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Praça Ramos de Azevedo, ao fundo o antigo prédio do Mappin, 1942 Nesta edição: A metamorfose DA BARRA FUNDA A história DA FREGUESIA DO Ó Artigos: RÁDIO, TV E INEZITA BARROSO A cultura popular EM SANTO AMARO A revista de todos os povos Novembro de 2010

Revista Expressão São Paulo

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Revista Expressão São Paulo. Periódico de conteúdo cultural e regionalista, aborda as diferentes culturas que a cidade de São Paulo abriga.

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Page 1: Revista Expressão São Paulo

Praça Ramos de Azevedo,ao fundo o antigo prédio do Mappin,1942

Nesta edição:A metamorfose

DA BARRA FUNDA

A história DA FREGUESIA DO Ó

Artigos: RÁDIO, TV E INEZITA BARROSO

A cultura popular EM SANTO AMARO

A revista de todos os povosNovembro de 2010

CAPA.indd 1 11/10/10 7:48:47 PM

Page 2: Revista Expressão São Paulo
Page 3: Revista Expressão São Paulo

Í N D I C E

06FOTO DA CAPAO Mappin: um dos pontos comerciais mais importantesda cidade

05 EM FOCOConheça alguns dos principais atrativos da cidade

18ACONTECERevelando São Paulo: o interior pra paulista ver

CAPA: FOTO DO ACERVO DO CLUBE PORTUGUÊS DE SÃO PAULO

ÍNDICE

CIDADERui Ohtake:

urbanismo e estética

12

07ARTIGOInezita Barroso: a caipira do asfalto

13ARTIGOUma cena radiofônica da Paulicéia

ORIGEMFreguesia

do Ó

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MUTANTEBarra Funda

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ARTIGOOs 60 anosda televisão

20

MÚSICAMelodias

portuguesas

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CULTURA POPULARSanto Amaro

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RETRATOSEstação da Luz

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Page 4: Revista Expressão São Paulo

Editora: Thaís MatarazzoEditora de Arte: Roberta de Donno

Repórteres: Fabíola Santana, Michelle Barros, Roberta de Donno,Rodrigo Botelho, Rosana Lameu, Thaís Matarazzo,

Colaboradores: José de Almeida Amaral Junior, Fábio Siqueira

E-mail: [email protected]

Fax: ☎ (11) 2742-8560 Cartas: Caixa Postal 17112,CEP 03582-010, São Paulo, SP

As mensagens devem trazer a assinatura, o endereço, o número da cédula de identidade e o telefone do remetente. Envie para Editora, EXPRESSÃO SP. Por motivos de espaço ou clareza, as cartas poderão ser publicadas resumidamente.

Atendimento ao leitor: (11) 2742-6918

FALE CONOSCO

www.expressaosp.com.br

Carta ao Leitor

Caro leitor,O intuito da nossa revista é proporcionar a você, um acesso prático e versátil a tudo o que acontece em São Paulo, através de uma

prestação de serviço especializada e de uma forma prazerosa de se ler.Eventos culturais, informações, lazer e entretenimento fazem parte da nossa perspectiva de divulgação e acessibilidade para toda a sua família.Nossa equipe trabalha constantemente em função do seu bem estar e a cada dia oferece um conteúdo diversificado e atualizado. Toda

essa dedicação tem como finalidade contribuir para o seu pleno conforto e comodidade.O objetivo da Expressão SP, além de fazer parte da sua vida de maneira agradável e eficaz, é princi-

palmente proporcionar a você um levantamento do que a cidade tem de melhor para oferecer.Para a nossa equipe é uma enorme satisfação compartilhar com todos os leitores nossos

planos e projetos. Elaboramos as páginas da nossa revista pensando em cada sen-sação e resultados que serão proporcionados a vocês.

É por todas essas razões que a Expressão SP tem orgulho em ser paulistana e atuar para promover essa cidade tão surpreen-

dente e exuberante.

Atenciosamente, Equipe Expressão SP.

IMPRESSA NA ESPAÇO MAIS DIGITAL R. Alvorada, 716, CEP 04550-003, Vila Olímpia, São Paulo, SP

CARTA AO LEITOR

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Page 5: Revista Expressão São Paulo

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presença do idioma nativo entre eles, o cultivo de suas crenças e costumes que não se perde-ram em meio à dis-

tância e a convivên-cia com a população

brasileira. Muito pelo contrário, todos aprenderam a apreciar, respei-tar e a praticar essas novas tendências, que já comemoram mais de cem anos no Brasil.

Outra particularidade de bairros típicos em São Paulo é o Bexiga, onde predomina a comunidade italiana. Conceituada por sua culinária especializada em massas e molhos caseiros, o bairro envolve toda a cidade com as comemorações religiosas que acontecem anualmente. Toda a renda do evento é reverti-da em benefícios assistenciais à instituições voltadas para atender as necessidades das pes-soas carentes e melhorias do bairro.

Como podemos observar, São Paulo é o lugar onde tudo acontece ao mesmo tempo. E sempre tem uma programação bem acessível para todos os gostos, estilos e classes sociais. Cabe aos pau-listanos aproveitar ao máximo esses recursos e desfrutá-los da melhor maneira possível.

tempos atuais, além de um programa indicado para toda a família. Andar pela cidade de São Paulo, pode ser mais do que um passeio de fim de semana pois nos remete a conhecer uma parte da cultura e histórias da nossa cidade.

O parque do Ibirapuera, um dos pontos de encontro mais conhecidos e frequentados por visitantes de todas as faixas etárias é um dos cartões postais da cidade. Nele está localizado

um dos maiores monu-mentos de São Paulo o

Obelisco Mausoléu, que foi construído em referência aos que lutaram contra a ditadura de Getúlio

Vargas, durante a tirania de seu governo

militar. São inúmeras as pessoas que transitam por ali, praticam espor-tes, passeiam, descansam, namoram. Porém são poucos os que sabem o que este monumen-to realmente significa para a sociedade.

O bairro da Liberdade por sua vez, trás toda a harmonia e consagração típica do Japão em meio ao dia-a-dia dos paulistanos. É uma forma de conhecer o oriente e suas tradições, sem sair do país. Estão concentradas no bairro todas as tendências, hábitos, cultura e tradições orien-tais. Desde a culinária até os trajes típicos, a ROSANA LAMEU

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São Paulo: vale a pena conhecer

Um dos maiores centros urbanos do país. Trata-se da cidade de São Paulo, que além de ser uma grande metrópole tam-

bém é considerada a cidade dos sonhos. Com sua estrutura arquitetônica, a diversificada culi-nária, os parques e a arte de várias regiões podem ser facilmente encontrados nas típicas feiras livres, espalhadas em muitos pontos da cidade.

Em São Paulo é comum achar tudo o que se procura em um único lugar. Prova disso são os centros comerciais, que são verdadeiras atrações tanto para turistas como para moradores. Na famosa Rua Vinte e Cinco de Março, temos um turbilhão de ofertas que se dividem em: roupas, calçados, brinquedos, acessórios, comida. São inúmeros os produtos vendidos nas lojas, nas barracas e bancas espalhadas por toda a extensão da rua e das calçadas mais famosas da cidade.

Bem próximo a Vinte e Cinco, temos o

imponente Mercado Municipal de São Paulo. Local procu-rado tanto por sua variedade em mer-

cadorias horti-frutti, como pela culinária

sendo o prato principal o tradicional Sanduíche de Mortadela. Sua bela arquitetura panorâmica é preservada até os

São Paulo: vale a pena conhecer São Paulo: vale a pena conhecer

EM FOCO

Bem próximo a Vinte e Cinco, temos o

imponente Mercado Municipal de São Paulo. Local procu-rado tanto por sua variedade em mer-

cadorias horti-frutti, como pela culinária

sendo o prato principal o

mentos de São Paulo o Obelisco Mausoléu, que foi construído em referência aos que lutaram contra a ditadura de Getúlio

Vargas, durante a tirania de seu governo

militar. São inúmeras as

presença do idioma nativo entre eles, o cultivo de suas crenças e costumes que não se perde-ram em meio à dis-

tância e a convivên-cia com a população

brasileira. Muito pelo

Casarões antigos foram preservados em meio a evolução e o crescimento da cidade

Fotos abaixo:1. Mercado Municipal2. Prédio do Banespa

3. Faculdade de São Bento

A história de vários povos se encontra aqui

1.

2.

3.

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Page 6: Revista Expressão São Paulo

06

O antigo prédio do Mappin

Oprédio que aparece na capa desta edição de Expressão SP é um dos símbolos do centro da capital pau-

lista. O antigo prédio do Mappin, na praça Ramos de Azevedo (defronte ao Teatro Municipal), atualmente está ocu-pado pelas Casas Bahia.

Conheça a história de um dos pontos comerciais mais importantes da cidade

O Mappin foi uma das lojas pioneiras no comércio varejista, sinônimo de megaloja numa época em que não existiam shop-pings centers em São Paulo. Durante os anos de 1930, inovou ao colocar etiquetas com preços nas vitrines e nas vendas a cre-diário. Era possível encontrar todos os

THAÍS MATARAZZO

O prédio do Mappin em seu auge e abaixo, anúncios característicos da época

FOTO DA CAPA

tipos de produtos em suas prateleiras.A história desta loja começou na

Inglaterra, depois da Revolução Industrial, em 1774, quando as famílias de comer-ciantes Mappin e Webb inauguraram na cidade de Sheffield uma sofisticada loja de prataria e artigos finos.

Na cidade de São Paulo o Mappin foi inaugurado em 1913, na rua Quinze de Novembro para atender às ricas famílias dos cafeicultores paulistas. Em 1919, a loja mudou-se para a praça do Patriarca, vinte anos depois inaugurou sua sede na praça Ramos de Azevedo, em prédio construído pelo arquiteto Elisário Bahiana (1891-1980), o mesmo que fez o viaduto do Chá e o Jockey Club.

O Mappin possuía um comércio cheio de glamour. No prédio da praça Ramos, no quarto andar, às cinco da tarde, as senhoras da alta sociedade costumavam se reunir para tomar chá à moda inglesa. Todo esse charme durou até fins da década de 1960.

Outro destaque do prédio é o relógio, que nunca atrasava, ainda está lá, mas sem fun-cionamento. A loja se tornou um ponto de referência para os paulistanos.

Foi considerado um dos melhores pontos comerciais da cidade, milhares de pessoas transitavam a pé por ali. As vitrines da loja eram lindas e chamativas, recebiam um tra-tamento todo especial de cenário, que muda-va de tempos em tempos, antes de expor as mercadorias.

Quando havia liquidações, que geralmen-te eram anunciadas no rádio e na TV, os clientes formavam filas quilométricas em volta do quarteirão na Praça Ramos de Azevedo.

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Page 7: Revista Expressão São Paulo

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Inezita Barroso

S em dúvida alguma é das mais importantes figuras da nossa música raiz. O nacionalismo

convicto de Inezita é defendido em cada uma de suas apresentações pelos palcos deste gigante país afora, entre eles o da TV Cultura, onde comanda o tradicional “Viola, Minha Viola”, programa que há 30 anos semanal-mente abre espaço para as manifesta-ções populares de nossa gente, cuja platéia, como ela mesma diz, ‘não admite concessões’.

Inês Madalena Aranha de Lima nas-ceu em São Paulo/ Capital, na Barra Funda, em 04/03/1925. Era vizinha de Mário de Andrade, grande escritor e poeta modernista. Desde pequena foi incentivada pela família a apresentar-se em clubes, festas e teatros. Aos sete anos começou a aprender violão e aos onze também ingressou no piano. Queriam dar uma boa forma-ção à menina. Mas, Inezita não tinha aspirações para a chamada música erudita. Adorava mesmo era o mundo popular, suas expressões folclóricas. Especialmente o que chamamos de caipira. E não bastando os estudos de violão e piano, ainda foi aprender a tocar viola. Do jeito mais correto o possível para o instrumento: ‘de ouvi-do’. Como manda o figurino do inte-rior.

Apesar dos pais não apoiarem a ‘vida de artista’, coisa mal vista espe-cialmente para moças, em 1950 estreou como atriz ao participar do filme “Ângela”, de Tom Payne e Abílio Pereira de Almeida, pela Companhia Vera Cruz. Sua carreira musical começou em paralelo, can-tando em rádio, quando virou Inezita Barroso, sobrenome herdado do mari-do cujo irmão ator e locutor ajudou sua carreira. Ela fez sua estréia em disco no ano de 1951, com um 78 rpm: “Funeral de um Rei Nagô” (Afro-brasileiro) e “Curupira” (Canção amazônica) pelo selo Sinter. Em 1953 outro 78 rpm e então dois temas inesquecíveis: “Marvada pinga” (Laureano e Torres) e “Ronda” (Vanzolini) pela RCA Victor. Foi lau-

Uma caipira do asfalto

o exterior, com o estrangeiro, é preci-so primeiro que nos conheçamos e nos respeitemos, caso contrário nunca o faremos de modo soberano e segu-ro. Não somos cowboys, embora mui-tos assim o desejem. Desta forma, abraça os veteranos e estimula os jo-vens artistas a estudarem e recriarem a partir do que é autenticidade, do que é nosso. Como ela entoa numa canção de Adauto Santos: “Eu sou do mato/ Sou caipira verdadeira”. Essa é Inezita Barroso, estrela brasileira.

reada como atriz de cinema e foi par-ceira de Paulo Autran, entre outros importantes nomes no teatro. Em 1955 o LP “Vamos Falar de Brasil” lhe rendeu o Premio Roquette Pinto. Suas gravações foram apreciadas e levadas à Europa onde obtiveram reconhecimento. Em sua carreira can-tou na Rádio Clube do Recife, na Bandeirantes e na Record de São Paulo, entre outras.

Apaixonada pelos livros e pela pes-quisa, formou-se em Bibliotecono-mia pela USP e deu aulas sobre fol-clore em faculdades de São Paulo. Prestes a completar 60 anos de exito-sa carreira artística, acredita que é preciso muita resistência e tenacidade na divulgação da cultura popular que vai sendo engolida cada vez mais pe-los meios de comunicação em massa, pela força do que chamam de ‘moder-nidade’ e dos interesses modistas. Enfurece-se com a injustiça e o pouco caso que fazem com os caipiras. Sempre se remete, como exemplo, às festas ju-ninas nas escolas onde as pessoas põem remendo na calça jeans dos alunos, pintam o dente da crian-ça de preto para ela ficar ‘bem banguela’ e ainda esfiapam o chapéu: puro preconceito, reclama a grande dama.

Orgulhosa de sua gen-te, Inezita é um exemplo para um país que pretende cada vez mais globalizar-se. Afinal de contas, antes de qualquer coisa, para po-dermos tro-car com

ARTIGO

JOSÉ DE ALMEIDA AMARAL JUNIOR*

07

sa carreira artística, acredita que é preciso muita resistência e tenacidade na divulgação da cultura popular que vai sendo engolida cada vez mais pe-los meios de comunicação em massa, pela força do que chamam de ‘moder-nidade’ e dos interesses modistas. Enfurece-se com a injustiça e o pouco caso que fazem com os caipiras. Sempre se remete, como exemplo, às festas ju-ninas nas escolas onde as pessoas põem remendo na calça jeans dos alunos, pintam o dente da crian-ça de preto para ela ficar ‘bem banguela’ e ainda esfiapam o chapéu: puro preconceito, reclama a grande dama.

Orgulhosa de sua gen-te, Inezita é um exemplo para um país que pretende cada vez mais globalizar-se. Afinal de contas, antes de qualquer coisa, para po-dermos tro-car com

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*José de Almeida Amaral Junior

Professor em Ciências Sociais,

Economista, pós-graduado em

Sociologia e mestre em Políticas

de Educação

Colunista do Jornal Mundo Lusíada

e da Rádio 9 de Julho AM 1600 Khz

de São Paulo

Inezita Barroso na

capa da revista

Radiolândia de 1956

Amaral.indd 7 11/10/10 7:58:49 PM

Page 8: Revista Expressão São Paulo

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A Barra Funda começa a mudar

A São Paulo das três primeiras décadas do século XX estava em plena transformação, condu-

zida pela pujante economia cafeeira e pela industrialização. Aqui chegaram imigrantes de várias partes do mundo, em 1940, 80% da população da cidade era formada por italianos, portugueses, espanhóis e japoneses. Novos comporta-mentos, diferentes hábitos, influências culturais e políticas geravam um novo aspecto a São Paulo.

Na antiga Chácara do Carvalho, per-tencente ao conselheiro Antônio Prado, foi construída uma bela casa sede, obra do arquiteto italiano Luigi Puci (respon-sável pelo projeto do Museu do Ipiranga), no local funciona desde 1937 o Instituto

Localizado na zona oeste, o bairro passa por uma remodelação e perde parte de sua história arquitetônica

duas partes: a Barra Funda “de baixo” e a “de cima”, esta divisão também gerou discussões sobre o nome da região. Os italianos residentes na parte “de cima” afirmavam que a origem da designação era uma homenagem à uma localidade de sua terra natal chamada de Barafonda, que significa local de muita confusão.

A versão dos moradores da parte “de baixo” apontavam uma característica da várzea do Tietê: onde os carroceiros, que buscavam areia para as construções, aproveitavam as diversas lagoas forma-das pelas cheias do rio Tietê e que torna-vam fundas suas margens.

Após a crise de 1929, muitas famí-lias endinheiradas abandonaram o bairro, chegaram então os imigrantes

de Educação Bonni Consilii. Em fins do século XIX a área foi loteada e arruada, dando origem ao bairro da Barra Funda, que em um primeiro momento ganhou casas residenciais abastadas.

Assim como a Barra Funda, outros bairros da capital (Santa Ifigênia, Brás e Mooca) surgiram de loteamentos de chá-caras cujos terrenos foram cortados pela estrada de ferro - a São Paulo Railway, evento motivado pela economia cafeeira em plena ascensão: a linha férrea servia para escoamento do plantio de café pro-duzido no interior do estado até o Porto de Santos. A Barra Funda contava com uma estação, armazéns e um pátio da São Paulo Railway.

A linha do trem repartiu o bairro em

Casario da rua Vitorino Camilo

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italianos que aos poucos povoaram toda região, muitos deles trabalhavam na ferrovia, outros abriram pequenos comércios como sapatarias, serrarias e oficinas mecânicas.

Construíram ao longo dos trilhos da Estrada de Ferro um casario modesto. Essas novas casas contavam com bonitas fachadas, eram geminadas e térreas, com pequenas frentes, porão e terreno fundo. Alguns casarões se tornaram cortiços (vide box).

Os porões dessas casas eram altos, muitas vezes serviam de depósito para

guardar materiais e objetos indesejáveis dos moradores, em outras oportunidades eram alugados a baixos preços, fato que atraia a população mais desfavorecida.

Yvone di Biasi Leporace, 87, morado-ra do bairro nas décadas de 1930/40,

relembra que seu pai era jornalista e cos-tumava alugar casas grandes, na frente montava sua oficina, nos fundos instala-va sua família, e ainda, sublocava alguns quartos e o porão: “minha mãe, que era filha de italianos, tomava conta da casa

ATIVIDADES CULTURAISDO INÍCIO DO SÉCULO XX

Desde o início do século XX a Barra Funda contava com diversas atividades culturais para seus mora-dores

Em 1917, foi inaugurado o Theatro São Pedro na confluência das ruas Albuquerque Lins e Barra Funda. O edifício, de estilo neoclás-sico, era luxuoso e confortável. Um local digno da grande metrópole que surgia.

O teatro tornou-se ponto de encontro para os moradores da Barra Funda, de Santa Cecília, de Higienópolis e dos Campos Elíseos. Seu idealizador foi Manuel Ferreira Lopes, um jovem português que fez fortuna com casas de espetáculos em São Paulo e no Rio de Janeiro.

O projeto é de autoria do arquite-to italiano Augusto Bernardelli Marchesini, a execução da obra ficou a cargo do engenheiro Antonio Alves Villares da Silva, colaborador de Ramos de Azevedo.

A partir dos anos 1920 o Theatro São Pedro passou a funcionar pre-dominantemente como cinema, con-tinuou nessa atividade até meados dos anos 60. Em 1998, após um período de decadência, foi total-mente restaurado, a recuperação de suas características arquitetônicas originais resgatam a memória artís-tica paulistana.

No local onde hoje se encontra o complexo formado pelo Memorial da América Latina, o Viaduto Pacaembu e o terreno que abriga o prédio do PROCON (com frente para a Rua Barra Funda), se locali-

das procissões religiosas, como também se influenciaram outros cordões, nos dias de carnaval o cordão passava nas ruas em fren-te as residências dos beneméritos e os salões frequentados pela comunidade negra do centro da cidade.

No final da década de 1930, o Grupo Carnavalesco da Barra Funda foi fechado por pressão do governo de Getúlio Vargas, pois seus integrantes foram confun-didos com membros do Partido Integralista, opositor ao governo, por trajarem camisas verdes.

Até que em 1953, a associação foi reativada como Camisa Verde e Branco, em menção a outra peça do uniforme trajado por seus compo-nentes, a calça branca.

O Largo foi suprimido em mea-dos da década de 1950, dele apenas sobraram lembranças e o registro em alguns sambas como este do compositor Geraldo Filme: Levo saudades / Lá do Largo da Banana / Onde nóis fazia samba / Todas as noites da semana / Deixo esse samba / Que fiz com muito carinho / Levo no peito a saudade / Nas mãos o meu cavaquinho / Adeus Barra Funda.

zavam os armazéns e pátio ferroviário da São Paulo Railway, e ainda, o Largo da Banana.

Nas alturas das ruas Brigadeiro Galvão, Vitorino Camilo e Lopes de Oliveira, havia por volta de 1900, um hipódromo e uma coudelaria de cava-los de corrida, dali deve ter sobrado o afamado bebedouro de animais do Largo da Banana.

O local tinha esse nome, pois lá eram comercializadas bananas e outras frutas, que ali chegavam através de carroças puxadas por burros. Foi ali que nasceu, segundo historiadores, o samba paulista.

Era um espaço de lazer onde a comu-nidade negra que morava na Barra Funda, e trabalhavam nos armazéns da estrada de ferro, se divertia ao som das rodas de samba, batuque e tiririca, segundo o escritor e pesquisador Mário de Andrade, ali se tocava o samba rural paulista, uma mistura de ritmos trazidos por ex-escravos do interior de São Paulo misturado a outros gêneros urbanos.

Toda essa influência fez com que a Barra Funda também fosse palco da criação do mais antigo cordão de carnaval da cidade, de 1914: o Grupo Carnavalesco Barra Funda.

O desfile era realizado nos moldes

Desfile de cordões carnavalescos entre

as ruas João de Barros e

Conselheiro Brotero, na Barra Funda

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e dos aluguéis, nos porões sempre mora-va uma família negra. Quando anoitecia era interessante observar que havia uma precária iluminação pública nas ruas, então você via vários pontos de luz nas calçadas, era a luz que saia dos porões onde moravam as famílias negras”.

Assim, o bairro se tornou heterogêneo, a comunidade negra se misturou à italia-na e souberam viver em harmonia, em 1934, segundo dados da prefeitura da cidade de São Paulo a Barra Funda pos-suía 23.764 habitantes, a maioria forma-da por italianos e negros.

A Barra Funda foi o primeiro bairro a receber o bonde elétrico, em 1902, que ligava o local ao Largo São Bento. Esse desenvolvimento comercial se deu devi-do à proximidade aos bairros elitizados de Campos Elíseos e Higienópolis.

A Barra Funda “de cima” da via férrea até a Olímpio da Silveira recebeu mais influência dos bairros de Santa Cecília e Campos Elísios. “Naquela época não

havia perigo, era muito sossego. Eu e minhas irmãs brincávamos na rua, a gente riscava os paralelepípedos da rua com carvão, mas a minha mãe sempre estava de olho. A maioria das ruas eram asfaltadas e poucas de terra, vez ou outra tinha trânsito de carro, carroça ou bonde, nos costumávamos ir ao cinema, à Rádio Cosmos, às missas e passear pela Praça Marechal Deodoro que tinha um roseiral lindo”, narra Yvone.

A música, mais precisamente o samba, sempre esteve presente na Barra Funda (vide box). Armando de Moura, 65, não nasceu na Barra Funda como toda sua família, inclusive seus avós, todos faziam parte da comunidade negra do bairro. Moura passou parte da sua infân-cia e adolescência visitando seus paren-tes, amante do samba, desde cedo, tomou contato com esse ritmo, costumava fre-quentar o Salão São Paulo Chic. “Era na rua Brigadeiro Galvão esquina com a rua Barra Funda, um casarão antigo

muito grande e bonito, foi lá que o samba ganhou seu lugar de destaque. O samba da Barra Funda foi então o res-ponsável pela integração de artistas, uni-versitários, membros da comunidade e craques de futebol. Lá viveu o Vassourinha, grande sambista e cantor de rádio que morreu jovem, era amigo do meu tio. Não posso deixar de fazer referência ao cordão carnavalesco Campos Elíseos, que saia da alameda Olga, na Barra Funda, que era formado pelos negros aristocratas, era então na época, a elite negra”, conta Moura.

Todas essas histórias fazem parte das reminiscências de uma Barra Funda que está preste a desaparecer. Quem anda hoje pelo bairro encontra poucas lembranças dessa época, as casas das décadas de 1930 e casarões quase não existem mais, muitos foram demolidos outros reformados ou trans-formados em cortiços.

Em 1988 o bairro passou por grande

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FACHADAS DA BARRA FUNDAA arquitetura e o patrimônio históri-

co e cultural da Barra Funda estão em decadência. Comparando fotos antigas com atuais nota-se uma transformação radical no bairro, muitas casas e casa-rões foram demolidos para dar lugar a atual explosão imobiliária no bairro.

O marco na arquitetura da região aconteceu em 1930, quando chegaram os primeiros imigrantes italianos, res-ponsáveis por boa parte do povoamen-to da Barra Funda na primeira metade do século XX. Depois veio a comuni-dade negra. A partir de meados de 1970, muitos migrantes nordestinos passaram a habitar o bairro.

Os capomastri, mestre-de-obras italianos, introduziram novas técni-cas na construção civil, lideravam projetos e participavam dos dese-nhos das obras, muitos deles produ-zidos em conjunto com os artistas também italianos. Eles se preocupa-vam mais com a fachada das casas do que com sua divisão, quase todas eram parecidas: pequena frente, muito fundo, com quartos enfileira-dos, uma entrada lateral, com cozi-nhas e banheiros nos fundos. Outros preferiam colocar o armazém ou bar na frente. Assim eram as casas da Barra Funda, muitas delas cons-

coisa foi transformada sem o cuidado da preservação do estilo, da época, e muita coisa foi se perdendo.”

Atualmente dois marcos da arquite-tura no bairro se conservam como o original: a primeira é a casa sede da Chácara do Carvalho, hoje atravessa-da pela Alameda Barão de Limeira, atual sede do Instituto de Educação Bonni Consilii. A segunda é a casa que pertenceu ao intelectual Mário de Andrade, atual Oficina da Palavra Casa Mário de Andrade.

truídas pelo capomastro Domenico Sordini.

Em 1977, a fotógrafa Dulce Soares percorreu a Barra Funda a serviço da Secretaria de Estado da Cultura, o resul-tado foi o livro Barra Funda Esquinas, Fachadas e Interiores, publicado pela Imprensa Oficial do Estado, em 1983. Lá está registrado o que restou da arquitetu-ra original do bairro. Na época, Dulce declarou ao Jornal da Tarde: “… rara a casa aqui que não tem adorno a não ser as novas ou as reformadas, muita

Andrade, atual Oficina da Palavra Casa Mário de Andrade.

casa aqui que não tem adorno a não ser as novas ou as reformadas, muita

Casa da década de 1930 na rua

Vitorino Camilo

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mudança com a chegada do termi-nal intermodal, composto pela estação do metro Palmeiras-Barra Funda, a estação de trens da CPTM e o terminal rodoviário. Até então, era possível, encontrar no bairro os tradicionais empórios e mercearias, onde os comercian-tes ainda usavam antigas caderne-

tas para vender fiado.Com o metrô chega o progresso e a

valorização da área, muitas casas e cor-tiços foram desapropriados e deram lugar a dezenas de novos prédios, com eles também veiram os supermercados, os maganizes e as butiques. Nesta época, moradores e especialistas previam que em poucos anos haveria uma espécie de explosão demográfica e imobiliária na região: é o que está acontecendo.

Desde 2006 a Barra Funda passa por uma nova fase de “remodelação”, mui-tos terrenos passaram a ser supervalori-zados, segundo dados da prefeitura, daqui a cinco anos o número de morado-res deve passar de 25 mil para 85 mil.

Muitas melhorias em diversas áreas necessitam ser realizadas para receber os esses novos moradores e atender as necessidades dos que já estão estabe-lecidos ali. Entre outros problemas do

bairro estão as enchentes e a falta de áreas verdes. Outra grande dificulda-de será o congestionamento: o aumen-to do número de veículos causará maior engarrafamento nas avenidas Francisco Matarazzo e Marquês de São Vicente, e em outras vias impor-tantes como o Elevado Costa e Silva, vulgo Minhocão.

O advogado Edvaldo Godoy, presi-dente da Associação de Moradores e Amigos da Barra Funda, aponta que uma grande área do bairro terá que ser desapropriada para a chegada de novos empreendimentos imobiliários, do total a ser derrubado 37% correspon-dem a galpões industriais que estão ociosos e outros 33% são residências, “não podemos deixar que esse cenário traçado pelo EIA-Rima (estudo de impacto ambiental) da Operação Urbana Água Branca, destrua parte da arquitetura do nosso bairro e da nossa história”, afirma Godoy.

Segundo a prefeitura, o estudo de impacto ambiental ainda não tem previ-são de implantação. Tudo passará por uma audiência pública, ainda sem data marcada, sendo necessária após essa audiência, uma aprovação pelo conselho municipal de meio ambiente.

São Paulo Chic em foto de 1977:o samba em destaque

THAÍSMATARAZZO

mudança com a chegada do termi-nal intermodal, composto pela

e mercearias, onde os comercian-tes ainda usavam antigas caderne-

tas para vender fiado.Com o metrô chega o progresso e a

valorização da área, muitas casas e cor-tiços foram desapropriados e deram lugar a dezenas de novos prédios, com eles também veiram os supermercados, os maganizes e as butiques. Nesta época, moradores e especialistas previam que em poucos anos haveria uma espécie de explosão demográfica e imobiliária na região: é o que está acontecendo.

Desde 2006 a Barra Funda passa por uma nova fase de “remodelação”, mui-tos terrenos passaram a ser supervalori-zados, segundo dados da prefeitura, daqui a cinco anos o número de morado-res deve passar de 25 mil para 85 mil.

Muitas melhorias em diversas áreas necessitam ser realizadas para receber os esses novos moradores e atender as necessidades dos que já estão estabe-necessidades dos que já estão estabe-lecidos ali. Entre outros problemas do

Armando Moura e os bons tempos do samba na Barra Funda

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A união entre urbanismo e estética

Oarquiteto Ruy Ohtake, conhe-cido por obras como o Instituto Tomie Ohtake, na

Vila Madalena e a Embaixada do Brasil em Tókio, tem vários proje-tos, alguns já concretizados e outros ainda em fase de criação, que exem-plificam como a estética e o urba-nismo podem andar juntos, mesmo em uma grande cidade como São Paulo.

Ohtake credita o agravamento da questão social ao êxodo rural, que ocupou as periferias e constituiu as favelas, as quais representam um terço da ocupação da cidade de São Paulo. “O último plano urba-nístico é da década de 30, houve um crescimento que o urbanismo não conseguiu organizar”, justifica o arquiteto.

O urbanista acredita que uma fun-ção importante da cidade é a beleza, a estética o que fará com que o morador se reconheça como cidadão e sinta orgulho do lugar onde mora.

O arquiteto Ruy Ohtake destaca a importância da urbanização para as cidades

Entre seus projetos mais importan-tes está o Expresso Tiradentes, espé-cie de corredor de ônibus suspenso que liga o Sacomã ao Parque D. Pedro II. O arquiteto também ideali-zou o projeto de adaptação do Estádio do Morumbi para a copa de 2014. “A Copa é vista como um campeonato, no entanto ela deve deixar um legado para a cidade”, afirma o arquiteto.

É de sua autoria, em parceria com uma fabricante de tintas, o projeto de colorir as casas da favela de Heliópolis, conferindo uma identida-de cultural ao bairro. “A rua é a sala de estar dos moradores da favela”, assim Ohtake justifica a sua iniciati-va de torná-la mais agradável.

Bastante interessante também é um projeto pessoal, ainda em fase de criação, para a urbanização do entor-no dos cruzamentos entre o rodoanel e as rodovias. Seriam vilas padroni-zadas, com casas, comércio, indús-tria, transporte, como mini-cidades com capacidade para 250.000 mora-dores, isto impediria a “favelização” do local e seria um bom exemplo de que quando se planeja a urbanização é possível conciliar estética e urba-nismo.

RobeRta de donno

Ohtake: urbanismo e

estética devem caminhar juntos

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“A saída para agregar todos estes fatores seria unir vontade do poder público, recursos e foco no proble-ma”, diz Ohtake.

Expresso Tiradentes: um dos projetos

mais conhecidos de Ohtake

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XX de nonono, 2010 13XX de nonono, 2010 13

Uma cena radiofônica da Paulicéia

A radiodifusão iniciou-se no Brasil em 1922. Em matéria musical, o rádio começou apresentando a música eru-

dita, partia de Chopin e vinha caminhando por Toselli até chegar em Verdi. Depois, abando-nou-se tudo isso, e o rádio começou a abraçar o samba, a marcha, o choro, o baião e outros ritmos bem brasileiros, assim se escreve a parte popular da música do rádio.

Até 1937 a capital paulista já contava com dez emissoras radiofônicas: Rádio Educadora Paulista - PRA-6 (1923), Rádio São Paulo - PRA-5 (1927), Rádio Cruzeiro do Sul - PRB-6 (1927), Rádio Record - PRB-9 (1928), Rádio Cosmos - PRB-7 (1934), Rádio Cultura - PRE-4 (1934), Rádio Excelsior - PRG-9 (1934), Rádio Difusora - PRF-3 (1934), Rádio Bandeirantes - PRH-9 (1937), Rádio Tupi - PRG-2 (1937).

A Rádio Educadora Paulista, atual Gazeta, fundada em novembro de 1923, seguia a risca os objetivos do

professor Roquette Pinto para servi-ço da radiodifusão:

“atender os interes-ses nacionais e

finalidade edu-cacional”.

Saiba mais sobre a história do rádio na cidade de São Paulo

Élcio de Carvalho, entre outros.As famílias costumavam se reunir na

sala em frente ao aparelho receptor, que tinha lugar de destaque, para escutarem e sentirem deliciosas sensações nas vozes afinadas de Isaura Garcia, Vassourinha, Agripina, Déo, Paraguassú, Helena Pinto de Carvalho, Januário de Oliveira, Laís Marival, Nhá Zefa, Arnaldo Pescuma, entre outros cantores e artistas das déca-das de 1930/40. Neste momento ainda não existiam os auditórios e os fãs se amontoavam numa pequena sala para verem seus ídolos através de um vidro, que isolava o som do estúdio de gravação e era conhecido como “aquário”.

Ainda neste período eram considerados os melhores programadores do rádio pau-lista: Otávio Gabus Mendes, Raul Duarte, Armando Bertoni e José Nicolini. O pri-meiro grande e moderno auditório da cidade surgiu em maio de 1939, quando a Rádio Cultura inaugurou sua nova sede na avenida São João. O local era conhe-cido como “Palácio do Rádio” tal a sun-tuosidade de suas instalações. Foi esta emissora a responsável por um dos mais famosos programas de calouros da época: Hora da Peneira ou Peneira Rodhine, com patrocínio da Indústria Rhodia, era sem-pre apresentado aos sábados das duas às cinco da tarde. Sucesso absoluto, ficou no ar por cerca de 20 anos!

Esse fascínio do rádio sobre o público constituiu um fenômeno, principalmente para as famílias pobres, foi uma janela aberta para a fantasia: além de informativo trazia para os lares um mundo mágico através das vozes dos artistas.

A Paulicéia, diferente do Rio de Janeiro, cultivou não só o samba e a marcha como a seresta, a modinha, a música caipira e outros

ritmos regionais e internacionais, pois foram muitas as nacionalidades que

concorreram para a formação de São Paulo, imprimindo-lhe

uma fisionomia essen-cialmente multi-

cultural.

A programação musical era composta por música erudita.

Mas, o povo queria mesmo era ouvir da “torneirinha do bom som” a música popu-lar. Em 1932, através do decreto 21.111, o presidente Getúlio Vargas autorizava a vei-culação de propaganda comercial pelo rádio, então, foi possível a canalização de recursos, assim as emissoras puderam con-tratar profissionais e artistas com exclusivi-dade, o rádio deixa o amadorismo e começa a se profissionalizar.

A Rádio Record merece destaque neste aspecto: os locutores e produtores César Ladeira e Nicolau Tuma introduziram inovações no meio seguindo o modelo norte-americano, desde o destaque para a música popular até o pioneirismo nos for-matos de programas de jornalismo, espor-tivo, radioteatro e outros. Em 1933, as Rádios Cruzeiro do Sul e Cosmos, per-tencentes à família Byington, formaram a primeira cadeia efetiva de transmissão em território nacional, era a rede Verde-Amarela.

Logo, o rádio, seus artistas e profis-sionais, começaram a ganhar a atenção de jornais e revistas que criaram se-ções especiais com noticiários radio-fônicos. O primeiro cronista especiali-zado no assunto, em São Paulo, foi

Aristides de Basile, nas páginas do Correio da Tarde, depois surgi-

ram Ary Machado, Péricles Amaral, Egas Muniz,

Mauro e Thirso Pires, Gracy

Graciano,

ARTIGO

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Freguesia do Ó, um dos pioneiros

O português Manoel Preto, funda-dor da Freguesia, foi um bandei-rante muito abastado e um tanto

rude, o padre Justo Mansilla o considera-va “Corsário y ladrón de índios”, confor-me citado por Afonso de Taunay no livro História Antiga da Abadia de São Paulo. Na sua fazenda haviam mais de mil índios, que ele próprio capturava nos ser-tões do Paraná e Rio Grande, chegando até o Uruguai.

Devoto de Nossa Senhora da Esperança, em 1610, “não podendo acudir a missa por morar longe da vila”, juntamente com sua esposa Águeda Rodrigues, dirigiram um requerimento ao padre Mateus da Costa Morim, autoridade apostólica

O bairro da Freguesia do Ó é um dos mais antigos de São Paulo, no último mês de agosto completou 431 anos.

Em volta da nova construção deu-se o núcleo de formação do bairro, elevado a freguesia em 1796. Isolado da cidade pelas frequentes inundações da várzea do Tietê, o bairro chegou até 1940 ainda estacionário. Foi a partir de 1945 com loteamento de antigas chácaras que o local passou a ter efetiva ocupação, sur-giram dezenas de núcleos habitacionais como: Itaberaba, Moinho Velho, Brasilândia e outros.

O Largo Velho da Matriz, um ponto alto da Freguesia, é um dos pontos histó-ricos do bairro. Na rua João Alves, núme-ro 9, antiga Ladeira Velha da Freguesia, existiu uma casa (demolida em 1979) que, segundo folclore popular, foi o local onde de criou Maria Domitila, a Marquesa de Santos. Nesta casa, ela teria recebido a visita de seu enamorado, o imperador Dom Pedro I.

Em 1876, viviam na Freguesia de Nossa Senhora do Ó, 2.023 habitantes, os quais dedicavam-se à plantação de cere-ais para consumo próprio, à lavoura de cana-de-açucar e à criação de animais, segundo Relatório da Comissão Central de Estatística.

Já na década de 1970 o bairro já mos-trava a degradação da arquitetura das casas do século XVIII, a maioria desses imóveis foram demolidos. Na ocasião,

sediada no Rio de Janeiro, para erguerem uma capela em homenagem a santa de sua devoção.

Em 1794, estando a capela em ruínas, foi erguida uma outra e consagrada a Nª. Sª. Expectação do Ó, este curioso “Ó” originou-se das sete antífonas cantadas nas festa da Mãe do Senhor, todas come-çadas pela exclamação “ó”. Celebrada a 18 de dezembro, tal solenidade veio rece-ber, em Portugal o nome de “Festa do Ó” oficialmente designada “Festa da Expectação do Parto da Santíssima Virgem”; por fim, chamou-se “Festa de Nossa Senhora do Ó” e, assim Nossa Senhora do Ó ficou sendo uma das invo-cações da Virgem.

Em 1896 a igreja sofreu um incêndio causado por um apicultor. Ele foi cha-mado para acabar com uma colméia sobre o altar e resolveu utilizar o fogo para espantar os insetos. Conclusão: a igreja amanheceu em ruínas. Com ela foram destruídos vários objetos e docu-mentos, restou a cabeça da imagem de Nossa Senhora do Ó, que está na matriz nova, construída em 1901.

ORIGEM

Vista parcial da Igreja Matriz,

fundada em 1901

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Casarões do século XIX restaurandos, transformaram-se em points do bairro

muitos moradores formaram uma comis-são em defesa desse patrimônio histórico, mas tudo foi em vão.

Em 1943, o padre Eládio Correia e o senhor Joaquim Fernandes fundaram o Hospital Nossa Senhora do Ó, durante duas décadas o prédio ficou vazio, lá hoje funciona um supermercado. Até meados da década de 60 a Freguesia do Ó tinha um ar de cidade do interior, com poucos prédios e muitas ruas em declive.

Atualmente o Largo da Matriz costuma reunir cerca de 1500 pessoas nos finais de semana, a praça é circundada por bares e restaurante de vários estilos: alemão, nor-destino e italiano, com destaque para a Pizzaria do Bruno, aberta há 71 anos. No início serviam aos clientes polenta e fran-go, com o sucesso do estabelecimento passaram a oferecer pizzas, aliás o local foi o pioneiro em ter lançado a pizza frita na cidade.

Seus fundadores são Bruno Bertucci e João Machado de Siqueira, a pizza-ria está no mesmo casarão em que foi inaugurada: o ambiente relembra um clima dos anos 1940. Com três ambientes diferentes, do salão térreo é possível ter uma vista privilegiada da cidade.

Os filhos e netos dos fundadores

continuam a sociedade inicial, Rui de Siqueira, um dos quatro filhos de João Machado de Siqueira, quem atendeu a nossa equipe disse que seu pai, que está com 90 anos, cos-

tuma todos os sábados à tarde, após assistir a missa na Igreja Matriz, passar pela pizzaria e cumprimentar o pessoal.

Por lá já passaram muitas personalida-

Largo da Matriz em 1942, ao fundo a

Igreja Matriz

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des importantes do mundo político, espor-tivo e artístico, como José Serra, Ratinho, Sônia Abraão e o futebolista Sócrates.

Siqueira nos conta que na época da II Guerra Mundial quando houve o racionamento de vários alimentos, como a farinha, seu pai costumava desmanchar o macarrão para fazer a massa da pizza, já famosa na região. Até hoje as pizzas são feitas modo artesanal, ela não é assada direta no tijolo como em outros restaurantes, eles utilizam uma bandeja e ao mesmo tempo é assada e frita, o resultado é uma massa fininha e crocante.

Em 2006, a pizzaria venceu o prê-mio Paladar com a pizza de camarão eleita a melhor pelo juri popular do jornal O Estado De S. Paulo.

O bairro conta com a Casa de Cultura Salvador Ligabue, localizada no Largo da Matriz, 215. Regularmente promove atividades culturais junto à comunidade. Segundo o diretor, Jarbas Mariz, todos os esforços são voltados à recuperação e preservação da história do bairro.

Mariz afirma que a Casa de Cultura é um patrimônio inestimável da cidade de São Paulo. É um espaço público onde a

Comunidade em geral, e em especial a do bairro da Freguesia do Ó, pode de maneira totalmente gratuita, apreciar e praticar arte e cidadania, através de ofi-cinas, cursos, palestras, shows, filmes, exposições, apresentações teatrais e outras atividades correlatas. O local pro-move um projeto permanente de “Resgate da História do Bairro da Freguesia do Ó”, através de livros, jor-nais, folhetos e uma Exposição perma-nente de fotos antigas do bairro.

Inaugurada em 1993, tem um auditório com capacidade para 200 lugares, no momento está ganhando uma reforma para ampliação do espaço.

O patrono da Casa de Cultura é o pintor Salvador Ligabue (1905-1982), paulista de Itatiba, filho de pais italia-nos. Ainda menino, sua família trans-feriu-se para a capital paulista. Seu primeiro contato com a Freguesia ocorreu no ano de 1929 em virtude da visita ao antigo Seminário Provincial de São Paulo onde seu irmão estudava, preparando-se para a vida religiosa. Posteriormente, foi convidado para realizar alguns trabalhos na Igreja Matriz de Nª. Sª. do Ó pelo Pároco

Aguinaldo José Gonçalves. Sua inclinação para as artes começou a

manifestar-se muito cedo e de maneira espontânea. Frequentou cursos de dese-nho e pintura. Seus primeiros trabalhos se orientaram voltados para a pintura sacra, tendo inicialmente colaborado na decora-ção de várias igrejas da capital. Depois, como autor exclusivo, realizou uma série de pinturas murais em igrejas e capelas da capital e do interior.

Desde que se estabeleceu na Freguesia revelou um profundo interesse e uma grande ligação com a vida do bairro. Sempre foi um membro ativo nas ativida-des comunitárias locais, fosse religiosas, políticas, cívicas, culturais ou sociais.

Vale a pena fazer um passeio a pé ou de carro pelo bairro, entre ladeiras escondidas ao redor da Matriz é possível encontrar algumas casas antigas do século XIX e ainda conversar com os moradores vetera-nos que não dispensam uma boa prosa.

É visível a verticalização do bairro ocorrida nos últimos anos, a demolição de casas térreas e a falta de restauração de alguns prédios históricos fazem com que a Freguesia deixe de ter aquele ar bucóli-co de cidade do interior.

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Casa de Cultura: atividades variadas para

moradores do bairro

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Pizzaria do Bruno: há 71

anos no mesmo local

ORIGEM DO NOME DA FREGUESIA DO Ó

A designação NOSSA SENHORA DO Ó originou-se das sete antífonas catadas na festa da mãe do Senhor, todas iniciadas pela exclamação “Ó!”

Ó SABEDORIA, que saiste da boda do altíssimoAtingindo de uma à outra extremidadeE dispondo de todas as coisas forte e suavemente,Vide para nos ensaiar o caminho da prudência

Ó ADONAI, Senhor e condutor da Casa de Israel,Que aparecestes a Moises nas chamas da Sarça ardente,E lhe destes, sobre o Monte Sinai, a lei eterna:Vinde nos resgatar pela potencia de vosso braço!

Ó REI DAS GENTES, e objeto de seus desejos,Pedra angular, que reunis em vós os dois povosVinde e salvai o homem que formaste do limo da terra!

Ó EMANUEL, Rei legislador nosso, Esperado das nações e seu salvador;Vinde, salvai-nos, Senhor, nosso Deus,Que os céus chuvam das alturas e as nuvensNos tragam o salvador!

Ó RAIZ DE JESSÉ, que soisComo estandarte dos povos,Diante do qual os reis fecharão a boca,Não tardais mais um momento!

Ó CHAVE DE DAVI, cetro da Casa de Israel,Que abris e ninguém pode fechais e nin-guém pode abrir:Vinde a tirai da prisão, o cativo que está sentadoNas trevas e nas sombras da morte!

Ó SOL NASCENTE, esplendor de luz eternaE sol da justiça: vinde e iluminai!Aquele que se senta nas trevas da morte!

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Interior para paulistano ver

N ão é sempre que se tem a chance de conhecer a rica cultura do Estado de São Paulo num só lugar. Mas

quem esteve no Revelando São Paulo, Festival da Cultura Paulista Tradicional, pôde sentir de perto um pouco da cultura, artesanato e culinária de vários municípios interioranos.

A XIV Edição do Revelando São Paulo é um projeto realizado pelo Governo do Estado em parceria com a Secretaria de Estado da Cultura. O evento, antes sediado no Parque da Água Branca, foi realizado entre os dias 10 e 19 de setembro no Parque Vila Guilherme/Trote, próximo ao metrô Carandiru, juntamente com a Abaçaí Organização Social de Cultura.

GastronomiaNo local, os visitantes conhecem 200

Evento reúne gastronomia, cultura e arte típica do estado

tambores, com seus ritmos paulistas peculiares – como jongo, samba e batu-que de umbigada – também estavam lá. Jogos e brincadeiras promovidas por comunidades indígenas dividiam espaço com tudo isso.

Um rancho tropeiro foi adaptado e trazi-do para os paulistanos se sentirem no inte-rior. Cavalos, búfalos, mulas e bois, perso-nagens figurados em tropas e cavalhadas estavam lá. Crianças puderam conhecer o mundo do interior montando em carros de boi e charretes, enquanto adultos reviveram atividades típicas no clima do local.

Mais que um eventoNão havia oportunidade melhor para

realizar o X Festival da Amizade, do que dentro do grandioso evento. Além de abarcar tradições do Estado de São Paulo,

espaços gastronômicos de deixar qual-quer um com água na boca. São barracas com comidas típicas de municípios do interior, trazendo antigas receitas de família feitas na hora, acompanhados de calorosos sorrisos. Apesar do forte vento e do frio cortante nos últimos dias do evento, a recepção dos interioranos – e seus pratos saborosos – faziam-nos esquecer do clima.

Cultura e arteNo palco e nas ruas, 300 grupos de

manifestações artísticas e folclóricas esti-veram presentes nos dias do evento. Cortejo de bonecos e cabeções, reiada, folia de reis, sanfoneiros, catiras, adora-dores da Santa Cruz, caminheiros e romeiros estiveram presentes. Modas de violas caipiras e noites de São João e dos

ACONTECE

RODRIGO BOTELHO

Bem diferente de um ônibus,

mas muito mais divertido

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em especial no último dia, onde reuni-ram-se grupos de congos, caminheiros, moçambiques, romeiros, irmandades reli-giosas de variados segmentos, comunida-des indígenas, tropas e tropeiros ruma-ram ao Parque do Trote.

Os visitantes tiveram contato com as tradições do estado. Cristiane Oliveira, estudante de administração, 24 anos, saboreava um camarão de São Vicente enquanto nos contava o que mais gostou do evento – além do camarão. “O mais interessante no evento é identificar a diversidade de culturas, nunca havia participado de uma festa de folia de reis e adorei. Foi muito animado e relembra histó-rias contadas pelos meus pais e avós”. Cristiane também dá uma dica do que quer na próxima edição do evento. “Seria muito interessante contar um pouco mais da história de cada uma das regiões para complementar a cultura.”

O foco no respeito à diversidade e o convívio pacífico é importantíssimo para constituir e preservar a alma cultural da capital. O Revelando São Paulo é impor-tante neste aspecto, pois traz à tona a plu-

o local atraiu também características cul-turais de outras regiões do país e também de imigrantes. Países como Portugal, Itália, Japão, Bolívia, Chile, Alemanha, entre outros, trouxeram suas contribui-ções, adicionando tempero ao caldeirão efervescente de cultura da capital mais plural da América Latina.

Segundo informações da Abaçaí, reali-zadora do Revelando, milhares de pes-soas compareceram ao longo do evento,

ralidade do estado para o paulistano conhecer ou relembrar. Afinal somos paulistanos, mas, antes de tudo, paulis-tas!

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moçambiques, romeiros, irmandades reli-giosas de variados segmentos, comunida-des indígenas, tropas e tropeiros ruma-

Os visitantes tiveram contato com as tradições do estado. Cristiane Oliveira, estudante de administração, 24 anos, saboreava um camarão de São Vicente enquanto nos contava o que mais gostou do evento – além do camarão. “O mais interessante no evento é identificar a diversidade de culturas, nunca havia participado de uma festa de folia de reis e adorei. Foi muito animado e relembra histó-rias contadas pelos meus pais e avós”. Cristiane também dá uma dica do que quer na próxima edição do evento. “Seria muito interessante contar um pouco mais da história de cada uma das regiões para complementar a cultura.”

O foco no respeito à diversidade e o convívio pacífico é importantíssimo para constituir e preservar a alma cultural da capital. O Revelando São Paulo é impor-tante neste aspecto, pois traz à tona a plu-

paulistanos, mas, antes de tudo, paulis-tas!

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SERVIÇO

Prefeitura de São Paulohttp://migre.me/1TECg

Abaçaí Cultura e Artewww.abacai.org.br

Mapa de culturas tradicionaishttp://abacai.org.br/canal_folclore.php

Representantes dos Reis Magos

encantam platéia do evento

Integrante de grupo de folia de reis se

prepara para subir ao palco

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Os 60 anos da televisão

E m 18 de setembro passado, a Televisão Brasileira comemorou seus 60 anos de Brasil. A importância dessa data

comemorativa transcende em muito uma mera convenção de calendário, pois se trata do meio de comunicação que atinge quase a totalidade dos lares dos brasileiros.

A exatos 60 anos, essa novidade tecno-lógica e cultural chegava a “terra brasilis”, de navio, pela iniciativa do jornalista e empresário Assis Chateubriand (1891-1968), que já era proprietário, na época, de um conglomerado de Jornais, Revistas, Agência de Notícia e Rádios (incluindo as Rádios Tupi e Difusora, ambas sediadas na Capital Paulista) e desde então coman-dava e coordenava o projeto-empreendi-mento de trazer a TV para nosso país.

Durante o ano de 1950, de forma paula-tina, foram chegando os equipamentos, a

Aplausos e lembranças da “mídia-majestade” brasileira

como seus técnicos, redatores, diretores e produtores. Nesses primeiros anos de fun-cionamento da Tupi, a presença do mundo e do espírito radiofônico era incontestável. Mas não só, fica patente as influências e mesmo a direta presença de elementos do cinema, do teatro, do circo, da literatura, da música erudita, da música popular, das artes plásticas, da publicidade, do jornalis-mo, enfim, das grandes e legítimas mani-festações artísticas nacionais da época.

Talvez seja esse o segredo da força, competência e qualidade da televisão, nesse início, pois tudo passava pela e tam-bém na televisão. E ainda existia o respal-do e o apoio dos jornais, que eram em número elevado em 1950, em São Paulo, só a Cadeia dos Diários Associados, grupo que administrava a Radio e TV Tupi tinha dois jornais em circulação: o Diário de

infra-estrutura, os profissionais, os apare-lhos televisores, tudo organizado para que na noite de 18 de setembro daquele ano se realizasse a majestosa Festa de Inauguração, no bairro paulistano do Sumaré, juntamen-te com a transmissão do primeiro progra-ma, o TV na Taba. Estava fundada a PRF3-TV Tupi de São Paulo, o canal 3, a primeira da América do Sul.

Um tópico relevante, quando se recorda esse princípio da televisão brasileira, se refere às influências artísticas e culturais ali presentes. Certamente a mais preemen-te e presente tenha sido a influência radio-fônica, pois a TV Tupi, tendo em vista que, as duas rádios já mencionadas –Tupi e Difusora de São Paulo, eram de proprie-dade do jornalista Assis Chateubriand e ambas as rádios cederam a maioria do elenco para a estação de TV nascente, bem

ARTIGO

FÁBIO SIQUEIRA*

Assis Chateaubriand inaugura a TV Tupi em 1950

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São Paulo e o Diário da Noite. E no Rio de Janeiro, a então Capital Federal, o processo de chegada da TV foi bastante semelhante ao ocor-rido em São Paulo, pois se concluiu em 20 de janeiro de 1951, com a fundação da TV Tupi, a pioneira emissora dos cariocas. E ali, tam-bém já existia duas rádios de pro-priedade de Chateubriand-a Rádio Tupi e a Rádio Tamoyo, dois jor-nais – O Jornal e Diário da Noite (na versão carioca) além da sede da revista semanal O Cruzeiro, o peri-ódico recordista de leitores da época, que muito cobriu e noticiou o surgimento dos primeiros canais de TV.

E nos anos seguintes foram sur-gindo as novas estações de TV, concorrentes das duas Tupis pio-neiras. Em 1952, foi inaugurada a TV Paulista, canal 5 Paulista, e no ano seguinte o canal 7 a TV Record, que existe até hoje. Nas terras cariocas, a segunda emissora foi a TV Rio em 1955 e a terceira a TV Continental, fundada em 1959. Em 1955, a TV chegava ao mineiros, com a inauguração da TV Itacolomy, criada por Chateubriand, que já dispunha do jornal O Estado de Minas naquela então jovem cidade de Belo Horizonte.

Assim foi a gênese do apareci-mento da Televisão no Brasil, a nossa “mídia-majestade” não só por ter implantado um padrão de qualidade bastante elevado em suas produções, fato que hoje começa a ser rediscutido em vista da visível queda geral de qualida-de nos últimos quinze anos, mas

também pelo fato de que em vinte anos, no inicio dos anos 70, a tele-visão passava o rádio e o jornal, se tornando o meio de comunicação mais consumido pelos brasileiros e, já na década passada, conseguia atingir a incrível e superior marca de 99,5 % de presença nos lares brasileiros. Por tudo isso, não há como dissociar a presença da TV na rotina e no cotidiano de nossa população.

Por fim, fica consignada essa sin-gela homenagem a TV brasileira, quando completa essas seis décadas, com muita presença e influencia, e nunca se pode esquecer desses mes-tres pioneiros que ajudaram a reali-zar esse sonho vistoso e visionário, como Cassiano Gabus Mendes, Mario Alderighi, Dionísio Azevedo, Walter George Durst,Walter Forster, Ribeiro Filho, Maurício Loureiro Gama, Júlio Gouveia, Tatiana Belinky, Zae Júnior, Luiz Gallon, Jota Silvestre, Luis Arruda Paes, Lúcia Lambertini, Márcia Real, Laura Cardoso, Yara Lins, Lia de Aguiar, Álvaro de Moya, César Monteclaro, Rebello Junior, Mário Fannucci, Cyro del Nero, Blota Júnior, Sônia Ribeiro, Hélio Souto, Ary Silva, Raul Tabajara, Graça Mello, Heitor de Andrade, Silveira Sampaio, Manoel de Nóbrega, Plácido Maia Nunes, Vera Nunes, Antônio Seabra, Vida Alves, Hebe Camargo, Demerval Costa Lima, Almeida Castro, Homero Silva, Gaetano Gherardi, Paulo Machado de Carvalho, Barros Barreto, Victor Costa, dentre muitos outros. A todos os pioneiros, a TV brasileira, apreço e calorosos aplausos.

*Fábio Siqueira colaborou com Expressão SP. É advogado e sociólogo,

formado pelo Mackenzie e PUC-SP, pesquisador da história da televisão brasileira,

morador da cidade de São Paulo.

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quando completa essas seis décadas, com muita presença e influencia, e nunca se pode esquecer desses mes-tres pioneiros que ajudaram a reali-zar esse sonho vistoso e visionário, como Cassiano Gabus Mendes, Mario Alderighi, Dionísio Azevedo, Walter George Durst,Walter Forster, Ribeiro Filho, Maurício Loureiro Gama, Júlio Gouveia, Tatiana Belinky, Zae Júnior, Luiz Gallon, Jota Silvestre, Luis Arruda Paes, Lúcia Lambertini, Márcia Real, Laura Cardoso, Yara Lins, Lia de Aguiar, Álvaro de Moya, César Monteclaro, Rebello Junior, Mário Fannucci, Cyro del Nero, Blota Júnior, Sônia Ribeiro, Hélio Souto, Ary Silva, Raul Tabajara, Graça Mello, Heitor de Andrade, Silveira Sampaio, Manoel de Nóbrega, Plácido Maia Nunes, Vera Nunes, Antônio Seabra, Vida Alves, Hebe Camargo, Demerval Costa Lima, Almeida Castro, Homero Silva, Gaetano Gherardi, Paulo Machado de Carvalho, Barros Barreto, Victor Costa, dentre muitos outros. A todos os pioneiros, a TV brasileira, apreço e calorosos aplausos.

também pelo fato de que em vinte anos, no inicio dos anos 70, a tele-visão passava o rádio e o jornal, se tornando o meio de comunicação mais consumido pelos brasileiros e, já na década passada, conseguia atingir a incrível e superior marca de 99,5 % de presença nos lares brasileiros. Por tudo isso, não há como dissociar a presença da TV na rotina e no cotidiano de nossa população.

gela homenagem a TV brasileira,

Celly e Tony Campello, 1958

Inezita Barroso, 1954

Angela Maria, 1954

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Melodias portuguesas em São Paulo

A cidade de São Paulo é mundial-mente conhecida por sua influência nacional e internacio-

nal, seja do ponto de vista cultural, eco-nômico ou político. A Paulicéia, desde fins do século XIX até hoje acolhe imi-grantes de todo o mundo.

Uma das maiores colônias portuguesas no Brasil se encontra na capital paulista. Uma característica deste povo é o saudo-sismo por sua pátria, expressado em geral, através da música e da poesia.

Apesar da longa trajetória que nos une, cujos elementos ajudaram a fundar, a criar a essência do povo brasileiro, temos nos últimos tempos observado infeliz-mente um refluxo do intercâmbio e, por conseguinte, uma diminuição dos ele-mentos de divulgação da cultura lusitana nos veículos de comunicação ao longo do vasto território brasileiro.

O que não é uma contrapartida em relação aos elementos nacionais em ter-

Artistas veteranos e jovens se dedicam à música popular portuguesa na capital paulista

jovens para dar continuidade ao movi-mento associativo português, o que é um desafio, pois, muitos descendentes sen-tem-se desmotivados ou possuem outras preferências e interesses.

A música popular portuguesa tem sua representatividade em duas vertentes: uma é o fado expresso através dos fadis-tas, dos músicos e dos compositores e a segunda é o folclore, tocado em ritmos como o vira, o chula, o puladinho, o malhão e o corridinho, entre outros, sempre divulgado pelos ranchos e gru-pos folclóricos. Nos dois casos, no Brasil, além de ter elementos portugue-ses, já existem alguns componentes lusos-descendentes e até brasileiros.

Para saber um pouco mais sobre o tra-balho de um grupo folclórico, Expressão SP conversou com o jornalista Armando Torrão, 55, nascido em Miranda do Douro, norte de Portugal, diretor do Grupo Folclórico Veteranos de São

ras da “pátria-mãe”, cada vez mais absorvendo as novelas televisivas, o cinema, a música e a literatura brasilei-ras, sem contar os jogadores de futebol, entre outros aspectos.

Mas nem tudo está perdido. Na capital bandeirante a colônia lusa possue algu-mas entidades representativas: embaixa-das, consulados e as associações, por exemplo, a Casa de Portugal, o Centro Trasmontano, o Pedro Homem de Melo da Igreja N.S. de Fátima no Sumaré, o Arouca São Paulo Clube, a Casa da Ilha da Madeira, a Associação Portuguesa de Desportos, a Casa dos Açores, o Clube Português de São Paulo, o Vilas de Portugal, a Casa de Bronhosinho, a Casa do Minho, o Clube Lusitano, a Associação dos Poveiros, entre outros.

Dentre outras finalidades, essas entida-des têm por objetivo disseminar e promo-ver atividades culturais lusitanas. Atualmente, muitos dirigentes buscam

O grupo musical Sete Cidades:

Gabriel Laudino, Marcos Sebo,

Tatiana Monteiro e Alexandre Matis

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A fadista Maria de Lourdes em dois

momentos: acima num show em 2009 e

abaixo em 1971 ao lado da fadista

Amália Rodrigues

Paulo, que está sediado no Clube Português, no bairro das Perdizes.

Este grupo iniciou suas atividades em janeiro de 2000, depois que Armando convocou uma reunião com dez amigos e decidiram criar um grupo folclórico. São indivíduos que dedicaram vários anos de suas vidas às tradições lusas. “Pessoas assim com tanto conhecimento e experiência não poderiam ficar ao léu. Nosso obje-tivo continua o mesmo até os dias atuais: além da união pela amiza-de, também na divulgação das tradições portuguesas, em especial as danças e culiná-ria”, conta Torrão.

Expressão SP: Quantos são os integrantes?

A r m a n d o T o r r ã o : Somos cerca de 40 pes-soas e temos muitos jovens, apesar do nome de veteranos. Veteranos porque somos veteranos no folclore, muitos começaram pequenos,

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ACERVO MARIA DE LOURDES

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ainda com seus pais, por isso mesmo, ainda jovens já são veteranos no fol-clore português, esses membros, em grande maioria, são brasileiros.

E.S: O grupo se apresenta com frequência?

A.T: Sim. Mensalmente nos exi-bimos em associações portuguesas, como Clube Português, Centro Trasmontano de São Paulo, Portuguesa de Desportos, Casa do Minho, Casa Ilha da Madeira e ainda em aniversários, bodas e casamentos quando nos contratam.

E.S: As pessoas, em geral, rece-bem bem o folclore luso?

A.T: Sim, gostam muito e aplau-dem, mesmo porque quando nos apresentamos fazemos um vira livre e colocamos os presentes à festa para dançar com nossos componen-tes. É muito divertido, brasileiros e portugueses todos gostam da brin-cadeira.

E.S: Há uma integração com o público jovem?

A.T: Sim. Hoje os grupos folcló-ricos em São Paulo são cerca de 12, em sua maioria, constituídos de 90% de brasileiros natos ou luso-brasileiros (filhos e netos).

E.S: O grupo já realizou muitas excur-sões dentro e fora do Brasil?

A.T: No Brasil sim, fomos a Portugal em janeiro último a passeio, ficamos quinze dias com tudo pago pelo nosso grupo.

A tocata dos Veteranos de São Paulo é formado por dois concertinistas, um bum-beiro, um tocador de triângulo, um de reco-reco, uma de castanholas portugue-sas, dois cantadores e um pequeno coral de três vozes. O corpo de dança é com-posto por oito pares ou bailadores, todos trajados a rigor, com instrumentos típicos portugueses e a autenticidade das coreo-grafias e melodias.

Uma das fadistas mais queridas do público paulista é Maria de Lourdes, 60, nascida em Viseu, Beira Alta, Portugal, veio para o Brasil ainda criança.

Por volta de 1965, o programa de TV Caravela da Saudade, dirigido à comuni-dade luso-brasileira, promoveu um con-curso para eleger a portuguesa mais boni-ta de São Paulo. Dona Maria Ascensão, mãe de Maria de Lourdes, correu a ins-crevê-la junto com as outras filhas: Olinda, irmã gêmea de Maria de Lourdes, e Isabel, que ficou com o segundo lugar.

Como muitas jovens competiram, o

apresentador e produtor do programa, Alberto Maria de Andrade, teve a idéia de aproveitá-los para montar um Grupo Folclórico Maria de Lourdes e suas irmãs foram selecionadas, o grupo se apresen-tava sempre aos finais de semana na TV.

Ali, a mocinha começou a se destacar pela voz, a seguir, iniciou sua carreira solo. Já excursionou por todo Brasil atuou em clubes sociais, casas de shows, ginásios esportivos, pousadas, restaurantes típicos e em turnês por Portugal e Argentina.

Em meados dos anos 1970, gravou seu primeiro disco, Barco Negro. Participou de vários programas de TV: Hebe Camargo, Bolinha, Mulheres, Sílvia Popovick, Bruna Lombardi, Athayde Patrezzi; do filme Verde Vinho, de 1981, rodado no Brasil e em Portugal; das nove-las Meu Rico Português, Cara a Cara e Meus Filhos, Minha Vida.

Em 1997, tomou parte do espetáculo Volta ao Mundo - Duas Horas de Emoção, representando Portugal, juntamente com Perla, Gilbert, Tony Angelli, Patrick Dimon e Dave Gordon, exibido em diver-sas casas de espetáculos como Paladium e Círculo Militar.

Com certeza, a fadista é uma das maio-res divulgadoras do fado não só em São Paulo, mas em todo o Brasil. Continua a se apresentar sempre que solicitada. Para

saber mais sobre sua carreira e ouvir suas gravações basta acessar seu blog: mariadelourdesfado.blogspot.com.

Para finalizar conversamos com o jovem instrumentista e produtor, Alexandre Matis, 32, que integra o grupo Sete Cidades, formado na Casa dos Açores de São Paulo, em 2008, com amigos que faziam parte do Grupo Folclórico do local. Os integrantes são além de Matis, na guitarra portuguesa; a cantora Tatiana Monteiro, 29; no violão Marcos Sabo, 32 e no baixo Gabriel Laudino, 22.

A especialidade do grupo é o fado cas-tiço, o tradicional e as canções contem-porâneas. Atualmente trabalha como fixo do Restaurante Portucale, localizado na Vila Olímpia. Além de atuar individual-mente em todo o circuito do fado em São Paulo ao lado de fadistas consagrados.

Matis é formado em Composição e Regência pelo Instituto de Artes da UNESP - Universidade Estadual Paulista. Estudou guitarra portuguesa, interpreta-ção do fado e da música lusa com o Professor Manuel Marques. Fez o curso livre de música e guitarra elétrica com Vandré Nascimento, no Conservatório Musical Souza Lima.

Expressão SP: Como surgiu seu inte-resse pela música portuguesa?

Alexandre Matis: Apesar de não ter

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Armando Torrão e o Grupo Folclórico Veteranos de São Paulo

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uma descendência portuguesa direta, o meu interesse pela música e cultura lusa começou na Casa dos Açores de São Paulo, em 2005, onde fui contratado para tocar violão e bandolim no grupo folcló-rico. Devido ao convívio na comunidade portuguesa logo me interessei pela gui-tarra portuguesa e, consequentemente, o fado.

E.S: Como iniciou sua carreira artística?

A.M: Toco desde os oito anos de idade e sempre tive uma vida muito musical, mas a verdadeira carreira artística se ini-ciou quando comecei minha formação musical no Conservatório Souza Lima, em 2002, época que comecei a me apre-sentar profissionalmente em grupos de música brasileira e rock, além de dar au-las particulares de música. Posteriormente, ingressei no Instituto de Artes da UNESP e conclui em 2008 com o título de Bacharel em Música com ênfase em Composição e Regência, a esta altura já tinha a carreira totalmente direcionada para a guitarra portuguesa e o fado.

E.S: Você possui algum intérprete ou compositor preferido dentro da música lusa?

A.M: É uma lista imensa, mas posso destacar: Amália Rodrigues, Fernando Maurício, Carlos do Carmo e rec Mariza, Ricardo Ribeiro, Carminho, Ana Moura, entre outros. Na guitarra portuguesa tenho ainda mais preferidos, mas cito: Carlos Paredes, Manuel Marques, Armandinho, Raul Nery; e atualmente quero destacar Ricardo Araújo, José Manuel Neto, Ângelo Freire, Mario Pacheco, Pedro Caldeira Cabral, Custódio Castelo, Jaime Santos Júnior (viola).

E.S: Você acha que existem muitos jovens se dedicando a música portugue-sa no Brasil?

A.M: Não posso dizer que há muitos interessados, mas existe sim, jovens que atuam no fado, alguns há mais tempo e outros mais recentes como nós do Grupo Sete Cidades; e ainda vejo, pelo menos entre meus alunos na Casa dos Açores, o interesse dos mais novos para o futuro. Temos que se considerar que o número de grandes fadistas e guitarristas de car-reira no Brasil também é reduzido, sendo assim a proporção dos jovens é até rele-vante. Outro fator de peso é o interesse dos jovens na comunidade portuguesa muito mais para o folclore do que para o fado. O fado hoje não tem a mesma pre-sença que tivera em tempos áureos, mas,

ainda tem um grande mercado, sendo assim é indispensável à divulgação e o trabalho de qualidade realizado pelos artistas para a formação de um novo público para o fado.

E.S: Você também aprecia outros rit-mos musicais?

A.M: Primeiramente gosto de música erudita no geral, mas tenho preferência para o repertório do século XX e contem-porâneo. Da mesma forma gosto de rock, que me foi o gênero que impulsionou para a música. Acrescenta-se ainda o gosto por choro, bossa nova, jazz, pop. Tenho origem na música popular, mas formação erudita, isso me faz muito crítico e exigente, mas pouco preconceituoso, com a cabeça aberta. Talvez a combinação seja perfeita para o fado onde vejo a expressão de um povo e a possibilidade estética de fazer arte.

Como pudemos notar artistas veteranos e novos ainda lutam em prol da cultura lusitana, mas são poucos. Ficam as perguntas: teriam os jovens se afastado das tradi-ções de suas origens? As entidades não estariam empenhadas na divulgação de

suas características, de sua visão de mundo e história, abandonando assim seu espaço? A elite da comunidade não se dedica ao estí-mulo das novas gerações de descendentes? Ser cidadão de um mundo globalizado é mais importante que valorizar os laços ancestrais?

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origem na música popular, mas formação erudita, isso me faz muito crítico e exigente, mas pouco preconceituoso, com a cabeça aberta. Talvez a combinação seja perfeita para o fado onde vejo a expressão de um povo e a possibilidade estética de fazer arte.

Como pudemos notar artistas veteranos e novos ainda lutam em prol da cultura lusitana, mas são poucos. Ficam as perguntas: teriam os jovens se afastado das tradi-ções de suas origens? As entidades não estariam empenhadas na divulgação de

THAÍS MATARAZZO

O guitarrista Alexandre Matis

SERVIÇO

Quer saber mais sobre o trabalho do grupo Sete Cidades?

Acesse:www.gruposetecidades.com.br

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Santo Amaro é popular

Obairro de Santo Amaro tem sua origem em uma aldeia indígena às margens do rio Jurubatuba, atual

rio Pinheiros. O nome do bairro vem de um santo católico protetor dos carrocei-ros, carregadores e fabricantes de velas. A região foi batizada com o seu nome depois que o Padre José de Anchieta rezou uma missa com a imagem do santo à margem do então rio Jurubatuba.

Santo Amaro foi também a primeira colônia estrangeira no Brasil. Em 1827, alguns imigrantes alemães foram envia-dos para a região na intenção de povoar o local. Entretanto, tratava-se de uma zona de difícil acesso, de solo pobre e longe do mercado consumidor o que fez com que a maioria dos imigrantes aban-donassem os lotes.

Em 1832 torna-se município, no

O bairro recebe grande fluxo de migrantes

nordestinos e abriga biblioteca especializada

em cultura popular

estação Largo Treze do metrô facilita o aces-so de quem deseja desfrutar o comércio popular do local. A região conta ainda com a estação Santo Amaro, da CPTM, e o Terminal Santo Amaro, o maior da cidade.

Agora se a intenção é um passeio cul-tural, a Biblioteca Pública Belmonte é passagem obrigatória. Trata-se de um centro especializado em cultura popular que tem como um de seus principais atra-tivos oficinas culturais e exposições, além do acervo comum às demais bibliotecas.

Outro atrativo da biblioteca são os saraus sertanejos, realizados sempre no último sábado do mês, nos quais o público pode propôr músicas e interagir com os artistas. Também merecem des-taque as oficinas de xilogravura, pro-movidas nas tardes de quarta-feira.

Nenhuma outra biblioteca poderia

entanto, em 1935 o distrito é anexado novamente à cidade de São Paulo. Um dos motivos seria a construção do aero-porto de Congonhas, inaugurado em 1934, que serviu como local alternativo para o transporte aéreo em São Paulo.

Atualmente o bairro abriga o Autódromo de Interlagos e a cultura nordestina é presen-ça forte na região, o que movimenta o comér-cio do Largo Treze de Maio. Desde 2002, a

O Largo Treze de Maio: movimento e comércio popular

CULTURA POPULARM

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Santo Amaro é popular Festa de Caruaru na biblioteca Belmonte: Valdeck de Garanhuns e seu irreverente boneco Benedito

Banda de Pífanos de Caruaru, banda de fama internacional na biblioteca Belmonte

abrigar o tema cultura popular tão bem quanto a Belmonte. Ela está situada num local de constante ebulição cultural: bar-racas de comidas típicas, ervas e tempe-ros variados dão um aroma todo especial ao local, o artesanato colorido contrasta com a paisagem cinza e o som caracte-rístico dos repentes das violas remete aos saraus sertanejos de antigamente.

A biblioteca reúne ainda cordelistas, xilogravadores e repentistas da região, que dão à biblioteca ares de um refúgio nordes-tino em meio a selva de pedra. Fisicamente a biblioteca passou por muitas reformas para se adaptar à sua temática, desde a estrutura até a decoração interna e pintura das fachadas foram modificadas.

Isso tudo sem contar a coleção de folhe-tos de cordel. A biblioteca conta com um acervo de mais de 600 exemplares, que podem ser consultados somente no local. Estão disponíveis para consulta também livros sobre literatura de cordel, literatura oral e xilogravura.

A responsável pela Sala do Acervo de Cultura Popular da Biblioteca Belmonte Dorinha Sant’anna, diz que muitos estudan-tes universitários têm freqüentado a bibliote-ca com a finalidade de pesquisar para traba-lhos acadêmicos. “Por outro lado, as facul-dades têm exigido dos alunos atividades externas e eles têm vindo assistir aos nossos eventos de literatura e de cultura popular meio que forçados, mas depois gostam do que vêem e continuam frequentando nossas atividades”, analisa a bibliotecária.

O assunto cordel faz muito sucesso entre os estudantes da região, pois Santo Amaro é reduto das famílias oriundas do norte e

nordeste, de acordo com Dorinha. A biblio-teca já trouxe da Paraíba, estado onde se localiza a Academia Brasileira de Cordel, o seu presidente Manoel Monteiro que, de acordo com Dorinha, se emocionou muito

ao ver o interesse que despertava no público que compareceu à sua palestra.

“Como a biblioteca Belmonte foi trans-formada em referência em cultura popular em 2007, temos um acervo ainda muito pe-queno de cordéis, a maioria deles doados por autores ou usuários da biblioteca, mas contamos com algumas raridades, além de alguns cordéis publicados há mais de 30 anos”, afirma Dorinha Sant’anna.

SERVIÇO

Biblioteca Pública BelmonteEspecializada em Cultura Popular

Rua Paulo Eiró, 525Santo Amaro

São Paulo - SPTelefone: (11) 5687-0408.

CULTURA POPULARFO

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Acredite: a literatura de cor-del está mais perto do seu dia-a-dia do que você ima-

gina. As novelas Saramandaia e Roque Santeiro, sucessos de au-diência, foram adaptadas a partir da literatura de cordel. E não pára por aí. Quem não conhece as aven-turas de Chicó e João Grilo, do fil-me O Auto da Compadecida? São personagens originários da literatu-ra de cordel.

Os folhetos não só inspirma ou-tras mídias. Eles também são al-tamente influenciados pelos acon-tecimentos da época. Fatos como a morte de Getúlio Vargas, o go-verno de Fernando Collor, a mor-te de Luiz Gonzaga e de Ayrton Senna, as vitórias do Brasil em Copas do Mundo, o lançamento do real e a eleição de Lula foram momentos de grande produtivida-de dos poetas.

Seu nome provém da forma pela qual eram vendidos os folhetos nas feiras de Portugal: dependu-rados num cordão, como se esti-vessem dispostos num varal. Ela foi introduzida no Brasil pelos

meus livros e contações de histó-rias,” diz o escritor. Ele enxerga o cordel como um gênero literário, que agrega os valores da cultura tradicional, cultura esta muitas ve-zes vista pelos pesquisadores ditos eruditos de uma maneira isolada da sociedade. “É como se o fazer tradicional estivesse parado no tempo e no espaço, adquirindo ca-ráter pejorativo”, analisa o corde-lista.

A maioria dos folhetos é impressa em xilogravura, tipo de impressão na qual a imagem é talhada na ma-deira, pintada e em seguida transfe-rida para o papel, como um carimbo. Tudo é feito manualmente, num pro-cesso artesanal.

Recentemente, a biblioteca sediou uma aula-espetáculo sobre nordeste ministrada pelo professor-doutor Aderaldo Luciano, com tese e dis-sertação sobre literatura de cordel e coordenador editorial da Editora Luzeiro, especializada na produção dos folhetos. É a literatura de cor-del, antes exclusivamente direciona-da ao contexto sertanejo ganhando espaço nos meios acadêmicos.

portugueses que chegaram à Bahia e tornou-se uma das mais represen-tativas expressões da cultura nor-destina.

De acordo com o escritor, educa-dor e pesquisador de cordel César Obeid, quando chegou ao nordeste brasileiro permaneceu apenas o no-me, mas a tradição de pendurar os folhetos em barbantes não perpetuou. Segundo as pesquisas de Obeid, os folhetos não são mais vendidos em feiras populares, e sim em feiras de artesanatos, aeroportos e até em shopping centers, geralmente pelos seus próprios autores.

O pesquisador diz que estamos vi-vendo um momento áureo da litera-tura de cordel, no qual educadores, estudantes, órgãos públicos e enti-dades culturais passam a valorizar mais a cultura popular e, consequen-temente, o cordel.

Durante muito tempo os sertanejos, sem acesso aos jornais, viam no cor-del o único veículo de comunicação com que contavam. Os poetas, além de narrar os fatos, o faziam na lin-guagem do povo, interpretando os acontecimentos, promovendo a in-clusão social. Obeid afirma, porém, que atualmente isto acontece em um ou outro caso isolado.

César Obeid trabalha com a recria-ção do cordel. “Eu utilizo a estrutura dos versos populares para compôr os

ACERVO PESSOAL

CONHEÇA A LITERATURA DE CORDEL

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Teatro Paulo Eiró Considerado um dos pólos culturais de

Santo Amaro, o Teatro Paulo Eiró foi inaugurado em 23 de março de 1957 para atender as demandas da região – formada por muitos estabelecimentos educacio-nais, associações, entidades esportivas e um vasto público jovem interessado em atividades culturais e artísticas.

O teatro foi projetado pelo arquiteto Roberto Tibau em 1952 e, em sua inau-guração, comportava 801 pessoas. O nome do teatro é uma homenagem ao poeta, escritor, dramaturgo e professor Paulo Eiró, nascido em Santo Amaro, considerado até hoje um dos mais impor-tantes artistas da região.

Em 1968, foi instalado na frente do tea-tro um mural de 18 metros de largura por 5 metros de altura, feito em mosaico de cimento armado, pedras e mármore, pelo escultor Júlio Guerra, também nascido em Santo Amaro.

O teatro fica na avenida Adolfo Pinheiro, 765, em Santo Amaro.

Casa de Cultura Manoel Cardoso de Mendonça

A casa de cultura Manoel Cardoso de Mendonça é um espaço de referência que contribui, por intermédio de sua progra-mação e atuação junto à comunidade, na construção da cidadania cultural.

Desde sua criação exerce ação direta e ativa na vida de seus frequentadores, ser-vindo não apenas como local de fruição ou produção cultural, mas também como pólo agregador da comunidade artística e seu público, proporcionando maior conta-to e vivência com repertório cultural diver-sificado e de qualidade.

A casa de cultura fica situada no antigo prédio do Mercado Municipal de Santo Amaro, inaugurado em 1897, que cumpriu um papel importante no abastecimento da cidade de São Paulo.

O endereço é Praça Dr. Francisco Ferreira Lopes, 434, em Santo Amaro.

PRINCIPAIS PÓLOS CULTURAIS DE SANTO AMARO

O vereador Gilberto Natalini é um mora-dor apaixonado de Santo Amaro. “Trata-se de um bairro mais antigo do que a cidade de São Paulo, tem muita tradição, muita história. Este patrimônio é parte desta tra-dição, é parte desta história então é um dos bairros que tem mais história acumulada e preservada” afirma o vereador.

Seu trabalho tem se baseado em cobrar e investir na preservação do patrimônio histórico de Santo Amaro. Ele já promo-veu a reforma da praça Floriano Peixoto, a reforma e denominação da Casa Amarela, que agora se chama Paço Cultural Julio Guerra, a recuperação e denominação da Casa de Cultura de Santo Amaro, o antigo mercadinho, que agora se chama Casa de Cultura Manoel Mendonça. “ Nós temos procurado marcar os locais com a denomi-nação de pessoas representativas de Santo Amaro”, lembra Natalini.

Para o futuro o vereador trabalha para reformar o coreto da Praça Floriano, está em negociação com a prefeitura para refor-mar a biblioteca Prestes Maia, além da cria-ção e preservação de parques, como o Parque do Cordeiro, cujas obras entram na segunda fase agora em novembro.

“Isso é importante para a comunidade não só para qualidade de vida das pessoas, mas também como uma forma de preservar o passado, preservar a história da população da região que é muito bonita, de muita luta e muitas tradições culturais, literárias e fes-tivas”, finaliza o vereador.

Clique aqui e ouça a entrevista Com o vereador Gilberto natalini

ENTREVISTA COM O VEREADOR GILBERTO NATALINI

“Santo Amaro é um dos bairros da cidade de

São Paulo que tem mais história

acumulada e preservada

miChelle barros

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Natalini: apaixonado pelo bairro de Santo Amaro

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Antes...

...depois

A Estação da Luz foi construída em 1901,

inspirada na arquitetura inglesa, pertencia à São

Paulo Railway. Logo o prédio se tornou um

orgulho e cartão postal da cidade. Por lá

passaram boa parte dos imigrantes europeus que vieram trabalhar

nas fazendas de café no interior do estado.

Depois de uma reforma que durou cerca de quatro anos, em 2004, coincidindo com os 450 anos da cidade de São Paulo, a estação da Luz foi entregue restaurada, tanto em sua arquitetura, quanto em suas plataformas. Em 2006, ali foi inaugurado o Museu da Língua Portuguesa, tirando da estação as características para as quais foi construída. Hoje a estação atende milhares de pessoas que são usuárias dos trens da CPTM.

RETRATOS

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