XX Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 1 MONITORAMENTO QUANTITATIVO COMO INSTRUMENTO DE GESTÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS SUPERFICIAS NO DISTRITO FEDERAL, TENDO O GEOPROCESSAMENTO COMO FERRAMENTA DE SUPORTE Welber F. Alves 1 *, Camila A. Campos 2 e Fabiana F. Xavier 3 Resumo - Este trabalho tem como objetivo evidenciar a importância de um monitoramento sistemático dos recursos hídricos, utilizando dados quantitativos obtidos por estações hidrometeorológicas distribuídas em todo território do Distrito Federal, e associando-os com características naturais da região bem como com o uso do solo. O estudo demonstra diferenças em relação às vazões dos rios do Distrito Federal. A maior parte das Unidades Hidrológicas (UH), como pôde ser percebido com a correlação dos dados hidrológicos e cartográficos (geoprocessamento), encontra-se em situação de alerta ou crítica em relação à quantidade de água, o que pode ser atribuído tanto aos longos períodos de seca, marcantes na região, quanto pela demanda bem próxima ou acima da vazão disponível para uso em algumas UHs. A irrigação por pivô central mostrou-se um fator de grande impacto na UH Jardim, localizada na bacia do Rio Preto, onde foi feito um estudo de caso que pode ser generalizado para grande área agrícola do Distrito Federal. As vazões tímidas identificadas nos rios do território do Distrito Federal, associadas à demanda por água têm provocado um cenário de alerta, fazendo com que o monitoramento seja imprescindível para acompanhamento e apoio às tomadas de decisão pelos órgãos gestores. Palavras-chave: monitoramento, recursos hídricos, geoprocessamento QUANTITATIVE MONITORING AS AN INSTRUMENT FOR SURFACE WATERS MANAGEMENT IN THE DISTRITO FEDERAL, MAKING USE OF GEOPROCESSING AS A SUPPORTING TOOL Abstract – This paper aims to highlight the importance of systematic monitoring of water resources, using quantitative data obtained by hydrometeorological stations distributed throughout the territory of the Distrito Federal, and associating them with the natural characteristics of the region as well as land use. The study demonstrates differences among river flow in the Distrito Federal. Most Hydrologic Units (HU), as can be seen with the correlation of hydrologic data and mapping using GIS, is on alert or critical about the amount of water, which can be attributed to the long periods of drought, striking in the region, as well as by demand near or above the flow available for use in some HUs. The center pivot irrigation showed a factor of major impact on HU Jardim, located on the Rio Preto basin, where it made a case study that can be generalized to large agricultural area of the Distrito Federal. The shy flows identified in the Distrito Federal’s rivers associated with the high demand for water has caused a warning scenario. All this makes the monitoring an essential tool to support decisions by the management agencies. Key-words: monitoring, water, geoprocessing 1 Especialista em Geoprocessamento, regulador de serviços públicos da Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento Básico do Distrito Federal, Brasília, [email protected]2 Bióloga, reguladora de serviços públicos da Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento Básico do Distrito Federal, Brasília, [email protected]3 Administradora, colaboradora da Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento Básico do Distrito Federal, Brasília, [email protected]
Text of Monitoramento quantitativo como instrumento
1. XX Simpsio Brasileiro de Recursos Hdricos 1 MONITORAMENTO
QUANTITATIVO COMO INSTRUMENTO DE GESTO DOS RECURSOS HDRICOS
SUPERFICIAS NO DISTRITO FEDERAL, TENDO O GEOPROCESSAMENTO COMO
FERRAMENTA DE SUPORTE Welber F. Alves 1*, Camila A. Campos2 e
Fabiana F. Xavier 3 Resumo - Este trabalho tem como objetivo
evidenciar a importncia de um monitoramento sistemtico dos recursos
hdricos, utilizando dados quantitativos obtidos por estaes
hidrometeorolgicas distribudas em todo territrio do Distrito
Federal, e associando-os com caractersticas naturais da regio bem
como com o uso do solo. O estudo demonstra diferenas em relao s
vazes dos rios do Distrito Federal. A maior parte das Unidades
Hidrolgicas (UH), como pde ser percebido com a correlao dos dados
hidrolgicos e cartogrficos (geoprocessamento), encontra-se em
situao de alerta ou crtica em relao quantidade de gua, o que pode
ser atribudo tanto aos longos perodos de seca, marcantes na regio,
quanto pela demanda bem prxima ou acima da vazo disponvel para uso
em algumas UHs. A irrigao por piv central mostrou-se um fator de
grande impacto na UH Jardim, localizada na bacia do Rio Preto, onde
foi feito um estudo de caso que pode ser generalizado para grande
rea agrcola do Distrito Federal. As vazes tmidas identificadas nos
rios do territrio do Distrito Federal, associadas demanda por gua
tm provocado um cenrio de alerta, fazendo com que o monitoramento
seja imprescindvel para acompanhamento e apoio s tomadas de deciso
pelos rgos gestores. Palavras-chave: monitoramento, recursos
hdricos, geoprocessamento QUANTITATIVE MONITORING AS AN INSTRUMENT
FOR SURFACE WATERS MANAGEMENT IN THE DISTRITO FEDERAL, MAKING USE
OF GEOPROCESSING AS A SUPPORTING TOOL Abstract This paper aims to
highlight the importance of systematic monitoring of water
resources, using quantitative data obtained by hydrometeorological
stations distributed throughout the territory of the Distrito
Federal, and associating them with the natural characteristics of
the region as well as land use. The study demonstrates differences
among river flow in the Distrito Federal. Most Hydrologic Units
(HU), as can be seen with the correlation of hydrologic data and
mapping using GIS, is on alert or critical about the amount of
water, which can be attributed to the long periods of drought,
striking in the region, as well as by demand near or above the flow
available for use in some HUs. The center pivot irrigation showed a
factor of major impact on HU Jardim, located on the Rio Preto
basin, where it made a case study that can be generalized to large
agricultural area of the Distrito Federal. The shy flows identified
in the Distrito Federals rivers associated with the high demand for
water has caused a warning scenario. All this makes the monitoring
an essential tool to support decisions by the management agencies.
Key-words: monitoring, water, geoprocessing 1 Especialista em
Geoprocessamento, regulador de servios pblicos da Agncia Reguladora
de guas, Energia e Saneamento Bsico do Distrito Federal, Braslia,
[email protected] 2 Biloga, reguladora de servios
pblicos da Agncia Reguladora de guas, Energia e Saneamento Bsico do
Distrito Federal, Braslia, [email protected] 3
Administradora, colaboradora da Agncia Reguladora de guas, Energia
e Saneamento Bsico do Distrito Federal, Braslia,
[email protected]
2. XX Simpsio Brasileiro de Recursos Hdricos 2 INTRODUO E
JUSTIFICAO DO TEMA O Distrito Federal (DF) localiza-se na regio do
Planalto Central, drenado por cursos dgua pertencentes a trs das
mais importantes bacias hidrogrficas brasileiras: So Francisco (Rio
Preto), Tocantins/Araguaia (Rio Maranho) e Paran (Rios So
Bartolomeu e Descoberto). Por situar-se em uma regio de cabeceira,
os rios do DF apresentam baixas vazes, caracterstica acentuada nos
perodos de seca. A populao do DF vem apresentando incremento ao
longo dos anos, contando hoje com cerca de 2,6 milhes de habitantes
e esse crescimento urbano vem acompanhado pelo aumento na demanda
de recursos hdricos. Entretanto, a ocupao territorial d-se de
maneira no homognea, havendo grandes diferenas com relao ao uso e
ocupao do solo e, consequentemente, a quantidade de gua das
diversas pores do territrio. Por se tratar de um recurso natural
limitado e fundamental vida, imprescindvel, por parte dos rgos
gestores, a realizao do monitoramento constante da situao dos
recursos hdricos, papel este desempenhado pela ADASA Agncia
Reguladora de guas, Energia e Saneamento Bsico do Distrito Federal.
O presente trabalho apresenta alguns resultados gerados a partir do
monitoramento dos recursos hdricos do Distrito Federal. Tal tema
extremamente relevante, haja vista os impactos sociais, econmicos e
ecolgicos provocados pelo uso da gua. 1. OBJETIVO E METODOS O
objetivo deste trabalho demonstrar os resultados encontrados pelo
monitoramento quantitativo dos recursos hdricos relacionando-os com
caractersticas de ocupao do solo e uso da gua no Distrito Federal,
e evidenciar a importancia do geoprocessamento como ferramenta de
apoio para a correlao e o tratamento dos dados. A rea de estudo em
questo o Distrito Federal, poro do territrio brasileiro de
aproximadamente 5.814Km onde se localiza a capital do pas, Braslia,
e regio de grande importncia hidrolgica, uma vez que, como divisor
de guas, contribui para a formao de grandes bacias hidrogrficas
nacionais. As estaes de monitoramento operadas pela ADASA e
utilizadas para este trabalho apresentam a estrutura conforme
demonstrado na Figura 1. Rede de Monitoramento da ADASA 42 estaes
completas: pluviomtricas, fluviomtricas e de qualidade de gua 2
estaes pluviomtricas 5 estaes de qualidade de gua Tipos de estaes
Vazo (mdia, mnima e mxima), curva de descarga, nvel da gua,
pluviosidade, 25 parmetros de qualidade, IQA Dados gerados
Pluviosidade IQA Figura 1: Esquema de monitoramento das guas
superficiais do Distrito Federal As estaes, em sua maioria, esto
localizadas em pontos de controle no exutrio de micro- bacias
(Unidades Hidrolgicas UH), de modo a orientar a gesto dos recursos
hdricos em cada uma delas. O DF composto por 40 UHs, inseridas em 7
(sete) bacias. Das 40 (quarenta) UHs, 26 (vinte e seis) so
monitoradas pela ADASA, enquanto as demais so contempladas por
estaes de
3. XX Simpsio Brasileiro de Recursos Hdricos 3 monitoramento
pertencentes Companhia de Saneamento Ambiental do DF (CAESB) e
cujos dados foram fornecidos ADASA. Na Figura 2 possvel visualizar
a localizao das estaes de monitoramento da ADASA no territrio do DF
e a diviso em Unidades Hidrolgicas. Figura 2: Mapa da rede de
monitoramento do Distrito Federal operada pela ADASA Todos os dados
quantitativos (vazo, curva de descarga, nvel da gua, pluviosidade)
foram obtidos por sensores automticos, medio de campo ou leituras
feitas por observadores e, em seguida, armazenados em um banco de
dados. Dentre os dados de vazo foram construdas curvas, para cada
estao, das mdias das vazes mnimas mensais que foram comparadas com
as mdias das mnimas mensais histricas utilizadas como referncia no
Plano de Gerenciamento Integrado de Recursos Hdricos do Distrito
Federal (PGIRH, 2012). Alm disso, uma curva de vazo remanescente
foi considerada como o volume mnimo a ser mantido no corpo hdrico,
correspondente a 20% da mdia das vazes mnimas mensais. Comparando
as curvas, as Unidades Hidrolgicas foram classificadas como: 1
Crtica, quando a curva da vazo observada ultrapassa o limite mnimo
da vazo remanescente; 2 Alerta, quando a curva da vazo observada
encontra-se abaixo da curva das mnimas histricas e 3 Boa, quando a
curva da vazo observada encontra-se coincidente ou acima da curva
da mdia das mnimas histricas. Um estudo especfico foi realizado na
Unidade Hidrolgica do rio Jardim, com enfoque na questo de
quantidade de gua. A UH do Rio Jardim localiza-se na Bacia do Rio
Preto e predominantemente agrcola, sendo notvel o aumento da
irrigao por mtodo de piv central. Neste estudo foram identificadas,
por meio de imagens de satlite obtidas no Google Earth, as reas
irrigadas por piv. Tambm, com base no banco de dados da ADASA, foi
verificada a quantidade de gua outorgada para esta bacia. Um
comparativo entre os valores estimados e os valores outorgados foi
realizado. As informaes dos bancos de dados, somadas a informaes
cartogrficas, tais como rios e Unidades Hidrolgicas, foram
sistematizadas e georreferenciadas com o auxlio do software ArcGis
v.10 a partir do qual foram relacionados os dados e gerados mapas
de quantidade de gua, disponibilidade hdrica e pivs da bacia do Rio
Jardim. Grficos e tabelas foram gerados utilizando o Microsoft
Excel 2010. Com a finalidade de aperfeioar o planejamento das aes
relacionadas aos recursos hdricos
4. XX Simpsio Brasileiro de Recursos Hdricos 4 do Distrito
Federal, a ADASA solicitou um estudo da situao dos recursos, bem
como sua demanda e ocupao do solo. Deste estudo foi lanado o Plano
de Gerenciamento Integrado de Recursos Hdricos do Distrito Federal
(PGIRH, 2012), um trabalho que contm uma gama de informaes
sistematizadas com a finalidade de nortear o uso e o controle dos
recursos hdricos no Distrito Federal. Deste trabalho foram
utilizados dados de uso e ocupao do solo, assim como valores
histricos de vazes dos rios e projees futuras para as Unidades
Hidrolgicas. 2. PRINCIPAIS RESULTADOS E CONTRIBUTOS Os resultados
encontrados demostram diferenas em relao s vazes dos rios do
Distrito Federal. A anlise das curvas de vazo permitiu identificar
6 (seis) UHs em situao de criticidade e 20 UHs em situao de alerta.
Isto significa que 65% das micro-bacias consideradas enfrentam
algum problema em relao disponibilidade hdrica (Figura 3). Pode ser
observado que a poro leste do DF que, em geral, apresenta maiores
problemas. Na Figura 4 podem ser verificadas as vazes (mdias)
tmidas dos rios distritais, situando-se na faixa de 0,1 m/s a 3,9
m/s. Os trs rios principais do Distrito Federal So Bartolomeu,
Preto e Descoberto so os que possuem as maiores vazes. Figura 3:
Disponibilidade Hdrica nas Unidades Hidrolgicas do Distrito Federal
Figura 4: Vazes mdias dos rios onde h estaes de monitoramento da
ADASA
5. XX Simpsio Brasileiro de Recursos Hdricos 5 O estudo
especfico realizado para UH do Rio Jardim permitiu identificar uma
tendncia que compartilhada por toda a bacia do Rio Preto: a grande
quantidade de rea irrigada pelo mtodo do piv central. No estudo foi
utilizada uma imagem de satlite de 2009, onde se observou 27 pivs
que somam 19 km (Figura 5), nesta bacia de 386 km. Apesar de
representar 5% da rea da regio, esse sistema de irrigao demanda
incrvel quantidade de gua. Ao observar o histrico das estaes
jusante das captaes, pode-se perceber uma significativa variao de
vazes ao longo do tempo, vazes muito altas e extremamente baixas. A
Estao Limeira, a mais antiga da regio (1957), apresenta em seu
histrico vazes de 1,8 m/s at 315 m/s. Assim, em perodos de extrema
seca possvel a ocorrncia de conflitos, principalmente porque no DF
h perodos de at 120 dias sem chuva. Segundo o banco de dados da
ADASA, existem hoje 112 outorgas de captaes de gua superficial
nesta bacia do Rio Jardim e somando os valores outorgados para
estes pontos, tendo como base vazo outorgada por dia e a quantidade
de horas captadas, chega-se ao volume dirio de gua outorgada
correspondente a 35.963 m. Figura 5: Pivs na Unidade Hidrolgica do
Rio Jardim Na Figura 5 pode ser observada a distribuio dos pivs
dentro da UH Jardim, ocupando a maior parte das reas disponveis
para plantio prximas a crregos. Tambm se constata que a maioria
deles localiza-se bem prxima ao exutrio da bacia, regio de maior
volume de gua e ponto de entrega para o Rio Preto. A variao da
pluviosidade observada na UH do Rio Jardim (Figura 6) semelhante ao
observado em todo o DF, com perodos marcantes de chuva e de seca.
0,00 50,00 100,00 150,00 200,00 250,00 300,00 350,00 Mai Jun Jul
Ago Set Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai
Jun 2009 2010 2011 2012 Precipitao(mm) Estao Jardim Preciptao
Acumulada Preciptao Mdia Figura 6: Precipitaes acumulada e mdia na
Bacia do Rio Jardim
6. XX Simpsio Brasileiro de Recursos Hdricos 6 3. DISCUSSO
Braslia tornou-se capital do Brasil na dcada de sessenta, antes
disso a ocupao era muito tmida, no havendo uma populao
significativa na regio. Aps a transferncia da capital do Rio de
Janeiro para o planalto central houve uma estimulao a vinda de
pessoas de diversas partes do pas para apoiar a construo da nova
capital. Em um primeiro momento este crescimento foi ordenado, mas
acabou tornando-se confuso e desordenado, com um aumento crescente
de populao at os dias atuais. Com respeito agricultura, esta foi
estimulada, inclusive com emprstimo de terras em longo prazo e
financiamentos diferenciados (Carneiro, 2007). O Distrito Federal
no possuiu capacidade hidrogrfica compatvel com o crescimento
alavancado, o que pode ser evidenciado pela vazo tmida dos rios da
regio. Por conseguinte, tal crescimento acabou gerando problemas
urbanos diversos, tais como conflitos pelo uso da gua. Com a anlise
dos dados gerados pelo monitoramento da ADASA, e inserindo-os em um
sistema de informaes geogrficas (SIG), possvel identificar alguns
aspectos que chamam a ateno e por isso merecem ateno governamental
e da populao. Um deles com relao ao balano entre as vazes
disponveis e a demanda por gua identificados at o momento, que
aponta para fato de que em algumas regies hidrogrficas do DF j seja
necessrio um olhar mais criterioso em relao quantidade de gua, uma
vez que a demanda encontra-se bem prxima, ou at mesmo acima, do
limite de vazo outorgvel determinada pelo rgo gestor (Figura 3).
Esta condio acaba se acentuando no perodo de seca, o que torna
grave a situao de algumas unidades hidrolgicas e, consequentemente,
de seus usurios. O acompanhamento dos nveis de pluvisosidade
possibilitou traar um perfil de distribuio das chuvas no Distrito
Federal, sendo possvel identificar com clareza os perodos de
criticidade, com secas marcantes de at 4 (quatro) meses de durao
entre junho e setembro e perodos de chuva entre novembro e maro. A
Figura 6 exemplifica, com base na estao Jardim, o padro de
comportamento das chuvas na regio do DF. Com uma srie histrica, que
ainda considerada curta, mas que tende a se tornar cada vez mais
robusta, possvel prever condies adversas e mudanas substanciais que
venham a interferir diretamente na quantidade de gua disponvel
tanto nos compartimentos superficiais quanto subterrneos. No que
tange a quantidade de gua e tomando a irrigao como principal fonte
consumidora (PGIRH/2012), interessante destacar os trabalhos
recentes realizados no Distrito Federal. De acordo com o trabalho
de Sano et. al (2005) corroborando com o estudo de Lima (2000)
possvel constatar um incremento muito grande da expanso por regadio
de piv central. Em 1992 o consumo de gua na agricultura (pivs) foi
estimado em 23,36 milhes de m por ano, j em 2002, com o aumento das
reas irrigadas por piv central, o consumo estimado foi de 40,94
milhes de m por ano (Sano et. al, 2005). Com a atualizao dos dados,
de acordo com o trabalho de Guimares et. al (2012), em 2012 foram
registrados 185 pivs, totalizando uma rea de plantio de 12.000 ha.
Azevedo (1997a, 1997b, 1998) realizou diversos testes no DF com o
cultivo de trigo, cevada, milho e feijo, culturas predominantes na
regio, buscando obter os valores demandados por cada cultura. Sano
et. al (2005), de posse desses dados, chegou a um valor mdio
demandado de 500 mm por safra no perodo de seca e 100 mm por safra
no perodo de cheia, levando em conta 20 dias de veranico. Fazendo
as correes necessrias de valores e unidades, pde-se chegar a um
ndice de referncia de 6.000 m/ha/ano, ou seja, tomando toda a rea
coberta por pivs do DF totaliza-se 72 milhes de m de gua necessrios
por ano, uma quantia muita elevada. Devido ao histrico de ocupao do
solo no Distrito Federal e ao fato de o Rio Preto ser um rio bem
caudaloso em relao aos demais rios do estado, a regio abrangida
pela bacia do Preto
7. XX Simpsio Brasileiro de Recursos Hdricos 7 tornou-se uma
regio voltada para agricultura e nesses termos tem logrado muito
xito. No entanto, como citado acima, a regio em questo tem sofrido
um grande acrscimo na quantidade de reas plantveis, principalmente
utilizando o piv central como mtodo de irrigao, e isso tem gerado
um crescimento muito acelerado na procura e no consumo de gua. Como
pode ser visto na Figura 3 a maior parte desta bacia j se encontra
em situao de alerta. Tal situao fatalmente trar consequncias
negativas, seja para os agricultores que praticam o plantio
convencional ou para os prprios usurios de pivs que se localizarem
mais jusante da bacia. Tomando como referncia uma das Unidades
Hidrolgicas mais povoadas por pivs, a UH Jardim, chegou-se a uma
srie de observaes importantes. Basicamente composta de reas
destinadas a plantaes, e com grande quantidade de pivs, possvel
identificar na UH Jardim, por meio de uma imagem satlite datada de
2009, 27 pivs, totalizando 1.900,00 hectares (Figura 5). Utilizando
os apontamentos feitos por Azevedo (1997a, 1997b, 1998) chegou-se
ao valor de 18,89 milhes de m de gua demandada, isto , em 2009, o
volume demandado somente por uma UH foi prximo a todo o valor
demandado em 1992 na irrigao por piv central em todo DF. tambm
surpreendente verificar que esta quantidade de gua demandada para
irrigao em uma micro bacia se equivale ao volume somado utilizado
para abastecimento humano de duas regies administrativas,
componentes do Distrito Federal: Gama e de Sobradinho (PGIRH/2012).
Levando em conta esse crescente consumo de gua, verificou-se um
percentual cada vez maior de reas irrigadas por piv central no
Distrito Federal, sendo de 76 km em 2006 e 108,3 km em 2011(PGIRH,
2012). Segundo Alves (2003) em 2003 quase 40% dos irrigantes
utilizavam o piv central como tcnica de irrigao e o mais
impressionante, representavam 84% por cento da rea irrigada do
Distrito Federal. No banco de dados da ADASA (Agncia Reguladora de
guas, Energia e Saneamento Bsico do Distrito Federal), foram
identificados os valores da Tabela 1 referentes razo demandada
total/vazo outorgada ms a ms na UH Jardim. Pode-se verificar que
nos meses de julho a outubro, extenso perodo de seca em Braslia, a
demanda aproxima-se muito da vazo outorgvel, o que demostra uma
situao de alerta no cenrio atual e principalmente futuro. Tabela 1:
Razo Demanda Total/Vazo Outorgvel na UH Jardim Jan Fev Mar Abr Mai
Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Demanda Total/Vazo Outorgvel (%) 0,02
0,09 0,07 0,26 0,47 0,58 0,68 0,81 0,87 0,77 0,08 0,02 A Estao
Limeira, a mais antiga da regio, desde 1957, apresenta em seu
histrico vazes de 1,8 m/s at 315 m/s. Tal discrepncia revalida
ainda mais a necessidade de um controle efetivo dos recursos
hdricos, tanto para controlar a demanda da sociedade, como para
mediar os possveis conflitos. Outro instrumento de gesto
fundamental o controle de outorgas emitidas para captao de gua.
Avaliando as outorgas emitidas a usurios da UH Jardim, atualizados
em 2012, chega-se a um valor demandado de 12,9 milhes de m de gua.
Assim, analisando os valores de vazo, podemos ver na srie histrica
ndices muito baixos, como em julho de 2003 que registrou 1,8 m/s.
Desta forma simples observar que na rea em questo a demanda s tende
a crescer, enquanto a disponibilidade hdrica inconstante. Sendo
assim, torna-se fundamental a continuidade da ao de monitoramento.
4. CONCLUSES
8. XX Simpsio Brasileiro de Recursos Hdricos 8 Os resultados
demonstram a importncia de uma rede de monitoramento bem
estruturada, onde h a possibilidade de acompanhamento da situao dos
recursos hdricos e tomadas de deciso especficas para cada Unidade
Hidrolgica do Distrito Federal. Ficam ntidas as diferenas de vazes
e de quantidade de gua em decorrncia de atividades que so
desenvolvidas pela sociedade tais como a regionalizao da
agricultura, com suas tcnicas de irrigao, e da ocupao urbana com
todos os problemas a ela associados. Um banco de dados robusto,
somado a ferramentas de geoprocessamento e gesto de recursos
hdricos, permite a tomada de decises voltadas para garantir gua em
abundncia para esta e as futuras geraes, papel fundamental de uma
agncia gestora de recursos hdricos. 5. AGRADECIMENTOS Agradecemos
ADASA, aos funcionrios das empresas contratadas para operao e
manuteno da rede de monitoramento e concessionria CAESB pelo
fornecimento de dados de suas estaes. REFERNCIAS AZEVEDO, J. A.
Nveis de tenso de gua no solo e suspenso da irrigao em trs perodos
de crescimento do trigo irrigado em solo de cerrado: efeito sobre a
produtividade, componentes de produo, desenvolvimento e uso de gua.
1988. 157 f. Tese (Doutorado em Solos e Nutrio de Plantas) - Escola
Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, Piracicaba, 1988. AZEVEDO,
J.A., DOLABELLA, R.H.C., PEIXOTO, J.V.B., SILVA, E.M. Manejo da
irrigao usando-se tensimetros e curva de reteno de gua em feijo
irrigado por asperso. Planaltina: Embrapa - Centro de Pesquisa
Agropecuria dos Cerrados, 1997b. p.102-4. (Relatrio Tcnico Anual do
Centro de Pesquisa Agropecuria dos Cerrados 1991-1995). AZEVEDO,
J.A., SILVA, D.B., ANDRADE, J.M.V., ANDRADE, L.M. Aplicao da
tensiometria no manejo de gua de irrigao em lavoura de trigo
irrigado no Vale do Pamplona. Planaltina: Embrapa - Centro de
Pesquisa Agropecuria dos Cerrados, 1997a. p.106-8. (Relatrio Tcnico
Anual do Centro de Pesquisa Agropecuria dos Cerrados 1991-1995).
AZEVEDO, J.A., SILVA, E.M., BREDA, C.E., FIGUEREDO, S.F. Uso de
tensimetros e curva de reteno de gua no manejo da irrigao do feijo
em solo arenoso de Barreiras-BA. Planaltina: Embrapa - Centro de
Pesquisa Agropecuria dos Cerrados, 1997c. p.112-14. (Relatrio
Tcnico Anual do Centro de Pesquisa Agropecuria dos Cerrados
1991-1995). CARNEIRO, P. J. R. et. al. Evoluo do Uso da gua na
Bacia do Rio Preto no Distrito Federal. Espao & Geografia,
Vol.10, N 2 (2007), 325:353. GOVERNO DO DISTRITO FEDERAL, Reviso e
Atualizao do Plano de Gerenciamento Integrado de Recursos Hdricos
do Distrito Federal PGIRH/DF. Vol I e II. Braslia, 2012. GUIMARAES,
D. P., SOUZA, A. O., MARTINS, R. F., Crescimento da agricultura
irrigada por piv central no Distrito Federal. In: CONGRESSO
NACIONAL DE MEIO AMBIENTE DE POOS DE CALDAS, 9., 2012, Poos de
Caldas. Como a tecnologia pode auxiliar na preservao do meio
ambiente: anais. Poos de Caldas: GSC, 2012. LIMA, J.E.F.W.
Determinao e simulao da evapotranspirao de uma bacia hidrogrfica do
Cerrado. 2000. 75 f. Dissertao (Mestrado em Irrigao e
Agroambientes) Universidade de Braslia, Braslia, 2000. SANO, E.,
LIMA, J.E.F.W., SILVA, E.M., OLIVEIRA, E.C., Estimativa da variao
na demanda de gua para irrigao por piv-central no Distrito Federal
entre 1992 e 2002. Eng. Agrc., Jaboticabal, v. 25, n. 2, Aug. 2005.
p. 508-515.