O essencial é saber ouvir

Fátima AlbuquerqueFilipa BarretoMaria João Constantino

Índice

Mozart e Rosa Cannabich

O texto (o real e o factual) O pretexto (sugestão de actividade) O essencial é saber ouvir (trecho

dramático)

Texto base

HUBER, Ruth , “A Música no Ensino Das Línguas” in http://www.fl.ul.pt/unil/pol6/pol6_txt8.pdf, 15 de Julho de 2008

Rosa Cannabich: um retrato por música

1. Audição do segundo andamento, um Andante um pouco adagio, da Sonata para Piano de Wolfgang Amadeus Mozart (KV 309), escrita em 1777, altura em que o compositor tinha 21 anos. A tarefa dos ouvintes é definida e sucessivamente especificada em três passos ou tempos. Num primeiro tempo, ouvimos simplesmente, tornando-nos receptíveis, permeáveis, disponíveis e tentando abrir um espaço inte-rior para a música poder desabrochar. (1ª audição: 2’40” na versão de Maria João Pires, até começar o segundo tema) 2. Na segunda audição, o ouvinte vai tentar responder à pergunta: Qual é o carácter desta música? Quais as associações, as imagens, as emoções que surgem espontaneamente quando ouvimos esta música? (2ª audição: 4’20”, até voltarem a surgir os primeiros compassos do primeira tema, repetido) 3. Mozart escreveu esta música com a intenção de compor um retrato musical da sua aluna de piano Rosa Cannabich, de 13 anos de idade, filha de Christian Cannabich, mestre de capela da Corte de Mannheim, onde Mozart se encontrava naquela altura.7 Numa carta a seu pai, de 6 de Dezembro de 1777, Mozart refere o seu Andante como sendo todo feito «segundo o caractére da Mad.selle Rosa» («ganz nach dem Caractére der Mad.selle Rosa») e acrescenta: «como o andante, assim é ela» («wie das Andante, so ist sie»). Na terceira audição, os ouvintes tentam imaginar a destinatária: Se ela é como este andante, como é – ou como era – Rosa Cannabich? (3ª audição: todo o andamento, 6’37”) Após esta terceira audição, os ouvintes escrevem um retrato de Rosa Cannabich, baseando-se nas suas impressões, imagéticas, emocionais, motoras ou outras, transmitidas pela música e susceptíveis de se traduzirem por palavras. 3. Música e linguagem: Comentário à guisa de conclusão No contexto de uma segunda abordagem da complexa relação entre música e linguagem, comparamos os retratos escritos pelos ouvintes com o esboço para um retrato de Rosa Cannabich, feito pelo próprio compositor. Trata-se de um retrato aproximativo e feito à pressa, uma descrição por palavras do «caractére da Madselle Rosa» que se encontra nas cartas que Mozart escrevia ao pai, Leopold, nos meses de Novembro e Dezembro de 1777, altura em que compôs a sonata em questão. Nessas cartas, Mozart descreve a personalidade da rapariga e fornece uma breve apreciação das qualidades e defeitos da jovem pianista:

a personalidade

quinze anos de idade a filha mais velha uma rapariga muito bonita e bem comportada tem muito juízo e uma maneira de ser muito ponderada séria não fala muito graciosa e gentil no falar mas tem só 13 anos

a aluna de piano

toca bastante bem piano tem muito jeito aprende com muita facilidade a mão direita é muito boa a esquerda está, infelizmente, completamente estragada tem muito génio (talento) toca com extrema sensibilidade tem uma ligeireza muito natural

Trata-se, mais precisamente, das cartas de 4 e 14 de Novembro e de 6 e 7 de Dezembro 1777; a ortografia foi actualizada.

HUBER, Ruth , “A Música no Ensino Das Línguas” in http://www.fl.ul.pt/unil/pol6/pol6_txt8.pdf, 15 de Julho de 2008

Pretexto

Imagina o diálogo entre Mozart e Rosa Cannabich no decurso de uma das aulas de piano.

Efectua a dramatização.

O essencial é saber ouvirde

Fátima AlbuquerqueFilipa Barreto

Maria João Constantino

DirecçãoRita Maia e Silva

Associação Educativa para o Desenvolvimento da Criatividade

Lisboa, 15 de Julho de 2008

TextoFátima Albuquerque

Filipa BarretoMaria João Constantino

DirecçãoRita Maia e Silva

Cenografia Vestuário

IluminaçãoFátima Albuquerque

Filipa BarretoMaria João Constantino

Música

Sonata em Dó Maior, K309, de Mozart

Actores

Por ordem de apresentação:

Contadora/Governanta: Fátima Albuquerque

Rosa: Filipa Barreto

Mozart: Maria João Constantino

O piano ocupa o centro da enorme sala sobriamente decorada. Pela janela alta, ornada por pesados e enfadonhos cortinados de veludo negro, os raios de sol atravessam o espaço vazio e incidem sobre a frágil e juvenil figura feminina que permanece inclinada sobre o teclado.

Rosa: Mestre… este acorde não me apraz… não me deleita…Não o vou tocar!

Mozart (com voz suave e ar gentil):Menina Rosa, peço-lhe que repita o acorde…

Rosa (olhar penetrante e desafiador):Sim Mestre…(a jovem aluna reinicia a interpretação musical, mas erra deliberadamente)

Mozart: -Concentração, concentração menina Rosa … (pousa suavemente a mão no ombro da aluna e olha de soslaio a governanta que distraidamente observa a rua)

-Sinta a música no seu íntimo… (baixa a voz, sussurrando para não ser ouvido).

Rosa (obediente e servil): Sim Mestre, vou repetir.

Mozart: Incorrecto!!! Incorrecto… (aproxima-se de novo da aluna)

(ao grito do mestre a governanta que fazia olhares melosos ao vendedor da esquina assusta-se e quase cai pela janela aberta; depois, senta-se numa cadeira e lê um livro)

Mozart: (aproxima-se de novo da aluna)

Siga atentamente a pauta, observe a harmonia da frase musical… a música é fluida, intensa e tem uma mensagem…

Rosa: Que mensagem Mestre? (pestaneja intencionalmente e interroga com falsa ingenuidade)

Mozart: (hesitante e tentando ser ouvido apenas por Rosa)

-Uma mensagem de … afecto, de ternura partilhada…de união plena de duas almas…

Escute, o essencial é saber ouvir! Sinta a suavidade destas notas (agarra as mãos da jovem e beija-as repetidamente com a complacência da jovem aluna)

-zzzz… zzz.. Zzz…(ressona a governanta)

Rosa: Mestre… Essa música é tãooo intensa… tãooo melodiosa… assemelha-se a uma sonata…

Mozart: Uma sonata menina Rosa? Permite-me homenageá-la com uma singela sonata?

(Rosa aquiesce com o olhar à solicitação do Mestre)

O vosso olhar inspira-me…

(senta-se ao piano e compenetrado começa a compor, ignorando por completo a jovem aluna).

            A Sonata em Dó Maior, K309 foi composta em Mannheim, em

Outubro e Novembro de 1777, e dedicada a uma aluna de Mozart,

Rosa Cannabich,

Esta sonata e a Sonata em Ré Maior, K284, designada por Sonata Dürnitz são consideradas como as

primeiras peças musicais escritas especificamente para piano.