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Encontro regional de agroecologia amazônico
Ufma/ccaa – chapadinha/MA
Cartilha de textos pré-era
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Agroecologia como Resposta aos Desafios do
Campesinato
Construtores do ERA Amazônico
Chapadinha/MA
2014
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―Ordem e progresso‖
Zé Pinto
Esse é o nosso país
Essa é a nossa bandeira
É por amor a essa pátria Brasil
Que a gente segue em fileira
Queremos mais felicidades
No céu deste olhar cor de anil
No verde esperança sem fogo
Bandeira que o povo assumiu
No verde esperança sem fogo
Bandeira que o povo assumiu
Amarelos são os campos floridos
As faces agora rosadas
Se o branco da paz se irradia
Vitória das mãos calejadas
Se o branco da paz se irradia
Vitória das mãos calejadas
Esse é o nosso país
Essa é a nossa bandeira
É por amor a essa pátria Brasil
Que a gente segue em fileira
Queremos que abrace essa terra
Por ela quem sente paixão
Quem põe com carinho a semente
Pra alimentar a nação
Quem põe com carinho a semente
Pra alimentar a nação
A ordem é ninguém passar fome
Progresso é o povo feliz
A Reforma Agrária é a volta
Do agricultor à raiz
A Reforma Agrária é a volta
Do agricultor à raiz
Esse é o nosso país
Essa é a nossa bandeira
É por amor a essa pátria Brasil
Que a gente segue em fileira
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Apresentação.............................................................................................................05 Construtores do ERA ................................................................................................06 ABEEF ........................................................................................................................06 ENEBio........................................................................................................................06 FEAB ..........................................................................................................................08 LPJ ..............................................................................................................................08 MST.............................................................................................................................09 Informações importantes .........................................................................................11 Grade do I ERA Amazônico – Chapadinha/ Ma .....................................................12 Dia a dia no ERA .......................................................................................................13 Pré – ERA’s .................................................................................................................19 Textos para os pré-ERA’s ..........................................................................................26 A necessidade da ressignificação da relação sociedade/natureza e a proposta e a agroecologia.............................................................................................................26 Falta de estrutura e possibilidade faz com que jovens abandonem o campo .......35 Uma visão sobre Educação do Campo no contexto da realidade brasileira..........37 Movimentos sociais consideram Política Nacional de Agroecologia insuficiente.40 Por que a tecnologia não chega no campo?.............................................................42 Agroecologia versus tecnologia: verdade ou mito?.................................................44 Orgânico X Agroecológico, você sabe a diferença?.................................................45 Um inferno siderúrgico na Amazônia .....................................................................48 Lutadoras do campo..................................................................................................50 Sugestões complementares para o aprofundamento do estudo............................52 O que é ser maranhense? .........................................................................................54 Contatos da comissão organizadora ........................................................................55
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APRESENTAÇÃO
O Encontro Regional de Agroecologia (ERA) é um ambiente de inserção no debate sobre
agroecologia, pensado inicialmente para os estudantes dos cursos das agrárias, mas que no
decorrer de sua história vem se reinventando e atraindo novos sujeitos para essa construção.
Para o nosso I ERA Amazônico além da participação da FEAB, ENEBio e ABEEF teremos
também uma atuação mais próxima dos movimentos camponeses pertencentes a Via Campesina
– como o MST e o MAB – e dos(as) Quilombolas maranhenses e das Comunidades Tradicionais.
Tendo como horizonte uma maior interação entre os atores da construção da agroecologia
no Brasil e um fortalecimento dessas organizações, através da aproximação de novas pessoas
interessas em construir esse grande movimento em defesa de nossa natureza e pela soberania
alimentar.
Nesse encontro traremos como temática a ―Agroecologia como Resposta aos Desafios do
Campesinato‖ entendendo que o papel da agroecologia deve ser a ferramenta de enfrentamento
ao agronegócio e a todas as problemáticas que os povos do campo enfrentam em suas
comunidades. E nós, enquanto juventude, temos um papel importante, onde devemos assumir o
posto de protagonistas dessa revolução agroecológica por ser ela quem construirá hoje o que
viveremos no amanhã. Sendo ainda @s jovens personagens importantes na existência de
inúmeras experiências agroecológicas que deram e continuam dando cada vez mais certo na
agricultura hoje.
Dessa forma o encontro trará debates sobre a agroecologia em nosso país e sobre o seu
papel na construção dela, além de como se dá a inserção do povo no campo brasileiro e de como
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ele é explorado e exterminado pelo agronegócio, que aniquila toda a perspectiva de produção e
reprodução de sua vida. Além de tratar sobre o êxodo desse povo, as relações de gênero, acesso
a educação e outros serviços.
Entendendo que a agroecologia é além de uma forma de produção, que junta ciência e
técnica, é também política, dessa maneira trazemos as oficinas e vivências com o intuito de
preparar os encontristas para serem capazes de reproduzir e utilizar em seus locais de inserção
as técnicas agroecológicas. Assim convidamos todos e todas as virem para a nossa querida
Chapadinha, a princesa do Baixo Parnaíba, construir o ERA mais lindo de todos!
Construtores do ERA
Associação Brasileira dos Estudantes de Engenharia Florestal
A Associação Brasileira dos Estudantes de Engenharia Florestal – ABEEF é uma entidade sem fins
lucrativos que organiza e articula @s estudantes de Engenharia
Florestal a nível nacional, regional e local, preocupada com uma
melhor formação técnica, política e ética dos estudantes, para que
estes possam compreender e atuar sobre a realidade social de nosso
país, uma vez que a Universidade nos moldes atuais, cada vez menos
cumpre papel de construção de sujeitos críticos à realidade na qual
estão inseridos. Assim, ao longo de sua história a Associação atuou em
torno do objetivo de construir uma sociedade justa, igualitária, sem
exploradores e explorados e que utilize os recursos naturais de forma
equilibrada, harmônica e sustentável. E esses objetivos se mantém firmes, e definem o horizonte
de trabalho de nossa organização bem como a nossa forma de atuação.
Para isso, a ABEEF tem a universidade como principal área de atuação, entendendo que
todos devem ter direito a uma educação pública, gratuita, autônoma e de qualidade. Mas, e claro,
não enxerga a universidade como uma bolha isolada dentro da sociedade e por isso expande
seus horizontes para além de seus muros. Nesse sentido, a ABEEF vem estreitando laços com os
movimentos sociais populares ligados ao campo, principalmente os que estão inseridos na VIA
campesina (como MST, MAB, etc.), à floresta e à cidade, além de estreitar ainda mais os laços
com outras entidades do Movimento Estudantil.
Executiva Nacional dos Estudantes de Biologia
A ENEBio - Entidade Nacional dos Estudantes
de Biologia, reorganizada em 2007, é composta por
diversas escolas do Brasil e vem durante estes 5
anos construindo o Movimento Estudantil da
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Biologia, colocando em debate os principais problemas que encontramos nesta sociedade, no
meio ambiente e também em nossa formação e educação.
Ela reconhece em sua carta de princípios o desacordo com a exploração do homem pelo
homem e da natureza pelo homem, e bem como qualquer forma de mercantilização de recursos
naturais, pessoas e valores, como acontece no sistema capitalista. Defende a construção da
agroecologia como instrumento de luta, com o intuito de despertar uma nova ética ecológica nos
seres humanos, que priorize valores socialmente justos, ambientalmente seguros e
economicamente viáveis. Reconhece também a luta contra as opressões, seja ela de classe,
origem nacional, gênero, etnia, religião, orientação sexual e política. Luta por uma educação para
tod@s, gratuita, laica, socialmente referenciada e de qualidade, com caráter emancipatório e
transformador e acredita na organização coletiva como forma de superação das contradições
sociais.
A Entidade então se propõe a promover a luta pela superação desse modelo social,
articulando discussões pertinentes à formação do sujeito biólogo, dentro dessa perspectiva, para
que cada vez mais estudantes possam ser protagonistas da transformação que queremos para
nossa sociedade, com visão e posicionamentos políticos críticos a respeito dos fatos do Brasil e
do mundo.
Com o objetivo de fortalecer cada vez mais a troca de experiências e massificar nossas
discussões (proporcionando a construção de novos valores e as relações de companheirismo), a
ENEBio realiza todos os anos Encontros Nacionais e Encontros Regionais de Biologia, ENEB e EREB
respectivamente, onde deliberamos sobre as ações da nossa entidade, como também os
Conselhos Nacionais e Regionais, CONEBio e COREBio respectivamente, onde organizamos e
planejamos nossas atividades ao longo do ano. Além disso, para
instrumentalizar nossa militância, proporcionando uma formação
crítica mais aprofundada sobre temas importantes para
transformação social e alteração do modelo vigente, a ENEBio
realiza Cursos de Formação Política da Biologia (CFPBio) e em
Agroecologia (CFA), organiza os Estágios Interdisciplinares de
Vivência (EIV) em diversos estados.
Necessário ressaltar a importância das parcerias da ENEBio, resultado de uma construção
diária e concreta de lutas e articulações com alguns Movimentos Sociais Populares, em especial
com componentes da Via Campesina, e com outras executivas de curso, como a FEAB (Federação
dos Estudantes de Agronomia do Brasil) e a ABEEF (Associação Brasileira dos Estudantes de
Engenharia Florestal). Essa aproximação mostra uma identificação cada vez maior de nossa
Entidade com as causas populares e o Povo Brasileiro, colocando o papel protagonista que a
juventude tem a cumprir dentro e fora da universidade.
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A ENEBIO representa os estudantes de biologia do Brasil que se identificam com a luta pela
transformação da sociedade, para que vivamos num mundo mais justo e sustentável, com maior
equidade social e onde reconheçamos o ser humano como integrante da natureza e agente
transformador da mesma, e convida a todos e todas as estudantes de biologia de nosso país, a
lutar!
Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil
A FEAB – Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil
– nossa quarentona, tem muita coisa para contar de sua jornada.
Altos e baixos, muita luta travada.
Viemos nesses 40 anos organizando a estudantada,
fazendo formação e realizando lutas. Levantando e balançando as
nossas bandeiras que são: Educação; Gênero e sexualidade;
Agroecologia; Juventude, cultura, valores, raça e etnia; Relações
internacionais; Movimentos sociais populares; Ciência e tecnologia; História e comunicação.
Uma caminhada de mãos dadas com o povo. Rumando a construção de projeto de vida
para o campo brasileiro, construindo a Agroecologia, que traz consigo novas formas de relação
da camponesa e do camponês entre si e com a natureza. Lutando pela soberania alimentar e
social de nossa nação.
Ser militante da FEAB é ser lutador e lutadora do povo. Defendendo diariamente os
interesses da classe trabalhadora e do campesinato. Se transformando em novos homens e novas
mulheres. Ajudando na edificação de uma sociedade sem preconceitos, sem opressões e sem
exploração.
Levante Popular da Juventude
O Levante Popular da Juventude é um movimento social de
jovens militantes voltados para a luta de massas em busca da
transformação social. SOMOS A JUVENTUDE DO PROJETO
POPULAR, e nos propomos a ser o fermento na massa jovem
brasileira. Somos um grupo de jovens que não baixam a cabeça
para as injustiças e desigualdades.
A nossa proposta é organizar a juventude onde quer que
ela esteja. Deste modo, nos organizamos a partir de três campos
de atuação:
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1) no meio estudantil secundarista e universitário;
2) nas periferias dos centros urbanos e:
3) nos setores camponeses.
Nosso principal objetivo é multiplicar grupos de jovens em diferentes territórios e setores
sociais, fazendo experiências de organização, agitação e mobilização.
O Levante organiza a juventude para fazer denúncias à sociedade por meio de ações de
Agitação e Propaganda (agitprop), ou seja, várias técnicas de comunicação e expressão da
juventude com o povo, como músicas, grafismo (graffite), dança, teatro, fanzines, faixas,
adesivos, murais, gritos de luta, etc.
O diferencial do Levante é que não elegemos bandeiras prioritárias, mas nos colocamos ao lado
das mobilizações que reivindicam melhores condições de vida para a juventude brasileira. Num
contexto onde falta quase tudo na vida cotidiana do jovem, nosso método é mostrar que sem a
organização coletiva e luta nenhuma conquista verdadeira é possível.
A perspectiva que o Levante oferece é a possibilidade de estar organizado/a coletivamente
para viver e para lutar. Fora da organização as ações isoladas de um indivíduo, por mais justas
que sejam, não tem sucesso. Portanto, o que o Levante possibilita às pessoas é o reconhecimento
da sua condição de sujeitos e a construção de possibilidades para que estes recuperem a sua
capacidade de intervenção política.
Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Serra
O Movimento Sem Terra está organizado em 24 estados nas cinco regiões do país. No
total, são cerca de 350 mil famílias que conquistaram a terra por meio da luta e da organização
dos trabalhadores rurais.
Mesmo depois de assentadas, estas famílias permanecem organizadas no MST, pois a conquista
da terra é apenas o primeiro passo para a realização da Reforma Agrária. Os latifúndios
desapropriados para assentamentos normalmente possuem poucas benfeitorias e infraestrutura,
como saneamento, energia elétrica, acesso à cultura e lazer. Por isso, as famílias assentadas
seguem organizadas e realizam novas lutas para conquistarem estes direitos básicos.
Com esta dimensão nacional, as famílias assentadas e acampadas organizam-se numa estrutura
participativa e democrática para tomar as decisões no MST. Nos assentamentos e acampamentos,
as famílias organizam-se em núcleos que discutem a produção, a escola, as necessidades de
cada área. Destes núcleos, saem os coordenadores e coordenadoras do assentamento ou do
acampamento. A mesma estrutura se repete em nível regional, estadual e nacional. Um aspecto
importante é que as instâncias de decisão são orientadas para garantir a participação das
mulheres, sempre com dois coordenadores, um homem e uma mulher. E
nas assembleias de acampamentos e assentamentos, todos têm direito a
voto: adultos, jovens, homens e mulheres.
Da mesma forma nas instâncias nacionais, o maior espaço de
decisões do MST é o Congresso que ocorre a cada 5 anos. No mais
recente, o VI Congresso, participaram mais de 14 mil pessoas. É no
Congresso que são definidas as linhas políticas do Movimento para o
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próximo período e avaliado o período anterior. Estas definições são sintetizadas nas palavras de
ordem de cada Congresso e que se estendem para o período seguinte. O VI Congresso Nacional
definiu como linha para este próximo período: ―Lutar, Construir Reforma Agrária Popular!‖. Além
do Congresso, a cada dois anos, o MST realiza seu encontro nacional, onde são avaliadas e
atualizadas as definições deliberadas no Congresso.
Além dos Congressos, Encontros e Coordenações, as famílias também se organizam por setores
para encaminharem tarefas específicas. Setores como Produção, Saúde, Gênero, Comunicação,
Educação, Juventude, Finanças, Direitos Humanos, Relações Internacionais, entre outros, são
organizados desde o nível local até nacionalmente, de acordo com a necessidade e a demanda de
cada assentamento, acampamento ou estado.
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INFORMAÇÕES COMPANHEIR@S
INFORNAÇÕES PARA AS DELEGAÇÕES
-Tirar um chefe da delegação que
será o responsável por fazer o
credenciamento, e será o contato da
brigada com A C.O. (comissão
organizadora);
-Avisar à C.O. o quanto antes a
confirmação da vinda ao ERA;
- Enviar duas pessoas por escola
para o curso de coordenadores data,
25/05 a 27/05.
-Solicitar 200 km a mais no ônibus
para o deslocamento até a vivência;
-proibido o uso de drogas ilícitas
no local do evento.
O que trazer?
-Kit militante (copo, talher e
prato / lençol e colchonete);
-Kit higiene pessoal;
-Barraca, pois teremos camping (mas
para quem não tiver teremos
alojamento em tendas);
-Remédios de uso pessoal;
-Sementes, livros, filmes,
temperos, etc. Para Feira
Agroecológica de Saberes e Sabores
e para o Bumba-Meu-Maranhão;
-Pandeiro, violão, zabumba, latas e
muitos mais instrumentos para fazer
a nossa alegria;
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Grade do I Encontro Regional de Agroecologia Amazônico Universidade Federal do Maranhão | Campus Universitário de Chapadinha
De 28 de maio a 01 de junho de 2014
Grade Dia 28/05
Quarta
Dia 29/05
Quinta
Dia 30/05
Sexta
Dia 31/05
Sábado
Dia 01/06
Domingo
Manhã Chegada /
Credenciamento
Painel I
Painel II/ GD
II
Oficina do
Ato
Vivências
Tarde Chegada /
Credenciamento
GD I Painéis
Paralelos /
Oficinas
Ato Público Plenária final /
Encerramento e
Avaliação
Noite Abertura
Reunião das
Organizações
Feira
Agroecológica
de Saberes e
Sabores
Socialização
do Ato
Bumba-Meu-
Maranhão
Fim de
Noite
Bumba-Meu-
Maranhão
Bumba-Meu-
Maranhão
Bumba-Meu-
Maranhão
Bumba-Meu-
Maranhão
Pega o beco!
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DIA A DIA NO ERA
Manha e tarde: Chegada e credenciamento
Nesse espaço é importante que o chefe de delegação recolha os RG's de toda a
delegação e se encaminhe a Secretaria do ERA para credenciar e receber os kit's dos
encontristas ou então para poder inscrever, credenciar e aí receber os kit's dos
encontristas.
A C.O. encaminhará cada delegação para os alojamentos e para as áreas de camping.
Além de esclarecer quaisquer dúvidas que possam vir a aparecer.
Noite: Abertura, Apresentação das Escolas, divisão das Tribos e Bumba-Meu-Maranhão
Abertura
É o momento que daremos boas vindas oficialmente a todas as delegações. Será também
o momento que sentiremos na pele o poder da mística, pois ela é fundamental para que
possamos estar entrando no ritmo do ERA.
Apresentação das Escolas
Espaço reservado para que as escolas se apresentem a todas as outras que estarão
presentes no ERA. É uma chance de se interagir com a galera.
Tribos
As tribos são grupos menores e servem para que @s encontristas possam se reunir
durante os espaços do encontro, como o Painel I, para poderem debater e aprofundar
mais sobre a temática de cada espaço, além da realização de algumas tarefas inerentes
ao funcionamento do encontro, como alvorada e disciplina. As tribos serão suas famílias
durante o ERA e é com eles que vocês passaram uma parte do tempo. As tribos são muito
importantes para os processos de interação e aprendizagem, pois nelas @s encontristas
estarão em contato com pessoas das mais variadas regiões e saberes. A CO divulgará no
ato do credenciamento como serão divididas as tribos.
Quarta-feira | 28/05
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Bumba-Meu-Maranhão
Com a intenção de homenagear e propagandear o nosso grande e enigmático
Bumba-Meu-Boi, que é um movimento cultural e secular dos povos negros e indígenas
maranhenses, estamos lançando no ERA o Bumba-Meu-Maranhão, que é o momento de
confraternização ao fim das atividades de cada dia.
Este é o espaço de trocas de experiências culturais, onde nós estaremos
apresentando um pouco da cultura regional (Meio-Norte) e maranhense, além de trocar
sementes, livros, filmes, entre outras coisas. Esse é também o espaço onde provaremos a
culinária maranhense e dançaremos do reggae ao cacuriá.
Manhã: Painel I – Agroecologia na Amazônia e o Avanço das Fronteiras Agrícolas
Nesse painel será debatido sobre o avanço que o agronegócio vem dando na
região amazônica e o papel que a agroecologia tem em como um sistema viável de
produção de alimentos saudáveis, que respeita o meio
ambiente e que é fonte de renda às famílias camponesas.
Além de trazer a conjuntura evidenciando onde está e o que
tem feito hoje a juventude do campo e da cidade.
Tarde: GD I
A tarde será dividida em duas. Durante a primeira
parte da tarde haverá um espaço onde as tribos debaterão
os questionamentos e posicionamentos do Painel I.
Já na segunda parte da tarde todas as tribos se juntarão em plenária para socializarmos
com a companheirada todo o debate que foi feito em suas respectivas tribos.
Noite: Reunião das organizações
A reunião das organizações é um momento em que pessoas da mesma
organização, porém de variados Estados e escolas podem se sentar e debater sobre a
situação das organizações e da construção da Agroecologia em seus locais de origem.
Além de tirarem encaminhamentos que possam vir a ajudar na construção das
organizações.
QUINTA-FEIRA | 29/05
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Manhã: Será dividida em dois momentos – o Painel II e o GD II
Painel II – O papel da Agroecologia na soberania nutricional e segurança alimentar.
Essa mesa vem mostrar a agroecologia como uma alternativa, como o povo se
coloca na luta pela agroecologia, colocando que ela produz alimentos 100% saudáveis e
que é possível alimentarmos todas as famílias brasileiras por meio da Agroecologia.
Mostrar ainda que alimentos têm que ser produzidos de maneira limpa, sustentável e que
forneça renda às famílias do campo.
GD II
É o momento de se debater sobre os questionamentos acerca do tema abordado nas
suas tribos.
Tarde: Painéis Paralelos / Oficinas
Painéis Paralelos
Nesse momento acontecem vários painéis ao mesmo tempo com as mais diversas
temáticas. Os painéis que teremos no nosso ERA serão:
1. O papel da mulher na agroecologia;
2. Diversidade Sexual ;
3. Educação do campo e a pedagogia da alternância;
4. Transgênicos e agrotóxicos;
5. Movimentos sociais e comunidades tradicionais;
6. Conservação do Bioma amazônico;
7. Agroecologia , agricultura familiar e extensão rural;
8. Conflitos agrários no campo;
Oficinas
As oficinas vêm para ajudar no aprendizado prático das técnicas agroecológicas,
para que estejamos preparados para atuar no campo, além de nos preparar para mostrar
na prática as pessoas de nossas universidades, assentamentos, escolas e comunidades,
que não acreditam no potencial da Agroecologia. No nosso ERA teremos as seguintes
oficinas:
SEXTA-FEIRA | 30/05
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1. Meliponicultura;
2. Defensivos Naturais;
3. Compostagem;
4. Biofertilizantes;
5. Plantas medicinais;
6. Horta suspensa;
7. Energias renováveis;
8. Manejo Ecológico do Solo;
9. Resíduos Sólidos;
10.Sementes crioulas;
11.Horta Mandala.
Noite: Feira Agroecológica de Saberes e Sabores
Nesse momento traremos as comunidades tradicionais e produtivas do Baixo
Parnaíba maranhense, para que possam trocar suas experiências e para comercializar um
pouco do que produzem. Faremos também, rodas de conversa com os agricultores e
agricultoras para que possamos trocar uma ideia. Teremos também artesanato, rodas de
violão, tambor de crioula, venda de livros e muito mais...
Estaremos no Maranhão e temos uma fama de uma culinária impecável! Não será
diferente no ERA: prepararemos uma área onde ofertaremos comidas típicas do
Maranhão.
Manhã: Oficina do ATO Público
Nessa manhã nos reuniremos primeiramente na plenária para explicar como e
onde vai ser o nosso ato. Depois explicaremos como e onde funcionarão as oficinas para
o ato. Cada encontrista escolhe de qual oficina irá participar de acordo com a demanda
de cada uma. Pedimos que as escolas que puderem, trazer materiais para ajudar nas
oficinas do nosso ato. O ATO público é uma das partes mais importantes de nosso
encontro. É o momento em que saímos as ruas para dialogar com a sociedade e mostrar
o nosso projeto, que é a Agroecologia. Aqui usaremos tudo que aprendemos durante o
ERA e toda a bagagem que já tínhamos para poder conversar com as pessoas. As oficinas
são:
Clowns Lambe Comunicação
Batucada Cartazes Registro
Segurança Palavras de ordem e
musicas
Saúde
SÁBADO | 31/05
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Tarde: Ato Público
Nessa tarde sairemos pelas ruas de Chapadinha para
dialogar com a população e mostrar para a sociedade o que
viemos aprendendo durantes os dias do encontro. É o
momento de mostrarmos que existe sim outra alternativa
para o campo brasileiro e de que ela é viável. As pautas e a
metodologia do ato serão informadas no dia pela CO.
Noite: Socialização do Ato
Agora iremos fazer a socialização que preparamos com muito carinho no dia
anterior para que todos e todas as encontristas possam ficar sabendo o que nossa tribo
debateu e aprendeu durante todos esses dias. Aqui apresentaremos também a identidade
de nossa tribo.
Manhã: Vivências
No domingo estaremos saindo de dentro do local onde acontecerá o nosso ERA
para desbravar as terras maranhenses. Conhecer a região do Baixo Parnaíba e Munin,
reunião rica de cultura, fauna e flora, de gente simples e de bom coração...
Em breve disponibilizaremos os locais de vivência no site do ERA Amazônico.
Tarde: Plenária final / Avaliação / Encerramento
Plenária final
Nessa plenária faremos os encaminhamentos finais do nosso ERA, como cartas de
apoio.
Avaliação
Logo após esses dois espaços anteriores, voltaremos a nos reunir com nossas
tribos para fazermos a avaliação do ERA. Que depois será sistematizada em um
documento só para encaminhar para as organizações e para a futura CO.
DOMINGO | 01/05
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Encerramento
Aqui faremos o encerramento oficial do nosso ERA. Além de fazer os
agradecimentos, passar as impressões da CO e se despedir desse povo lindo que vai vir
ao nosso encontro.
Noite: Pega o beco povo!
Nesse momento as delegações começam a retornar para os seus locais de origens.
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PRÉ-ERA‘s
Para garantirmos uma melhor participação dos/as encontristas, é importante que
as organizações pensem com bastante carinho na preparação dos grupos que virão ao
ERA, cuidando para que todos os/as participantes se apropriem tanto do conteúdo,
quanto da metodologia, e assim possibilitando que todos e todas da delegação façam
intervenções e possam aproveitar ao máximo de nosso encontro.
Há alguns anos, os grupos que participam dos ERA‘s realizam os Pré-ERA‘s, que são
espaços nos quais organizamos nossa delegação para a vinda ao encontro, apresentando
como este funciona e também realizando debates sobre a Agroecologia e as principais
linhas temáticas do evento.
A realização desses espaços preparatórios para o ERA já ajudaram e ainda vão continuar
ajudando na formação e consolidação de grupos organizados em torno das executivas e
movimentos sociais, além das outras formas de organização, como CA's, DA's, Grêmios
Estudantis e Grupos de Agroecologia.
Cada grupo tem total liberdade de organização deste espaço, porém gostaríamos
de dar algumas dicas - que representam o acúmulo de diversas organizações - de como
organizar a reunião (e o momento de estudo) e também sobre algumas metodologias
participativas.
I. DICAS PARA ESTUDO INDIVIDUAL OU COLETIVO
Retirado da cartilha ―Trabalho de base. Teoria e prática. Coletânea de Textos.‖ CEPIS,
Maio de 2005.
1. Rotina de Estudo: marcar um horário e um dia facilita a escolha dos espaços reservado
para os estudos.
2. Tempo de estudo: recomenda-se que por vez, se use no estudo, no mínimo 45 e no
máximo, 60 minutos.
3. Garantir o material: cada pessoa deve ter e zelar por sua cópia individual do texto,
livro, desenho.
4. O dia bom: as pesquisas mostram que não se programa estudo em dias de cansaço; no
sábado, por exemplo.
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5. Ambiente favorável: lugar com claridade, agradável, sem gente passando, sem barulho,
que concentre.
6. Postura confortável: apoiar o material sentar-se em vez de deitar-se, posição relaxada,
pés apoiados.
7. Uma lição de cada vez: porque isso ajuda a entender, gravar e fazer uma aplicação
prática do conteúdo.
8. Folhear o texto: para se ter uma visão do conjunto – olhar o autor, os títulos, palavras,
desenhos.
9. Fazer anotações: marcando as passagens importantes, os destaques, as novidades, o
que se gosta, as dúvidas.
10. Voltar ao texto: várias vezes para apreender a mensagem, as ideias, fatos,
informações e exemplos.
11. Fazer resumo: significa repetir com as próprias palavras as principais ideias,
colocando as opiniões pessoais.
12. Discutir no coletivo: as dúvidas, interpretações e divergências surgidas no estudo
devem ser esclarecidas.
13. Recordar lição anterior: é necessário repetir o já estudado, antes de continuar ou se
começar uma leitura.
Observação: O plano individual, para ter mais resultado, deve articular-se com o plano
coletivo de estudo.
Passos para o estudo em grupo
Em muitos casos, a organização popular precisa preparar militantes para atuarem
como monitores que ajudem os iniciantes na compreensão do conteúdo e no
esclarecimento das dúvidas. Nesse caso, esses multiplicadores devem ter uma preparação
que os ajude no repasse criativo e dinâmico do conteúdo.
Para o estudo grupal, sugerimos os seguintes passos:
É indispensável ter uma coordenação que estimule e facilite a participação de todas as
pessoas.
Leitura integral do texto para ter uma visão de conjunto do conteúdo. Pode ser um
bloco, de um capítulo ou do todo. Em voz alta, com uma ou várias pessoas lendo.
Reler em pequenos grupos, por proximidade para fixar o assunto e permitir o debate e
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o aprendizado.
Realização de um plenário onde as pessoas possam expressar e debater suas
opiniões.
Identificar o tema central a coordenação recolhe e ordena a compreensão que as
pessoas tiveram da leitura.
Destacar ideias principais até chegar à ideia central da leitura, vendo argumentos e
exemplos ligados a essa ideia.
Anotar dúvidas, impressões, passagens, questões despertadas pela leitura e sua
discussão.
Resumir no grupo e no plenário, em palavras-chave, frases curtas ou até desenhos as
ideias mais importantes.
Interpretar juntos tentando comparar/associar as ideias do texto com as do grupo e
com outras leituras.
Aprender a criticar no sentido de formar opiniões próprias e de fazer apreciações
sobre o texto.
Tirar conclusões e aprendizados que poderão ser usados na prática das pessoas e do
grupo.
Encaminhar a próxima etapa do plano de estudos.
Estudo em grupo
Um estudo eficaz, sem ser chato, exige:
a) Uma preparação aprimorada
A convocação das pessoas é parte determinante em qualquer atividade popular.
Funciona quando é feita pelo contato e o convencimento direto. Avisos gerais ou
escritos servem apenas para recordar a convocação pessoal.
O local da reunião deve ser um espaço aconchegante, que acomode bem as pessoas e
um ambiente que expresse o tema a ser debatido: cartazes, símbolos, músicas,
poemas...
Preparação das pessoas encarregadas de animar o debate – elas devem estudar bem o
assunto, preparar material de apoio e sugerir dinâmicas participativas.
Disciplina consciente – Por respeito às pessoas que comparecem, o estudo deve
começar e terminar na hora marcada.
b) Uma coordenação firme
O processo da reunião é de responsabilidade coletiva. Mas, é comandada pela
coordenação. Por isso, para a coordenação, chegar na hora, significa chegar antes da
hora marcada.
Participar e não assistir é a finalidade do estudo. A coordenação anima a socialização
do debate, questiona as afirmações, resume e complementa sem sair do tema
22
principal.
Coordenar não é passar a palavra. É preparar, acolher, animar, sintetizar, garantir o
rumo, facilitar a participação, possibilitar a tomada de decisão.
c) Uma realização eficiente
Começar na hora marcada, com entusiasmo, de forma que eleve o astral do grupo.
Não exceder hora e meia – para não perder o poder de concentração. Se continuar,
pausa, com amenidades.
Abordar os temas (análise, opinião, sugestões, encaminhamentos) de forma clara e
direta.
Evitar o monólogo. Frear, com jeito, o ímpeto de quem adora ouvir o eco da própria
voz.
Evitar a discussão entre duas ou entre algumas pessoas, possibilitar que todas as
pessoas falem estimular as caladas e as tímidas e conter falas que se desviam do
assunto.
Só seguir adiante se o assunto foi bem discutido e concluído.
Encerrar a reunião de forma agradável, na hora combinada.
d) Encaminhamentos das decisões
Deixar claro as conclusões do estudo, as tarefas a serem encaminhadas, as
responsabilidades e os prazos.
Encarregar gente para acompanhar e cobrar as providências.
Combinar as próximas atividades
Observação: Você pode modificar ou acrescentar dicas tiradas da sua própria experiência.
II. TÉCNICAS PARTICIPATIVAS
Retirado da cartilha ―Concepção de Educação Popular do CEPIS‖ do Centro de Educação
Popular do Instituto Sedes Sapientiae, Junho 2008.
Técnicas são recursos pedagógicos usados no processo educativo, para facilitar o
aprendizado. São procedimentos didáticos, dinâmicas e instrumentos técnicos para o uso
desses recursos. Como já foi dito, Educação Popular não se confunde com o uso de
procedimentos – dinâmicas de grupo, recursos audiovisuais – que facilitam a integração e
geram entusiasmo nas pessoas. Os instrumentos ajudam no processo de tradução,
reconstrução e criação coletiva do conhecimento da realidade. A ―euforia do participativo‖
é enganosa, porque, por si, não prepara ninguém para ser protagonista, para entender a
realidade social ou para comprometer-se com a transformação social. Às vezes, contribui
para que as pessoas sejam manipuladas. Chefes bonzinhos consultam, ouvem a opinião,
23
e o trabalhador não desconfia que isso só facilita o aumento da produção e riqueza dos
patrões.
O uso de recursos pedagógicos não é neutro – a maneira de fazer uma atividade
pode afirmar ou negar seus objetivos. Quando a Educação Popular insiste no uso dos
recursos pedagógicos, tem clareza de que os instrumentos servem para ajudar na
incorporação de conteúdos, de forma participativa e crítica. Os desenhos, vídeos,
dramatizações, poemas... São caminhos para alcançar um objetivo. Da mesma forma, as
dinâmicas não devem ser vistas como um recurso tático e atrativo para animar pessoas e
grupos; são recursos para estimular a participação e a cooperação mútua. Entre as
técnicas pedagógicas estão:
1. Dinâmicas de Grupo
São as várias formas de movimentar as pessoas presentes, em uma atividade e fazê-las
participantes, presentes de corpo, mente e coração. Facilitam o entrosamento, o
conhecimento mútuo, a construção de confiança e o intercâmbio de ideias e de
experiências. Algumas dinâmicas da Educação Popular.
A Mística
A mística de um Movimento é o conjunto de motivações e princípios que alimentam a sua
existência. Enquanto dinâmica, ajuda a recordar os valores, princípios e exemplos,
baseados em convicções que unem a classe oprimida. Pode ser feita a qualquer hora,
sempre ligada ao assunto do dia. Deve ser curta, simples, bonita e, sobretudo,
participada. Em forma de canto, poema, gesto, mensagem, silêncio, testemunho. Não
pode virar um show para ser assistido ou para engrandecer quem a preparou.
A Apresentação
Usa-se dinâmicas de apresentação para quebrar o gelo, facilitar o conhecimento
das pessoas presentes, ouvir as expectativas, revelar identidades, saber o que as pessoas
fazem, pensam e sentem. Para evitar a formalidade ou a exibição, onde as pessoas se
escondem atrás de cargos e títulos. Existem diferentes e criativas formas de apresentação
e os educadores devem ir criando outras de acordo com o grupo e o objetivo da reunião.
A Dramatização
Serve para iniciar ou verificar se um assunto foi assimilado. Num encontro sobre
relações sociais de gênero, os grupos podem encenar como vive uma família. Ao analisar
a apresentação, o grupo pode refletir como se dão as relações sociais de poder. Encenar
24
como fazer uma reunião ajuda a ver os acertos, vícios e papéis que acontecem na
realidade e o comportamento de diversos atores.
Alongamentos e Brincadeiras
São feitas para descontrair, divertir, promover o entrosamento. Servem como exercícios
para o corpo – alongamentos, danças, capoeira...; ajuda na movimentação do plenário,
além de uma oportunidade de revelar habilidades e talentos das pessoas presentes.
A formação de grupos
É uma dinâmica para envolver todas as pessoas, para mastigar o assunto discutido,
verificar seu entendimento, aprofundar um tema, comparar o estudado com a vida e tirar
conclusões para a prática. Para levantar questões, o cochicho em plenário, ajuda. Se a
tarefa do grupo é a leitura de um texto, é melhor que se faça fora do plenário, em divisão
por crachá, cor, número, mútua escolha, vizinhança... Sempre com grupos pequenos e
pergunta clara, para que cada pessoa possa dar sua opinião. O resultado pode vir num
cartaz a ser explicado em plenário.
2. O uso da poesia e da música
A forma poética e musical emociona, envolve, desarma e aproxima, porque pega
as pessoas por dentro. Para participar as pessoas precisam conhecer ou ter uma cópia em
mãos. Devem ser recitadas ou cantadas, no momento e ambientes adequados. A
experiência da primeira leitura pública bem feita e solene, seguida de leitura coletiva, tem
sido proveitosa. Pode ser no começo, meio ou fim da atividade sempre ligada ao assunto
tratado. Cada região ou grupo pode e deve ter sua própria seleção.
O uso de recursos áudios-visuais
Quando se fala que o ―o povo tem que entender o que eu digo, tem que ver o que
eu digo‖, reforça-se a ideia de que ―a comparação é a cesta aonde o povo leva a
mensagem para casa‖, ou que ―um só olhar vale mais do que mil palavras‖. Este recurso
vale por ser mais atrativo, provocar várias interpretações, revelar a experiência das
pessoas; porque, mesmo sem escolaridade, se pode captar a mensagem. No processo de
aprendizagem, 60% são recebidos pela visão; 20% pela audição; 10% pelo tato; 5% pelo
olfato; 5% pelo paladar.
Por isso, o poder da mídia. Entre os diversos recursos áudios-visuais, lembramos:
25
Desenho, cartaz, filme...
Quando usados como recurso pedagógico, servem para motivar o estudo sobre um
tema ou ilustrar um assunto debatido, serve para iniciar ou ilustrar um debate sobre o
tema. O desenho e/ou cartaz pode ser feito na hora ou pode vir preparado. As pessoas
devem ter cópia e/ou boa visão do recurso que está sendo utilizado. A leitura individual,
em grupos e em plenário, ajuda a desmontar a imagem ou a história. Após a exibição do
filme é importante um debate sobre ele. O uso de imagens é um bom exercício para
aprender e ensinar, pelos modos diferentes de ver, pelo debate, por reunir pontos de
concordância e discordância, por sugerir lições para a prática concreta. É necessário
verificar se a mensagem foi captada e se foi refletida a relação do recurso audiovisual
com o assunto tratado.
O uso de mensagens, provérbios e parábolas
São recursos usados para reflexão, ou como provocação, conforme o tema.
Exemplo: ―Quando o rico mata o pobre, o defunto é que vai em cana‖; ―Se o boi soubesse
a força que tem, ninguém dominava ele‖. Após sua leitura pública, solene, individual e
coletiva, a pessoa sublinha o aspecto que achou importante, comunica ao vizinho, ao
grupo e ao plenário. Quem coordena o debate deve estar atento para recolher e
sistematizar as contribuições, em diálogo com o grupo e sempre questionando as
afirmações.
O uso de textos
É importante para um estudo mais aprofundado sobre um tema, além de um
exercício de leitura e sistematização do que foi lido. A leitura pode ser em grupo ou
individual e possibilita a criação do hábito de leitura e da continuidade da formação sem
a presença do educador. Enfim, as técnicas participativas, os meios, os métodos e até os
instrumentos pedagógicos estão intimamente vinculados ao fim do qual eles são o
caminho. Por isso, é indispensável que os participantes da ação educativa se apropriem
do conteúdo, da metodologia e, inclusive, do funcionamento dos instrumentos.
22
26
TEXTOS PARA OS PRÉ- ERA’s
TEXTO 01 – A necessidade da ressignificação da relação sociedade/natureza e a proposta
da agroecologia
Contribuição da escola de Castanhal-PA, NTP de Agroecologia 2011-2012, Hueliton Pereira Azevedo; Amanda Rayana da Silva Santos; Renan da Silva Cunha.
O mundo contemporâneo atravessa uma crise sem precedentes. Não se trata de
um fenômeno conjuntural, mas do esgotamento de um projeto civilizacional que tem o
seu fundamento no ato de acumular riquezas nas mãos de minorias, sem considerar os
limites naturais e humanos necessários a sua própria reprodução. Em face da
abrangência, profundidade e complexidade dessa crise, já se tornou lugar comum à
afirmação de que nos encontramos diante de uma encruzilhada histórica. De fato, a
combinação de uma população mundial crescente e cada vez mais urbanizada com a
degradação acelerada dos recursos naturais e as mudanças climáticas globais molda um
cenário perturbador que nos confronta com dilemas decisivos.
Como alimentar uma população mundial crescente? Como manter os níveis de
produtividade alcançados pela agricultura industrial sem dar continuidade ao uso
intensivo de combustíveis fósseis e a deterioração da base biofísica que sustenta os
processos produtivos da agricultura? Como construir mecanismos de adaptação de
sistemas agrícolas às já inevitáveis mudanças climáticas globais? Para dar respostas a
essas indagações é necessária uma mudança do modelo convencional de agricultura para
estilos de agricultura de base ecológica e mudanças nos padrões de consumo e de uso
dos recursos. Enquanto essas mudanças forem sendo materializadas, nosso papel é
manter a produtividade da terra agrícola, a longo prazo, da superfície mundial cultivável.
Isso requer a produção sustentável de alimentos, que é alcançada segundo Gliesman
(2000) através de práticas agrícolas alternativas, orientadas pelo conhecimento em
profundidade dos processos ecológicos que ocorrem nas áreas produtivas e nos
contextos mais amplos das quais elas fazem parte.
Apesar de termos presenciado uma significativa elevação da produtividade e da
produção, a fome persiste em todo o globo e não podemos em hipótese alguma confiar
nos meios convencionais de aumentar a produtividade, para ajudar a satisfazer a
necessidade de alimentos de uma população mundial em expansão. Isso por que esse
modelo de agricultura está construído sob dois objetivos: a maximização da produção e
27
do lucro. Em vista disso, um conjunto de práticas (cultivo intensivo do solo, monocultura,
irrigação, aplicação de fertilizantes inorgânicos, controle químico de pragas e
manipulação genética de plantas cultivadas) foi desenvolvido sem considerar as
consequências não intencionais, de longo prazo, e sem considerar a dinâmica ecológica
dos agroecossitemas. Portanto, todas às práticas da agricultura convencional tendem a
comprometer a produtividade futura em favor da alta produtividade no presente. Em face
disso, além da produtividade qual é o problema que precisamos equacionar para resolver
a fome no mundo?
A realidade da condição atual da relação entre a sociedade e a natureza. As
sociedades humanas em qualquer que seja a sua condição e o seu nível de complexidade
não existem em um vazio ecológico, mas sim afetam e são afetadas pelas dinâmicas,
ciclos e fluxos da natureza. A natureza definida aqui como aquilo que existe e se
reproduz independente da atividade humana pela qual ao mesmo tempo representa uma
ordem superior ao da matéria. Isso supõe o reconhecimento de que os seres humanos
organizados em sociedade respondem não só a fenômenos e processos de caráter
exclusivamente social, mas também são afetados pelos fenômenos da natureza.
Nessa perspectiva as sociedades humanas produzem e reproduzem as suas
condições materiais de existência a partir de seu metabolismo com a natureza em uma
condição que é pré-social, natural e eterna. Este fenômeno implica em um conjunto de
processos por meio dos quais os seres humanos organizados em sociedade,
independente de sua situação no espaço (formação social) e no tempo (momento
histórico), se apropriam, circulam, transformam, consomem e excretam, matérias e
energias provenientes do mundo natural.
A compreensão desse processo de relação da sociedade com a natureza é
fundamental para entender, como se encontra essa relação no atual momento e a
necessidade de sua ressignificação. Chegamos pela primeira vez na história da
humanidade em um momento que a quantidade de recursos que as sociedades
consomem (apropriação) hoje, é maior do à capacidade que a natureza tem de repor e,
além disso, a quantidade de produtos eliminados (excreção) pelas sociedades é superior
à capacidade que a natureza possui de reciclar e disponibilizar novamente.
Assim, precisamos repensar a forma como estabelecemos o contato com a
natureza e de como a transformamos. Para isso, precisamos entre outras coisas
desmistificar os mitos que envolvem a atual relação das sociedades com a natureza. O
primeiro deles é o mito da desconexão do homem com a natureza, que determina que os
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seres humanos sejam entidades desligadas do meio em que vivem. O segundo é o mito
da natureza infinita, que prevê que os recursos não se esgotam e, portanto, podemos
explorar sem limites. O terceiro é o que defende que a floresta preservada é um
empecilho para o desenvolvimento, sustentando assim a necessidade de simplificação
dos agroecossistemas em uma lógica industrializadora. Esses ―mitos‖ constituem um
conjunto de concepções que legitimam a exploração irracional e inconsequente dos
recursos naturais em nome de um ―desenvolvimento‖ pautado apenas no crescimento
econômico em detrimento da sustentabilidade.
Os desafios das ciências agrárias frente ao atual contexto
No contexto atual são muitos os desafios postos ao campo das ciências agrárias.
Porém, os aspectos que merecem maior atenção são: a interdisciplinaridade, o trabalho e
a pesquisa.
A interdisciplinaridade
Esse contexto de crises interconectadas que vivemos (energética, ecológica,
civilizatória e econômica) e a necessidade de mudanças na direção da sustentabilidade,
exigem da academia uma revisão de seus pressupostos metodológicos e epistemológicos
que guiam as ações de pesquisa e desenvolvimento. Nesse sentido, é de fundamental
importância que cada vez mais as ciências agrárias movam-se no sentido de rever a
lógica cartesiana de ciência que tem permeado esse campo científico ao longo do tempo.
Essa concepção de ciência permitiu à humanidade realizar notáveis avanços no
campo científico; as grandes descobertas científicas e o desenvolvimento tecnológico
atual são inegavelmente tributários dessa concepção científica. Hegemônica no
pensamento científico, ela é fortemente embasada na disciplinaridade, no reducionismo,
na especialização, na validação experimental e na priorização dos aspectos quantitativos.
No entanto, o avanço da ciência, sobretudo no decorrer do século XX, apontou
para as limitações desta concepção científica. A impossibilidade de explicar e
compreender comportamentos e fenômenos naturais ditos complexos (como, por
exemplo, os eventos climáticos, o funcionamento dos seres vivos, os ecossistemas, etc.)
passa a evidenciar as limitações e restrições da abordagem analítica/cartesiana na
pesquisa científica.
29
Edgar Morin, ao participar de um colóquio, em 1979, apresentou de maneira clara
e direta essa ―crise‖ da ciência clássica cartesiana no decorrer da segunda metade do
século XX:
Este método (cartesiano) efetivamente conduziu a ciência a
descobertas extraordinárias. Falso em seu princípio, ele se
mostrou fecundo em um primeiro momento. É aí que reside um
dos paradoxos da história. A obsessão atomista, ou seja, a
ideia obsessiva de que é preciso encontrar a menor unidade
que será o ―tijolo‖ a partir do qual se poderia reconstruir o
universo, essa obsessão conduziu, assim mesmo, à descoberta
da molécula, do átomo, da partícula e, atualmente, ela nos
conduz, não mais à busca da unidade elementar, mas à busca
dos paradoxos fundamentais, ou seja, à complexidade da base.
A passagem do elementar ao fundamental é ao mesmo tempo
a passagem da simplicidade à complexidade. O mesmo ocorreu
na biologia. A obsessão pela unidade de base nos fez passar
do organismo à célula e, em seguida, da célula à biologia
molecular, e a biologia molecular acreditou encontrar
finalmente o elementar nas interações entre moléculas, na
interação química. Em uma reviravolta absolutamente
inacreditável, é essa mesma biologia molecular que, no fundo,
nos apresentou os problemas fundamentais da organização
autônoma da vida. (...) Assim, princípios insuficientes
impulsionaram a descoberta e, ao mesmo tempo, eles mesmos
provocaram seu próprio desmantelamento. Esses princípios
ultrapassados sobrevivem, enquanto o novo princípio, o
princípio da complexidade, ainda não emergiu completamente!
O princípio ―morto‖ ainda não está ―morto‖,e o princípio ―vivo‖
ainda não vive (p. 98-9)
Morin (1977), ao afirmar que ―o todo é superior ao todo, o todo é inferior ao todo‖,
sintetiza de maneira exemplar um importante preceito que orienta a abordagem
sistêmica. Assim, em decorrência de fluxos e interações internas, a abordagem sistêmica
considera que o comportamento de um objeto pode ser diferente da soma dos
comportamentos dos elementos que compõem esse objeto.
30
Nesse sentido, a abordagem sistêmica, apresenta-se como um ―novo‖ método para
a compreensão e o estudo de fenômenos complexos. Sem se contrapor à abordagem
analítica/ cartesiana, e sem negá-la, a abordagem sistêmica propõe-se a ser uma
metodologia ―que permita reunir e organizar os conhecimentos com vistas a uma maior
eficácia da ação‖ (ROSNAY, 1975). Esse caminho rumo a uma abordagem interdisciplinar
que diminua o ―estranhamento‖ entre as disciplinas, que possibilite reflexões sistêmicas e
não unilineares, que não fragmente a visão dos profissionais, que alimente a necessidade
de uma ciência cada vez mais envolvida com a realidade concreta e com a emancipação
das pessoas, necessita ser cada vez mais presente na formação dos profissionais da área
das ciências agrárias.
Pesquisa
A pesquisa científica tem representado um instrumento legitimador do modelo de
produção agrícola convencional. Isso tem ocorrido, entre outros fatores, através do
desenvolvimento de pressupostos epistemológicos e metodológicos que impossibilitam a
construção de uma visão mais humana e complexa da realidade. Nesse sentido, Gomes
(2012) defende que é necessário promover essa revisão dos pressupostos da ciência que
guiam as ações de pesquisa e desenvolvimento, para isso, elenca alguns elementos
necessários a essa tarefa, sendo eles: uma ruptura epistemológica, rigor no uso de
conceitos e o uso do método.
A agroecologia é considerada uma disciplina científica que transcende os limites
da própria ciência, ao pretender incorporar questões não tratadas pela ciência clássica
(relações sociais de produção, equidade, segurança alimentar, autoconsumo, qualidade
de vida, sustentabilidade, etc.) e esta, por sua vez, se restringiu á aplicação de
pressupostos metodológicos.
Aceitar que os conhecimentos produzidos em outros contextos, além daqueles
considerados científicos, também são válidos, significa colocar em discussão os
referenciais mais caros à ciência clássica (e aos próprios pesquisadores). Se a ciência não
representa a única fonte de conhecimento válido, se os conhecimentos tradicionais e os
saberes cotidianos também devem ser considerados na produção do conhecimento
agroecológico, então é necessário promover uma articulação entre o conhecimento
científico e os outros saberes empíricos. Isto não é uma coisa fácil, se considerarmos a
formação dos pesquisadores, a cultura e a estrutura das instituições. Falar sobre as
mesmas coisas não significa, necessariamente, ter a mesma visão de mundo ou a mesma
25
31
intenção. Por exemplo, tratar as pessoas como se fossem semelhantes, não significa
necessariamente, um tratamento justo. Esta consideração é importante para que na
pesquisa agroecológica não se incorra no mesmo equívoco da pesquisa clássica, que
pretendia uma tecnologia de caráter universal, sem considerar as especificidades de cada
grupo de agricultores. A agroecologia incorpora a diversidade e a diferença, por isso é
muito mais complexa.
Outra consideração relevante é o uso indiscriminado do termo sustentabilidade,
que está sendo transformado ou usado, com o propósito de ―crescimento econômico
sustentável‖ através dos mecanismos de mercado, sem preocupar-se com a
internalização das condições da sustentabilidade econômica nem de incorporar os
diversos processos que estão implicados na própria sustentabilidade como o ambiente, o
tempo ecológico de produtividade e regeneração da natureza, os valores culturais e
humanos, a qualidade de vida, entre outros. Neste sentido, a consideração única dos
valores e medições de mercado como indicadores de sustentabilidade, acabou seguindo
caminho contrário a sustentabilidade quando consideradas as dimensões sócio-
ambientais. Ou seja, a noção de sustentabilidade se divulgou e vulgarizou até formar
parte do discurso oficial e do sentido comum. Este mimetismo discursivo, gerado pelo
uso retórico do conceito, escamoteou o sentido epistemológico da sustentabilidade (Leff,
2000).
O método científico tem sido mais usado, no seu sentido convencional, que é
visualizar um fato (ou fenômeno) que deve ser repetido várias vezes, buscando obter o
maior número possível de detalhes sendo, realizada, portanto, com a maior precisão
possível. Deve-se tomar o cuidado com os ―vícios‖ para ocorra uma observação correta
do fato; em muitos casos, a pessoa ver o que deseja ver, e não o que está ocorrendo de
fato.
Por outro lado, o uso do ―método‖ numa perspectiva não-convencional, adotou
uma postura relativista, quase ao estilo da epistemologia anarquista de Feyerabend
(1992), o ―vale tudo‖, que agiu corretamente ao abominar as heranças do empirismo, do
racionalismo, do positivismo e do mecanicismo, mas não chegou a contribuir para a
flexibilização no uso do método convencional. Ao não fazê-lo, também ficou na
―aparência‘‘, pois a falta de ―rigor‘‘, ou de organização do trabalho (como deve ser a
atividade de pesquisa), também impede de identificar as ―causas‖.
Para citar um exemplo prático, é que um grupo de investigadores, ―mais
cartesiano‖, não conhece ou não estudou a teoria da trofobiose (Chaboussou, 1987). O
26
32
outro, mais ―generalista‖, quase tudo justifica em seu nome. Se o diálogo tivesse
ocorrido, talvez a ―caixa-preta‖ tivesse sido aberta, contribuindo para elucidar muitos
problemas que ainda hoje continuam sem solução. Ainda sobre o ―método‖, é claro que
sua aplicação foi responsável por muitos êxitos científicos. Entretanto, se for concebido
em seu sentido estreito, identificado exclusivamente com o método experimental, seu
alcance fica radical e automaticamente limitado. Ademais, o método não substitui o
talento, mas o complementa: o investigador de talento cria novos métodos, o inverso não
ocorre. Para o caso da pesquisa em agroecologia, não se trata nem de abolir o método
convencional nem de trabalhar de forma anárquica, mas de construir ―um método‖
flexível o suficiente para incorporar a complexidade em questão.
Trabalho
No intercâmbio com a natureza, o ser humano produz os bens de que necessita
para viver, aperfeiçoa a si mesmo, gera conhecimentos, padrões culturais, relaciona-se
com os demais e constitui a vida social. Na relação dos seres humanos para produzirem
os meios de vida pelo trabalho, não significa apenas que, ao transformar a natureza,
transformamos a nós mesmos, mas também que a atividade prática é o ponto de partida
do conhecimento, da cultura e da conscientização (Frigotto, 1985). Na perspectiva dos
interesses da classe trabalhadora, o estudo e o debate para aqueles que se dedicam ao
trabalho educativo e de qualificação deve se pautar em dois aspectos: a impossibilidade
de desenvolver as dimensões educativas do trabalho dentro do sistema capitalista e a
compreensão do trabalho como princípio educativo.
O modelo difusionista inovador de extensão rural, por exemplo, tem provocado a
expropriação dos camponeses do processo de produção do conhecimento que gera as
tecnologias que eles passam a utilizar e tem expropriado esses mesmos trabalhadores da
autonomia em gerenciar essas inovações a partir do potencial endógeno de seus
agroecossistemas, pelo fato de se tratarem de pacotes pré-desenvolvidos sob os quais os
agricultores tem que acessar acriticamente.
Frente a isso, na construção do conhecimento agroecológico entende-se que a
natureza é transformada pelos seres humanos a partir dos processos de trabalho. Assim,
o processo de produção de tecnologias deve ser adaptado às condições endógenas do
sistema social produtivo dos agricultores, de forma que possibilite a adequação dessas
inovações e possibilite a inserção dessas populações no processo de construção do
conhecimento e produção das tecnologias e inovações.
33
A FEAB possui uma importante contribuição nesse debate. Os estágios
interdisciplinares de vivência (EIVs) tem sido uma ferramenta importante na construção
de um processo de formação pautado na realidade concreta, desfragmentada e reflexiva.
Principalmente por se tratar de um momento que possibilita aos estudantes vivenciar o
trabalho dos camponeses que, de forma maestral, trabalham tanto nos processos
produtivos quanto na gestão da unidade de produção. Essa experiência possibilita
também aos estudantes entender a dimensão ontológica (inerente ao ser) do trabalho,
percebendo que este, de modo necessário, transcende o objetivo meramente profissional,
tratando-se, portanto da própria essência do homem.
A alternativa agroecológica
Contrapondo-se ao padrão convencional de desenvolvimento agrícola
fundamentado no paradigma da Revolução Verde, no final do século XX ganhou corpo em
defesa de formas mais sustentáveis de produção agricola um processo inicialmente
identificado como ―agricultura alternativa‖. A partir da década de 1990, na América
Latina, essa denominação foi substituída pela de ―Agroecologia‖.
A Agroecologia enfatiza o desenvolvimento e a manutenção de processos
ecológicos complexos capazes de subsidiar a fertilidade do solo, bem como a
produtividade e a sanidade dos cultivos e criações. O nível de ruptura com os sistemas
convencionais pode variar bastante entre as iniciativas de promoção da Agroecologia,
podendo ir desde simples medidas de redução ou substituição do uso de insumos
agroquímicos até a completa reestruturação da lógica de organização técnica e
econômica dos agroecossistemas, estabelecendo forte analogia estrutural e funcional
com os ecossistemas naturais nos quais estão inseridos.
O alto grau de especificidade local implica que o desenvolvimento dos
agroecossistemas pela perspectiva agroecológica se faz com a forte contribuição de
dinâmicas locais de inovação e não por meio da difusão de soluções técnicas universais,
tal como designado no paradigma da Revolução Verde. A busca da eficiência
agroecológica depende da manutenção de agroecossistemas complexos, com alta
diversificação de culturas e criações, o que se consegue por meio de associações,
rotações e sucessões de espécies. Esse tipo de sistema impõe limites ao tamanho das
unidades produtivas e às possibilidades de mecanização das operações de manejo. Por
essa razão, cobra a execução de trabalhos qualificados, flexíveis e atentos aos detalhes
de manejo, o que significa que o trabalho é realizado de forma inseparável à gestão do
sistema. Ao contrário dos sistemas convencionais que são dependentes do emprego
27
34
intensivo de capital, sendo o trabalho essencialmente mecânico e separado do processo
de gestão.
Em síntese, a agricultura familiar camponesa é, por excelência, a base sociocultural
para a generalização da alternativa agroecológica, pois conseguem integrar trabalho e
gestão em um processo indivisível, que é condição básica para o manejo da
complexidade inerente à prática agroecológica. Muito embora, princípios da Agroecologia
possam ser empregados por grandes produtores empresariais, o nível de eficiência
econômica e ecológica nessas unidades de produção tende a ser muito menor do que
quando aplicados em pequenas unidades de gestão familiar.
Segundo levantamento realizado na Universidade de Sussex, Inglaterra, mais de
1,4 milhões de agricultores em todo o mundo adotam princípios da Agroecologia. O
estudo identificou aumentos médios de 100% na produtividade em centenas de projetos
após a adoção desses princípios, com registros de 400% de aumento em situações mais
avançadas na transição agroecológica. Além da boa produtividade, os sistemas
manejados segundo o enfoque agroecológico, são sistemas com balanço energético
positivo e altamente poupador de energia de origem fóssil; recuperam e conservam a
fertilidade dos solos sem uso de insumos externos, além de serem resistentes aos
processos erosivos; funcionam como sumidouro de carbono e não emitem ou emitem
poucos gases de efeito estufa; integram-se funcionalmente à vegetação natural, dando
maior estabilidade aos microclimas onde estão inseridos; são livres de contaminação
química causada por agrotóxicos e fertilizantes solúveis e da poluição genética causada
pelos organismos geneticamente modificados.
Segundo a Avaliação Internacional sobre Ciência e Tecnologia Agrícola para o
Desenvolvimento (IASSTD, 2009) o conjunto desses efeitos positivos indica que a
generalização da Agroecologia é uma estratégia consistente para que a crise do modelo
convencional seja enfrentada estruturalmente, a começar pelo desafio de alimentar uma
população mundial crescente em condições adequadas e sustentáveis. De forma ainda
mais explícita, o relator das Nações Unidas para o Direito Humano à Alimentação
divulgou, em 2010, um relatório em que afirma que a Agroecologia pode a um só tempo
aumentar a produtividade agrícola e a segurança alimentar, melhorar a renda de
agricultores familiares e conter a tendência de erosão genética gerada pela
agricultura industrial (DE SCHUTTER, 2010).
O principal desafio à generalização da perspectiva agroecológica é de natureza
política e não técnica. Ele se apresenta diante da necessidade de superação do poderio
35
político, econômico e ideológico dos setores do agronegócio que sustentam a
permanência e a expansão do modelo da agricultura industrial. Entre outros efeitos
negativos, a dinâmica expansionista da lógica do agronegócio tem sido a principal
responsável pela desaparição da agricultura familiar camponesa em todo o mundo. Isso
não significa apenas a diminuição do número de unidades produtivas familiares que
poderiam ingressar em trajetórias de transição agroecológica, mas implica também a
perda da cultura camponesa e de povos e comunidades tradicionais, elemento essencial
para a construção de conhecimentos agroecológicos ajustados às mais variadas
peculiaridades socioambientais.
TEXTO 02 – Falta de estrutura e possibilidade faz com que jovens abandonem o campo
31 de agosto de 2012
Por José Coutinho Júnior
Da Página do MST
Os jovens rurais brasileiros continuam a abandonar a agricultura e o meio rural
para tentar a sorte nas cidades. Esse êxodo não é fruto apenas de uma lógica que dita
que a cidade é o mundo das possibilidades, enquanto o campo é uma área atrasada, mas
principalmente de questões materiais e estruturais de um modelo agrícola predominante
junto com práticas políticas que excluem o jovem da produção rural e minam suas
possibilidades de ter uma vida digna no campo.
Segundo o militante da Pastoral da Juventude Rural (PJR) e do coletivo de jovens da
Via Campesina, Paulo Mansan, ―os fatores que levam a essa saída são principalmente
estruturantes. Em primeiro lugar, o jovem não tem acesso à terra: a maior parcela de
jovens que está saindo do campo são sem terras‖.
Os problemas encontrados na falta de políticas e incentivo para a Reforma Agrária
afetam diretamente a juventude. Segundo Mansan, o jovem é um dos maiores
prejudicados pela paralisação da Reforma Agrária. ―O caminho que ele encontra no final é
acabar trabalhando como empregado e ganhar um salário mínimo na cidade do que
tentar continuar na luta pela terra‖.
Para que o jovem possa ficar no campo, é necessário que a Reforma Agrária vá
além da distribuição de terras, afirma a pesquisadora Natacha Eugênia Janata.
―Precisamos de uma Reforma Agrária que tenha estratégias para dar um retorno e
segurança financeiros. Além disso, deve existir uma estrutura de saúde, educação e
cultura voltadas aos jovens e à realidade no campo. A permanência do jovem no campo é
uma consequência do cumprimento desses fatores‖.
Enquanto essas políticas não são postas em prática, a realidade do jovem no
campo se agrava: dados do programa Brasil sem Miséria apontam que de um total de 8,2
36
milhões de jovens rurais, 2,3 milhões vivem em situação de miséria, com renda mensal
de 70 reais ou menos.
Sem um lote próprio e condições estruturais dignas, o jovem não consegue obter
uma renda fixa no campo e vai para a cidade. Segundo Natacha, ―É uma questão de
sobrevivência. O jovem tem a necessidade de uma renda mensal, e a cidade oferece a ele
um vínculo empregatício e um salário, mesmo que seja baixo. A agricultura não dá a ele
as relações materiais que a cidade dá‖.
Inclusão
É difícil para o jovem obter um lote de terra hoje pela Reforma Agrária, pois o
cadastro do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) privilegia
agricultores que aguardam a terra por mais tempo e que tem uma família constituída,
fatores que excluem os mais novos de obter um pedaço de terra.
Apesar de concordar com a priorização feita pelo Incra, Mansan admite que é
necessário pensar em formas de acabar com a exclusão da juventude advinda dele. ―É
preciso pensar em uma forma de assentar o jovem, como por exemplo, assentar vários
jovens em um único espaço‖.
Segundo Willian Clementino, secretário de políticas agrícolas da Confederação
Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (CONTAG), as organizações sociais e o Incra
estão discutindo formas de inclusão da juventude no cadastro. ―Nos últimos dois anos
incidimos bastante na norma de seleção do Incra. Hoje há um grupo de trabalho na
entidade que discute as normas de seleção e como potencializar o acesso da juventude à
terra‖.
A exclusão do jovem não se dá apenas no acesso à terra, mas na falta de voz em
relação à tomada de decisões e participação nos lotes da família. Segundo Mansan, essa
lógica ―é uma coisa que os movimentos têm que desconstruir, porque é muito
predominante. As relações patriarcais dificultam a permanência do jovem, pois quando
não há um processo bem discutido de cooperativismo, quem controla os recursos da
família e até mesmo os frutos do trabalho do jovem no lote é quem coordena a família.
Dessa forma, o jovem acaba tendo dificuldade de ter renda própria. Esse fator
contribui para sua saída, pois longe dos pais, o que ele ganhar é dele, podendo até
mandar dinheiro para ajudar a família. A sensação de sair do lote contribui na busca da
independência desse patriarcalismo. Para quebrar isso, nós temos que construir novas
práticas de cooperativismo‖.
Para Natacha, ―a juventude é parte da classe trabalhadora, mas se encontra na
transição entre adulto e criança. Entrar no mercado de trabalho é difícil: o jovem acaba
fazendo o trabalho braçal nos lotes familiares, mas não tem acesso direto aos frutos dos
seus trabalhos. Eles querem trabalhar no campo, mas a sua vontade acaba sendo podada
pelos adultos. O jovem participa, mas sua opinião não é decisiva; ele quer estar incluído
no campo, mas para isso acontecer de fato, as suas decisões precisam ser levadas em
conta‖.
37
Quais soluções?
A não permanência da juventude no campo preocupa os agricultores mais velhos
com relação ao destino da propriedade: se não há ninguém da família que tenha vontade
de herdá-la, o que vai acontecer com ela? Uma resposta ao problema da sucessão vem
sendo cursos técnicos, que capacitam os jovens a se tornarem empreendedores. No
entanto, esta lógica individualista transforma o lote em um simples negócio, além de sua
eficácia ser questionável.
De acordo com Mansan, ―não que o jovem não tenha que saber administrar sua
propriedade, mas querer resolver o seu problema sozinho não é possível. A solução está
nas práticas onde se desenvolve o cooperativismo, o associativismo, onde o jovem é
integrante de um grupo que coletivamente consiga produzir as práticas de um campo
diferente, um campo onde tem gente e onde ele viva com qualidade de vida. Essa é a
grande luta. Essa história do empreendedorismo, nós podemos perceber que 80, 90% dos
casos não dão certo. Sozinho o jovem não consegue resolver tudo‖.
Para que o jovem possa não apenas suceder os pais, mas ser capaz de pensar e
experimentar novas formas de agricultura, ele precisa ser reconhecido como agente
político no campo, tão capaz de produzir quanto os adultos. Se isso for concretizado, os
benefícios são grandes. Willian aponta que ―a juventude hoje no campo é protagonista
das experiências alternativas no campo. As maiores experiências de agroecologia, de
lidar com a terra, produzir alimentos sem veneno, exploração do turismo rural, com
potencial sustentável, econômico e financeiro tem sido experiências da juventude‖.
Exemplos desse protagonismo, cita Willian, são jovens do Maranhão que fizeram
um curso de capacitação na CONTAG, e depois arrendaram um terreno coletivamente,
onde começaram uma produção agroecológica; jovens no sul do país que trabalhavam
com fumo, mas abandonaram a produção para iniciar o trabalho com agroecologia, e
jovens que trabalham com o turismo rural, mostrando às pessoas o que é e como
funciona a agricultura familiar.
A capacidade da juventude em criar, segundo Mansan, se dá porque ―ela está no
momento de buscar novas experiências. O jovem está mais aberto ao sonho e num
processo de encantamento maior, e é aí que nós temos que, juntamente com a juventude
organizada, provar que o campo é o lugar que deve ser construído coletivamente e que a
juventude tem um papel determinante, tanto para inovar quanto pela sucessão‖.
TEXTO 03 – Uma visão sobre Educação do Campo no contexto da realidade brasileira
Contribuição do Núcleo de Trabalho Permanente em Educação (FEAB Fortaleza)
―Me movo como educador,
38
porque, primeiro,
me movo como gente (...) ―
Paulo Freire
A frase acima, citada pelo educador e filósofo brasileiro Paulo Freire, evidencia com
clareza a importância da existência de uma educação referenciada nas demandas do
povo, e nos faz refletir que, a forma de educar da qual ele menciona, não está ligada a
um ensino que se restringe as salas de aula, mas sim em uma educação que possibilite a
construção de uma sociedade mais justa, e principalmente, que respeite cada pessoa em
seu meio social.
Essa definição de educação citada por Paulo Freire está intimamente ligada ao
conceito de Educação do Campo, mas para entendê-la é necessário um olhar mais amplo
sobre o assunto, e para isso, é essencial resgatar algumas perguntas que envolvem desde
a compreensão de sua metodologia até a sua interpretação. Diante desse contexto
devemos então nos perguntar, o que é ―Educação do campo‖? O que a diferencia de
―Educação Rural‖? De que forma está inserida a educação contextualizada dentro da
educação do campo?
A educação do campo nasceu como forma de crítica à atual situação da educação
no Brasil, e principalmente, para contrapor o modelo de aprendizagem que está colocado
em nossa sociedade, onde atualmente, os maiores beneficiados são o agronegócio e os
grandes latifundiários. Com isso, é perceptível a importância de uma educação voltada
para povo que trabalha e vive no campo, e sente a real importância de haver um método
educacional de acordo com a sua realidade. É nesse contexto de educação diferenciada e
voltada para os camponeses, que nasce a chamada Educação do Campo.
Deste modo, a Educação do Campo se distingue de Educação Rural, não só em
metodologia, mas em todo o seu contexto de intencionalidades. A concepção de
educação rural surge através de iniciativas de políticas públicas, onde a definição do que
é área rural é estabelecida através de sensos de pesquisa e o investimento do governo em
estrutura e ensino transforma o espaço restrito a escolas desestruturadas e professores
mal remunerados. A Educação Rural afirmada por políticas públicas desconsidera a
realidade e cultura das pessoas que vivem no campo, despreza as suas individualidades e
insere conceitos urbanos que não contribuem para uma educação voltada aos
camponeses.
Por outro lado temos a Educação do Campo, protagonizada e construída
diretamente pelos movimentos sociais populares e que traz uma visão transformadora,
capaz de formar o povo como agente crítico e político. Saindo do papel de apenas
ouvinte e passando a estar dentro do processo. Conhecendo e estudando a partir do
lugar onde vive, dos problemas enfrentados na região, problematizando situações,
abordando a cultura, a religião e os costumes locais no dia-a-dia, aproximando-se da
39
realidade camponesa, e não urbana. Através disso, a Educação do Campo deixa de ser
para o povo e torna-se do povo, apontando para um processo profundo de
transformação social. E assim, tornando-a parte essencial em um projeto popular para o
Brasil.
Apesar de a educação ser um direito de todos, até o ano de 2011, mais de 24 mil
escolas do campo foram fechadas. Por outro lado, o analfabetismo representa 9,7% do
total da população brasileira. No Nordeste a situação se agrava ainda mais, e a taxa de
analfabetismo chega a 18,7% entre pessoas com mais de 15 anos.¹ Isso representa um
retrocesso nas políticas públicas para o campo e alerta para a criação de iniciativas que
visem mudar essa situação, como a campanha nacional ―FECHAR ESCOLA É CRIME‖, criada
pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), que tem como objetivo evitar
o fechamento das escolas do campo, lutar por melhorias nas escolas já existentes e
buscar qualidade na educação pública.
É importante entender que a luta por educação no campo está diretamente ligada à
luta por melhorias de vidano campo, isto é, desenvolvimento no âmbito educacional
significa também benefícios para o campo. Por essa razão, é essencial que o
desenvolvimento do qual falamos seja voltado para a agricultura familiar, para
agroecologia, para a realidade dos camponeses e trabalhadores. E isso só é possível com
pressão social, e através de uma luta onde os personagens principais desse processo são
os movimentos sociais, os jovens estudantes do campo e da cidade, as tribos indígenas,
os povos quilombolas e todo o povo brasileiro que almeja um novo projeto popular para
o nosso país.
―Entre tijolos de areia uma nova escola se ergue,
das mãos de homens e mulheres que se misturam ao cimento
e enquanto sobem as paredes, avançamos nossa luta
forjando novos sujeitos, nessa construção da vida
O que construímos? Com suor e com beleza construímos a nós mesmos;
Construímos nossos sonhos; Construímos nossa história;
Num projeto coletivo, construímos um novo homem,
construímos uma nova mulher, construímos um novo campo,
construímos uma nova educação, construímos a Educação do Campo!‖
- Paulo Roberto
FEAB Fortaleza
Núcleo de Trabalho Permanente em Educação
Referências
1 (Os dados são da PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), do IBGE
(Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) 2009, do Censo Escolar do INEP/MEC (2002
40
a 2009), e da Pesquisa de Avaliação da Qualidade dos Assentamentos da Reforma Agrária
INCRA, 2010).
TEXTO 04 – Movimentos sociais consideram Política Nacional
de Agroecologia insuficiente
12 de setembro de 2012, do site do MST
Por Viviane Tavares
Da EPSJV/Fiocruz
Esperada por diversos movimentos sociais, a Política Nacional de Agroecologia e
Produção Orgânica (PNAPO) foi instituída pelo decreto 7.794 no dia 21 de agosto.
Prevista para sair em junho, durante a Cúpula dos Povos, sua publicação foi adiada por
quase três meses e avaliada como tímida.
Com o objetivo de integrar, articular e adequar políticas, programas e ações da
produção agroecológica e orgânica, a política tem como diretrizes a promoção da
soberania e segurança alimentar e nutricional, do uso sustentável dos recursos naturais,
a conservação dos ecossistemas naturais e recomposição dos ecossistemas modificados,
a valorização da agrobiodiversidade e dos produtos da sociobiodiversidade e estímulo às
experiências locais, além das questões da participação da juventude e da redução das
desigualdades de gênero.
No entanto, questões consideradas fundamentais para a Articulação Nacional de
Agroecologia (ANA), o Conselho Nacional de Segurança Alimentar (Consea) e a Associação
Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) foram deixados de lado como, por exemplo, o
plano de redução de uso de agrotóxico no Brasil com banimento das substâncias já
proibidas em diversos países, a definição de áreas contínuas de produção agroecológica,
além de apoio à pesquisa e assistência técnica deste modelo. "Propomos um programa
específico para as mulheres, uma vez que elas têm um papel fundamental na transição
agroecológica, mas a política trouxe uma abordagem muito sutil. É preciso reconhecer o
papel das mulheres que hoje ainda são vistas apenas como apoio nestas atividades",
acrescenta a presidente do Consea, Maria Emilia Pacheco.
Alguns movimentos sociais também apresentaram seu ponto de vista sobre a
PNAPO. Em moção publicada durante o I Encontro Unitário dos Trabalhadores,
41
Trabalhadoras e Povos do Campo, das Águas e das Florestas: por Terra, Território e
Dignidade realizado em agosto, a função social da terra e a promoção do acesso à água
como um bem de domínio público são lembradas como reivindicações não contempladas
pela política. Segundo o documento, a participação da sociedade também foi restringida.
"Tivemos duas grandes decepções em relação à questão da participação da sociedade
civil, a primeira delas é que a política define a criação de uma comissão e não a de um
conselho, como nós havíamos solicitado. Além disso, na sua composição, ela foi definida
como paritária, enquanto apostávamos na composição de 2/3, assim como é constituído
o Consea e que temos experiências muito positivas", explica Maria Emilia.
Ganhos
A Parte 1 do Dossiê da Abrasco - Agrotóxicos, Segurança Alimentar e Saúde
lançado em abril no World Nutrition Rio 2012 indicava para a criação de uma política de
agroecologia como uma forma de promoção da saúde. "Pelo olhar da saúde coletiva, a
gente percebe que o nosso modelo agroecológico pode evitar algumas causas dos
problemas de contaminação por agrotóxico, por exemplo, que está associado ao modelo
de agricultura quimificado, baseado na revolução verde. A agroecologia é uma proposta
de alteração do modelo, então, pela primeira vez, a gente começa a ver aparecer políticas
que sinalizam e apontam nesta direção", comentou Fernando Carneiro, da Abrasco.
Maria Emilia lembra ainda que as diretrizes da Política Nacional de Segurança
Alimentar e Nutricional também apontavam para a implantação de sistemas sustentáveis
de base agroecológica. "A produção da agroecologia inclui também a produção de
hábitos alimentares com características mais regionais, portanto, mais saudáveis,
permitindo a sustentabilidade dos sistemas alimentares", explicou.
Ela ainda ressalta que uma dos destaques positivos desta política é encontrado no
artigo 12, no qual propõe alterações sobre o Sistema Nacional de Sementes e Mudas -
SNSM, aprovado pelo Decreto nº 5.153, em relação à dispensa de inscrição no Registro
Nacional de Sementes e Mudas (RENASEM), facilitando assim a multiplicação de sementes
ou mudas para distribuição, troca e comercialização em diferentes estados. "É
fundamental ter um programa de conservação da biodiversidade, e podemos ver pouco
deste reconhecimento nesta parte da política, que reconhece existência da semente
crioula e nativa. Antes víamos um restrição do direito dos agricultores, que, agora, está
tendo mais flexibilidade, incentivando assim esta produção e comercialização", analisa.
Próximos passos
De acordo com Fernando Carneiro, da Abrasco, é preciso agora criar a Comissão
Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (CNAPO) para que os objetivos da política
passem a se concretizar. "Sem dúvida esta política é uma conquista dos movimentos que,
ao longo de anos, vêm pensando e propondo questões, mas ela precisa da criação de
42
Comissão urgente para que a política não se reduza a apenas uma carta de intenções",
analisa. Caberá à Comissão Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (CNAPO),
dentre outras competências, a elaboração e o acompanhamento da PNAPO e do Plano
Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (PLANAPO), além de propor diretrizes,
objetivos e prioridades do plano ao Poder Executivo Federal.
A definição das prioridades também é apontada pela representante do Consea
como um dos primeiros passos a serem tomados. "Quando nós fizemos e encaminhamos
sugestões à política, estas vinham acompanhadas de medidas prioritárias que não foram
acatadas. Agora essas prioridades devem ser definidas o quanto antes para que
possamos negociar com o governo e começar a concretizar a elaboração do PLANAPO
que o decreto prevê", aponta a representante do Consea. Ela explica ainda que para
instituir a Comissão Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica é preciso pressionar o
governo para a criação de uma portaria que a regulamente. Para tal, a ANA e o CONSEA já
estão em articulação e com audiências previstas com o Ministro do Desenvolvimento
Agrário, Pepe Vargas e com ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da
República do Brasil, Gilberto de Carvalho para as próximas semanas.
TEXTO 05 - Por que a tecnologia não chega no campo?
8 de agosto de 2012
Da Página do MST
Computadores, celulares, câmeras fotográficas, projetores de filmes, filmadoras,
videogames e televisores de última geração... Os jovens do campo querem ter acesso a
essas tecnologias. A televisão, novelas e filmes diariamente fazem propaganda das novas
tecnologias. Esse é um dos motivos que leva boa parte da juventude que vive no campo a
querer mudar para as cidades.
Mas será que os jovens do campo precisam ir até a cidade para ter acesso a tudo
isso? Não seria melhor que todas as pessoas que vivem no campo e na cidade tivessem as
mesmas condições de acesso à tecnologia?
A vida no campo não é melhor nem pior que na cidade. Na cidade, as pessoas
trabalham muito, têm pouco tempo livre e o salário é pouco. Você deve conhecer alguém
que mudou do campo para a cidade, pergunte se lá não tem problemas?
E a tecnologia, você sabe como ela é produzida? A tecnologia não foi criada pelas
empresas, é fruto do trabalho humano desenvolvido ao longo da história para melhorar a
humanidade. Desde os satélites no espaço sideral ao chip dos celulares, carros, tratores,
maquinários agrícolas, etc; o trabalho de homens e mulheres está presente em tudo.
Na sociedade capitalista as empresas transformaram a tecnologia em um produto
de consumo. Assim, os trabalhadores pobres do campo e da cidade, que não têm
43
dinheiro para comprá-las, não têm acesso às mesmas. Aumentado as diferenças entre
ricos e trabalhadores. Por você acha que isso acontece?
Uma família que mora nas periferias urbanas não consegue pagar 100 reais por
mês para um pacote de internet. Sem contar que antes precisa comprar um computador,
que está ficando mais barato, mas depois de um ano já está velho e travando...
É impossível discutir o acesso às novas tecnologias da informação sem a
democratização da internet. A universalização da internet banda larga – pública, gratuita
e de qualidade – é fundamental para permitir aos assentados essa ferramenta.
A proposta do governo federal é implantar um Plano Nacional de Banda Larga (PNBL).
O plano foi criado em 2010 e promete a instalação de telecentros com internet nos
assentamentos e acampamentos de Reforma Agrária. Mas até agora quase nada saiu do
papel. Por que será que até hoje os governos não instalaram o que prometeram?
Precisamos cobrar do governo federal a garantia desse acesso à internet nos
assentamentos. Todos queremos celular, computador e internet para nos comunicar com
o mundo. Mas por que não montar uma rádio comunitária no assentamento?
No assentamento, uma rádio pode ser um instrumento importante para os
camponeses comunicarem-se entre si e com quem vive na cidade, fortalecer a cultura
camponesa, além de ajudar na organização de quem vive no campo.
A Lei de rádios comunitárias está fora da realidade do meio rural hoje no Brasil,
pois essas rádios só podem atingir o raio de 1 km e ter um transmissor com potência
máxima de 25 watts. Quando instalada nos assentamentos, esse modelo de rádio não
consegue atingir as famílias da maioria assentadas, que vivem em lotes, distantes.
Da mesma forma que lutamos pela terra e por Reforma Agrária, também é
importante criar tecnologias alternativas e outros mecanismos para montar rádios
comunitárias e lutar pelo acesso às novas tecnologias da informação, como a internet.
Para isso, também precisamos de políticas públicas que democratizem a comunicação no
campo e na cidade.
Somente com luta e organização essas transformações serão possíveis. Em vez de
mudar para a cidade, vamos nos organizar e fazer do campo um lugar bom de viver, com
acesso à comunicação, às novas tecnologias da informação, à cultura, lazer, esporte,
educação etc.
A juventude Sem Terra tem papel fundamental nessa batalha. E você, o que acha?
Pronto para a luta?
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TEXTO 06 - Agroecologia versus Tecnologia: verdade ou mito?
Lívio Diego
FEAB e LPJ
Desde a revolução verde e com o advento do agronegócio que se criou uma falsa
separação entre a agricultura alternativa (hoje agroecologia) e o uso de tecnologias.
Como se as pessoas que defendem e constroem no dia a dia a agroecologia fossem
contra todo e qualquer avanço tecnológico.
Dessa forma algumas perguntas voltam à aparecer com toda força. A quem serve a
tecnologia? Para onde vão os financiamentos públicos na pesquisa? Qual o papel dos
pacotes tecnológicos? O que empresas privadas fazem dentro de universidades públicas?
Os questionamentos são muitos e nem tudo está totalmente esclarecido. Ainda há muita
coisa por ser descoberta.
No entanto já da para saber a resposta para algumas
dessas perguntas. Por exemplo sabemos a serviço de quem a
tecnologia está e posso lhes falar que não é a serviço do povo.
Quase a totalidade do que é pesquisado pelas universidades
públicas e pelos órgãos de pesquisa do Estado brasileiro hoje vai
para as corporações capitalistas, principalmente as
multinacionais e transnacionais. No agronegócio – representante
do capitalismo no campo – temos alguns exemplos, como a
Bayer, Syngenta e Monsanto.
Lembrando que além dos centros de pesquisas públicas (universidades, EMBRAPA,
etc.) as empresas ainda contam com estabelecimentos de pesquisa próprios. O lance é
que esses também contam com ajuda do Estado, através das parcerias público privada,
da isenção fiscal e dos pareceres técnicos favoráveis de órgão ambientais no sentido de
liberar áreas para o uso das empresas mesmo que o estudo sobre os impactos não esteja
tão condizente com a realidade por exemplo.
Só para se ter ideia do poder político e econômico que essas empresas tem
peguemos a Monsanto como exemplo. Elá tem sua sede nos Estados Unidos da América,
mas está em também outros 60 países. Atingiu uma cifra de US$ 11,7 bilhões de lucro
em 2009 (se contarmos com o que não é declarado o valor é muito maior).¹ Além de usar
45
parte do seu poder para fazer lobby (comprar os políticos) para aprovarem leis que
facilitem a comercialização de seus produtos, mesmo que esses produtos não tenham
passados por testes suficientes para comprovarem sua conformidade com os padrões de
segurança e saúde.² Fora que sempre os órgãos públicos responsáveis tendem a dar
parecer favorável. Salve alguns casos em que diretores da ANVISA por exemplo se
colocaram contra a liberação de alguns agrotóxicos, mas estes logo rodaram.
E a situação tem piorado dentro das universidades públicas, que historicamente é
o local do ―pensamento livre‖, onde o tripé do ensino, pesquisa e extensão devem estar
voltados para a solução dos problemas de nossa sociedade, mas como isso pode
acontecer se empresas privadas estão cada vez invadindo com mais força as
universidades, através de financiamentos enormes nos laboratórios e departamentos.
Aí fica a pergunta. Para quem vão servir essas pesquisas? Para os agricultores que
lidam diariamente com os problemas do campo ou para a empresa que pagou? Qual o
interesse dessas empresas? Resolver os problemas do camponês ou apenas obter lucros?
Quanto aos financiamentos públicos nem é preciso especular muito. Mesmo com
os avanços obtidos nos últimos anos ainda temos muito pelo o que lutar, inclusive para
garantir o que já ganhamos, como no caso do Programa 1 milhão de Cisternas (P1MC)
cujo o governo está querendo modificar a metodologia do programa que atualmente
implanta cisternas de placa para as cisternas de plástico, acabando assim com a
participação das famílias na implantação da mesma. Participação essa que se dá desde a
mobilização da comunidade para a construção das cisternas (são as próprias famílias as
responsáveis) até a formação técnica e política das famílias envolvidas. Onde nas
formações se debate as questões de gênero, divisão sexual do trabalho, lutas sociais e
técnicas agrícolas por exemplo. Além disso privatizando essa implantação e tornando-as
mais caras (o gasto com as de plástico é de R$ 5 mil enquanto as de placa custam R$ 3
mil), além de que as cisternas de plástico são bem menos duráveis e exigem um custo
maior de manutenção. Dinheiro esse que sai do bolso das famílias.
Outro grande problema do financiamento público está na disponibilidade de
crédito para os agricultores familiares, pois para que estes agricultores acessem essas
fonte de crédito eles tem que se adequar a pacotes tecnológicos pré-definidos com as
sementes, agrotóxicos, tratores, insumos e implementos, inclusive as vezes sendo
indicada até a marca ou distribuidor.
Assim o agricultor é forçado a entrar em uma lógica de produção diferente da qual
ele está preparado para atuar. O que muitas vezes faz com que ele fique devendo ao
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banco e tenha problemas para pagar. Além das dificuldades para a mulher ou o jovem
acessar esses créditos, devido a burocracia patriarcal de nosso sistema que torna a
mulher e o jovem dependentes do homem (que teoricamente tem o papel de marido e
pai, respectivamente), excluindo-se a possibilidade de tipos diferentes de famílias, como
também a independência desses sujeitos.
Lembrando que a diferença entre a verba destinada ao agronegócio e a agricultura
familiar é gigantesca. Levando-se em conta investimentos da administração direta -
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e operações de crédito subsidiadas
de bancos estatais - Banco do Brasil e BNDES -, o governo já repassou para o
agronegócio, desde 2003, R$ 106,1 bilhões. O valor equivale a mais de dez vezes o
orçamento de R$ 11,4 bilhões previsto para o programa Bolsa Família em 2009, duas
vezes e meia o orçamento de R$ 41,6 bilhões do Ministério da Educação e é 78,3%
superior ao orçamento do Ministério da Saúde. O montante representa, também, 133% a
mais do que os R$ 45,46 bilhões destinados pelo governo, no mesmo período, para a
agricultura familiar e reforma agrária.³
Dessa forma podemos constatar que o problema de acesso e desenvolvimento de
tecnologias por parte da agroecologia está diretamente ligado a toda essa problemática
anteriormente citada, mas que mesmo com tudo isso a agroecologia se mostra cada vez
mais preparada e capaz de substituir por completo o agronegócio.
¹ Dados obtidos no site oficial da Monsanto.
² Dados obtidos no documentário ―O mundo segundo a Monsanto‖.
³ Dados obtidos da ASSINAGRO (Associação Nacional dos Engenheiros Agrônomos do
INCRA).
TEXTO 07 - Orgânico X Agroecológico, você sabe a diferença?
Por: M. Humberto - Estudante de Agronomia UFAL - Universidade Federal do Alagoas, Retirado do site do ERA Amazônico.
Por estarem intimamente ligados a questão do natural acabamos por confundir essas
nomenclaturas. A mídia trata de colaborar com isso muito bem. Na verdade existe uma
grande diferença entre alimento orgânico e alimento Agroecológico.
A agroecologia é a junção harmônica de conceitos das ciências naturais com conceitos
das ciências sociais. Tal junção permite nosso entendimento acerca da Agroecologia
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como ciência dedicada ao estudo das relações produtivas entre homem-natureza,
visando sempre a sustentabilidade ecológica, econômica, social, cultural, política e ética.
Basicamente, a proposta agroecológica para sistemas de produção agropecuária faz
direta contraposição ao agronegócio, por condenar a produção centrada na monocultura,
na dependência de insumos químicos e na alta mecanização, além da concentração de
terras produtivas, a exploração do trabalhador rural e o consumo não local da respectiva
produção. Ou seja, as práticas agroecológicas podem ser vistas como práticas de
resistência da agricultura familiar, ao processo de exclusão do meio rural e
homogeneização das paisagens de cultivo. As práticas agroecológicas se baseiam na
pequena propriedade, na mão de obra familiar, em sistemas produtivos complexos e
diversos, adaptados às condições locais e em redes regionais de produção e distribuição
de alimentos.
Portanto, não se pode pensar em Agroecologia como ―ciência neutra‖, já que há em suas
pesquisas e aplicações claro posicionamento político. Ela se coloca como ciência
comprometida e a serviço das demandas populares, em busca de um desenvolvimento
que traga soluções sustentáveis para os diversos problemas hoje enfrentados na cidade e
no campo.
Já o orgânico pode ser agroecológico ou não! Os produtos orgânicos não fazem uso de
produtos químicos sintéticos ou alimentos geneticamente modificados. A filosofia dos
alimentos orgânicos não se limita à produção agrícola, estendendo-se também à pecuária
(em que o gado deve ser criado sem remédios ou hormônios), e também ao
processamento de todos os seus produtos:alimentos orgânicos industrializados também
devem ser produzidos sem produtos químicos artificiais, como os corantes e
aromatizantes artificiais. Pode-se quase resumir toda sua essência filosófica num
desprezo absoluto por tudo que tenha origem na industria química. Todas as demais
industrias: mecânica, energética, logística, são admissíveis desde não muito salientes.
Produtos orgânicos costumam ser significativamente mais caros que os tradicionais,
tanto por causa do maior custo de produção, quanto pelo seu marketing (que explora
uma imagem de "apelo ecológico").
Além disso esses produtos por serem orgânicos, não os livra de serem produzidos nos
moldes da agricultura convencional ou da monocultura, eles apenas não usam da química
como principal meio de combate pragas e fazendo uso dessa propaganda,"livre de
agrotóxicos", juntamente com a mídia do "selo verde" que é uma certificação que impede
o pequeno produtor de comercializar seu produto como orgânico, que o mesmo alcança
preços absurdos e atingem a um determinado tipo de consumidor, o de alto poder
aquisitivo.
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TEXTO 08 – Um inferno siderúrgico na Amazônia
Por Mário Osava
https://envolverde.com.br/
Piquiá de Baixo, Brasil, (Terramérica).- ―Meu sobrinho tinha oito anos quando
pisou na ‗munha‘ (carvão pulverizado) e queimou as pernas até os joelhos‖, conta
Angelita Alves de Oliveira neste pedaço da Amazônia brasileira transformado em
armadilha mortal para seus habitantes. O tratamento em hospitais distantes não
conseguiu salvar a criança, porque ―seu sangue ficou intoxicado, segundo o médico.
Minha irmã jamais voltou a ser a mesma mulher. Perdeu seu filho mais novo‖, disse a
professora Oliveira. Seu marido também foi vítima dessas queimaduras, como
comprovam as cicatrizes em suas pernas.
A munha ou ―moinha‖, segundo o dicionário siderúrgico português, é o pó de carvão
vegetal resultante da produção de ferro gusa, material intermediário na obtenção de aço,
que fez de Piquiá de Baixo, na faixa oriental da Amazônia brasileira, um caso trágico de
contaminação industrial. Trata-se de um bairro da zona rural de Açailândia, município do
Maranhão, que nasceu com os acampamentos de operários que se instalaram em 1958
para construir a rodovia Belém-Brasília, um eixo centro-norte de desenvolvimento e
integração do Brasil, que gerou muitos desastres ambientais e sociais.
A ferrovia inaugurada em 1985 para transportar minério de ferro da gigantesca mina na
Serra de Carajás, selou o destino de Açailância como entroncamento e polo siderúrgico.
Piquiá de Baixo ficou cercado por cinco unidades produtoras de ferro gusa, pelos trilhos e
por grandes armazéns de minérios. Enquanto isso, o carvão vegetal para alimentar as
caldeiras siderúrgicas se somava à pecuária para fazer de Açailância um foco de
desmatamento e trabalho escravo.
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Essas chagas diminuíram diante da repressão estatal e diferentes pressões. Mas a
contaminação em Piquiá se agravou, segundo testemunhos colhidos para esta
reportagem. O resíduo pulverizado de carvão continua ameaçador. A secura o torna
inflamável a um ligeiro toque. Isso custou a vida do sobrinho de Angelita em 1993,
quando poucos conheciam o quanto é letal esse pó negro. As pessoas ficaram cautelosas
e os acidentes menos frequentes, mas não acabaram. Outra criança, de sete anos, se
queimou até a cintura em 1999 e agonizou durante três semanas.
―Vi gado incinerado‖, disse Florêncio de Souza Bezerra, que foi camponês e agora é
membro ativo da Associação Comunitária de Moradores de Piquiá, onde vive há dez anos
com nove filhos e dois netos, em uma casa grande de madeira e amplo quintal. Os
montículos de munha podem ser vistos nas ruas por onde passam os caminhões das
siderúrgicas e em pelo menos um depósito a céu aberto no qual este repórter entrou sem
encontrar nenhum controle.
Porém, a queixa mais frequente dos moradores é contra o ar envenenado. ―Há pouco
mais de um ano morreu uma menina com pó de ferro nos pulmões e câncer, depois de
15 dias na terapia intensiva‖, recordou Florêncio. Na pequena praça do bairro, o ativista
vai apontando as casas cujos moradores morreram de doenças respiratórias. Angelita
contou que um ―exame mostrou manchas em meus pulmões há um ano, e o médico me
acusou de fumar quando jovem, mas nunca coloquei um cigarro na boca‖.
Ela deseja dar ―uma esperança de vida‖ às suas netas, que vivem aqui ―ingerindo
contaminação 24 horas por dia‖. ―Já vivi bastante, mas minhas netas não‖, afirmou, aos
61 anos de idade, mais de 30 dedicados ao ensino. Sua casa fica ao lado da Gusa
Nordeste, uma das cinco unidades produtoras de ferro gusa. A situação se agravou ―há
dois anos‖, quando a empresa começou a produzir cimento, segundo ela, lançando um
pó negro que suja tudo em segundos e, em algumas madrugadas, torna impossível ver
sua casa da estrada, a apenas 30 metros de distância.
Para a empresa foi um avanço, porque se trata de aproveitar a escória do alto forno como
matéria-prima, evitando uma volumosa quantidade de dejeto e abastecendo o mercado
local da construção com um produto que antes era preciso trazer de longe. A Gusa
Nordeste destaca sua responsabilidade ambiental porque emprega a munha como
combustível, economizando carvão granulado, e o gás derivado da produção de ferro
gusa é usado para gerar toda a energia elétrica que a empresa precisa.
Porém, a realidade reconhecida pela justiça, por várias autoridades e inclusive pela
indústria, é que a contaminação do ar, da água e da terra torna inviável manter Piquiá de
Baixo no local onde nasceu, há mais de 40 anos. Já há uma proposta aprovada pela
justiça e pela câmara municipal para reassentar as 312 famílias que restam em Piquiá de
Baixo, em um terreno de 38 hectares a seis quilômetros da atual.
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Em dezembro, a justiça ordenou a expropriação da área e fixou seu valor no equivalente
a US$ 450 mil, mas o dono exige quatro vezes essa quantia, e assim se prolonga a
agonia para os moradores de Piquiá. A própria comunidade elaborou um projeto
urbanístico, que inclui casas, escola, praça, lojas e igrejas, explicou Antonio Soffientini,
membro da Justiça Nos Trilhos, uma rede de dezenas de organizações que apoiam a
população afetada pelo ―sistema Carajás‖.
Na Serra de Carajás, a empresa Vale, que foi privatizada em 1997, extrai cerca de 110
milhões de toneladas anuais de minério de ferro, que percorrem 892 quilômetros em
trem até o porto Ponta da Madeira, em São Luis, capital maranhense, para ser exportado.
Uma pequena parte fica em Açailância. Como provedora da indústria local de ferro gusa,
a Vale tem responsabilidade direta na contaminação, acusa a organização Justiça Nos
Trilhos.
―Poderia suspender a entrega do minério até a indústria instalar filtros e pôr fim ao drama
de Piquiá‖, opinou Antonio, missionário italiano do movimento católico comboniano. Isso
geraria uma crise de desemprego em Açailância, advertiu Zenaldo Oliveira, diretor global
de Operações Logísticas da Vale. Este polo siderúrgico já vive uma queda de atividades
desde 2008.
Os seis mil empregos que oferecia nessa época caíram para atuais 3.500 atuais, segundo
Jarles Adelino, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Açailândia. Ele se queixa dos
altos preços que a Vale impõe à matéria-prima, que representam metade dos custos do
ferro gusa. No entanto, isso não se reflete na cidade, que exibe hotéis e sinais de
prosperidade. É que várias obras próximas oferecem trabalho temporário, explicou Jarles,
e cada emprego em uma produtora de ferro gusa gera dez postos indiretos.
TEXTO 09 – LUTADORAS DO CAMPO
A mulher camponesa é aquela que de uma ou de outra maneira, produz o alimento
e garante a subsistência da família. É a pequena agricultora, a pescadora artesanal, a
quebradeira de coco, as extrativistas, as arrendatárias, meeiras, ribeirinhas, posseiras,
bóias-frias, diaristas, parceiras, sem terras, acampadas, assentadas e as assalariadas
rurais. É a mulher que compõe a unidade produtiva camponesa centrada ao núcleo
familiar, o qual, por um lado se dedica a uma produção agrícola e artesanal com o
objetivo de satisfazer as necessidades familiares e subsistência, e por outro lado
comercializar parte de sua produção para garantir recursos necessários à compra de
produtos e serviços que pela agricultura não são garantidos.
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Nesse contexto da atuação da mulher no
campo surgem como caráter organizativo das
camponesas, o Movimento das Mulheres
Camponesas (MMC) que foi constituído em março de
2004, por ocasião de seu primeiro congresso
nacional, mas sua caminhada vem desde a primeira
metade da década de 80, tomando como referência
as lutas históricas das mulheres trabalhadoras e das
iniciativas que as envolviam para quebrar
preconceitos e violência em casa e em lutas sociais,
referência que também deu origem a outros
movimentos e entidades feministas.
O MMC nasceu como movimento autônomo, com atuação específica junto às
mulheres da roça. Isso porque, ao menos nos últimos 10 mil anos, a sociedade patriarcal
relegou às mulheres lugares e papéis tidos como secundários se comparadas aos
homens. E as mulheres camponesas são ainda mais excluídas — seja do acesso ao estudo
e ao conhecimento, seja de seus próprios direitos sociais como cidadãs.
Muitas mulheres camponesas assumem jornada dupla ou até tripla de trabalho.
Fazem aquilo que é necessário e indispensável para a sobrevivência da população. Esse
trabalho, considerado ―serviço‖, lhes é atribuído automaticamente, como se fosse
inerente à condição feminina. É um trabalho não valorizado nem valorado
financeiramente. Um trabalho que impõe uma sobrecarga, em geral repetitiva, exigente e
de muita responsabilidade. Um trabalho que faz com que as mulheres vivam infelizes,
fiquem depressivas e adoeçam. Um trabalho que é uma forma de violência e que a
sociedade, como um todo, costuma não perceber ou ignorar.
É a partir de espaços específicos das mulheres que o MMC afirma ser necessário
fazer uma reapropriação do que é negado e ―roubado‖ das camponesas. Isso significa
mexer em algo enraizado, discutir o ―ser mulher‖ e o ―ser homem‖, questionar os papeis
dos gêneros na história, saber por que se chegou a um tipo de relação no qual as
mulheres são excluídas dos espaços de decisão e levadas à obediência e à submissão.
Daí a missão que se atribui o MMC: ―A libertação das mulheres trabalhadoras de
qualquer tipo de opressão e discriminação‖. Isso se concretiza na organização, formação
e implementação de experiências de resistência popular nas quais as mulheres sejam
protagonistas de sua história. Essa luta é pela construção, junto com os homens, de uma
sociedade baseada em novas relações sociais entre os seres humanos, e destes com a
natureza.
Esse texto foi elaborado por Karol Maia e Jullyanna Pereira, militantes da FEAB –
Crato durante a gestão do NTP de Movimentos Sociais Populares e tomaram como fonte
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para elaboração do mesmo o artigo ―Feminismo Camponês‖ de Isaura Isabel Conte que é
dirigente do Movimento de Mulheres Camponesas do Rio Grande do Sul.
―Enquanto nós, mulheres, não tivermos voz e vez, prevalecerá ainda a relação
opressor-oprimido: opressão de homens sobre outros homens e destes sobre as
mulheres, as crianças e a natureza.‖
SUGESTÕES COMPLEMENTARES PARA O APROFUNDAMENTO DO ESTUDO
FILMES INTERESSANTES:
-O veneno está na mesa
-O mundo segundo à Monsanto
-Nas terras do bem virá
-Abuela Grillo
-Anel de Tucum
-Sementes da liberdade
-Terra – o filme
-Alimentos S.A.
-Food Matters
-Terra em transformação – Agronegócio ou Agroecologia?
- Belo Monte: o anúncio de uma guerra.
LIVROS INTERESSANTES:
-Plantas doentes pelo uso de agrotóxicos
-Agroecologia: bases científicas para uma agricultura sustentável
-Um testamento agrícola
-Árvores geneticamente modificadas
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-Transgênicos: as sementes do mal
-Revolução agroecológica: o movimento de camponês a camponês
-Agrotóxicos, trabalho e saúde
-Agroecologia e os desafios da transição agroecológica
-Pastoreio Racional Voisin
-A questão agrária no Brasil (volumes de 1 a 5)
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O QUE É SER MARANHENSE?
SER MARANHENSE É SER NORDESTINO, NORTISTA E AO MESMO TEMPO NENHUM DOS DOIS.
É SER BRASILEIRO EM SUA MÁXIMA EXPRESSÃO E INTEIRAMENTE TROPICAL, COLORIDO,
HOSPITALEIRO, MUSICAL E FESTEIRO. É NASCER POETA, ESCRITOR, ARTESÃO, LÚDICO E SORRIDENTE, BOIEIRO,
SAMBISTA, BATUQUEIRO E REGUEIRO. É LEVAR A ALEGRIA NA ALMA. É SER MULATO, CABOCLO,
CAFUZO, NEGRO, BRANCO E INDIO. É SER ARDENTE E CALOROSO COMO A PROPRIA TERRA
E DANÇAR AOS MILHARES DE RITMOS DELA. É A SIMPLICIDADE E A HUMILDADE
MATERIALIZADAS. É FORTALEZA PARA ENFRENTAR AS ADVERSIDADES. É SER RELIGIOSO E
TER MUITA FÉ: EM DEUS, SÃO JOSÉ DE RIBAMAR, VODUNS, ORIXÁS, CABOCLOS, ENCANTADOS,
PAJÉS, LENDAS E SUPERSTIÇÕES. É FALAR UM PORTUGUÊS CORRETO, MAS TAMBÉM
CABOCLO. É APRECIAR ARROZ DE CUXÁ, JUÇARA, SABORES DO NORTE E NORDESTE, MAR E
SERTÃO. É SE EMOCIONAR COM AS CANÇÕES DE JOÃO DO VALE, CÉSAR TEIXEIRA E SE
DERRAMAR EM LIRISMO AO CAMINHAR PELAS ANTIGAS VIELAS DE SÃO LUÍS E ALCÂNTARA.
É TER ORGULHO DAS NOSSAS BELEZAS NATURAIS. É SER VIVO COMO NOSSA FAUNA E
FLORA E MORENO COMO NOSSO MAR E NOSSOS RIOS. É SER ARTISTA E TEATRO,
CRIADOR E CRIATURA, ATOR E PRODUTOR DA NOSSA RIQUÍSSIMA CULTURA
POPULAR. É SER TÃO DIVERSO E ÚNICO QUANTO O TORRÃO, QUE É A SÍNTESE NATURAL E
CULTURAL DO PAÍS. SER MARANHENSE É, ACIMA DE TUDO, TER IMENSO PRAZER E
ORGULHO DE SÊ-LO.
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CONTATOS DA COMISSÃO ORGANIZADORA
Site: https://ieraamazonico.blogspot.com.br/
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E-mail: [email protected]
Telefones para contato:
(98)3272-9911 - C.A. de Agronomia
(98)8315-1015 TIM/ANNI SILVA
(98)8315-5816 TIM/GABRIEL FREITAS
(98)8208-7587 TIM/ (098)87834682 OI - GABI DINIZ
(88)9805-0117 TIM/ GENIVAL - FEAB NACIONAL
(98)9201-5437 VIVO/ JAIRLANNA MACHADO
(94)9190-8926 VIVO/NARA HANANDA
(98)8123-0695 TIM/RAYANA MIRANDA
(98)9201-3660 VIVO/TIAGO JANSEN