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PISCICULTURA: moda ou atividade econômica Para muitos, até mesmo dirigentes de órgãos e agentes de desenvolvimento, cai no absurdo pensar em criar peixes no Amazonas. Afirmam que a natureza aí está, pronta para nos prover da quantidade de pescado que quisermos, bastando evitar a pesca predatória. Exageros a parte, de fato não estão de todo errados. Se conseguíssemos eliminar a pesca predatória e administrássemos os nossos recursos pesqueiros de forma racional, obedecendo-se o período de defeso e houvesse manejo planejado de nossas espécies comerciais teríamos abundancia de pescado e o abastecimento de Manaus seria facilitado pela oferta de peixes brancos. Os exemplos estão a nos mostrar que isso é racional e possível. Centenas de pirarucus, espécie ameaçada de extinção, estão sendo pescados, com autorização do IBAMA, dos lagos de Fonte Boa e Maraã, representando mais de 100 toneladas de carne de excelente qualidade, que poderão contribuir com a melhoria da qualidade de vida daqueles ribeirinhos desde que seja autorizada a despesca em cotas mensais e comercializadas criteriosamente. Dessa forma o preço ficaria estabilizado e não aviltado para baixo como vem ocorrendo pelo excesso concentrado da produção. O manejo responsável não significa que inviabilizaremos a piscicultura. Além do mais, preservar parece ser utopia nesta Região. Não acreditamos nisso no curto prazo. Temos que educar o povo começando pelas escolas, as novas gerações. Ninguém desconhece que algumas espécies estão se tornando mais difíceis de serem encontradas. O Tambaqui que chegava a pesar mais de 30 quilos, hoje dificilmente passa de “ruelo”. Criar peixe não é novidade para ninguém, entretanto criar peixes no Amazonas significa esquecer o que os nordestinos estão fazendo e desenvolver a nossa própria tecnologia. Trabalhar com as nossas potencialidades e alternativas. Em 1985 quando deixei a Coordenadoria da Superintendência da Pesca no Amazonas - SUDEPE, publiquei o livro A PESCA

Piscicultura

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Page 1: Piscicultura

PISCICULTURA: moda ou atividade econômica

Para muitos, até mesmo dirigentes de órgãos e agentes de

desenvolvimento, cai no absurdo pensar em criar peixes no

Amazonas. Afirmam que a natureza aí está, pronta para nos

prover da quantidade de pescado que quisermos, bastando

evitar a pesca predatória. Exageros a parte, de fato não estão de

todo errados. Se conseguíssemos eliminar a pesca predatória e

administrássemos os nossos recursos pesqueiros de forma

racional, obedecendo-se o período de defeso e houvesse manejo

planejado de nossas espécies comerciais teríamos abundancia de

pescado e o abastecimento de Manaus seria facilitado pela oferta

de peixes brancos. Os exemplos estão a nos mostrar que isso é

racional e possível. Centenas de pirarucus, espécie ameaçada

de extinção, estão sendo pescados, com autorização do IBAMA,

dos lagos de Fonte Boa e Maraã, representando mais de 100

toneladas de carne de excelente qualidade, que poderão

contribuir com a melhoria da qualidade de vida daqueles

ribeirinhos desde que seja autorizada a despesca em cotas

mensais e comercializadas criteriosamente. Dessa forma o preço

ficaria estabilizado e não aviltado para baixo como vem

ocorrendo pelo excesso concentrado da produção.

O manejo responsável não significa que inviabilizaremos a

piscicultura. Além do mais, preservar parece ser utopia nesta

Região. Não acreditamos nisso no curto prazo. Temos que

educar o povo começando pelas escolas, as novas gerações.

Ninguém desconhece que algumas espécies estão se tornando

mais difíceis de serem encontradas. O Tambaqui que chegava a

pesar mais de 30 quilos, hoje dificilmente passa de “ruelo”.

Criar peixe não é novidade para ninguém, entretanto criar

peixes no Amazonas significa esquecer o que os nordestinos

estão fazendo e desenvolver a nossa própria tecnologia.

Trabalhar com as nossas potencialidades e alternativas.

Em 1985 quando deixei a Coordenadoria da Superintendência

da Pesca no Amazonas - SUDEPE, publiquei o livro A PESCA

Page 2: Piscicultura

NO AMAZONAS: Problemas e Soluções, onde elegi os nossos

principais problemas e ousei apresentar algumas soluções. Vejo

que além de não resolvermos esses problemas, deixamos que

eles se agravassem. Sugeríamos que para implantarmos a

piscicultura no Estado, como atividade com resultados

econômicos, deveríamos:

1. Definir as espécies. Matrinxã, Tambaqui e Pirarucu;

2. Apoiar a Estação de Piscicultura de Balbina e implantar

pequenas unidades de alevinagem no interior do Estado,

para fornecimento aos piscicultores;

3. Crédito subsidiados nas condições do Pro-calcáreo, para

investimentos e custeio, direcionados para pequenos

projetos em igarapés ou gaiolas. Os grandes produtores,

aqueles que usariam tanques escavados ou açudes,

buscariam recursos do FNO em razão dos encargos

financeiros também reduzidos, bem abaixo das demais

linhas de crédito para financiamentos e bem próximos aos

abrigados pelo FMPES-Rural. A produção de Tambaqui-

Curumim em gaiolas deve ser acompanhada por uma

busca constante de mercado. Não deve ficar a mercê de

apenas um fornecedor de alimentação para as industrias

do PIM ou para reforço da merenda escolar. Quanto a

utilização de igarapés, principalmente para criação de

matrinxãs, me parece, pelo seu reduzido custo de

implantação, sob medida para os micro produtores. A

AFEAM está acreditando nessas duas alternativas e está

acompanhando alguns produtores já financiados que

servirão de parâmetros para futuros financiamentos;

4. Avaliar criteriosamente os grandes projetos,

principalmente para cultivo de Pirarucu. Com o manejo

dos lagos e a proibição da pesca, o preço do pirarucu,

praticado pelos frigoríficos não remunera a atividade,

tornando-a sem capacidade de pagamento, até porque não

existe consumo considerado entre os amazonenses de

Pirarucu e a busca de mercado externo não tem

Page 3: Piscicultura

apresentado resultados significativos. Somos péssimos

vendedores de nossas riquezas naturais. O exemplo da

comercialização dos peixes de Fonte Boa, autorizados pelo

IBAMA, foi triste e desanimadora, ter o Estado que

subsidiar o preço de compra de pirarucu desestimula

qualquer investimento.

Com a experiência que acumulamos no setor primário, na

Prefeitura de Urucará, no BASA e agora na AFEAM, estamos

em condições de sabermos distinguir entre aqueles que querem

criar peixes como empresários, com objetivos econômicos,

buscando o lucro e aqueles que querem os recursos para

melhorar seus sítios, suas chácaras, onde passam o final de

semana e se divertem jogando pão para atiçar os peixes e

impressionar os convidados.

Criar peixes com seriedade e profissionalismo, com certeza pode

ser uma excelente opção para se ganhar dinheiro e “pagar os

financiamentos”, de outra forma estaremos contribuindo para

criarmos junto aos agentes financeiros uma verdadeira ojeriza a

essa atividade.

Pedro Falabella, é economista, ex-prefeito de Urucará em cinco

mandatos e atual presidente da AFEAM. Autor do livro A

Pesca no Amazonas:Problemas e Soluções.