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20 | Edição #30 |
CAPA
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Isaac Azar, dono do Paris 6, o bistrô frequentado em São Paulo e no Rio de Janeiro por gente bonita, descolada, jogadores de futebol e muitos famosos, vai abrir a primeira filial em Orlando, na Flórida para, além da gastronomia, divulgar a cultura contemporânea brasileira
• por Simone Galib fotos Érico Hiller
CELEBRIDADESO ENDEREÇO DAS
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CAPA
Isaac Azar não nasceu em ber-
ço gastronômico, mas abriu um
bistrô, o Paris 6, nos Jardins, que
faz o maior sucesso em São Paulo, a
cidade mais gourmet do país - com
52 tipos diferentes de cozinha -,
funciona 24 horas e é frequentado
por gente bonita, famosa, descola-
da, jogadores de futebol, como Ney-
mar Jr, muitos artistas, boa parte
deles amigos do dono da casa, que
os homenageia com seus nomes
no cardápio, além de turistas de
outros estados do Brasil. A receita
deu tão certo, que o Paris 6 já co-
meça a ganhar ares de rede. Azar
inaugurou, há um ano, uma filial,
na Barra da Tijuca, no Rio de Janei-
ro, que vive lotada e boa parte dos
seus 250 lugares são ocupados pela
classe artística carioca, o que trans-
formou a casa em “uma espécie de
sucursal do Projac, a cidade ceno-
gráfica da Globo”, como ele mesmo
define. Em junho último, foi ainda
mais ousado: inaugurou o Paris 6
Vaudeville, na mesma rua Haddock
Lobo, a apenas 70 metros da matriz
paulista, também aberto dia e noi-
te, para tentar aliviar as três horas
de filas de espera. Porém, ele quer
mais. E já se prepara para exportar
o conceito mundo afora.
Carismático, corintiano roxo,
comunicativo, muito bem rela-
cionado, cercado de amigos e de
sócios famosos, amado por muitos
e desprezado por outros, especial-
mente por alguns críticos gastronô-
micos, Isaac Azar aprendeu a lidar
com a polêmica e com os dois lados
da fama, apostando na fórmula que
lhe garantiu sucesso em um dispu-
tadíssimo mercado: a divulgação
da cultura brasileira, seja no cine-
ma, no teatro ou nas artes plásticas,
o que acabou criando uma espécie
de cumplicidade com atores, cine-
astas e astros da MPB, que ali são
mais que meros clientes. Seus no-
mes e fotos estão estampados no
menu, com 200 opções, entre entra-
das, lanches, petiscos, pratos prin-
cipais e sobremesas. Você pode, por
exemplo, experimentar os Escargots
Bourguignons a Milton Nascimento, os
Tartines de Chévre ET Tomates Au Me-
morable a Luciano do Valle, o Risotto de
Morue a Fernando Meirelles ou o Carré
de Bouef a Ivete Sangalo, entre muitos
outros. Para o craque Neymar, hou-
ve também uma criação especial.
Isaac o brindou com uma porção de
100 gramas do mais nobre presun-
to cru espanhol em homenagem ao
Barcelona, time do jogador. O nome
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do prato? Pata Negra a L´Huile D´Olive
a Neymar Jr.
CARDÁPIO CulTuRAlSim, a escolha é feita sob medi-
da para o freguês, famoso e habitué.
Mas, a cultura brasileira também
está sempre presente nesse cardá-
pio. Nas paredes , com décor, inspi-
ração, iluminação e parte do menu
franceses, há quadros de pintores,
cartazes de cinema, peças de teatro
–tudo made in Brazil. “O Paris 6 não
é simplesmente um restaurante,
mais sim um passeio, um entrete-
nimento. Mais de 20% dos clientes
vêm de outros estados. Além da co-
mida, as pessoas degustam cultura”,
orgulha-se. Indagado se os artistas e
amigos têm privilégios, é categórico:
“Não atraio ninguém oferecendo co-
mida de graça. Ele paga como qual-
quer outro cliente, exceto quando
faço parceria com alguma peça de
teatro e tenho cerca de R$ 10 mil em
ingressos para distribuir nas mídias
sociais. É uma maneira de fomentar
a cultura”, conclui.
Mas, se a ênfase é a cultura bra-
sileira, então por que o nome Paris
6? A inspiração vem do 6º arrondisse-
ment, o distrito no centro de Paris, en-
tre os bairros de Saint-Germain-des-
-Prés e Notre-Dame-des-Champs,
que tem uma das maiores con-
centrações de cafés, de bistrôs e de
brasseries. Aliás, esse centro cultural
parisiense era frequentado, no início
do século, por nomes, como o pintor
Pablo Picasso, o escritor norte-ameri-
cano Ernest Hermingway e o filósofo
e crítico francês Jean-Paul Sartre, en-
tre tantos outros. Um lugar cheio de
história e de muita gente famosa! “Se
Wood Allen fala dos artistas [no fil-
me Meia-Noite em Paris], eu também
exponho quadros, homenageio Emí-
lio Santiago, José Wilker, o amigo Jair
Rodrigues (morto em maio último e
cujo grand menu deste ano foi dedi-
cado a sua memória) e Luciano do
Valle, que também era frequentador
assíduo”, diz ele, relembrando cenas
históricas entre os salões. “Gustavo
Rosa pintou no próprio restaurante,
entre taças de vinho, e Maurício de
Souza desenhou um prato para Jair
Rodrigues com o personagem Cebo-
linha”. Apesar de tanta brasilidade,
gente de fora também bateu pon-
to por lá, como Liza Minelli que no
aniversário de seis anos da casa, em
2012, foi jantar depois do show em
São Paulo e acabou dando uma can-
ja, para surpresa de todos.
DE vOlTA ÀS ORIgENSJudeu sefaradim, filho de pai
egípcio e mãe de origem polonesa,
Isaac Azar, 43 anos, é o caçula dos
Henri Castelli e Daniel Alves
Isaac e Neymar Jr; A atriz Paloma Bernardi
Murilo Rosa, Caio Castro e Isaac
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quatro irmãos homens, todos pra-
ticamente com a mesma faixa etá-
ria. Ele trabalhava com a família no
ramo de concessionária de veículos
e foi o primeiro a tentar voo solo,
em 2003, optando por atuar no se-
tor alimentício. Começou a impor-
tar azeite de oliva, o que lhe exigiu
um profundo mergulho nas raízes.
“Eu adoro história e vi no azeite um
produto, comum e sagrado, para o
judaísmo, para o cristianismo e para
o islamismo”, diz. Azar viajou boa
parte do mundo, pesquisando o pro-
duto que tanto o fascinava. Em 2004,
tornou-se o primeiro brasileiro espe-
cializado em azeite, graduado pela
renomada Organizzazione Naziona-
le Assggiatori Olio di Oliva, na Itália.
No final desse mesmo ano,
abriu o Azäit, também nos Jardins,
onde fazia harmonização de pratos
com azeite. Não deu muito certo e
fechou a casa. O Paris 6, hoje com
oito anos de história, estava ainda
em início de jornada.“ Não conse-
gui dar conta das propriedades pela
diferença de conceitos”, afirma. Em
2007, ele assumiu o cargo de chef
do menu da TAM, em que elabora-
va pratos à base de azeite de oliva.
Essa fase do azeite durou até 2008.
Já a ideia de levar o Paris 6 para o Rio
não foi exatamente sua, conta, mas
estimulada pelos próprios artistas,
como o ator Bruno Gagliasso, o pri-
meiro, logo no início da casa, que
ganhou um prato com seu nome no
cardápio. Não demorou muito para
que Isaac Azar formasse o seu time
carioca: além do próprio Bruno, o
diretor Jayme Monjardin, o atacan-
te Emerson Sheik e o jogador Pauli-
nho, da seleção brasileira, dividem
a sociedade, com toda a gestão feita
pelo próprio empresário. A casa já
tem fila de espera todos os dias.
Se, por um lado, Isaac Azar bus-
cou nas raízes dos seus ancestrais o
ponto de partida para se dedicar à
gastronomia, a base cultural veio de
uma outra fonte: a herança genética
da mãe, segundo ele, a sua “gran-
de inspiração desde a infância”. O
empresário conta que ela é erudi-
ta, adora música clássica, desenha,
pinta, toca piano, ensinou-lhe vá-
rios hobbies, como a pintura, e lhe
emprestou muitos livros para que
formatasse o conceito do Paris 6. A
receita funcionou. Hoje, a sobreme-
sa clássica da casa, o Grand Gateau au
Popsicle a Paloma Bernardi – um gateau
recheado de morangos, calda de Nu-
tella e um picolé de chocolate italia-
no - vende mais de 15 mil unidades
por mês no eixo Rio-São Paulo.
MuITO TRABAlHO E DIvÃCom os negócios se expandin-
do, três restaurantes para admi-
nistrar e um celular que não para
nunca de tocar, como é a rotina de
Isaac? “Trabalho 24 horas, além das
quatro linhas”, diz ele, referindo-se
ao futebol. Pai de três filhos - duas
meninas, de 10 e 12 anos e um bebê
de nove meses - ele atribui toda a
sua base à mulher Caroline, direto-
ra financeira do Paris 6, com quem
está casado há 13 anos e é quem lhe
dá a tranquilidade suficiente para
administrar o salão, a cozinha, a fa-
mília e as mídias sociais. Somente o
Instagram da casa tem cerca de 194
mil seguidores, ganhando do Mc
Donalds, com 174 mil, e ele o mo-
nitora pessoalmente. Para manter
o equilíbrio emocional, seu ponto
de apoio é o renomado psiquiatra,
psicoterapeuta e escritor Flávio Gi-
kovate (o preferido dos poderosos),
Não cozinho
para apenas uma pessoa, o crítico gastronômico, mas para 40 mil, que frequentam o Paris 6 em São Paulo e no Rio. Gosto de ser julgado pelo meu público
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com quem faz duas sessões sema-
nais “para ponderar meus exageros
e me guiar em decisões importan-
tes”. Isaac se define como um ho-
mem muito ansioso, estourado e
diz ter melhorado muito nos últi-
mos nove anos. “Esse sucesso todo
não seria possível sem Gikovate e
Caroline. Ela é o ponto de equilíbrio
de toda minha realização pessoal e
profissional”, afirma.
Já com a vida totalmente estru-
turada, o dono do Paris 6 prepara
novos voos e agora quer divulgar a
cultura brasileira contemporânea
no exterior. Ele vai inaugurar, em
dezembro, outra filial, desta vez
em Orlando, na Flórida, nos Esta-
dos Unidos, tendo como sócio o
ator Murilo Rosa. O conceito será
exatamente o mesmo do Brasil, ou
seja, base francesa e histórias, car-
tazes de peças e fotos de artistas
brasileiros estampados nas pare-
des . Entre os seus planos, também
está a abertura de restaurantes em
Miami, Nova York, Londres e even-
tualmente em Dubai, nos Emirados
Árabes. “Quero mostrar ao mundo
que o Brasil tem cinema, teatro e
produções de altíssima qualidade.”
Apesar de todo esse sucesso, o
bistrô costuma receber farpas da
mídia especializada e de alguns
chefs, alegando que o lugar não é
barato e o cardápio tem muito pou-
co de gastronomia francesa. Para
Isaac Azar, as críticas refletem opi-
niões subjetivas. “Não cozinho para
apenas uma pessoa, para o crítico
gastronômico, mas sim para 40 mil,
que frequentam o Paris 6 em São
Paulo e no Rio. Gosto de ser julga-
do pelo meu público”, rebate. Aliás,
nesse quesito Isaac Azar vai muito
bem, obrigado!
Crevettes a Bruno Gagliasso: camarões rosa com arroz provençal
Grand Gateau a Paloma Bernardi: sobremesa mais vendida
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ISRAElÉ a origem dos meus ancestrais. Amo especialmente Jerusalém pelo encontro das três religiões mais importantes. Gosto desse pluralismo e sou contrário a qualquer forma de guerra.
CAPA • GIRo PeLo MunDo
Apaixonado por história e estudioso de muitas culturas, Isaac Azar percorreu boa parte do mundo em busca de conhecimento. A seguir, os lugares que mais lhe marcaram
PARISFoi o berço da Revolução Francesa e representa tudo o que existe hoje como civilização ocidental.
MARROCOSGosto de conviver com povos semitas para descobrir neles semelhanças e diferenças. A cultura árabe é uma das mais sábias e belas de toda a civilização.
TOlEDOeu sou também de origem espanhola, um judeu sefaradim, e nada como percorrer a espanha, o país produtor mundial de azeite.
Foto
s: sh
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rsto
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TÓQuIOJamais voltaria para ter uma recordação única: o bicampeonato mundial do Corinthias, realizado no Japão, e que fui assistir.