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Encontro regional de agroecologia amazônico Ufma/ccaa chapadinha/MA Cartilha de textos pré-era

Cartilha PRÉ- TEXTOS I ERA AMAZÔNICO - CORRIGIDA

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Encontro regional de agroecologia amazônico

Ufma/ccaa – chapadinha/MA

Cartilha de textos pré-era

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Agroecologia como Resposta aos Desafios do

Campesinato

Construtores do ERA Amazônico

Chapadinha/MA

2014

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―Ordem e progresso‖

Zé Pinto

Esse é o nosso país

Essa é a nossa bandeira

É por amor a essa pátria Brasil

Que a gente segue em fileira

Queremos mais felicidades

No céu deste olhar cor de anil

No verde esperança sem fogo

Bandeira que o povo assumiu

No verde esperança sem fogo

Bandeira que o povo assumiu

Amarelos são os campos floridos

As faces agora rosadas

Se o branco da paz se irradia

Vitória das mãos calejadas

Se o branco da paz se irradia

Vitória das mãos calejadas

Esse é o nosso país

Essa é a nossa bandeira

É por amor a essa pátria Brasil

Que a gente segue em fileira

Queremos que abrace essa terra

Por ela quem sente paixão

Quem põe com carinho a semente

Pra alimentar a nação

Quem põe com carinho a semente

Pra alimentar a nação

A ordem é ninguém passar fome

Progresso é o povo feliz

A Reforma Agrária é a volta

Do agricultor à raiz

A Reforma Agrária é a volta

Do agricultor à raiz

Esse é o nosso país

Essa é a nossa bandeira

É por amor a essa pátria Brasil

Que a gente segue em fileira

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Apresentação.............................................................................................................05 Construtores do ERA ................................................................................................06 ABEEF ........................................................................................................................06 ENEBio........................................................................................................................06 FEAB ..........................................................................................................................08 LPJ ..............................................................................................................................08 MST.............................................................................................................................09 Informações importantes .........................................................................................11 Grade do I ERA Amazônico – Chapadinha/ Ma .....................................................12 Dia a dia no ERA .......................................................................................................13 Pré – ERA’s .................................................................................................................19 Textos para os pré-ERA’s ..........................................................................................26 A necessidade da ressignificação da relação sociedade/natureza e a proposta e a agroecologia.............................................................................................................26 Falta de estrutura e possibilidade faz com que jovens abandonem o campo .......35 Uma visão sobre Educação do Campo no contexto da realidade brasileira..........37 Movimentos sociais consideram Política Nacional de Agroecologia insuficiente.40 Por que a tecnologia não chega no campo?.............................................................42 Agroecologia versus tecnologia: verdade ou mito?.................................................44 Orgânico X Agroecológico, você sabe a diferença?.................................................45 Um inferno siderúrgico na Amazônia .....................................................................48 Lutadoras do campo..................................................................................................50 Sugestões complementares para o aprofundamento do estudo............................52 O que é ser maranhense? .........................................................................................54 Contatos da comissão organizadora ........................................................................55

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APRESENTAÇÃO

O Encontro Regional de Agroecologia (ERA) é um ambiente de inserção no debate sobre

agroecologia, pensado inicialmente para os estudantes dos cursos das agrárias, mas que no

decorrer de sua história vem se reinventando e atraindo novos sujeitos para essa construção.

Para o nosso I ERA Amazônico além da participação da FEAB, ENEBio e ABEEF teremos

também uma atuação mais próxima dos movimentos camponeses pertencentes a Via Campesina

– como o MST e o MAB – e dos(as) Quilombolas maranhenses e das Comunidades Tradicionais.

Tendo como horizonte uma maior interação entre os atores da construção da agroecologia

no Brasil e um fortalecimento dessas organizações, através da aproximação de novas pessoas

interessas em construir esse grande movimento em defesa de nossa natureza e pela soberania

alimentar.

Nesse encontro traremos como temática a ―Agroecologia como Resposta aos Desafios do

Campesinato‖ entendendo que o papel da agroecologia deve ser a ferramenta de enfrentamento

ao agronegócio e a todas as problemáticas que os povos do campo enfrentam em suas

comunidades. E nós, enquanto juventude, temos um papel importante, onde devemos assumir o

posto de protagonistas dessa revolução agroecológica por ser ela quem construirá hoje o que

viveremos no amanhã. Sendo ainda @s jovens personagens importantes na existência de

inúmeras experiências agroecológicas que deram e continuam dando cada vez mais certo na

agricultura hoje.

Dessa forma o encontro trará debates sobre a agroecologia em nosso país e sobre o seu

papel na construção dela, além de como se dá a inserção do povo no campo brasileiro e de como

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ele é explorado e exterminado pelo agronegócio, que aniquila toda a perspectiva de produção e

reprodução de sua vida. Além de tratar sobre o êxodo desse povo, as relações de gênero, acesso

a educação e outros serviços.

Entendendo que a agroecologia é além de uma forma de produção, que junta ciência e

técnica, é também política, dessa maneira trazemos as oficinas e vivências com o intuito de

preparar os encontristas para serem capazes de reproduzir e utilizar em seus locais de inserção

as técnicas agroecológicas. Assim convidamos todos e todas as virem para a nossa querida

Chapadinha, a princesa do Baixo Parnaíba, construir o ERA mais lindo de todos!

Construtores do ERA

Associação Brasileira dos Estudantes de Engenharia Florestal

A Associação Brasileira dos Estudantes de Engenharia Florestal – ABEEF é uma entidade sem fins

lucrativos que organiza e articula @s estudantes de Engenharia

Florestal a nível nacional, regional e local, preocupada com uma

melhor formação técnica, política e ética dos estudantes, para que

estes possam compreender e atuar sobre a realidade social de nosso

país, uma vez que a Universidade nos moldes atuais, cada vez menos

cumpre papel de construção de sujeitos críticos à realidade na qual

estão inseridos. Assim, ao longo de sua história a Associação atuou em

torno do objetivo de construir uma sociedade justa, igualitária, sem

exploradores e explorados e que utilize os recursos naturais de forma

equilibrada, harmônica e sustentável. E esses objetivos se mantém firmes, e definem o horizonte

de trabalho de nossa organização bem como a nossa forma de atuação.

Para isso, a ABEEF tem a universidade como principal área de atuação, entendendo que

todos devem ter direito a uma educação pública, gratuita, autônoma e de qualidade. Mas, e claro,

não enxerga a universidade como uma bolha isolada dentro da sociedade e por isso expande

seus horizontes para além de seus muros. Nesse sentido, a ABEEF vem estreitando laços com os

movimentos sociais populares ligados ao campo, principalmente os que estão inseridos na VIA

campesina (como MST, MAB, etc.), à floresta e à cidade, além de estreitar ainda mais os laços

com outras entidades do Movimento Estudantil.

Executiva Nacional dos Estudantes de Biologia

A ENEBio - Entidade Nacional dos Estudantes

de Biologia, reorganizada em 2007, é composta por

diversas escolas do Brasil e vem durante estes 5

anos construindo o Movimento Estudantil da

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Biologia, colocando em debate os principais problemas que encontramos nesta sociedade, no

meio ambiente e também em nossa formação e educação.

Ela reconhece em sua carta de princípios o desacordo com a exploração do homem pelo

homem e da natureza pelo homem, e bem como qualquer forma de mercantilização de recursos

naturais, pessoas e valores, como acontece no sistema capitalista. Defende a construção da

agroecologia como instrumento de luta, com o intuito de despertar uma nova ética ecológica nos

seres humanos, que priorize valores socialmente justos, ambientalmente seguros e

economicamente viáveis. Reconhece também a luta contra as opressões, seja ela de classe,

origem nacional, gênero, etnia, religião, orientação sexual e política. Luta por uma educação para

tod@s, gratuita, laica, socialmente referenciada e de qualidade, com caráter emancipatório e

transformador e acredita na organização coletiva como forma de superação das contradições

sociais.

A Entidade então se propõe a promover a luta pela superação desse modelo social,

articulando discussões pertinentes à formação do sujeito biólogo, dentro dessa perspectiva, para

que cada vez mais estudantes possam ser protagonistas da transformação que queremos para

nossa sociedade, com visão e posicionamentos políticos críticos a respeito dos fatos do Brasil e

do mundo.

Com o objetivo de fortalecer cada vez mais a troca de experiências e massificar nossas

discussões (proporcionando a construção de novos valores e as relações de companheirismo), a

ENEBio realiza todos os anos Encontros Nacionais e Encontros Regionais de Biologia, ENEB e EREB

respectivamente, onde deliberamos sobre as ações da nossa entidade, como também os

Conselhos Nacionais e Regionais, CONEBio e COREBio respectivamente, onde organizamos e

planejamos nossas atividades ao longo do ano. Além disso, para

instrumentalizar nossa militância, proporcionando uma formação

crítica mais aprofundada sobre temas importantes para

transformação social e alteração do modelo vigente, a ENEBio

realiza Cursos de Formação Política da Biologia (CFPBio) e em

Agroecologia (CFA), organiza os Estágios Interdisciplinares de

Vivência (EIV) em diversos estados.

Necessário ressaltar a importância das parcerias da ENEBio, resultado de uma construção

diária e concreta de lutas e articulações com alguns Movimentos Sociais Populares, em especial

com componentes da Via Campesina, e com outras executivas de curso, como a FEAB (Federação

dos Estudantes de Agronomia do Brasil) e a ABEEF (Associação Brasileira dos Estudantes de

Engenharia Florestal). Essa aproximação mostra uma identificação cada vez maior de nossa

Entidade com as causas populares e o Povo Brasileiro, colocando o papel protagonista que a

juventude tem a cumprir dentro e fora da universidade.

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A ENEBIO representa os estudantes de biologia do Brasil que se identificam com a luta pela

transformação da sociedade, para que vivamos num mundo mais justo e sustentável, com maior

equidade social e onde reconheçamos o ser humano como integrante da natureza e agente

transformador da mesma, e convida a todos e todas as estudantes de biologia de nosso país, a

lutar!

Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil

A FEAB – Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil

– nossa quarentona, tem muita coisa para contar de sua jornada.

Altos e baixos, muita luta travada.

Viemos nesses 40 anos organizando a estudantada,

fazendo formação e realizando lutas. Levantando e balançando as

nossas bandeiras que são: Educação; Gênero e sexualidade;

Agroecologia; Juventude, cultura, valores, raça e etnia; Relações

internacionais; Movimentos sociais populares; Ciência e tecnologia; História e comunicação.

Uma caminhada de mãos dadas com o povo. Rumando a construção de projeto de vida

para o campo brasileiro, construindo a Agroecologia, que traz consigo novas formas de relação

da camponesa e do camponês entre si e com a natureza. Lutando pela soberania alimentar e

social de nossa nação.

Ser militante da FEAB é ser lutador e lutadora do povo. Defendendo diariamente os

interesses da classe trabalhadora e do campesinato. Se transformando em novos homens e novas

mulheres. Ajudando na edificação de uma sociedade sem preconceitos, sem opressões e sem

exploração.

Levante Popular da Juventude

O Levante Popular da Juventude é um movimento social de

jovens militantes voltados para a luta de massas em busca da

transformação social. SOMOS A JUVENTUDE DO PROJETO

POPULAR, e nos propomos a ser o fermento na massa jovem

brasileira. Somos um grupo de jovens que não baixam a cabeça

para as injustiças e desigualdades.

A nossa proposta é organizar a juventude onde quer que

ela esteja. Deste modo, nos organizamos a partir de três campos

de atuação:

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1) no meio estudantil secundarista e universitário;

2) nas periferias dos centros urbanos e:

3) nos setores camponeses.

Nosso principal objetivo é multiplicar grupos de jovens em diferentes territórios e setores

sociais, fazendo experiências de organização, agitação e mobilização.

O Levante organiza a juventude para fazer denúncias à sociedade por meio de ações de

Agitação e Propaganda (agitprop), ou seja, várias técnicas de comunicação e expressão da

juventude com o povo, como músicas, grafismo (graffite), dança, teatro, fanzines, faixas,

adesivos, murais, gritos de luta, etc.

O diferencial do Levante é que não elegemos bandeiras prioritárias, mas nos colocamos ao lado

das mobilizações que reivindicam melhores condições de vida para a juventude brasileira. Num

contexto onde falta quase tudo na vida cotidiana do jovem, nosso método é mostrar que sem a

organização coletiva e luta nenhuma conquista verdadeira é possível.

A perspectiva que o Levante oferece é a possibilidade de estar organizado/a coletivamente

para viver e para lutar. Fora da organização as ações isoladas de um indivíduo, por mais justas

que sejam, não tem sucesso. Portanto, o que o Levante possibilita às pessoas é o reconhecimento

da sua condição de sujeitos e a construção de possibilidades para que estes recuperem a sua

capacidade de intervenção política.

Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Serra

O Movimento Sem Terra está organizado em 24 estados nas cinco regiões do país. No

total, são cerca de 350 mil famílias que conquistaram a terra por meio da luta e da organização

dos trabalhadores rurais.

Mesmo depois de assentadas, estas famílias permanecem organizadas no MST, pois a conquista

da terra é apenas o primeiro passo para a realização da Reforma Agrária. Os latifúndios

desapropriados para assentamentos normalmente possuem poucas benfeitorias e infraestrutura,

como saneamento, energia elétrica, acesso à cultura e lazer. Por isso, as famílias assentadas

seguem organizadas e realizam novas lutas para conquistarem estes direitos básicos.

Com esta dimensão nacional, as famílias assentadas e acampadas organizam-se numa estrutura

participativa e democrática para tomar as decisões no MST. Nos assentamentos e acampamentos,

as famílias organizam-se em núcleos que discutem a produção, a escola, as necessidades de

cada área. Destes núcleos, saem os coordenadores e coordenadoras do assentamento ou do

acampamento. A mesma estrutura se repete em nível regional, estadual e nacional. Um aspecto

importante é que as instâncias de decisão são orientadas para garantir a participação das

mulheres, sempre com dois coordenadores, um homem e uma mulher. E

nas assembleias de acampamentos e assentamentos, todos têm direito a

voto: adultos, jovens, homens e mulheres.

Da mesma forma nas instâncias nacionais, o maior espaço de

decisões do MST é o Congresso que ocorre a cada 5 anos. No mais

recente, o VI Congresso, participaram mais de 14 mil pessoas. É no

Congresso que são definidas as linhas políticas do Movimento para o

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próximo período e avaliado o período anterior. Estas definições são sintetizadas nas palavras de

ordem de cada Congresso e que se estendem para o período seguinte. O VI Congresso Nacional

definiu como linha para este próximo período: ―Lutar, Construir Reforma Agrária Popular!‖. Além

do Congresso, a cada dois anos, o MST realiza seu encontro nacional, onde são avaliadas e

atualizadas as definições deliberadas no Congresso.

Além dos Congressos, Encontros e Coordenações, as famílias também se organizam por setores

para encaminharem tarefas específicas. Setores como Produção, Saúde, Gênero, Comunicação,

Educação, Juventude, Finanças, Direitos Humanos, Relações Internacionais, entre outros, são

organizados desde o nível local até nacionalmente, de acordo com a necessidade e a demanda de

cada assentamento, acampamento ou estado.

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INFORMAÇÕES COMPANHEIR@S

INFORNAÇÕES PARA AS DELEGAÇÕES

-Tirar um chefe da delegação que

será o responsável por fazer o

credenciamento, e será o contato da

brigada com A C.O. (comissão

organizadora);

-Avisar à C.O. o quanto antes a

confirmação da vinda ao ERA;

- Enviar duas pessoas por escola

para o curso de coordenadores data,

25/05 a 27/05.

-Solicitar 200 km a mais no ônibus

para o deslocamento até a vivência;

-proibido o uso de drogas ilícitas

no local do evento.

O que trazer?

-Kit militante (copo, talher e

prato / lençol e colchonete);

-Kit higiene pessoal;

-Barraca, pois teremos camping (mas

para quem não tiver teremos

alojamento em tendas);

-Remédios de uso pessoal;

-Sementes, livros, filmes,

temperos, etc. Para Feira

Agroecológica de Saberes e Sabores

e para o Bumba-Meu-Maranhão;

-Pandeiro, violão, zabumba, latas e

muitos mais instrumentos para fazer

a nossa alegria;

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Grade do I Encontro Regional de Agroecologia Amazônico Universidade Federal do Maranhão | Campus Universitário de Chapadinha

De 28 de maio a 01 de junho de 2014

Grade Dia 28/05

Quarta

Dia 29/05

Quinta

Dia 30/05

Sexta

Dia 31/05

Sábado

Dia 01/06

Domingo

Manhã Chegada /

Credenciamento

Painel I

Painel II/ GD

II

Oficina do

Ato

Vivências

Tarde Chegada /

Credenciamento

GD I Painéis

Paralelos /

Oficinas

Ato Público Plenária final /

Encerramento e

Avaliação

Noite Abertura

Reunião das

Organizações

Feira

Agroecológica

de Saberes e

Sabores

Socialização

do Ato

Bumba-Meu-

Maranhão

Fim de

Noite

Bumba-Meu-

Maranhão

Bumba-Meu-

Maranhão

Bumba-Meu-

Maranhão

Bumba-Meu-

Maranhão

Pega o beco!

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DIA A DIA NO ERA

Manha e tarde: Chegada e credenciamento

Nesse espaço é importante que o chefe de delegação recolha os RG's de toda a

delegação e se encaminhe a Secretaria do ERA para credenciar e receber os kit's dos

encontristas ou então para poder inscrever, credenciar e aí receber os kit's dos

encontristas.

A C.O. encaminhará cada delegação para os alojamentos e para as áreas de camping.

Além de esclarecer quaisquer dúvidas que possam vir a aparecer.

Noite: Abertura, Apresentação das Escolas, divisão das Tribos e Bumba-Meu-Maranhão

Abertura

É o momento que daremos boas vindas oficialmente a todas as delegações. Será também

o momento que sentiremos na pele o poder da mística, pois ela é fundamental para que

possamos estar entrando no ritmo do ERA.

Apresentação das Escolas

Espaço reservado para que as escolas se apresentem a todas as outras que estarão

presentes no ERA. É uma chance de se interagir com a galera.

Tribos

As tribos são grupos menores e servem para que @s encontristas possam se reunir

durante os espaços do encontro, como o Painel I, para poderem debater e aprofundar

mais sobre a temática de cada espaço, além da realização de algumas tarefas inerentes

ao funcionamento do encontro, como alvorada e disciplina. As tribos serão suas famílias

durante o ERA e é com eles que vocês passaram uma parte do tempo. As tribos são muito

importantes para os processos de interação e aprendizagem, pois nelas @s encontristas

estarão em contato com pessoas das mais variadas regiões e saberes. A CO divulgará no

ato do credenciamento como serão divididas as tribos.

Quarta-feira | 28/05

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Bumba-Meu-Maranhão

Com a intenção de homenagear e propagandear o nosso grande e enigmático

Bumba-Meu-Boi, que é um movimento cultural e secular dos povos negros e indígenas

maranhenses, estamos lançando no ERA o Bumba-Meu-Maranhão, que é o momento de

confraternização ao fim das atividades de cada dia.

Este é o espaço de trocas de experiências culturais, onde nós estaremos

apresentando um pouco da cultura regional (Meio-Norte) e maranhense, além de trocar

sementes, livros, filmes, entre outras coisas. Esse é também o espaço onde provaremos a

culinária maranhense e dançaremos do reggae ao cacuriá.

Manhã: Painel I – Agroecologia na Amazônia e o Avanço das Fronteiras Agrícolas

Nesse painel será debatido sobre o avanço que o agronegócio vem dando na

região amazônica e o papel que a agroecologia tem em como um sistema viável de

produção de alimentos saudáveis, que respeita o meio

ambiente e que é fonte de renda às famílias camponesas.

Além de trazer a conjuntura evidenciando onde está e o que

tem feito hoje a juventude do campo e da cidade.

Tarde: GD I

A tarde será dividida em duas. Durante a primeira

parte da tarde haverá um espaço onde as tribos debaterão

os questionamentos e posicionamentos do Painel I.

Já na segunda parte da tarde todas as tribos se juntarão em plenária para socializarmos

com a companheirada todo o debate que foi feito em suas respectivas tribos.

Noite: Reunião das organizações

A reunião das organizações é um momento em que pessoas da mesma

organização, porém de variados Estados e escolas podem se sentar e debater sobre a

situação das organizações e da construção da Agroecologia em seus locais de origem.

Além de tirarem encaminhamentos que possam vir a ajudar na construção das

organizações.

QUINTA-FEIRA | 29/05

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Manhã: Será dividida em dois momentos – o Painel II e o GD II

Painel II – O papel da Agroecologia na soberania nutricional e segurança alimentar.

Essa mesa vem mostrar a agroecologia como uma alternativa, como o povo se

coloca na luta pela agroecologia, colocando que ela produz alimentos 100% saudáveis e

que é possível alimentarmos todas as famílias brasileiras por meio da Agroecologia.

Mostrar ainda que alimentos têm que ser produzidos de maneira limpa, sustentável e que

forneça renda às famílias do campo.

GD II

É o momento de se debater sobre os questionamentos acerca do tema abordado nas

suas tribos.

Tarde: Painéis Paralelos / Oficinas

Painéis Paralelos

Nesse momento acontecem vários painéis ao mesmo tempo com as mais diversas

temáticas. Os painéis que teremos no nosso ERA serão:

1. O papel da mulher na agroecologia;

2. Diversidade Sexual ;

3. Educação do campo e a pedagogia da alternância;

4. Transgênicos e agrotóxicos;

5. Movimentos sociais e comunidades tradicionais;

6. Conservação do Bioma amazônico;

7. Agroecologia , agricultura familiar e extensão rural;

8. Conflitos agrários no campo;

Oficinas

As oficinas vêm para ajudar no aprendizado prático das técnicas agroecológicas,

para que estejamos preparados para atuar no campo, além de nos preparar para mostrar

na prática as pessoas de nossas universidades, assentamentos, escolas e comunidades,

que não acreditam no potencial da Agroecologia. No nosso ERA teremos as seguintes

oficinas:

SEXTA-FEIRA | 30/05

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1. Meliponicultura;

2. Defensivos Naturais;

3. Compostagem;

4. Biofertilizantes;

5. Plantas medicinais;

6. Horta suspensa;

7. Energias renováveis;

8. Manejo Ecológico do Solo;

9. Resíduos Sólidos;

10.Sementes crioulas;

11.Horta Mandala.

Noite: Feira Agroecológica de Saberes e Sabores

Nesse momento traremos as comunidades tradicionais e produtivas do Baixo

Parnaíba maranhense, para que possam trocar suas experiências e para comercializar um

pouco do que produzem. Faremos também, rodas de conversa com os agricultores e

agricultoras para que possamos trocar uma ideia. Teremos também artesanato, rodas de

violão, tambor de crioula, venda de livros e muito mais...

Estaremos no Maranhão e temos uma fama de uma culinária impecável! Não será

diferente no ERA: prepararemos uma área onde ofertaremos comidas típicas do

Maranhão.

Manhã: Oficina do ATO Público

Nessa manhã nos reuniremos primeiramente na plenária para explicar como e

onde vai ser o nosso ato. Depois explicaremos como e onde funcionarão as oficinas para

o ato. Cada encontrista escolhe de qual oficina irá participar de acordo com a demanda

de cada uma. Pedimos que as escolas que puderem, trazer materiais para ajudar nas

oficinas do nosso ato. O ATO público é uma das partes mais importantes de nosso

encontro. É o momento em que saímos as ruas para dialogar com a sociedade e mostrar

o nosso projeto, que é a Agroecologia. Aqui usaremos tudo que aprendemos durante o

ERA e toda a bagagem que já tínhamos para poder conversar com as pessoas. As oficinas

são:

Clowns Lambe Comunicação

Batucada Cartazes Registro

Segurança Palavras de ordem e

musicas

Saúde

SÁBADO | 31/05

Page 17: Cartilha PRÉ- TEXTOS I ERA AMAZÔNICO - CORRIGIDA

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Tarde: Ato Público

Nessa tarde sairemos pelas ruas de Chapadinha para

dialogar com a população e mostrar para a sociedade o que

viemos aprendendo durantes os dias do encontro. É o

momento de mostrarmos que existe sim outra alternativa

para o campo brasileiro e de que ela é viável. As pautas e a

metodologia do ato serão informadas no dia pela CO.

Noite: Socialização do Ato

Agora iremos fazer a socialização que preparamos com muito carinho no dia

anterior para que todos e todas as encontristas possam ficar sabendo o que nossa tribo

debateu e aprendeu durante todos esses dias. Aqui apresentaremos também a identidade

de nossa tribo.

Manhã: Vivências

No domingo estaremos saindo de dentro do local onde acontecerá o nosso ERA

para desbravar as terras maranhenses. Conhecer a região do Baixo Parnaíba e Munin,

reunião rica de cultura, fauna e flora, de gente simples e de bom coração...

Em breve disponibilizaremos os locais de vivência no site do ERA Amazônico.

Tarde: Plenária final / Avaliação / Encerramento

Plenária final

Nessa plenária faremos os encaminhamentos finais do nosso ERA, como cartas de

apoio.

Avaliação

Logo após esses dois espaços anteriores, voltaremos a nos reunir com nossas

tribos para fazermos a avaliação do ERA. Que depois será sistematizada em um

documento só para encaminhar para as organizações e para a futura CO.

DOMINGO | 01/05

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Encerramento

Aqui faremos o encerramento oficial do nosso ERA. Além de fazer os

agradecimentos, passar as impressões da CO e se despedir desse povo lindo que vai vir

ao nosso encontro.

Noite: Pega o beco povo!

Nesse momento as delegações começam a retornar para os seus locais de origens.

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PRÉ-ERA‘s

Para garantirmos uma melhor participação dos/as encontristas, é importante que

as organizações pensem com bastante carinho na preparação dos grupos que virão ao

ERA, cuidando para que todos os/as participantes se apropriem tanto do conteúdo,

quanto da metodologia, e assim possibilitando que todos e todas da delegação façam

intervenções e possam aproveitar ao máximo de nosso encontro.

Há alguns anos, os grupos que participam dos ERA‘s realizam os Pré-ERA‘s, que são

espaços nos quais organizamos nossa delegação para a vinda ao encontro, apresentando

como este funciona e também realizando debates sobre a Agroecologia e as principais

linhas temáticas do evento.

A realização desses espaços preparatórios para o ERA já ajudaram e ainda vão continuar

ajudando na formação e consolidação de grupos organizados em torno das executivas e

movimentos sociais, além das outras formas de organização, como CA's, DA's, Grêmios

Estudantis e Grupos de Agroecologia.

Cada grupo tem total liberdade de organização deste espaço, porém gostaríamos

de dar algumas dicas - que representam o acúmulo de diversas organizações - de como

organizar a reunião (e o momento de estudo) e também sobre algumas metodologias

participativas.

I. DICAS PARA ESTUDO INDIVIDUAL OU COLETIVO

Retirado da cartilha ―Trabalho de base. Teoria e prática. Coletânea de Textos.‖ CEPIS,

Maio de 2005.

1. Rotina de Estudo: marcar um horário e um dia facilita a escolha dos espaços reservado

para os estudos.

2. Tempo de estudo: recomenda-se que por vez, se use no estudo, no mínimo 45 e no

máximo, 60 minutos.

3. Garantir o material: cada pessoa deve ter e zelar por sua cópia individual do texto,

livro, desenho.

4. O dia bom: as pesquisas mostram que não se programa estudo em dias de cansaço; no

sábado, por exemplo.

Page 20: Cartilha PRÉ- TEXTOS I ERA AMAZÔNICO - CORRIGIDA

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5. Ambiente favorável: lugar com claridade, agradável, sem gente passando, sem barulho,

que concentre.

6. Postura confortável: apoiar o material sentar-se em vez de deitar-se, posição relaxada,

pés apoiados.

7. Uma lição de cada vez: porque isso ajuda a entender, gravar e fazer uma aplicação

prática do conteúdo.

8. Folhear o texto: para se ter uma visão do conjunto – olhar o autor, os títulos, palavras,

desenhos.

9. Fazer anotações: marcando as passagens importantes, os destaques, as novidades, o

que se gosta, as dúvidas.

10. Voltar ao texto: várias vezes para apreender a mensagem, as ideias, fatos,

informações e exemplos.

11. Fazer resumo: significa repetir com as próprias palavras as principais ideias,

colocando as opiniões pessoais.

12. Discutir no coletivo: as dúvidas, interpretações e divergências surgidas no estudo

devem ser esclarecidas.

13. Recordar lição anterior: é necessário repetir o já estudado, antes de continuar ou se

começar uma leitura.

Observação: O plano individual, para ter mais resultado, deve articular-se com o plano

coletivo de estudo.

Passos para o estudo em grupo

Em muitos casos, a organização popular precisa preparar militantes para atuarem

como monitores que ajudem os iniciantes na compreensão do conteúdo e no

esclarecimento das dúvidas. Nesse caso, esses multiplicadores devem ter uma preparação

que os ajude no repasse criativo e dinâmico do conteúdo.

Para o estudo grupal, sugerimos os seguintes passos:

É indispensável ter uma coordenação que estimule e facilite a participação de todas as

pessoas.

Leitura integral do texto para ter uma visão de conjunto do conteúdo. Pode ser um

bloco, de um capítulo ou do todo. Em voz alta, com uma ou várias pessoas lendo.

Reler em pequenos grupos, por proximidade para fixar o assunto e permitir o debate e

Page 21: Cartilha PRÉ- TEXTOS I ERA AMAZÔNICO - CORRIGIDA

21

o aprendizado.

Realização de um plenário onde as pessoas possam expressar e debater suas

opiniões.

Identificar o tema central a coordenação recolhe e ordena a compreensão que as

pessoas tiveram da leitura.

Destacar ideias principais até chegar à ideia central da leitura, vendo argumentos e

exemplos ligados a essa ideia.

Anotar dúvidas, impressões, passagens, questões despertadas pela leitura e sua

discussão.

Resumir no grupo e no plenário, em palavras-chave, frases curtas ou até desenhos as

ideias mais importantes.

Interpretar juntos tentando comparar/associar as ideias do texto com as do grupo e

com outras leituras.

Aprender a criticar no sentido de formar opiniões próprias e de fazer apreciações

sobre o texto.

Tirar conclusões e aprendizados que poderão ser usados na prática das pessoas e do

grupo.

Encaminhar a próxima etapa do plano de estudos.

Estudo em grupo

Um estudo eficaz, sem ser chato, exige:

a) Uma preparação aprimorada

A convocação das pessoas é parte determinante em qualquer atividade popular.

Funciona quando é feita pelo contato e o convencimento direto. Avisos gerais ou

escritos servem apenas para recordar a convocação pessoal.

O local da reunião deve ser um espaço aconchegante, que acomode bem as pessoas e

um ambiente que expresse o tema a ser debatido: cartazes, símbolos, músicas,

poemas...

Preparação das pessoas encarregadas de animar o debate – elas devem estudar bem o

assunto, preparar material de apoio e sugerir dinâmicas participativas.

Disciplina consciente – Por respeito às pessoas que comparecem, o estudo deve

começar e terminar na hora marcada.

b) Uma coordenação firme

O processo da reunião é de responsabilidade coletiva. Mas, é comandada pela

coordenação. Por isso, para a coordenação, chegar na hora, significa chegar antes da

hora marcada.

Participar e não assistir é a finalidade do estudo. A coordenação anima a socialização

do debate, questiona as afirmações, resume e complementa sem sair do tema

Page 22: Cartilha PRÉ- TEXTOS I ERA AMAZÔNICO - CORRIGIDA

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principal.

Coordenar não é passar a palavra. É preparar, acolher, animar, sintetizar, garantir o

rumo, facilitar a participação, possibilitar a tomada de decisão.

c) Uma realização eficiente

Começar na hora marcada, com entusiasmo, de forma que eleve o astral do grupo.

Não exceder hora e meia – para não perder o poder de concentração. Se continuar,

pausa, com amenidades.

Abordar os temas (análise, opinião, sugestões, encaminhamentos) de forma clara e

direta.

Evitar o monólogo. Frear, com jeito, o ímpeto de quem adora ouvir o eco da própria

voz.

Evitar a discussão entre duas ou entre algumas pessoas, possibilitar que todas as

pessoas falem estimular as caladas e as tímidas e conter falas que se desviam do

assunto.

Só seguir adiante se o assunto foi bem discutido e concluído.

Encerrar a reunião de forma agradável, na hora combinada.

d) Encaminhamentos das decisões

Deixar claro as conclusões do estudo, as tarefas a serem encaminhadas, as

responsabilidades e os prazos.

Encarregar gente para acompanhar e cobrar as providências.

Combinar as próximas atividades

Observação: Você pode modificar ou acrescentar dicas tiradas da sua própria experiência.

II. TÉCNICAS PARTICIPATIVAS

Retirado da cartilha ―Concepção de Educação Popular do CEPIS‖ do Centro de Educação

Popular do Instituto Sedes Sapientiae, Junho 2008.

Técnicas são recursos pedagógicos usados no processo educativo, para facilitar o

aprendizado. São procedimentos didáticos, dinâmicas e instrumentos técnicos para o uso

desses recursos. Como já foi dito, Educação Popular não se confunde com o uso de

procedimentos – dinâmicas de grupo, recursos audiovisuais – que facilitam a integração e

geram entusiasmo nas pessoas. Os instrumentos ajudam no processo de tradução,

reconstrução e criação coletiva do conhecimento da realidade. A ―euforia do participativo‖

é enganosa, porque, por si, não prepara ninguém para ser protagonista, para entender a

realidade social ou para comprometer-se com a transformação social. Às vezes, contribui

para que as pessoas sejam manipuladas. Chefes bonzinhos consultam, ouvem a opinião,

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e o trabalhador não desconfia que isso só facilita o aumento da produção e riqueza dos

patrões.

O uso de recursos pedagógicos não é neutro – a maneira de fazer uma atividade

pode afirmar ou negar seus objetivos. Quando a Educação Popular insiste no uso dos

recursos pedagógicos, tem clareza de que os instrumentos servem para ajudar na

incorporação de conteúdos, de forma participativa e crítica. Os desenhos, vídeos,

dramatizações, poemas... São caminhos para alcançar um objetivo. Da mesma forma, as

dinâmicas não devem ser vistas como um recurso tático e atrativo para animar pessoas e

grupos; são recursos para estimular a participação e a cooperação mútua. Entre as

técnicas pedagógicas estão:

1. Dinâmicas de Grupo

São as várias formas de movimentar as pessoas presentes, em uma atividade e fazê-las

participantes, presentes de corpo, mente e coração. Facilitam o entrosamento, o

conhecimento mútuo, a construção de confiança e o intercâmbio de ideias e de

experiências. Algumas dinâmicas da Educação Popular.

A Mística

A mística de um Movimento é o conjunto de motivações e princípios que alimentam a sua

existência. Enquanto dinâmica, ajuda a recordar os valores, princípios e exemplos,

baseados em convicções que unem a classe oprimida. Pode ser feita a qualquer hora,

sempre ligada ao assunto do dia. Deve ser curta, simples, bonita e, sobretudo,

participada. Em forma de canto, poema, gesto, mensagem, silêncio, testemunho. Não

pode virar um show para ser assistido ou para engrandecer quem a preparou.

A Apresentação

Usa-se dinâmicas de apresentação para quebrar o gelo, facilitar o conhecimento

das pessoas presentes, ouvir as expectativas, revelar identidades, saber o que as pessoas

fazem, pensam e sentem. Para evitar a formalidade ou a exibição, onde as pessoas se

escondem atrás de cargos e títulos. Existem diferentes e criativas formas de apresentação

e os educadores devem ir criando outras de acordo com o grupo e o objetivo da reunião.

A Dramatização

Serve para iniciar ou verificar se um assunto foi assimilado. Num encontro sobre

relações sociais de gênero, os grupos podem encenar como vive uma família. Ao analisar

a apresentação, o grupo pode refletir como se dão as relações sociais de poder. Encenar

Page 24: Cartilha PRÉ- TEXTOS I ERA AMAZÔNICO - CORRIGIDA

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como fazer uma reunião ajuda a ver os acertos, vícios e papéis que acontecem na

realidade e o comportamento de diversos atores.

Alongamentos e Brincadeiras

São feitas para descontrair, divertir, promover o entrosamento. Servem como exercícios

para o corpo – alongamentos, danças, capoeira...; ajuda na movimentação do plenário,

além de uma oportunidade de revelar habilidades e talentos das pessoas presentes.

A formação de grupos

É uma dinâmica para envolver todas as pessoas, para mastigar o assunto discutido,

verificar seu entendimento, aprofundar um tema, comparar o estudado com a vida e tirar

conclusões para a prática. Para levantar questões, o cochicho em plenário, ajuda. Se a

tarefa do grupo é a leitura de um texto, é melhor que se faça fora do plenário, em divisão

por crachá, cor, número, mútua escolha, vizinhança... Sempre com grupos pequenos e

pergunta clara, para que cada pessoa possa dar sua opinião. O resultado pode vir num

cartaz a ser explicado em plenário.

2. O uso da poesia e da música

A forma poética e musical emociona, envolve, desarma e aproxima, porque pega

as pessoas por dentro. Para participar as pessoas precisam conhecer ou ter uma cópia em

mãos. Devem ser recitadas ou cantadas, no momento e ambientes adequados. A

experiência da primeira leitura pública bem feita e solene, seguida de leitura coletiva, tem

sido proveitosa. Pode ser no começo, meio ou fim da atividade sempre ligada ao assunto

tratado. Cada região ou grupo pode e deve ter sua própria seleção.

O uso de recursos áudios-visuais

Quando se fala que o ―o povo tem que entender o que eu digo, tem que ver o que

eu digo‖, reforça-se a ideia de que ―a comparação é a cesta aonde o povo leva a

mensagem para casa‖, ou que ―um só olhar vale mais do que mil palavras‖. Este recurso

vale por ser mais atrativo, provocar várias interpretações, revelar a experiência das

pessoas; porque, mesmo sem escolaridade, se pode captar a mensagem. No processo de

aprendizagem, 60% são recebidos pela visão; 20% pela audição; 10% pelo tato; 5% pelo

olfato; 5% pelo paladar.

Por isso, o poder da mídia. Entre os diversos recursos áudios-visuais, lembramos:

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Desenho, cartaz, filme...

Quando usados como recurso pedagógico, servem para motivar o estudo sobre um

tema ou ilustrar um assunto debatido, serve para iniciar ou ilustrar um debate sobre o

tema. O desenho e/ou cartaz pode ser feito na hora ou pode vir preparado. As pessoas

devem ter cópia e/ou boa visão do recurso que está sendo utilizado. A leitura individual,

em grupos e em plenário, ajuda a desmontar a imagem ou a história. Após a exibição do

filme é importante um debate sobre ele. O uso de imagens é um bom exercício para

aprender e ensinar, pelos modos diferentes de ver, pelo debate, por reunir pontos de

concordância e discordância, por sugerir lições para a prática concreta. É necessário

verificar se a mensagem foi captada e se foi refletida a relação do recurso audiovisual

com o assunto tratado.

O uso de mensagens, provérbios e parábolas

São recursos usados para reflexão, ou como provocação, conforme o tema.

Exemplo: ―Quando o rico mata o pobre, o defunto é que vai em cana‖; ―Se o boi soubesse

a força que tem, ninguém dominava ele‖. Após sua leitura pública, solene, individual e

coletiva, a pessoa sublinha o aspecto que achou importante, comunica ao vizinho, ao

grupo e ao plenário. Quem coordena o debate deve estar atento para recolher e

sistematizar as contribuições, em diálogo com o grupo e sempre questionando as

afirmações.

O uso de textos

É importante para um estudo mais aprofundado sobre um tema, além de um

exercício de leitura e sistematização do que foi lido. A leitura pode ser em grupo ou

individual e possibilita a criação do hábito de leitura e da continuidade da formação sem

a presença do educador. Enfim, as técnicas participativas, os meios, os métodos e até os

instrumentos pedagógicos estão intimamente vinculados ao fim do qual eles são o

caminho. Por isso, é indispensável que os participantes da ação educativa se apropriem

do conteúdo, da metodologia e, inclusive, do funcionamento dos instrumentos.

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Page 26: Cartilha PRÉ- TEXTOS I ERA AMAZÔNICO - CORRIGIDA

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TEXTOS PARA OS PRÉ- ERA’s

TEXTO 01 – A necessidade da ressignificação da relação sociedade/natureza e a proposta

da agroecologia

Contribuição da escola de Castanhal-PA, NTP de Agroecologia 2011-2012, Hueliton Pereira Azevedo; Amanda Rayana da Silva Santos; Renan da Silva Cunha.

O mundo contemporâneo atravessa uma crise sem precedentes. Não se trata de

um fenômeno conjuntural, mas do esgotamento de um projeto civilizacional que tem o

seu fundamento no ato de acumular riquezas nas mãos de minorias, sem considerar os

limites naturais e humanos necessários a sua própria reprodução. Em face da

abrangência, profundidade e complexidade dessa crise, já se tornou lugar comum à

afirmação de que nos encontramos diante de uma encruzilhada histórica. De fato, a

combinação de uma população mundial crescente e cada vez mais urbanizada com a

degradação acelerada dos recursos naturais e as mudanças climáticas globais molda um

cenário perturbador que nos confronta com dilemas decisivos.

Como alimentar uma população mundial crescente? Como manter os níveis de

produtividade alcançados pela agricultura industrial sem dar continuidade ao uso

intensivo de combustíveis fósseis e a deterioração da base biofísica que sustenta os

processos produtivos da agricultura? Como construir mecanismos de adaptação de

sistemas agrícolas às já inevitáveis mudanças climáticas globais? Para dar respostas a

essas indagações é necessária uma mudança do modelo convencional de agricultura para

estilos de agricultura de base ecológica e mudanças nos padrões de consumo e de uso

dos recursos. Enquanto essas mudanças forem sendo materializadas, nosso papel é

manter a produtividade da terra agrícola, a longo prazo, da superfície mundial cultivável.

Isso requer a produção sustentável de alimentos, que é alcançada segundo Gliesman

(2000) através de práticas agrícolas alternativas, orientadas pelo conhecimento em

profundidade dos processos ecológicos que ocorrem nas áreas produtivas e nos

contextos mais amplos das quais elas fazem parte.

Apesar de termos presenciado uma significativa elevação da produtividade e da

produção, a fome persiste em todo o globo e não podemos em hipótese alguma confiar

nos meios convencionais de aumentar a produtividade, para ajudar a satisfazer a

necessidade de alimentos de uma população mundial em expansão. Isso por que esse

modelo de agricultura está construído sob dois objetivos: a maximização da produção e

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do lucro. Em vista disso, um conjunto de práticas (cultivo intensivo do solo, monocultura,

irrigação, aplicação de fertilizantes inorgânicos, controle químico de pragas e

manipulação genética de plantas cultivadas) foi desenvolvido sem considerar as

consequências não intencionais, de longo prazo, e sem considerar a dinâmica ecológica

dos agroecossitemas. Portanto, todas às práticas da agricultura convencional tendem a

comprometer a produtividade futura em favor da alta produtividade no presente. Em face

disso, além da produtividade qual é o problema que precisamos equacionar para resolver

a fome no mundo?

A realidade da condição atual da relação entre a sociedade e a natureza. As

sociedades humanas em qualquer que seja a sua condição e o seu nível de complexidade

não existem em um vazio ecológico, mas sim afetam e são afetadas pelas dinâmicas,

ciclos e fluxos da natureza. A natureza definida aqui como aquilo que existe e se

reproduz independente da atividade humana pela qual ao mesmo tempo representa uma

ordem superior ao da matéria. Isso supõe o reconhecimento de que os seres humanos

organizados em sociedade respondem não só a fenômenos e processos de caráter

exclusivamente social, mas também são afetados pelos fenômenos da natureza.

Nessa perspectiva as sociedades humanas produzem e reproduzem as suas

condições materiais de existência a partir de seu metabolismo com a natureza em uma

condição que é pré-social, natural e eterna. Este fenômeno implica em um conjunto de

processos por meio dos quais os seres humanos organizados em sociedade,

independente de sua situação no espaço (formação social) e no tempo (momento

histórico), se apropriam, circulam, transformam, consomem e excretam, matérias e

energias provenientes do mundo natural.

A compreensão desse processo de relação da sociedade com a natureza é

fundamental para entender, como se encontra essa relação no atual momento e a

necessidade de sua ressignificação. Chegamos pela primeira vez na história da

humanidade em um momento que a quantidade de recursos que as sociedades

consomem (apropriação) hoje, é maior do à capacidade que a natureza tem de repor e,

além disso, a quantidade de produtos eliminados (excreção) pelas sociedades é superior

à capacidade que a natureza possui de reciclar e disponibilizar novamente.

Assim, precisamos repensar a forma como estabelecemos o contato com a

natureza e de como a transformamos. Para isso, precisamos entre outras coisas

desmistificar os mitos que envolvem a atual relação das sociedades com a natureza. O

primeiro deles é o mito da desconexão do homem com a natureza, que determina que os

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seres humanos sejam entidades desligadas do meio em que vivem. O segundo é o mito

da natureza infinita, que prevê que os recursos não se esgotam e, portanto, podemos

explorar sem limites. O terceiro é o que defende que a floresta preservada é um

empecilho para o desenvolvimento, sustentando assim a necessidade de simplificação

dos agroecossistemas em uma lógica industrializadora. Esses ―mitos‖ constituem um

conjunto de concepções que legitimam a exploração irracional e inconsequente dos

recursos naturais em nome de um ―desenvolvimento‖ pautado apenas no crescimento

econômico em detrimento da sustentabilidade.

Os desafios das ciências agrárias frente ao atual contexto

No contexto atual são muitos os desafios postos ao campo das ciências agrárias.

Porém, os aspectos que merecem maior atenção são: a interdisciplinaridade, o trabalho e

a pesquisa.

A interdisciplinaridade

Esse contexto de crises interconectadas que vivemos (energética, ecológica,

civilizatória e econômica) e a necessidade de mudanças na direção da sustentabilidade,

exigem da academia uma revisão de seus pressupostos metodológicos e epistemológicos

que guiam as ações de pesquisa e desenvolvimento. Nesse sentido, é de fundamental

importância que cada vez mais as ciências agrárias movam-se no sentido de rever a

lógica cartesiana de ciência que tem permeado esse campo científico ao longo do tempo.

Essa concepção de ciência permitiu à humanidade realizar notáveis avanços no

campo científico; as grandes descobertas científicas e o desenvolvimento tecnológico

atual são inegavelmente tributários dessa concepção científica. Hegemônica no

pensamento científico, ela é fortemente embasada na disciplinaridade, no reducionismo,

na especialização, na validação experimental e na priorização dos aspectos quantitativos.

No entanto, o avanço da ciência, sobretudo no decorrer do século XX, apontou

para as limitações desta concepção científica. A impossibilidade de explicar e

compreender comportamentos e fenômenos naturais ditos complexos (como, por

exemplo, os eventos climáticos, o funcionamento dos seres vivos, os ecossistemas, etc.)

passa a evidenciar as limitações e restrições da abordagem analítica/cartesiana na

pesquisa científica.

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29

Edgar Morin, ao participar de um colóquio, em 1979, apresentou de maneira clara

e direta essa ―crise‖ da ciência clássica cartesiana no decorrer da segunda metade do

século XX:

Este método (cartesiano) efetivamente conduziu a ciência a

descobertas extraordinárias. Falso em seu princípio, ele se

mostrou fecundo em um primeiro momento. É aí que reside um

dos paradoxos da história. A obsessão atomista, ou seja, a

ideia obsessiva de que é preciso encontrar a menor unidade

que será o ―tijolo‖ a partir do qual se poderia reconstruir o

universo, essa obsessão conduziu, assim mesmo, à descoberta

da molécula, do átomo, da partícula e, atualmente, ela nos

conduz, não mais à busca da unidade elementar, mas à busca

dos paradoxos fundamentais, ou seja, à complexidade da base.

A passagem do elementar ao fundamental é ao mesmo tempo

a passagem da simplicidade à complexidade. O mesmo ocorreu

na biologia. A obsessão pela unidade de base nos fez passar

do organismo à célula e, em seguida, da célula à biologia

molecular, e a biologia molecular acreditou encontrar

finalmente o elementar nas interações entre moléculas, na

interação química. Em uma reviravolta absolutamente

inacreditável, é essa mesma biologia molecular que, no fundo,

nos apresentou os problemas fundamentais da organização

autônoma da vida. (...) Assim, princípios insuficientes

impulsionaram a descoberta e, ao mesmo tempo, eles mesmos

provocaram seu próprio desmantelamento. Esses princípios

ultrapassados sobrevivem, enquanto o novo princípio, o

princípio da complexidade, ainda não emergiu completamente!

O princípio ―morto‖ ainda não está ―morto‖,e o princípio ―vivo‖

ainda não vive (p. 98-9)

Morin (1977), ao afirmar que ―o todo é superior ao todo, o todo é inferior ao todo‖,

sintetiza de maneira exemplar um importante preceito que orienta a abordagem

sistêmica. Assim, em decorrência de fluxos e interações internas, a abordagem sistêmica

considera que o comportamento de um objeto pode ser diferente da soma dos

comportamentos dos elementos que compõem esse objeto.

Page 30: Cartilha PRÉ- TEXTOS I ERA AMAZÔNICO - CORRIGIDA

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Nesse sentido, a abordagem sistêmica, apresenta-se como um ―novo‖ método para

a compreensão e o estudo de fenômenos complexos. Sem se contrapor à abordagem

analítica/ cartesiana, e sem negá-la, a abordagem sistêmica propõe-se a ser uma

metodologia ―que permita reunir e organizar os conhecimentos com vistas a uma maior

eficácia da ação‖ (ROSNAY, 1975). Esse caminho rumo a uma abordagem interdisciplinar

que diminua o ―estranhamento‖ entre as disciplinas, que possibilite reflexões sistêmicas e

não unilineares, que não fragmente a visão dos profissionais, que alimente a necessidade

de uma ciência cada vez mais envolvida com a realidade concreta e com a emancipação

das pessoas, necessita ser cada vez mais presente na formação dos profissionais da área

das ciências agrárias.

Pesquisa

A pesquisa científica tem representado um instrumento legitimador do modelo de

produção agrícola convencional. Isso tem ocorrido, entre outros fatores, através do

desenvolvimento de pressupostos epistemológicos e metodológicos que impossibilitam a

construção de uma visão mais humana e complexa da realidade. Nesse sentido, Gomes

(2012) defende que é necessário promover essa revisão dos pressupostos da ciência que

guiam as ações de pesquisa e desenvolvimento, para isso, elenca alguns elementos

necessários a essa tarefa, sendo eles: uma ruptura epistemológica, rigor no uso de

conceitos e o uso do método.

A agroecologia é considerada uma disciplina científica que transcende os limites

da própria ciência, ao pretender incorporar questões não tratadas pela ciência clássica

(relações sociais de produção, equidade, segurança alimentar, autoconsumo, qualidade

de vida, sustentabilidade, etc.) e esta, por sua vez, se restringiu á aplicação de

pressupostos metodológicos.

Aceitar que os conhecimentos produzidos em outros contextos, além daqueles

considerados científicos, também são válidos, significa colocar em discussão os

referenciais mais caros à ciência clássica (e aos próprios pesquisadores). Se a ciência não

representa a única fonte de conhecimento válido, se os conhecimentos tradicionais e os

saberes cotidianos também devem ser considerados na produção do conhecimento

agroecológico, então é necessário promover uma articulação entre o conhecimento

científico e os outros saberes empíricos. Isto não é uma coisa fácil, se considerarmos a

formação dos pesquisadores, a cultura e a estrutura das instituições. Falar sobre as

mesmas coisas não significa, necessariamente, ter a mesma visão de mundo ou a mesma

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Page 31: Cartilha PRÉ- TEXTOS I ERA AMAZÔNICO - CORRIGIDA

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intenção. Por exemplo, tratar as pessoas como se fossem semelhantes, não significa

necessariamente, um tratamento justo. Esta consideração é importante para que na

pesquisa agroecológica não se incorra no mesmo equívoco da pesquisa clássica, que

pretendia uma tecnologia de caráter universal, sem considerar as especificidades de cada

grupo de agricultores. A agroecologia incorpora a diversidade e a diferença, por isso é

muito mais complexa.

Outra consideração relevante é o uso indiscriminado do termo sustentabilidade,

que está sendo transformado ou usado, com o propósito de ―crescimento econômico

sustentável‖ através dos mecanismos de mercado, sem preocupar-se com a

internalização das condições da sustentabilidade econômica nem de incorporar os

diversos processos que estão implicados na própria sustentabilidade como o ambiente, o

tempo ecológico de produtividade e regeneração da natureza, os valores culturais e

humanos, a qualidade de vida, entre outros. Neste sentido, a consideração única dos

valores e medições de mercado como indicadores de sustentabilidade, acabou seguindo

caminho contrário a sustentabilidade quando consideradas as dimensões sócio-

ambientais. Ou seja, a noção de sustentabilidade se divulgou e vulgarizou até formar

parte do discurso oficial e do sentido comum. Este mimetismo discursivo, gerado pelo

uso retórico do conceito, escamoteou o sentido epistemológico da sustentabilidade (Leff,

2000).

O método científico tem sido mais usado, no seu sentido convencional, que é

visualizar um fato (ou fenômeno) que deve ser repetido várias vezes, buscando obter o

maior número possível de detalhes sendo, realizada, portanto, com a maior precisão

possível. Deve-se tomar o cuidado com os ―vícios‖ para ocorra uma observação correta

do fato; em muitos casos, a pessoa ver o que deseja ver, e não o que está ocorrendo de

fato.

Por outro lado, o uso do ―método‖ numa perspectiva não-convencional, adotou

uma postura relativista, quase ao estilo da epistemologia anarquista de Feyerabend

(1992), o ―vale tudo‖, que agiu corretamente ao abominar as heranças do empirismo, do

racionalismo, do positivismo e do mecanicismo, mas não chegou a contribuir para a

flexibilização no uso do método convencional. Ao não fazê-lo, também ficou na

―aparência‘‘, pois a falta de ―rigor‘‘, ou de organização do trabalho (como deve ser a

atividade de pesquisa), também impede de identificar as ―causas‖.

Para citar um exemplo prático, é que um grupo de investigadores, ―mais

cartesiano‖, não conhece ou não estudou a teoria da trofobiose (Chaboussou, 1987). O

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32

outro, mais ―generalista‖, quase tudo justifica em seu nome. Se o diálogo tivesse

ocorrido, talvez a ―caixa-preta‖ tivesse sido aberta, contribuindo para elucidar muitos

problemas que ainda hoje continuam sem solução. Ainda sobre o ―método‖, é claro que

sua aplicação foi responsável por muitos êxitos científicos. Entretanto, se for concebido

em seu sentido estreito, identificado exclusivamente com o método experimental, seu

alcance fica radical e automaticamente limitado. Ademais, o método não substitui o

talento, mas o complementa: o investigador de talento cria novos métodos, o inverso não

ocorre. Para o caso da pesquisa em agroecologia, não se trata nem de abolir o método

convencional nem de trabalhar de forma anárquica, mas de construir ―um método‖

flexível o suficiente para incorporar a complexidade em questão.

Trabalho

No intercâmbio com a natureza, o ser humano produz os bens de que necessita

para viver, aperfeiçoa a si mesmo, gera conhecimentos, padrões culturais, relaciona-se

com os demais e constitui a vida social. Na relação dos seres humanos para produzirem

os meios de vida pelo trabalho, não significa apenas que, ao transformar a natureza,

transformamos a nós mesmos, mas também que a atividade prática é o ponto de partida

do conhecimento, da cultura e da conscientização (Frigotto, 1985). Na perspectiva dos

interesses da classe trabalhadora, o estudo e o debate para aqueles que se dedicam ao

trabalho educativo e de qualificação deve se pautar em dois aspectos: a impossibilidade

de desenvolver as dimensões educativas do trabalho dentro do sistema capitalista e a

compreensão do trabalho como princípio educativo.

O modelo difusionista inovador de extensão rural, por exemplo, tem provocado a

expropriação dos camponeses do processo de produção do conhecimento que gera as

tecnologias que eles passam a utilizar e tem expropriado esses mesmos trabalhadores da

autonomia em gerenciar essas inovações a partir do potencial endógeno de seus

agroecossistemas, pelo fato de se tratarem de pacotes pré-desenvolvidos sob os quais os

agricultores tem que acessar acriticamente.

Frente a isso, na construção do conhecimento agroecológico entende-se que a

natureza é transformada pelos seres humanos a partir dos processos de trabalho. Assim,

o processo de produção de tecnologias deve ser adaptado às condições endógenas do

sistema social produtivo dos agricultores, de forma que possibilite a adequação dessas

inovações e possibilite a inserção dessas populações no processo de construção do

conhecimento e produção das tecnologias e inovações.

Page 33: Cartilha PRÉ- TEXTOS I ERA AMAZÔNICO - CORRIGIDA

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A FEAB possui uma importante contribuição nesse debate. Os estágios

interdisciplinares de vivência (EIVs) tem sido uma ferramenta importante na construção

de um processo de formação pautado na realidade concreta, desfragmentada e reflexiva.

Principalmente por se tratar de um momento que possibilita aos estudantes vivenciar o

trabalho dos camponeses que, de forma maestral, trabalham tanto nos processos

produtivos quanto na gestão da unidade de produção. Essa experiência possibilita

também aos estudantes entender a dimensão ontológica (inerente ao ser) do trabalho,

percebendo que este, de modo necessário, transcende o objetivo meramente profissional,

tratando-se, portanto da própria essência do homem.

A alternativa agroecológica

Contrapondo-se ao padrão convencional de desenvolvimento agrícola

fundamentado no paradigma da Revolução Verde, no final do século XX ganhou corpo em

defesa de formas mais sustentáveis de produção agricola um processo inicialmente

identificado como ―agricultura alternativa‖. A partir da década de 1990, na América

Latina, essa denominação foi substituída pela de ―Agroecologia‖.

A Agroecologia enfatiza o desenvolvimento e a manutenção de processos

ecológicos complexos capazes de subsidiar a fertilidade do solo, bem como a

produtividade e a sanidade dos cultivos e criações. O nível de ruptura com os sistemas

convencionais pode variar bastante entre as iniciativas de promoção da Agroecologia,

podendo ir desde simples medidas de redução ou substituição do uso de insumos

agroquímicos até a completa reestruturação da lógica de organização técnica e

econômica dos agroecossistemas, estabelecendo forte analogia estrutural e funcional

com os ecossistemas naturais nos quais estão inseridos.

O alto grau de especificidade local implica que o desenvolvimento dos

agroecossistemas pela perspectiva agroecológica se faz com a forte contribuição de

dinâmicas locais de inovação e não por meio da difusão de soluções técnicas universais,

tal como designado no paradigma da Revolução Verde. A busca da eficiência

agroecológica depende da manutenção de agroecossistemas complexos, com alta

diversificação de culturas e criações, o que se consegue por meio de associações,

rotações e sucessões de espécies. Esse tipo de sistema impõe limites ao tamanho das

unidades produtivas e às possibilidades de mecanização das operações de manejo. Por

essa razão, cobra a execução de trabalhos qualificados, flexíveis e atentos aos detalhes

de manejo, o que significa que o trabalho é realizado de forma inseparável à gestão do

sistema. Ao contrário dos sistemas convencionais que são dependentes do emprego

27

Page 34: Cartilha PRÉ- TEXTOS I ERA AMAZÔNICO - CORRIGIDA

34

intensivo de capital, sendo o trabalho essencialmente mecânico e separado do processo

de gestão.

Em síntese, a agricultura familiar camponesa é, por excelência, a base sociocultural

para a generalização da alternativa agroecológica, pois conseguem integrar trabalho e

gestão em um processo indivisível, que é condição básica para o manejo da

complexidade inerente à prática agroecológica. Muito embora, princípios da Agroecologia

possam ser empregados por grandes produtores empresariais, o nível de eficiência

econômica e ecológica nessas unidades de produção tende a ser muito menor do que

quando aplicados em pequenas unidades de gestão familiar.

Segundo levantamento realizado na Universidade de Sussex, Inglaterra, mais de

1,4 milhões de agricultores em todo o mundo adotam princípios da Agroecologia. O

estudo identificou aumentos médios de 100% na produtividade em centenas de projetos

após a adoção desses princípios, com registros de 400% de aumento em situações mais

avançadas na transição agroecológica. Além da boa produtividade, os sistemas

manejados segundo o enfoque agroecológico, são sistemas com balanço energético

positivo e altamente poupador de energia de origem fóssil; recuperam e conservam a

fertilidade dos solos sem uso de insumos externos, além de serem resistentes aos

processos erosivos; funcionam como sumidouro de carbono e não emitem ou emitem

poucos gases de efeito estufa; integram-se funcionalmente à vegetação natural, dando

maior estabilidade aos microclimas onde estão inseridos; são livres de contaminação

química causada por agrotóxicos e fertilizantes solúveis e da poluição genética causada

pelos organismos geneticamente modificados.

Segundo a Avaliação Internacional sobre Ciência e Tecnologia Agrícola para o

Desenvolvimento (IASSTD, 2009) o conjunto desses efeitos positivos indica que a

generalização da Agroecologia é uma estratégia consistente para que a crise do modelo

convencional seja enfrentada estruturalmente, a começar pelo desafio de alimentar uma

população mundial crescente em condições adequadas e sustentáveis. De forma ainda

mais explícita, o relator das Nações Unidas para o Direito Humano à Alimentação

divulgou, em 2010, um relatório em que afirma que a Agroecologia pode a um só tempo

aumentar a produtividade agrícola e a segurança alimentar, melhorar a renda de

agricultores familiares e conter a tendência de erosão genética gerada pela

agricultura industrial (DE SCHUTTER, 2010).

O principal desafio à generalização da perspectiva agroecológica é de natureza

política e não técnica. Ele se apresenta diante da necessidade de superação do poderio

Page 35: Cartilha PRÉ- TEXTOS I ERA AMAZÔNICO - CORRIGIDA

35

político, econômico e ideológico dos setores do agronegócio que sustentam a

permanência e a expansão do modelo da agricultura industrial. Entre outros efeitos

negativos, a dinâmica expansionista da lógica do agronegócio tem sido a principal

responsável pela desaparição da agricultura familiar camponesa em todo o mundo. Isso

não significa apenas a diminuição do número de unidades produtivas familiares que

poderiam ingressar em trajetórias de transição agroecológica, mas implica também a

perda da cultura camponesa e de povos e comunidades tradicionais, elemento essencial

para a construção de conhecimentos agroecológicos ajustados às mais variadas

peculiaridades socioambientais.

TEXTO 02 – Falta de estrutura e possibilidade faz com que jovens abandonem o campo

31 de agosto de 2012

Por José Coutinho Júnior

Da Página do MST

Os jovens rurais brasileiros continuam a abandonar a agricultura e o meio rural

para tentar a sorte nas cidades. Esse êxodo não é fruto apenas de uma lógica que dita

que a cidade é o mundo das possibilidades, enquanto o campo é uma área atrasada, mas

principalmente de questões materiais e estruturais de um modelo agrícola predominante

junto com práticas políticas que excluem o jovem da produção rural e minam suas

possibilidades de ter uma vida digna no campo.

Segundo o militante da Pastoral da Juventude Rural (PJR) e do coletivo de jovens da

Via Campesina, Paulo Mansan, ―os fatores que levam a essa saída são principalmente

estruturantes. Em primeiro lugar, o jovem não tem acesso à terra: a maior parcela de

jovens que está saindo do campo são sem terras‖.

Os problemas encontrados na falta de políticas e incentivo para a Reforma Agrária

afetam diretamente a juventude. Segundo Mansan, o jovem é um dos maiores

prejudicados pela paralisação da Reforma Agrária. ―O caminho que ele encontra no final é

acabar trabalhando como empregado e ganhar um salário mínimo na cidade do que

tentar continuar na luta pela terra‖.

Para que o jovem possa ficar no campo, é necessário que a Reforma Agrária vá

além da distribuição de terras, afirma a pesquisadora Natacha Eugênia Janata.

―Precisamos de uma Reforma Agrária que tenha estratégias para dar um retorno e

segurança financeiros. Além disso, deve existir uma estrutura de saúde, educação e

cultura voltadas aos jovens e à realidade no campo. A permanência do jovem no campo é

uma consequência do cumprimento desses fatores‖.

Enquanto essas políticas não são postas em prática, a realidade do jovem no

campo se agrava: dados do programa Brasil sem Miséria apontam que de um total de 8,2

Page 36: Cartilha PRÉ- TEXTOS I ERA AMAZÔNICO - CORRIGIDA

36

milhões de jovens rurais, 2,3 milhões vivem em situação de miséria, com renda mensal

de 70 reais ou menos.

Sem um lote próprio e condições estruturais dignas, o jovem não consegue obter

uma renda fixa no campo e vai para a cidade. Segundo Natacha, ―É uma questão de

sobrevivência. O jovem tem a necessidade de uma renda mensal, e a cidade oferece a ele

um vínculo empregatício e um salário, mesmo que seja baixo. A agricultura não dá a ele

as relações materiais que a cidade dá‖.

Inclusão

É difícil para o jovem obter um lote de terra hoje pela Reforma Agrária, pois o

cadastro do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) privilegia

agricultores que aguardam a terra por mais tempo e que tem uma família constituída,

fatores que excluem os mais novos de obter um pedaço de terra.

Apesar de concordar com a priorização feita pelo Incra, Mansan admite que é

necessário pensar em formas de acabar com a exclusão da juventude advinda dele. ―É

preciso pensar em uma forma de assentar o jovem, como por exemplo, assentar vários

jovens em um único espaço‖.

Segundo Willian Clementino, secretário de políticas agrícolas da Confederação

Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (CONTAG), as organizações sociais e o Incra

estão discutindo formas de inclusão da juventude no cadastro. ―Nos últimos dois anos

incidimos bastante na norma de seleção do Incra. Hoje há um grupo de trabalho na

entidade que discute as normas de seleção e como potencializar o acesso da juventude à

terra‖.

A exclusão do jovem não se dá apenas no acesso à terra, mas na falta de voz em

relação à tomada de decisões e participação nos lotes da família. Segundo Mansan, essa

lógica ―é uma coisa que os movimentos têm que desconstruir, porque é muito

predominante. As relações patriarcais dificultam a permanência do jovem, pois quando

não há um processo bem discutido de cooperativismo, quem controla os recursos da

família e até mesmo os frutos do trabalho do jovem no lote é quem coordena a família.

Dessa forma, o jovem acaba tendo dificuldade de ter renda própria. Esse fator

contribui para sua saída, pois longe dos pais, o que ele ganhar é dele, podendo até

mandar dinheiro para ajudar a família. A sensação de sair do lote contribui na busca da

independência desse patriarcalismo. Para quebrar isso, nós temos que construir novas

práticas de cooperativismo‖.

Para Natacha, ―a juventude é parte da classe trabalhadora, mas se encontra na

transição entre adulto e criança. Entrar no mercado de trabalho é difícil: o jovem acaba

fazendo o trabalho braçal nos lotes familiares, mas não tem acesso direto aos frutos dos

seus trabalhos. Eles querem trabalhar no campo, mas a sua vontade acaba sendo podada

pelos adultos. O jovem participa, mas sua opinião não é decisiva; ele quer estar incluído

no campo, mas para isso acontecer de fato, as suas decisões precisam ser levadas em

conta‖.

Page 37: Cartilha PRÉ- TEXTOS I ERA AMAZÔNICO - CORRIGIDA

37

Quais soluções?

A não permanência da juventude no campo preocupa os agricultores mais velhos

com relação ao destino da propriedade: se não há ninguém da família que tenha vontade

de herdá-la, o que vai acontecer com ela? Uma resposta ao problema da sucessão vem

sendo cursos técnicos, que capacitam os jovens a se tornarem empreendedores. No

entanto, esta lógica individualista transforma o lote em um simples negócio, além de sua

eficácia ser questionável.

De acordo com Mansan, ―não que o jovem não tenha que saber administrar sua

propriedade, mas querer resolver o seu problema sozinho não é possível. A solução está

nas práticas onde se desenvolve o cooperativismo, o associativismo, onde o jovem é

integrante de um grupo que coletivamente consiga produzir as práticas de um campo

diferente, um campo onde tem gente e onde ele viva com qualidade de vida. Essa é a

grande luta. Essa história do empreendedorismo, nós podemos perceber que 80, 90% dos

casos não dão certo. Sozinho o jovem não consegue resolver tudo‖.

Para que o jovem possa não apenas suceder os pais, mas ser capaz de pensar e

experimentar novas formas de agricultura, ele precisa ser reconhecido como agente

político no campo, tão capaz de produzir quanto os adultos. Se isso for concretizado, os

benefícios são grandes. Willian aponta que ―a juventude hoje no campo é protagonista

das experiências alternativas no campo. As maiores experiências de agroecologia, de

lidar com a terra, produzir alimentos sem veneno, exploração do turismo rural, com

potencial sustentável, econômico e financeiro tem sido experiências da juventude‖.

Exemplos desse protagonismo, cita Willian, são jovens do Maranhão que fizeram

um curso de capacitação na CONTAG, e depois arrendaram um terreno coletivamente,

onde começaram uma produção agroecológica; jovens no sul do país que trabalhavam

com fumo, mas abandonaram a produção para iniciar o trabalho com agroecologia, e

jovens que trabalham com o turismo rural, mostrando às pessoas o que é e como

funciona a agricultura familiar.

A capacidade da juventude em criar, segundo Mansan, se dá porque ―ela está no

momento de buscar novas experiências. O jovem está mais aberto ao sonho e num

processo de encantamento maior, e é aí que nós temos que, juntamente com a juventude

organizada, provar que o campo é o lugar que deve ser construído coletivamente e que a

juventude tem um papel determinante, tanto para inovar quanto pela sucessão‖.

TEXTO 03 – Uma visão sobre Educação do Campo no contexto da realidade brasileira

Contribuição do Núcleo de Trabalho Permanente em Educação (FEAB Fortaleza)

―Me movo como educador,

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38

porque, primeiro,

me movo como gente (...) ―

Paulo Freire

A frase acima, citada pelo educador e filósofo brasileiro Paulo Freire, evidencia com

clareza a importância da existência de uma educação referenciada nas demandas do

povo, e nos faz refletir que, a forma de educar da qual ele menciona, não está ligada a

um ensino que se restringe as salas de aula, mas sim em uma educação que possibilite a

construção de uma sociedade mais justa, e principalmente, que respeite cada pessoa em

seu meio social.

Essa definição de educação citada por Paulo Freire está intimamente ligada ao

conceito de Educação do Campo, mas para entendê-la é necessário um olhar mais amplo

sobre o assunto, e para isso, é essencial resgatar algumas perguntas que envolvem desde

a compreensão de sua metodologia até a sua interpretação. Diante desse contexto

devemos então nos perguntar, o que é ―Educação do campo‖? O que a diferencia de

―Educação Rural‖? De que forma está inserida a educação contextualizada dentro da

educação do campo?

A educação do campo nasceu como forma de crítica à atual situação da educação

no Brasil, e principalmente, para contrapor o modelo de aprendizagem que está colocado

em nossa sociedade, onde atualmente, os maiores beneficiados são o agronegócio e os

grandes latifundiários. Com isso, é perceptível a importância de uma educação voltada

para povo que trabalha e vive no campo, e sente a real importância de haver um método

educacional de acordo com a sua realidade. É nesse contexto de educação diferenciada e

voltada para os camponeses, que nasce a chamada Educação do Campo.

Deste modo, a Educação do Campo se distingue de Educação Rural, não só em

metodologia, mas em todo o seu contexto de intencionalidades. A concepção de

educação rural surge através de iniciativas de políticas públicas, onde a definição do que

é área rural é estabelecida através de sensos de pesquisa e o investimento do governo em

estrutura e ensino transforma o espaço restrito a escolas desestruturadas e professores

mal remunerados. A Educação Rural afirmada por políticas públicas desconsidera a

realidade e cultura das pessoas que vivem no campo, despreza as suas individualidades e

insere conceitos urbanos que não contribuem para uma educação voltada aos

camponeses.

Por outro lado temos a Educação do Campo, protagonizada e construída

diretamente pelos movimentos sociais populares e que traz uma visão transformadora,

capaz de formar o povo como agente crítico e político. Saindo do papel de apenas

ouvinte e passando a estar dentro do processo. Conhecendo e estudando a partir do

lugar onde vive, dos problemas enfrentados na região, problematizando situações,

abordando a cultura, a religião e os costumes locais no dia-a-dia, aproximando-se da

Page 39: Cartilha PRÉ- TEXTOS I ERA AMAZÔNICO - CORRIGIDA

39

realidade camponesa, e não urbana. Através disso, a Educação do Campo deixa de ser

para o povo e torna-se do povo, apontando para um processo profundo de

transformação social. E assim, tornando-a parte essencial em um projeto popular para o

Brasil.

Apesar de a educação ser um direito de todos, até o ano de 2011, mais de 24 mil

escolas do campo foram fechadas. Por outro lado, o analfabetismo representa 9,7% do

total da população brasileira. No Nordeste a situação se agrava ainda mais, e a taxa de

analfabetismo chega a 18,7% entre pessoas com mais de 15 anos.¹ Isso representa um

retrocesso nas políticas públicas para o campo e alerta para a criação de iniciativas que

visem mudar essa situação, como a campanha nacional ―FECHAR ESCOLA É CRIME‖, criada

pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), que tem como objetivo evitar

o fechamento das escolas do campo, lutar por melhorias nas escolas já existentes e

buscar qualidade na educação pública.

É importante entender que a luta por educação no campo está diretamente ligada à

luta por melhorias de vidano campo, isto é, desenvolvimento no âmbito educacional

significa também benefícios para o campo. Por essa razão, é essencial que o

desenvolvimento do qual falamos seja voltado para a agricultura familiar, para

agroecologia, para a realidade dos camponeses e trabalhadores. E isso só é possível com

pressão social, e através de uma luta onde os personagens principais desse processo são

os movimentos sociais, os jovens estudantes do campo e da cidade, as tribos indígenas,

os povos quilombolas e todo o povo brasileiro que almeja um novo projeto popular para

o nosso país.

―Entre tijolos de areia uma nova escola se ergue,

das mãos de homens e mulheres que se misturam ao cimento

e enquanto sobem as paredes, avançamos nossa luta

forjando novos sujeitos, nessa construção da vida

O que construímos? Com suor e com beleza construímos a nós mesmos;

Construímos nossos sonhos; Construímos nossa história;

Num projeto coletivo, construímos um novo homem,

construímos uma nova mulher, construímos um novo campo,

construímos uma nova educação, construímos a Educação do Campo!‖

- Paulo Roberto

FEAB Fortaleza

Núcleo de Trabalho Permanente em Educação

Referências

1 (Os dados são da PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), do IBGE

(Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) 2009, do Censo Escolar do INEP/MEC (2002

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40

a 2009), e da Pesquisa de Avaliação da Qualidade dos Assentamentos da Reforma Agrária

INCRA, 2010).

TEXTO 04 – Movimentos sociais consideram Política Nacional

de Agroecologia insuficiente

12 de setembro de 2012, do site do MST

Por Viviane Tavares

Da EPSJV/Fiocruz

Esperada por diversos movimentos sociais, a Política Nacional de Agroecologia e

Produção Orgânica (PNAPO) foi instituída pelo decreto 7.794 no dia 21 de agosto.

Prevista para sair em junho, durante a Cúpula dos Povos, sua publicação foi adiada por

quase três meses e avaliada como tímida.

Com o objetivo de integrar, articular e adequar políticas, programas e ações da

produção agroecológica e orgânica, a política tem como diretrizes a promoção da

soberania e segurança alimentar e nutricional, do uso sustentável dos recursos naturais,

a conservação dos ecossistemas naturais e recomposição dos ecossistemas modificados,

a valorização da agrobiodiversidade e dos produtos da sociobiodiversidade e estímulo às

experiências locais, além das questões da participação da juventude e da redução das

desigualdades de gênero.

No entanto, questões consideradas fundamentais para a Articulação Nacional de

Agroecologia (ANA), o Conselho Nacional de Segurança Alimentar (Consea) e a Associação

Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) foram deixados de lado como, por exemplo, o

plano de redução de uso de agrotóxico no Brasil com banimento das substâncias já

proibidas em diversos países, a definição de áreas contínuas de produção agroecológica,

além de apoio à pesquisa e assistência técnica deste modelo. "Propomos um programa

específico para as mulheres, uma vez que elas têm um papel fundamental na transição

agroecológica, mas a política trouxe uma abordagem muito sutil. É preciso reconhecer o

papel das mulheres que hoje ainda são vistas apenas como apoio nestas atividades",

acrescenta a presidente do Consea, Maria Emilia Pacheco.

Alguns movimentos sociais também apresentaram seu ponto de vista sobre a

PNAPO. Em moção publicada durante o I Encontro Unitário dos Trabalhadores,

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41

Trabalhadoras e Povos do Campo, das Águas e das Florestas: por Terra, Território e

Dignidade realizado em agosto, a função social da terra e a promoção do acesso à água

como um bem de domínio público são lembradas como reivindicações não contempladas

pela política. Segundo o documento, a participação da sociedade também foi restringida.

"Tivemos duas grandes decepções em relação à questão da participação da sociedade

civil, a primeira delas é que a política define a criação de uma comissão e não a de um

conselho, como nós havíamos solicitado. Além disso, na sua composição, ela foi definida

como paritária, enquanto apostávamos na composição de 2/3, assim como é constituído

o Consea e que temos experiências muito positivas", explica Maria Emilia.

Ganhos

A Parte 1 do Dossiê da Abrasco - Agrotóxicos, Segurança Alimentar e Saúde

lançado em abril no World Nutrition Rio 2012 indicava para a criação de uma política de

agroecologia como uma forma de promoção da saúde. "Pelo olhar da saúde coletiva, a

gente percebe que o nosso modelo agroecológico pode evitar algumas causas dos

problemas de contaminação por agrotóxico, por exemplo, que está associado ao modelo

de agricultura quimificado, baseado na revolução verde. A agroecologia é uma proposta

de alteração do modelo, então, pela primeira vez, a gente começa a ver aparecer políticas

que sinalizam e apontam nesta direção", comentou Fernando Carneiro, da Abrasco.

Maria Emilia lembra ainda que as diretrizes da Política Nacional de Segurança

Alimentar e Nutricional também apontavam para a implantação de sistemas sustentáveis

de base agroecológica. "A produção da agroecologia inclui também a produção de

hábitos alimentares com características mais regionais, portanto, mais saudáveis,

permitindo a sustentabilidade dos sistemas alimentares", explicou.

Ela ainda ressalta que uma dos destaques positivos desta política é encontrado no

artigo 12, no qual propõe alterações sobre o Sistema Nacional de Sementes e Mudas -

SNSM, aprovado pelo Decreto nº 5.153, em relação à dispensa de inscrição no Registro

Nacional de Sementes e Mudas (RENASEM), facilitando assim a multiplicação de sementes

ou mudas para distribuição, troca e comercialização em diferentes estados. "É

fundamental ter um programa de conservação da biodiversidade, e podemos ver pouco

deste reconhecimento nesta parte da política, que reconhece existência da semente

crioula e nativa. Antes víamos um restrição do direito dos agricultores, que, agora, está

tendo mais flexibilidade, incentivando assim esta produção e comercialização", analisa.

Próximos passos

De acordo com Fernando Carneiro, da Abrasco, é preciso agora criar a Comissão

Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (CNAPO) para que os objetivos da política

passem a se concretizar. "Sem dúvida esta política é uma conquista dos movimentos que,

ao longo de anos, vêm pensando e propondo questões, mas ela precisa da criação de

Page 42: Cartilha PRÉ- TEXTOS I ERA AMAZÔNICO - CORRIGIDA

42

Comissão urgente para que a política não se reduza a apenas uma carta de intenções",

analisa. Caberá à Comissão Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (CNAPO),

dentre outras competências, a elaboração e o acompanhamento da PNAPO e do Plano

Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (PLANAPO), além de propor diretrizes,

objetivos e prioridades do plano ao Poder Executivo Federal.

A definição das prioridades também é apontada pela representante do Consea

como um dos primeiros passos a serem tomados. "Quando nós fizemos e encaminhamos

sugestões à política, estas vinham acompanhadas de medidas prioritárias que não foram

acatadas. Agora essas prioridades devem ser definidas o quanto antes para que

possamos negociar com o governo e começar a concretizar a elaboração do PLANAPO

que o decreto prevê", aponta a representante do Consea. Ela explica ainda que para

instituir a Comissão Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica é preciso pressionar o

governo para a criação de uma portaria que a regulamente. Para tal, a ANA e o CONSEA já

estão em articulação e com audiências previstas com o Ministro do Desenvolvimento

Agrário, Pepe Vargas e com ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da

República do Brasil, Gilberto de Carvalho para as próximas semanas.

TEXTO 05 - Por que a tecnologia não chega no campo?

8 de agosto de 2012

Da Página do MST

Computadores, celulares, câmeras fotográficas, projetores de filmes, filmadoras,

videogames e televisores de última geração... Os jovens do campo querem ter acesso a

essas tecnologias. A televisão, novelas e filmes diariamente fazem propaganda das novas

tecnologias. Esse é um dos motivos que leva boa parte da juventude que vive no campo a

querer mudar para as cidades.

Mas será que os jovens do campo precisam ir até a cidade para ter acesso a tudo

isso? Não seria melhor que todas as pessoas que vivem no campo e na cidade tivessem as

mesmas condições de acesso à tecnologia?

A vida no campo não é melhor nem pior que na cidade. Na cidade, as pessoas

trabalham muito, têm pouco tempo livre e o salário é pouco. Você deve conhecer alguém

que mudou do campo para a cidade, pergunte se lá não tem problemas?

E a tecnologia, você sabe como ela é produzida? A tecnologia não foi criada pelas

empresas, é fruto do trabalho humano desenvolvido ao longo da história para melhorar a

humanidade. Desde os satélites no espaço sideral ao chip dos celulares, carros, tratores,

maquinários agrícolas, etc; o trabalho de homens e mulheres está presente em tudo.

Na sociedade capitalista as empresas transformaram a tecnologia em um produto

de consumo. Assim, os trabalhadores pobres do campo e da cidade, que não têm

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dinheiro para comprá-las, não têm acesso às mesmas. Aumentado as diferenças entre

ricos e trabalhadores. Por você acha que isso acontece?

Uma família que mora nas periferias urbanas não consegue pagar 100 reais por

mês para um pacote de internet. Sem contar que antes precisa comprar um computador,

que está ficando mais barato, mas depois de um ano já está velho e travando...

É impossível discutir o acesso às novas tecnologias da informação sem a

democratização da internet. A universalização da internet banda larga – pública, gratuita

e de qualidade – é fundamental para permitir aos assentados essa ferramenta.

A proposta do governo federal é implantar um Plano Nacional de Banda Larga (PNBL).

O plano foi criado em 2010 e promete a instalação de telecentros com internet nos

assentamentos e acampamentos de Reforma Agrária. Mas até agora quase nada saiu do

papel. Por que será que até hoje os governos não instalaram o que prometeram?

Precisamos cobrar do governo federal a garantia desse acesso à internet nos

assentamentos. Todos queremos celular, computador e internet para nos comunicar com

o mundo. Mas por que não montar uma rádio comunitária no assentamento?

No assentamento, uma rádio pode ser um instrumento importante para os

camponeses comunicarem-se entre si e com quem vive na cidade, fortalecer a cultura

camponesa, além de ajudar na organização de quem vive no campo.

A Lei de rádios comunitárias está fora da realidade do meio rural hoje no Brasil,

pois essas rádios só podem atingir o raio de 1 km e ter um transmissor com potência

máxima de 25 watts. Quando instalada nos assentamentos, esse modelo de rádio não

consegue atingir as famílias da maioria assentadas, que vivem em lotes, distantes.

Da mesma forma que lutamos pela terra e por Reforma Agrária, também é

importante criar tecnologias alternativas e outros mecanismos para montar rádios

comunitárias e lutar pelo acesso às novas tecnologias da informação, como a internet.

Para isso, também precisamos de políticas públicas que democratizem a comunicação no

campo e na cidade.

Somente com luta e organização essas transformações serão possíveis. Em vez de

mudar para a cidade, vamos nos organizar e fazer do campo um lugar bom de viver, com

acesso à comunicação, às novas tecnologias da informação, à cultura, lazer, esporte,

educação etc.

A juventude Sem Terra tem papel fundamental nessa batalha. E você, o que acha?

Pronto para a luta?

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TEXTO 06 - Agroecologia versus Tecnologia: verdade ou mito?

Lívio Diego

FEAB e LPJ

Desde a revolução verde e com o advento do agronegócio que se criou uma falsa

separação entre a agricultura alternativa (hoje agroecologia) e o uso de tecnologias.

Como se as pessoas que defendem e constroem no dia a dia a agroecologia fossem

contra todo e qualquer avanço tecnológico.

Dessa forma algumas perguntas voltam à aparecer com toda força. A quem serve a

tecnologia? Para onde vão os financiamentos públicos na pesquisa? Qual o papel dos

pacotes tecnológicos? O que empresas privadas fazem dentro de universidades públicas?

Os questionamentos são muitos e nem tudo está totalmente esclarecido. Ainda há muita

coisa por ser descoberta.

No entanto já da para saber a resposta para algumas

dessas perguntas. Por exemplo sabemos a serviço de quem a

tecnologia está e posso lhes falar que não é a serviço do povo.

Quase a totalidade do que é pesquisado pelas universidades

públicas e pelos órgãos de pesquisa do Estado brasileiro hoje vai

para as corporações capitalistas, principalmente as

multinacionais e transnacionais. No agronegócio – representante

do capitalismo no campo – temos alguns exemplos, como a

Bayer, Syngenta e Monsanto.

Lembrando que além dos centros de pesquisas públicas (universidades, EMBRAPA,

etc.) as empresas ainda contam com estabelecimentos de pesquisa próprios. O lance é

que esses também contam com ajuda do Estado, através das parcerias público privada,

da isenção fiscal e dos pareceres técnicos favoráveis de órgão ambientais no sentido de

liberar áreas para o uso das empresas mesmo que o estudo sobre os impactos não esteja

tão condizente com a realidade por exemplo.

Só para se ter ideia do poder político e econômico que essas empresas tem

peguemos a Monsanto como exemplo. Elá tem sua sede nos Estados Unidos da América,

mas está em também outros 60 países. Atingiu uma cifra de US$ 11,7 bilhões de lucro

em 2009 (se contarmos com o que não é declarado o valor é muito maior).¹ Além de usar

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45

parte do seu poder para fazer lobby (comprar os políticos) para aprovarem leis que

facilitem a comercialização de seus produtos, mesmo que esses produtos não tenham

passados por testes suficientes para comprovarem sua conformidade com os padrões de

segurança e saúde.² Fora que sempre os órgãos públicos responsáveis tendem a dar

parecer favorável. Salve alguns casos em que diretores da ANVISA por exemplo se

colocaram contra a liberação de alguns agrotóxicos, mas estes logo rodaram.

E a situação tem piorado dentro das universidades públicas, que historicamente é

o local do ―pensamento livre‖, onde o tripé do ensino, pesquisa e extensão devem estar

voltados para a solução dos problemas de nossa sociedade, mas como isso pode

acontecer se empresas privadas estão cada vez invadindo com mais força as

universidades, através de financiamentos enormes nos laboratórios e departamentos.

Aí fica a pergunta. Para quem vão servir essas pesquisas? Para os agricultores que

lidam diariamente com os problemas do campo ou para a empresa que pagou? Qual o

interesse dessas empresas? Resolver os problemas do camponês ou apenas obter lucros?

Quanto aos financiamentos públicos nem é preciso especular muito. Mesmo com

os avanços obtidos nos últimos anos ainda temos muito pelo o que lutar, inclusive para

garantir o que já ganhamos, como no caso do Programa 1 milhão de Cisternas (P1MC)

cujo o governo está querendo modificar a metodologia do programa que atualmente

implanta cisternas de placa para as cisternas de plástico, acabando assim com a

participação das famílias na implantação da mesma. Participação essa que se dá desde a

mobilização da comunidade para a construção das cisternas (são as próprias famílias as

responsáveis) até a formação técnica e política das famílias envolvidas. Onde nas

formações se debate as questões de gênero, divisão sexual do trabalho, lutas sociais e

técnicas agrícolas por exemplo. Além disso privatizando essa implantação e tornando-as

mais caras (o gasto com as de plástico é de R$ 5 mil enquanto as de placa custam R$ 3

mil), além de que as cisternas de plástico são bem menos duráveis e exigem um custo

maior de manutenção. Dinheiro esse que sai do bolso das famílias.

Outro grande problema do financiamento público está na disponibilidade de

crédito para os agricultores familiares, pois para que estes agricultores acessem essas

fonte de crédito eles tem que se adequar a pacotes tecnológicos pré-definidos com as

sementes, agrotóxicos, tratores, insumos e implementos, inclusive as vezes sendo

indicada até a marca ou distribuidor.

Assim o agricultor é forçado a entrar em uma lógica de produção diferente da qual

ele está preparado para atuar. O que muitas vezes faz com que ele fique devendo ao

Page 46: Cartilha PRÉ- TEXTOS I ERA AMAZÔNICO - CORRIGIDA

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banco e tenha problemas para pagar. Além das dificuldades para a mulher ou o jovem

acessar esses créditos, devido a burocracia patriarcal de nosso sistema que torna a

mulher e o jovem dependentes do homem (que teoricamente tem o papel de marido e

pai, respectivamente), excluindo-se a possibilidade de tipos diferentes de famílias, como

também a independência desses sujeitos.

Lembrando que a diferença entre a verba destinada ao agronegócio e a agricultura

familiar é gigantesca. Levando-se em conta investimentos da administração direta -

Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e operações de crédito subsidiadas

de bancos estatais - Banco do Brasil e BNDES -, o governo já repassou para o

agronegócio, desde 2003, R$ 106,1 bilhões. O valor equivale a mais de dez vezes o

orçamento de R$ 11,4 bilhões previsto para o programa Bolsa Família em 2009, duas

vezes e meia o orçamento de R$ 41,6 bilhões do Ministério da Educação e é 78,3%

superior ao orçamento do Ministério da Saúde. O montante representa, também, 133% a

mais do que os R$ 45,46 bilhões destinados pelo governo, no mesmo período, para a

agricultura familiar e reforma agrária.³

Dessa forma podemos constatar que o problema de acesso e desenvolvimento de

tecnologias por parte da agroecologia está diretamente ligado a toda essa problemática

anteriormente citada, mas que mesmo com tudo isso a agroecologia se mostra cada vez

mais preparada e capaz de substituir por completo o agronegócio.

¹ Dados obtidos no site oficial da Monsanto.

² Dados obtidos no documentário ―O mundo segundo a Monsanto‖.

³ Dados obtidos da ASSINAGRO (Associação Nacional dos Engenheiros Agrônomos do

INCRA).

TEXTO 07 - Orgânico X Agroecológico, você sabe a diferença?

Por: M. Humberto - Estudante de Agronomia UFAL - Universidade Federal do Alagoas, Retirado do site do ERA Amazônico.

Por estarem intimamente ligados a questão do natural acabamos por confundir essas

nomenclaturas. A mídia trata de colaborar com isso muito bem. Na verdade existe uma

grande diferença entre alimento orgânico e alimento Agroecológico.

A agroecologia é a junção harmônica de conceitos das ciências naturais com conceitos

das ciências sociais. Tal junção permite nosso entendimento acerca da Agroecologia

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como ciência dedicada ao estudo das relações produtivas entre homem-natureza,

visando sempre a sustentabilidade ecológica, econômica, social, cultural, política e ética.

Basicamente, a proposta agroecológica para sistemas de produção agropecuária faz

direta contraposição ao agronegócio, por condenar a produção centrada na monocultura,

na dependência de insumos químicos e na alta mecanização, além da concentração de

terras produtivas, a exploração do trabalhador rural e o consumo não local da respectiva

produção. Ou seja, as práticas agroecológicas podem ser vistas como práticas de

resistência da agricultura familiar, ao processo de exclusão do meio rural e

homogeneização das paisagens de cultivo. As práticas agroecológicas se baseiam na

pequena propriedade, na mão de obra familiar, em sistemas produtivos complexos e

diversos, adaptados às condições locais e em redes regionais de produção e distribuição

de alimentos.

Portanto, não se pode pensar em Agroecologia como ―ciência neutra‖, já que há em suas

pesquisas e aplicações claro posicionamento político. Ela se coloca como ciência

comprometida e a serviço das demandas populares, em busca de um desenvolvimento

que traga soluções sustentáveis para os diversos problemas hoje enfrentados na cidade e

no campo.

Já o orgânico pode ser agroecológico ou não! Os produtos orgânicos não fazem uso de

produtos químicos sintéticos ou alimentos geneticamente modificados. A filosofia dos

alimentos orgânicos não se limita à produção agrícola, estendendo-se também à pecuária

(em que o gado deve ser criado sem remédios ou hormônios), e também ao

processamento de todos os seus produtos:alimentos orgânicos industrializados também

devem ser produzidos sem produtos químicos artificiais, como os corantes e

aromatizantes artificiais. Pode-se quase resumir toda sua essência filosófica num

desprezo absoluto por tudo que tenha origem na industria química. Todas as demais

industrias: mecânica, energética, logística, são admissíveis desde não muito salientes.

Produtos orgânicos costumam ser significativamente mais caros que os tradicionais,

tanto por causa do maior custo de produção, quanto pelo seu marketing (que explora

uma imagem de "apelo ecológico").

Além disso esses produtos por serem orgânicos, não os livra de serem produzidos nos

moldes da agricultura convencional ou da monocultura, eles apenas não usam da química

como principal meio de combate pragas e fazendo uso dessa propaganda,"livre de

agrotóxicos", juntamente com a mídia do "selo verde" que é uma certificação que impede

o pequeno produtor de comercializar seu produto como orgânico, que o mesmo alcança

preços absurdos e atingem a um determinado tipo de consumidor, o de alto poder

aquisitivo.

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TEXTO 08 – Um inferno siderúrgico na Amazônia

Por Mário Osava

https://envolverde.com.br/

Piquiá de Baixo, Brasil, (Terramérica).- ―Meu sobrinho tinha oito anos quando

pisou na ‗munha‘ (carvão pulverizado) e queimou as pernas até os joelhos‖, conta

Angelita Alves de Oliveira neste pedaço da Amazônia brasileira transformado em

armadilha mortal para seus habitantes. O tratamento em hospitais distantes não

conseguiu salvar a criança, porque ―seu sangue ficou intoxicado, segundo o médico.

Minha irmã jamais voltou a ser a mesma mulher. Perdeu seu filho mais novo‖, disse a

professora Oliveira. Seu marido também foi vítima dessas queimaduras, como

comprovam as cicatrizes em suas pernas.

A munha ou ―moinha‖, segundo o dicionário siderúrgico português, é o pó de carvão

vegetal resultante da produção de ferro gusa, material intermediário na obtenção de aço,

que fez de Piquiá de Baixo, na faixa oriental da Amazônia brasileira, um caso trágico de

contaminação industrial. Trata-se de um bairro da zona rural de Açailândia, município do

Maranhão, que nasceu com os acampamentos de operários que se instalaram em 1958

para construir a rodovia Belém-Brasília, um eixo centro-norte de desenvolvimento e

integração do Brasil, que gerou muitos desastres ambientais e sociais.

A ferrovia inaugurada em 1985 para transportar minério de ferro da gigantesca mina na

Serra de Carajás, selou o destino de Açailância como entroncamento e polo siderúrgico.

Piquiá de Baixo ficou cercado por cinco unidades produtoras de ferro gusa, pelos trilhos e

por grandes armazéns de minérios. Enquanto isso, o carvão vegetal para alimentar as

caldeiras siderúrgicas se somava à pecuária para fazer de Açailância um foco de

desmatamento e trabalho escravo.

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Essas chagas diminuíram diante da repressão estatal e diferentes pressões. Mas a

contaminação em Piquiá se agravou, segundo testemunhos colhidos para esta

reportagem. O resíduo pulverizado de carvão continua ameaçador. A secura o torna

inflamável a um ligeiro toque. Isso custou a vida do sobrinho de Angelita em 1993,

quando poucos conheciam o quanto é letal esse pó negro. As pessoas ficaram cautelosas

e os acidentes menos frequentes, mas não acabaram. Outra criança, de sete anos, se

queimou até a cintura em 1999 e agonizou durante três semanas.

―Vi gado incinerado‖, disse Florêncio de Souza Bezerra, que foi camponês e agora é

membro ativo da Associação Comunitária de Moradores de Piquiá, onde vive há dez anos

com nove filhos e dois netos, em uma casa grande de madeira e amplo quintal. Os

montículos de munha podem ser vistos nas ruas por onde passam os caminhões das

siderúrgicas e em pelo menos um depósito a céu aberto no qual este repórter entrou sem

encontrar nenhum controle.

Porém, a queixa mais frequente dos moradores é contra o ar envenenado. ―Há pouco

mais de um ano morreu uma menina com pó de ferro nos pulmões e câncer, depois de

15 dias na terapia intensiva‖, recordou Florêncio. Na pequena praça do bairro, o ativista

vai apontando as casas cujos moradores morreram de doenças respiratórias. Angelita

contou que um ―exame mostrou manchas em meus pulmões há um ano, e o médico me

acusou de fumar quando jovem, mas nunca coloquei um cigarro na boca‖.

Ela deseja dar ―uma esperança de vida‖ às suas netas, que vivem aqui ―ingerindo

contaminação 24 horas por dia‖. ―Já vivi bastante, mas minhas netas não‖, afirmou, aos

61 anos de idade, mais de 30 dedicados ao ensino. Sua casa fica ao lado da Gusa

Nordeste, uma das cinco unidades produtoras de ferro gusa. A situação se agravou ―há

dois anos‖, quando a empresa começou a produzir cimento, segundo ela, lançando um

pó negro que suja tudo em segundos e, em algumas madrugadas, torna impossível ver

sua casa da estrada, a apenas 30 metros de distância.

Para a empresa foi um avanço, porque se trata de aproveitar a escória do alto forno como

matéria-prima, evitando uma volumosa quantidade de dejeto e abastecendo o mercado

local da construção com um produto que antes era preciso trazer de longe. A Gusa

Nordeste destaca sua responsabilidade ambiental porque emprega a munha como

combustível, economizando carvão granulado, e o gás derivado da produção de ferro

gusa é usado para gerar toda a energia elétrica que a empresa precisa.

Porém, a realidade reconhecida pela justiça, por várias autoridades e inclusive pela

indústria, é que a contaminação do ar, da água e da terra torna inviável manter Piquiá de

Baixo no local onde nasceu, há mais de 40 anos. Já há uma proposta aprovada pela

justiça e pela câmara municipal para reassentar as 312 famílias que restam em Piquiá de

Baixo, em um terreno de 38 hectares a seis quilômetros da atual.

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Em dezembro, a justiça ordenou a expropriação da área e fixou seu valor no equivalente

a US$ 450 mil, mas o dono exige quatro vezes essa quantia, e assim se prolonga a

agonia para os moradores de Piquiá. A própria comunidade elaborou um projeto

urbanístico, que inclui casas, escola, praça, lojas e igrejas, explicou Antonio Soffientini,

membro da Justiça Nos Trilhos, uma rede de dezenas de organizações que apoiam a

população afetada pelo ―sistema Carajás‖.

Na Serra de Carajás, a empresa Vale, que foi privatizada em 1997, extrai cerca de 110

milhões de toneladas anuais de minério de ferro, que percorrem 892 quilômetros em

trem até o porto Ponta da Madeira, em São Luis, capital maranhense, para ser exportado.

Uma pequena parte fica em Açailância. Como provedora da indústria local de ferro gusa,

a Vale tem responsabilidade direta na contaminação, acusa a organização Justiça Nos

Trilhos.

―Poderia suspender a entrega do minério até a indústria instalar filtros e pôr fim ao drama

de Piquiá‖, opinou Antonio, missionário italiano do movimento católico comboniano. Isso

geraria uma crise de desemprego em Açailância, advertiu Zenaldo Oliveira, diretor global

de Operações Logísticas da Vale. Este polo siderúrgico já vive uma queda de atividades

desde 2008.

Os seis mil empregos que oferecia nessa época caíram para atuais 3.500 atuais, segundo

Jarles Adelino, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Açailândia. Ele se queixa dos

altos preços que a Vale impõe à matéria-prima, que representam metade dos custos do

ferro gusa. No entanto, isso não se reflete na cidade, que exibe hotéis e sinais de

prosperidade. É que várias obras próximas oferecem trabalho temporário, explicou Jarles,

e cada emprego em uma produtora de ferro gusa gera dez postos indiretos.

TEXTO 09 – LUTADORAS DO CAMPO

A mulher camponesa é aquela que de uma ou de outra maneira, produz o alimento

e garante a subsistência da família. É a pequena agricultora, a pescadora artesanal, a

quebradeira de coco, as extrativistas, as arrendatárias, meeiras, ribeirinhas, posseiras,

bóias-frias, diaristas, parceiras, sem terras, acampadas, assentadas e as assalariadas

rurais. É a mulher que compõe a unidade produtiva camponesa centrada ao núcleo

familiar, o qual, por um lado se dedica a uma produção agrícola e artesanal com o

objetivo de satisfazer as necessidades familiares e subsistência, e por outro lado

comercializar parte de sua produção para garantir recursos necessários à compra de

produtos e serviços que pela agricultura não são garantidos.

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Nesse contexto da atuação da mulher no

campo surgem como caráter organizativo das

camponesas, o Movimento das Mulheres

Camponesas (MMC) que foi constituído em março de

2004, por ocasião de seu primeiro congresso

nacional, mas sua caminhada vem desde a primeira

metade da década de 80, tomando como referência

as lutas históricas das mulheres trabalhadoras e das

iniciativas que as envolviam para quebrar

preconceitos e violência em casa e em lutas sociais,

referência que também deu origem a outros

movimentos e entidades feministas.

O MMC nasceu como movimento autônomo, com atuação específica junto às

mulheres da roça. Isso porque, ao menos nos últimos 10 mil anos, a sociedade patriarcal

relegou às mulheres lugares e papéis tidos como secundários se comparadas aos

homens. E as mulheres camponesas são ainda mais excluídas — seja do acesso ao estudo

e ao conhecimento, seja de seus próprios direitos sociais como cidadãs.

Muitas mulheres camponesas assumem jornada dupla ou até tripla de trabalho.

Fazem aquilo que é necessário e indispensável para a sobrevivência da população. Esse

trabalho, considerado ―serviço‖, lhes é atribuído automaticamente, como se fosse

inerente à condição feminina. É um trabalho não valorizado nem valorado

financeiramente. Um trabalho que impõe uma sobrecarga, em geral repetitiva, exigente e

de muita responsabilidade. Um trabalho que faz com que as mulheres vivam infelizes,

fiquem depressivas e adoeçam. Um trabalho que é uma forma de violência e que a

sociedade, como um todo, costuma não perceber ou ignorar.

É a partir de espaços específicos das mulheres que o MMC afirma ser necessário

fazer uma reapropriação do que é negado e ―roubado‖ das camponesas. Isso significa

mexer em algo enraizado, discutir o ―ser mulher‖ e o ―ser homem‖, questionar os papeis

dos gêneros na história, saber por que se chegou a um tipo de relação no qual as

mulheres são excluídas dos espaços de decisão e levadas à obediência e à submissão.

Daí a missão que se atribui o MMC: ―A libertação das mulheres trabalhadoras de

qualquer tipo de opressão e discriminação‖. Isso se concretiza na organização, formação

e implementação de experiências de resistência popular nas quais as mulheres sejam

protagonistas de sua história. Essa luta é pela construção, junto com os homens, de uma

sociedade baseada em novas relações sociais entre os seres humanos, e destes com a

natureza.

Esse texto foi elaborado por Karol Maia e Jullyanna Pereira, militantes da FEAB –

Crato durante a gestão do NTP de Movimentos Sociais Populares e tomaram como fonte

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para elaboração do mesmo o artigo ―Feminismo Camponês‖ de Isaura Isabel Conte que é

dirigente do Movimento de Mulheres Camponesas do Rio Grande do Sul.

―Enquanto nós, mulheres, não tivermos voz e vez, prevalecerá ainda a relação

opressor-oprimido: opressão de homens sobre outros homens e destes sobre as

mulheres, as crianças e a natureza.‖

SUGESTÕES COMPLEMENTARES PARA O APROFUNDAMENTO DO ESTUDO

FILMES INTERESSANTES:

-O veneno está na mesa

-O mundo segundo à Monsanto

-Nas terras do bem virá

-Abuela Grillo

-Anel de Tucum

-Sementes da liberdade

-Terra – o filme

-Alimentos S.A.

-Food Matters

-Terra em transformação – Agronegócio ou Agroecologia?

- Belo Monte: o anúncio de uma guerra.

LIVROS INTERESSANTES:

-Plantas doentes pelo uso de agrotóxicos

-Agroecologia: bases científicas para uma agricultura sustentável

-Um testamento agrícola

-Árvores geneticamente modificadas

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-Transgênicos: as sementes do mal

-Revolução agroecológica: o movimento de camponês a camponês

-Agrotóxicos, trabalho e saúde

-Agroecologia e os desafios da transição agroecológica

-Pastoreio Racional Voisin

-A questão agrária no Brasil (volumes de 1 a 5)

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O QUE É SER MARANHENSE?

SER MARANHENSE É SER NORDESTINO, NORTISTA E AO MESMO TEMPO NENHUM DOS DOIS.

É SER BRASILEIRO EM SUA MÁXIMA EXPRESSÃO E INTEIRAMENTE TROPICAL, COLORIDO,

HOSPITALEIRO, MUSICAL E FESTEIRO. É NASCER POETA, ESCRITOR, ARTESÃO, LÚDICO E SORRIDENTE, BOIEIRO,

SAMBISTA, BATUQUEIRO E REGUEIRO. É LEVAR A ALEGRIA NA ALMA. É SER MULATO, CABOCLO,

CAFUZO, NEGRO, BRANCO E INDIO. É SER ARDENTE E CALOROSO COMO A PROPRIA TERRA

E DANÇAR AOS MILHARES DE RITMOS DELA. É A SIMPLICIDADE E A HUMILDADE

MATERIALIZADAS. É FORTALEZA PARA ENFRENTAR AS ADVERSIDADES. É SER RELIGIOSO E

TER MUITA FÉ: EM DEUS, SÃO JOSÉ DE RIBAMAR, VODUNS, ORIXÁS, CABOCLOS, ENCANTADOS,

PAJÉS, LENDAS E SUPERSTIÇÕES. É FALAR UM PORTUGUÊS CORRETO, MAS TAMBÉM

CABOCLO. É APRECIAR ARROZ DE CUXÁ, JUÇARA, SABORES DO NORTE E NORDESTE, MAR E

SERTÃO. É SE EMOCIONAR COM AS CANÇÕES DE JOÃO DO VALE, CÉSAR TEIXEIRA E SE

DERRAMAR EM LIRISMO AO CAMINHAR PELAS ANTIGAS VIELAS DE SÃO LUÍS E ALCÂNTARA.

É TER ORGULHO DAS NOSSAS BELEZAS NATURAIS. É SER VIVO COMO NOSSA FAUNA E

FLORA E MORENO COMO NOSSO MAR E NOSSOS RIOS. É SER ARTISTA E TEATRO,

CRIADOR E CRIATURA, ATOR E PRODUTOR DA NOSSA RIQUÍSSIMA CULTURA

POPULAR. É SER TÃO DIVERSO E ÚNICO QUANTO O TORRÃO, QUE É A SÍNTESE NATURAL E

CULTURAL DO PAÍS. SER MARANHENSE É, ACIMA DE TUDO, TER IMENSO PRAZER E

ORGULHO DE SÊ-LO.

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CONTATOS DA COMISSÃO ORGANIZADORA

Site: https://ieraamazonico.blogspot.com.br/

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E-mail: [email protected]

Telefones para contato:

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(98)8208-7587 TIM/ (098)87834682 OI - GABI DINIZ

(88)9805-0117 TIM/ GENIVAL - FEAB NACIONAL

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(98)9201-3660 VIVO/TIAGO JANSEN