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O legado dos logan 05 o meu solteiro preferido - ferrarella, marie

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Editados por HARLEQUIN IBÉRICA,S.A.Núñez de Balboa, 5628001 Madrid © 2004 Harlequin Books S.A.© 2014 Harlequin Ibérica, S.A.O Meu Solteiro Preferido, N.º 47 -Janeiro 2014Título original: The BachelorPublicada originalmente por Silhouette®Books

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Publicado em português em 2007 Reservados todos os direitos de acordocom a legislação em vigor, incluindo osde reprodução, total ou parcial. Estaedição foi publicada com a autorizaçãode Harlequin Books S.A.Esta é uma obra de ficção. Nomes,carateres, lugares e situações sãoproduto da imaginação do autor ou sãoutilizados ficticiamente, e qualquersemelhança com pessoas, vivas oumortas, estabelecimentos de negócios(comerciais), feitos ou situações sãopura coincidência.® Harlequin, Harlequin Ouro e logótipoHarlequin são marcas registadaspropriedades de Harlequin Enterprises

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Limited.® e ™ são marcas registadas porHarlequin Enterprises Limited e suasfiliais, utilizadas com licença. Asmarcas em que aparece ® estãoregistadas na Oficina Española dePatentes y Marcas e noutros países.Imagem de portada utilizada com apermissão de Getty Images. I.S.B.N.: 978-84-687-5048-4Editor responsável: Luis Pugni Conversão ebook: MT Color & Diseño

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Faz parte de:

O LEGADO DOS LOGAN

Porque o direito de nascença tem osseus privilégios e os laços de família

são muito fortes.

Estava apaixonada por ummulherengo multimilionário que nãotinha intenção de assentar a cabeça... ouera o que ela pensava.

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JENY HALL: não recordava quando

começara a amar Eric Logan. Noentanto, quando os seus amigosadquiriram num leilão um encontro desonho com ele, sentiu-se coibida eperguntou-se como poderiam unir osseus mundos...

ERIC LOGAN: num intervalo da suavida, cheia de viagens em aviõesprivados e reuniões com accionistas dasua empresa, Eric assistiu a um leilão,pavoneando-se... e acabou por ser oencontro da doce Jenny Hall. E quandoentrou no seu mundo... apercebeu-se deque os seus dias de solteiro estavamcontados!

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Quem será a mulher misteriosa do

leilão de solteiros?Peter Logan não consegue tirar-lhe os

olhos de cima... E não faz ideia de que,muito em breve, aquela beleza faráestragos no seu coração!

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Um

Elaine Winthrop Hall deu o braço à

sua filha e acompanhou-a até à sala.Jenny sabia que a sua mãe estava aesforçar-se muito para não fazer nenhumcomentário sobre a camisola larga que asua filha usava e sobre o seu pequenoapartamento.

Jenny dizia que a sala era acolhedora.A sua mãe achava que era minúscula eque ela tinha closets maiores. Noentanto, os metros quadrados nãosignificavam nada para Jenny.

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Nem, segundo a sua mãe, o prestígio,a classe e a opinião das pessoas. Daspessoas que interessavam.

Os olhos perfeitamente maquilhadosde Elaine repararam no menino dequatro anos que estava sentado no tapetea meio da sala, a brincarsilenciosamente com um amigoimaginário. Jenny sabia que Cole era arazão pela qual a sua mãe fora visitá-la,para tentar convencer, mais uma vez, asua obstinada filha a ter bom-senso.

A mulher não precisava de falar paraque Jenny soubesse em que estava apensar. Era bom deixar que o coraçãomandasse de vez em quando, mas aquilodeveria acontecer com homens de um

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metro e oitenta de altura, não compequenas âncoras que apenas seinterpunham nos planos de uma boafamília para a sua única filha.

Finalmente, Elaine falou, entoando asua voz até a reduzir a um sussurro.

— Ele não é problema teu, Jennifer— insistiu, não pela primeira vez. —Não é tua responsabilidade.

Ultimamente, Jenny tivera alguns diasmuito longos e enervantes. No entanto,descobriu que ainda lhe restava algumapaciência.

— Não é problema meu,efectivamente — disse à sua mãe, comsuavidade, mas firmemente. — Mas éminha responsabilidade. Dei a minhapalavra a uma mulher agonizante.

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Aquilo não era novo para a sua mãe.Jenny já explicara, várias vezes, aosseus pais porque adoptara o menino.Jenny observou o rosto perfeitamentemaquilhado da sua mãe, em busca dealgum sinal que lhe confirmasse queexistia bondade humana no peito de umamulher que ela amava muito, apesar detodos os seus defeitos.

Tentou novamente pela enésima vez.— E o que queres que faça, mamã?

Não vou cumprir com a minha palavra?Foste tu quem me ensinou a cumprir comos meus compromissos, não te lembras?

Elaine suspirou.— Sim, é verdade. Mas, neste caso,

há lugares que poderiam acolher Cole. E

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muita gente adoraria adoptá-lo. Ainda éviável.

— Viável? — Jenny olhou para a suamãe sem acreditar no que acabava deouvir. — Não é uma planta, mamã, é ummenino pequeno. Um menino que passoupor uma situação muito difícil, que viu asua mãe morrer — disse. O que erapreciso para a sua mãe entender? Jennysabia que era a última oportunidade deCole. Se ela não conseguisse atravessaro muro protector que o menino criara àvolta dele, ninguém seria capaz de ofazer. — Queres que eu o abandone?

A mulher lançou um olhar de soslaioa Cole e respondeu:

— Não estou a dizer para oabandonares, apenas para o entregares a

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uma família. A uma família tradicional.Jenny sabia que a sua mãe nunca

aprovara as famílias mono parentais. Nomundo de Elaine Hall, as famíliascomeçavam com um marido e umamulher e depois apareciam os filhos.Qualquer outra coisa seria imperdoável.Quando Jenny lhe contara que ia adoptarCole, Elaine estivera prestes a sofrer umataque de nervos.

— Sabes, Jenny? — continuou amulher. — Não és uma super-mulher.

Jenny odiava que lhe impusessemlimites, odiava todas as regras pelasquais a sua mãe se regia. Pareciam doséculo passado.

— Só porque tu não queres, não

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significa que seja assim.Elaine olhou para ela com espanto e

depois abanou a cabeça.— Confundes-me sempre com a tua

retórica.Jenny sorriu.— Chama-se mecanismo de defesa —

respondeu.Naquele momento, o seu estômago

começou a fazer barulho. Já era hora dejantar e ela não comera naquele dia.

— Se querias intimidar-me, mamã,podias ter-me enviado um e-mail.

A sua mãe franziu o sobrolho e o seurosto atraente adquiriu uma expressão decansaço.

— O que quero é que a minha filhaencontre o lugar que lhe corresponde

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por direito no mundo.Ou seja, pensou Jenny, o lugar que a

sua mãe considerava que a sua filhadevia ocupar. Naquele ponto, tinhamopiniões diametralmente opostas. A suamãe não aprovava a escolha profissionalque Jenny fizera, nem o apartamento emque vivia nem a sua existência quasemonástica. Na realidade, ela tambémnão estava de todo satisfeita com aquelaúltima faceta da sua vida, mas até seinventar a forma de se criar mais horaspara o dia, sair com homens ficariarelegado para um segundo plano.

Jenny tentou falar com um tom alegre.— Tenho notícias de última hora!— Sobre o quê? Sobre aquele

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escritório horroroso onde trabalhas, quefica num edifício cuja instalaçãoeléctrica e cuja canalização nãocumprem a sua função?

Evidentemente, a sua mãe tinha deindicar os pontos mais negativos. Mas oescritório tinha de estar onde estavam aspessoas pobres, não num edifícioluxuoso do melhor bairro de Portland.

— Processámos o senhorio por essarazão — disse à sua mãe e depoisacrescentou com orgulho: — Eganhámos!

— O que tem de mal trabalharescomo advogada num escritórioconhecido e respeitado? O que tem demal quereres ganhar dinheiro?

Jenny agarrou no jornal que deixara

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desdobrado naquela manhã. Para alémdaquele pormenor, não havia nadadesarrumado no seu apartamento. Coleestava na escola a maior parte do dia.Quando Sandra, a sua ama, o trazia paracasa, Cole mal tocava nalgum dosbrinquedos que Jenny lhe comprara.Estavam todos guardados no seu baú,portanto ela não tinha nada para arrumarnaquele momento. Viu-se obrigada aolhar para a sua mãe e a acalmar-se.

— Não há nada de mal em quererganhar dinheiro — replicou. — Eu tentoganhá-lo para os meus clientes.

Elaine franziu ainda mais a testa.— Refiro-me a ganhares dinheiro

para ti própria.

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— Não preciso de muito dinheiro —respondeu Jenny. Entrou na cozinha, aalguns passos da sala, e começou a tiraros pratos para a pizza que iaencomendar por telefone. — Não tetinha dito, mamã? As melhores coisas davida são grátis.

Elaine soprou, desdenhosamente.— Não era verdade quando Al Jolson

cantava aquela canção, e não é verdadeagora — replicou. Depois, o seu tomtornou-se de desespero. — Isto parte-meo coração, Jenny. Estás a esbanjar o teutalento e a tua vida.

Jenny quase sentiu pena da sua mãe.Nunca conseguiriam concordar naquilo.

— A minha vida, mamã! O meu

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talento!Elaine fechou os olhos.— O teu irmão disse-me que isto era

uma perda de tempo.Ao ouvir mencionar Jordan, Jenny

sorriu novamente. Tinha de lhetelefonar.

— Às vezes, o meu irmão édemasiado sábio para a sua idade —disse, enquanto pensava num modo deexpulsar a sua mãe sem recorrer à forçafísica. — Queres ficar para jantar?Estava prestes a pedir uma pizza.

Elaine encolheu-se. Ela nuncaprovara uma pizza na sua vida.

— Tenho um compromisso.Daquela vez, foi Jenny quem deu o

braço à sua mãe e, com suavidade, a

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conduziu até à porta.— Pois então, por favor, não te

atrases por minha causa.Afastou-se da sua mãe e abriu a porta.— A tua missão foi um fracasso,

mamã, mas gostei de te ver.Elaine atravessou a soleira e parou o

tempo suficiente para se virar e abanar acabeça.

— Tens noção de que há muitasraparigas que matariam para ter a tuaeducação e as tuas oportunidades?

E, caso não tivesse noção, pensouJenny, já tinha a sua mãe para lhorecordar com frequência.

— Pois então, dá-lhas antes quemagoem alguém.

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— Nem tudo na vida é umabrincadeira, Jennifer!

— Não — admitiu ela. — Mas, sesorrires, conseguirás ultrapassar tudo —respondeu. Depois inclinou-se e deu umbeijo na face à sua mãe. — Sorri de vezem quando, mamã. Evita as rugas —disse. Depois compadeceu-se dela. —Caso faça sentir-te melhor, vou ser apresidente do leilão anual de solteirospara angariar fundos para a Associaçãode Pais Adoptivos. Pressupõe-se quealgumas das damas da tua queridasociedade estarão lá, a babarem-se comos bons partidos que desfilarão naquelanoite.

Elaine olhou para ela com os olhos

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semicerrados.— Não sejas vulgar, Jennifer! Uma

dama não se baba!— Uma dama não permite que

ninguém a veja babar-se — corrigiuJenny com um sorriso.

Perante aquela derrota inegável,Elaine deixou escapar um suspiro...

— És impossível!Jenny inclinou a cabeça.— Sim, mas amo-te e tu tens outro a

quem tentar convencer em casa.— Jordan já não vive em casa,

Jennifer. Está fora há anos. Tu sabes.A sua mãe sempre fora uma amante da

precisão.— É uma forma de falar, mamã —

respondeu Jenny enquanto começava a

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fechar a porta.Elaine deu-lhe uma última instrução.— Come qualquer coisa.— Assim que trouxerem — prometeu

Jenny, e depois fechou a portarapidamente, caso a sua mãe mudasse deideias e arranjasse mais alguma coisapara criticar. — Aquela mulher distribuialegria por onde anda — disse, enquantocaminhava para a sala e para Cole. —Na verdade, não pensa o que disse,Cole. Tem um bom coração. Só que édifícil encontrá-lo debaixo daquela capade jóias e roupa de marca. É verdade oque se diz, sim! Os ricos são diferentesde ti e de mim — prosseguiu.

Enquanto falava, assentia como se o

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menino tivesse feito algum comentário.Era algo que fazia todas as noites, com aesperança de conseguir, algum dia,arrancar-lhe alguma palavra. Era ummenino precoce, que antes da morte dasua mãe passava o dia todo a falar.

— Bom, sei em que estás a pensar.Que eu também sou um deles, mas não éverdade. Não podes atirar-me à cara asminhas origens. Eu não queria fazerparte da elite e fugi assim que pude.

O que era verdade. Ela nunca sentiraafinidade com o mundo dos seus pais.Sentia muito mais vínculos com aspessoas que estava a tentar ajudar,embora também não encaixasse porcompleto no seu mundo.

— Os privilegiados pensam que, para

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todos os outros, respeitá-los e admirá-los também é um privilégio. Não seapercebem de que saltar de cocktail emcocktail e de festa em festa pelo mundonão leva a descobrir o verdadeirosentido da vida.

Cole continuou a brincar com o seuamigo imaginário como se ela nãotivesse dito nada, mas Jenny tentouconvencer-se de que o som da sua vozestava a reconfortá-lo de algum modo.Jenny recordou o menino que fora até háseis meses atrás, um menino brilhante ealegre que se ria constantemente. Mastambém era muito ligado a Rachel e asua morte fora um golpe fortíssimo paraele.

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Imediatamente depois do funeral,quando assimilara a morte da sua mãe,Cole afastara-se do mundo. Falava, mas,de noite, nos seus pesadelos, gritava echamava por Rachel, a soluçar.

Jenny, com o coração partido, corriapara o seu quarto e abraçava-o até omenino voltar a adormecer. Um dia,disse para si, um dia, iria conseguiralcançá-lo. Até então, continuaria alipara Cole.

Jenny olhou para a mesa da cozinha,onde espalhara todos os relatórios quetrouxera do escritório. Estava a meio deuma batalha nos tribunais em nome deMiguel Ortiz. Se ganhasse, o seu triunforepresentaria uma grande ajuda na vida

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do homem.Se não houvesse um milagre, Miguel

nunca voltaria a andar, nem se livrariadas dores que estava a suportar desdeque um respeitado cirurgião o operara àespinha dorsal. Apesar do seu renome, omédico levara a operação a cabo emestado de embriaguez e causara danosirreparáveis ao paciente.

Assim, se ganhassem aquela causa,conseguiriam uma indemnização paraMiguel e o homem recuperaria a suadignidade.

Estavam a aproximar-se do fim.Durante as últimas cinco semanas, elanão fizera outra coisa a não ser comer,dormir e respirar aquele caso, mas,naquele momento, precisava de algum

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tempo para si. E não lhe ocorria nadamelhor que criar uma ilha minúscula detempo para poder partilhá-la com apessoa que mais lhe importava nomundo: Cole.

Inclinou-se para ele, abraçou-o e,suavemente, fez com que ficasse de pé.Depois beijou-lhe a cabeça.

— Não te preocupes com o que abruxa malvada disse. Eu estarei sempreaqui para cuidar de ti. Tu e eu contra omundo, está bem, miúdo? Bom, vamospedir a pizza e depois leio-te umahistória. Acho que precisamos derelaxar depois desta visita surpresa.

No fundo, sabia que a sua mãe tinhaboas intenções. Na verdade, tanto o seu

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pai como ela tinham, mas Jenny nãoestava disposta a sacrificar nenhumaspecto da sua vida. Adorava ser aheroína das pessoas que tinham perdidoa esperança. E amava Cole. Desejavaser uma mãe para ele, mais do quequalquer outra coisa no mundo.

A única coisa de que, por vezes,sentia falta no seu mundo era ter umpríncipe que a apoiasse, a quem pudesserecorrer quando o desânimo seapoderava dela e precisava de sereafirmar. Mas, na realidade, existiriamvidas perfeitas? A sua estava muitoperto da perfeição, e isso era suficientepara Jenny.

Telefonou para uma pizzaria deconfiança e encomendou a Angelo, o seu

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empregado, uma pizza com uma doseextra de queijo e três tipos de carne. Eleprometeu-lhe que a enviariam dentro demeia hora.

— Muito bem — disse a Coleenquanto desligava. — É o suficiente.

Depois aproximou-se da pequenaestante do canto, agarrou no livropreferido de Cole e sentou-se no sofá.Aninhou Cole no seu colo e depoiscomeçou a ler.

Lentamente, a tensão desapareceu.

— Vamos, vai ser divertido — disseJordan Hall ao seu melhor amigo, EricLogan.

Teve de levantar a voz para conseguir

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fazer-se ouvir por cima das pancadasrítmicas que a bola dava ao bater contraa parede que tinham à sua frente, noginásio de que ambos eram sócios. Erice ele estavam muito igualados no jogo eJordan tinha de se concentrar para nãoperder o jogo. E aquela não era umatarefa fácil quando estava preocupadocom o facto de pôr em funcionamento oseu plano com subtileza.

Pensara naquilo depois de falar com asua mãe ao telefone. Elaine Hallestivera a queixar-se de que, quando,finalmente, Jennifer decidira deixar-sever nos círculos em que fora criada, iriafazê-lo num leilão deplorável desolteiros.

— Claro que é um leilão de

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beneficência e acho muito bem —dissera-lhe a sua mãe, — mas quandoirá pensar aquela tua irmã em arranjarum marido adequado e formar umafamília, como se pressupõe que tem defazer?

Era a mesma pergunta com que a suamãe também o perseguia. E a mesmacom que Leslie, a mãe de Eric, oatacava de vez em quando.Normalmente, ter-lhe-ia entrado por umouvido e saído pelo outro, como todasaquelas conversas que a sua mãe tinhacom ele, excepto que, daquela vez, lhedera uma ideia. A informação que a suamãe lhe dera fundira-se com um dadoque ele tinha na mente, de que tinha a

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certeza que só ele sabia. Sabia queJenny, em tempos, estivera apaixonadapor Eric.

E talvez continuasse a estar.De qualquer modo, aquele leilão

fizera-o elaborar um plano. Jenny nãofazia mais nada a não ser trabalhar enunca se dava ao luxo de se divertir. Naopinião de Jordan, a sua irmã precisavade diversão. E ele queria dar-lha.

Aquela era a primeira fase.— Divertido — repetiu Eric, com um

sopro, enquanto lhe devolvia a bola,enviando-a primeiro para a parede edepois directamente para Jordan. —Passear-me como um naco de carne poruma sala cheia de senhoras da altasociedade com os livros de cheques na

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mão. É essa a tua ideia de diversão?— Não, a minha ideia de diversão é

passear-me à frente das filhas dessassenhoras que têm os livros de chequesna mão — corrigiu Jordan enquantosaltava para apanhar a bola e mandá-lanovamente para a parede. — Jáparticipei nalguns desses leilões.Acredita em mim, é por uma boa causa ecobre a tua quota de beneficência porseis meses, no mínimo!

— Eu já a cubro no escritório —replicou Eric, devolvendo o serviço.

Ambos sabiam que aquela respostaera verdadeira. Todos os membros dafamília de Eric se dedicavam, emdiferentes graus, à beneficência. Embora

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ele fosse o mais despreocupado detodos, um solteiro encantador edesejável que fazia parte da empresagigantesca de informática LoganCorporation, encarava tão a sério comoo resto o facto de realizar acçõescaridosas e, embora não o fizesse deforma tão visível como os outros Logan,Jordan sabia que o seu amigo estavaatento aos que tinham menospossibilidades e, em segredo, fazia oque podia para ajudar.

Algo que tinha em comum com Jenny,pensou Jordan. E contava com queaquilo aplainasse o caminho para que asua irmã desfrutasse de uma noite quemerecia e que não iria esquecer.

No entanto, primeiro tinha de

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convencer Eric.— Pois, faz mais um pouco.— Porquê esse interesse repentino em

que eu participe neste grandeespectáculo de homens?

— A minha irmã é a presidente —respondeu ele. — E pensei que deviaser um bom irmão mais velho e recrutaralguns homens para o seu leilão.

Com uma estocada poderosa, Ericenviou a bola por cima do ombro deJordan e sentiu uma injecção deadrenalina nas veias pelo seu triunfo. Oponto era dele.

O desporto era o único campo ondepermitia que o seu sentido decompetitividade aflorasse. Deus sabia

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que não o utilizava no trabalho. Lá,Peter, o seu irmão mais velho, era odirector-geral desde que o seu pai sereformara. Eric estava convencido deque Peter nunca dormia. O seu irmãomais velho já estava no escritórioquando Eric chegava e ficava lá muitodepois de ele ir para casa.

Eric pressupôs que aquilo era, emparte, por Peter pensar que tinha defazer o dobro dos outros, por seradoptado. Portanto, Peter conseguiacoisas espantosas e Eric ficava como senão fizesse nada. Se Eric fosse umapessoa insegura, aquilo tê-lo-ia enviadoa correr para o sofá do psiquiatra maispróximo. No entanto, tinha um amor-próprio saudável, o que lhe permitia ver

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os esforços de Peter como algo muitobom para a família e que não se reflectianegativamente nele.

Na verdade, fazia com que Eric sepreocupasse com o seu irmão maisvelho. Sentia-se como se Peter estivessea deixar passar a vida ao seu lado.

— Está bem. Irei. Mas com umacondição — disse e fez o serviço.Imediatamente, preparou-se para aresposta. — Também terás de convencerPeter. Ele é que precisa de relaxar.

Não houve a mínima hesitação porparte de Jordan.

— Claro que sim! Peter será umagrande contribuição — respondeuJordan com um sorriso, pensando

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naquele homem tão sério enquantodevolvia a bola ao seu amigo. — Masporque não lhe dizes tu primeiro?

— Eu? — perguntou Eric. Naquelemomento, perdeu a bola e praguejouentredentes. Depois, com a bola fora dejogo, fez uma pausa para recuperar ofôlego. — Tu é que és o proxeneta.

Jordan agarrou numa garrafa de águae bebeu antes de responder.

— Isto não tem nada de proxenetismo.É algo completamente limpo. Leva-te amenina...

— Que pagar pelos meus serviços —acrescentou Eric, imediatamente.

— Que doar uma boa quantia dedinheiro para uma causa justa peloprazer da tua companhia — corrigiu

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Jordan e recomeçou: — A menina leva-te a jantar e ao cinema. Isso não incluiaquecer os lençóis de ninguém — disseJordan e fez uma pausa. Sabia que nãopodia parecer um menino de coro daigreja sem levantar as suspeitas de Eric.— A menos, claro, que te apeteça.

— O que me apetece nunca é umproblema. O que conta é o que a meninaquiser — disse-lhe Eric, com um toquede inocência que era menos do queconvincente.

Jordan conhecia bem a reputação demulherengo do seu amigo.

— E tu consegues sempre quequeiram exactamente o mesmo que tu —acabou ele.

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Eric respirou fundo e preparou-separa outro jogo.

— É o que tu dizes!Jordan fez a bola bater contra o chão

do ginásio e depois olhou para Eric.— Então, irás?Eric encolheu os ombros.— Claro, porque não? E encarregar-

me-ei de convencer Peter — respondeu.Depois, lançou um olhar inquisitivo aJordan. — Tu também irás, não é?

— Não o perderia por nada destemundo.

Com aquilo, Jordan atirou a bola,entusiasmado.

A primeira fase estava completa,pensou. Só tinha de avançar com a

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segunda.

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Dois

Jenny tomou duas aspirinas para

tentar acalmar a sua dor de cabeça.Naquele dia, tudo lhe correra mal.O despertador não tocara e, além

disso, a ama de Cole, uma mulher que seorgulhava de ser sempre pontual,chegara tarde. Além disso, para piorarainda mais as coisas, o carro decidiraavariar-se naquela manhã e ela tivera desubir novamente ao apartamento parachamar um táxi.

Quando, por fim, conseguira chegar

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ao escritório, tinha um monte demensagens sobre a secretária e as suasreuniões estavam a atrasar-se.

Com a esperança de que as aspirinasfizessem efeito e a enxaquecaacalmasse, Jenny estava apenas a meiodo monte de mensagens quando asecretária, que partilhava com os seuscolegas do escritório, entrou no seuescritório para lhe dizer que tinha umachamada.

Tentando que o seu tom de voz fossejovial, pegou no auricular e atendeu:

— Bom dia, fala Jennifer Hall.— A mamã telefonou-me ontem.A tensão desvaneceu-se

momentaneamente do seu corpo aoreconhecer a voz do seu irmão. Jordan

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era uma pausa naquele dia desastroso.— Os meus mais sentidos pêsames!Jenny ouviu como Jordan se ria antes

de continuar.— Disse-me que és a presidente do

leilão de beneficência de solteiros.— Os que podem têm encontros. Os

que não podem vão a um leilão —respondeu Jenny.

O seu irmão surpreendeu-a com umaresposta muito séria.

— Não te subestimes, Jenny. O únicomotivo pelo qual não sais todas asnoites da semana é porque não queres.

— Claro! — respondeu ela. Nãoinfluenciava nada o facto de ninguém lheprestar atenção.

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Os clientes da sala de espera estavama impacientar-se e tinha de os atenderantes de ir para o tribunal.

— Olha, Jordan, eu adorariaconversar, mas...

Então, ele foi directamente à questão.— Telefonei para oferecer,

voluntariamente, os meus serviços parao leilão.

Mais uma vez, Jenny ficousurpreendida. Escreveu o nome do seuirmão na margem do seu bloco, com umanota sobre o leilão. Uma coisa quecorria bem naquele dia. Talvezcomeçasse uma nova lufada.

— Fantástico, Jordan! Isto significaque não tenho de te convencer — disse-

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lhe, embora só recorresse a ele se nãoconseguisse mais ninguém. Sabia queaquela não era uma das coisaspreferidas de Jordan.

— Não, mas é possível que tenhas deutilizar um pouco de persuasão com osoutros dois candidatos que te arranjei.

— Eh? — perguntou, intrigada. —Quem me arranjaste?

— Peter Logan e o seu irmão —respondeu Jordan. Peter Logan tinhadois irmãos e duas irmãs. Jordan fezuma pausa significativa antes de dizer:— Eric.

Eric.O muito bonito Eric.Eric, com o seu cabelo e olhos

castanhos. Eric que, depois de todos

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aqueles anos, continuava a aparecer,com frequência, nos seus sonhos paralhe recordar que nunca deixara de estarapaixonada por ele.

Toda a gente tinha um sonhoimpossível. Eric era o seu. Mas Jennyaprendera que os sonhos não setornavam realidade se não se lutasse poreles. E ela, tão pouco graciosa comoera, mantivera-se à distância de EricLogan. O homem estava habituado alidar com mulheres impressionantes eela sabia que nem sequer um homembondoso utilizaria aquele adjectivo paraa descrever.

— Jenny? Estás aí? — perguntou-lheJordan.

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Ela pigarreou.— Eh... Falaste com eles?— Falei com Peter. Ele sugeriu-me

que Eric se juntasse a nós e pensou queo teu pedido poderia consegui-lo.

— Um pedido a Eric — repetiu ela,como se estivesse em transe.

— Sim, poderias fazê-lo.— Tu és o seu melhor amigo, Jordan.

Fala tu com ele.— Não posso.— Porquê?— Porque sou o seu melhor amigo e

Eric não teria nenhum problema emdizer-me que não. Mas não to recusará,sobretudo tendo em conta que os seuspais doaram uma quantia considerável à

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tua causa, para além de à Children’sConnection — disse-lhe ele,mencionando o nome da agência deadopção vinculada ao Hospital Geral dePortland e à Associação de PaisAdoptivos. — Só precisa de um poucode persuasão.

— E tu achas que eu posso consegui-lo.

— Eh, tu és a presidente! Eu nãoposso fazer-te o trabalho todo. Alémdisso, tu conseguirias convencer umelefante.

Pressupunha-se que aquilo seria umelogio, mas ela já ouvira melhores.

— Uma imagem linda!— Encontrá-lo-ás na Logan

Corporation. Sei que está livre hoje, por

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volta da uma hora — disse-lhe Jordan.— Estará à tua espera.

Ela tinha de estar no tribunal às trêshoras. Aquilo proporcionava-lhe umapequena margem de tempo se almoçassena sua secretária.

— Estará à minha espera?— Sim. Disse a Eric que,

possivelmente, irias falar com ele para oconvenceres.

Ela sentiu que a sua boca secava edepois disse, com incredulidade:

— Bom, então pressuponho que ireifalar com ele à uma hora.

— Estupendo! Falaremos mais tardeacerca dos pormenores.

Passado um instante, Jordan

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despedira-se e desligara o telefone.Jenny levantou-se da cadeira,

agarrando-se à secretária, porque aspernas lhe tremiam. Quase a cambalear,começou a caminhar para o corredor.

— Jenny, o teu próximo cliente estáaqui — gritou-lhe Betty, a secretária,enquanto Jenny passava diante da mesada jovem. Jenny nem sequer olhou paraela. Não conseguia. Mexer a cabeçapoderia levar a consequênciasperigosas.

— Diz-lhe que já venho.Tentando habituar-se às suas novas

pernas de madeira, Jenny acelerou opasso para chegar à casa de banho atempo de vomitar.

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Durante um segundo, depois de sair

do táxi, Jenny ficou na curva, a olharpara o edifício de trinta andares que seerguia diante dela. Era o edifício deescritórios propriedade da LoganCorparation. Com um esforço, reuniutoda a coragem que conseguiu.Precisava de toda a ajuda queconseguisse.

Embora a sua última reunião setivesse prolongado, chegara ao edifícioda Logan Corporation com algunsminutos de antecedência.

No caminho, ensaiara o que ia dizer aEric quando estivesse a sós com ele.Mas, ao contrário do que aconteciaquando preparava os seus resumos no

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tribunal, não lhe parecia que os ensaiosmelhorassem o seu desempenho.

Era apenas um homem, disse para sienquanto subia no elevador até ao seuandar. Duas pernas, dois braços e umcorpo no meio. Por debaixo daquelapele bronzeada, ele tinha a mesmaestrutura óssea que os outros homens.

Mas, oh, aquela pele...!, pensouJenny. E sentiu calor.

Tanto pensar não ia levá-la a ladonenhum. E, pior ainda, se não tivessecuidado, perderia um solteiroincrivelmente desejável e apropriadopara o leilão. Quantos menos solteiroshouvesse, menos dinheiro angariariam.Até o mais parvo se daria conta de que,ter Eric Logan na equipa, proporcionaria

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muitos dólares à organização.Não havia outra forma de o dizer:

tinha de o considerar como qualqueroutro corpo. «Concentra-te, concentra-te!», ordenou-se enquanto saía doelevador e caminhava pelo corredor atéao escritório de Eric.

O seu escritório ficava por detrás deuma porta enorme de madeira. A suíteimpressionante que ocupava estava àaltura do cargo de Eric Logan: vice-presidente de marketing e vendas daLogan Corporation.

Jenny apresentou-se diante dasecretária que havia à porta.

— Sou Jennifer Hall. O senhor Loganestá à minha espera.

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A mulher esboçou um sorriso distante,embora amável, e depois confirmounuma lista que tinha diante ela.

— Muito bem — respondeu comfrieza. — Acompanhe-me, por favor.

A secretária levantou-se e bateu àporta. Depois virou a maçaneta e abriu osuficiente para permitir que Jennyentrasse no escritório.

— A menina Hall, senhor.Jenny assentiu para agradecer à

mulher e atravessou a soleira. Quando aporta se fechou novamente atrás dela,concentrou-se em não desmaiar.

Parecia a personificação daeficiência, pensou Eric Logan enquantose levantava para cumprimentar Jenny.

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Usava o cabelo, castanho-claro,perfeitamente penteado, salvo umapequena madeixa que lhe caía pelatêmpora direita e que parecia queescapara com rebeldia do resto do seucabelo.

Aquele pormenor fazia com queparecesse mais humana, pensou,enquanto passeava o olhar pelo resto dasua pessoa. A irmã de Jordan vestia umfato cinzento-claro que parecia sersuficientemente largo para esconder asua figura.

Haveria uma figura por debaixodaquele tecido ou não teria forma?

De qualquer forma, aquilo não tinhaimportância. Recordou a si próprio queaquela mulher era a irmã do seu melhor

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amigo e não uma conquista. Só estava afazer um favor a um amigo.

— Senta-te, por favor — disse-lhe eindicou-lhe uma das cadeiras que haviaà frente da sua secretária.

— Obrigada por me receberes.Pronunciou aquelas palavras

lentamente, com clareza. No entanto,Jenny tinha a sensação de que a língualhe inchara. Depois de se sentar, apoioua sua mala contra a beira da secretária epousou as mãos nos braços, rezandopara não deixar marcas de suor sobreeles. Tinha as palmas húmidas.

Respirou fundo e lançou-se à suatarefa, esperando fervorosamente nãoparecer uma idiota.

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— Sei que o teu tempo é precioso,Eric... — podia chamá-lo Eric, nãopodia? Afinal de contas, tecnicamente,eram conhecidos. — Mas esta é uma boacausa. Desde mil novecentos e oitenta enove, a Associação de Pais Adoptivosconseguiu ajudar...

Eric perguntou-se se ela estaria atentar convencê-lo. Depois de falar comJordan, ele ficara com a ideia de que oacordo estava fechado.

— Sim.Aquela única palavra tirou-lhe o

fôlego. Jenny sentiu-se como se tivessecarregado a fundo no travão e estivessea derrapar pela estrada, a tentar nãochocar contra nada.

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— Sim?Haveria alguma coisa que ela não

sabia? Ou Jordan não contara à sua irmãque ele já acedera?

— Sim, participarei no leilão desolteiros. Era isso que querias pedir-me,não era?

— Sim — respondeu ela e respiroufundo. De repente, corou. — Meu Deus,fiquei sem saber o que dizer.

Pareceu-lhe que ficava muito atraentecorada. Talvez não fosse tão insípidacomo ele pensara à primeira vista.Realmente, Jenny tinha uns olhos azuislindos.

— Porquê? Não querias que dissesseque sim?

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— Sim — disse ela.Gostou do som daquela palavra nos

seus ouvidos e do sabor da sílaba na sualíngua. Sim... Havia tantas coisas em quequeria que Eric e ela estivessem deacordo...

Abanou a cabeça e tentou recuperar ocontrolo da conversa. Caso contrário,ele iria pensar que era uma idiota.

— Quer dizer, tinha estado à procurados melhores argumentos para teconvencer, a ensaiar discursos. O taxistadeve ter pensado que era louca.

— O taxista?Jenny assentiu.— Tive de vir de táxi. Na verdade,

hoje tenho de ir de táxi para todo o lado.

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O meu carro não trabalha. Mas nãoimporta, de certeza que não queres ouvira história.

Eric sorriu-lhe e Jenny pensou que osseus joelhos iam derreter-se.

— Já me contaram coisas piores —disse Eric. Olhou para a agenda daqueledia e tomou uma decisão. — Porque nãovamos tomar um café a algum sítio e mecontas o que queres que façaexactamente?

«Oh, se tu soubesses!» Jenny teve dese conter para que os pensamentos nãolhe escapassem pelos lábios. Com umgrande controlo sobre si mesma,obrigou-se a pensar com pragmatismo,coisa nada fácil naquelas circunstâncias.Tinha de estar no tribunal antes das três

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horas da tarde, o que significava quetinha de chamar um táxi à uma hora equarenta e cinco. Como naquelemomento era uma hora em ponto, tinhamais ou menos quarenta e cinco minutos.

Quarenta e cinco minutos paradesfrutar do sorriso de Eric Logan etentar não se comportar como uma tola.Era um verdadeiro desafio.

— Parece-me uma boa ideia — disse,finalmente. A seguir, Jenny teve dedesviar o olhar do sorriso de Eric, quese tornara mais amplo nos seus lábios.Sabia que, se não o fizesse, nãorecuperaria o uso dos seus joelhos.

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Três

Entraram num café que ficava junto do

edifício de escritórios da LoganCorporation e sentaram-se junto àjanela.

Eric esperou até estarem sentados àfrente um do outro, numa mesa redondade carvalho, antes de lhe perguntar quetipo de café gostava.

Depois viu-a beber, delicadamente,um gole da chávena. A irmã de Jordantinha uns traços bonitos, pensou, masalguém deveria falar-lhe acerca da

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utilização de maquilhagem. Embora, narealidade, ele conhecesse mulheres queseriam muito menos atraentes do que elase privadas das suas pinturas, pós eescovas. Ela tinha algo...

— Bom, então é a isto que te dedicas?— perguntou-lhe.

— Referes-te a chatear homens?Ele riu-se e, embora fosse perigoso

para o seu bom-senso recém-recuperado, Jenny permitiu-se absorveraquele som e desfrutar do momentoantes de recordar a si própria, mais umavez, que aquilo não tinha nada a ver como seu amor por Eric, mas com uma obrade beneficência.

«Ah, mas a caridade começa por nóspróprios», disse-lhe uma vozinha, «e tu

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não gostarias de o levar para casa?»Jenny moveu-se com desconforto na

cadeira, como se quisesse afastar-sefisicamente daquele pensamento quesaíra de debaixo dos seus sonhosimpossíveis.

— Não — respondeu Eric. — Refiro-me a angariar fundos.

— Não — replicou ela, levantandoum pouco a voz sobre o murmúrio dolocal. — Sou advogada.

Eric inclinou a cabeça e olhou paraela com atenção, como se estivesse aassimilar aquela informação e tentandoaplicá-la a ela.

— A sério?A pergunta tinha um certo tom de

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incredulidade. Era evidente que o seuirmão mais velho não falava com Ericsobre ela. Embora Jenny não oesperasse. Quando os homens bonitos sejuntavam, certamente não falavam dassuas irmãs mais novas.

— Sim, a sério.Então viu que ele esboçava um

sorriso de bom humor. Acharia osadvogados engraçados ou apenas a ideiade ela ser advogada?

— Em que escritório trabalhas?— Na Advocate Aid Inc. —

respondeu com um tom de orgulho.Eram um grupo muito pequeno, na

realidade, apenas quatro advogados,uma vez que Russell os deixara. Mas, dequalquer forma, eram um grupo

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orgulhoso.Eric não o esperara. Pensara que, com

todos os contactos que o pai de Jennifertinha, teria arranjado emprego numescritório importante para a sua filha,como arranjara para Jordan. Tentouimaginá-la num ambiente menos luxuosoe não conseguiu.

— Porquê?Jenny ficou tensa. Àquilo sim, estava

habituada. A que a desafiassem. Duranteum momento, esqueceu o olhar suave deEric Logan e a sua natureza protectorasurgiu como quando tinha de defender ascausas perdidas de tanta gente querecorria a ela como sendo a sua últimahipótese.

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— Porque há gente que precisa quealguém esteja do seu lado, muito maisque a gente que vai ao escritório deJordan.

Eric perguntou-se se aquilo seria algoem que ela acreditava realmente ouapenas algo que dizia de cor.

Havia muitos homens e mulheresenvolvidos em causas com que apenaslidavam por controlo remoto, mantendoo seu coração completamente afastadodo assunto.

Como o nível de ruído aumentava, eleinclinou-se para ela do outro lado damesa.

— Então estás a dizer-me que ospobres precisam de mais justiça que os

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ricos?Jenny teve a sensação de que as suas

caras estavam apenas a algunscentímetros de distância. Sentia a suarespiração na pele. E também sentiucomo o interior do seu corpo seescondia como se estivesse a preparar-se para saltar. No entanto, sabia quenunca o faria. Estava demasiadoaterrorizada para fazer o mínimomovimento.

Demorou alguns instantes a recuperara voz.

— Não, estou a dizer que os pobrestêm tanto direito à justiça como os ricos,mas, como são pobres, não a conseguem.

Ele sustentou o seu olhar e pensou quetinha uns olhos lindos. Sinceros.

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Começou a acreditar nela. Ou, pelomenos, a acreditar que ela acreditava noque estava a dizer.

— Excepto tu.Eric estava novamente a sorrir. Seria

um sorriso de indulgência? Dediversão?

Ou de algo com mais significado?Jenny tentou não ficar presa na

expressão do seu rosto.— Eu não sou a única defensora. Há

muitos outros, mas não os suficientes —respondeu e deixou escapar um suspirosem conseguir evitá-lo.

A última vez que ele ouvira umsuspiro assim fora na mesa deblackjack. Provinha de um homem que

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perdera dez mil dólares de uma só vez.— Isso parece muito intenso.

Importas-te de me explicar?— As coisas estão mais difíceis

desde que Russell partiu.— Russell?Ela assentiu. Como ele não bocejara

nem desviara a sua atenção para a ruivavoluptuosa que estava a olhardescaradamente para ele do outro ladodo café, Jenny continuou.

— Russell Riley. Ele foi um dosfundadores da Advocate Aid Inc. —explicou-lhe.

Fora Russell quem a contratara, logoao sair da universidade. Ainda não sesecara a tinta do seu diploma deadvogada quando lhe falara do

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escritório que acabava de abrir com osseus amigos para poder praticar overdadeiro Direito, tal como Russell lhechamara.

— Um dia, simplesmente, deixou-o— disse Jenny. Enquanto relembrava acena, sorriu com ironia. Recordou a suaprópria diversão cautelosa quandopensava que Russell estava a brincar ecomo se transformara em incredulidade,e depois em tristeza. E, finalmente, emraiva, porque ele estava a abandoná-losdepois de os ter atraído para aquelesideais.

— Disse-nos que já tinha tidobatalhas suficientes contra os moinhosde vento. Que os moinhos de vento

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tinham ganhado e que ia aceitar a ofertade um escritório cujo salário lhepermitiria pagar as contas no fim do mês— continuou a relatar.

Jenny pressupôs que não podia culpá-lo. Afinal de contas, ela nunca se viranaquela situação. Talvez pensasse deforma diferente se tivesse de escolherentre pagar a renda ou comer todas assemanas.

Eric acabara o seu café e estava abrincar com a chávena vazia, com osolhos fixos nela.

— E tu nunca te sentes assim?— Eu consigo pagar as contas no fim

do mês — admitiu com algumavergonha. — Tinha uma avó muitogenerosa que me deixou dinheiro, mais

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do que suficiente, no seu testamento.Eric abanou a cabeça.— Não, refiro-me às batalhas contra

os moinhos de vento.Ela sorriu.— Algumas vezes. Mas há ocasiões

maravilhosas em que os moinhosperdem. E essas ocasiões fazem comque tudo valha a pena. Tal como aexpressão no rosto do meu cliente, umapessoa que pensava que já nãoimportava a ninguém e que estavadestinado a ser aquele que toda a gentepisaria — disse ela, esquecendo-semomentaneamente de quem era o seuinterlocutor. — Eu trabalho com aesperança e não há maior proveito que

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vê-la enraizar e estender-se.Jenny apercebeu-se de que ele ficara

calado. Não chateado, só calado. Estavaa olhar para ela como se tivesse ditoalgo interessante.

Aquele era um dos seus dons, pensouela. Ouvira algumas mulheres dizeremque Eric Logan conseguia fazer com quese sentissem como se fossem as únicaspessoas numa sala a abarrotar. Eraverdade. O café onde a levara estavacheio de gente que apreciava os últimosminutos do seu intervalo do meio damanhã. Jenny vira várias mulheresficarem a olhar para Eric quando tinhampassado ao seu lado à procura de umamesa livre. Mulheres atraentes que sesentavam à frente de homens atraentes.

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Mas Eric era único. Tinha algoespecial. Magnetismo, pensou Jenny.

E estava a sorrir-lhe, a sorrir-lhe asério. Não com indulgência, como aspessoas faziam quando estavam a contaros minutos para que o seu interlocutoracabasse de falar, mas genuinamente.

Ou seria aquilo um desejomelancólico da sua parte?

— O que é? — perguntou Jenny,finalmente.

Eric ficou sério. Não queria quepensasse que estava a rir-se dela.

— Jordan nunca me tinha contadonada disto. A única vez que falou sobreti foi para me dizer que eras a presidentede um evento de beneficência. Não fazia

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ideia de que a irmã mais nova de Jordanse transformara na Joana d’Arc.

Jenny envergonhou-se.— Soou demasiado pomposo?Ele leu rapidamente a expressão da

sua cara, com arrependimento. Na suaopinião, não havia heróis suficientes nomundo.

— Não, desculpa, não o dizia paragozar contigo. Apenas fiqueiimpressionado. Os meus pais tambémteriam sentido o mesmo ao ouvir-te.Eles acreditam firmemente no conceitode fazer algo pelos outros.

Ela sentiu que se acendia uma luz noseu interior, uma luz que a iluminavacom força. Ele estava impressionado.Eric Logan estava impressionado com

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ela. Não importava que fosse por algoque ela fazia quotidianamente. Elereparara nela!

— Na realidade, não é uma questãode fazer algo pelos outros, mas deequilibrar a balança — comentou Jenny.Depois mordeu o lábio. — Desculpa,não quero exagerar.

— Não exageraste! — protestou Eric.— Que eu saiba, fiz-te uma pergunta.

Ela tentou não corar, mas nãoconseguiu evitá-lo.

O que tinha aquele homem que,quando falava, olhava, respirava,conseguia fazer com que perdesse ocontrolo sobre si mesma, os seuspensamentos, tudo?

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— Devias ter-me perguntado sobre oleilão de beneficência.

Então, como se ele o tivesse feito,Jenny começou a dar-lhe os pormenoresdo leilão: a data, a hora e o lugar ondeiria decorrer. O Hilton de Portlandcedera uma das suas maiores salas parao evento, em troca da publicidade quelhe proporcionaria nos jornais e revistaslocais. Ela já falara com o Herald e oTribune para se certificar de quehaveria notícias da noite do leilão.

Jenny viu como Eric introduzia ainformação na sua agenda electrónica esusteve a respiração enquantoconfirmava que não tinha nenhum outrocompromisso. E, para seu alívio, Eric

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estava livre.Até ao momento, tudo corria bem.— Preciso que chegues cerca de meia

hora antes de o leilão começar pararever a ordem que seguirão e o quequeres dizer quando te apresentares aopúblico.

— Tenho de escrever a minha própriaapresentação? — perguntou Eric. Nãopensara naquilo e não estava habituado afazer listas das suas virtudes.

Jenny lembrou-se do ano anterior. Amaioria dos homens que participara noleilão tinha ideias muito claras do quetinha de dizer sobre eles antes de oespectáculo começar.

— Muitos dos solteiros gostam de ofazer.

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Eric encolheu os ombros.— Porque não o fazes tu? — sugeriu-

lhe ele. E, ao fazê-lo, pareceu-lhe queela ficava um pouco espantada. —Escreve o que quiseres.

O que lhe pareceria «Amo-te»?Jenny sobressaltou-se ao processar

aquele pensamento e sabia que eletambém se teria sobressaltado se otivesse dito em voz alta.

Eric pensou que a sua reacção sedevia às suas palavras e a não lhe terocorrido algo de repente.

— Não te sentes bem?— Eh... Sim, sim, óptima! Acho que

sei o suficiente sobre ti para fazer umaapresentação inteligente — respondeu

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Jenny. Tentando olhar para qualquerlugar menos para a sua cara, fixou-se noseu relógio. Então assimilou as horas emurmurou.

— Oh, meu Deus!— O que se passa?Então olhou para ele, tentando

controlar o pânico que sentia. Ia chegartarde. Aquilo ia em consonância com odia.

— São duas horas em ponto —respondeu ela. Detestava chegar tarde.Imaginou o pobre Miguel e a sua famíliaà espera dela nos corredores dotribunal, a pensarem que os abandonara.

— E?— Tinha de estar no tribunal às três

horas...

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— Então, ainda tens uma hora.— Sim, mas tenho de chamar um táxi,

há muito trânsito e...Ele levantou uma mão para

interromper a corrente de palavras.— Porque é que eu não te levo?— O quê?Estaria a imaginá-lo ou ela corara?— Porque é que eu não te levo? —

repetiu-lhe ele e depois sorriu. — Issoresolveria o problema, não é verdade?

Resolveria todos os problemas, salvoos que o seu sorriso podia causar aocérebro de Jenny.

— Mas... tens de voltar para oescritório — respondeu ela, com a vozrouca.

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Para Eric, fora uma manhã cheia detrabalho, mas improdutiva.

— Todas as crises de hoje foramconvenientemente evitadas — explicou aJenny. — E, se surgir alguma nova,Peter resolvê-la-á — acrescentou, epensou no seu irmão, sempre a trabalhararduamente. O seu pai não poderia terpensado num filho melhor para gerir aempresa se tivesse tido de escolher. —Peter resolve sempre tudo.

Haveria naquelas palavras uma notade rivalidade entre irmãos?, perguntou-se Jenny. Não. Se fosse o caso, Ericestaria impaciente por voltar para oescritório. Parecia que Eric estava areconhecer algo tal como era.

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— Peter é muito consciencioso —disse ela, suavemente.

Jordan contara-lhe.— Demasiado — conveio Eric e

recordou o modo como Jenny entrara noseu escritório, armada com uma retóricaque não a deixara utilizar. — Talvezseja ele quem precises de convencerpara participar no leilão.

— Jordan fê-lo por mim.Eric assentiu enquanto assimilava

aquela informação.— Uma escolha sábia! Jordan até

consegue convencer o sol a não nascer— disse e, imediatamente, olhou para acara dela. Acabara de a insultarinvoluntariamente? — Não me leves a

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mal.Ela não entendeu porque se

desculpava.— O quê?— Não queria dizer que tu não

conseguirias convencer Peter, sequisesses. Tenho a certeza de queconsegues ser muito persuasiva se tepropuseres a isso.

Ali estava novamente aquele sorriso.Embora estivesse mais apagado, tinha opoder de a desarmar.

«Diz qualquer coisa, bolas, Jenny!Responde a este homem».

Não podia continuar ali sentada, acorar a cada segundo como se nãotivesse mais de um neurónio. Disse aúnica coisa que verdadeiramente

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conseguiu.— Ganho mais casos do que perco.— Referes-te aos tribunais.Quereria ele dizer que, na vida real,

as coisas não funcionavam tal como noscorredores de um tribunal?

— Sim, mas...Sem saber porquê, de repente, Eric

teve o desejo de a ver em acção.— Importas-te se for contigo?— Onde? — perguntou Jenny. Então

apercebeu-se do que ele queria dizer. —Referes-te à sala?

Ele riu-se.— Não creio que o oficial me deixe

ouvir com o ouvido colado à porta —explicou. Então, viu uma expressão de

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terror no seu rosto. — A menos que aminha presença te desconcentre. Nãoquero pôr o caso em perigo só porqueme apetece dar um passeio...

«Raios, controla-te antes que penseque és uma idiota!»

Não importava que, na realidade,fosse.

Não havia nenhuma razão para que oseu coração tivesse acelerado daquelaforma, a menos que fosse ter um enfarte.

«Vá, vá, tu consegues fazê-lo!»Algumas semanas antes, discutira com

um juiz que, normalmente, cuspia pregose comia advogados ao lanche. Eganhara. Se conseguira fazer aquilo,conseguia sobreviver a ter o homemmais impressionante do mundo, sentado

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na sala de um dos seus julgamentos, aver como ela defendia o caso.

Se pensasse acima de tudo emMiguel, fá-lo-ia bem. E, afinal decontas, o que contava era o resto daexistência daquele homem. Se perdesse,a sua qualidade de vida seria muitobaixa. Ela tinha nas suas mãos apossibilidade de a elevar, de demonstrara Miguel Ortiz que nem toda a gente ia alado nenhum.

Jenny respirou fundo e recuperou avoz.

— Não, o facto de estares lá não vaipôr o caso em perigo — disse, masapresentou-lhe a primeira desculpa quelhe passou pela cabeça. — Mas talvez te

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aborreças.Eric olhou para ela com aquele

sorriso e Jenny soube que nunca seriaimune à expressão dos seus lábiosgenerosos.

— Tenho a sensação de que oaborrecimento não vai aparecer emcena.

Ele agarrou-a pelo cotovelo econduziu-a para a saída do café. Jennysentia-se como se flutuasse e perguntou-se se, realmente, estaria a tocar nopavimento com os pés.

Voltaram para edifício da LoganCorporation e desceram até aoestacionamento subterrâneo para irbuscar o Ferrari de Eric. Ele apontoucom a chave electrónica e desactivou o

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alarme.— O caso tem uma base sólida?— Muito sólida — respondeu Jenny,

mas não acrescentou que tivera detrabalhar e investigar incansavelmentepara a conseguir.

Todo o tempo livre que tivera e quenão estava destinado a Cole, passara-o aentrevistar pessoas, a reunir informaçãoe a preparar o caso contra o cirurgião, odoutor Wilson Turner, e contra ohospital, que descuidara a supervisão aomédico.

E, como resultado dos seus esforçosintermináveis, descobrira que muitos nacomunidade médica de Portlandpensavam que Turner era um desastre

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em potência.E aquele desastre acontecera a

Miguel Ortiz.O que seria interessante, pensou ela

enquanto entrava no Ferrari de Eric, eradescobrir se seria capaz de falar, ounão, quando chegassem ao tribunal.

A exposição ao vírus não geravaimunidade, disse para si enquantoolhava de esguelha para Eric.

Só intensificava a febre.

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Quatro

Eric conduzia entre o trânsito da hora

de ponta da mesma maneira que vivia avida, saindo e entrando com habilidadedos espaços disponíveis e fazendo umbom tempo. Chegaram ao tribunal comdez minutos de antecedência.

— Jordan não me disse que eraspiloto de corridas — comentou Jennyenquanto saíam do Ferrari.

Ele dedicou-lhe um daqueles sorrisosque a paralisavam.

— A única coisa que faço é

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aproveitar as oportunidades, Jen —respondeu ele, enquanto apontava com achave para o veículo para activar oalarme. — Querias chegar a tempo, nãoquerias?

Jen. Chamara-lhe Jen. Ninguém lhechamava Jen. Fez com que se sentissesofisticada e segura.

Durante, pelo menos, um segundo emeio, até que ele a agarrou, suavemente,pelo braço e a acompanhou até à entradado tribunal. O facto de lhe tocar,inclusive com a barreira da roupa, eracomo um curto-circuito. Jenny malrecordava o seu nome.

— Fica no segundo andar — disse-lhe ela, enquanto abria a sua mala paraque o segurança a inspeccionasse.

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Quando chegaram ao segundo andar,Miguel Ortiz, a sua mulher e a sua filhajá estavam à sua espera. Jenny viu acadeira de rodas nova que conseguira aohomem para substituir a desengonçadacadeira em segunda mão que usavaquando fora vê-la pela primeira vez.

O cirurgião que estavam a processarcolocara Miguel naquela cadeira parasempre.

Tudo começara com um acidente detrabalho. Enquanto trabalhava no molhede carga de uma conhecida empresa deentregas, Miguel magoara o pescoço eas costas. Depois de três meses devisitas inúteis a vários médicos, Miguelchegara, através de algumas referências,

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ao doutor Wilson Turner, umreconhecido traumatólogo que sótrabalhava há um ano na sua seguradora.Naquela altura, ninguém sabia queTurner perdera a licença médica noutroestado. Turner dissera a Miguel queprecisava de uma operação simples paracorrigir o problema numa das vértebrasda espinha dorsal e que ele poderiarealizá-la de olhos fechados.

E fora assim que a fizera, quase. Maistarde descobrira-se que Turner partiraum osso durante a operação e que umadas lascas se espetara na espinha deMiguel. Miguel acordara da anestesiaincapaz de mover as pernas e com umsofrimento terrível.

Eram necessárias mais algumas

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operações, que o seguro de Miguelconsiderava não serem da suaincumbência, para aliviarem as dores eas tornarem suportáveis. Mas não haviasolução para o mal resultante daincompetência de Turner: Miguel ficaraincapacitado.

Jenny parou diante da família ecumprimentou-os um a um com afecto.

Alma Ortiz, a filha de dezasseis anosde Miguel, respirou fundo, como seestivesse a preparar-se para a tarde queos esperava.

— Bom, chegou a hora, não é?— Sim, é verdade. A menos que não

se decidam a nosso favor — matizouJenny. Ao ver a expressão de desilusão

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da rapariga, passou-lhe o braço pelosombros magros e puxou-a suavementepara si. — Mas, nesse caso, há várioscaminhos alternativos. Não vou render-me até o teu pai estar preparado paraviver a vida, está bem? — garantiu-lhe.Depois olhou para os seus pais e sentiuhumildade perante a confiança que viuneles.

O domínio do inglês de Rosa Ortizera limitado, assim como o de Miguel.Mas o casal reagiu positivamenteperante a segurança do olhar de Jenny.Os dois assentiram.

E depois, curiosamente, passaram oolhar por cima do seu ombro.

Jenny apercebeu-se de que, durantealguns segundos, se esquecera por

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completo de que Eric estava com ela.Então, virou-se para ele, sobressaltada.

— Eric, apresento-te o senhor e asenhora Ortiz — disse. — E a sua filha,Alma. Apresento-vos Eric Logan —acrescentou, para o casal.

Eric inclinou-se para a frente paracorresponder às suas saudações.

Os olhos escuros de Miguel olharampara a cara de Jenny, depois para a deEric e depois novamente para a deJenny. Arqueou um sobrolho e perguntouem espanhol:

— É o seu namorado?À velocidade da luz, Jenny corou.— Não, não! — respondeu

rapidamente, receando que Eric

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entendesse a língua. — Eric é só umamigo.

Inconscientemente, Eric pousou-lheuma mão na cintura e inclinou-se paraela. Gostava muito da cor rosada que elatinha novamente nas faces. Fingiu quenão falava espanhol e perguntou:

— O que te perguntou?«Pára de me tocar, Eric. Não consigo

pensar se estiveres a tocar-me».— Perguntei-lhe se é o namorado dela

— respondeu Miguel, e a sua respostanão serviu de grande ajuda para queJenny recuperasse a sua cor normal.

Eric compadeceu-se dela.— Sou o melhor amigo do seu irmão

— explicou ao senhor Ortiz e depoisinclinou-se, ligeiramente, para Jenny. —

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Ficas muito bem corada.A sua respiração quente acariciou-lhe

a pele e Jenny sentiu que corava aindamais. Tentou concentrar-se e não sedeixar afectar pelo seu fôlego na pele, oseu sussurro no ouvido, mas não serviude nada.

No entanto, tinha de conseguir.Naquele momento, precisava de ter acabeça clara.

Já recusara uma oferta extrajudicialda outra parte por a considerar muitobaixa. Os Ortiz estavam de acordo emdeixar-se conduzir pelo instinto de Jennye pela sua decisão. Tinham fé nela. E elatinha medo de lhes falhar.

As portas da sala abriram-se.

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Um oficial alto e imponente indicou-lhes que deviam entrar.

— Bom, chegou o momento — disseJenny e esperou que o casal e a sua filhaentrassem.

— Dá cabo deles! — sussurrou Eric.Ela sentiu-se ficar com pele de

galinha.— É essa a ideia! — respondeu,

tentando que o seu tom de voz fosse deindiferença, como, certamente, seria odas mulheres que povoavam o mundo deEric.

Um ruído que provinha do outro ladodo corredor chamou-lhe a atenção eJenny virou-se. O exército de advogadosdo Hospital Geral da Piedade

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caminhava para eles.Jenny sentiu um nó de receio no

estômago.— Parece uma cena do Duelo de

titãs, não parece? — comentou Eric,enquanto via como o grupo de quatrohomens e uma mulher se aproximava.

Jenny humedeceu os lábios.— Nesse filme, os bons ganhavam —

murmurou e depois rogoufervorosamente aos céus para que ahistória se repetisse.

Com aquilo, endireitou os ombros eseguiu a família Ortiz até à sala.

Foi como ver outra pessoa.Se Jennifer Hall lhe parecera um

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pouco insegura quando falara com ela,pela primeira vez, no seu escritório, afaceta que mostrou diante do juiz e dosadvogados da parte contrária não foioutra coisa senão segura eexcelentemente preparada. Enquantofalava, desfiando argumento apósargumento, tinha o júri na palma da mão.

Eric pensou que, se alguma vezprecisasse que alguém o representasse,estaria mais disposto a confiar nela doque em todos os advogados quetrabalhavam para a Logan Corporation.

Enquanto a observava, tambémpensou que talvez Jenny pudesse desejaruma mudança de emprego. Ele sabia queo seu pai daria as boas-vindas a ummembro mais activo para a sua equipa

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de advogados de primeira categoria. Elaseria sangue novo e jovem. E, devido aestar envolvida na defesa dos direitosdos desfavorecidos, conheceria muitasfacetas da lei.

Eric também sabia que o DireitoEmpresarial não era um campo debatalha tão dinâmico como aquele emque ela se movia, mas era uma peçavital no futuro da Logan Corporation.

Tomou nota de que devia exporaquela possibilidade a Jenny, talvezinclusive antes do leilão. Eric pensouque, apesar da sua declaração de quegostava de lutar contra moinhos devento, talvez estivesse secretamentecansada daquelas lutas.

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Em algum momento da vida, pensouele, citando inconscientemente a suamãe, as pessoas precisavam de parar delutar e começar a desfrutar de coisasmelhores na vida.

Eric olhou para o relógio. Não seapercebera que o tempo passara tãodepressa. Ficara muito mais do quepensara de início e, se não seapressasse, iria chegar tarde à suaprópria reunião. E além disso, haviaMona.

Esperou que Jenny estivessenovamente de costas para ele e deslizousilenciosamente para fora da sala. Umavez ali, dirigiu-se a toda a pressa paraas escadas e para a saída.

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Perguntou-se como encararia a vivazruiva, com que andara a sair durante asúltimas semanas, o facto de ir participarnum leilão de solteiros. O mais provávelera que não encarasse bem.

Embora aquilo, na realidade, nãotivesse nada a ver com a sua decisão.Ela já estava a tornar-se demasiadoexigente para o seu gosto e ele nuncacomeçava uma relação com a ideia deque iria durar muito.

Jenny respirou fundo e enfrentou ojúri que se sentara na tribuna, disposto aouvir as provas que ela reunira tãominuciosamente no decurso dos últimosmeses.

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A prova crucial eram as declaraçõesda enfermeira e do cirurgião que tinhamassistido Turner durante a operação. Otribunal considerara que o último erauma testemunha que declarava contra aparte que o chamara a depor. O médiconão estava ali voluntariamente e nãoqueria que o acusassem de perjúrio pormentir sob juramento.

E a verdade era que o doutor WilsonTurner não estava em condições deoperar naquela manhã, como tambémnão estava em condições de operar emvárias ocasiões anteriores. A únicadiferença era que, naquela últimaintervenção, a sorte não lhe forafavorável. Como não fora favorável a

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Miguel Ortiz.Jenny fez uma pausa para deixar que o

júri assimilasse aquela informaçãoimportante antes de continuar.

— O advogado do réu mantém que odoutor Kennedy e a enfermeira Jacobsexageraram a situação. Que o estado dodoutor Turner não era tão mau como elesgarantem. No entanto, o senhor Ortiz nãoconsegue andar nem passa um só diasem ter dores terríveis.

»O advogado do réu sustenta queninguém é perfeito e que todoscometemos erros. Que não houvemalícia no procedimento do doutorTurner. Tudo isto é verdade. O doutorTurner não realizou uma intervençãocirúrgica danosa intencionalmente. O

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que fez foi tentar anestesiar-se contra asua própria dor.

Naquele momento, Jenny olhou para omédico, que estava sentado na mesa àsua frente, ladeado por dois dosadvogados do hospital. Parecia queestava prestes a ir-se abaixo. Elalamentou ter de continuar, mas nãoestava ali para acalmar a consciência domédico, mas para defender o seu cliente.

— A sua esposa tinha-o abandonadonaquela mesma semana porque bebia.Portanto bebeu para acalmar a dor.Depois foi para o hospital, para operarMiguel Ortiz. Teriam querido que vosoperassem? A primeira parte dojuramento de Hipócrates deveria ter

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obrigado o doutor Turner a não pegar noescalpelo. Mas fê-lo e, por causa disso,Miguel Ortiz nunca mais poderá dançarcom a sua mulher nem viver um únicodia sem dor, uma dor que é a lembrançaconstante do que Wilson Turner lhe fez.Quero que o tenham em mente quandoentrarem naquela sala. E espero que,quando saírem, tenham concedido aosenhor Ortiz a indemnização máxima quea lei fixa.

Quando concluiu, Jenny retirou-separa a sua mesa. Ouviu as instruções queo juiz dava ao júri com o coração aindaacelerado. Fizera tudo o que pudera.

Virou-se e olhou para os bancos dopúblico, cheios de amigos e antigoscolegas de trabalho de Miguel, para

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além de algumas pessoas que tinham idodar-lhe o seu apoio.

No entanto, ela não viu ninguém.Estava à procura de Eric. Quandoreparou que o banco que estivera aocupar estava vazio, ficou desiludida,mas tentou controlar aquele sentimento.Se tinha a esperança de que ele a tivessevisto no seu melhor momento, seriamelhor que a tirasse da cabeça como sefosse próprio de uma adolescente numapeça de teatro do liceu.

Mas aquilo não era umarepresentação, era a realidade. E ela nãoera uma Cinderela que tinha a esperançade que o príncipe reparasse nela.

Do fundo do coração, desejou que

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Jordan não se tivesse metido no meio,que não se tivesse encarregado deconvencer Eric a participar no leilão.

Virou-se novamente e viu o júri a irpara a sala para deliberar. Jenny fezfigas.

Jenny pagou ao taxista e saiu do táxi.Afinal de contas, tendo em conta quãomal começara o dia, acabara bastantebem.

O júri ainda não tornara pública a suadecisão. Ela sabia que iria demorartempo, mas tinha motivos para esperarum resultado favorável. Os advogadosdo hospital não tinham aspecto de estarmuito satisfeitos quando o júri partira.

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E, recordou a si própria enquantoabria a porta do apartamento, conseguiraEric Logan para o leilão de solteiros.

Ao entrar, cumprimentou a ama comum sorriso.

— Olá, Sandra! Como correu tudo?Enquanto secava as mãos, Sandra olhoupor cima do seu ombro para o menino,que estava sentando no sofá, a brincarcom um boneco que a sua mãe lheoferecera.

A ama aproximou-se de Jenny e falouem voz baixa.

— Bem. A professora disse-me queCole brincou um pouco com os outrosmeninos. Só cinco minutos, mas é umprogresso.

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Jenny sorriu.— Sim, é. São passinhos de bebé, não

é, Cole?Ela deixou a mala sob a cadeira da

cozinha e jurou a si mesma que, naquelanoite, não iria olhar para nada detrabalho. Aquela noite era para Cole.

Aproximou-se dele e abriu os braços.O menino não fez nenhum gesto para selevantar nem para se aproximar dela,portanto Jenny inclinou-se e deu-lhe umabraço. Depois de um momento, eledevolveu-lho. Foi um abraçodesinteressado, mecânico, mas elaalegrou-se.

— Quer mais alguma coisa, meninaJenny?

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Jenny abanou a cabeça.— Não, Sandra, muito obrigada.Sandra assentiu enquanto voltava para

a cozinha para ir buscar a sua mala.— Então, vou-me embora — disse

enquanto pendurava a alça no ombro. —Amanhã, chegarei cedo.

Jenny virou-se no sofá para olhar paraela.

— Cedo? Porquê?— Para compensar o atraso de hoje, é

claro.A mulher já tinha o prémio de melhor

empregada e ama do mundo.— Sandra, não tens de compensar

nada. Chegaste um pouco atrasada. Éshumana e essas coisas acontecem.

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Mas Sandra abanou a cabeça.Claramente, não era algo que se pudessediscutir com ela.

— É demasiado compreensiva,menina Jenny. As pessoas começarão apensar que podem aproveitar-se.

Jenny sorriu e acomodou-senovamente no sofá com Cole.

— Bom, estarás lá tu para medefenderes. Estarei a salvo.

À porta, Sandra virou-se antes deabrir e olhou para eles.

— Ocupa o seu lugar na perfeição,menina Jenny — disse-lhe num tomprofundamente aprovador. — Como umaverdadeira mãe.

Jenny deu um beijo a Cole na cabeça,

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mas não pareceu que o menino sentisse.— Obrigada — sussurrou ela. — Até

manhã!— Cedo — insistiu Sandra. Depois

saiu e fechou a porta.Jenny riu-se suavemente e o ligeiro

tremor do seu peito fez com que Coleolhasse para cima.

— Ah, finalmente apercebeste-te dealguma coisa, não foi? Vamos lá ver oque te parece isto.

Então, levantou-lhe a t-shirt e apertouos lábios contra o estômago de Coleenquanto soprava contra a sua pele paralhe fazer cócegas. Aquilo era algo quesempre lhe fizera e que sempre o fizerarir como um louco. Daquela vez, omenino encolheu-se, como se quisesse

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afastar-se dela, mas riu-se e aquele somfez com que o coração de Jenny sealegrasse.

«Passinhos de bebé», disse para si.E, desde que aqueles passos

estivessem dirigidos na direcçãocorrecta, ela poderia esperar porque, nofim, chegariam ao seu destino.

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Cinco

Everett Baker estava a ler o jornal

que tinha diante dele, sobre a suasecretária do departamento decontabilidade da Children’s Connection.Estava a ver as diferentes secções parase distrair do facto de estar a almoçarsozinho. Outra vez.

Everett não tinha o dom de fazeramigos. Só tinha alguns conhecidos. Noentanto, também não se sentiaconfortável sozinho, embora fosse algoque acabara por aceitar na sua vida,

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como se aceitava um defeito físico.Depois de todos aqueles anos,

aprendera, mais ou menos, a viver com asolidão.

Com a vista fixa numa das páginas,pensou que, cada vez que tentavaesquecer, reconciliar-se com o seupassado, o destino encontrava umamaneira de lhe recordar tudo. A vidanão o tratara bem.

Deixou escapar um ligeiro suspiro demelancolia.

Nem sempre fora assim. Em temposfora feliz. Uma vez, há muito tempo,tanto que lhe parecia que acontecera aoutra pessoa ou que era um conto defadas que lera com tanta frequência quese transformara em algo real para ele,

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sentira-se querido e seguro. Naquelatarde longínqua, tinha uns pais que oadoravam, vivia numa casa bonita etinha tudo o que queria.

Mas isso fora antes de o levarem. Deo raptarem de uma das ruas pacíficas deSpring Heights, precisamente em frenteda casa do seu melhor amigo, DannyCrosby. E tudo porque tentara ajudar.

A primeira vez que vira Lester Baker,acreditara no que lhe dissera: estava àprocura do seu cãozinho e precisava deajuda. Naquela altura, ele era RobbieLogan e pagara um preço muito alto porter um bom coração.

O homem raptara-o e obrigara-o aviver com ele e com a sua mulher,

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Joleen, que era louca. Eles tinham-noobrigado a considerá-los os seus pais.Por fim, chegara a acreditar nelesquando lhe diziam que os seus própriospais não o amavam e que o tinhamvendido. A esperança desvanecera-se edeixara-lhe um vazio enorme na alma.

Os três tinham viajado de vila em vilapara evitar a lei, sempre a viver namiséria. Tinham passado por tantoslugares que, finalmente, ele se esquecerade onde era, e de quem.

Até que Joleen, no seu leito da morte,lhe confessara algo que, ao mesmotempo, o libertara e o aprisionara aindamais, que o condenara para a vidainteira. Aprisionara-o na vida queodiava enquanto lhe sussurrava,

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sedutoramente, que, em tempos, ascoisas tinham sido diferentes. Que aindaseriam diferentes. Oxalá ele...!

Oxalá...!Descobrira que o seu nome

verdadeiro era Robert, Robbie Logan, eque os seus pais eram Terrence e LeslieLogan, os pais bons e carinhosos comque sonhava. Assim que soubera averdade, quisera ir ter com eles e dizer-lhes que ele era o seu filho, o filho quetinham perdido e que tinham procuradodurante tantos anos. Mas a vida comJoleen e Lester Baker desalentara-o etransformara-o num homem que pensavademasiado e via o anoitecer ondedeveria ver o nascer do sol.

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Achava que os Logan não amariamaquilo em que se transformara. Porquehaveriam de o amar?

Desde que ele desaparecera das suasvidas, os seus pais tinham tido maisfilhos, tanto biológicos como adoptados,e tinham-se tornado mais ricos e maisfamosos, tanto no mundo da indústriacomo no das associações debeneficência. Eram os fundadores daChildren’s Connection, uma organizaçãoque ajudava casais a adoptarem criançasque precisavam do amor de uns pais.Ele descobrira-o ao ler um artigo sobreaquela organização e, rapidamente,procurara um trabalho lá.

Fora o máximo que se permitira

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aproximar da família da qual nuncadeixara de ter saudades.

Mas eles já não o amavam. Já não eraum Logan. Era um Baker. Não era nada,excepto um homem que ficara na rua eque olhava, com tristeza, para o interiordas coisas. Um homem que não queriaenfrentar a rejeição final da sua família.

Portanto nunca quisera correr o riscode comunicar com eles e permaneceraescondido.

O que o fizera perder o apetite e pôrde lado a sandes de presunto que fizeranaquela manhã fora um dos artigos quelera. A Associação de Pais Adoptivos,que estava vinculada tanto à Children’sConnection como ao Hospital Geral dePortland, ia celebrar o leilão anual de

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solteiros. E dois dos seus irmãos, doisirmãos que ignoravam por completo asua existência, figuravam entre oshomens que iam participar no leilão.

Sentiu-se desesperado. Não lheimportava nada o evento social. O quelhe partia o coração era saber que nuncaveria o seu nome junto do dos seusirmãos numa lista como aquela.

Nunca seria mais do que era. Umhomem condenado a viver umaexistência solitária.

Cuidadosamente, Everett envolveu nopapel o que sobrava da sandes e atirou-apara o lixo.

Perdera o apetite.

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Qualquer um pensaria que ela era umadas mulheres do público, que estava àespera que o leilão começasse paralicitar um homem atraente.

Provavelmente, se fosse, não teriaaquele formigueiro tão persistente noestômago.

Jenny colocou a mão sobre oestômago para tentar acalmar-se. Só iaconduzir o leilão, mais nada. Porque nãoconseguia concentrar-se naquilo?

Embora nunca se sentisse totalmenteconfortável nos eventos sociais, no anoanterior não se sentira assim.

Mas, no ano anterior Eric Logan nãoera um dos participantes. E, emboraaquele pormenor não tivesse porquefazer com que as coisas fossem

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diferentes, eram.— Meu Deus, estás pálida! —

exclamou Jordan enquanto contornava opalco para se aproximar dela. — Maisdo que o normal — acrescentou e olhoupara ela com atenção. — Estás bem?

— Perfeitamente!Ela virou-se para o seu irmão, dando

as costas ao palco e aos cartões quetinha posto ali. Os cartõesproporcionavam-lhe informaçãoimportante sobre os homens que ialeiloar. Jenny tomara notas sobre os quetinham chegado mais cedo para poderfazer comentários inteligentes eagradáveis sobre cada participante. Noentanto, ainda não tinha o cartão de Eric.

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Jenny sorriu ao seu irmão.— Mais uma vez obrigada por

conseguires que Peter e Eric participem.Os bilhetes para este leilão venderam-senum instante — disse-lhe e apontou comum gesto da cabeça para o público queabarrotava a sala. — Não resta umacadeira livre. Eles encheram o leilão.

Jordan fingiu que se ofendia.— E como sabes que não vieram por

mim?Jenny olhou para o seu irmão mais

velho, tentando julgá-lo comimparcialidade. Tornara-se um homemmoreno e atraente. Não tãoassombrosamente bonito como Eric,porque poucos homens alcançavam tal

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perfeição, pensou Jenny, mas muitobonito, sim.

E, naquele momento, acabava de lhepedir um elogio. Sendo a sua irmã, nãopodia permitir-se fazê-lo.

Em vez disso, sorriu ironicamente emurmurou:

— Por intuição, querido irmão, porintuição.

— Aqui tens — respondeu ele e pôs oseu cartão sobre todos os outros. Depoispuxou as mangas da camisa para ascompor e endireitou-se. — Podesacrescentar todos os adjectivoslisonjeadores que te ocorrerem paraaumentar as licitações.

Ela pegou no cartão e sorriu ao ler adescrição que Jordan fizera de si

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mesmo. Depois arqueou os sobrolhos eolhou para ele.

— O que te parece «lindo, masautoritário»?

Ele devolveu-lhe o olhar.— É como se estivesses a descrever-

te.Então Jenny franziu o sobrolho. Não

se importava que brincassem com ela,mas não gostava que se rissem dela.Nem sequer o seu irmão.

— Não sou linda, Jordan, e ambossabemos disso.

— Só um dos dois sabe a verdadesobre isso — respondeu Jordan, que secolocara atrás dela.

Jenny soltou um gritinho quando ele

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lhe tirou, ao mesmo tempo, três dosganchos que lhe seguravam o cabelo.Ela levou as mãos à cabeça, mas o maljá estava feito. Tinha madeixas soltaspor todos os lados.

— O que estás a fazer?Jordan afastou-lhe as mãos e

revolveu-lhe o cabelo.— A trazer-te do século dezanove. Os

homens gostam das mulheres com ocabelo solto, Jenny. Cabelo longo,sedoso — acrescentou e tirou-lhe oresto dos ganchos.

— O que me importa o que os homensgostam? — perguntou-lhe num tomdefensivo. — Eu vou leiloá-los, não voulevá-los para casa.

Ele afastou-se alguns passos dela

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para admirar a sua obra.— Se te portares bem, talvez as

outras mulheres te deixem levar assobras.

— Se me portar bem — replicou ela,— não haverá sobras.

Naquele momento, sentiu a fragrânciade um perfume sedutor e ficou muitorígida. Eric. Engoliu em seco e virou-separa ele, a tempo de roçar no seu peitoduro. Sentiu um nó na garganta que mallhe permitia respirar.

Ele recuou para evitar a colisão emostrou-lhe o cartão que trazia na mão.

— É aqui que tenho de assinar paraque me humilhem?

Devido ao facto de o seu irmão estar

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ali, a observar tudo, Jenny recompôs-semais depressa do que o normal.

— Porque dizes isso? — perguntou-lhe, fazendo tudo o que conseguia paraque o seu tom fosse de indiferença ou,pelo menos, que não fosse deatordoamento.

— Bom, para começar — respondeuEric, — e se ninguém me licitar?

Ela riu-se, abanando a cabeça. Nãoera possível que Eric fosse tão modesto.Ou que tivesse tão pouca consciência decomo era.

— Isso é como dizer que o sol não seporá esta noite. É uma coisa certa —disse ela e olhou para o seu irmão paraque confirmasse o que dissera. — És umhomem bonito, do tipo com que as

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mulheres sonham de noite. E estamos apermitir-lhes que, pelo preço de umaboa doação, saibam o que se sentequando os seus sonhos se tornamrealidade por um dia — explicou-lhe.Aquela era a premissa do leilão. Aquelae o facto de se obter uma boa quantiapara a Associação de Pais Adoptivos.

Eric desdenhou aqueles objectivos.— Estou a ver que não tens lábia

apenas no tribunal.Jordan arqueou um sobrolho.— Viste Jenny no tribunal? —

perguntou e olhou, alternadamente, paraeles, como se estivesse à espera que umdos dois respondesse.

Jenny não ligou. A sua atenção estava

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concentrada no comentário de Eric. Nãohavia forma de ter feito aquelaafirmação sobre o seu talento no tribunalcom conhecimento de causa.

— Saíste da sala antes de chegar àargumentação final.

— Ouvi o suficiente para meconvencer de que, se alguma vezprecisar de um advogado, recorrerei ati.

«Não, não cores. És uma mulheradulta e as mulheres com mais de dozeanos não coram». Jenny apertou ospunhos para tentar que a cor não lhesubisse ao rosto. No entanto, teve asensação de que era uma batalhaperdida.

Eric olhou para ela com a cabeça

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inclinada e ela moveu-se comdesconforto.

— Fizeste algo diferente ao cabelo.O cabelo. Oh, meu Deus, devia

parecer uma louca! Horrorizada, levouas mãos às madeixas da frente, mas nãohavia maneira de conseguir apanhar ocabelo sem um espelho e uma escova.

Então, lançou um olhar de acusação aJordan.

— A culpa é de Jordan. De repente,decidiu que queria brincar aoscabeleireiros.

Aquela informação fez com que Ericsorrisse ao seu melhor amigo.

— Não sabia que tinhas talentosocultos, Jordan — disse-lhe e depois,

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olhando novamente para Jenny,acrescentou: — Eu diria que tens umverdadeiro futuro profissional pelafrente.

Então, Jordan também sorriu, como seestivesse a dizer à sua irmã: «Vês,Jenny? Eu disse-te!»

Ela resmungou.— Não o encorajes, Eric. Já é

demasiado convencido.Para mudar de assunto, pegou no

cartão que Eric deixara no monte. Haviamuito poucas coisas escritas nele.

— Só escreveste o teu nome, a alturae a idade.

Eric encolheu os ombros.— Não me incomodei em pôr onde

trabalho. Pressuponho que já sabes.

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Toda a gente sabia, pensou Jenny.— Mas, Eric, pressupõe-se que

deverias escrever as coisas de quegostas ou não, coisas desse tipo. Precisode mais um pouco de informação paratrabalhar.

— Pelo que vi, tu desenvencilhas-temuito bem sozinha, Jenny. Confio em tipara enfeitares a minha descrição, se éque precisa de mais um pouco dealegria.

Naquele momento, ele levantou avista e viu alguém do outro lado da sala.O seu sorriso desvaneceu-se.

— Passa-se alguma coisa, Eric? —perguntou-lhe Jenny.

— Não, nada — respondeu ele. No

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entanto, pelo seu tom de voz eraevidente que não era verdade.

Ela seguiu a direcção do seu olhar eviu que, junto à entrada, estava TrentCrosby. Jenny recordou, de repente, quehavia uma inimizade entre os Logan e osCrosby.

Os Crosby eram a razão pela qualRobbie Logan, o irmão que Eric nãochegara a conhecer, fora raptado eassassinado. A mãe de Trent, Sheila,deveria ter estado a vigiar Robbie e oseu próprio filho, Danny, enquantobrincavam. Em vez disso, estivera afalar ao telefone, dizia-se que com o seuamante, tentando convencê-lo a não aabandonar.

Verdade ou não, Sheila Crosby não

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estivera a cuidar dos meninos e nãoconseguira impedir que raptassemRobbie.

Terrence e Leslie Logan nunca tinhamperdoado Sheila.

Eric pegou num programa e leu osnomes dos homens que participavam noleilão.

— Pediste a Trent Crosby que viesse?Ela esquecera-se completamente

daquela questão. Mas, de qualquerforma, teria tido de convidar Trent. OsCrosby eram contribuintes generosospara associações de beneficência eJenny não podia permitir-se insultá-losao não convidar, pelo menos, umrepresentante da família para o leilão.

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Jenny olhou para Jordan em busca deauxílio. Ele encolheu os ombros. Porpuro desespero, Jenny disse-lhes:

— Porque não vão beber qualquercoisa para relaxar até chegar o grandemomento?

— Parece-me bem — disse Jordan ecomeçou a dirigir-se para o bar.

Eric também encolheu os ombros.— Claro, porque não? — perguntou a

Jenny. Depois sorriu. — Até logo, linda.Ela tentou não permitir que aquela

palavra a seduzisse. Provavelmente,Eric dizia-o a todas as mulheres queconhecia e não tinha nenhum significadopara ele. Jenny respirou fundo. Comesforço, obrigou-se a concentrar-se no

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leilão.Uma crise superada, um milhão de

crises no horizonte.

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Seis

— Fazes ideia de quem é a mulher

que está com Trent Crosby?Jordan e Eric pediram um uísque com

gelo, o mesmo que Peter estava a beberquando se juntaram a ele no balcão dobar. O empregado acabava de lho servirquando Peter fez um gesto com a cabeçapara o outro lado da sala e fez aquelapergunta.

Eric virou-se na direcção que o seuirmão indicara. A mulher tinha o cabelodourado e usava um vestido de noite

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verde-esmeralda que revelava umafigura impressionante. Deu um gole aoseu uísque e abanou a cabeça.

— Não faço ideia — disse e depoisexpressou a hipótese mais lógica. —Será a sua namorada. Porquê? Interessa-te? — perguntou-lhe e, enquanto o fazia,sorriu. Quando não interessava umamulher bonita a Peter?

— Claro! — murmurou Peter, semparar de olhar para a mulher.

Eric olhou para o seu irmão maisvelho.

— Tenho de confessar que mesurpreende que tenhas vindo. Nãoacreditava que tivesses tempo livre.

— O facto de o director-geral daLogan Corporation aparecer num evento

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de beneficência é bom para a empresa— disse-lhe Peter. — Sobretudo,porque a mamã e o papá estão muitoligados à Associação de Pais Adoptivos— acrescentou e depois voltou a indicara mulher. — Achas que licitará?

— Não sei, mas com leilão ou semleilão, porque não te aproximas para aconheceres? — sugeriu-lhe Eric. — Nãohá nenhuma regra que diga que não sepodem fazer contactos independentesenquanto estamos aqui, a oferecer asnossas almas para uma boa causa —disse e olhou para Jordan procurando asua confirmação.

Jordan assentiu imediatamente.A rir-se, Eric agarrou Peter pelo

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ombro e apontou disfarçadamente para amulher.

— Vai ter com ela, mano. E, já agora,pergunta-lhe se tem uma amiga para mim— disse-lhe com um piscar de olho.

No entanto, ainda havia um grandeobstáculo que ninguém mencionara.

— Mas está com Trent Crosby.Eric encolheu os ombros.— Na minha opinião, mais uma razão

para ires conhecê-la. Precisas de umadistracção — disse e, naquele momento,teve uma ideia. — E eu vouproporcionar-ta. Espera aqui e, assimque a dama ficar sozinha, aproxima-te!— ordenou-lhe. Depois olhou paraJordan. — Cobre-o.

— O desembarque da Normandia não

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teve tanta coordenação — murmurouJordan, mas estava claro que tambémestava a divertir-se com tudo aquilo.

Eric surpreendeu-a. Jenny já estavasuficientemente nervosa enquantoobservava as pessoas e, o facto de Ericse aproximar sigilosamente por detrás,não foi uma grande ajuda. Jenny esteveprestes a soltar um grito.

Não gostava de surpresas daqueletipo. Como se sentia insegura nasreuniões sociais, preferia estarpreparada para todas as contingências, enão lhe agradava que a surpreendessemdesprevenida.

E Eric conseguia-o sempre.

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— Faz-me um favor, Jen.Ela sentiu a sua respiração nas costas

e aquilo fez estragos no seu sistemanervoso.

«O que tu quiseres. Ter filhos teus,andar descalça pela neve. Diz-me o queprecisas. Eu fá-lo-ei.»

Jenny conseguiu que a sua expressãonão denunciasse os seus pensamentosenquanto se virava para ele.

— Que favor?— Chama Trent Crosby ao palco, por

favor.Ela quis entender.— Porquê?Eric lançou-lhe um sorriso que esteve

prestes a derreter-lhe a roupa interior derenda.

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— Porque estou a brincar ao Cupido.— O quê?— Peter quer conhecer a mulher que

está com Crosby e a única maneira depoder aproximar-se é se Crosby estiverocupado. Só quero que o entretenhasdurante cinco minutos. Por Peter —explicou-lhe Eric e inclinou-se para elapara lhe fazer uma confidência. — Omeu irmão não sai muito.

Claro! E ela era uma estrela deHollywood disfarçada. Olhou para Trente viu que estava a falar com Katie. UmaKatie muito bonita e arranjada naquelanoite, mas Katie Crosby, ao fim e aocabo. A irmã de Trent. E Peter queriafalar com ela? Jenny não entendia.

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Olhou novamente para Eric. Estavamuito perto e Jenny teve de fazer umesforço para continuar a pensar comclareza.

— Sabes quem é aquela mulher? —perguntou-lhe. — É...

— É a primeira mulher por quemPeter se interessa desde a Idade do Gelo— disse-lhe Eric, interrompendo-a. —Vá, Jen, sê uma amiga!

Jenny queria ser muito mais do queisso, mas uma amiga era bom, pensou.Pelo menos, era melhor do que umaestranha. E era um começo.

Respirou fundo e assentiu.— Claro!Eric deu-lhe um beijo leve na face.

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— Obrigado.— De nada — murmurou ela,

tentando não perder a compostura.Ele afastou-se e Jenny teve de

respirar fundo para recuperar a voz e sercapaz de falar ao microfone.

— Senhor Crosby, aproxime-se dopalco, por favor. Trent Crosby...

Trent aproximou-se amavelmente dopalco alguns minutos depois.

— Olá! Jennifer, não é? Precisava defalar comigo?

— Eh, sim! — respondeu Jenny comum sorriso. — Queria dar-lhe o seunúmero — disse-lhe e deu-lhe umaetiqueta que lhe indicava a sua posiçãona ordem que o leilão seguiria. — Se

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não se importar, ponha-a na lapela —pediu-lhe. — Ah, e também preciso doseu cartão!

— Oh, claro!Enquanto Trent enfiava a mão no

bolso para procurar o cartão, Jennyolhou por cima do seu ombro e viu PeterLogan aproximar-se de Katie Crosby.Talvez a inimizade que havia entre asduas famílias, por fim, acabasse,pensou. E aquilo seria algo benéficopara todos. A vida era demasiado curtapara a passarem zangados uns com osoutros.

Naquele momento, viu que umamulher alta e bonita, com um vestidopreto de lantejoulas, se aproximava deEric. Melody Maguire não tinha nada de

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subtil, pensou Jenny.«Isto é apenas um negócio», disse

para si. «Tens de te concentrar nonegócio».

E, no entanto, o local na sua face ondeEric a beijara não parava de latejar.

— Não sei como dizer-lhe quãoagradecida estou por ter decidido fazerparte no nosso pequeno leilão deste ano— estava a dizer-lhe Melody.

Eric, como um homem bonito que era,estava habituado a sentir-se observado.Normalmente, considerava-olisonjeador. No entanto, daquela vez nãotinha assim tanta certeza.

— Não me agradeça, agradeça a

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Jenny Hall. Foi ela que me recrutou.A mulher esboçou um sorriso

condescendente. Depois fez um gestovago para o palco enquanto continuava adevorá-lo com os olhos.

— Sim, a nossa pequena Jenny. É umapena que só se preocupe com o trabalhoe nunca se divirta. Eu sempre valorizeimuito a diversão — sussurrou enquantolhe passava a mão, lentamente, pelobraço. — É muito bom para o espírito,não acha?

— É claro — disse Eric, olhando àsua volta, perguntando-se para ondeteria ido Jordan. Aquela mulher, emborafosse muito atraente, era umadevoradora de homens, e ele precisavaque o salvassem.

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Melody inclinou a cabeça e o seucabelo pintado de mogno caiu-lheprovocantemente pelo ombro nu.

— Bom, diga-me, quais achas que sãoas suas melhores qualidades?

«Uma delas é não ser mal-educadocom as mulheres dominadoras». Eric fezum gesto para o palco.

— Já escrevi algumas coisas nocartão para Jenny — mentiu.

— Ah, isso! — comentou Melody,desdenhosamente. — Não prestoatenção à informação em segunda mão.Eu gosto de a obter directamente dointeressado — disse-lhe com umsorriso. Se é que as cobras podemsorrir.

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Enquanto os observava do palco,Jenny tentou não desanimar. Já sabiaqual era uma das mulheres que ia licitarEric, pensou. Aquela mulher era umtubarão, mas não parecia importar-lhemuito. Talvez gostasse das atrevidas eordinárias.

Aquilo, certamente, deixava-a fora dacorrida.

Incomodada consigo mesma, obrigou-se a concentrar-se novamente no leilão.Olhou para o relógio.

Já estava quase na hora.

Jenny fez uma pausa para beber umgole de água. Tinha a garganta seca. Oleilão já decorria há uma hora.

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A noite estava a ser muito melhor doque poderiam ter esperado, tanto adirecção da Associação de PaisAdoptivos como ela mesma. Já venderaquinze dos vinte solteiros e todos tinhamalcançado uma boa quantia de dinheiro.

Aquilo ajudava a amenizar o desgostode ter de leiloar Eric, pensou Jenny.Martelou novamente no púlpito, paraindicar a venda de Alan Couffee aJuliana Richter, pela quantia de mil equinhentos dólares para passar com eleuma noite de diversão no Teatro dasArtes de Portland, seguido de um jantarno elegante Chandler Clube.

Ao pegar no cartão seguinte, Jennyviu que, finalmente, iria leiloar o seu

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irmão.Eric viu como se desenhava um

sorriso nos lábios de Jenny.— Sabes? A tua irmã é muito mais

bonita do que ela pensa.— Vais tentar licenciar-te em

Psicologia? — perguntou-lhe Jordan,enquanto apertava o nó da gravata.

— Não, mas pela forma como secomporta, nota-se que não se achaatraente. E é. Devias dizer-lhe algumacoisa.

Jordan riu-se suavemente.— Algumas das tuas irmãs faria caso

do que dizes?— Tens razão.— Chiu! — Jordan levantou uma mão

para lhe indicar que guardasse silêncio.

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— É a minha vez.— E agora, senhoras — estava a

dizer Jenny naquele momento, —apresento-vos o meu irmão, Jordan Hall— fez uma pausa e esperou que Jordanfizesse a sua entrada. Tinha uma boapresença, pensou com objectividade. —Acreditem em mim — prosseguiu,inclinando-se para o microfone, —houve anos em que o teria oferecido.Mas agora, o meu irmão é um conhecidoadvogado da firma Morisson e Trehernee teve sucesso no seu desempenho. Umasaída com Jordan proporcionar-vos-á aemoção de uma corrida de cavalos e umdia no rancho exclusivo de Steeple HillsHorse. Assim, esta é uma boa proposta

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para as damas atléticas. E há uma coisaque posso dizer-vos com sinceridade:Jordan sabe como tratar uma mulher.

Fez uma pausa para deixar que opúblico assimilasse a informação,enquanto observou como as mulheresreagiam perante o seu irmão. E encheu-se de orgulho familiar.

— Começaremos a licitação com...— Mil dólares — disse uma mulher

do fundo da sala.A licitação subiu até aos cinco mil

dólares e, depois de repetir a quantiatrês vezes, Jenny bateu no púlpito com omartelo para acabar a ronda. Depoisolhou para o seu irmão.

— Meu Deus, se soubesse que iasatingir um preço tão bom, teria tentado

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vender-te há muito tempo!Jordan virou ligeiramente a cabeça

para olhar enquanto se afastava dopalco.

— Tola! — respondeu-lhe, formandoa palavra com os lábios e com umsorriso brincalhão e afectuoso.

Jenny não teve de olhar para o cartãoseguinte. Sabia que era o de Eric.

Aquilo deveria ser fácil, pensou. Paratoda a gente, menos para ela.

De qualquer forma, sabia o que iaacontecer quando lhe pedira paraparticipar no leilão. Já via Melody asituar-se para entrar na licitação. Eoutras mulheres também se sentaram àbeira das cadeiras, como se estivessem

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prestes a saltar.Ali não ia haver falta de dinheiro,

pensou, e talvez aquilo devesse alegrá-la.

Era o momento de começar. Pigarreoue depois fez um gesto a Eric para que seaproximasse.

— E agora chegou a vez de umhomem que não precisa de apresentação.Eric Logan...

— Dois mil dólares — declarouMelody e conseguiu apanhar toda agente de surpresa, inclusive Jenny.

Ela estava prestes a ler as notas queescrevera sobre Eric, mas, já queMelody abrira a licitação, não tevenecessidade de recitar as estatísticas.Com um sorriso nos lábios, Jenny pôs o

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cartão sobre o monte dos cavalheirosque já tinham sido leiloados e olhoupara Melody.

— Pressuponho que não precisa deouvir nada sobre a noite que Ericplaneou...

— Dois mil e cem.Jenny olhou para a sua esquerda e viu

que quem licitara a seguir fora LolaWilcox, uma mulher que ela considerarasua amiga. Era alta, loira e esbelta, tãovivaz como Melody, mas muito maissubtil. Das duas, Lola era a que podiaoferecer uma noite mais agradável aEric. Jenny sabia que deveria pensar nacomodidade de Eric, mas havia outrasemoções em jogo ali.

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— Mais alguém? — perguntou.Ofereceram-se mais licitações, que

aumentaram a quantia a pouco e pouco.E então, Melody saltou, novamente,

para a arena.— Dois mil e quinhentos dólares.— Dois mil, quinhentos e cinquenta

dólares.Mais outra, pensou Jenny enquanto

repetia a última licitação.Imediatamente a seguir, Lola

aumentou a quantia e depois Melodysuperou-a.

Durante alguns minutos, váriasmulheres tentaram vencer, mas, àmedida que o preço aumentava, amaioria foi-se rendendo e, finalmente,

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apenas Melody e Lola permaneceram nacompetição.

Cada vez que Melody licitava, Lolaacrescentava-lhe cinquenta dólares.

Quando a quantia atingiu os sete mildólares, Jenny já estava completamenteatónita.

— Senhoras, eu gostaria de vosrecordar que isto é apenas por umanoite. Não estão a comprar o homem emsi — disse. Eric estava ao seu lado e elaouviu-o rir-se. Aquele som causou-lheansiedade no estômago, mas não seatreveu a olhar para ele.

— Sete mil e quinhentos — anunciouMelody. Jenny olhou para Lola, que, derepente, se calou. Parecia que,finalmente, Melody passaria a noite com

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Eric.— Sete mil e quinhentos à uma, sete

mil e quinhentos às duas... — Jennylevantou o maço e, quando estavaprestes a deixá-lo cair sobre o púlpito,Lola interveio novamente.

— Dez mil dólares — disse.Jenny esteve prestes a deixar cair o

martelo. Aquela quantia era muito maisdo que alguma vez teriam imaginadoobter.

— Tens noção de que depois terás deo devolver? — perguntou a Lola. Amulher assentiu. Então, Jenny olhou paraMelody, mas ela abanou a cabeça.

— É demasiado para mim — disse edepois piscou um olho a Eric. — Hei-de

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apanhar-te para a próxima, querido.Jenny deixou escapar um suspiro. Dez

mil dólares. Uma mulher que doara tantodinheiro a uma organização deviaesperar muito daquele encontro. Noentanto, não permitiu que a sua mentefosse mais além.

Com um sorriso forçado, levantounovamente o maço.

— Bom, dez mil dólares à uma, dezmil dólares às duas... — Jenny fez umapausa e depois prosseguiu: — Entreguea Lola Wilcox por dez mil dólares. AAssociação de Pais Adoptivos agradecea tua ajuda — acrescentoumecanicamente enquanto olhava paraLola. A mulher sorriu e assentiu.

Jenny mal se apercebeu de que Eric

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entrava novamente para detrás dacortina e de como o leilão continuava.Quando acabou de atribuir os trêssolteiros que restavam, o evento acabou.

Enquanto as vencedoras seaproximavam, uma a uma, pararecolherem os certificados dos seusencontros, Jenny tentou manter-seconcentrada no trabalho e não no vazioque sentia.

Provavelmente, porque ia ser o últimocontacto que teria com Eric, disse parasi. Embora talvez voltasse a vê-lo noleilão do ano seguinte, se não se casassecom Lola, pensou ironicamente.

Lola era a última da fila.— Realmente, deixaste-te levar —

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comentou Jenny.— Era por uma boa causa —

respondeu Lola e entregou-lhe o seucheque. Em vez de fazer um pagamentoparcial, continha a quantia completa.Jenny não esperava menos. Entregou-lheo certificado e desejou-lhe: — Diverte-te!

— Hum... Hum... — disse-lhe Lola edevolveu-lhe o certificado.

Jenny ficou a olhar para o papel.Haveria algum dado que não estavacorrecto?

— O que se passa? — perguntou-lhe.— Estou a dar o certificado à mulher

que vai sair com Eric Logan.

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Sete

Jenny não fez sinal de agarrar no

certificado. Então, Lola abriu-lhe a mãoe entregou-lho.

Jenny olhou para ela, completamenteconfusa.

— É uma brincadeira?— Não, não é uma brincadeira —

respondeu Lola. — Por muito tentadoraque seja a ideia, Jenny, eu não possosair com Eric. Pelo menos, não nestascircunstâncias.

Jenny continuava sem compreender.

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— Que circunstâncias? Ganhaste oleilão de forma limpa, embora mepareça que te excedeste um pouco nalicitação — disse-lhe. Nenhuma noitecom um homem valia tal quantia, amenos que se tivesse tanto dinheiro paraqueimar.

Lola encolheu os ombros.— O dinheiro não era meu.— O que queres dizer com isso? De

quem era o dinheiro com que licitaste?Lola passou o braço pelos ombros de

Jenny e puxou-a para si. Depoisinclinou-se para ela e sussurrou:

— Sou uma representante, Jenny.Licitei em nome de um grupo de genteque, de alguma forma, queria agradecer-

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te por todo o trabalho que tiveste comeste leilão e com todos os eventos queorganizaste. Pareceu-lhes que, oferecer-te a possibilidade de uma noiteagradável, seria uma boa forma de temostrar a sua gratidão — explicou-lhecom um sorriso. — Tens um grandecoração, Jenny. Já estava na altura dealguém te agradecer. E esta é uma boaforma de o fazer — acrescentou,enquanto percorria com o dedoindicador a margem superior docertificado. — Considera-o como oconvite da Cinderela para o baile.

Ela.Eric.Juntos.Num encontro.

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Não conseguia assimilar todasaquelas ideias.

— Deve ser uma brincadeira —balbuciou.

— Não, não é — disse-lhe Lola. —Queres sentar-te? Estás um poucopálida.

— Não, não. Não posso aceitar.Lola olhou para ela como se estivesse

louca.— Já é demasiado tarde. É teu.— Então, ofereço-to — disse Jenny e

tentou devolver-lhe o certificado. Noentanto, Lola levantou as mãos eafastou-se.

— Desculpa, mas se voltar a tocarnesse certificado transformar-me-ei

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numa estátua de sal, irei directamentepara o inferno ou algo biblicamenteterrível — brincou. Depois sorriunovamente. — Relaxa, Jenny. Diverte-te. O presente foi dado do fundo docoração. Aceita-o. Além disso, EricLogan e tu não são velhos amigos?

— Não somos nada — disse Jenny.— Isto é uma loucura!

— Normalmente, as melhores coisassão-no.

— Mas... e Eric? Ele pensa que sairácontigo.

— Não te preocupes — respondeu-lhe Lola. — Já foi informado.

Portanto, Eric sabia. Sabia que não iasair com a elegante e sofisticada LolaWilcox, mas com ela.

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— Informado de quê? De que éobrigado a sair com alguém por pena?

Lola olhou para ela com espanto.— Não. Foi informado de que eu

estava a licitar em nome de alguém quenão podia fazê-lo. Como tu estavas aconduzir o leilão, não podias fazernenhuma oferta, pois não?

Para Jenny, aquilo ia de mal a pior.— Portanto, em vez de ser um

encontro por pena, vai pensar que estivea noite toda a pensar nele com luxúria.

— E porque não? A maioria de nósestava a fazê-lo — disse Lola e fechouos olhos durante um momento, com umsorriso sensual nos lábios.

Ao olhar para ela, Jenny teve a

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impressão de que Lola estava avisualizar Eric em vários estados denudez. Sobretudo, quando a sua amigaabriu novamente os olhos e estavambrilhantes.

— Ele sim, é um homem bonito —disse-lhe Lola. — Da cabeça aos pés.

— E como sabes?Lola suspirou.— Eu gostaria de te dizer que é por

contacto pessoal, mas vi-o a correr napraia no Verão passado. Sem t-shirt! —explicou-lhe. — Queres que te dê umconselho?

Jenny estava completamente aberta aqualquer sugestão.

— Qual?— Se, durante o encontro, ele quiser

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chegar ao fim ou ir para casa... — Lolafez uma pausa significativa eacrescentou: — Permite-lhe.

Claro! Como se aquilo fosse passarpela cabeça de Eric, pensou Jenny.

— Tê-lo-ei em conta — disse noentanto e endireitou os ombros. — E,por favor, diz às pessoas querepresentas que agradeço muito.

Lola aproximou-se dela e deu-lhe umbeijo carinhoso na face.

— Diverte-te!Jenny percebeu a sinceridade

daquelas palavras e assentiu. Derepente, o seu coração acelerara. Olhounovamente para o certificado, como seachasse que iria desvanecer entre as

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suas mãos.Ainda tinha a vista fixa nele quando

Lola se afastou.

A sala estava a ficar vazia. Jordan jáfalara com a mulher que adquirira oencontro com ele. Thalia Wellingtonparecia uma pessoa interessante edivertida, e ele desejava sair com ela.Tinham combinado na sexta-feira dasemana seguinte, devido aos seushorários apertados.

Mas, naquele momento, estavaconcentrado na sua irmã. Estabeleceucontacto visual com Lola e assentiu.Satisfeita consigo mesma, Lola sorriu esaiu da sala.

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Muito bem, pensou Jordan. Ele fizerao que pudera. Por enquanto. Era Jennyquem devia dar o passo seguinte.

Esboçou um sorriso enquanto saiadali. Era estranho que,independentemente do quanto umapessoa pensasse que se conhecia,esperavam-lhe sempre surpresas. Jamaisteria pensado que se veria a fazer dealcoviteira, e era exactamente aquilo oque decidira fazer.

Mas era por uma boa causa e tinha deadmitir que fazia com que se sentissebem, embora a sua conta bancáriaestivesse dez mil dólares mais leve.

— Descobri que o meu encontro é

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contigo.Quando Eric se aproximou dela, por

detrás, a sua voz masculina envolveu-a eacelerou-lhe o pulso. «Calma, calma!»Com um sorriso forçado, virou-se paraele e conseguiu falar.

— Eh... sobre isso...!Ele inclinou ligeiramente a cabeça,

como se quisesse sondar o seu humor eas suas intenções.

— Não vais arrepender-te, pois não?— Pois... não... é uma questão de

arrependimento — balbuciou ela. — Sóque não me parece justo.

Ele semicerrou os olhos.— Não entendo. Não sabias?— Não. Claro que não, pelo amor de

Deus!

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— Mas disseram-me que Lola estavaa licitar porque tu estavas ocupadanaquele momento e...

— Foi um truque — explicou-lhe ela,rapidamente. — Algumas das minhasamigas juntaram-se e pensaram que seriauma boa forma de me agradecerem todoo tempo que passo a fazer trabalhovoluntário para esta causa e...

Eric estava a tentar entender o que elaqueria dizer-lhe.

— Então, não queres sair comigo?Jenny abriu muito os olhos. Como

podia pensar algo do género? Não teriaum espelho?

— Não!Eric interpretou aquela resposta da

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única maneira possível e recuou.— Bom, então é melhor deixar-te em

paz.Horrorizada, Jenny apressou-se a

emendar o seu erro.— Não, não, não é isso...!Quando ele olhou para ela, confuso,

ela soube que só piorara as coisas etentou novamente. Onde estava aeloquência que utilizava nos tribunais?

— Não é isso — repetiu e respiroufundo antes de continuar. — É claro quequero sair contigo. O que passa é quenão acho que seja justo para ti.

Ele olhou para ela com incredulidade.— Para mim?— Sim. Tu achavas que era Lola

Wilcox quem estava a licitar para sair

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contigo.— E que diferença faz? Eu não podia

escolher quem ia licitar por mim. Sabiadisso quando acedi a participar noleilão. Sabia que teria de sair uma noitecom a pessoa que ganhasse.

— E ganhou Lola.— Por ti — assinalou ele. — Mas se

tu não quiseres sair comigo, eu nãoposso obrigar-te.

Estaria Eric a dizer o que ela pensavaque estava a dizer?

— Então, estás de acordo com isto?Não parecia que Eric entendesse qual

era o problema.— Claro. Porque não haveria de

estar?

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Jenny apertou os lábios. Aquelaconversa tinha de acabar, portantodecidiu que o melhor seria recomeçar.

— Por nada — respondeu.— Muito bem. Então, para quando

queres combinar?«Agora. E para sempre», pensou ela.

No entanto, sabia que estavam no mundoreal, portanto começou a pensar na suaagenda. Ia ter imenso trabalho apreparar o próximo caso, para além deainda não ter acabado o caso do senhorOrtiz. O júri ainda não acabara dedeliberar. Ela devia estar disponível ebem-disposta para aqueles casos,portanto não podia permitir-se sair nanoite anterior. Jenny mordeu o lábio

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enquanto pensava.Como ela não respondia, Eric tentou

marcar o encontro.— O que te parece na sexta-feira à

noite?— Eh...Ele encarou aquela hesitação como

uma negativa.— Ou no sábado. Preferes no sábado?— No sábado — repetiu ela enquanto

assentia.— Está bem. Às sete horas? Às oito

horas?— Como tu preferires — respondeu

ela.Jenny sabia que estaria pronta ao

amanhecer, a contar os segundos quefaltavam para que ele aparecesse à porta

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da sua casa. Se fosse a sua casa. Aindanão podia acreditar que tudo aquilo nãofosse uma alucinação. Ter-lhe-iam postoalguma coisa na água?

Ele assentiu.— Então, às sete horas — disse e

olhou para ela. Jenny teria jurado quesentiu os seus olhos a percorrerem-lhe ocorpo e sentiu um calor súbito. De facto,surpreendeu-se de não arderespontaneamente.

— Veste algo sofisticado — pediu-lhe ele. — E, se não te importares...

— Sim?— Usa o cabelo solto — acrescentou

Eric e afastou-lhe uma madeixa da testa.— Eu gosto assim.

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«Obrigada, Jordan». Devia muito aoseu irmão, pensou Jenny.

— Cabelo. Solto — repetiu Jenny. —Está bem.

Eric riu-se. Há muito tempo que amulher com quem iria sair não pareciaoutra coisa a não ser divertida eligeiramente espantada com aperspectiva. Jenny era como uma lufadade ar fresco. Iria divertir-se, pensou. Etalvez muito.

— Onde vives?— O quê?— A tua morada. Vou precisar dela

— disse, e sorriu. — A menos quequeiras que vá pela cidade a gritar o teunome, como Marlon Brando fez em Um

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eléctrico chamado desejo.Ela demorou alguns segundos a

recordá-la, mas finalmente conseguiudar-lhe a morada do seu apartamento.Ele apontou a informação na sua agendaelectrónica e depois colocou o objectoprateado no bolso do casaco.

— Bom, então, no próximo sábado, àssete horas, temos um encontro.

— Encontro — repetiu ela, numestado de estupefacção.

Tudo aquilo lhe parecia surrealista.Aquele era o seu sonho e estava atornar-se realidade.

«Não assumas como certo ainda...»A expressão de espanto de Jenny

parecia-lhe muito divertida e, incapazde resistir, Eric inclinou-se para ela e

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deu-lhe outro beijo na face.— Até lá, então! Ah, e isto foi muito

divertido! — respondeu-lhe. — Ficocontente que me tenhas convidado.

Ela não sabia se se referia ao leilãoou ao encontro, mas, de qualquer forma,enganava-se. Jordan era o responsávelpor ele estar ali. No entanto, não tentoucorrigi-lo. Estava demasiadoimpressionada para articular mais umapalavra.

Era necessário resolver aquilo,pensou. O sábado iria chegar mais cedodo que qualquer um esperava.

— Sequestro? — Everett Bakerrepetiu aquela palavra horrível como se

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lhe doesse a boca ao fazê-lo.Ao perceber a inquietação de Baker,

o homem que estava do outro lado dalinha impacientou-se. A paciência nuncafora uma das qualidades de Stork. O quedesejava era vingar-se dos Logan e detodos os outros que tinham conseguidoafundá-lo durante todos aqueles anos.Aqueles benfeitores repugnantes, osLogan, eram apenas a última parte dalista de gente que, por fim, lamentariatê-lo desprezado.

Estava no negócio de tráfico decrianças, embora tivesse necessitado deforçar um Baker resistente a fazê-lo.Aquele falhado miserável tinhaconsciência, mas ele precisava de umhomem lá dentro. Portanto, tornara-se

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seu amigo e fora-o envolvendo na suarede até o apanhar. Felizmente, pelocaminho, deparara-se com umainformação que usava para chantagearBaker.

O negócio era lucrativo, e mais aindaporque eram só três a repartir os lucros.Ele próprio, Baker e o homem querecrutara na Rússia. A Rússia era umbom lugar para levar a cabo asadopções que ele preparava, porqueficava fora da jurisdição dos EstadosUnidos. As mulheres estéreis,desesperadas por terem bebés nos seusbraços, arrastariam os seus maridos atéao fim do mundo com o objectivo desatisfazer os instintos maternais que lhes

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consumiam os ventres vazios.Naquele momento, parecia que uma

das suas operações ia correr mal. Umajovem mãe solteira, que prometera dar-lhes o seu filho quando nascesse, derepente voltara atrás. Tivera um ataquesúbito de consciência e queria ser umamãe a sério para o bebé que ia dar à luz.

Aquilo soava muito mal a Stork, quejá prometera o bebé a outras pessoas.Não lhe importava o que aquela raparigafizesse com a sua vida, desde que nãointerferisse no seu negócio.

Mas como acontecera, tinha de pensarnoutra solução. Já tinha nas suas mãos odinheiro da venda do bebé e não estavadisposto a devolvê-lo. Aquilosignificava que precisava de um bebé.

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Everett tentou não estremecer. Só amenção de um sequestro fazia com quese lhe formasse um nó no estômago. Erecordava-lhe coisas que estavadesesperadamente a tentar esquecer.

Não queria fazer parte daquilo.— Não sei... não creio que...— Não te pago para pensar —

interrompeu-o Stork. — Pago-te paraouvires e fazeres o que eu te digo.Aquela idiota não tem o direito de faltarà sua palavra — disse. Descobrira que arapariga ia dar à luz no Hospital Geralde Portland. — Tu trabalhas naChildren’s Connection, portanto serácanja! Quero que raptes aquele bebéassim que a rapariga dê à luz.

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A ideia de fugir com um bebéaterrorizou Everett. Embora estivesseum tempo húmido e fresco, começou asuar.

— Mas como...?— Tu és um tipo esperto, Baker! Há-

de ocorrer-te alguma coisa.A chamada caiu.E a escuridão que Everett sentia por

dentro tornou-se ainda maior. Aindamais solitária.

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Oito

Jenny suspirou e apoiou-se contra a

parede junto ao armário aberto. Olhounovamente para o interior, mas a vistanão melhorou.

Estava há uma hora a tentar,desesperadamente, encontrar algo paravestir para o seu encontro com Eric.Não tinha nenhuma fada madrinha que,com um toque da sua varinha mágica,transformasse a sua roupa no vestidoperfeito. O seu guarda-roupa não eraabsolutamente apropriado.

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Pensou que poderia vestir o mesmovestido que usara no leilão, embora aideia não lhe agradasse. Usar aquelevestido que o seu príncipe encantado jávira fazia com que se sentisse muitovista.

Aquilo era o que se passava quandouma pessoa estava demasiado ocupadaaté para respirar.

Durante a semana toda, quisera tiraralgum tempo para ir às compras e podervestir alguma coisa especial naquelanoite. Mas parecia que o destino sepropusera a fazer o contrário. Osmembros do júri do caso de MiguelOrtiz tinham solicitado que lhesrelessem algumas das declarações e

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ainda estavam a deliberar sobre aindemnização que deviam recomendarno acordo.

Jenny franziu o sobrolho. Secontinuassem a deliberar, era possívelque o limite de tempo se esgotasse, eentão, Miguel, a sua família e elaprópria teriam de passar novamente portudo aquilo. Só pensar naquilo eraemocionalmente exaustivo.

E, caso aquilo não fosse suficiente,tinha três casos novos para acrescentar àsua cota de trabalho. Fora muito difícilchegar a casa a uma hora decentedurante aquela semana e, mais ainda,arranjar tempo para ir às lojas.

Resignada, tirou do armário o vestidoverde que levara ao leilão. De qualquer

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forma, nada do que usasse iria fazer comque o homem caísse apaixonado aosseus pés.

— Menina Jenny?Com o vestido nas mãos, Jenny fechou

a porta do armário e virou-se paraSandra.

A expressão da mulher deu-lhe aentender que se passava alguma coisa.

— O que se passa?— É Cole, menina Jenny. O menino

tem febre. Deito-o e dou-lhe umantipirético?

Jenny esqueceu-se imediatamente dovestido e de tudo o resto, e a sua atençãoconcentrou-se na vida que lhe foraconfiada. Naquele momento, pensou que

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Cole estivera o dia todo mais apático doque o normal, mas ela atribuíra-o aotempo.

— Está doente? — perguntou aSandra enquanto ia para a sala.

— Só tem um pouco de febre —respondeu a ama.

Cole estava deitado no sofá, enroladona sua manta preferida, que tinha desdeque era bebé. Jenny ajoelhou-se ao seulado.

— O que se passa, querido? Não tesentes bem?

Ele olhou para ela com os olhosligeiramente fracos.

Lentamente, abanou a cabeça. Elaafastou-lhe o cabelo e apertou os lábioscontra a sua testa para utilizar o

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termómetro mais confiável para umamãe. Cole afastou-se e aquele gestomagoou Jenny, mas ela tentou não lheprestar atenção.

— É evidente que tem febre. Eu dar-lhe-ei o antipirético, Sandra — disse àama e, com um suspiro, levantou-se. Oseu encontro de Cinderela não iria serpossível. — Parece que, afinal decontas, não vou precisar de ti esta noite.

Sandra não ia trabalhar aos fins-de-semana, a menos que Jenny tivessedemasiado trabalho e tivesse de ir parao escritório aos sábados e aosdomingos. Mas, naquela noite, pedira-lhe para vir cuidar de Cole enquantoEric e ela saíam.

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Não lhe dera demasiada importância,mas tinha a sensação de que Sandrasuspeitava que aquilo significava muitopara ela.

A mulher ficou surpreendida.— Mas, e o seu encontro?Não servia de nada lamentar-se.

Jenny sabia o que tinha de fazer. O bem-estar de Cole estava em primeiro lugar eela não conseguiria divertir-se seestivesse preocupada com o menino.

— Logo haverá mais encontros —«quando os porcos criarem asas»,pensou Jenny.

— Mas você nunca sai! — protestouSandra. — Eu posso ficar com ele,menina Jenny. Prometo-lhe que lhe

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telefonarei se acontecer alguma coisa.As crianças sentem-se mal comfrequência.

Jenny sentia gratidão pela ama. Sabiao que Sandra estava a tentar fazer etambém sabia que o que estava a dizerera verdade. No entanto, ela não podiasair e deixar Cole, não podia pensar sóem si própria. E se o menino ficassepior de repente? Pressupunha-se que elaera a sua mãe, e as mães nãoabandonavam os seus filhos para saírem,embora não saísse com frequência.

Além disso, no fundo da sua alma,sentia-se aliviada por não ter deenfrentar um encontro com Eric e por asua fantasia não ter uma morte ignóbilnaquela noite, quando as coisas não

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fossem tão perfeitas como ela pensava.— Não faz mal — garantiu a Sandra.

Pegou em Cole, enrolado na sua manta, elevou-o para o seu quarto. Colocou omenino na sua cama e tapou-o. — Dequalquer forma, era apenas uma saídapara um assunto de beneficência.

Confusa, Sandra olhou para ela.— Não entendo.Jenny suspirou. Estava cansada,

desiludida e, sobretudo, preocupadacom Cole.

— Eu também não, realmente —confessou. Depois de se certificar deque Cole estava bem aconchegado,virou-se, pôs uma mão no braço da amae acompanhou-a até à porta. — Vai para

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casa ter com a tua família, Sandra. Eobrigada. Eu encarregar-me-ei de tudo.

Sandra partiu alguns minutos depois,embora sem deixar de protestar e de seoferecer para cuidar de Cole, até a portaestar finalmente fechada.

«Assim é melhor!», pensounovamente Jenny. Assim, poderiacontinuar a conservar a sua fantasia,continuar a pensar que Eric setransformaria, de repente, no seupríncipe encantado e que não haveriadesconforto nem silêncios embaraçosos,nem vontade da sua parte de a levar acasa e acabar a noite.

Jenny endireitou os ombros e foi aoarmário dos remédios. Com sorte, Colejá não teria febre no dia seguinte.

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Eric fizera tudo.Geralmente, gostava que as coisas

fossem espontâneas, mas, naquela noite,preparara tudo. Pedira ao motorista queos levasse na limusina da família,reservara uma mesa para dois numrestaurante luxuoso e arranjara doisbilhetes para um musical, cujas entradasestavam esgotadas para os seis mesesseguintes.

Não o fizera para impressionar Jenny,mas, afinal de contas, ela era a irmã doseu melhor amigo. E, pelo que sabiaatravés de Jordan, Jenny mal saía. Eracompletamente dedicada ao seutrabalho. Depois de a ter visto durante

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uma das suas intervenções no tribunal,Eric acreditava.

Satisfeito perante a noite que osesperava, Eric tocou à campainha daporta de Jenny com uma caixa de rosasna mão. Quando a porta se abriu, noentanto, ficou boquiaberto, semconseguir articular palavra.

— Enganei-me no dia? — perguntou-lhe um momento depois de a ter olhadode cima a baixo. — Ou decidiste vestirum traje incrivelmente informal?

Em vez de estar vestida para umanoite especial, Jenny usava umas calçasde ganga e uma camisa aos quadradosazuis e brancos.

Eric reparou que as calçascontornavam curvas que ele não

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adivinhara antes.Era evidente que Jenny Hall tinha

muito mais coisas daquelas que sepodiam apreciar num primeiro momento.

Jenny não conseguiu evitar pensar emquão bonito Eric estava. O facto de terde dizer o que tinha de dizer estava amatá-la.

— Receio que haja uma mudança deplanos.

— Eh?Ao aperceber-se de que tinha Eric à

espera na soleira, Jenny abriu a porta eafastou-se para lhe ceder passagem parao seu apartamento.

— Estive a telefonar-te para tentaravisar-te antes de vires até aqui —

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explicou-lhe ela, — mas não tinha o teunúmero e não está na lista telefónica. EJordan não atende o telemóvel. Lamentoimenso.

O apartamento de Jenny era pequeno eacolhedor, e nada parecido com o queele imaginara, pensou Eric. A gente doseu mundo vivia em casas grandes eperguntou-se se Jenny não teria feito umvoto de pobreza.

Com a caixa de rosas nas mãos,virou-se para olhar para ela.

— Aconteceu alguma coisa?Sem se aperceber, ela mordeu o lábio

inferior antes de responder.— Sim. Não posso sair contigo esta

noite. Cole tem febre.— Cole? — perguntou ele,

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surpreendido. Havia um homem na suavida, afinal de contas? Alguém de quemo seu irmão não sabia?

Jenny assentiu.— O meu filho.— O teu filho? — repetiu Eric,

completamente assombrado. Eraevidente que havia muitos pormenoresque Jordan não lhe contara. Não lhedissera que a sua irmã fora casada. —Não sabia que tinhas um filho.

Ele estava a olhar tão fixamente queJenny corou.

— Na verdade, Cole é o meuafilhado.

Bom, aquilo fazia um pouco mais desentido. Pelo menos, explicava porque

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Jordan não lhe dissera nada sobre omenino. Mas se Cole era o seu afilhado,porque dissera Jenny que era o seufilho?

Eric fez uma tentativa de esclarecer asituação.

— E estás a cuidar dele durante ofim-de-semana?

Ela abanou a cabeça. Não estava aconseguir explicar-se, mas ao olhar paraaqueles lindos olhos castanhos, o seucérebro paralisava.

— Durante o resto da minha vida —corrigiu-o Jenny. — Ou, pelo menos,durante o tempo que ele me permitir. Euadoptei Cole.

— E os seus pais?— A sua mãe biológica, Rachel, era

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minha colega no escritório. Tornámo-nos amigas. Rachel morreu de leucemiae, antes de morrer, pediu-me para cuidarde Cole — explicou por fim. — Rachelera mãe solteira. O pai de Coledesapareceu antes de ele nascer.

Aquela mulher tinha um coraçãoenorme, pensou Eric. De certo modo,Jenny recordava-lhe a sua própria mãe.

— Quando morreu?— Há seis meses — respondeu ela.

Ainda sentia imensas saudades deRachel. Tentava recordar o máximopossível dela para poder contá-lo aCole quando o menino tivesse idadesuficiente para entender as coisas. —Cole está a sofrer. Antes era um menino

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feliz e comunicativo, mas quando a suamãe morreu, fechou-se na sua tristeza —contou-lhe Jenny. E, enquanto o fazia,procurava a compreensão no olhar deEric. Sabia que muitos homens nãoencarariam nada bem o facto de osdeixarem num segundo plano. — Eu nãogosto de o deixar sozinho quando estádoente. E ficou mal de repente... —acrescentou.

Ele recordou vagamente que ouviraou lera algures que a febre nas criançaspodia subir de um momento para o outroe descer igualmente depressa. LeslieLogan, que era uma mãe dedicada aosseus olhos, nunca dera demasiadaimportância ao facto de ficarem doentes.Encarregava-se de que estivessem o

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mais cómodos possível e de lhes fazerver que uma doença era algo natural.

— Chamaste o médico?Jenny abanou a cabeça. Não queria

ser uma daquelas mães nervosas quechamavam o médico por tudo e pornada.

— Pareceu-me melhor esperar umpouco antes de o fazer — respondeu, eolhou para a caixa que Eric tinha nasmãos. Parecia uma caixa de rosas.Aquele homem acreditavaverdadeiramente que era necessáriofazer as coisas bem, pensou. — Lamentoimenso.

— Eu também — disse ele, emborasoubesse que não podia culpá-la por ser

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uma boa mãe. — Tinha bilhetes para oUm, dois, três.

Jenny ficou boquiaberta perante amenção do nome do musical. Aquilotambém estava na sua lista de desejosimpossíveis, como sair com Eric.Naquele momento, tinha-o diante dela,no mesmo pacote, e tinha de dizer quenão às duas coisas.

— Mas os bilhetes têm estadoesgotados...

Ele sorriu e Jenny sentiu umaansiedade no estômago.

— Conheço o produtor.Claro! Eric e a sua família conheciam

toda a gente que valia a pena conhecer.E, provavelmente, a família de Jennytambém, mas ela nunca se preocupara

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em indagar os seus contactos. Nuncautilizara aquele caminho.

Jenny tentou encarar as coisas comserenidade.

— É uma pena desperdiçar essesbilhetes. Não há ninguém a quem possastelefonar para que vá contigo? —perguntou-lhe, pensando em Lola. Jennyaproximou-se do telefone da cozinha edisse: — Tenho o telefone de LolaWilcox se...

Ele interpôs-se entre ela e o telefone.— Não, eu tenho os meus próprios

números — garantiu-lhe Eric. Pousou acaixa de rosas na mesa e tirou otelemóvel do bolso. — Já agora —disse-lhe, assentindo para a caixa. —

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Isto é para ti.Jenny sorriu fracamente e abriu a

caixa. Ao fazê-lo, viu as rosas brancas,colocadas sobre papel de seda verde.Sentiu um aperto no coração e fez umesforço para controlar aquela emoção.

— São lindas!Enquanto carregava nos números do

telemóvel, Eric assentiu como resposta.Estava a telefonar para outra mulher, talcomo ela sugerira. A dor que aquilo iriacausar-lhe era algo que Jenny seesquecera de antecipar. Outra mulherque iria desfrutar daquele musical,sentada numa poltrona que seria paraela. Que desfrutaria da companhia deEric.

Para tentar afastar aquelas ideias da

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cabeça, agarrou numa jarra e começou alavá-la para pôr as rosas. Abriu atorneira ao máximo para que o ruído daágua não lhe permitisse ouvir a suaconversa. Por princípio, desagradava-lhe a pessoa que estivesse do outro ladodo telefone.

— Muito bem — estava a dizer elequando ela, por fim, fechou a torneira.— A limusina estará aí dentro de algunsminutos — acabou. Depois, desligou otelemóvel e colocou-o no bolso.

«Tão fácil!», pensou Jenny. Aquelehomem conseguia um novo encontro emmenos tempo do que ela demorava aencher a jarra de água.

Com um sorriso forçado, virou-se

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para ele. Pôs a jarra na mesa e começoua pôr as rosas nela.

— Já arranjaste alguém? —perguntou-lhe, alegremente.

— Sim. Arranjei alguém que vaiaproveitar a reserva e os bilhetes.

Ela ficou imóvel durante um segundo.— A reserva?— Para o Blackstone’s — explicou

ele, enquanto lhe estendia a rosaseguinte. — Não queria levar-te a ver omusical com o estômago vazio.

Blackstone’s. As pessoas faziamreserva para ir àquele restaurante comum mês de antecedência. «Meu Deus,teria sido perfeito!», pensou Jenny.

Fez um grande esforço, mas conseguiumanter uma expressão de valentia.

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— Portanto, a noite não está estragadapara ti — disse, e fingiu que olhava parao seu relógio, embora na verdade, sótivesse visto o seu pulso. —Pressuponho que é melhor ires-teembora já.

Ele deu-lhe outra rosa.— Porquê?Jenny olhou para a flor, não para ele.— Porque ainda tens de ir buscar a

pessoa com quem vais sair e, se nãochegares a tempo ao Blackstone’s, épossível que percas o princípio da peçae...

Eric levantou a mão para parar acorrente de palavras. Ela tinha tendênciapara falar muito depressa, assim que

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começava. E Eric surpreendia-se queachasse divertido, em vez de oincomodar.

— Não vou ao Blackstone’s, nem aomusical.

Ela olhou confusa para ele.— Mas acabaste de dizer ao

telefone...— Estava a falar com a minha irmã.

Vou dar-lhe a reserva e os bilhetes paraque vá com uma amiga. Mas tenho deenviar o motorista para ir buscá-la —disse, enquanto lhe dava a última rosa.Depois encaminhou-se para a porta. —Já volto.

Jenny não entendia. As obrigações deEric já tinham acabado. Criara umanoite perfeita e ela tivera de declinar o

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convite. Ele era livre de ir para casa oupara onde quisesse.

— Porquê? — perguntou-lhe.Aquela pergunta fez com que ele

ficasse imóvel na soleira. Teriaentendido bem?

— Queres que me vá embora?Horrorizada, Jenny apressou-se a

corrigir o seu erro.— Não, não... mas pensei que tu

quererias ir. Quer dizer... Como eu nãoposso ir ao jantar nem ao teatro... —aflita, Jenny interrompeu-se erecomeçou. — Estás a dizer-me quequeres ficar?

— Claro! Porque não?Jenny lembrou-se de centenas de

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razões pelas quais ele não quisesse ficarali com um menino doente e uma mulhercom a qual não tinha nenhumaobrigação. Mas, daquela vez, não iriaapresentar-lhe nenhum argumento. Iriadesfrutar daquele estranho capricho dodestino.

Pelo menos, até acordar e descobrirque adormecera diante da televisão,porque aquilo era demasiado bom paranão ser um sonho.

Jenny abanou a cabeça comincredulidade.

— Se não te passa nenhum motivopela cabeça, não serei eu a dar-to.

Ele riu-se e saiu. Começara a nevarum pouco e Eric levantou a gola docasaco.

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— Já volto — disse-lhe.«Assim espero», pensou Jenny

enquanto fechava a porta.E, uma vez que uma parte dela

mantinha sempre a esperança econtinuava a acreditar na história daCinderela, Jenny não trancou a porta.

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Nove

Quando Jenny ouviu a porta abrir-se

novamente, virou-se quase à espera quetivesse aparecido um estranho na suacozinha.

De certo modo, teve de admitir queficou espantada de ver Eric a atravessara soleira.

Voltara. Cumprira a sua palavra.— Parece que estás surpreendida de

me ver — disse-lhe ele com umaexpressão divertida. — Disse-te que iavoltar. Só fui dizer ao motorista para ir

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buscar a minha irmã, com os bilhetes, eque viesse buscar-me mais tarde.

Aquilo significava que não tinhaveículo para partir. Ia ficar. Jennysentiu-se obrigada a protestar.

— Não tens de ficar, a sério.Ele sorriu ainda mais.— Bom, é que, de repente, não tenho

planos para esta noite e parece que tesabia bem a companhia.

Aquilo era verdade. Embora Jennygostasse muito de Cole, às vezes, sermãe solteira era algo muito solitário.

— Sabia-me bem — admitiu ela, —mas não quero arruinar-te a noite.

Ele afrouxou a gravata e acomodou-seno sofá. Depois olhou para ela, como seestivesse à espera que ela se sentasse ao

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seu lado.— E porque pensas que está

arruinada?Jenny sentou-se na beira do sofá.— Porque isto não é exactamente um

bom substituto para uma noite de teatro.— O mais importante num encontro é

a pessoa com quem estás. Além disso,que eu me lembre, comprometi-me apassar a noite contigo.

Aquilo não era estritamente verdade.Estaria a ser apenas amável?

— Que eu me lembre — corrigiu ela,— comprometeste-te a passar a noitecom Lola Wilcox.

Ele esboçou um sorriso irónico.Aquelas duas mulheres pareciam de

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mundos diferentes. Pelo que Eric sabiade Lola, aquela mulher atraente da altasociedade via muito pouco para além doseu próprio espelho.

— Por alguma razão, não imaginoLola Wilcox a renunciar a bilhetes naterceira fila, no meio, para o Um, dois,três para cuidar de um menino doente.

Ela também não, mas dizê-lo eramalicioso. Além disso, Lola fizera partedo grupo que decidira licitar Eric paraela. Jenny sentiu-se obrigada a sair emdefesa da sua amiga.

— Lola não tem filhos e, além disso...— naquele momento, apercebeu-se doque ele acabava de dizer sobre osbilhetes. — Terceira fila, no meio?

Ele sorriu e assentiu. A terceira fila,

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no meio, era o lugar mais cobiçado emqualquer teatro.

Jenny lamentava muito perder aquilo.No entanto, nem os bilhetes maisperfeitos para o teatro, com o homemmais perfeito, conseguiriam quemudasse de ideias. Fazer o correcto, àsvezes, custava um preço muito alto.

— Tens uma vida de sonho, não tens?— perguntou Jenny a Eric, maravilhada.

Ele pensou nas festas e nas mulheres.E na introspecção a que se submetia àsvezes, às três horas da manhã, e que ofazia aperceber-se de que tudo lheparecia falso e vazio.

— A maior parte do tempo —respondeu, despreocupadamente. —

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Mas então, cruzo-me com alguém comotu e sinto-me culpado.

— Culpado? Porquê?— Pertencemos ao mesmo círculo

social, mas tu transformaste-te numaespécie de anjo salvador para os pobrese oprimidos — explicou-lhe Eric, edepois virou a cabeça em direcção aoquarto onde estava Cole. — Eu souapenas Eric Logan, mulherengo.

— Tu és muito mais do que isso! —protestou Jenny. — És o vice-presidentedo departamento de marketing da LoganCorporation e...

Ele estava habituado a que as pessoaso lisonjeassem, mas teve a sensação deque Jenny falava a sério. E então, sentiuum calor agradável por dentro, perante

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aquela demonstração de apoio.— Graças ao nepotismo.Ela olhou fixamente para ele, como

que a dizer-lhe que deveria ter maisbom-senso.

— Terrence Logan não tem fama defazer as coisas às cegas. Sabe o quequer e não acho que se dê ao luxo de pôruma pessoa incompetente num cargo deresponsabilidade, por muito que gostedessa pessoa. Além disso, também seique tu participas activamente em eventosde beneficência.

Falava tão a sério que Eric teve deresponder de forma escarnecedora.

— Realmente, tu gostas mesmo dediscutir, não é?

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Jenny encolheu os ombros.— É a advogada que tenho dentro de

mim. E se acreditas no que Jordan diz, éalgo congénito.

Eric emitiu o seu próprio julgamentosobre aquele ponto.

— Parece-me que discutir condizcontigo. Quando argumentas os teuspontos de vista, os teus olhos iluminam-se. O teu comportamento muda porcompleto.

Eric sorriu. Olhando bem para ela,Jenny Hall era muito mais atraente doque ele pensara. Inclusive com umacamisa e umas calças de ganga, semsinal de maquilhagem e com o cabelodespenteado, tinha algo belo.

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— É como se tivesses poderes.Jenny riu-se.— Só me viste alguns minutos no

tribunal — comentou. — E a maior partedo tempo estive de costas para ti.

— Mas eram umas costas com muitopoder!

Então os dois riram-se, partilhandoaquele momento. Apesar de Jennypensar que devia estar com mau aspecto,sentia-se como a Cinderela com opríncipe.

Ele surpreendeu-se ao pensar que,para além de beleza, Jenny exercia neleuma atracção que não conseguiaexplicar. Ela não era o seu tipo. Não separecia nada com Lola Wilcox nem com

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Mona Nixon, a última mulher da longalista de cabeças ocas com que saíra.Mulheres que sabiam muito bem comose divertirem, porque era a única coisaque faziam.

Eric pousou o olhar sobre Jenny,escrutinando-a, observando-a. Sempensar, agarrou-lhe na mão.

— Lembras-te quando foi a últimavez que te divertiste, Jenny?

Enquanto lho perguntava, começou aacariciar-lhe suavemente o cabelo e elaficou sem ar.

— Este momento conta?Aquela resposta surpreendeu-o.— Só estamos aqui sentados.— Sim, eu sei.E estar sentada nunca fora tão

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maravilhoso nem tão excitante. Se o seucoração não parasse de bater assim, iriasair-lhe do peito.

Ele não esperara que ela fosse tãosincera, tão transparente. Considerou-oincrivelmente sensual e sedutor. Duaspalavras, duas sensações que nunca teriaassociado a Jenny Hall.

Embora, certamente, ele não fosseinfalível. E, daquela vez, em particular,se tivesse enganado por completo.

Sem pensar, agindo por puro instinto,pousou-lhe a palma da mão na face. Oolhar de pura maravilha que percebeunos olhos de Jenny, excitou-o. Então,beijou-a.

O instinto e a curiosidade tinham-no

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levado até ali, mas, no momento em queentrou em contacto com os seus lábios,sentiu algo muito mais poderoso.

Algo que o surpreendeu para além detoda a expectativa.

Jenny tinha um sabor doce e fresco,cativante. O beijo transformou-se emalgo mais intenso, mais profundo. Nãoqueria interrompê-lo, não queria afastar-se. Perguntava-se onde aquilo oslevaria.

Agarrou-a pelos ombros e aproximou-a do seu corpo. O gemido suave que elaemitiu, ficou entre os dois, e fez com quea temperatura do sangue de Ericaumentasse.

Então abraçou-a.«Oh, meu Deus!», pensou Jenny,

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estava a acontecer.Estava a beijá-la. Realmente, estava a

beijá-la. A sala rodava rapidamente àsua volta. A única coisa que sentia eraaquele beijo candente que ardia entreeles e que ameaçava consumi-la.

Beijá-lo, que ele a beijasse, era tudoo que ela achara que seria. E mais.Muito mais! Jenny sentia-se perdida nassensações e emoções que aquele beijoestava a produzir-lhe. A qualquermomento, iria atirar-se para cima dele.

Aquele pensamento tão espantoso fezcom que Jenny se afastasserepentinamente, que se inclinasse paratrás antes de ser incapaz de o fazer. Nãoqueria assustar Eric. Deus sabia que já

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estava a assustar-se o suficiente.Com esforço, afastou a cabeça. E

custou-lhe ainda mais abrir os olhos.Receava que, afinal, tudo aquilo nãotivesse passado de um sonho.

Não fora. Ele estava ali, diante ela. Oseu rosto estava a centímetros da cara deJenny.

— Meu Deus!Novamente, a sua honestidade afligiu

Eric. E aquelas palavras que elapronunciara não conseguiam descrevertudo o que ele estava a sentir naquelemomento.

— Sim, meu Deus! — exclamou ele.Não havia outras palavras.

Porque o beijo que acabara deexperimentar, feito de inocência e de

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paixão contida, estivera prestes aderrubá-lo.

Jenny apertou os lábios, tentandopensar, tentando não saborear o gostomasculino que lhe deixara na pele.Estaria a rir-se dela? Naquele momento,estava demasiado aturdida para que lheimportasse, mas sabia que mais tarde lheimportaria.

Levantou-se, hesitante, e passou umamão a tremer pelo cabelo. Depois deuum passo para o quarto.

— Eh...! É melhor ir ver como estáCole.

Ele assentiu, observando-a enquantose retirava, pensando que, realmente, ascoisas quase nunca eram o que

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pareciam. Ele não imaginara que alguémque considerara tão pouco importantepudesse deixá-lo sem palavras.

Mas teve de recordar a si próprio quea vira em acção, a vira defender o seucaso num tribunal. Qualquer pessoa quepudesse comportar-se com tanta paixãona sua profissão não podia ser poucacoisa em privado, apesar de como secomportasse.

Para Jenny, pensar como Eric eracapaz de aumentar a temperatura do seucorpo, acabou assim que entrou noquarto. Cole adormecera, mas movia-secom inquietação na cama. Tinha o rostoruborizado. Jenny pôs-lhe a mão na testae confirmou que a febre aumentara.Franziu o sobrolho. Não gostava nada

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daquilo. Decidiu que esperaria mais umpouco e depois telefonaria ao pediatra.

Naquele momento, o som dacampainha da porta fez com que saíssedo quarto. Quem poderia ser?

Entrou na cozinha precisamente nomomento em que Eric estava a pagar aum estafeta. O rapaz vestia um casacocom o logótipo do Blackstone’s. Nochão, junto de Eric, havia vários sacoscom o mesmo desenho.

Jenny uniu-se a ele à porta, apontandopara os sacos.

— O que é isto tudo?Enquanto agradecia ao rapaz, Eric

fechou a porta e virou-se para ela.— Bom, pensei que, pelo menos,

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podia telefonar para o restaurante parapedir o jantar, já que não foste ver omusical — explicou-lhe. Agarrou nossacos e pô-los na mesa da cozinha. —Espero que gostes do que pedi.

Jenny teria gostado de tudo o que eletivesse podido escolher. No entanto,ficou a olhar, duvidosa, para os sacos.

— Mas o Blackstone’s não temserviço de entrega.

Eric sorriu enquanto tirava doisrecipientes de plástico dos sacos e ospunha na mesa.

— Têm, se conheceres o chefe decozinha.

Ela riu-se e abanou a cabeça. Aquelehomem era capaz de tudo.

— Espero que uses os teus poderes

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para fazeres o bem e não o mal.Os seus olhares encontraram-se e

Jenny sentiu que o sangue lhe fervianovamente.

— Talvez tu possas ensinar-me.Jenny obrigou-se a mover-se até um

armário. Se iam jantar, precisariam depratos, talheres e copos.

E ela tinha de deixar de ficarparalisada cada vez que ele olhava paraela.

No entanto, qualquer pensamentosobre o jantar desvaneceu-se naquelemomento. Os dois ouviram o ruído aomesmo tempo. Foi um som de asfixia eprovinha do quarto. Jenny voou para oseu quarto com o coração na garganta.

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Cole saía a cambalear de lá, com osolhos abertos de pânico e a testa cobertade suor. Agarrava o pescoço com asduas mãos enquanto tentava respirardesesperadamente.

Jenny caiu de joelhos junto domenino. Cole estava muito assustado.

— O que se passa, querido? O que sepassa?

Mas ele só conseguia fazer ruídosguturais. Quando Jenny tentou pegar-lheao colo, Cole afastou-se dela e começoua correr pela sala.

Eric aproximou-se rapidamente.— Onde é a casa de banho?— Ali — disse ela, indicando o

quarto. — Porquê?

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Eric não respondeu. Pegou em Coleao colo e levou o menino para a casa debanho. Fechou a porta atrás dele e elaficou do outro lado.

Jenny observou a porta comdesconcerto.

— Eric, o que estás a fazer?Ele não respondeu. Em vez disso,

Jenny ouviu o duche aberto ao máximo.Quando tentou abrir a porta, ordenou-lheque parasse.

— Não abras!— Porquê? — perguntou Jenny. — O

que estás a fazer aí dentro?— Tenho a torneira aberta para que

Cole respire todo o vapor que consiga.Acho que tem difteria e o vapor ajudá-

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lo-á a abrir as vias respiratórias. Vá,Cole, respira! Respira devagar. Bommenino!

— Difteria? — repetiu ela.Durante o tempo que Cole vivia com

ela, só tivera uma dor suave deestômago e uma constipação que curaraem três dias. Nunca tivera nada daquelamagnitude.

Jenny tentou controlar o pânico eacalmar-se. Começou a recordar ascoisas que lera sobre a difteria. Oaparecimento era muito repentino e,normalmente, não era uma doençaperigosa. No entanto, havia vezes emque as vias respiratórias inflamavam eas crianças podiam sufocar se seassustassem demasiado.

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Ela apoiou a orelha na porta paraouvir e reparou que as tentativasdesesperadas de Cole para respirartinham cessado.

Aquele era um bom sinal, não era?— Eric? — perguntou ela, com toda a

calma que foi capaz, para não assustarmais Cole. — Ele está bem?

— Começou a respirar comnormalidade — disse-lhe Eric. Jennydeixou-se cair contra a porta, esgotadade repente, mas sentindo uma gratidãoenorme. Percebera o alívio na voz deEric e agradeceu a Deus por ele estarem sua casa naquele momento. — Vouficar aqui com Cole durante algunsminutos para me certificar de que está

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bem. Porque não telefonas ao seumédico e lhe dás os pormenores, paraque nos diga o que temos de fazer?

Ela afastou-se da porta e começou amarcar o número do pediatra. Quando aporta da casa de banho se abriu, Jennyacabara a conversa. Eric saiu com omenino nos braços. Cole tinha muitomelhor aspecto. Já não tinha medo noolhar.

Tanto o homem como o meninoestavam encharcados.

— Acho que é melhor mudar-lhe aroupa — sugeriu Eric. Jenny pegourapidamente em Cole e Eric limpou aágua da testa com as costas da mãoenquanto via Jenny depositar Cole nacama, depois de o beijar. — O que te

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disse o médico?— Que tinhas razão. É difteria.

Contei-lhe o que tinhas feito e que Colerespirava novamente com normalidade— enquanto trabalhava rapidamentepara mudar a roupa do menino,perguntou-lhe: — Como sabias o quetinhas de fazer?

Eric passou as mãos pela cara paratirar a humidade.

— Vi-o num episódio antigo doHappy Days.

Jenny tapou Cole com uma manta,apanhou a sua roupa molhada do chão epô-la na cesta da roupa suja. Televisão.Ela não conseguia imaginar Eric a vertelevisão.

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— Realmente, és uma caixinha desurpresas.

Ele recordou o beijo que tinhampartilhado, que surgira da curiosidade eacabara em algo muito mais enérgico.

— Pode dizer-se que esta foi a noitedas surpresas.

Só naquele momento, Jenny reparoubem em Eric. O fato cinzento claro queusava estava encharcado e colado ao seucorpo. Ela abanou a cabeça.

— Parece que estiveste a andar numpântano. Há toalhas no armário —disse-lhe ela, indicando-lhe o armárioque havia depois do hall. — Mas achoque, de qualquer forma, o teu fato estáestragado. Devo-te um novo.

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Eric fez um gesto negativo para aabsolver da dívida.

— Não. A única coisa importante éque Cole esteja bem — disse e voltou aolhar para o menino, que estava aaninhar-se na cama. Estava muito maiscalmo do que há um quarto de horaatrás. — O médico não te disse para olevares às Urgências?

— Não. Quando lhe disse querespirava com normalidade, disse-meque o perigo já tinha passado. Tambémme disse para lhe dar um antipiréticoinfantil e que, se amanhã continuassecom febre, para o levar ao seuconsultório. O doutor Silversteintambém me disse para deixar um

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humidificador ligado no quarto de Cole.Eric deve ter visto como ela mordia o

lábio inferior.— Tens um?— Não... — respondeu Jenny. Nunca

necessitara.Eric dirigiu-se para a porta.— Pois terás um.Jenny seguiu-o apressadamente e

colocou-se à frente dele antes quepudesse abrir.

— Não podes sair assim! Ficarásdoente.

Ele gostou da preocupação que viu naexpressão do seu rosto. Para atranquilizar, afastou-se da saída e tirou otelemóvel do bolso.

— Está bem. Telefonarei a Bart

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daqui.— Bart?— O meu motorista — respondeu

Eric enquanto abria o telefone. — Voupedir-lhe que procure uma loja deelectrodomésticos, aberta vinte e quatrohoras por dia, e que traga umhumidificador.

Ela tirou uma toalha do armário eestendeu-lha. Aquela consideraçãocomovera-a.

— Obrigada.Enquanto, com uma mão, Eric

marcava o número do seu motorista,com a outra, secava o cabelo.

— Não precisas de agradecer.Eric, pensou Jenny, observando-o

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enquanto se dirigia novamente para oquarto, para vigiar Cole, não tinha nadaa invejar do príncipe encantado.

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Dez

O som suave do humidificador enchia

o apartamento. Se se ouvisse comatenção, por baixo daquele ruído, Jennyconseguia perceber a respiraçãotranquila de Cole. Exausto depois dacrise respiratória adormecera em paz.

Jenny estava à porta do quarto, aolhar para ele, a tentar acalmar-se,certificando-se de que o menino estavabem e de que podia ir para a sala.

Depois de alguns minutos, retirou-sefinalmente, mas deixou a porta aberta

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para o caso de as coisas voltarem apiorar.

«Graças a Deus que Eric estavaaqui!», pensou novamente enquanto iapara a sala.

E então, ficou paralisada.Eric abrira todos os recipientes do

Blackstone’s e dispusera-os sobre amesa de apoio, com os pratos, os copos,os talheres e os guardanapos.

— O que é isto tudo?Ele virou-se para olhar, satisfeito por

ter acabado a tempo.— Não fazia sentido deixar que esta

comida toda se estragasse.Jenny sorriu e abanou a cabeça.

Aquele homem tinha a capacidade de adesarmar.

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— És real?Eric abriu a garrafa de vinho e serviu

dois copos.— Foi o que me disseram depois do

meu último exame médico.Ela sentou-se ao seu lado, no sofá.— Estás a ser muito compreensivo

com isto tudo.— Eu gosto de estar aberto a coisas

novas — respondeu ele. Depois deu umgole ao vinho e confirmou que era bom.Pensou no menino enquanto pousava ocopo na mesa. — Além disso, é umasensação agradável estar no lugar certo,no momento certo, para pôr em práticatodas as trivialidades que sei através datelevisão — ofereceu um guardanapo a

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Jenny antes de se concentrar no seuprato. — A maior parte do tempo, só meserve para saber o nome certo de algumapersonagem de alguma série pré-histórica.

— Então, gostas de ver programasantigos?

— Sim. Não tenho muito orgulhodisso, mas é uma das minhas fraquezas.

— Bom — respondeu ela, com umsorriso. — O teu segredo está a salvocomigo. E tens mais alguma fraqueza?

Ele pousou o garfo no prato eobservou-a durante um longo momento.

— As raparigas com os olhos azuis,incrivelmente bonitos.

Jenny ficou outra vez sem ar. Teve dese obrigar a inspirar antes que o seu

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cérebro ficasse completamente semoxigénio.

— Soou a frase de filme? —perguntou-lhe ele.

Ela riu-se e levantou a mão, com opolegar e o indicador a um centímetrode distância.

— Um bocadinho — respondeu, edepois recuperou a seriedade. — Penseique não precisasses desse tipo de frases.

— Normalmente, não — disse Eric e,ao aperceber-se de quão pomposo deviater parecido, acrescentou: — Oh, não édevido ao meu encanto fabuloso, mas aoapelido da minha família! Quando asmulheres descobrem que sou um dosLogan, em vez de uma pessoa que, por

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acaso, tem o mesmo apelido que eles,caem aos meus pés.

Ela detectou algo na sua voz.— E não gostas disso.— Não. Não gosto. Priva-me da

possibilidade de saber se se sentematraídas por mim ou pela fortuna dafamília.

Jenny soltou uma gargalhada curta eseca.

— Embora o dinheiro não desagradea ninguém, tenho a certeza de que sesentem atraídas por ti.

— E porque dizes isso?Jenny esbugalhou os olhos. Aquele

homem não saberia como era?— Não tens um espelho?Ao ouvir-se, Jenny encolheu-se por

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dentro. Estava a ser demasiado sincerae, provavelmente, aquele homem iriapensar que estava fascinada com ele.Aquilo era algo que Jenny não queriaque soubesse, é claro. A última coisaque desejava era provocar-lhe umsentimento de pena.

Ele pegou novamente no copo devinho e deu-lhe um gole. Ao pousá-lo namesa, estava a sorrir-lhe.

— Coraste novamente.Sobressaltada, ela desviou o olhar.— Desculpa. É algo congénito, para

além de meter os pés pelas mãosconstantemente.

Ele levantou-lhe o queixo com umdedo para poder olhar para a cara dela.

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— Eu gostaria de ver isso.Ela encolheu os ombros.— É uma forma de falar.— E uma mentira. A mulher que eu vi

no tribunal no outro dia, não me parececapaz de meter os pés em lado nenhum— e acrescentou, com uma gargalhada:— A não ser que seja no rabo doadversário.

Jenny corou ainda mais. Para alémdos elogios que Jordan lhe dirigia devez em quando, normalmente as pessoasnão a lisonjeavam, a menos quequisessem que fizesse algo por elas ouque conduzisse algum evento.

Jenny baixou os olhos. Só de olharpara ele perdia a capacidade de

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raciocinar com lógica.— Obrigada. Mas essa não sou eu, é

outra.— Tens um dom?Ela riu-se.— Não. Só que, quando me sinto

envolvida em algo que me parece umainjustiça, essa parte de mim salta.

Ele assentiu.— Como Masa, mas mais bonita e

sem a cor verde.— Algo do género — disse Jenny.

Queria acabar com aquele assunto efalar de qualquer outra coisa. Apontoupara o prato com a cabeça. — Éexcelente, embora esteja frio.

Ele apercebeu-se do que Jenny estavaa tentar fazer, mas entrou no jogo. Além

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disso, era verdade. A comida doBlackstone’s era excelente. Embora, narealidade, naquela noite, não lhe tivesseprestado muita atenção. Acabara a suacomida quase sem se aperceber.

— Foi assim que ganhou a suareputação — disse Eric e olhou para osofá. Embora tivesse colado uma toalhano seu assento, os almofadões estavamcada vez mais húmidos. E o facto deestar sentado ao seu lado, estava a fazê-lo pensar em coisas que não deveriapensar sobre a irmã do seu melhoramigo. Estava na altura de partir. —Acho que é melhor ir-me embora antesque te estrague o sofá.

Ela teria estado disposta a sacrificar

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uma dúzia de sofás com o objectivo departilhar mais cinco minutos com ele,mas, certamente, do ponto de vista deEric, já permanecera ali o suficiente.Mais do que o suficiente.

Jenny levantou-se ao mesmo tempoque ele.

— Lamento imenso que a noite tenhaacabado assim. Provavelmente, estavasdesejoso de ver aquele musical.

— Já o vi — respondeu Eric e Jennyficou espantada. — Comprei os bilhetesporque pensei que, talvez, gostasses deo ver — explicou.

Eric tinha a habilidade maravilhosade subtrair importância às coisas. Elateria gostado de estar numa esquina, seaquilo significasse estar ao seu lado, a

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respirar o mesmo ar do que ele.— Teria gostado, sim.— E não lamentes — disse-lhe ele.

Agarrou-lhe na mão e segurou-a duranteum momento. — Eu gosto de noitespouco correntes.

— Mesmo que te estrague um fato.— Bom, não é o único que tenho.— De qualquer forma, parece-me que

te devo um — insistiu ela. Era o mínimoque podia fazer, pensou. Afinal decontas, ele não quisera que lhe pagasseo humidificador.

Sem lhe largar a mão, Eric desdenhouas suas palavras com um gesto.

— Diverti-me muito.— Mentiroso! — exclamou ela com

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um sorriso.— Não, a sério.Eric viu como o sorriso florescia

também nos seus olhos antes que ele abeijasse. Sentiu-se completamentecativado. Passou-lhe as costas da mãopela face e inclinou-se para os seuslábios.

Imediatamente, sem hesitação, Jennyrendeu-se a ele. Rodeou-lhe o pescoçomolhado com os braços e apoiou-se noseu peito. A humidade não importava.Ela pensou que o calor que ia gerar-seno seu interior seria suficiente parasecar uma selva.

Aquilo era perfeito! Muito maisperfeito do que um musical e um jantarno mais luxuoso dos restaurantes. A

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perfeição era aquela sensação queestava a invadi-la enquanto sentia o seucorpo.

Um momento depois, ela recuou elargou-o, tentando desesperadamentevoltar à realidade. Apertou os lábiospara não perder o sabor de Eric.

— Obrigada por teres vindo. Não seio que teria feito sem ti e sem Fonz.

Eric detectou imediatamente o erro esorriu.

— Chachi.— O quê?— Foi Chachi quem soube que era

necessário colocar o menino no duche.Joannie estava a fazer de ama. Era o seuprimeiro encontro.

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Jenny não conseguiu evitar rir-se.Nunca, num milhão de anos, teriapressuposto que Eric sabia aquelespormenores.

— Realmente, estás informado, eh?Ele abriu a porta e virou-se para ela

com um dedo nos lábios. Com umaexpressão forçadamente séria, disse-lhe:

— É o nosso segredo, está bem?Ela assentiu.Jenny não se deixou cair no chão até

ter fechado a porta atrás dele e ter ascostas apoiadas na porta.

A mulher pequena e angulosa passouo dedo indicador pelo calendário quetinha à sua frente, no balcão, e franziu o

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sobrolho enquanto abanava a cabeça.— Não vejo o seu nome aqui — disse

e olhou para Jenny por cima do aro dosóculos. — Não tem marcação — disse-lhe, em jeito de acusação.

Jenny suspirou. O cabide do saco dofato estava a começar a cortar-lhe acirculação dos dedos.

— Não, não preciso de marcação —explicou à recepcionista. — Só querodeixar-lhe isto.

Sentada no seu assento como umaestátua, a secretária observou, duvidosa,o saco e franziu ainda mais o sobrolho.

— Para o senhor Logan.— Sim — respondeu Jenny.Ela não fazia ideia de que na Logan

Corporation contratavam incapacitados

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mentais e que os colocavam em cargosde tanta responsabilidade. Parara noescritório a caminho do tribunal e nãopensara que teria de travar uma batalhaverbal com uma secretária. — Se lhedisser que Jenny Hall queria agradecer-lhe, ele entenderá.

Não pareceu que aquelas palavrasimpressionassem muito a mulher.

— Está à sua espera?— Não, mas...A mulher descartou qualquer outra

explicação, abanando a cabeça. Eraevidente que já ouvira o suficiente.

— Então, não tenho a certeza sepoderei aceitar isto em seu nome.

Exasperada, Jenny colocou o saco

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sobre o balcão e abriu o fecho.— Veja, é só um fato! — exclamou e,

depois de fechar novamente o fecho,continuou a explicar-se. — O senhorLogan estragou o seu acidentalmente emminha casa e eu queria substituí-lo. Porfavor, encarregue-se de lho entregar,está bem? — pediu à secretária. Depoisencaminhou-se novamente para oselevadores.

— Poderia repetir-me o seu nome? —perguntou-lhe a mulher da suasecretária.

— Jenny Hall — disse-lhe Jenny semse virar.

Estacionara na zona limitada a vinteminutos de estacionamento e já seacabara quase o tempo, portanto

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continuou a andar apressadamente. Sóchegara a meio do caminho quando lhepareceu que ele a chamava. Eric.Ignorou-o como se fosse apenas umdesejo nostálgico e deu outros doispassos antes de o ouvir novamente.

Daquela vez, virou-se, sobretudo,para se certificar de que estava errada.No entanto, no segundo seguinte elealcançara-a e agarrara-lhe no braço,como se tivesse medo de que fossedesaparecer.

Como se ela fosse capaz de dar maisum passo!, pensou Jenny.

— Como está Cole?Ela reparou que sorria

involuntariamente ao ouvir a pergunta.

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— Está bem. Obrigada porperguntares.

— O que fazes aqui? Há outro leilão?— Não, não — respondeu ela, com

uma gargalhada suave. — Já fizeste maisdo que o suficiente em nome dabeneficência — garantiu-lhe. — Só vimsubstituir o teu fato que se estragouquando salvaste a vida de Cole emminha casa, no sábado.

— Não te preocupes, não é nadadifícil para um super-herói como eu —respondeu ele, ironicamente, enquantoreparava nela. Usava o cabelo apanhadoe um fato de duas peças, branco e preto,sob um casaco quase austero. Ninguémteria imaginado as curvas que aquele

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traje ocultava. A ideia de que eleestivesse entre os poucos privilegiadosagradou-lhe. — Mas eu disse-te que nãome devias nenhum fato. Não precisavasde te ter incomodado.

— E eu disse-te que to ofereceria —recordou-lhe ela. — E cumpro sempre aminha palavra.

Ele gostou daquilo. Gostava daquelamulher, que pensava que era importantecumprir o que prometia. Era algo quaseantiquado, mas Eric descobrira que, àsvezes, as coisas antigas eram asmelhores.

— Eu também — disse-lhe, então. —E ainda te devo um encontro.

Ela não queria que se sentisseobrigado e não queria que pensasse que

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fora ao seu escritório para fazer comque se sentisse como se lhe devessealgo.

Jenny abanou a cabeça.— Não entendes. Tu já cumpriste,

Eric.Aquela era uma forma estranha de o

dizer, pensou ele. Teria feito algo que ativesse levado a pensar que se sentiapreso naquela situação? Eric estava apedir-lhe aquele encontro porque,realmente, queria sair com ela. Jennynão era o tipo de mulher com que ele seencontrava normalmente e intrigara-o.

— E tu não entendes que, embora ooutro dia tenha sido interessante e metenha permitido conhecer-te em

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circunstâncias adversas, a noite dosábado passado não pode chamar-se umencontro. Ainda tenho de sair contigo.

Ela tentou novamente.— Absolvo-te da tua dívida.— Talvez não queira que me

absolvas.— Oh!«O que estou a fazer?», perguntou-se

Jenny. A tentar convencê-lo a não fazeralgo que ela realmente desejava quefizesse? Jenny pensou melhor nas coisase focou a situação de outro ponto devista.

— Está bem, se tiveres a certeza deque é isso que queres fazer... — disse-lhe lentamente, deixando-lhe espaçosuficiente para desistir, caso quisesse

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aproveitar a saída que lheproporcionara.

Quanto mais Jenny resistia, maisvontade tinha de sair com ela. Asmulheres nunca se armavam em difíceis.A maior parte das vezes, acontecia ocontrário: ele tinha de se livrar delas.

Jenny era muito diferente e elegostava daquela diferença.

— Tenho a certeza de que quero fazê-lo. Quando podemos combinar?

Enquanto tentava controlar todas assensações que aquelas palavras lhetinham produzido, Jenny demorou uminstante a pensar. Várias pessoaspassaram junto deles pelo corredor eobservaram-nos com curiosidade. Ela

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sorriu sem conseguir evitá-lo.— O que te parece no próximo

sábado?— Parece-me bem. Às seis horas?— Sim, às seis horas — repetiu ela.— Até lá!Jenny assentiu e, sem saber como,

percorreu os últimos passos até aoselevadores.

Eric poderia ter dito qualquer hora eela teria arranjado um modo de estarpronta.

E, daquela vez, prometeu a si mesma,enquanto chegava ao elevador, iria àscompras para comprar um vestido que,mesmo que não fosse sedutor, pelomenos fosse gracioso.

O tanas! Se ela não podia ser

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espantosa, pelo menos o seu vestidoseria.

Enquanto entrava no elevador,ocorreu-lhe que ela não sabia nada arespeito de como comprar um vestidoespantoso.

Mas havia uma pessoa que sabia.Eric ia ser responsável por tornar

outra mulher muito, muito feliz. Umamulher que estava há vinte e seis anos àespera para levar Jenny às compras.

E parecia que o desejo daquelamulher iria tornar-se realidade.

— O dia, mamã — sussurrou Jenny,— finalmente chegou.

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Onze

«Sou realmente eu?»Aquela pergunta repetia-se na mente

de Jenny enquanto olhava para a mulherdo espelho. A mulher que floresceradepois de um dia de trabalho de umaequipa que se dedicava à beleza e quetrabalhava no The Body Beautiful Salon.

Jenny mal conseguia acreditar queaquela imagem que se reflectia noespelho era a sua.

Sempre se sentira comum, poucomemorável. Estava completamente

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convencida de que poderia passar poruma sala cheia de gente sem queninguém reparasse na sua presença.

Naquele momento, no entanto, eradiferente. Naquele momento, tinha acerteza de que até os mortos reparariamna mulher que via no espelho.

Tinha o rosto revigorado, graças àlimpeza de pele e à maquilhagemexcelente, obra do maquilhador quetrabalhava no salão de beleza preferidoda sua mãe. Tinham-lhe dado umamassagem e penteado. Depois de horasde deliberação e de trabalho, Andre, oproprietário do salão, aprovara-a.

Depois enviara os seus assistentespara a outra zona do estabelecimento, azona dedicada à venda de roupa com a

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qual a maior parte das mulheres sópodia sonhar, e dissera-lhes para nãovoltarem com menos de vinte vestidos.

Entre Andre e a sua mãe tinham idodescartando modelos até tomarem umadecisão.

E valera a pena.Ali estava Jenny, radiante da cabeça

aos pés, calçada com uns sapatospecaminosamente caros. A visão dabeleza.

Até a sua mãe o reconhecera.— Saíste-te muito bem, Andre!— Muito bem? — perguntou o

homem, sem dúvida insatisfeito comaquele breve elogio. — Superei-me.

Elaine assentiu.

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— Sim, sim, superaste-te — repetiucondescendentemente. — Envia-me aconta disto tudo.

O radar de Jenny detectourapidamente o significado daquela frase.Ela queria manter a sua independência aqualquer preço. Já era suficientementemau ter tido de pedir ajuda à sua mãe.Não iria permitir que também lhepagasse aquele dia de vaidade.

— Não, envie-ma — insistiu Jenny.Elaine olhou para a sua filha.

— Acredita em mim, querida, nãoquererás ver esta conta. Duvido queganhes num ano o que isto tudo custou.Conheço os teus escrúpulos e a tuaindependência, Jennifer, mas estava à

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espera deste dia há vinte e seis anos e,verdadeiramente, não me importo de opagar.

O ligeiro sorriso que Elaine tinha noslábios tornou-se mais amplo. E maisprofundo. Transformou-se em algogenuíno que lhe alcançou o olharenquanto o passava sobre a sua únicafilha.

— Estás linda! Eu sempre soube.— Foi — estava a dizer-lhes Andre,

tentando recuperar a atenção de toda agente, — uma experiência mágica!

Com um suspiro, Elaine deu uma notade cem dólares ao homem, como gorjeta,e depois dirigiu-se ao resto do pessoalque participara no milagre no salão.

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Durante o caminho todo, Jenny teve

medo de respirar, preocupada que algummovimento errado pudesse estragar amagia do seu aspecto. Queria retê-la portodos os meios. Por uma noite, queriaser a princesa, queria ser a Cinderela.

Já experimentara a parte da históriaque decorria antes de a fada madrinha atransformar. E queria experimentar omomento em que o príncipe, Ericnaquele caso, e ela, se encontravamdepois da transformação.

Queria deixá-lo boquiaberto. Etambém queria compensá-lo pelaprimeira noite, demonstrar-lhe que, pelomenos, em certa medida, podia competircom o tipo de mulheres com que ele

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saía.O olhar da sua mãe, quando a deixara

em casa naquela tarde, dizia tudo. AtéCole ficara a olhar para ela com osolhos muito abertos, com um pequenosorriso nos lábios. Jenny sentia-sepreparada.

Embora estivesse à espera dele,quando a campainha da porta finalmentetocou, Jenny sobressaltou-se.

— Vêm buscá-la — disse-lhe Sandra.Jenny olhou para eles e Sandra fez-lheum sinal de ânimo. — Boa sorte!

Ela respirou fundo e abriu a porta.— Olá, estás pronta para...? — Eric

não conseguiu acabar o resto da frase.Estava demasiado espantado, a olharpara a mulher que lhe abrira a porta. —

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Jenny?Jenny teve de fazer um esforço para

não sorrir.— Sim?Durante um instante, Eric não tinha a

certeza se seria ela. Embora Jenny fosseatraente e bonita, aquela mulher com umvestido sem alças, cor-de-rosa claro,era absolutamente maravilhosa.

Ele não conseguia tirar-lhe os olhosde cima.

— O que fizeste?Ela virou-se para agarrar na mala e

ele, automaticamente, começou a ajudá-la a vestir o casaco. Jenny reparou, comprazer, que ele parou enquanto lheajustava o casaco aos ombros.

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— Ofereci um presente de Natalantecipado à minha mãe. Estavadesejosa de me fazer isto desde quenasci. Eu tinha frustrado todas as suastentativas até agora.

Eric ficou imóvel, a olhar para ela,desfrutando daquela vista.

— E porque foi diferente agora?Jenny encolheu os ombros.— Pensei que, como foste tão

agradável no sábado, o mínimo quepodia fazer era pôr-me apresentávelpara sair contigo.

Era assim que ela lhe chamava?Apresentável? Aquela mulher tinha odom de subtrair importância às coisas.

— Estás muito mais do que

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apresentável, Jen. Estás linda! És linda— corrigiu-se depois de um segundo.

O seu coração batia com tanta forçaque a aturdia. Mal se apercebeu de quese despedia de Sandra e dava um beijode boa noite a Cole.

Quando Eric lhe ofereceu o braço e aacompanhou ao seu Ferrari, Jennypensou que a polícia deveria registar osolhos daquele homem como arma letal.

— Blackstone’s? — perguntou Jenny,quando Eric parou o Ferrari junto doempregado.

Explicara-lhe que preferira não trazera limusina naquela noite porque queriadar um toque mais pessoal à noite. E

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Jenny teve de admitir que ir sentada tãoperto dele no veículo estreito era muitopessoal.

O rapaz abriu-lhe a porta e ajudou-a asair. Naquele momento, Eric aproximou-se dela e entregou as chaves aoempregado.

Ofereceu-lhe o braço e entraramjuntos no restaurante.

— Pensei que, desta vez, gostarias dever o menu. Embora, provavelmente,venhas aqui com frequência.

— E porque pensas isso? —perguntou-lhe ela.

A iluminação ténue do localenvolveu-os ao entrarem. Embora fossegrande, o interior do restaurante tinhaum ambiente íntimo.

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— Para poderes dar-te com aspessoas certas.

O maître conduziu-os até uma mesaafastada, deu-lhes os menus e,amavelmente, retirou-se.

— Só faço isso quando estou a tentarangariar fundos — disse a Eric. —Além disso, não existe isso das pessoascertas. Só, talvez, a pessoa certa —acrescentou, quase sem pensar.

Meu Deus, dissera aquilo em vozalta? Uma tarde com a sua mãe e já lhefizera uma lavagem ao cérebro. Deviamser as sugestões subliminares. Elaine eramuito boa, pensou Jenny.

Sem se incomodar em olhar para acarta de vinhos, Eric escolheu um

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directamente.— Referes-te àquela pessoa especial

que as mães esperam sempre queencontremos?

Jenny riu-se. Durante um segundo, osdois estavam no mesmo grupo.

— A tua mãe também é assim? Aminha ficou horrorizada quando lhe faleide formar uma família, mas semcontribuir com um marido — comentoue depois ficou ligeiramente séria aoacrescentar: — Deixou-me muito claroque queria que desse Cole paraadopção.

— E porque não o fizeste? Qualqueroutra pessoa tê-lo-ia feito.

— Qualquer outra pessoa que nãotivesse estado lá quando nasceu, alguém

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que não tivesse dado a sua palavra auma amiga que estava prestes a morrer.

O empregado trouxe-lhes o vinho queEric pedira e serviu um copo a cada umantes de se retirar.

Eric observou como a luz da vela sereflectia no rosto de Jenny e apercebeu-se de que queria acariciá-la.

— E a palavra dada é algo muitoimportante para ti.

— Para ti, não é?Gostava da facilidade com que ela se

envolvia numa conversa. Séria, semnenhuma pretensão. Jenny era diferentequando ficava séria. O olhar nervosoque ele esperava, às vezes, desapareciae ela sentia-se segura. E Eric sentia-se

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cada vez mais atraído por aquela facetadela.

— Sim — respondeu ele. — Para amaioria das pessoas, se a situação setornar inconveniente, o melhor éesquecer as promessas que fizeram.

Ela ofendeu-se por Cole, mas depoisacalmou-se. Eric não tivera intenção dea ofender. Só comentara algo que lheparecia um comportamento normal naspessoas e que a própria mãe de Jennylhe recomendara fazer.

— Cole não é um inconveniente.— Mesmo assim — disse ele,

pensativamente, — deve ser difícil sermãe solteira.

Ela recordou os últimos seis meses,as batalhas que tivera de travar para

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fazer bem o seu trabalho e não descuidarCole.

— É difícil, mas não é impossível.Ele tinha a sensação de que, mesmo

que fosse impossível, Jenny encontrariauma forma de o conseguir. Estava acomeçar a aperceber-se de que, paraalém da vida pessoal, aquela mulher nãoaceitava um não como resposta.

O jantar foi maravilhoso. Jennypoderia ter ficado na mesa durante anoite toda. Mas aquilo teria significadoque não poderia sair do vestido, o quelhe deixava muito pouco espaço para aexpansão e não mostrava piedade poruma única grama a mais.

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Precisamente quando pousava o garfoda sobremesa no prato, ouviu umamelodia suave que se desfiavasedutoramente à sua volta.

Magnífico! Precisamente o queprecisava. Algo romântico que adeixasse imóvel por completo. E, para apôr ainda mais nervosa, Eric inclinou-sesobre a mesa com expressão contrita.

— Tentei arranjar novamente bilhetespara o Um, dois, três, mas o produtorestá fora da cidade, a preparar uma peçanova que estreará dentro de duassemanas.

Ela semicerrou os olhos.— Estás a desculpar-te? —

perguntou-lhe. No que lhe dizia respeito,aquela noite estava a ser perfeita.

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— Bom, na semana passada tinhabilhetes e tu tinhas todo o direito deesperar que hoje te levasse...

Comovida, ela parou-o, pondo a suamão sobre a de Eric sem pensar.

— Este jantar é mais do quesuficiente.

— Por dez mil dólares, mereces maisdo que um jantar.

— O facto de teres salvado Cole naoutra noite, absolve-te de qualquerdívida, real ou imaginária.

— Referia-me ao encontro.Ela fingiu pensar profundamente e,

com uma expressão muito séria,perguntou-lhe:

— Está bem, como és a fazer

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malabarismo?— Mau.Jenny sorriu.— Então, talvez valha a pena ver.A música estava a introduzir-se na

área das mesas. A pista de dança ficavamais perto da pequena banda.

— Sou melhor a dançar.«Tenho a certeza de que sim.

Provavelmente, és melhor do quequalquer outro homem em quase tudo».

Durante um momento, ela permitiu-sefantasiar com a possibilidade de estarentre os seus braços. No entanto, quandoele lhe pegou na mão, alarmou-se.

— O que estás a fazer?— Para dançarmos, primeiro teremos

de nos levantar da mesa — disse-lhe

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ele, sorridente, prestes a levantar-se. —E também ajudará o facto de nosaproximar-mos da pista.

Ela soltou-se da sua mão.— Não tens de me demonstrar que

sabes dançar. Eu acredito.Ele olhou para ela durante um longo

momento.— Não danças?Não fazia sentido mentir. Jenny nem

sequer recordava quando fora a últimavez.

— Não, desde que a minha mãedeixou de me obrigar a ir àquelas aulashorríveis.

— Então, talvez esteja na altura devoltares a fazê-lo — replicou ele.

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Voltou a agarrar-lhe na mão e, daquelavez, pô-la de pé. — Não te preocupes, écomo andar de bicicleta. Recordarás —prometeu-lhe.

Ela viu-se, de repente, muito perto deEric e absorveu a electricidade que apercorreu no instante em que entraramem contacto. Demorou um pouco aconseguir falar novamente.

— Vais arrepender-te disto! —avisou-o.

Jenny era uma combinação estranhade valentia e medo, pensou Eric. Faziacom que se sentisse protector e há muitotempo que não experimentava aquelesentimento.

— Deixa-me ser eu a decidi-lo.Ele conduziu-a para a pista. Quando

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chegaram, virou-se e envolveu-a nosseus braços.

Ela tentou não se derreter. A músicaera suave, sexy e penetrou no seuorganismo. Tinha letra, mas ela não aouvia. Tinha a face apoiada no peito deEric, o cheiro do seu perfume enchia-lheos sentidos e parou de tentar pensar.Abandonou-se ao momento.

Ir a um musical não era nadacomparado com dançar com ele.Inclusive ir ao musical mais desejado dePortland inteiro.

«Respira. Lembra-te de respirar»,avisou-se.

Mas era difícil concentrar-se em algo,para além de nas sensações que lhe

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produzia estar entre os seus braços.Eram um círculo protector e forte. Ericera deliciosamente forte, pensou Jenny,perguntando-se quando tinha tempo parafazer desporto.

Naquele momento, ouviu-o murmuraralgo no seu cabelo e levantou a cabeça.

— Desculpa?Ele olhou para ela nos olhos com um

sorriso enorme que fez com que atemperatura do corpo de Jennyaumentasse vários graus. Nunca sehabituaria àquele sorriso, pensou.

— Disse que ainda não me arrependi— repetiu-lhe Eric.

— Eu também não.Jenny fez um grande esforço para não

o dizer com um suspiro.

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Jenny viu as sombras passaremenquanto percorria o caminho de voltapara casa no carro de Eric. As sombrasreproduziam as suas emoções.

Era assim que a Cinderela devia ter-se sentido depois de o baile ter acabado.Por dentro, a sua excitação misturava-secom a pena, por aquela ser a melhornoite que alguma vez passara, muitomelhor do que jamais esperara. E estavaprestes a acabar.

Era uma noite maravilhosa queconservaria na sua memória. Uma noiteque poderia recordar cada vez que sesentisse triste.

O carro parou. Eric estacionou. Já

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tinham chegado a casa, pensou Jenny.Estava na altura de a Cinderelaagradecer ao príncipe.

— Foi uma noite óptima, Eric.Era o que ele pensava. E não queria

que acabasse.— E porque não a continuamos?Ela não tinha a certeza de ter

entendido bem o que ele queria dizer.— O quê?Às vezes, Eric gostava de se deixar

levar pela sua impulsividade. Aquelaera uma dessas vezes. Enquantobrincava com uma madeixa do seucabelo, disse-lhe:

— Vem comigo a Las Vegas.— Assim, tão fácil quanto isso!Ele sorriu.

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— Sim. Podemos ficar o fim-de-semana todo. Tenho um avião privado àespera e uma suíte reservada noCaesar’s Palace...

Partir naquele preciso momento, semse preocupar com nada, sem que nada aprendesse. Aquele era o mundo dos seuspais. O mundo de Eric. Mas já não era oseu.

— É tentador — disse-lhe ela.Eric já estava a tirar o telemóvel do

bolso para telefonar ao seu piloto.— Bom, então...Ela deteve-o.— Não.— Não?Jenny abanou lentamente a cabeça.

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— Vou odiar-me por o dizernovamente, mas não. Tenho umaaudiência na terça-feira e tenho de mepreparar. E tenho mais dois casos àminha espera. E o mais importante detudo, tenho Cole.

Ele não pretendia que elaabandonasse o menino.

— Mas disseste-me que está bem —recordou-lhe.

— É verdade, mas eu não posso partire deixá-lo.

— Claro que não! Só pensei que, seeu pagasse à tua ama...

— Isso seria muito generoso da tuaparte, Eric, mas não — interrompeu-oela. Então, viu uma expressão de

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desconcerto no seu rosto. — O que é?— Acho que nunca tinha ouvido uma

mulher dizer-me que não — disse ele,com sinceridade, sem presunção.

Ela sorriu com certa melancolia.— Então, pressuponho que me

destacarei na tua cabeça.— Já te destacavas antes de me

dizeres que não — disse-lhe ele.Saiu do carro e contornou-o para lhe

abrir a porta. Deu-lhe a mão e ajudou-aa sair. Caminharam em silêncio até àporta do apartamento de Jenny. Ali, elavirou-se para Eric e hesitou durante uminstante.

— Queres entrar para beber um caféou uma última bebida?

Ele sorriu.

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— Isso não interfere com nada?— Não.— Então, beberei o mesmo que tu.«Está bem, um uísque duplo e de um

gole», pensou ela enquanto enfiava achave na fechadura.

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Doze

Sandra levantou-se do sofá no instante

em que a porta se abriu e Jenny e Ericentraram.

— Ah, a Cinderela voltou do seubaile! E trouxe o príncipe — comentou amulher, satisfeita. Colocou o livro, queestivera a ler, sob o braço eacrescentou: — Isso é muito melhor doque ficar com um sapatinho de cristal delembrança.

A ama já estava à porta antes quequalquer um dos dois tivesse tido tempo

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de se afastar. Era evidente que estavaansiosa por desaparecer e deixá-lossozinhos para o que pudesse acontecerdepois.

— Cole deitou-se às oito horas —disse a Jenny, olhando brevemente paraela nos olhos. — Não teve pesadelos.Até segunda-feira!

E depois, partiu.Eric olhou para Jenny com certa

confusão.— Pesadelos?Jenny assentiu.— Cole tem pesadelos de vez em

quando.Ela começou a tirar o casaco e Eric

aproximou-se para a ajudar. Eric virou-se e sorriu. Aquilo era como um sonho.

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— Com a sua mãe — continuou aexplicar-lhe. — Sente a falta dela. Mascada vez tem menos, felizmente —depois entrou na cozinha e aproximou-sedo frigorífico. — Bom, não me dissesteo que te apetece beber. Receio que nãotenha muito por onde escolher.

— Não preciso de muita quantidade.Sempre preferi a qualidade.

Na sua voz, houve algo que fez comque o coração de Jenny parassemomentaneamente. Fechou a porta dofrigorífico, virou-se e encontrou-se amenos de um centímetro dele.

O ar começou a escassear.— Define qualidade.— Algo lindo, algo desejável —

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disse-lhe ele. — Jenny?— Sim?Muito lentamente, pôs-lhe o dedo

indicador sob o queixo para quelevantasse a cabeça.

— Eu gostaria de te beijar.Jenny respondeu com a respiração

entrecortada.— Eu também gostaria.Ela viu o seu sorriso precisamente

antes de os seus lábios se unirem numbeijo.

Jenny viu explosões, belas epoderosas, na sua cabeça. Agarrou-seaos seus antebraços como se Eric fosseo seu universo, pois, naquele momento,era.

Eric abraçou-a e tornou o beijo cada

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vez mais profundo, mas com umalentidão agonizante. E caiu no feitiço.Caiu no abismo profundo que ele mesmocriara e, ao cair, sentiu um júbilo quenão esperara. Era como se a doçura quedescobrira lhe tivesse aquecido osangue.

Abraçou-a com mais força, como sequisesse absorvê-la por completo. Enem sequer aquilo foi o suficiente.

Estava a acontecer-lhe algo que nãolhe era familiar.

A forma como ela se apoiava no seucorpo excitava-o de uma formaindescritível, surpreendia-o de umamaneira incomensurável. Ele não era umnovato naquilo e ela conseguira fazer

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com que o sangue lhe fervesse comoninguém conseguira antes.

Havia uma pureza na impaciência deJenny que o comovia. Aquela não erauma mulher da sociedade que só queriadivertir-se. Era alguém que o desejava,não a Eric Logan, não ao Logan dodinheiro e do apelido importante, mas aele. Só a ele.

E ele desejava-a.Tomou-lhe a cara entre as mãos e

afastou-a dele durante um instante paraver se era tudo uma alucinação sua ou seaquela mulher, que estava a alterá-lo pordentro daquela forma, estava realmenteali.

Por que razão, quanto mais olhavapara Jenny, mais bela lhe parecia? Os

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seus olhos azuis tinham um olharconfuso e já não tinha os lábios pintadosde cor-de-rosa. As linhas que definiam asua boca estavam apagadas pelo beijo.

Eric achou-a incrivelmente excitante.Voltou a beijá-la e sentir o seu corpoendureceu-o. Queria fazer as coisasdevagar. Não queria magoá-la nemassustá-la. Não queria que aquiloacabasse. Nunca se sentira daquelaforma. Nunca sentira tanto desejoenvolto em cautela. Sabia que podiaafastar-se, mas, sinceramente, não tinhaa certeza de ser capaz.

No entanto, tinha de o fazer.Não podia obrigá-la a fazer aquilo.

Não, se não fosse o que ela também

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desejava.A tremer, Eric afastou-se e olhou para

ela, procurando o seu futuro imediato norosto de Jenny, nos seus olhos.

«Não pares!», rogou-lhe ela,silenciosamente. Passar-se-ia algumacoisa? Porque se afastara Eric,justamente quando todo o seu corpoestava a pedir-lhe para que continuasse?

Respirou fundo, tentando acalmar-se.Não serviu de nada. O desejo

dominava-a. Daquela vez, foi ela quemo beijou, rodeando-lhe o pescoço comos braços e puxando-o para ela. Eledesencadeara uma tempestade no seuinterior, libertara todos os sonhos edesejos de uma mulher que nunca sesentira suficientemente segura para se

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entregar a um homem. Nunca sentira atentação.

Até àquele momento.Naquele momento, sentia algo mais

do que uma tentação.Porque Jenny sabia que, daquela vez,

as coisas eram diferentes. Aquelehomem era Eric. Aquele que entrava nosseus sonhos, dia e noite.

Desde o primeiro momento em que ovira, soubera que era ele. Ele era ohomem que queria que fizesse amor comela, um dia. Mas Jenny chegara a umponto em que achava que aquele dianunca chegaria.

E chegara. Ela sentia-o, quase osaboreava. E deixou-se levar, um pouco

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assustada, mas cheia de desejo. Queriasentir o que as outras mulheres sentiam,embora não acreditasse que nenhumaoutra pessoa tivesse sentido tanta paixãocomo ela estava a sentir naquelemomento.

Emitiu um gemido suave.Aquele som chegou directamente ao

interior de Eric e o seu corpo endureceu.Passou as mãos pelas costas de Jenny,lentamente, para memorizar os seuscontornos. O ruído do tecido sob os seusdedos excitava-o.

Queria mais.Queria senti-la e fazê-la sua.Naquele momento, não havia nada

mais importante.Encontrou o fecho na parte de trás do

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seu vestido e abriu-o. Abriu-lhe ovestido pelas costas, sem afastar oslábios da sua boca, e então, pegou-lheao colo.

— O teu quarto está livre?— Sim — murmurou ela.Sim. Ele desejava-a. O motivo não

importava a Jenny, ou que tivessedesejado tantas outras mulheres antesdela, ou que fosse desejar muitas outrasdepois. Naquele momento, desejava-a.

Eric entrou no quarto e fechou a portacom um pé. Depois, junto à cama,afastou-lhe o vestido, lentamente,observando a lingerie provocadora queusava. Ao vê-la, sentiu que o seu corpoendurecia novamente e que começava a

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doer-lhe a barriga.Teve de fazer um esforço para se

conter e fazer as coisas devagar. Nuncasentira tanta urgência. Tinha vontade derasgar o tecido e afastá-lo. No entanto,procurou e desabotoou os botões, eafastou camadas de tecido até ela estardiante dele com a sua nudez perfeita.Eric desejava-a com todo o seu corpo.

Jenny pensou que deveria sentir-sesobressaltada. Aquele era o primeirohomem que a via nua. No entanto,nenhuma das suas insegurançasapareceu. Sentia-se como se fosse outrapessoa.

Era alguém que estava confortávelcom a sua sexualidade, em vez de sesentir envergonhada.

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Imediatamente a seguir, Eric aqueceu-lhe todas as partes do corpo com ascarícias das suas mãos. Enquanto elaobservava, a sua respiração tornou-secada vez mais entrecortada, até quaselhe faltar o ar. Eric tirou a camisa e ascalças, mas quando levou a mão àcintura das cuecas, Jenny parou-o. Asurpresa que se desenhou no seu rostoprovocou um sentimento intenso depoder a Jenny e desfrutou dele, emboranão compreendesse a sua origem.

Pousou as mãos nas ancas fortes deEric e, sem desviar a vista dele, retirou-lhe a roupa lentamente. Quando elachegou às suas coxas, ele encarregou-see acabou a tarefa rapidamente. Depois

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abraçou Jenny e apertou-a contra o seucorpo.

Com suavidade, deitou-a na cama ecomeçou a memorizar o seu contorno eas suas curvas, passando os dedos pelasua pele suave, antes de os seus lábiosseguirem o mesmo caminho.

Jenny moveu-se sob as suas carícias,com uma sensibilidade intensa a cadaum dos seus toques, com o desejo desentir tudo. Estremecia com tanta forçapor debaixo dele que Eric pensou queele próprio iria perder o controlo queconseguira manter até àquele momento.

Finalmente, com a cabeça a andar àsvoltas e o sangue a ferver, soube quenão podia esperar mais.

Pôs-se sobre ela e beijou-a,

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perdendo-se no seu sabor a fruta deVerão. Fê-la afastar as pernas com umjoelho e quis entrar nela.

Sentiu um leve afastamento da partede Jenny e reparou numa resistênciadelicada quando começava a penetrar.

De repente, um vago alarme saltou nasua mente. E, quando entendeu o que sepassava, a preocupação tornou-se maiore inclinou a cabeça para trás.

— Jenny?Pelo seu tom de voz, ela soube o que

ia dizer-lhe. O que ia fazer. Ou o quenão ia fazer.

Não, ela não podia permitir queparasse naquele momento, quandoestava completamente pronta para ele.

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Não, quando tudo o que esperara,desejara e sonhara estava tão perto.

Fechou as pernas à volta da suacintura e manteve-o preso enquanto ointroduzia no seu corpo.

A dor eclodiu nela e estendeu-secomo uma explosão. Jenny obrigou-se asuperá-la e a concentrar-se nassensações que iria experimentar, na suanecessidade de plenitude. A dor passou.

Muito rapidamente, ela começou amover as ancas, provocando-o até queele se uniu ao ritmo que se criou entreeles e o manteve com paixão. Continuoua aumentar, até que, de repente, Jennysentiu outra explosão, mas de prazer.

Aquela sensação desconhecidainvadiu-a, banhou-a, ungiu-a. E quando,

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finalmente, começou a desvanecer-se,deixou-a nas mãos da euforia.

Suspirou e aninhou o seu corpo pordebaixo do de Eric. Quando ele seafastou, Jenny sentiu-se despojada,vazia.

Eric apoiou-se num cotovelo e olhoufixamente para ela.

— Eras virgem.Estaria zangado? Tê-lo-ia ofendido a

sua falta de experiência? Não, ele nãopodia ser assim. Jenny tentou reunir todaa coragem possível.

— Sim.Eric sentia-se como se lhe tivesse

roubado algo lindo. Se ele soubesse...mas era impossível.

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— Porquê?Durante um instante, ela não

compreendeu a sua pergunta.— Normalmente, é assim que vem o

embrulho, até que se desembrulha.Ele deixou escapar um suspiro de

desassossego. Estava zangado consigomesmo. Aquilo não deveria teracontecido. Deveria tê-la deixado àporta de casa e ter partido.

— Não, tu sabes a que me refiro.Porque não me disseste?

— Porque as pessoas não usam notasde descarga de responsabilidadeescritas nas costas, como um maço decigarros — respondeu ela. — Tens deadmitir que não houve muitas ocasiões

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na nossa conversa para te dar essainformação.

— Pensei que tu... — a frustraçãoprivou-o das palavras e, inclusive, dacapacidade de pensar com clareza. —Quantos anos tens, já agora?

— Vinte e seis anos.Eric apercebeu-se de que tinham a

mesma idade. No entanto, ele tinhaexperiência e ela... era uma pessoainocente. Fora por isso que ele tiverauma sensação de pureza quando asegurara entre os seus braços. Porqueela o era. E roubara-lhe aquela pureza.

— Vinte e seis anos e nunca tinhas...eh...

— Não, nunca tinha... eh. Nunca tinhaestado perto de... eh — ironizou ela.

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Jenny era bonita. Mais do que bonita.E era uma Hall. A sua família era rica.Isso significava que devia ter-semovimentado no seu círculo social,embora... Eric sabia que não era assim.No entanto, era difícil de acreditar queuma mulher chegasse à sua idade enunca tivesse estado com nenhumhomem.

— Porquê? — voltou a perguntar-lheele.

— Porque, antes desta noite, nuncatinha querido — respondeu ela. Depoisapertou os lábios e começou a acariciar-lhe suavemente o ombro com as pontasdos dedos.

Estava a começar a despertá-lo

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novamente. Raios, o que se passava?Acabava de fazer algo sem pensar e aliestava, a querer repeti-lo.

Frustrado, sentou-se na cama e passoua mão pelo cabelo.

— Devias ter-me dito.O seu tom era de acusação.

Claramente, ficara decepcionado. Elatentou não permitir que aquilo amagoasse demasiado.

— E terias parado.Ele olhou para ela por cima do seu

ombro. Não conseguia evitar sentir-setentado por Jenny. Tentou fortalecer asua decisão de não voltar a cometer umerro, mas não conseguiu.

— Sim.Ela encolheu os ombros, como se o

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que queria dizer fosse evidente.— Foi por isso que não te disse.— Sinto-me como se te tivesse

roubado algo.Era isso? Eric sentia-se culpado por

ser a sua primeira vez?, perguntou-seJenny. Ela estava feliz por ele ser oprimeiro homem com quem fazia amor.E, provavelmente, o único. Depois doque acabava de sentir, não conseguiaver-se noutra relação menos intensa.

Jenny desenhou-lhe a espinha dorsalcom o dedo indicador, acariciando-lhe apele.

— Ter-me-ias roubado algo a sério setivesses parado. É possível que euhesite e core demasiado em ocasiões

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inoportunas — admitiu, — mas não souuma tola, Eric.

Estava a enlouquecê-lo. Eric virou-separa ela para olhar directamente para asua cara.

— Vi-te no tribunal. Sei perfeitamenteque não és. Mas acho que sou culpadode te ter afligido.

Então, ela sorriu de uma forma quechegou directamente ao interior de Erice que, ao mesmo tempo, o excitou semque ele pudesse evitá-lo. Não conseguiacontrolar os seus pensamentos, porqueela os ocupava todos.

Jenny levantou os braços para ele.— Poderias afligir-me novamente?Ali estava ele, a tentar compensá-la

pelo que fizera e ali estava ela, a querer

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que o fizesse novamente.— O quê?Uma vez que ele estava a encarar

aquele assunto com muito maisseriedade do que ela pensara, Jennydecidiu encarar as coisas comserenidade.

— Bom, como não podes devolver-me a virgindade e não vou voltar a seruma pessoa imaculada, mesmo que nãovolte a fazer amor com ninguém... se tesentires inclinado a repeti-lo...

Aquela era uma tentação demasiadogrande para que ele pudesse conter-se.Eric deitou-se novamente ao seu lado eabraçou-a. E, ao fazê-lo, apercebeu-sede que aquilo era o correcto, nem que

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fosse só durante um momento. Depoisnão conseguiu pensar mais.

— É evidente que não és o quepareces, Jenny Hall — disse-lhe e deu-lhe um beijo no pescoço.

— Isso é um verdadeiro alívio —respondeu ela com um suspiro.

A rir-se, Eric beijou-a nos lábios edescobriu que, a segunda vez, podia serainda mais doce do que a primeira.

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Treze

Eric ficou a dormir.Não tinha intenção de o fazer. Passar

a noite com uma mulher não era algo queEric fizesse com regularidade.Sobretudo, na primeira noite que faziaamor com essa mulher.

Mas isso também fora diferentedaquela vez.

As horas tinham passado sem que elese apercebesse, enquanto eles estavamsuavemente entrelaçados. Perdera aconta a todas as vezes que a

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embriagadora mistura de inocência esensualidade de Jenny o excitara, e elaconseguira persuadi-lo a que fizesseamor «só mais uma vez» com ela.Finalmente, extenuado, adormecera. Enão se apercebera de que horas eram.

A luz do dia fizera-o pensar queestava em casa durante os primeirosinstantes depois de acordar. No entanto,ao abrir os olhos por completo,apercebera-se de que estava enganado.

Não fazia ideia de há quanto tempo omenino estava ali, a olhar para ele.

Sobressaltado pela presença de Cole,Eric endireitou-se de repente. Duranteum segundo, o seu aprumo naturalabandonou-o. Não fazia ideia do quedizer ao menino, nem do que fazer.

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Pelo menos, não parecia que o meninoestivesse aborrecido por o ver ali, nacama de Jenny. Aquilo era algo...

— Eh... Bom dia! — conseguiu dizer,finalmente. Depois virou a cabeça parapedir ajuda à mulher que estava ao seulado.

Mas ela não estava ali.O outro lado da cama estava vazio. E

reparou que estava frio, ao passar a mãopelos lençóis. Era evidente que Jenny selevantara sem o acordar.

E deixara-o ali, para que ele ficassesob o escrutínio daqueles olhos verdesenormes.

E então, enquanto ele pensava no quepoderia dizer ao menino, Cole sorriu.

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Sorriu a sério, como se tivesse visto umamigo.

— Olá!— Olá! — respondeu Eric com

insegurança.Durante todo o tempo que passara

com ele na casa de banho, no sábadoanterior, não o ouvira dizer nada.

— Então, sabes falar — disse.Precisava de ajuda. Depressa. — Eh...!Onde está a tua mãe? Quer dizer...

Eric ficou sem voz. Como lhechamava o menino? Jenny? MeninaHall? Provavelmente, não lhe chamavamamã. Ou, talvez, sim.

— Estás acordado — disse Jenny, derepente, enquanto aparecia à porta doquarto. Ao ouvir vozes, tinha vindo

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investigar. E em auxílio de Eric.Estava um pouco enrugado, pensou. E

era adorável! Vê-lo adormecido ao seulado fizera-a duvidar de quando devialevantar-se. Mas tinha de pensar emCole e em como funcionava a mente deum menino de quatro anos. Pensou queseria melhor não confundir mais omenino, permitindo que os encontrasseadormecidos e juntos na cama.Sobretudo, tendo em conta que ela nãoconseguira tirar o sorriso de satisfaçãoda cara.

Jenny apoiou uma anca na porta.— Apetece-te tomar o pequeno-

almoço?Eric olhou para ela. Estava mais

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fresca do que algum ser humano deveriaestar de manhã. Depois, olhou paraCole.

— Acho que é melhor ir-me embora.Ela sabia que tinha razão, que já o

tivera durante mais tempo do que jamaissonhara, mas, mesmo assim, não queriaque lhe escapasse ainda.

— O pequeno-almoço já está feito —disse-lhe ela, alegremente. — E é arefeição mais importante do dia —agarrou Cole pela mão e puxou,suavemente, o menino para a porta. —Porque não deixamos o senhor Loganvestir-se?

Cole olhou para Eric com solenidadee depois assentiu. Os seus olhos verdesintensos alternaram de Eric para ela,

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mas não antes de lhe sorrir novamente.— Está bem.Aquele sorriso não passou

despercebido a Jenny e produziu-lheuma sensação quente na alma. Desde amorte da sua mãe, Cole não prestavaatenção a ninguém.

— Parece que gosta de ti — disse aEric. — Acho que lhe causaste uma boaimpressão.

E Cole, pensou Eric alguns segundosdepois, quando Jenny fechara a porta eele estava a vestir-se, também oimpressionara.

Eric pensava partir imediatamente,depois de se despedir amavelmente.

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Mas não chegou a fazê-lo. Assim quesaiu do quarto soube que estava perdido.

Eric acabou por ficar a tomar opequeno-almoço.

O que fez com que ficasse não foi acomida, que conforme descobriu, Jennymandara trazer de um restaurantefamiliar próximo do seu apartamento. Acomida estava boa, mas nãoespectacular. O que, verdadeiramente, olevou a ficar foi a companhia. Sobretudoa de Jenny.

Jenny parecia mais suave e maissegura do que antes, mas muito menosbelicosa do que como a vira no tribunal.Eric pensou naquele filme antigo deJoanne Woodward, As Três Faces deEva. Uma tímida, outra atrevida e outra

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cabal. Sem poder evitá-lo, Ericperguntou-se se aquela seria a Jennyreal, se ele conseguira atravessar asoutras duas facetas para chegar aocoração daquela mulher.

Gostava daquela versão. Muito!— Mais café? — perguntou-lhe Jenny

e aproximou-lhe a cafeteira. Para umhomem que, de início, dissera que nãotinha muita fome, acabara as torradasque lhe servira num instante.

Eric tapou a chávena com uma mão efez um gesto negativo com a cabeça.Jenny dissera-lhe que fora ela a fazer ocafé.

— Está muito bom, mas não querobeber mais para não começar a abanar-

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me enquanto vou para a porta.Eric apercebeu-se de que, enquanto

mordiscava a sua torrada, Cole estiveraa observá-lo em silêncio. E, quando selevantou, o menino imitou-o.

Eric conteve o sorriso. Era como teruma sombra.

Jenny acompanhou-o à porta juntocom Cole e ele virou-se para olhar paraela. Era uma cena doméstica, algo emque ele nunca tivera nenhum interesseaté àquele momento, face às insinuaçõespouco subtis da sua mãe para o levar aacabar com a sua vida de solteiro. Derepente, considerou-a estranhamenteatraente e perguntou-se se não haveriaalgo no café que bebera.

Mesmo assim, ficou a hesitar à porta

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e disse a Jenny:— Eu gostava de te ver outra vez.«Só está a ser amável», disse Jenny

para si, sem querer iludir-se.— Não tens de dizer isso.— Claro que tenho! Caso contrário,

como haverias de saber que quero ver-teoutra vez?

Ela baixou a cabeça.— O acordo era um encontro. Já

cumpriste com juros.Ele ficou a olhar para ela com

espanto.— Estás a dizer-me que não queres

ver-me mais?Aquele fora o segundo erro de Jenny

daquele tipo em menos de vinte e quatro

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horas.Acharia Eric que era louca? Que

mulher solteira, morta ou viva, recusariaum encontro com ele?

— Quero dizer que não tensobrigação de o fazer.

— Jenny, claro que não tenhoobrigação de sair com uma mulher. Se ofaço é porque quero.

Ali estava novamente aquela palavramaravilhosa, querer.

E então, ela entendeu. Eric sentia-seculpado. Culpado por ela ser virgem eter feito amor com ela sem saber. Aquiloreconfortou-a, embora tivesse desejadoque Eric tivesse uma razão diferentepara querer sair com ela.

— Eric, não me deves nada por... —

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interrompeu-se e olhou para Cole. Nãoconseguia acabar aquela frase. — Tusabes.

— Sei que não te devo nada, mastalvez deva a mim mesmo. Eu gostavaque nos víssemos novamente, Jenny. Dizque sim. Não estou habituado a suplicare não tenho a certeza de saber como sefaz.

Ela queria dizer que sim, gritá-lo, mastinha medo de que ele só estivesse apedi-lo forçado pela culpa. Queria que opedisse depois de ter tido algum tempode reflexão sozinho. Então pôs-lhe asmãos nas costas e empurrou-o para ocorredor.

— Vai para casa e pensa mais um

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pouco — disse-lhe.Bom, aquilo era um começo, pensou

Eric quando se encontrou do outro ladoda porta fechada. Normalmente, tinha dese afastar de uma mulher, depois de irpara a cama com ela, e conseguir umsegundo encontro nunca fora umproblema. O problema era conseguirmanter o interesse depois de a caçainicial ter acabado. A sua atracçãoarrefecia depois daquilo. Aquela era aprimeira vez que a caça começaradepois do primeiro encontro.

Muito interessante, pensou Ericenquanto caminhava para o seu Ferrari etirava as chaves do bolso.

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— Então, e porquê tanto ânimo estamanhã? — perguntou Rhonda enquantose sentava na sua secretária, que ficavaa cinco passos da de Jenny.

Normalmente, Jenny era umaoptimista no trabalho, mas, naquelasegunda-feira de manhã, estava maisanimada do que nunca e toda a gentereparara no pequeno escritório.

Aquela advogada era a sua mãodireita nas batalhas legais e não era dasque se rendiam facilmente. RhondaSinclair achava que tudo lhe diziarespeito, incluindo a vida privada daspessoas à sua volta.

Jenny não tinha assim tanta certeza dequerer partilhar alguma coisa com ela

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naquela manhã.Fingindo que estava absorta na

informação que tinha no ecrã docomputador, nem sequer olhou emdirecção à sua companheira.

— O quê?Rhonda levantou-se e aproximou-se

de Jenny.— Se sorrires mais vais ficar com

cãibras na cara. O que aconteceu? —perguntou-lhe e fixou o olhar no ecrã,mas o brilho do monitor não lhe permitiuler nada. — Encontraste alguma coisapara obrigar o outro lado a render-se?

Jenny sabia que Rhonda se referia aocaso Ortiz. O júri ainda estava adeliberar, mas parecia que, finalmente,chegariam a um acordo naquele dia. Ela

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devia apresentar-se no tribunal à tarde.O júri queria voltar a ouvir algunspontos, mas Jenny tinha o pressentimentode que já tinham resolvido adeliberação.

Ela aproveitou a desculpa queRhonda lhe proporcionara tãoingenuamente. Não queria partilhar comninguém a pequena jóia que brilhava noseu peito. Sabia que era uma parva, queEric não iria telefonar-lhe mais, face aoque dissera no dia anterior. Ele sóestava a falar da boca para fora, a dizeralgo que poderia traduzir-se como:«Depois telefono-te um dia destes», masainda era suficientemente cedo para elapoder pensar que o faria.

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— Não creio que vão render-se.Acatarão a decisão do júri,pressuponho.

Ela não tinha o júri na mão, mas osseus adversários também não e, quandochegava a altura de se inclinarem paraum lado ou para o outro, muita genteficava do lado dos mais fracos. Jennysabia que tinha de recordar aquilo aosmembros do júri em todas asoportunidades que tivesse.

Rhonda deixou escapar um suspiroenquanto voltava para o seu lugar.

— Seria uma boa mudança para oescritório, se o fizessem — disse. — Oscredores estão a começar a juntar-se nohall.

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Jenny tentou recordar se deixara olivro de cheques na cozinha. Pagara aSandra naquela manhã.

— Posso...Rhonda interrompeu-a.— Já o fizeste. Várias vezes — disse-

lhe. Jenny fora mais do que generosa earcara com muitas das despesas dafirma. — Esta empresa não pode seruma organização sem espírito lucrativo,sobretudo se fores sempre tu a contribuirpara a manter à tona. Não é justo!

E para que servia o dinheiro se nãopodia ajudar os outros? Era algo que asua avó lhe repetira com frequência eJenny acreditava firmemente.

— Também não é justo tudo o que

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acontece a esta gente.— Oh, por favor, eu sei, Jenny! Mas,

se fosses mais nobre, transformar-te-iasnuma estátua e eu teria de ter cuidadopara que os pombos não te sujassem.

Jenny fingiu um calafrio.— Que linda visão! — exclamou.

Agarrou nalguns papéis, colocou-os nasua mala e levantou-se. — Bom, tenhode ir.

Rhonda observou-a enquanto saía.— Telefona-me assim que souberes

de alguma coisa.Jenny despediu-se, fazendo o símbolo

da vitória com os dedos.— Fá-lo-ei.

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Eric estava sentado ao fundo da sala.Jenny tinha a cabeça cheia de

argumentos e estatísticas, mas sentiu asua presença antes de olhar para ele.Antes de o ver.

De início, pensou que não era real,que era só fruto da sua imaginação. Masentão, os seus olhares encontraram-se episcou-lhe o olho. Jenny sentiu um nó noestômago. Sabia que a sua imaginaçãonão era assim tão poderosa.

O juiz ainda não tinha entrado e osadvogados do hospital estavam a falarentre eles, com ar de segurança. Jennyprecisava de um momento para respirarfundo e reunir coragem.

Inclinou-se para a última fila e olhou

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para Eric.— O que estás a fazer aqui? —

sussurrou-lhe.— Queria ver-te outra vez em acção.

Vestida! — acrescentou, em voz baixa ecom um sorriso.

Ela reparou que coravaimediatamente.

— Oh, por favor, agora não! —rogou-lhe. Não podia permitir-se pensarem fazer amor com Eric. Naquelemomento, não. O seu cliente precisavadela.

— Desculpa — disse-lhe ele, mas oseu sorriso tornou-se mais amplo. Noentanto, não fora ali para a pôr nervosa.— Queres que me vá embora?

— Não — respondeu Jenny. — Mas

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não faças barulho, por favor.Ele esteve prestes a rir-se. Pensaria

que ia tentar distraí-la?— Não te preocupes, não vou brincar

no assento — prometeu-lhe.Não, pensou Jenny. Mas ela, talvez

sim.Jenny assentiu e depois caminhou

para a parte da frente da sala. Quandochegou ao seu lugar, afastara Eric da suamente.

O júri pedira para ouvir novamentealguns dos testemunhos. Era o terceiropedido daquele tipo. Ela olhou para aequipa de advogados do hospital. Todostinham um sorriso petulante no rosto.Jenny sabia que tinham a segurança de

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que iam ganhar.No entanto, eles estavam a lutar por

uma grande empresa e ela, por umhomem que não poderia voltar a andar.Um homem que precisava do dinheiroque pedira como indemnização, não sópara pagar as suas contas médicas, mastambém para sustentar a sua família,porque já não poderia trabalhar paraganhar a vida. E tudo devido ànegligência do cirurgião.

O taquígrafo da sala leu novamente otestemunho. Aquilo requereu mais devinte minutos. Depois de acabar, oprincipal advogado da equipa dohospital dirigiu-se novamente ao júri.

Jenny levantou-se e protestou. O seuprotesto não foi aceite e então solicitou

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uma nova intervenção, igual à do seuadversário. O juiz não teve outroremédio senão conceder-lha.

Jenny ouvia com os punhos apertados.Para o reconfortar, lançou um sorriso aMiguel Ortiz, que estava sentado nacadeira de rodas, ao seu lado.

— Não se preocupe — sussurrou aohomem. Assim que o outro advogado sesentou, ela levantou-se e aproximou-selentamente da tribuna do júri.Certificando-se de que olhava para cadaum dos membros, começou a desfiarargumentos de forma segura, calma econvincente. Finalmente, pediu-lhes queencontrassem a solução que achassemmais justa e sentou-se, a rezar.

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O júri foi para a sala de reuniões eela teve a esperança de que fora pelaúltima vez.

Finalmente, a espera acabara. Jennysegurava a mão do seu cliente para lhedar força. Enquanto esperava que o juize o porta-voz do júri completassem oprotocolo antes de lerem a sentença,susteve a respiração.

— O júri declara que o litigante deveser indemnizado com uma quantia de dezmilhões de dólares.

Jenny ficou boquiaberta. A quantiaera o dobro do que eles tinham pedido.

Os minutos seguintes foram de totalconfusão. Ela olhou para a outra mesa e

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pensou que nunca tinha visto seispessoas mais sérias. No entanto, nãohouve gritos de apelação nemadvertências veladas. No fundo, osadvogados sabiam que aquilo era o maisjusto e que o facto de se oporem dariamuito má fama ao hospital.

Dayley, o principal advogado, disse-lhe secamente que a indemnização seriaentregue no fim daquela semana. E,quando os seus colegas e ele partiram, afamília e os amigos de Miguel Ortizrodearam-nos, exultantes, para afelicitarem e lhe agradecerem. Ela malse apercebeu de que o juiz se retirava. Etinha plena consciência de que Ericainda estava ao fundo da sala.

Ele gostou de ver como Jenny

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abraçava alegremente o homem nacadeira de rodas. Miguel beijou-lhe asmãos e agradeceu-lhe nas suas duaslínguas.

— Você é a minha nova Santa —disse-lhe Miguel. — Temos decomemorar. Venha a minha casa e tragaa sua família, os seus pais, toda a gente— acrescentou, e aquele convite foirepetido pela sua mulher e os seusfilhos. — Daremos uma grande festa.

Jenny pensou na sua família. Sem seaperceberem de que tinhampreconceitos, os seus pais consideravamque as pessoas como Miguel eram osempregados. Os seus pais estariamdeslocados na festa de Miguel.

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— Receio que a minha família nãopoderá ir, mas eu tenho um meninopequeno — disse-lhe Jenny.

— Traga-o — respondeu Miguel edepois dirigiu o olhar para Eric, queestava a aproximar-se deles. — E tragatambém o seu namorado.

Jenny ficou muito rígida, à espera queEric protestasse, e depois balbuciou:

— Oh, não, ele não é o meu...!— Eu adoraria ir. Diga-me o lugar e a

hora — interrompeu-a Eric com umsorriso e o seu olhar atingiudirectamente Jenny no seu interior. —Parece que, afinal, consegui um segundoencontro.

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Catorze

Jenny ficou espantada como Eric

encaixava ali.Na verdade, chamava a atenção, mas

por ser muito bonito, não por o seucomportamento ter criado um círculoimaginário à sua volta, nem o terafastado do resto das pessoas quetinham assistido à festa de celebração deMiguel Ortiz no sábado seguinte.

Ele surpreendera-a ao aparecer paraos acompanhar, a ela e a Cole, à festa.Ela pensara que não dissera a sério, mas

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Eric chegara com meia hora deantecedência, vestido informalmente.Vestia umas calças de ganga que secolavam ao corpo como uma segundapele e ela surpreendeu-se a olhardemasiado para ele e a reprimirsuspiros.

Depois, Eric continuou a surpreendê-la quando começou a falar um espanholperfeito com as crianças, que, de início,se mostraram tímidas, mas que,finalmente, conseguiu cativar.

— Pensei que não falavas espanhol— disse-lhe ela, recordando o que Ericdissera quando Miguel se referira a elecomo o seu namorado.

Ele sorriu e piscou-lhe o olho.— Às vezes, é útil fazermo-nos de

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parvos.Naquele momento, não estava a fazer-

se de parvo. Enquanto Jenny observavaa cena com admiração, Eric não sóbrincava com Cole, mas com todas asoutras crianças que tinham ido à festa.Dava-se tão bem com elas que a esposade Miguel decidiu torná-lo responsávelpel a piñata que estava pendurada nopequeno jardim.

Eric organizou as crianças por ordemde altura, para que as mais pequenastambém tivessem hipótese de tentarrebentar o burro colorido de cartão, quecontinha vários quilos de rebuçados edoces.

Para gratidão de Jenny, até conseguiu

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que Cole participasse no jogo.Como era pequeno para a sua idade,

Eric ajudou-o a dar o golpe, guiando-lheos braços, até que, por fim, pôs-lhe avenda nos olhos e, suavemente, fez comque rodasse.

Cole, tal como o seu predecessor,bateu três vezes com o pau, mas nãoconseguiu acertar no burrinho. Quando omenino tirou a venda, Eric recebeulouvores pelos esforços do menino, demodo que conseguiu apagar a sensaçãode fracasso que o menino poderia tersentido.

— Bom trabalho, Cole! Continua apraticar esse swing e os marinesquererão que te juntes a eles daqui adezasseis anos.

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Jenny assimilou aquele número, talcomo assimilou o sorriso que iluminou acara de Cole naquele momento. Dentrode dezasseis anos, Cole teria vinte, umaboa idade para se juntar aos marines.Eric lembrara-se da idade do seu filho.

Ela sentiu um aperto no coração.Aquele foi o momento em que Jenny

se apercebeu de que se apaixonara porEric. Apaixonara-se a sério. Aquela nãoera uma sensação selvagem eapaixonada que derivara da fantasia deuma adolescente. E não se apaixonarapor ele ter conseguido que o mundoparasse no sábado anterior, quandotinham feito amor. Jenny apaixonara-seporque Eric Logan era bom, amável e

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decente.E porque conseguira chegar até ao seu

filho. Não só o salvara, como tambémdespertara a sua alma.

Abraçou-se enquanto continuava aolhar para eles. Eric estava a dar umaqueijadinha a Cole e Jenny ouviu agargalhada do menino. Se a vidapudesse ser mais perfeita, nãoacreditava que conseguisse suportá-lo.

— Não acordou durante a viageminteira para casa — comentou Eric,enquanto olhava para o banco de trás docarro.

Cole estava na sua cadeira eadormecera assim que o tinham sentado

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ali.— Teve um grande dia — disse-lhe

Jenny. Na realidade, ambos tinham tido,pensou. — Não o tinha visto brincarassim desde que Rachel morreu —acrescentou e olhou para Eric enquantoele tirava o menino da cadeirinha comdelicadeza. Voltou a sentir um aperto nocoração. Aquele homem ia conseguirque se partisse aos bocadinhos. —Obrigada.

— Porquê? — perguntou ele. —Foste tu que me convidaste, portanto eué que devia agradecer-te — fechou aporta do carro e começou a caminharpara o apartamento.

— Foi Miguel quem te convidou. Eunão teria tido coragem para o fazer.

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Ele parou no primeiro degrau quesubia até à sua porta. Tinham feito amoruma semana antes. Como era possívelque Jenny continuasse a sentir timidezcom ele?

— Porquê?Ela desceu a vista até à sua mala e

começou a procurar as chaves. Depoisabriu a porta.

— Porque não teria achado quequisesses ir a uma festa assim.

— E porque não? Foi muito divertida— respondeu ele. Entraram noapartamento e ela acendeu a luz antes dese dirigir para o quarto de Cole. Ericseguiu-a, trazendo o menino nos braços.

— Eu sei, mas... Bom... as pessoas do

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mundo em que tu te movimentasconsideram Miguel e a sua famíliaapenas como jardineiros ou criados...

Ele esperou que ela afastasse asmantas e pousou Cole sobre a cama.

— Sou, realmente, assim tão mau?— Não, claro que não! — respondeu

ela, rapidamente. — Pressuponho queestava a pensar nos meus pais. Não éque sejam cruéis nem condescendentes,simplesmente as coisas sempre foramassim para eles e... — a sua vozdesvaneceu-se. Estava a piorar ascoisas. — Não sabia que falavasespanhol.

Eric apercebeu-se de que ela queriamudar de assunto, portanto permitiu-o.

— Há muitas coisas de mim que não

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sabes — respondeu. Sentia que aatracção que crescera entre eles eracada vez mais intensa e estava a tomarproporções que não conseguia controlar.— E há muitas coisas de ti que eu nãosei, mas gostaria de saber. O que teparece se deitarmos o menino ecomeçarmos a lição?

Ela excitou-se imediatamente.— Parece-me um bom plano.Deitaram Cole. O menino dormiu

durante todo o processo de lhe tirar aroupa e pôr-lhe o pijama. A únicaresistência que opôs foi um gemidofraco, mas não abriu os olhos emnenhum momento.

Eric observou os desenhos do pijama.

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— Batman?Ela sorriu com carinho, olhando para

Cole, e afastou-lhe suavemente o cabeloda testa. Tinha uma expressão tãoserena, tão plácida... Oxalá as coisastambém fossem assim quando estavaacordado! Em breve, pensou. Em breve.

— É o seu super-herói preferido —explicou Jenny a Eric.

— O meu também — disse-lhe ele.Ela olhou surpreendida para ele e eleriu-se. — Deixava a minha mãe louca apedir-lhe um cinto como o do Batman.Por fim, teve de pedir a alguém para mefazer um. Os bolsos interiores estavamcheios de gomas e doces. Pareceu-meincrível.

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— Deves ter sido um menino muitotravesso.

— Dizem que tal pai, tal filho —respondeu Eric. Depois abraçou Jenny epuxou-a do quarto de Cole até aocorredor. — O que te parece?

Ela teve de respirar fundo.— Parece-me que, se não me beijares

agora mesmo, vou explodir.Ele acariciou-lhe a face, pensando em

quão suave Jenny era e no incrivelmentetentadora que era.

— Eu estava a pensar exactamente nomesmo. É engraçado que as grandesmentes, por vezes, trabalhem juntas.

— Engraçado! — murmurou enquantolhe rodeava o pescoço com os braços.

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Não houve preliminares. A paixãoapanhou-os imediatamente. Tinha estadoà espera para assumir o controlo dasituação.

Para os fazer prisioneiros.Ele beijou-a sem cessar, cada vez

mais profundamente, cada vez com maisvontade. Eric deslizou as mãos pelo seucorpo, com a segurança e o respeito dealguém que sabia o que era seu e, aomesmo tempo, sentia-se sobressaltadopor o possuir.

Num caos de corpos, beijos e desejo,encontraram o caminho para o quarto deJenny e fecharam a porta. E, numsegundo, tirou-lhe a blusa e o sutiã, eencheu as mãos com os seus seios, e

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depois aproximou os lábios para provaro sabor doce da sua pele.

Com o coração a bater-lhe no peito,Eric deu alguns passos atrás, tirou acamisa e atirou-a para o chão. E quandovoltou a aproximar-se de Jenny, elasurpreendeu-o, desapertando-lhe o cintoe o botão das calças de ganga. Com aspontas dos dedos, arranhou-lheligeiramente a barriga.

Apesar de todas as sensações queaquilo estava a produzir-lhe, quasesentiu diversão ao experimentar o seuatrevimento. Divertia-lhe o contraste damulher que ele pensara que era com aque era na realidade.

Ou talvez, só talvez, Jenny fossedaquela maneira para ele.

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Era um pensamento presunçoso, masgostava que ela fosse assim com ele ecom mais ninguém. Que Deus oajudasse, mas gostava do facto de tersido o primeiro para ela. E que ela fossesua exclusivamente.

Aquele pensamento fez o seu mundooscilar. Ele nunca desejara que ninguémfosse exclusivamente seu, porque aquelaexclusividade implicava uma promessasilenciosa, uma responsabilidade queele não queria assumir.

E, no entanto, ali estava, a desfrutardela.

A desejá-la.A desejar Jenny.A paixão explodiu nas suas veias e

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sustentou as suas mãos, guiando-aenquanto ela baixava o fecho e as calçasaté às coxas.

Jenny olhou para ele nos olhos e eleviu o brilho da diversão neles.

— Não estou a fazê-lo bem? —perguntou-lhe num sussurro.

Ele sorriu.— Não estás a fazê-lo suficientemente

depressa — respondeu.A seguir, era ele quem estava a despi-

la. Quando a despojou de toda a roupa,lançou-se à tarefa de a introduzir no seucírculo de fogo.

Beijou-a várias vezes, reduzindo-a aodesejo mais ardente, aos suspiros maisentrecortados. Ela não conseguia osuficiente dele, do seu contacto.

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Mais. Queria mais.E, nem sequer tendo mais, conseguiria

saciar-se.Aquilo era incrível. Jenny teria jurado

que, da vez anterior, experimentara tudoo que havia para experimentar, quesentira tudo. Mas enganara-se. Naquelemomento, estava a fazer coisasmaravilhosas ao seu corpo, ao seu ser.Todos os cantos do seu corpo ardiam empequenas explosões enquanto ele alevava de clímax em clímax com as suasmãos, com os lábios, com a língua.

Estava a enlouquecê-la, mas aquelaera uma maneira magnífica de perder obom-senso.

Entre suspiros, olhou para Eric e

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tentou forçar as palavras.— Diz-me... tem... havido... muitas

mortes... por prazer?Eric riu-se. Ela estava a esgotá-lo,

mas, ainda assim, não tinha queixa.— Não, que eu saiba, não. Porquê,

estás em perigo de morte?— Sim — respondeu Jenny, num

suspiro.Ele teve de se inclinar para poder

ouvir a sua resposta.E sorriu.— Eu também.Depois, entrelaçou as mãos de Jenny

com as suas e penetrou lentamente noseu corpo, observando como a paixãoacendia o seu olhar e sentindo coisas naalma que nunca sentira.

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Ela era sua e ele era dela, e aquiloera correcto.

Lentamente, Eric iniciou um ritmo queambos ansiavam, sabendo que não seriaa última vez. Nem sequer naquela noite.

Sem se aperceber, Jenny cantarolavacanções cujos títulos não recordava.Não tinha importância, cantarolava-asde qualquer modo. Era a sua alma quecantava.

Duas semanas e não havia sinais deaquilo acabar.

Duas semanas durante as quais Ericfizera parte de todos os dias, de todas asnoites.

De todas as noites.

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Aparecera no escritório e fizera comque Rhonda se babasse. Sempre quepodia fugir do trabalho, ia vê-la aotribunal, para a encorajar em silêncio,ou à biblioteca enquanto ela estava ainvestigar para os seus casos.

Além disso, aparecia à porta do seuapartamento com o jantar, com bilhetespara o cinema, com vídeos deprogramas de televisão antigos queadorava e dos quais ela nunca ouvirafalar. E com enfeites de Natal para aárvore que Cole e ela estavam adecorar. Ela sentira-se exultante porqueconseguira que o menino a ajudasse. Eter Eric também fazia com que aexperiência fosse indescritível.

Eric encarregava-se de incluir Cole

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em tudo o que os envolvesse fora dotrabalho.

O menino estava a despertar para avida com todos aqueles cuidados.Respondia a Eric de uma maneira quelhe enchia os olhos de lágrimas e lhealegrava o coração. Chegaram a umponto em que Cole esperava a próximavisita de Eric, tal como ela.

E as noites... as noites erammaravilhosas!

Jenny tentava não se deixar levar, nãose encantar mais. Cada vez que eleficava com eles, dizia a si mesma queera a última, que ele perderia o interessenela e que devia ser feliz com o quetivera. Mas, no fundo, Jenny sabia que

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queria que continuasse, contra todos osprognósticos e contra o bom-senso.

Fazia todos os possíveis para que asnoites fossem memoráveis para os dois.

E, na noite seguinte, sustinha o fôlegoe fazia figas, e, quando Eric voltava, elaapaixonava-se mais um pouco por ele.

Mesmo sabendo que o fim seaproximava, que estava algures à esperaentre as sombras, Jenny não recordavater sido tão feliz em toda a sua vida.

Foi um daqueles dias em que Jenny sesentia como se tivesse passado umtornado pelo escritório. Assim queconseguia resolver uma crise, surgiaoutra. Deu por si a atender os telefones

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todos porque Rhonda estava no tribunale Betty, a secretária, estava doente.Outro dos advogados, Jack, estava forada cidade a recolher provas para um dosseus casos e Foster, o quarto dos seuscolegas, decidira tirar alguns dias deférias.

Jenny sentia-se sitiada e atacada, mas,finalmente, a meio do dia, fez-se ummomento de calma. Teve vontade depousar a cabeça sobre a secretária efazer uma sesta, mas sabia que, se ofizesse, não conseguiria acordar. Assim,pensou que desfrutaria daquelatranquilidade acordada.

Eric não aparecera, mas Jenny sabiaque aquele homem tinha uma vida e umaposição a manter. Se tivesse sorte, vê-

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lo-ia naquela noite. E aquelepensamento manteve-a animada.

Passado pouco tempo, alguém bateu àporta do seu escritório e abriu. Jennylevantou a vista de uns documentos e, aover quem era o recém-chegado, sorriu.

— Oh, graças a Deus!— Muitas mulheres dizem isso

quando me vêem — disse Jordan,enquanto se sentava na cadeira quehavia à frente da secretária da sua irmã.

— Então, e a que devo a honra? —perguntou-lhe Jenny, enquanto começavaa recolher os relatórios que tinha sobrea mesa. Nunca fora capaz de trabalharno caos. Levantou-se e abriu uma gavetado arquivo.

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— Estava nos arredores e pensei quepoderia levar a minha maninha aalmoçar — respondeu Jordan eobservou-a enquanto ela guardava aspastas. — Parece que não tocas no chãocom os pés — comentou e entrelaçou asmãos atrás da nuca para se apoiar. —Não tens nada para me contar?

Ela parou e olhou para o seu irmão.— Quer dizer que ele não te contou?— Ele?Jenny lançou-lhe um olhar de

reprovação. Como se não soubesse!— Eric.Jordan sorriu.— Porque não me contas tu?Talvez fosse verdade que não

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soubesse, pensou Jenny, mas não paroupara analisar o motivo.

— Pressuponho que pode dizer-seque andamos a sair juntos.

O sorriso de Jordan estendeu-se deorelha a orelha.

— Tens a cara iluminada.Não havia razão para o negar.— Imagino que sim.Acabou de colocar as pastas de

relatórios nas gavetas correspondentes eentão parou. Aquele sorriso do seuirmão escondia alguma coisa.

— E porque tens essa cara demaroto?

— Por nada.— Jordan, conheço essa cara! O que é

que tu sabes?

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Ele encolheu os ombros.— Fiz uma coisa boa.Ela observou-o com a cabeça

inclinada.— Referes-te a teres insistido com

Eric para participar no leilão?Ele levantou as mãos em sinal de

rendição.— Mal tive de insistir. Só estou

contente de ter conseguido convencerLola.

O sorriso de Jenny desvaneceu-se.— Para quê?Ele não disse nada e Jenny insistiu.— Para quê, Jordan? Conta-me a

verdade.Jordan suspirou.

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— Pedi-lhe para licitar Eric em teunome.

Ela sentiu-se como se lhe tivessematirado um balde de água fria.

— Pediste a Lola para licitar em meunome. Por Eric — repetiu ela,lentamente, enquanto tentava entender aspalavras. E então, o horror, a vergonha,começaram a atacá-la. — Comopudeste?

— Jenny, sempre gostaste dele. Eusei.

— E, por pena, arranjaste umencontro com ele para a insossa da tuairmã?

— Isso não é verdade! Pensei que tefaria feliz.

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— E estava. Teria sido, nascircunstâncias certas.

Estava a ficar sem palavras, aflitapela dor e a vergonha. Tinha estado Erica rir-se dela durante aquele tempo todo?Ele era um homem desejado e popular, eela era apenas a irmã mais nova deJordan.

Jordan tentou defender-se daqueleataque.

— Pensavas que um grupo de amigosteus te tinha arranjado um encontro desonho. Porque agora te parece diferente?

Como podia perguntar-lhe algo dogénero? O que teria estado a pensar Ericdurante o tempo que tinham passadojuntos? E Cole? Como iria reagir Cole?

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O menino já se afeiçoara demasiado aEric.

Sentiu uma pressão no peito.— Porque tu és o meu irmão. Porque

tu és o seu amigo. Tiveste de lhe pagarpara sair comigo?

— É claro que não! — exclamouJordan e, ao aperceber-se de que estavaa gritar, baixou a voz. — Eric nemsequer sabe que eu estava por detrásdisto.

Eric e Jordan eram amigos íntimos.Ela sabia que partilhavam tudo. O seuirmão não ter dito a Eric o que estava aacontecer era inverosímil.

— Não acredito em ti — disse-lheJenny e endireitou os ombros.

Não havia forma de fugir daquela dor.

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Sentiu que os olhos se enchiam delágrimas.

— É melhor ires-te embora, Jordan.Hoje não vou almoçar. De repente,fiquei sem apetite.

— Jenny... — disse Jordan e tentoupôr-lhe uma mão no ombro, mas elaafastou-se.

— Vai-te embora!Quando Jordan partiu, quando soube

que estava sozinha, apoiou a cara nasecretária e chorou enquanto sentia queo seu coração se partia em bocadinhos.

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Quinze

— Olá!Sobressaltada, Jenny virou-se e viu

Eric a entrar no escritório.Desde que pedira a Jordan para

partir, quinze minutos antes, estiveraabsorta nos seus pensamentos, na suaprópria dor, a tentar recuperar ocontrolo antes que Rhonda voltasse dotribunal. Não ouvira a porta a abrir-se.

Daquela vez, quando o coraçãocomeçou a bater-lhe no peito, Jennysentiu-o pesado como o chumbo.

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Durante aquele tempo todo, elaestivera a albergar esperançassecretas... Meu Deus, fora tão parva, tãotola!

Eric viu uma expressão estranha noseu rosto. Teria acontecido algumacoisa?

— Nunca tinha visto o escritório tãovazio — disse-lhe enquanto olhava à suavolta para as secretárias cheias depastas e papéis. Normalmente, aquelelugar estava cheio de gente. Eric decidiumanter a situação leve até lhe dizer oque se passava. — Ganhaste os casostodos que havia para ganhar?

Um pouco antes, naquela manhã, ocomentário de Eric teria sido uma

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brincadeira. No entanto, Jenny já sabia averdade. Estava a rir-se dela. Porqueoutra razão, alguém como Eric Logan,que poderia ter qualquer mulher da altasociedade que desejasse, estaria aperder tempo com ela?

Para se rir. Ou por pena. E Jenny nãotinha a certeza de qual das duas coisasera pior.

Jenny tentou que a emoção não lhequebrasse a voz, mas tinha um nó nagarganta.

— Por uma vez, não temos reuniões.Rhonda está no tribunal, Jack está forado estado e Foster está de férias. Bettyestá doente.

Ele aproximou-se dela e agarrou-apela cintura, mas Jenny afastou-se.

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Porquê?— Pois, parece que tu estás muito

saudável! Não creio que tenhas nenhumaconstipação para te afastares de mim.

Ela pôs-se do outro lado do arquivo eolhou para ele. «Entretiveste-te osuficiente comigo? Contaste aos teusamigos que estiveste com a maninha deJordan? Contaste-lhes que é idiota aoponto de pensar que havia alguma coisaentre ti e ela?»

— E o que será que te afastaria demim?

Ao ouvir aquilo, Eric soube querealmente se passava alguma coisa.Aquela não era a mesma mulher cujacama deixara algumas horas antes, de

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madrugada. Aquela era uma pessoadiferente, mais fria.

— O quê?— Quanto tempo pensavas continuar

com esta... brincadeira? Com esteprojecto? — perguntou-lhe ela, enquantoagitava as mãos com impotência. —Nem sequer sei como chamá-lo.

Estaria a perder alguma coisa?,pensou Eric.

— Não te entendo.— Não, pressuponho que não.Eric não conseguiu compreender o

que ela dizia e franziu o sobrolho.— Jen, não entendo. O que queres

dizer?Quanto mais tempo iria fingir que era

inocente? Eric não podia fazer figura de

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tolo.— Já cumpriste. Já não tens de

dedicar mais tempo a isto...— disse-lheJenny, e viu como franzia ainda mais osobrolho. Talvez devesse ter sido actor.— Já fizeste mais do que devias emnome da beneficência. Podes voltar paraa tua vida.

Eric deixou escapar um suspiro defrustração. Aquilo ia de mal a pior. Poralgum motivo, ela estava zangada comele.

— Bom, agora já não entendo nada.Podes falar em inglês, por favor?

— Queres que fale em inglês? Muitobem, falarei. Eu não sou um caso decaridade. É possível que o pareça para

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alguém como tu, mas não sou. Tenho omeu orgulho, raios! Talvez tu penses queestás a fazer-me um favor, mas nãoestás. Não tens de desperdiçar mais oteu precioso tempo e o teu encantocomigo.

Ele ficou boquiaberto. «Boainterpretação!», pensou Jenny comsarcasmo. Aquele homem era realmenteum actor.

— E não te preocupes, não vousentar-me junto da janela à espera queapareças na cancela a recitar poesia —acrescentou. Meu Deus, quando pensavaem quão tola devia ter parecido, só tinhavontade de chorar! Ou de lhe dar ummurro. — Sou uma pessoa adulta e seique essas coisas só acontecem nas

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histórias. E eu não acredito em histórias.Durante um segundo, ele sentiu-se

furioso. Não fazia ideia do que elapensava que fizera para merecer aquelabofetada.

— Não te parece que precisas defazer terapia? Porque eu acho queprecisas de um pouco. Talvez muito! —corrigiu-se e olhou para os montes dedocumentos que Jenny tinha empilhadosna mesa. — Este trabalho tirou-te ojuízo.

— Não, não é verdade. O meutrabalho é a única coisa que me mantémsã. Mais ou menos — replicou Jenny.

— Então, alguém te colocou algumacoisa no café ou estiveste a fumar

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alguma coisa. Porque nada do que dizesfaz sentido.

Quanto mais tempo iria continuar comaquela farsa?, perguntou-se Jenny. Nãotinha tempo para aquilo, portantoacabou.

— Eu sei, Eric. Eu sei.Ele respirou fundo.— Muito bem, pois já há alguém que

sabe. Importas-te de me explicar?— Sei que o meu irmão deu o

dinheiro para a licitação.— Licitação? Que licitação?— No leilão. Deu o dinheiro para te

licitar. O meu irmão pediu a LolaWilcox para te licitar em meu nome.

Ela continuava sem se explicardevidamente, mas Eric continuou a

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tentar perceber o significado das suaspalavras.

— Querias sair comigo?— Sim. Não, bolas! Jordan não me

disse o que tinha feito. Eu achei que...achei que...

A sua voz interrompeu-se. Porquehaveria de soar melhor que tinham sidoos seus amigos a licitar para lheconseguirem uma noite que jamaisesquecera?

Jordan tinha razão, pensou Jenny.Soava igualmente mal. Simplesmente,saber que fora o seu irmão quemorquestrara aquilo tudo fazia com queela se sentisse pior.

Pelo menos, uma parte daquilo tudo

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começava a esclarecer-se para Eric.Sentou-se num canto da secretária edisse-lhe:

— Bom, também não me contou. Aúnica coisa que fez foi pedir-me para meoferecer como voluntário quando tu mepedisses para... — parou então, aoassimilar aquela informação. — Então,foi Jordan quem organizou isto tudo, nãofoi?

Com as mãos nas ancas para não oestrangular, Jenny lançou-lhe um olharassassino.

— Não te armes em engraçado!Eric levantou as mãos em sinal de

rendição. Estava a tentar não se rirperante a expressão furiosa de Jenny.Ficava adorável quando se zangava, mas

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ele não achava que gostasse de ouviraquilo naquele momento.

— Estou surpreendido, é só isso!Estava surpreendido que o seu melhor

amigo tivesse sido tão intuitivo quandoele próprio não vira o que tinha diantedo nariz. Jenny era uma mulherapaixonada que só precisava dascircunstâncias apropriadas parademonstrar a sua força. E ele tivera asorte de ser o meio que o tornarapossível.

Enquanto ela continuava arepreender-se, ele pensava que eramagnífica.

No curto tempo que decorrera desde oleilão, Eric fizera um curso intensivo

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acerca de Jenny Hall. E gostara do queaprendera. Ela não se apoiava noslouros e no dinheiro da sua família. Pelocontrário, decidira seguir o seu própriocaminho e ajudar a defender os pobres eos menos privilegiados. Ela acreditavanas lutas que travava. Para Eric, aquiloera admirável e inspirador. Não haviadúvida de que combinavam em muitosaspectos.

E tinha intenção de que continuassema combinar. Mas, para o fazer, teria deesclarecer Jenny sobre várias coisas. Ea primeira coisa era conseguir queparasse de gritar.

Pensou em beijá-la. Fazendo-o,conseguiria silêncio imediatamente, masreceava que ela se sentisse ofendida,

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portanto tentou interromper a suaretórica e não foi fácil. Afinal, Jenny eraadvogada.

Finalmente, quando ela parou pararespirar fundo, ele conseguiu dizer maisde meia palavra.

— Escuta, Jenny, não sei o que pensasque aconteceu, mas...

Oh, não, ele não ia toldá-lanovamente com o seu encanto! Jenny jásabia que não era imune aos seusefeitos. Juntou todas as forças que tinhae disse-lhe o mesmo que dissera aJordan, mas com mais sentimento,porque sentia que, por dentro, o seucoração estava a sangrar.

Fora tão estúpida ao acreditar que

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poderiam ter uma oportunidade, queEric poderia sentir algo por ela, algoque se aproximasse duma quarta partedo que ela sentia por ele!

— Vai-te embora! Vai-te embora, porfavor!

Eric tentou agarrá-la pelos ombros,mas ela inclinou-se para trás antes queconseguisse alcançá-la.

— Disse-te para te ires embora!Ele debateu-se entre agarrá-la e fazer

com que o ouvisse ou dar-lhe um poucode tempo para que se acalmasse.Decidiu-se pela segunda hipótese.

Além disso, ele também precisava detempo para pensar naquilo tudo. Opróximo passo que desse poderia selar oseu futuro e tinha de ter a certeza de que

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desejava dá-lo.— Está bem — disse e dirigiu-se

para a saída. — Como queiras. Vou-meembora.

«Luta por mim, bolas!», exclamouuma vozinha na cabeça de Jennyenquanto via como a porta se fechava.

«Tola até ao fim, não és?»,escarneceu de si mesma enquanto sevirava.

Rhonda chegou do tribunal cincominutos depois e, quase ao mesmotempo, entraram três novos clientes noescritório. Jenny obrigou-se aconcentrar-se no trabalho e agir como seestivesse tudo bem. Como se a sua vida

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não tivesse acabado de ruir.Conseguiu manter a compostura até

chegar a casa e Sandra partir.Só então, a sós, se permitiu cair no

sofá, aninhar-se e começar a chorar.Soluçou tão desesperadamente que

não sabia se seria capaz de parar.Não soube quanto tempo passou ali, a

chorar, a tentar acalmar-se, a dizer-seque tinha de cuidar do menino que aesperava no seu quarto. Cinco minutos,meia hora... não sabia. Tudo parara àsua volta.

E então sentiu uma mãozinha noombro e ouviu uma voz que dizia:

— Não chores, mamã. Não chores.Vai correr tudo bem.

Mamã!

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Levantou a cabeça, com os olhosmuito abertos e cheios de lágrimas, eolhou para Cole.

— O que me chamaste? — perguntou-lhe com a voz rouca, tentando pigarrear.

Cole não respondeu imediatamente.Continuou a dar-lhe palmadinhas noombro e repetiu:

— Não chores, mamã.Então, as lágrimas voltaram a fluir,

mas, daquela vez, eram lágrimas dealegria.

«Fecha-se uma porta e abre-se outra.»Perdera Eric, ou o Eric que ela

sonhara, mas conseguira a ligação comCole, e aquilo era o que realmenteimportava.

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Cole. O seu Cole.Chamara-lhe mamã.Abraçou o menino com todas as suas

forças, agradecida por aquele pequenomilagre.

— Oh, meu Deus, adoro-te, Cole!— Estás a esmagar-me! — protestou

ele, finalmente, com a voz afogada, e elasentiu a sua respiração quente nopescoço.

Jenny afastou-se ligeiramente e, comum sorriso entre as lágrimas, passou-lhea mão pelo cabelo.

— Desculpa — disse-lhe e beijou-lhea testa. — Não voltarei a fazê-lo.

Tinha muito a agradecer. Secou osolhos com as costas da mão e ajudou

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Cole a sentar-se no seu colo. Já sentia osol a abrir caminho na sua alma.

— Queres ir à geladaria comprar umgelado?

Ele moveu-se no seu colo para olharpara ela.

— Eric também?«Oh, querido, isto vai magoar-te!»Jenny tentou que o seu tom de voz

fosse alegre.— Não, Eric não.Cole inclinou a cabeça com os olhos

verdes cravados nela.— Porquê?— Porque, neste momento, não está

aqui — disse ela, tentando desculpar-se.Cole desceu do seu colo e foi buscar

o telefone sem fios. Entregou-o a Jenny e

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disse:— Telefona-lhe.— Receio que...Quando ia tentar dar-lhe uma

explicação simples, Jenny interrompeu-se, a ouvir. Aquilo era música? Parecia-lhe serem as notas de uma banda demariachis, como a que ouvira tocar nafesta de Miguel. A melodia estava aentrar no apartamento, embora as janelasestivessem fechadas.

— É música — disse-lhe Cole,enquanto apontava para as portas devidro do terraço.

— Tu também ouves, não ouves?Parecia que o som provinha da parte

de trás do edifício. Com curiosidade,

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Jenny levantou-se e abriu as portas doterraço. No jardim da urbanização haviaum pequeno lago e árvores, que fora oque a levara a arrendar aqueleapartamento. Ao sair, viu que trêspessoas vestidas de mariachi, alinhadasjunto ao lago, estavam a tocar MaríaElena, a canção de que tanto gostara nafesta de Miguel Ortiz. Ao observá-loscom atenção, apercebeu-se de que eramo irmão de Miguel, a sua filha e o seufilho.

O irmão de Miguel, Santos, apontoucom as maracas para o gradeamento domuro do edifício e ela baixou a vista.

Então ficou boquiaberta.Eric estava no gradeamento, a subir

os dois andares que havia por debaixo

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do de Jenny, a aproximar-se do seuterraço. O gradeamento chiava como seestivesse a lançar avisos a cadamovimento.

— «Como te amo? Deixa-me explicaras maneiras...» — começou a recitar ele,levantando a voz para se fazer ouvir porcima da música.

— Estás louco? — perguntou-lhe ela,aniquilada.

— Tu disseste algo sobre sentares-tejunto à janela, à espera que um príncipesubisse pelo gradeamento, recitandopoesia — recordou-lhe Eric.

Ficara realmente louco, pensou Jenny,enquanto sentia que algo se remexia noseu interior. Não estava a fazer aquilo

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para se rir dela. Estava a pôr a sua vidaem risco.

— Disse que não ia sentar-me junto àjanela... Oh, não importa! Vais partir opescoço! — gritou-lhe. — Desce já! —acrescentou.

Eric não se amedrontou, embora seperguntasse quanto mais tempoaguentaria o gradeamento antes dedesabar. Não sentia muito estável sob ospés. Tinha a esperança de que Jenny nãodemorasse muito tempo a deixar-seconvencer.

— Não posso descer até me dizeresque me perdoas, embora, tecnicamente,eu não tenha feito nada.

Ela sentiu pânico.— Eu...

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— É melhor falares depressa. Istoestá a começar a ceder.

— Está bem, está bem, perdoo-te! Tunão fizeste nada de mal. Foi Jordanquem...

— Porquê? — perguntou ele. — Pornos unir? Não sei o que pensas, mas euestou-lhe muito agradecido.

— Sim, sim! Eric, por favor, entra.Jenny estendeu os braços para o

agarrar, mas ele afastou-se para que nãopudesse fazê-lo e agarrou-se aogradeamento.

— Está bem, mas com uma condição.Ela estava a ficar sem ar e começou a

rezar.— Já te disse que te perdoo.

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— Agora tens que dizer que tecasarás comigo.

Jenny ficou novamente boquiaberta.— O quê? — ele tinha de estar a

brincar. Porque estava a fazer-lheaquilo? — Eric, ainda não é o Dia dasMentiras.

— Eu sei. Isto não é uma brincadeira,Jenny. Não quero perder a única mulherque vale a pena amar neste mundo.

Acharia que estava a ser amável? Nãose aperceberia de todo o mal que estavaa fazer-lhe?

— Não tens de dizer isso tudo.Como podia convencê-la? Porque

estava empenhada em não confiar nele?— Será que não entendes? Digo isto

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porque quero. Quando te olho nos olhos,sinto-me em casa. Nunca tinha sentidonada parecido, Jen. E não quero perdê-lo — disse-lhe. Teve a tentação desaltar para o seu terraço, mas sabia quedevia aguentar até ela ceder. E utilizou oás que tinha na manga. — Talvez não totenha dito ainda, mas amo-te.

— Não, ainda não o tinhas dito —sussurrou ela, olhando para ele comatordoamento. — Amas-me?

— Se não te amasse não arriscaria aminha vida neste gradeamento —respondeu ele e, naquele momento, aestrutura emitiu um chiado sonoro.

Ela estendeu os braços, aterrorizada.— Por favor, Eric, entra...Mas ele resistiu, abanando a cabeça.

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— Não até dizeres que sim.— Sim! — gritou ela.Teria gritado qualquer coisa que lhe

tivesse pedido para que ele saltassenovamente para terra firme.

— Diz que te casarás comigo.— Eric, por favor, pensa bem —

pediu-lhe Jenny e deslizou o braço sobreos ombros de Cole, que saíra para oterraço para ver o que se passava. — Éum acordo a três.

Com os olhos ao mesmo nível doterraço, Eric sorriu a Cole. E Coledevolveu-lhe o sorriso.

— Conto com isso.Cole olhou para Jenny. Nos olhos do

menino havia um desejo que ela nunca

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vira em todos aqueles longos meses.— Também vou ter um papá?Eric olhou para ela.— É uma decisão da tua mãe, miúdo.Cole olhou esperançosamente.— Por favor, mamã...!— Sim, por favor, mamã! — repetiu

Eric, enquanto o gradeamento chiavamais uma vez.

— Sim, sim, sim! — gritou ela.Jenny inclinou-se para a frente e

agarrou Eric pelo braço, justamentequando o gradeamento começou aafastar-se do edifício. Puxou-o comforça e conseguiu arrastá-lo para oterraço. Cole também o agarrou pelamão quando o corrimão saltava e os trêscaíram no chão.

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O coração de Jenny pulsavadescontroladamente quando declaroucom alívio:

— Agarrei-te!Eric estava de joelhos diante dela e

abraçou-a.— Sim — disse-lhe. — Agarraste-

me.E, de pé ao seu lado, Cole abraçou,

com os seus bracinhos, a sua nova mãe eo seu novo pai, e gritou «Viva!»,precisamente quando eles se beijavam.

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Se gostou deste livro, também gostarádesta apaixonante história que cativadesde a primeira até à última página.

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TrezeCatorzeQuinzeVolta