seu primeiro sucesso: “Calhambeque”. Eu era assistente da Supervisão

Administrativa da TV-Jornal. Naquela época, o organograma da

Emissora era dividido por supervisões – a Administrativa, a Artística, a

Técnica. Eu fazia parte da administrativa, tendo como meu chefe o

inesquecivel Mayerber de Carvalho, de quem guardo muitas lembranças e

de quem sou profundamente grato por ter me orientado nos primeiros anos

das minhas atividades no Radio e na Televisão.

Voltando a Roberto Carlos. Ele tinha vindo participar do programa

“Noite de Black-tie”, o super-programa de auditório dos sábados

comandado por Luiz Geraldo. A supervisão administrativa ocupava uma

sala ao lado do gabinete da superintendência e nessa noite, além do

Superintendente da Empresa JC, Paulo Pessoa Queiroz, estava também o

fundador F. Pessoa de Queiroz, então Senador da Republica, e alguns

familiares, inclusive alguns adolescentes netos do grande empresário de

comunicação. Além de cuidar da burocracia da Supervisão Administrativa,

eu me ocupava também de dar assistência ao Superintendente, quando ele

lá estava em seu gabinete. Nessa noite, terminada a apresentação de

Roberto Carlos no palco-auditorio, que era o Estúdio A do Canal 2, dr.

Pessoa fez o pedido:

- Peça pro Roberto vir até aqui para que meus netos possam

cumprimentá-lo” - saí, então, como uma bala pelos corredores da

Emissora até encontrar Roberto Carlos já dentro do carro estacionado na

porta lateral de acesso ao estúdio onde havia se apresentado. Fui direto ao

assunto, sem passar pelo seu empresário:

- ”Roberto, o senador F. Pessoa de Queiroz gostaria de

cumprimentá-lo.”

Roberto foi atencioso, mas respondeu que estava muito cansado e

que receberia, sim, o senador mas no hotel onde estava hospedado.

Voltei com o sentimento de ter fracassado na missão que me havia sido

confiada, mas como sempre fui uma pessoa que entendia os sentimentos

das pessoas, principalmente de um cantor que, pór ter sofrido um acidente,

Page 60: Novela da Minha Vida - Livro do Jornalista Miguel Santos

tinha ainda dificuldades de andar e até de subir lances de escadas como

teria que fazer para chegar ao gabinete do Senador, transmiti o recado de

Roberto, informando que ele o aguardava no hotel.

Dr. Pessoa juntou a família, e mais que depressa rumou para o Hotel

São Domingos, na época o melhor existente no centro do Recife. Lá,

Roberto Carlos recebeu os netinhos e familiares do homem forte da

comunicação em Pernambuco e então Senador da Republica.

O segundo ato dos meus três encontros com Roberto Carlos foi no

então Hotel Othon Palace, em Boa Viagem. Já era considerado um

grande ídolo do Brasil. Tanto que a imprensa foi convocada para.uma

entrevista coletiva. Compareci na condição de produtor executivo do

“Programa Samir Abou Hana”, da Radio Tamandaré, líder de audiência

na época. Dois fatos marcaram esse meu segundo encontro com Roberto

Carlos. O primeiro deles ocorreu já no finzinho da entrevista. Tinha sido

encarregado por Samir de obter algo que eu próprio não esperava que fosse

conseguir. Mas, engatei o pedido inusitado para o meio do ano:

- “Roberto, grava uma mensagem de Natal para os ouvintes da Radio

Tamandaré”

Lembro que Roberto deu uma gostosa gargalhada:

- “Mas, bicho, mensagem de Natal em pleno mês de maio ?”

A “risadagem” tomou conta da sala inteira. Os puxa-sacos queriam

agradar ao chefe. Foi quando Roberto surpreendeu a todos:

- “O rapaz está certo. Eu não vou voltar este ano ao Recife e esta é a

oportunidade que ele tem de fazer esse pedido. Vou atendê-lo, cara.

Prepara o gravador. E mandou ver uma mensagem de Natal exclusiva para

a Radio Tamandaré e ainda emendou com outra para o Fim do ano.

Samir agradeceu a minha valiosa conquista e a Tamandaré teve o

privilegio de irradiar uma mensagem natalina personalíssima naquele ano

na voz do não menos consagrado ídolo de todos os brasileiros.

Nessa mesma coletiva, eu fui mais longe. Quando RC se preparava para

sair, novamente lhe indaguei:

- “Daria prá você cumprimentar um companheiro que está no estúdio,

nesse momento, fazendo um programa com suas musicas ?”

- “Pois, não. Liga prá ele, cara “

Imaginem o sufoco. Um telefone extensão na sala vip do hotel para eu

ligar para a central técnica da Radio. Fiz primeiro o contato com a

telefonista do hotel, que imediatamente me colocou em contato com Biu

Montanha, o operador da central da Radio Tamandaré. Biu não quis

acreditar no que eu dizia. Chamou o saudoso Rui Cabral, que era o

Page 61: Novela da Minha Vida - Livro do Jornalista Miguel Santos

produtor de Ednaldo Santos, que estava no estúdio realmente comandando

um programa entremeado de musicas do rei RC. Convencer Rui que eu

estava com RC diante de mim e que ele ia falar ao vivo com Ednaldo

Santos foi um dos momentos mais angustiantes da minha vida. Rui não

queria acreditar. Pensava que era uma das minhas brincadeiras.

Até que de tanto insistir, ele mandou Biu “linkar” a linha com o estúdio.

Quando Ednaldo Santos (fã ardoroso de Roberto) disse, sem acreditar:

- “Parece que o Roberto Carlos está na linha...”.

Roberto cortou:

- “Estou sim, Ednaldo Santos. Boa tarde, bicho.”

Ednaldo quase cai da cadeira. Foi um papo de quase meia hora.

Roberto em pé, os assessores cobrando-lhe o fim do telefonema, e Roberto

no maior papo com Ednaldo Santos. Para o querido comunicador que hoje

atua no Radio Jornal, foi uma das maiores emoções de sua vida.

O terceiro e ultimo ato dos meus encontros com Roberto Carlos se

deu no Geraldão. Samir Abou Hana, líder de audiência já na Radio

Globo, tinha uma entrevista agendada com o idolo em seu camarim no

proprio Geraldão, onde realizaria um grande show de casa lotada. RC

chega sempre muito cedo aos locais onde se apresenta para se ambientar,

passar o som, fazer um pequeno ensaio, e até relaxar antes do espetáculo.

Nessa tarde, chegamos por volta das 4 horas.Eu também trabalhava no

Jornalismo da TV-Universitaria e apoveitando o momento achei que podia

também gravar uma ,entrevista para a TVU e uma equipe foi escalada

também para o local.

Fim da entrevista gravada por Samir fiz o pedido a Roberto:

- “Podemos gravar uma mensagem para a primeira Televisão Educativa do

Brasil ?,”

Roberto foi sincero. Estava ali muito à vontade, de cara limpa, e que

preferia que a entrevista fosse dada antes do show. E aí foi que eu passei a

admirar o grande artista. Ele mesmo produziu a entrevista como se fosse

um editor de jornalismo. E explicou como tudo deveria acontecer:

- “Você chega na porta aqui do camarim, dá uma batidinha, eu abro, você

conversa comigo aqui na porta, eu me despeço e subo aquela escada

como se fosse para o palco. Você, então, edita a minha imagem já no

palco e começando o show. Tá legal assim, cara ?”

Tava mais do que legal. E foi assim que aconteceu. Uma matéria

elaborada pela imaginação do excepcional artista.

Page 62: Novela da Minha Vida - Livro do Jornalista Miguel Santos

Capitulo 21

CLAUDIA & GARIN

A cantora Claudia Barroso, ainda com uma certa projeção no cenário

musical brasileiro, resolveu vir trabalhar no Recife como apresentadora de

um programa de auditório. Fez contrato com a TV-Jornal em 1979. Fui,

então, indicado para produzir o programa. Mas, tanto ela como o marido, o

empresário José Roberto, talvez não tivesse confiança no meu trabalho.

Na semana da estréia do programa, eles convidaram Humberto Garin,

diretor do setor musical do SBT para dar uma olhada no meu trabalho.

Veio ao Recife, leu o roteiro do programa e acompanhou o ensaio. Depois,

disse para Claudia:

- “A produção do programa está bem entregue. Não sei o que vim

fazer aqui.” – e teceu elogios ao meu trabalho.

O programa estreou e seguiu seu rumo, sem maiores complicações.

Só que o marido de Claudia era um fascinado pela mulher. Achava-a a

estrela maior da Televisão brasileira. E caiu no mercado publicitário para

vender as cotas do programa, cotas que custavam mais caras que as

inserções no Jornal Nacional, da Rede Globo. O mercado publicitário não

reagiu favoravelmente e o programa começou a definhar pelo lado

economico. Meu cachê estava atrasado três meses quando eu senti que o

mesmo acontecia em relação ao pagamento do contratado firmado com a

Televisão. Nesse ínterim, o casal, que tinha ainda a companhia da filha de

Claudia e o marido, deixava o Hotel São Domingos, onde estava

hospedado para ir morar num apartamento de cobertura do dono do hotel,

que ficava na Av. Agamenon Magalhães, próximo do Hospital da

Restauração. Pelo menos, o hoteleiro se livrava da diária com

alimentação no hotel.

Foi quando a TV não agüentou mais o prejuízo e cancelou o

programa, que, por sinal, tinha razoável audiência. O meu prejuízo não foi

maior porque recebi umas letras promissórias para descontar mensalmente

de uma loja de confecções. Sabendo da situação, o lojista se aproveitou

para não me pagar em dinheiro. Virou permuta e eu reforcei meu guarda-

roupa com ternos, calças, camisas, cuecas, etc.

Claudia Barroso em foto recente

Page 63: Novela da Minha Vida - Livro do Jornalista Miguel Santos

Uma coisa valeu: a amizade com Humberto Garin. Meses depois

do cancelamento do “Programa Claudia Barroso”, Garin me pediu para

indicar dois cantores amadores entre os muitos que participavam dos

quadros de calouros dos programas da TV. Teria que ser um casal para

participar de uma disputa em São Paulo. Tratava-se da sequencia “A Mais

Bela Voz do Brasil” do programa comandado por Jota Silvestre no SBT.

Convoquei, então, Ivan Sales e Valdete Tavares, efetivamente dois

excelentes cantores que ainda não haviam assumido o profissionalismo.

Segui com eles para a capital paulista. Era uma segunda-feira. E tudo foi

muito rapidinho. Chegamos pela manhã. À tarde, os cantores já ensaiavam

com a grande orquestra do maestro Milani. Lembro que em dado momento

Jota Silvestre, que assistia ao ensaio, disse baixinho pro maestro:

- “Essa dupla de Pernambuco vai ganhar e aí não vai dar...”

O antipático apresentador se referia ao fato de que a jogada do

programa era que os artistas de Pernambuco perdessem para os cantores

do Rio de Janeiro e os dois representantes cariocas enfrentariam, na

grande final, os cantores de São Paulo. Ainda havia por cima a questão de

que o programa não era exibido no Recife.

O risonho (só no vídeo) Jota Silvesre anunciou Ivan Sales e o garoto

começou a cantar houve de tudo: o m icrofone falhou, a orquestra atrasou,

mas a platéia aplaudiu assim mesmo. A mesma coisa aconteceu com a

Valdete. No fim, a comissão julgadora (já devidamente preparada) deu a

vitoria aos dois cantores cariocas. Nos bastidores, todos os jurados foram

unânimes em afirmar que os pernambucanos foram melhores que os

cariocas. Sandra de Sá, uma das juradas, chegou a se desculpar:

- “Vocês foram maravilhosos. Só que o resultado já estava escrito,

sabe como é, né ?”

Manhã do dia seguinte, ao sairmos do hotel no Largo do Arouche

para um passeio pelo centro da cidade, várias pessoas pararam a gente para

se referirem ao resultado desastroso da competição.

Mas, o publico não entende esses macetes, porque na TV o que

importa mesmo é a audiência... Garin prometeu mandar o vídeo-tape do

programa. Estou aguardando até hoje....

Page 64: Novela da Minha Vida - Livro do Jornalista Miguel Santos

Capitulo 22

O MUNDO QUE CONHECÍ

Conheci o México City e Bogotá (Colômbia), simultaneamente.

Passei um mês em cada uma, no ano de 1971. Escolhido para representar

a TV-Universitária no projeto de intercambio das televisões educativas

da America Latina, patrocinado pela OEA – Organização dos Estados

Americanos, participei de um estágio de observação nas duas capitais.

Juntamente com a saudosa companheira de trabalho, Ivanise Palermo.

Aprendemos muito pouco durante a viagem, porque em matéria de

comunicação o Brasil sempre foi bastante avançado e criativo. O que

restou da viagem foi o turismo que fizemos. Nos finais de semana, dentro

da programação traçada, tive o privilegio de conhecer pontos turísticos

inesquecíveis. O México, chamada de “Cidade dos Palácios”, possui

monumentos arquitetônicos suntuosos, como o Museu de Antropologia,

que a pessoa leva pelo menos dois dias para conhecer o acervo de peças

arquologicas, artesanais e folclóricas do país; a Catedral do México, o

Palácio Nacional, o Palácio de Belas Artes; a Praça das Três Culturas; a

Cidade Universitária; o Estádio Azteca, onde o Brasil se sagrou tri-

campeão na Copa do Mundo de 1970; e a Torre Latimo-americana, com 47

andares, de onde se pode ver toda a Grande Capital; estivemos também em

Xochimilco, onde barcos decorados com flores circulam por canais

atraindo turistas; e a fantástica Praça das Pirâmides Aztecas, em San Juan

de Teotihuacán.

Uma coisa não me agradou: a culinária mexicana, muito carregada

na pimenta. Outra coisa que atrapalha é a altitude. México fica há quase

800 metros acima do nível do mar. Quem não está preparado se cansa logo

nos primeiros passos.

Encontrei Bogotá em crise política intensa. Muito pouca segurança

nas ruas. No segundo dia, os jornais noticiaram a morte de passageiros e

do motorista de um ônibus que trafegava pelo centro da cidade e foi alvo

da ação de terroristas. Os recepcionistas do hotel onde estava hospedado

me aconselhavam sempre a não sair sozinho, principalmente à noite. Fui

proibido até de atravessar a rua para comprar cigarros. Mas, apesar de

tudo, tive a oportunidade de assistir a uma tourada, na principal praça

de touros da cidade. Não gostei dos trejeitos do toureiro, mas ele

ganhou a parada para o touro e foi muito ovacionado pela torcida. Ambos

saíram carregados: o toureiro pelo triunfo alcançado. O touro porque

morreu em praça publica. O espetáculo lembra as épocas remotas em que

leões devoravam seres humanos para alegria do povo.. Ainda em Bogotá,

conheci o Salto de Tequendama, uma queda dágua muito parecida com a

que existe na cidade de Canela (RS),

A cascata tem 140 metros de altura, há pouco mais de 40 quilometros da

Page 65: Novela da Minha Vida - Livro do Jornalista Miguel Santos

Capital. Na primeira vez, só ouvimos o som da água caindo,. Um forte

nevoeiro escondeu de nossos olhos essa beleza da Natureza. No dia

seguinte, o tempo continuava nublado, mas não existia o nevoeiro e

conseguimos visualizar o maravilhoso espetáculo.

Durante um curso de radio educativo, realizado no Rio Grande do

Sul, reunindo profissionais de todo o país, ocorreu a chance de pisar em

outro solo estrangeiro. Era um fim de semana majs longo – o feriado de

8 de dezembro caiu na sexta-feira e os companheiros mais abastados e que

moravam em Estados próximos decidiram causar inveja na gente, os

“matutos” do norte-nordeste. Eles decidiram passar o fim de semana em

Buenos Aires e como a nossa grana (já era o finzinho do curso, que durou

25 dias), não dava para vôos mais altos, resolvemos participar de um

pacote turístico até Montevidéu, com passagens pelas praias de Punta Del

Leste e Piriápolis. Participaram da excursão meu conpanheiro

pernambucano Washington França, um amazonense e um cearense.

Saímos as 7 da noite do centro de Porto Alegre e as 7 da manhã estávamos

em Montevidéu. O passeio foi maravilhoso. Conhecemos Punta Del Leste,

famoso laneário do litoral uruguaio e outras regiões litorâneas. Ficamos

num hotel 3 estrelas no centro da cidade e conhecemos os pontos turísticos

no mesmo ônibus da nossa viagem. Chegamos de volta a Porto Alegre as 7

da manhã da segunda-feira. Para quem não tinha grana pra gastar em

Buenos Aires a gente se contentou com Montevidéo.

Por duas vezes estive nos Estados Unidos, precisamente em

Orlando e Miami, acompanhado por Samir Abou Hana, que já conhecia o

caminho. Orlando é um verdadeiro sonho. Depois que Walt Disney decidiu

fazer dela o lar de Mickey e seus amigos e criar a Walt Disney World, a

cidade transformou-se uma metrópole que recebe milhões de visitantes de

todo o mundo. Os parques temáticos são atrações obrigatórias, onde os

sonhos e a ficção se tornam realidade: Universal Studios, Walt Disney

Magic, Epcot Center, MGM Studios, entre outros. Ficamos hospedados no

Hotel Holiday in, na International Drive, a principal avenida do centro

turistico de Orlando a poucas quadras do Wet`n Wild, o melhor parque

aquático das Américas.

Um desses centros de diversão mais procurados é a Universal

Studios, onde são apresentadas tecnologias de efeitos especiais de filmes

consagrados, como “King Kong”, “”Tubarão”, “Terremoto”, no meio dos

quais nos tornamos personagens vivos. Um dos que mais nos atraíram foi

A criação de Stephen Spielberg. Dentro de um barco umas 10 a 15

Pessoas saem num passeio pela replica do Porto de Amity, momento em

que surge um enorme tubarão branco de 3 toneladas de puro terror. Ondas

Page 66: Novela da Minha Vida - Livro do Jornalista Miguel Santos

De excitação tomam conta dos visitantes a cada ataque da selvagem

criatura. Uma mistura de diversão e medo provoca a emoção, enquanto

enormes chamas circundam os visitantes. Explosões ecoam em todas as

direções levando os atônitos passageiros a confundir imaginação e

realidade. Cinemas em 3D, com poltronas moduladas, que giram de acordo

com os movimentos do filme, replicas de filmes de faroeste,

e o incrível vôo que fazemos no assombroso “De volta para o Futuro”,

onde uma das recomendações é não ter problemas cardíacos para

enfrentar a extraordinária sensação de voar pelo espaço.

No Parque da Disney a gente volta a ser criança. Tudo é fantasia.

Um imenso parque de diversões, onde milhares de pessoas, entre adultos e

crianças se deslumbram com a mágica sensação de causar uma emoção

diferente e o encantamento de brincar com os personagens que se tornaram

imortais no cinema. Ainda tem o Epcot Center, onde estão fabulosas

atrações construídas com a mais avançada tecnologia e a presença de onze

países do mundo, que exibem sua arquitetura, artesanato e gastronomia.

Por ultimo Miami, na região sul dos Estados Unidos onde a cultura

latina e espanhola se misturam tornando uma cidade à parte. Localizada no

litoral, Miami tem 15 milhas de praias, sendo a mais conhecida Miami

Beach. O comercio de eletro-eletronicos é a grande atração para os

turistas, valendo destacar a presença de muitas lojas de brasileiros. No

porto, há sempre um luxuoso transatlântico aguardando passageiros para as

rotas turísticas pelo Caribe. No centro, um metrô de superfície percorre os

pontos turísticos para facilitar o conhecimento do que existe de mais

significativo na cidade.

Estive em Orlando e Miami por duas vezes. Se a idade e as

finanças permitirem algum dia voltarei por lá para rejuvenescer alguns

anos da minha vida....

O ENORME GLOBO DO “EPCOT CENTER”.\

Page 67: Novela da Minha Vida - Livro do Jornalista Miguel Santos

Capitulo 23

SER ARTISTA É QUASE ISSO....

Abraçar uma carreira artística é desprezar qualquer outra coisa. É ser

fiel, eternamente fiel à gloriosa atividade de transmitir ao povo a arte pela

arte. O artista autêntico vive do presente, esquece que existe o futuro e

não se prepara para enfrentá-lo. Muitos deles sofrem profunda depressão

quando as luzes da fama se apagam. Uns porque ficaram pobres, outros

porque deixaram de ouvir o aplauso tão gratificante e que representava o

alimento da própria alma.

Essa reflexão é para afirmar que conheci muitos artistas que achavam

que jamais seriam esquecidos pelo publico ou que o tempo jamais os

haveria de levar à solidão e ao abandono. A fama seria eterna. Um

exemplo disso tem um nome: Roberto Bozan. Para quem não o conheceu

traço um perfil da pessoa. Era um cantor popular, de origem humilde, que

interpretava bolerões que algumas pessoas conhecem hoje como bregas.

A chamada musica de ”roedeira”, que tocava muito nas radiolas de ficha

que existiam em profusão nos bares e gafieiras da cidade. Bozan era

famoso, tão famoso que chegou a gravar muitos discos de vinil na

gravadora Mocambo, a única do gênero do Nordeste, que prestigiava os

artistas da terra produzindo e distribuindo discos para toda a região. Bozan

era um dos artistas que mais vendiam no mercado fonográfico. Suas

musicas eram divulgadas intensamente pelas Emissoras de Rádio. Os

grandes artistas que faziam sucesso no disco também cantavam nos

programas do Rádio Jornal e da Rádio Clube, as únicas Emissoras com

auditório na época.

Roberto Bozan era ídolo do programa “Varietê”, comandado por

Jader de Oliveira, aos domingos, à noite. Cantava ao vivo, acompanhado

de um conjunto musical da própria emissora. Práticamente era sua única

obrigação semanal. Nem precisava ensaiar porque os músicos do conjunto

sabiam de cor e salteado o que ele cantava e a tonalidade das musicas.

Botava uma béca bacana e lá estava Bozan recebendo os calorosos

aplausos das 500 pessoas que lotavam o auditório no quarto andar do

prédio do Radio Jornal, na Rua Marquês do Recife.

Apesar de trabalhar tão pouco – uma vezinha por semana - Bozan

era contratado da Emissora. Carteira assinada para ser exclusivo e não se

apresentar na estação concorrente. De tanto se sentir artista consagrado,

admirado pelo povo, Bozan não se desgrudava da fama. Estava sempre

bem vestido e quase toda tarde se postava na portaria do Radio Jornal,

com pose de galã, para receber os cumprimentos de quem passava pela

frente. E muita gente o assediava pedindo um autógrafo ou simplesmente

reconhecendo a sua figura de cantor famoso.

Page 68: Novela da Minha Vida - Livro do Jornalista Miguel Santos

Foi quando surgiu a Televisão. A grande maioria dos artistas do

Rádio passaram de malas e bagagens para o novo e revolucionário veiculo

de comunicação. Menos Bozan, que era um artista tido como popularesco

para o novo veiculo que chegava com muito luxo e sofisticação. Cantar na

Televisão, nos programas comandados por Fernando Castelão (“Você faz

o show”) e Luiz Geraldo (“Noite de Black-tie”) só os cantores admirados

pela elite ou aqueles que cantavam musicas do mais alto nível. Tinha outra

coisa ainda: a figura de Bozan, um morenão meio desengonçado, não tinha

aquela imagem de galã para enfrentar uma câmera.

Resultado: a programação das Emissoras de Rádio foram se

modificando, os programas de auditório foram se extinguindo e Roberto

Bozan terminou sendo demitido.

Eu era produtor do Rádio Jornal. A sala da produção ficava no

quinto andar do prédio da extinta sede da Empresa Jornal do

Commercio, na Rua Marques do Recife esquina com a Rua do Imperador.

Uma tarde, Roberto Bozan surgiu na minha frente me oferecendo um

pacote:

- “Compra prá me ajudar. É um quilo de fígado de boi do

açougue do meu irmão.”

O produto estava envolvido numa folha de papel de jornal, todo

ensangüentado. Olhei prá ele e indaguei:

- “Bozan, por que antes de você chegar nessa situação que está

hoje, você não procurou ocupar o tempo vago de que dispunha com outra

atividade ?” - Bozan olhou bem prá mim e foi sincero:

- “Miguel, tudo o que eu sabia fazer era cantar e jamais

imaginei que deixaria de ser artista. Agora, preciso sobreviver...” – a voz

embargou, eu paguei o preço do quilo de fígado de boi e ele foi embora.

Nunca mais ouvi falar em Roberto Bozan e ele nunca mais me

procurou. Triste sina do artista que jamais pensou que deixaria de ser um

dia ídolo do povo.

Majestoso Prédio do Parque Eletrônico do Radio Jornal do Commercio,

no bairro de Santana, , onde existiam as torres de transmissão da

Emissora. Hoje, no mesmo locql, está o Hiperbompreço de Casa Forte.

Page 69: Novela da Minha Vida - Livro do Jornalista Miguel Santos

Capitulo 24

SUSTOS NO AR

Já enfrentei muitas dificuldades no ar, ou melhor, dentro de um avião.

A primeira delas foi para Paulo Afonso, em agosto de 1959.

Eu tinha apenas 21 anos e escrevia para o jornal Folha do Povo. Fui

conhecer a Companhia Hidroelétrica do São Francisco (Chesf), que

acabava de inaugurar as três primeiras turbinas que passaram a gerar

energia para o Nordeste. A viagem foi num avião bimotor da Real

Aerovias. Estava acompanhado de Edilton Feitosa, que na época estava

concluindo o curso de piloto em Barbacena. Conhecia tudo sobre aviação.

O primeiro trecho até Garanhuns foi tranqüilo para quem nunca tinha feito

uma viagem de avião. Quando decolamos de novo, o avião fez uma curva

fechada daquelas que a gente vê a terra em cima e o céu embaixo. Edilton

comentou:

- “Isso não é permitido em vôos comerciais. Mas, o piloto quer

encurtar o caminho e lá vamos nós.... “ – e riu prá mim. Chegamos a Paulo

Afonso sem mais atropelos.

Cumpridas as minhas tarefas de conhecer de perto a monumental obra

da Chesf, inclusive visitando a imponente sala onde as três primeiras

turbinas produziam energia para a nossa região, já no final da viagem

fomos conhecer a Cachoeira e num lance de desequilibrio ao atravessar um

pequeno riacho meus sapatos sociais caíram nágua e foram embora. A

correnteza os levou. Fiquei descalço, porque eram os únicos pisantes que

havia levado. Mas, veio o conselho de gente da cidade:

- “Vai na feira de Paulo Afonso. La tem umas alpercatas muito

bonitas.”

Comprei um par de sandálias de rabicho, aquelas de couro cru que

os vaqueiros costumam usar. Pegamos o avião de volta e lá estava eu com

as tais sandálias nos pés, terno bem aprumado, camisa social, só não botei a

gravata que também tinha levado para usar numa eventual cerimônia. Na

escala em Garanhuns bronca pesada. Um cidadão, político influente na

região, havia sofrido um atentado e estava deitando numa Kombi, assistido

por um enfermeiro que lhe aplicava soro para não morrer dos dois balaços

na barriga. A família queria embarcá-lo no vôo e o comandante da

aeronave exigia o visto de uma autoridade policial. A bronca durou mais

de uma hora, Finalmente, a vitima foi embarcada e acomodada numa

cadeira-cama, enquanto a família rezava ao seu redor para que ele não

viesse a óbito em pleno vôo. Quando o avião estabilizou a comissária de

bordo passou a servir um cafezinho requentado num copinho de plástico.

Segurei o tal copinho no momento em que o avião deu uma descaída

daquelas que chamam de turbulência. O tal cafezinho borrou toda a minha

camisa branca. Parecia vômito. A porta da cabine do comandante estava

Page 70: Novela da Minha Vida - Livro do Jornalista Miguel Santos

aberta, quando ouvi ele chamar a torre do aeroporto solicitando uma

ambulância com urgência. Dois problemas se apresentaram logo para mim:

primeiro, a preocupação com meus pais que estavam no aeroporto me

esperando e podiam ficar apreensivos. Segundo – o estado lastimável da

minha camisa. Que fiz eu ? Botei o paletó e abotoei os três botões. Vejam

que imagem inusitada: um passageiro da alpercata de rabicho, paletó todo

atacado prá ninguém ver a camisa manchada e o meu semblante de

preocupado com a família. Era um domingo. Três horas da tarde. O

Aeroporto dos Guararapes era atração turística (tinha sido reformado).

Desci do avião e quando me aproximei da mureta próxima da pista de

pouso ouvi um cara gritar:

- “Matuto, quem morreu no avião” ?

Eu não disse que tinha sido a mãe dele porque a minha estava ansiosa

me esperando....

Paulo Afonso City

Em 1971 fiz minha primeira viagem aérea internacional. Destino:

México com escala no Panamá. Peguei o pássaro metálico da Panam –

considerada a maior empresa aérea do mundo – no Aeroporto do Galeão,

no Rio de Janeiro. Quando a aeronave sobrevoava Brasília o avião parecia

ter perdido força e o aviso do comandante veio logo em seguida:.

- “Senhores passageiros, estamos retornando ao aeroporto do Rio de

Janeiro, porque estamos com dificuldade em uma das turbinas.”

Daí por diante, o semblante dos passageiros já não era o mesmo.

Todos apreensivos, mas conseguimos aterrissar na mesma pista que

havíamos decolado. Aí tivemos que desembarcar para o conserto da

turbina avariada. Ao meio-dia, voltamos a bordo para almoçar. Depois,

devolveram a gente para o saguão do aeroporto. Por volta das 6 da noite,

levantamos vôo. O tempo estava fechado e um trovão seguido de um

relâmpago assombrou tripulação e passageiros. Parecia que o avião tinha

explodido. Daí por diante, vôo absolutamente tranqüilo, mas não havia

mais a conexão no Panamá. Fomos bater na Guatemala, um País que

estava atravessando violenta crise política. Fomos cercados por

Page 71: Novela da Minha Vida - Livro do Jornalista Miguel Santos

metralhadoras até chegarmos ao hotel 5 estrelas para pernoite. Às 7 da

manhã nos acordaram para o vôo programado para as 8. Quando cheguei

no aeroporto, tinha um mexicano baixinho e meio entroncado, com uma

placa na mão, com o meu nome. Era o Avendãno, meu colega mexicano.

Outra viagem atribulada foi para Teresina, no Piauí, representando

A TVU num encontro de diretores de rádio e TVs educativas do País. Meu

Companheiro Carlos Benevides, professor universitário e produtor da

Radio Universitária, tinha medo de avião. Queria ir ao encontro de

ônibus. Convenci-o a ser meu companheiro de vôo. E mesmo a contra-

gosto topou a parada. Até a escala em Fortaleza, tudo bem. Ele estava

meio tenso, mas suportando bem a altura. Quando decolamos para

Terezina, não demorou 10 minutos para o comandante anunciar:

“Estamos retornando ao aeroporto de Fortaleza devido a uma

pane no sistema de segurança de vôo da aeronave”

Benevides mudou imediatamente de cor, passou a suar frio, teve

uma crise de nervos, que foi preciso ser medicado a bordo. Já no aeroporto

ele não queria voltar ao avião, mas tanto que eu fiz que ele concordou.

Chegamos em Terezina em paz. Apreciador de peças de antiquário,

Benevides adquiriu na cidade um crucifixo de madre pérola lindo, com

mais de um metro de comprimento. Expliquei que a peça deveria ser

despachada como bagagem, porque era grande demais para ele

conduzi-la a bordo. Eu estava apenas antecipando o rolo que deu na hora

do “check-in”. Ele não queria despachar o crucifixo porque poderia

quebrar e os funcionários tentando convence-lo de que não era permitido

ele levar a peça em mãos.

Resultado: o avião ficou na pista aguardando o nosso

embarque e o vôo atrasou mais de 20 minutos. Quando Benevides entrou

no avião com o crucifixo os passageiros só não chamava a gente de arroz

doce. Ouvi dois ou três palavrões, até que um dos passageiros foi mais

sensato ou gozador:

- “Não liga, pessoal. É o Cristo ! Olha pro crucifixo dele...” – e todos

riram e o vôo seguiu tranquilo, com a proteção Divina....

Num vôo de regresso de Porto Alegre, havia uma escala em São

Paulo e outra no Rio de Janeiro antes de chegar ao Recife. No trecho São

Paulo-Rio, o Boeing da Varig pegou uma tempestade daquelas. O pássaro

de ferro jogava de um lado para o outro, subia e descia como uma pipa nas

mãos de uma criança e todos a bordo estavam certos de que havia chegado

a hora da prestação de contas com Deus.

Naquele tempo algumas aeronaves tinham duas classes distintas – a

primeira classe, VIP, nas primeiras filas da frente muito sofisticada, com

talheres de prata, pratos de porcelana e copos de vidro, tudo da melhor

procedência, enquanto a classe executiva era na base dos talheres, pratos e

copos de plástico. Por razões que hoje não sei explicar, nesse vôo fui

Page 72: Novela da Minha Vida - Livro do Jornalista Miguel Santos

colocado na ala dos barões. E quando a turbulência atingiu o auge eu já

havia tomado de duas a três doses de uísque, que na primeira classe era

servido à vontade do freguês. Quando o avião imbicou para aterrissar no

Aeroporto do Galeão, a apreensão era tão grande que foram ouvidos

alguns gritos de terror.

Quando, finalmente, o avião estacionou para desembarque, pude

avaliar o estrago. Os passageiros estavam transtornados, algumas

bagagens espalhadas pelo chão, aquele clima de desarrumação e

nervosismo. Eu ainda estava com meu copo de vidro de uísque na

mão quando ouvi uma voz me chamando. Nas poltronas do fundo estavam

Assis Farinha, Fernando Castelão Filho e mais duas pessoas que seguiam

também para o Recife. Lembro que Assis Farinha tomou o copo da minha

mão e entornou o uísque com sofreguidão. O comandante do vôo, já mais

tranqüilo, confessou para um grupo:

- “Sabia que estava chovendo muito nessa região entre o Rio e São

Paulo, mas não esperava tanta turbulência. Foi preciso ter munheca boa prá

botar esse bicho no chão..” - Incrível, mas depois seguimos viagem em

céu de brigadeiro... nem parecia que a gente estava no ar, dentro de um

avião.

Voei outras vezes para outros destinos: Manaus, Fortaleza,

Salvador, Rio de Janeiro, São Paulo...nada mais que viesse mexer com a

minha tranqüilidade, uma vez que uma coisa eu garanto – apesar de tudo,

jamais tive medo de voar... de avião.

Em São Paulo, no Viaduto do Chá (2012)

Page 73: Novela da Minha Vida - Livro do Jornalista Miguel Santos

Capitulo 25

ATRITOS COM CELEBRIDADES

Não sei se deveria contar. Mas, vou soltar o verbo. Como jornalista e

produtor de Radio e Televisão tive de conhecer de perto diversas

celebridades do meio artístico. Tive uma convivência com Consuelo

Leandro, durante um período em que ela vinha todas as semanas participar

do programa Você faz o Show. Terminado o programa, Consuelo se reunia

com as famílias de Renato Silva e Luiz Queiroga, que moravam próximos,

e a madrugada era pequena para os longos papos. Muitas vezes, Consuelo

saia direto para o aeroporto. Apesar de muito famosa, nunca teve uma crise

de estrelismo.

Do mesmo modo que convivi com gente simpática como Consuelo,,

alguns caras irresponsáveis também passaram pelo meu caminho. Certa

vez, foi o cantor Altemar Dutra. Ao chegar aos bastidores da TV-Jornal

pude perceber que ele estava sem condições de se apresentar em publico,

devido ao seu estado etílico. Ciente da minha responsabilidade, dei uma

desculpa, alegando que o programa estava com o horário estourado e que

não havia mais espaço para ele se apresentar. Saiu esculhambando o

programa, a Televisão e o produtor. Como não anunciávamos com

antecipação os convidados do programa, o publico não percebeu a

ausência de Altemar Dutra, que uma semana depois viajou para os

Estados Unidos, onde veio a falecer.

Outro que quis armar um barraco foi o cantor Waldik Soriano.

Na produção do programa de Jota Ferreira eu ficava sempre numa área

entre o auditório e o palco do estúdio A da TV-Jornal. De repente, ouvi

um murmúrio forte vindo do publico e quando me virei observei que

Waldik estava se preparando para descer as escadas e invadir

intempestivamente a cena do programa no momento em que Jota

entrevistava uma senhora que fazia um apelo em favor de uma instituição

de caridade. De imediato fiz sinal para Waldik voltar. Ele quis insistir e eu

fui até ele e disse que o caminho para se apresentar no programa era outro,

não daquela forma. Na sala de espera dos artistas, soube que ele só não

me chamou de “arroz doce”... Mesmo assim, Waldik Soriano participou

do programa e mereceu os aplausos do publico que o admirava. No final de

tudo, ele humildemente veio me pedir desculpas, alegando que queria fazer

o mesmo que teria feito em outro programa de auditório no sul do país.

Outro que me deu muito trabalho foi Chacrinha. Nos vários contatos

que tivemos, tanto no Recife como no Rio e em São Paulo, onde eu estive

por mais de uma vez, pude avaliar o quanto ele era ativo, um

dínamo em permanente rotação. Quando me pediu para divulgar um disco

que havia lançado para o Carnaval, ele ligou às 3 horas da madrugada para

Page 74: Novela da Minha Vida - Livro do Jornalista Miguel Santos

apenas perguntar:

- “E aí, Miguel Santos, como anda a divulgação do meu disco aí

em Recife ?” - Nem parecia que era 3 da matina....

Outra vez, em pleno restaurante lotado do Mar Hotel , ao lhe

informar que o programa dele na Rede Globo perdia em audiência para o

Programa Jota Ferreira, ele não se conteve:

- “ Esse porra nunca ganhou prá mim. Eu sou o Chacrinha,

cara...” - e o palavrão ecoou por todo o salão e os circunstantes se viraram

para a nossa mesa.

Num show que montamos em praça publica em Jaboatão dos

Guararapes, ele estava impaciente. Conversava com o Prefeito Geraldo

Melo, mas não tirava os olhos do relógio. É que sua esposa, dona

Florinda, chegaria num vôo às 11 da noite para passar o fim de semana

com ele. Chacrinha não se conteve e subiu ao palanque antes do tempo.

Pegou o microfone e saiu convocando calouros e o conjunto musical,

Ninguém estava preparado para começar o show. Foi preciso puxá-lo para

um canto, tomar o microfone da mão dele e dizer:

- “Chacrinha, não é hora de começar. Tenha paciência...”

Ele saiu resmungando e alegando que queria terminar logo para

encontrar com a mulher. Só voltou a fazer o show depois que a gente

montou uma logística para recepcionar a esposa no aeroporto e levá-la

para o hotel. O que realmente aconteceu.

Certa vez, Paulo Marques e eu chegamos ao Hotel Danúbio,

em São Paulo. A recepção do hotel anunciou a nossa presença. Chacrinha

mandou a gente subir. Quando entramos no apartamento, ele estava sentado

no vaso sanitário lendo o jornal. Detalhe: o banheiro estava coberto de

paginas do jornal, Quando ele acabava de ler, jogava o pedaço do jornal no

chão.... uma balburdia muito típica do seu comportamento.

Mas, Chacrinha era uma figura folclórica, bem humorada,

elétrica e muito humana. Um pernambucano que muito nos honrou como

artista consagrado no Brasil.

Outra grande bronca foi com um ator de novela da TV

Bandeirantes. Nome: Rubens di Falco. Veio ao Recife junto a uma

caravana de artistas da Emissora paulista para se apresentar no Baile

Municipal. Era costume as Televisões enviarem seus artistas para essa

exibição na festa pré-carnavalesca mais badalada da cidade. A Rede Globo

mandava um grupo e a Band também. Até a extinta Rede Manchete fazia

o mesmo. Fiquei assessorando a permanência dos artistas da Band,

afiliada à TV-Jornal, desde a chegada deles no aeroporto.

Na hora prevista para chegar ao baile, fui buscar os artistas

no Mar Hotel, em ônibus de luxo. Todos já estavam prontos no hall,

menos o tal do Rubens di Falco. Liguei para o quarto dele. Pediu para eu

subir. Quando cheguei, ele estava de olho na televisão, que já dava

Page 75: Novela da Minha Vida - Livro do Jornalista Miguel Santos

”flashes” do Clube Português. Disse-me então; - “Só vou chegar no baile

depois da apresentação do pessoal da Globo” Quem era ele para se tornar

tão estrela assim ? Não disse isso, mas tive vontade. Quis convencê-lo de

que eu tinha recebido ordens para que todos estivessem no clube até as 9

da noite. Ele insistiu que queria chegar depois da apresentação dos artistas

globais. Aí, eu engrossei:

- Pois voce vai de taxi porque todo pessoal já está no ônibus

esperando.” E saí do quarto. Ao chegar na recepção do hotel já havia uma

recomendação para que eu o aguardasse, que ele já estava descendo. E foi o

que aconteceu.

Para concluir esse capitulo dos atritos com celebridades,

vem o episodio com a cantora Nara Leão, musa da bossa nova. Ela veio se

apresentar no programa “Noite de Black-tie”, comandado por Luiz

Geraldo. Eu era assistente da direção administrativa da TV Jornal e fui

incumbido de levar a consagrada artista para João Pessoa, após o programa.

Contratei dois taxis para a viagem. No primeiro veiculo, iam a cantora, o

empresário e eu. No outro, os três músicos que a acompanharam. Destino:

Clube Jangada, o mais sofisticado da sociedade paraibana, inteiramente

lotado para aplaudir aquela que fazia parte da ala dos artistas que

condenavam a ditadura militar implantada no País. Após o show, fui

orientado por Alfredo de Oliveira para receber o cachê das mãos do

presidente da agremiação, Fernando Milanez. Quando o procurei, ele me

pediu: - ‘Leva Nara até a mesa do governador. Ele quer cumprimentá-la.”

Nara já estava dentro do taxi, cansada, louca para fazer a viagem

de volta ao Recife. Ela foi incisiva:

- “De jeito nenhum Vim aqui fazer um show, não foi fazer

media com governador algum.”

Dei a desculpa do cansaço da cantora , mas Milanez, foi

grosseiro:

- “Só pago quando ela for pra mesa do governador”. –

pegou a mulher e foi dançar no salão.

A encrenca estava formada. Não tive duvidas. Dei um

tempinho, saí à procura do cara dentro do salão e sapequei:

-“ Nara está uma fera. Vai à imprensa denunciar que o

senhor não quer pagar o cachê dela”.

A ameaça inventada por mim foi a solução. Ele

abandonou a mulher no meio do salão, saiu comigo até uma sala e pagou o

que devia. Saí aliviado. Nara Leão ainda perguntou por que eu havia

demorado tanto, E inventei outra mentira: - “O governador fez questão

que eu fosse porta-voz de seus agradecimentos pelo maravilhoso show que

voce proporcionou à sociedade paraibana.” - Nara aceitou a desculpa e fez

a viagem de volta dormindo no carro...

Page 76: Novela da Minha Vida - Livro do Jornalista Miguel Santos

O “VELHO GUERREIRO”

Chacrinha cercado de radialistas conterrâneos: - Miguel

Santos, Bob Nelson e Roberto Nogueira.

Page 77: Novela da Minha Vida - Livro do Jornalista Miguel Santos

Capitulo 26

DOMINGUINHOS E CALHEIROS

No dia em que foi feito o traslado do corpo do mestre Dominguinhos

para Garanhuns, sua terra natal, agora em 2013, chega à minha lembrança

um momento muito semelhante e para mim também muito emocionante,

ocorrido há 45 anos passados. Atuava como jornalista e radialista da

Empresa Jornal do Commercio e era sempre convocado para os seus

eventos promocionais. Alberto Lopes, um dos grandes produtores da TV,

filho de Garanhuns, chegou com a idéia de a Empresa promover o traslado

dos restos mortais do cantor Augusto Calheiros, nascido em Alagoas, mas

que tinha uma adoração pela “suíça pernambucana”, onde começou a

carreira de cantor e onde viveu durante 23 anos. Faleceu no Rio de

Janeiro, em 1956, onde foi sepultado. Em 1968, atendendo ao desejo da

família, com o apoio do então prefeito Amilcar Valença, tivemos o

orgulho de coordenar a trasladação do corpo de Calheiros do Rio de

Janeirio para Garanhuns. A urna funerária veio acompanhada pelo

consagrado cantor Orlando Silva, e o radialista Almirante, dois nomes de

peso do cenário musical e artístico brasileiro. Familiares de Calheiros

também vieram do Rio para a cerimônia. A nossa parte era conseguir o

apoio logístico, coordenar junto com Alberto Lopes e dar toda cobertura

jornalística. Como não havia qualquer apoio financeiro por parte da

Empresa JC, tivemos que buscar a cortesia de empresas de ônibus. Uma

delas se prontificou a fazer o percurso Recife-Caruaru. Outra ofereceu o

percurso Caruaru-Garanhuns. Eram as dificuldades próprias da época que

tivemos que enfrentar. No finzinho da tarde, os restos mortais de

Calheiros chegaram ao Cemitério de São Miguel. Com a intensa

divulgação da então Radio Difusora, toda a população da cidade estava

nas ruas dificultando o acesso do ônibus. Os convidados tiveram que seguir

andando enquanto eu fiquei no veiculo, junto ao motorista, à procura de

um local para estacionar. Terminei não conhecendo o mausoléu erguido

pela Prefeitura para abrigar o querido e famoso cantor Augusto Calheiros.

Calheiros.

Page 78: Novela da Minha Vida - Livro do Jornalista Miguel Santos

Dominguinhos e Calheiros, dois consagrados artistas da nossa

musica popular, estão repousando para sempre no friozinho gostoso de

Garanhuns. Um privilégio para a cidade e seu povo.

Page 79: Novela da Minha Vida - Livro do Jornalista Miguel Santos

Capitulo 27

COLEGAS & AMIGOS

Ter amigos não é privilégio de ninguém. No entanto, ter bons e

desinteressados amigos é privilegio de poucos. Eu me sinto recompensado

porque procurei sempre conviver com bons colegas e amigos. . Seria

enfadonho listar aqui todos os meus amigos, porque correria o risco de

esquecer de alguns. Aliás, a linha divisória entre colegas de trabalho e

amigos as vezes não chega a ser bem definida. A gente chega a confundir

as duas coisas. Alguns deles foram amigos circunstanciais: José Augusto

Branco, Jota Ferreira, José Maria Marques, Claudia Barroso, Paulo

Marques. Estiveram muito próximos de mim enquanto durou a convivência

profissional com eles. Uns ficaram na lembrança, outros duram até hoje.

Mas, poucos foram aqueles que influenciaram de forma decisiva na

minha vida profissional. Dois deles posso citar: Samir Abou Hana e Jorge

José de Barros Santana, sem esquecer o saudoso Mayerber de Carvalho,

que exerceu um papel muito importante no meu destino.

Foi durante a reunião de um clube de oratória que existia na Boa Vista

que eu vim a conhecer Samir Abou Hana. Nem ele nem eu sabíamos que

nos encontraríamos depois no rádio. Ele começou na Rádio Capibaribe,

como eu também. Depois, ele foi desenvolver seu talento na antiga Radio

Repórter, que ficava na Rua da Concórdia.

O encontro seguinte foi na Empresa Jornal do Commercio, ele

atuando no Rádio e na TV e eu na produção de programas apenas na

Televisão. Nessa época eu já trabalhava na TV Universitária, no primeiro

expediente. Foi quando, em 1983, o Grupo Edson Queiroz, proprietário

da Rede Verdes Mares de Comunicação, do Ceará, adquiriu a Radio

Tamandaré, que era uma Emissora AM no estilo FM – “musica, somente

musica e um anuncio por intervalo”. Os estúdios ficavam ao lado da

Brasilgás, na Avenida Mascarenhas de Morais, na Imbiribeira. O Grupo

resolveu modificar a programação e transformar a Tamandaré numa

Emissora eclética, com mais jornalismo e esportes. Para essa mudança,

Samir foi chamado e me levou para lá. Com sua experiência e capacidade

profissional, Samir reuniu uma equipe de peso para enfrentar a

concorrência: Ednaldo Santos, Jota Albuquerque, Fernando Colorido,

Walter Lins, Lacerdinha e Vasconcelos Lima. Rui Cabral era o produtor de

Ednaldo Santos, à tarde, e eu cuidava da produção de Samir Abou Hana, na

manhã. No departamento de jornalismo, comandado por Regina Lima,

figuravam Fernando Veloso, Paulo Fradique, Heitor Rocha e Jaimar

Chedid. Repórteres: Candido Galvão, Jáder Bastos, Isaurino Brasil e

Miriam Maranhão. No setor esportivo atuavam Rubens Souza, Ednaldo

Santos, Carlos Miranda (narradores), Luiz Cavalcanti e Uaci Matias

(comentaristas), Edvaldo Morais (plantão) e os repórteres Haroldo Rômulo,

Page 80: Novela da Minha Vida - Livro do Jornalista Miguel Santos

Vitorio Mazzile, Aldeci Lima e Eduardo Santana, Como numa gestação,

em nove meses a Tamandaré foi para a liderança da audiencia. Um pulo

significativo do quinto para o primeiro lugar, Uma verdadeira revolução no

radio pernambucano, graças a uma equipe que trabalhava redondinha,

afinada, bem direcionada e enfrentando alguns sacrifícios.

Três anos depois, por questões que não valem a pena descrever,

Samir resolveu deixar a Tamandaré e seguir para outra vitoriosa jornada –

ampliar a audiência da Radio Olinda. A diretora era Cleone Barbosa, no

jornalismo Antonio Menezes. Ficamos na Olinda por pouco tempo.

Tarefa seguinte - Radio Globo. Tínhamos o apoio do Sistema

Globo de Radio. Samir gozava da admiração e do respeito da diretoria

nacional. Certa vez, fomos ao Rio de Janeiro gravar umas vinhetas e eu

ouvi o convite feito por Mario Luiz, um dos mais conceituados radialistas

do Pais, diretor-geral do Sistema:

- “Samir, você escolhe: Rio ou São Paulo. O horário da tarde é seu

nessas duas praças.”

Mesmo reconhecendo a importancia do convite, Samir preferiu ficar

no Recife. Se tivesse aceito, seria certamente o mais popular comunicador

do radio brasileiro.Essas idas e vindas nos levou a uma temporada na

Radio Clube. Fizemos juntos também um programa de entrevistas na TV-

Tribuna, que tinha uma audiência muito boa.

Nossa amizade nos levou a duas viagens aos Estados Unidos para

curtir as maravilhas dos parques da Disney, em Orlando, e conhecer

Miami. Foram momentos inesquecíveis vividos com nossos familiares.

Samir seguiu outra carreira: a de radiodifusor, ao adquirir a

Radio Planalto, de Carpina. Eu não pude acompanhá-lo, mas hoje o tenho

na conta dos amigos que deram impulsos importantes na minha carreira

profissional.

.

Com Samir Abou Hana, no bar de sua residência.

Page 81: Novela da Minha Vida - Livro do Jornalista Miguel Santos

Uma pessoa que sempre apostou no meu trabalho, me orientou muito

e tem demonstrado ser um amigo de todas as horas é Jorge José Barros de

Santana. Seu nome está imortalizado na galeria dos grandes realizadores

do Rádio e da Televisão de Pernambuco. Começou escrevendo para o

rádio e logo que a TV chegou por aqui ele conquistou-a com inesquecíveis

trabalhos tanto na TV-Radio Clube como na TV-Jornal do Commercio.

Foi nesta última que ele produziu a novela “A Moça do Sobrado Grande”,

tão empolgante que chegou a ser exibida pela TV-Bandeirantes de São

Paulo.

Jorge José Barros de Santana é bacharel em comunicação social e

por algum tempo lecionou na Escola Superior de Relações Públicas. Foi

também diretor da TV-Itapoan, de Salvador-Bahia e da TV-Tropical, do

Governo de Pernambuco.

Trabalhei ao lado de Jorge José em várias oportunidades: como

colega na TV-Universitária; como meu chefe na produção da TV-

Jornal; realizando eventos promocionais e artísticos com artistas nacionais

Na TV-Jornal, Jorge José me confiou a produção do programa

“Verdade ou Mentira”, do qual me refiro em outro capitulo deste trabalho,

e do “Programa Jota Ferreira”, que se consagrou como um dos horários

de maior audiência da TV pernambucana.

Na Massangana Multimídia, da Fundação Joaquim Nabuco, na

qual foi diretor, participei da produção de uma série de documentários

para a Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste – SUDENE.

O objetivo era ressaltar os incentivos fiscais oferecidos pela autarquia à

industria nordestina. Documentamos várias empresas, como a Confecções

Guararapes, em Natal-RN: a Polyutil, de João Pessoa-PB; a Raymundo da

Fonte, em Paulista-PE, entre outras. Foi uma experiência muito válida

porque aprendi muito na captação de imagens, depoimentos, edição e

finalização dos vídeos. Outro projeto que me gratificou muito realizar foi a

série “Nomes que Fazem a Diferença”, sobre a qual me refiro com

detalhes em outro capitulo deste trabalho.

Por essas e outras realizações, Jorge José tem dado uma

demonstração de que confia no meu trabalho, tanto assim que tive o

privilegio de participar, como assistente de produção, da editoria de seus

excelentes trabalhos editoriais, que resgatam a historia da comunicação

social em Pernambuco. Os livros que escreveu sobre o Radio, a Televisão e

os Jornais de Pernambuco mereceram elogios da critica e do publico leitor

Atualmente, está sendo preparado um outro excelente trabalho literário,

desta feita sobre os Governadores de Pernambuco .

Presente no ambiente familiar e na atividade profissional, Jorge é

um amigo sincero e leal, coisa tão difícil hoje em dia.

Page 82: Novela da Minha Vida - Livro do Jornalista Miguel Santos

Com o escritor Jorge José de Santana, , por ocasião do lançamento

do livro “Meio Século Depois – Televisão Pernambucana”.

Sintam-se todos os meus amigos – os mais distantes e os mais

próximos – homenageados neste artigo. E me desculpem por não cita-los

nominalmente aqui. Afinal, amigo é pra essas coisas....

Um exemplo de amigo distante é Osvaldo Secco. Convivemos na

época em que ele era o chefe dos câmeras da TV-Jornal. Foi casado

com Valéria Acyoman, de quem ficou um viúvo prematuro. Depois,

voltou para a TV-Globo de São Paulo, onde viemos a nos encontrar

numa das viagens que fiz à capital paulista.

Page 83: Novela da Minha Vida - Livro do Jornalista Miguel Santos

Capitulo 28

CAMPANHAS POLITICAS

Ao longo da minha vida participei de varias campanhas políticas. A

primeira delas foi a do Senador Cid Sampaio. O coordenador da campanha

era o publicitário Vicente Silva, dono da Viçar Publicidade, que se

notabilizou com a realização da Fecin - Feira do Comercio e Industria

do Nordeste, que acontecia na área onde é hoje o Parque da Jaqueira.

Vicente Silva inovou. Criou um caminhão repleto de monitores para a

projeção em slides-show do programa de governo do candidato. O veiculo

percorria os bairros, causando um verdadeiro reboliço nas camadas mais

pobres da população. Foi uma campanha extremamente cansativa, porque

havia sempre algo a mais para fazer. Lembro que uma vez, Vicente me

acordou com essas palavras:

- “Seis da manhã e você ainda está dormindo ? Deixa para dormir

quando morrer...”

Guardei a piada para descontar depois. Já nos últimos dias da

campanha, com toda a equipe estafada de tanto trabalhar, tive necessidade

de falar com o patrão por volta das 9 da manhã. Ele estava em casa, ainda

dormindo. Quando me atendeu, apliquei o mesmo conselho:

- “Vicente, deixa prá dormir quando morrer...”

Vicente Silva era um homem de quase dois metros de altura,

publicitário competente e vitorioso. Na ultima vez que o vi estava muito

ofegante, emocionado porque a filha estava se formando em Medicina.

Ofegante também pela doença que já o acometia. Dias depois, o seu

reloginho parou e ele foi levado para um mundo certamente melhor...

Já trabalhando com Samir Abou Hana, participei da campanha de

Joaquim Francisco para Governador, em 1990. Samir coordenou os

programas de rádio para o Guia Eleitoral. Foi mais do que um trabalho:

uma grande experiência que me levou a conquistar espaço nesse segmento

de produção radiofônica.

Depois de Joaquim Francisco, foi a vez de André de Paula para

Prefeito do Recife, em 1992. Essa campanha foi desenvolvida no Estúdio

Três, comandado por Marcos Macena e Aguinaldo Batista. André não foi

eleito, mas a campanha foi muito proveitosa e conquistou a admiração dos

marqueteiros da época.

Já com mais experiência adquirida, fui convidado por André

Gustavo, filho do publicitário Antonio Carlos Vieira, diretor da Arcos

Propaganda, para assumir a coordenação dos programas de rádio da

campanha eleitoral de Lucia Braga, esposa do então Senador Wilson Braga,

um dos políticos mais influentes da Paraíba. O ano era 1996 e a campanha

era para Prefeito de João Pessoa. Foram dois meses de permanência na

capital paraibana, com algumas fugidas até o Recife nos fins de semana.

Page 84: Novela da Minha Vida - Livro do Jornalista Miguel Santos

Comigo estava o locutor Leonardo Boris e com ele vivemos um momento

de muita angustia e quase desespero. Tínhamos terminado o ultimo

programa do segundo turno da campanha e faltava receber 15 dias de

trabalho intenso e estafante. Boris e eu ficamos quase três horas na porta de

uma sala da sede o partido. Havia uma reunião também muito tensa e não

havia como cobrar do próprio Wilson Braga o que o coordenador

financeiro da campanha havia nos negado: o nosso dinheiro sofrido. O

momento era tão dramático que eu e Boris quase íamos às tapas, um mais

irritado do que o outro. Em dado momento, quando o cara do cafezinho

entrou na sala aproveitamos o momento e entramos também.

A cobrança foi imediata e na frente de todos que estavam na reunião.

- “Precisamos voltar para o Recife e ainda não recebemos a nossa

parte” – Boris foi incisivo. Wilson Braga demonstrou surpresa, tirou o

talão do bolso e preencheu um cheque com o valor que nos devia.

Corremos para o banco, já prestes a encerrar o expediente, com uma

preocupação a mais: será que o cheque tem fundos ? Tinha, sim. Pegamos

o dinheiro, as malas no hotel e no meu carro retornamos ao Recife. Na

passagem pela fronteira Paraíba-Pernambuco, Boris não se conteve: deu

aquela “banana” pro lado paraibano, sem que a terra e seu povo merecesse

o gesto...

Aprovado na Paraíba, a Arcos me convidou para outro desafio,

desta feita mais longe, a 800 quilômetros do Recife. Em Petrolina, ano

2000. Foi quando eu tive a oportunidade de conhecer uma região de muita

prosperidade e riqueza. Formei uma equipe com o pessoal de lá, e meu

locutor-ancora era o Joélio Alves, filho da terra, que me ajudou muito

durante toda a campanha. De maneira brilhante o candidato Fernando

Bezerra Coelho ganhou as eleições e governou Petrolina até ser chamado

para exercer outros cargos mais importantes, até chegar a ser Ministro da

Integração Nacional.

Nessa primeira jornada em Petrolina, fiquei amando o Rio São

Francisco. Conheci fazendas de uva, a Barragem de Sobradinho, a

cidade vizinha de Juazeiro da Bahia, saboreei um bom peixe de água doce

e tive a felicidade de conviver com o povo bom e hospitaleiro da cidade.

Próximo desafio: Joaquim Francisco, Prefeito. Ano: 2004.Trabalho

desenvolvido na Muzak, uma das melhores produtoras de áudio da região.

A briga era contra João Paulo, do PT. Perdemos o combate.

Etapa seguinte foi cumprida na Virtual Multimídia, sob o comando

de Carlos Alberto, localizada no bairro de Casa Amarela. Candidato:

Arlindo Siqueira para Prefeito de Olinda. Ano: 2008 Quando organizamos

a equipe e levantamos os custos, o candidato era apoiado pelo PTB de

Armando Monteiro Neto e novamente a Arcos Propaganda seria a

coordenadora geral da campanha. Mas, uma semana antes de tudo começar

o PTB saiu da jogada. Arlindo Siqueira assumiu sozinho o custo do

Page 85: Novela da Minha Vida - Livro do Jornalista Miguel Santos

trabalho e aí se deu mal. Faltou dinheiro e ficamos sem receber uma boa

parte do que havia sido combinado. Os mais experientes afirmam que

campanha eleitoral tem seus riscos. Mas, só essa é que me deu prejuízo.

Arlindo além de ficar devendo ao pessoal ainda perdeu a eleição para o

candidato que disputava a reeleição – Renildo Calheiros, do PCdoB.

Por ultimo, lá vou eu de novo para Petrolina, em 2012, para

coordenar o Guia Eleitoral de Rádio do candidato Fernando Filho,

deputado federal, filho do Ministro Fernando Bezerra Coelho. Concorria

com Julio Lossio, do PMDB, um populista candidato à reeleição, cuja

bandeira eram as creches que instalou em diversos bairros da cidade e

Odacy Amorim, deputado estadual do PT. Tive a valiosa colaboração de

gente de gabarito no meio do marketing político, como Ivan Mauricio,

com quem já tinha trabalhado no Diário da Noite e na campanha de

Arlindo Siqueira. A empresa de Juarez Canejo administrou a campanha

e eu tive ainda a valiosa colaboração do jornalista Carlos Britto, Na área

técnica, contei com a eficiência de Junior Macedo, da Vocall Studio e de

uma equipe de locutores e repórteres muito competentes. Fernando Filho

não venceu as eleições, por razões que não valem a pena ressaltar, mas a

campanha atingiu os objetivos.

Foram majs dois meses morando em hotel em Petrolina, uma

permanência muito agradável, porque desde a primeira vez passei a

adorar a cidade. Voltei a fazer meus passeios nas horas de folga e conhecer

melhor uma região diferenciada e progressista.

Considero-me hoje um profissional experiente como coordenador

de equipes para o Guia Eleitoral.

Com o publicitário Vicente Silva.

Page 86: Novela da Minha Vida - Livro do Jornalista Miguel Santos

Capitulo 29

MEIA DÚZIA DE CAUSOS & “GAFES”

1 – Quando era redator de fofocas de revistas revelei um caso amoroso

Entre uma atriz e um cantor casado. Não citei nomes na matéria, mas

eles assumiram a “carapuça” e este escrivinhador quase apanha dos

2 – Na qualidade de assisrtente da direção geral da TV-Jornal eu era

encarregado de pagar os “cachês” dos atores, atrizes e coadjuvantes do

elenco da novela “ A Moça do Sobrado Grande”. Só estranhava que na lista

figurava o nome de uma pessoa que nunca era visto na novela. Depois

fiquei sabendo que o cara era simplesmente o dono do cavalo e da charrete

que aparecia sempre nos capítulos do consagrado seriado.

3 – Galba Araujo, “dublê” de advogado e cantor, falecido no Rio de

Janeiro, costumava aparecer nos bastidores durante o “Programa Jota

Ferreira”, mesmo sem estar escalado, para rever os amigos. Numa

dessas vezes, faltando dois minutos para o programa terminar, Jota

Ferreira achou de anunciá-lo. Galba entrou na maior empolgação e

começou a cantar. Um minuto depois, foram inseridos na imagem os

créditos finais do programa. Ao final, Galba veio a mim agradecer

pela oportunidade, mas perguntou intrigado: - “Só não por que

apareceram tantas palavras na minha cara enquanto eu estava

cantando....” Preferi não explicar o ocorrido.

4 – Quando eu era repórter da Radio Capibaribe fui escalado para a

cobertura dos desfiles das agremiações carnavalescas, que aconteciam na

Avenida Dantas Barreto. Naquela época as transmissões externas eram

feitas por linha telefônica e, para economizar, a Emissora utilizava apenas o

recurso de uma linha só, que não permitia que por ela a gente se

comunicasse com o estúdio. Assim, de meia em meia hora, quando eu

ouvia a vinheta anunciando o repórter eu teria que dar um flash do local.

Era pouco mais de uma hora da tarde, não havia agremiação desfilando,

mas eu tinha que dar alguma informação. Eu já havia entrevistado todas as

pessoas importantes que estavam no palanque oficial, foi quando avistei de

longe o jornalista Sócrates Times de Carvalho (famoso na época) e comecei

então a falar diversas vezes o nome do jornalista até que me vi ao lado

dele. Voltei a anunciá-lo, quando o cidadão disse ao microfone: -

“Sócrates não sou eu, não.” Procurei um buraco para me enterrar naquela

hora. O cara era a cópia fiel do jornalista e ele próprio reconheceu isso

depois da minha “gafe”.

Page 87: Novela da Minha Vida - Livro do Jornalista Miguel Santos

5 - Walter Lins, no auge de sua carreira de animador de auditório na

Radio Clube, costumava me convidar para acompanhá-lo toda vez que

Comparecia a festinhas em sua homenagem. Certa noite, estávamos

numa dessas reuniões em casa de uma fã, quando Walter resolveu me

apresentar como se eu fosse famoso locutor da Radio Nacional do Rio

de Janeiro, de passagem pelo Recife. Assumí o papel pensando que

depois Walter iria revelar que tudo não passava de uma brincadeira.

Mas, isso não aconteceu e eu passei a festa toda dando autógrafos e

falando com “voz de locutor” para não comprometer Walter Lins.

6 – Brivaldo Framklin se notabilizou na Televisão personificando a figura

do “Zé do Gato”, quadro humorístico de grande popularidade. Convivi

com Brivaldo como um dos bons companheiros de trabalho. Tinha fama de

“mão fechada”. Sempre que chegava ao Restaurante da TV-Jornal

procurava saber o sabor da sopa e o preço e sempre pedia “meia sopa” para

economizar. Escalado pela Radio Capibaribe para cobrir os bailes

carnavalescos do Clube Sargento Wolff, eu tive o privilegio de ocupar

uma mesa de pista no salão do clube e de gozar da mordomia da diretoria.

Não havia limites para pedidos de bebidas e comidas. Na ultima noite do

Carnaval, fui surpreendido com a chegada de Brivaldo e esposa. Ele havia

estado no Clube Internacional, mas preferiu encerrar os festejos de momo

no Wolff. Acomodou-se na minha mesa e minutos após o garçom chegou

com duas b andejas carregadas de comidas e bebidas. Brivaldo não quis

nem saber se aquilo era cortezia do clube ou seria “rachada” no final da

festa. Deu uma desculpa e foi embora... A fama de “pirangueiro” era tanta

que contam que ele foi buscar uma namorada na casa dela. Quando a moça

apareceu, certa de que ia ter uma noite maravilhosa, Brivaldo foi logo

perguntando:

- “Já jantou, minha querida ?”

A garota surpresa respondeu empolgada:

- “Ainda não”.

“Então, volte, jante e depois a gente conversa....”

O namoro acabou naquela mesma noite.

Page 88: Novela da Minha Vida - Livro do Jornalista Miguel Santos

Capitulo 30

Principais eventos nos quais participei como

coordenador e/ou produtor

INAUGURAÇÃO DA REPETIDORA DO SINAL DA TV-JC-BAND

EM NATAL-RN – Local: Praia do Meio (Show e outros eventos),

FESTIVAL DA TURMA DA MONICA - Show comandado por Jota

Ferreira, com a participação dos personagens de Mauricio de Souza.

Promoção: Empresa Jornal do Commercio e Editora Abril. Local:

Horto de Dois Irmãos. Data: 24 de abril de 1978

PRIMEIRO FORRÓ INFANTIL DO RECIFE – Apresentação de Samir

Abou Hana e Palhaço Pitombinha. Apoio: Prefeitura da Cidade do

Recife e EMPETUR. Local: Horto de Dois Irmãos. Data: 22/09/1978

PRIMEIRO FESTIVAL DO SORVETE E REFRIGERANTES DO

RECIFE - Apresentação do Palhaço Pitombinha, que na época comandava

o programa “Recreio da Bandeirantes”, na TV-Jornal. Patrocínio: Kibon/

Maguary e Refrescos do Recife Ltda.Local: Horto de Dois Irmãos. Data:

16/12/1079.

ANIVERSARIO DO PROGRAMA JOTA FERREIRA – Local:

GERALDÃO.

SHOW DE NEY MATOGROSSO NO GERALDÃO.

SHOW DE GAL COSTA NO GERALDÃO.

CLUBE DA SOLIDARIEDADE – Campanha para arrecadar donativos

Para as crianças pobres no Natal de 1998. Liderança da Radio Clube, com

Apoio da Radio Caetés e Diário de Pernambuco.

OITENTA ANOS DA RADIO CLUBE - Apresentação da Banda

Musical da Policia Militar e exibição do vídeo “A Vida Começa aos 80”,

produzido pela Fundação Joaquim Nabuco (Massangana Multimídia). .

Local: Pátio de São Pedro. Ano de 1999.

Page 89: Novela da Minha Vida - Livro do Jornalista Miguel Santos

LINHA DO TEMPO 1956 Atuação na Companhia Teatral de Bibi Ferreira; 1957 - Estágio na Radio Olinda (jornalismo).

1958 - Comecei a trabalhar como escriturário na Sul America – Cia. Nacional de Seguros de Vida. Carteira assinada no dia 16 de abril. Desliguei-me no dia 15 de fevereiro de 1965. 1959 Representante-correspondente da Revista do Radio (RJ). 1959 - Cronista de radio e reporter da Folha do Povo 1959 Comecei a escrever também para o Diário da Manhã; 1959 - Revisor do Diário de Pernambuco; 1960 - Começo da carreira de radialista na Radio Capibaribe; 1960 - Colaborador da Revista da Tela. 1961 - Colaborador da Revista da AABB. 1963 - Ingressei no jornal Ultima Hora. 1963 - A Associação da Imprensa de Pernambuco elege a coluna de Radio e TV do jornal “Ultima Hora” a melhor do ano. 1963 Secretário, editor e redator da Revista TVlandia; 1964 - Colaborador da Revista do Clube Náutico Capibaribe. 1964 - Editor da Revista Canal 1965 Ingressei na Empresa Jornal do Commercio no dia 16/09, como Auxiliar de publicidade, redator do Jornal do Commercio e Diário da Noite e produtor do Radio Jornal. 1965 Eleito melhor colunista de Radio e TV pelo Diário da Noite. 1969 Produtor da TV-U. 1967 - Eleito melhor produtor de Rádio pela Primeira Noite das Personalidades, promovida pelo jornalista Paulo Granja. 1971 - Primeiro passaporte para viajar ao México e Colômbia. Embarque – Rio 21/03. Desembarque – Manaus, (09/05) 1971 - Como produtor do programa “A Noite é do 11”, fui eleito melhor do ano, promoção do programa “A Hora do Chau”, da TV-Jornal. 1973 Secretario Executivo do III Congresso Brasileiro de Radialistas, realizado no Recife. 1977 Produtor executivo do X Concurso de Musicas Carnavalescas, Promoção da Prefeitura do Recife e TV-Jornal. 1979 -Reingresso na Empresa Jornal do Commercio (TV Jornal) 1980 - Registro na DRT/PE n. 107, como Radialista Profissional na função de Produtor Executivo 1983 - Ingressei na Radio Tamandaré (11 de fevereiro); 1984 - Registro na DRT/Pe n. 1300, como Jornalista Profissional, na função de Redator. 1985 - Produtor do Sistema Globo de Radio (02/05); 1987 Produtor da Radio Olinda (01/09); 1990 -Campanha de Joaquim Francisco para Governador; 1991 - Produtor da Rádio 103 FM;

Page 90: Novela da Minha Vida - Livro do Jornalista Miguel Santos

1992 - Aposentei-me pela Universidade Federal de Pernambuco. (Núcleo de Televisão e Rádio) no dia 4 de setembro. 1992 - Campanha de André de Paula para Prefeito do Recife; 1993 - TV Tribuna, como produtor (21/08); 1994 - Rádio 102 FM e TV Estação Sat, como produtor; 1996 - Campanha de Lucia Braga para Prefeita de João Pessoa; 1998 - Chefe de Produção da Radio Clube; 1999 - Coordenador da programação dos 80 anos da Radio Clube. 2000 - Rádio Planalto, como produtor; 2000 - Campanha de Fernando Bezerra Coelho para Prefeito

de Petrolina (eleito); 2004 - Campanha de Joaquim Francisco para Prefeito do Recife; 2006 - Assistente de produção do livro “A Televisão Pernambucana por quem a viu nascer”, do escritor Jorge José Santana. 2008 Campanha de Arlindo Siqueira para Prefeito de Olinda; 2007 Assistente de produção do livro “Meio Século Depois – Televisão Pernambucana”, do escritor Jorge José Santana. 2008 Assistente de produção do livro “O Rádio Pernambucano por quem o viu crescer”, de autoria do escritor Jorge Jose Santana. 2012 - Campanha de Fernando Filho para Prefeito de Petrolina; 2013 - Assistente de Produção do livro “Os Governadores de Pernambuco”, de autoria do escritor Jorge José Santana. 2014 - Produtor assistente do livro “O Radio Pernambucano por quem o viu crescer”, segunda edição atualizada.

FOTOS DA LINHA DO TEMPO

COM OS COMPANHEIROS DA “SUL AMERICA” (1958)

Page 91: Novela da Minha Vida - Livro do Jornalista Miguel Santos

Recebendo do apresentador Jorge Sá, no auditório do Canal 2, o

diploma de melhor produtor de TV no ano de 1971.

Na TV-Radio Clube, com o técnico José Leão, demonstrando o

funcionamento do mais moderno (na época) gravador-reprodutor de

imagens (um vídeo-tape quadruplex já superado nos dias de hoje).

Page 92: Novela da Minha Vida - Livro do Jornalista Miguel Santos

E A NOVELA ACABOU....

... E esse é o resumo alinhavado, em tom bem

descontraído, de alguns flagrantes da minha modesta atuação nos meios de comunicação de Pernambuco.

Se o trabalho não agradou aos leitores de boa vontade,

peço perdão pelo tempo perdido com essas “memórias

memoráveis”... Aos saudosistas, que voltaram no tempo

comigo, agradeço pela paciência de aturar essa narrativa

comprometida apenas com a verdade dos fatos.

Vou continuar na batalha enquanto Deus me permitir

para poder escrever a segunda edição, mais atualizada,

dessa... “NOVELA DA MINHA VIDA”.

2014 (Ano da Copa)

MIGUEL SANTOS