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A violência no campo no Brasil: questões e dados para o debate Sérgio Botton Barcellos* Recentemente foram divulgadas uma série de denúncias pelo Ministério Público Federal do Mato Grosso (MPF/MT) , envolvendo ruralistas, a Confederação Nacional da Agricultura (CNA) e o parlamentar relator da Comissão Especial da Câmara Federal, que trata da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 215/00, que transfere a competência da União na demarcação das terras indígenas para o Congresso. Na semana anterior a esse acontecimento, o dirigente de um sindicato de trabalhadores rurais, Josias Paulino de Castro, 54 anos, e sua esposa, Ireni da Silva Castro, 35 anos, foram assassinados , no município de Colniza, no estado do Mato Grosso. Os corpos foram encontrados alvejados por tiros de arma de fogo calibre 9 mm, que é de uso restrito da polícia. O casal, ainda neste mês de agosto, havia ido até Cuiabá realizar várias denúncias ao Ouvidor Agrário Nacional, desembargador Gercino José da Silva. Segundo informações, eles teria denunciado alguns políticos da região, por extração ilegal de madeira. Também denunciaram a Polícia Militar por irregularidades e órgãos do governo por emissão irregular de títulos definitivos das terras na região. No ano de 2011, outro caso que chamou a atenção foi o assassinato dos lideres extrativistas José Claudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo da Silva, que foram executados a tiros em Nova Ipixuna, no sudeste do Pará. A suspeita de Organizações Não Governamentais (ONG’s) e da família de Ribeiro é que ele tenha sido executado por madeireiros da região. Atualmente o caso está em apelação por parte do Ministério Público do Estado (MPE) contra a decisão do tribunal do Júri de Marabá que absolveu o fazendeiro José Rodrigues Moreira, acusado de ser o mandante do assassinato do casal. Esses são apenas alguns dos casos exemplares das recorrentes cenas trágicas e violentas ao longo da história da luta pela terra no Brasil. A violência dos proprietários fundiários e os atos comitivos e omissivos por parte do Estado no conflito agrário, com a criminalização das lutas por terra, indicam a continuidade do processo de afronta aos diferentes grupos sociais que não sejam vinculados ao latifúndio e ao agronegócio no campo, e ao mesmo tempo trazem à tona a resistência dos mais diferentes grupos sociais que vivem nos espaços agrários ou demais ecossistemas no Brasil. Desse modo, essa breve provocação faz parte de um esforço de reflexão sobre a realidade e para mais uma vez chamar sobre a violência no campo brasileiro na atualidade, bem como provocar e remeter a mais possibilidades de debate sobre as condições de vida no campo brasileiro.

A violência no campo no brasil: questões e dados para o debate

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Essa breve provocação faz parte de um esforço de reflexão sobre a realidade e para mais uma vez chamar sobre a violência no campo brasileiro na atualidade, bem como provocar e remeter a mais possibilidades de debate sobre as condições de vida no campo brasileiro.

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Page 1: A violência no campo no brasil: questões e dados para o debate

A violecircncia no campo no Brasil questotildees e dados para o debate

Seacutergio Botton Barcellos

Recentemente foram divulgadas uma seacuterie de denuacutencias pelo Ministeacuterio Puacuteblico Federal do

Mato Grosso (MPFMT) envolvendo ruralistas a Confederaccedilatildeo Nacional da Agricultura (CNA) e o

parlamentar relator da Comissatildeo Especial da Cacircmara Federal que trata da Proposta de Emenda

Constitucional (PEC) 21500 que transfere a competecircncia da Uniatildeo na demarcaccedilatildeo das terras

indiacutegenas para o Congresso

Na semana anterior a esse acontecimento o dirigente de um sindicato de trabalhadores

rurais Josias Paulino de Castro 54 anos e sua esposa Ireni da Silva Castro 35 anos foram

assassinados no municiacutepio de Colniza no estado do Mato Grosso Os corpos foram encontrados

alvejados por tiros de arma de fogo calibre 9 mm que eacute de uso restrito da poliacutecia O casal ainda

neste mecircs de agosto havia ido ateacute Cuiabaacute realizar vaacuterias denuacutencias ao Ouvidor Agraacuterio Nacional

desembargador Gercino Joseacute da Silva Segundo informaccedilotildees eles teria denunciado alguns poliacuteticos

da regiatildeo por extraccedilatildeo ilegal de madeira Tambeacutem denunciaram a Poliacutecia Militar por

irregularidades e oacutergatildeos do governo por emissatildeo irregular de tiacutetulos definitivos das terras na regiatildeo

No ano de 2011 outro caso que chamou a atenccedilatildeo foi o assassinato dos lideres extrativistas

Joseacute Claudio Ribeiro da Silva e Maria do Espiacuterito Santo da Silva que foram executados a tiros em

Nova Ipixuna no sudeste do Paraacute A suspeita de Organizaccedilotildees Natildeo Governamentais (ONGrsquos) e da

famiacutelia de Ribeiro eacute que ele tenha sido executado por madeireiros da regiatildeo Atualmente o caso estaacute

em apelaccedilatildeo por parte do Ministeacuterio Puacuteblico do Estado (MPE) contra a decisatildeo do tribunal do Juacuteri

de Marabaacute que absolveu o fazendeiro Joseacute Rodrigues Moreira acusado de ser o mandante do

assassinato do casal

Esses satildeo apenas alguns dos casos exemplares das recorrentes cenas traacutegicas e violentas ao

longo da histoacuteria da luta pela terra no Brasil A violecircncia dos proprietaacuterios fundiaacuterios e os atos

comitivos e omissivos por parte do Estado no conflito agraacuterio com a criminalizaccedilatildeo das lutas por

terra indicam a continuidade do processo de afronta aos diferentes grupos sociais que natildeo sejam

vinculados ao latifuacutendio e ao agronegoacutecio no campo e ao mesmo tempo trazem agrave tona a resistecircncia

dos mais diferentes grupos sociais que vivem nos espaccedilos agraacuterios ou demais ecossistemas no

Brasil

Desse modo essa breve provocaccedilatildeo faz parte de um esforccedilo de reflexatildeo sobre a realidade e

para mais uma vez chamar sobre a violecircncia no campo brasileiro na atualidade bem como provocar

e remeter a mais possibilidades de debate sobre as condiccedilotildees de vida no campo brasileiro

A violecircncia no campo no Brasil se trata de um processo de violecircncia difusa de caraacuteter

social poliacutetico e simboacutelico materializada de diferentes formas Em relaccedilatildeo a esses grupos sociais

ela eacute exercida frequentemente com alto grau de letalidade contra alvos selecionados (contra as

organizaccedilotildees dos sem terra e trabalhadores rurais) e seus promotores satildeo ligados a grupos da elite

histoacuterica agraacuteria fazendeiros comerciantes locais e empresas mediante a contrataccedilatildeo de

pistoleiros e miliacutecias organizadas Tambeacutem se registra a presenccedila do aparelho repressivo estatal

comprovado pela frequente participaccedilatildeo das poliacutecias civis e militares em atos de repressatildeo e despejo

em ocupaccedilotildees de terra (TAVARES DOS SANTOS 2000)

Para Fernandes (2005) e CPT (2012) a violecircncia pode ser praticada por particulares ou

pelo Estado e eacute constituiacuteda principalmente por assassinatos tentativas de assassinato ameaccedilas

despejos e expulsotildees da terra e outras formas que causem danos fiacutesicos ou psicoloacutegicos aos

trabalhadores rurais e camponeses ou a seus bens A criminalizaccedilatildeo da luta pela terra eacute outro

exemplo de violecircncia indireta contra os camponeses e que pode gerar formas de violecircncia direta no

seu cumprimento A conflitualidade da questatildeo agraacuteria brasileira segundo Fernandes (2005) eacute

formada pelo conjunto de conflitos sociais relativos a um determinado tipo de modelo de

desenvolvimento

Em relaccedilatildeo agrave questatildeo agraacuteria o conflito surge da distinta inter-relaccedilatildeo entre interesses e

estrateacutegias divergentes e a resoluccedilatildeo dos conflitos ocorre geralmente com parcialidade por meio da

intervenccedilatildeo do Estado Exemplos de como outros processos de violecircncia se combinam eacute a sua

mediatizaccedilatildeo na configuraccedilatildeo da sociedade atualmente e estatildeo contidas nas chacinas de moradores

de rua accedilotildees militares e invasatildeo de domiciacutelios em favelas remoccedilotildees violentas feitas pelas tropas de

choque o nuacutemero gritantes de jovens negros que morrem em funccedilatildeo da violecircncia urbana e rural e

em grande medida em funccedilatildeo da accedilatildeo do Estado (IPEA 2014)

Uma das caracteriacutesticas da questatildeo da violecircncia no campo no Brasil atualmente eacute que ela eacute

um aspecto histoacuterico persistente desde o periacuteodo colonial que num periacuteodo histoacuterico mais recente

com a ditadura militar consolidou bases mais fortes com o modelo agriacutecola da modernizaccedilatildeo

conservadora agriacutecola Sob essa perspectiva as heranccedilas do regime ditatorial que ficaram

engendradas poacutes-ditadura no Brasil estatildeo ainda contidas nas instacircncias poliacuteticas juriacutedicas e

institucionais e uma reduzida participaccedilatildeo popular mais direta sobre decisotildees poliacuteticas Assim

ainda percebe-se que as poliacuteticas agriacutecolas vinculadas a este histoacuterico natildeo foram invertidas e

alteradas suficientemente a ponto de reduzir os conflitos no campo pelo Brasil

Os dados sobre a violecircncia no campo nos uacuteltimos 30 anos

Em relaccedilatildeo aos dados gerais sobre os conflitos no campo as informaccedilotildees divulgadas pela

CPT datildeo conta de um crescimento de 15 no nuacutemero total de conflitos no campo em 2011 em

relaccedilatildeo agrave 2010 que passaram de 1186 para 1363 As pessoas envolvidas foram 559401 em 2010

e 600925 em 2011 ou seja um aumento de 74 Estes conflitos compreendem 1035 conflitos por

terra 260 conflitos trabalhistas e 68 conflitos pela aacutegua (CPT 2012)

Os conflitos por terra foram os que apresentaram um crescimento mais expressivo Passaram

de 835 em 2010 para 1035 em 2011 um crescimento de 24 O nuacutemero de famiacutelias envolvidas

cresceu 303 passou de 70387 para 91735 Este crescimento1 se deu em 17 das 27 unidades da

federaccedilatildeo mas foi mais expressivo na regiatildeo Nordeste onde chegou a 341 sendo que de 369

conflitos envolvendo 31952 famiacutelias em 2010 passou para 495 conflitos envolvendo 43794

famiacutelias (CPT 2012)

De acordo com a CPT (2012) nos conflitos por terra incluem-se as ocupaccedilotildees de terra e os

acampamentos agraves margens das rodovias ou nas proximidades de aacutereas que se reivindicam para

desapropriaccedilatildeo As ocupaccedilotildees por famiacutelias sem terra ou a retomada de aacutereas por comunidades

indiacutegenas ou quilombolas apresentaram um crescimento de 111 e passaram de 180 em 2010 para

200 em 2011 Jaacute o nuacutemero de famiacutelias envolvidas apresentou crescimento de 351 chegando a

22783 em 2011 Os acampamentos sofreram uma reduccedilatildeo de 35 para 30 com o nuacutemero de famiacutelias

passando de 3579 para 3210 (reduccedilatildeo de 103)

Em 2013 os movimentos sociais foram responsaacuteveis por 244 conflitos (230 ocupaccedilotildees e 14

acampamentos) 189 do total Isso quer dizer que 811 dos conflitos satildeo provocados pela accedilatildeo

de fazendeiros grileiros madeireiros empresaacuterios ou mineradores ndash Poder Privado - atraveacutes de

assassinatos ou expulsotildees ou pela accedilatildeo do Poder Puacuteblico atraveacutes das accedilotildees do Poder Executivo e

do Judiciaacuterio por meio de prisotildees e accedilotildees de despejo

Chama a atenccedilatildeo nos conflitos por terra o aumento em 757 no nuacutemero de famiacutelias

expulsas que passaram de 1216 em 2010 para 2137 em 2011 Tambeacutem teve crescimento

significativo o nuacutemero de famiacutelias ameaccediladas por pistoleiros com aumento de 504 (de 10274

para 15456) Eacute o poder privado voltando agrave lideranccedila das accedilotildees2 responsaacutevel por 502 das

1 O aumento mais significativo foi no Piauiacute com aumento de 1308 que passou de 13 conflitos em 2010 para 30 em

2011 e o nuacutemero de famiacutelias passou de 611 para 1398(mais 1288) 2 Destaca-se que ateacute 2010 a Justiccedila Federal de Mato Grosso do Sul determinou o confisco de 85 fazendas de pessoas

acusadas de lavar dinheiro proveniente de atividades como o traacutefico de drogas e corrupccedilatildeo Juntas as aacutereas somam 368

mil hectares A partir delas criminosos que movimentam grandes somas de capital ilegal conseguem esconder a origem

do dinheiro sujo em operaccedilotildees fictiacutecias de venda de bois e gratildeos ndash estratagema que a Poliacutecia Federal chama de vaca-

papel e soja-papel Desde entatildeo foram confiscados 33 apartamentos 47 casas 86 terrenos 18 aviotildees e seis barcos aleacutem

de 535 caminhotildees e carros (SAKAMOTO 2008)

ocorrecircncias de conflitos por terra 689 de um total de 1035 Por outro lado a accedilatildeo do poder puacuteblico

nos despejos decresceu 128 foram 8064 famiacutelias despejadas em 2010 e 7033 em 2011

Cabe destacar que ao longo dos 20 anos (1985-2006) analisados no Atlas de Conflitos no

Campo Brasileiro (CPT- LEMTO - GeoAgraacuteria 2013) isto eacute desde a redemocratizaccedilatildeo no Brasil

o periacuteodo entre 2003 e 2006 no primeiro mandato de Lula foi o que registrou o maior nuacutemero de

conflitos de famiacutelias envolvidas e de outros indicadores de violecircncia3 Segundo CPT (2013) nos

uacuteltimos trecircs anos governo Dilma a meacutedia anual supera as meacutedias anuais de todos os periacuteodos

analisados no Atlas exceto o periacuteodo 2003-2006

Em relaccedilatildeo ao trabalho em condiccedilotildees anaacutelogas agrave escravidatildeo uma ligeira queda foi

observada nas denuacutencias de trabalho escravo e super exploraccedilatildeo passando de 230 para 168

Continuam concentradas na regiatildeo Norte as ocorrecircncias com mais de 50 do total e se

consideramos a Amazocircnia Legal somam 67 dos conflitos trabalhistas

Entre os grupos sociais que sofreram accedilotildees violentas se destacam os povos e comunidades

tradicionais desde a segunda metade dos anos 2000 Em 2013 do total de viacutetimas fatais

(assassinatos) 613 pertencem a gruposclasses sociaisetnias caracterizados como populaccedilotildees

tradicionais Estas correspondem a 588 do total das categorias sociais que sofreram accedilotildees

violentas Em todas as macrorregiotildees do paiacutes mais de 50 das categorias sociais envolvidas em

conflitos satildeo populaccedilotildees tradicionais exceto na regiatildeo Sudeste Das populaccedilotildees tradicionais que em

2013 foram viacutetimas de algum tipo de violecircncia 55 se localizavam na Amazocircnia (CPT 2013)

Com referecircncia especiacutefica aos povos indiacutegenas no ano de 2011 foram registrados 46 casos

de homiciacutedios contra os povos indiacutegenas nos seguintes estados Alagoas (1) Cearaacute (1) Goiaacutes (1)

Maranhatildeo (1) Mato Grosso do Sul (19) Paraacute (7) Rio Grande do Sul (11) Roraima (7) e Santa

Catarina (6) Em 2012 ocorreram 54 casos de homiciacutedios cometidos contra os indiacutegenas Na

interpretaccedilatildeo do CIMI (2013) o governo da presidente Dilma tem cedido agraves pressotildees do

agronegoacutecio especialmente da bancada ruralista no Congresso Nacional e pouco tem feito no

tocante agrave regularizaccedilatildeo de terras indiacutegenas As praacuteticas de violecircncia contra os povos indiacutegenas tecircm

aumentado circunstancialmente e satildeo constituiacutedas por invasotildees possessoacuterias a exploraccedilatildeo ilegal de

recursos naturais os danos ambientais bem como a lentidatildeo do poder puacuteblico nos procedimentos de

demarcaccedilatildeo e a paralisaccedilatildeo de processos de retirada de invasores e ocupantes de aacutereas jaacute

homologadas

3 De acordo com CPT (2013) os nuacutemeros elevados deste periacuteodo se devem por um lado agrave iniciativa dos grupos

dominantes com receio que Lula fizesse a Reforma Agraacuteria e por outro pela pressatildeo dos movimentos sociais com

accedilotildees em prol da Reforma Agraacuteria (Ver Porto-Gonccedilalves Conflitos no Campo Brasil 2004) Jaacute no segundo mandato de

Lula (2007-2010) foi estabelecida a priorizaccedilatildeo da poliacutetica de exportaccedilatildeo de commodities por um lado e por outro das

poliacuteticas de transferecircncia de renda (Fome Zero Bolsa Famiacutelia e outras)

Desse modo nos uacuteltimos 10 anos os levantamentos do CIMI mostram que pelo menos 563

indiacutegenas foram assassinados no paiacutes com meacutedia anual de 563 indiacutegenas Como nos anos

anteriores Mato Grosso do Sul se destaca 60 das ocorrecircncias em 2012 e 55 das ocorrecircncias nos

uacuteltimos 10 anos totalizando pelos levantamentos do CIMI 317 indiacutegenas viacutetimas de assassinatos

Ateacute o ano 2013 percebe-se a ratificaccedilatildeo da violecircncia como suporte do padratildeo de

desenvolvimento capitalista no Brasil Destaca-se que por meio da PEC 21500 os setores

econocircmicos ligados ao agronegoacutecio e agraves empresas de capital internacional que controlam o setor

(Monsanto Bayer Basf Syngenta Cargill Bunge e outras) buscam interferir na implementaccedilatildeo de

direitos sociais de titulaccedilatildeo de terras quilombolas e indiacutegenas bem como na criaccedilatildeo de novas

unidades de conservaccedilatildeo ambiental afirmou o CIMI (2013)

Evidencia-se que o modelo agriacutecola e agraacuterio hegemocircnico em constituiccedilatildeo no Brasil que eacute o

praticaacutevel dentro das regras do atual estaacutegio do capitalismo eacute retroalimentado pela crescente

concentraccedilatildeo da terra exploraccedilatildeo de matildeo de obra e da renda no qual provoca o enfrentamento

permanente entre o modelo do agronegoacutecio e outras formas de vida e relaccedilatildeo socioambiental na

produccedilatildeo agriacutecola e extrativista Assim o modelo de desenvolvimento social e econocircmico no Brasil

nos uacuteltimos 30 anos estaacute ocorrendo permeado pela violaccedilatildeo dos direitos humanos especialmente

dos povos indiacutegenas e dos diversos povos e comunidades tradicionais do paiacutes daqueles que optam

em natildeo participar e cooperar ou mesmo resistir com a corrida desvairadardquo desenvolvimentista por

iacutendices como o Gini e o PIB no atual estaacutegio do capitalismo global

Pesquisador

Page 2: A violência no campo no brasil: questões e dados para o debate

A violecircncia no campo no Brasil se trata de um processo de violecircncia difusa de caraacuteter

social poliacutetico e simboacutelico materializada de diferentes formas Em relaccedilatildeo a esses grupos sociais

ela eacute exercida frequentemente com alto grau de letalidade contra alvos selecionados (contra as

organizaccedilotildees dos sem terra e trabalhadores rurais) e seus promotores satildeo ligados a grupos da elite

histoacuterica agraacuteria fazendeiros comerciantes locais e empresas mediante a contrataccedilatildeo de

pistoleiros e miliacutecias organizadas Tambeacutem se registra a presenccedila do aparelho repressivo estatal

comprovado pela frequente participaccedilatildeo das poliacutecias civis e militares em atos de repressatildeo e despejo

em ocupaccedilotildees de terra (TAVARES DOS SANTOS 2000)

Para Fernandes (2005) e CPT (2012) a violecircncia pode ser praticada por particulares ou

pelo Estado e eacute constituiacuteda principalmente por assassinatos tentativas de assassinato ameaccedilas

despejos e expulsotildees da terra e outras formas que causem danos fiacutesicos ou psicoloacutegicos aos

trabalhadores rurais e camponeses ou a seus bens A criminalizaccedilatildeo da luta pela terra eacute outro

exemplo de violecircncia indireta contra os camponeses e que pode gerar formas de violecircncia direta no

seu cumprimento A conflitualidade da questatildeo agraacuteria brasileira segundo Fernandes (2005) eacute

formada pelo conjunto de conflitos sociais relativos a um determinado tipo de modelo de

desenvolvimento

Em relaccedilatildeo agrave questatildeo agraacuteria o conflito surge da distinta inter-relaccedilatildeo entre interesses e

estrateacutegias divergentes e a resoluccedilatildeo dos conflitos ocorre geralmente com parcialidade por meio da

intervenccedilatildeo do Estado Exemplos de como outros processos de violecircncia se combinam eacute a sua

mediatizaccedilatildeo na configuraccedilatildeo da sociedade atualmente e estatildeo contidas nas chacinas de moradores

de rua accedilotildees militares e invasatildeo de domiciacutelios em favelas remoccedilotildees violentas feitas pelas tropas de

choque o nuacutemero gritantes de jovens negros que morrem em funccedilatildeo da violecircncia urbana e rural e

em grande medida em funccedilatildeo da accedilatildeo do Estado (IPEA 2014)

Uma das caracteriacutesticas da questatildeo da violecircncia no campo no Brasil atualmente eacute que ela eacute

um aspecto histoacuterico persistente desde o periacuteodo colonial que num periacuteodo histoacuterico mais recente

com a ditadura militar consolidou bases mais fortes com o modelo agriacutecola da modernizaccedilatildeo

conservadora agriacutecola Sob essa perspectiva as heranccedilas do regime ditatorial que ficaram

engendradas poacutes-ditadura no Brasil estatildeo ainda contidas nas instacircncias poliacuteticas juriacutedicas e

institucionais e uma reduzida participaccedilatildeo popular mais direta sobre decisotildees poliacuteticas Assim

ainda percebe-se que as poliacuteticas agriacutecolas vinculadas a este histoacuterico natildeo foram invertidas e

alteradas suficientemente a ponto de reduzir os conflitos no campo pelo Brasil

Os dados sobre a violecircncia no campo nos uacuteltimos 30 anos

Em relaccedilatildeo aos dados gerais sobre os conflitos no campo as informaccedilotildees divulgadas pela

CPT datildeo conta de um crescimento de 15 no nuacutemero total de conflitos no campo em 2011 em

relaccedilatildeo agrave 2010 que passaram de 1186 para 1363 As pessoas envolvidas foram 559401 em 2010

e 600925 em 2011 ou seja um aumento de 74 Estes conflitos compreendem 1035 conflitos por

terra 260 conflitos trabalhistas e 68 conflitos pela aacutegua (CPT 2012)

Os conflitos por terra foram os que apresentaram um crescimento mais expressivo Passaram

de 835 em 2010 para 1035 em 2011 um crescimento de 24 O nuacutemero de famiacutelias envolvidas

cresceu 303 passou de 70387 para 91735 Este crescimento1 se deu em 17 das 27 unidades da

federaccedilatildeo mas foi mais expressivo na regiatildeo Nordeste onde chegou a 341 sendo que de 369

conflitos envolvendo 31952 famiacutelias em 2010 passou para 495 conflitos envolvendo 43794

famiacutelias (CPT 2012)

De acordo com a CPT (2012) nos conflitos por terra incluem-se as ocupaccedilotildees de terra e os

acampamentos agraves margens das rodovias ou nas proximidades de aacutereas que se reivindicam para

desapropriaccedilatildeo As ocupaccedilotildees por famiacutelias sem terra ou a retomada de aacutereas por comunidades

indiacutegenas ou quilombolas apresentaram um crescimento de 111 e passaram de 180 em 2010 para

200 em 2011 Jaacute o nuacutemero de famiacutelias envolvidas apresentou crescimento de 351 chegando a

22783 em 2011 Os acampamentos sofreram uma reduccedilatildeo de 35 para 30 com o nuacutemero de famiacutelias

passando de 3579 para 3210 (reduccedilatildeo de 103)

Em 2013 os movimentos sociais foram responsaacuteveis por 244 conflitos (230 ocupaccedilotildees e 14

acampamentos) 189 do total Isso quer dizer que 811 dos conflitos satildeo provocados pela accedilatildeo

de fazendeiros grileiros madeireiros empresaacuterios ou mineradores ndash Poder Privado - atraveacutes de

assassinatos ou expulsotildees ou pela accedilatildeo do Poder Puacuteblico atraveacutes das accedilotildees do Poder Executivo e

do Judiciaacuterio por meio de prisotildees e accedilotildees de despejo

Chama a atenccedilatildeo nos conflitos por terra o aumento em 757 no nuacutemero de famiacutelias

expulsas que passaram de 1216 em 2010 para 2137 em 2011 Tambeacutem teve crescimento

significativo o nuacutemero de famiacutelias ameaccediladas por pistoleiros com aumento de 504 (de 10274

para 15456) Eacute o poder privado voltando agrave lideranccedila das accedilotildees2 responsaacutevel por 502 das

1 O aumento mais significativo foi no Piauiacute com aumento de 1308 que passou de 13 conflitos em 2010 para 30 em

2011 e o nuacutemero de famiacutelias passou de 611 para 1398(mais 1288) 2 Destaca-se que ateacute 2010 a Justiccedila Federal de Mato Grosso do Sul determinou o confisco de 85 fazendas de pessoas

acusadas de lavar dinheiro proveniente de atividades como o traacutefico de drogas e corrupccedilatildeo Juntas as aacutereas somam 368

mil hectares A partir delas criminosos que movimentam grandes somas de capital ilegal conseguem esconder a origem

do dinheiro sujo em operaccedilotildees fictiacutecias de venda de bois e gratildeos ndash estratagema que a Poliacutecia Federal chama de vaca-

papel e soja-papel Desde entatildeo foram confiscados 33 apartamentos 47 casas 86 terrenos 18 aviotildees e seis barcos aleacutem

de 535 caminhotildees e carros (SAKAMOTO 2008)

ocorrecircncias de conflitos por terra 689 de um total de 1035 Por outro lado a accedilatildeo do poder puacuteblico

nos despejos decresceu 128 foram 8064 famiacutelias despejadas em 2010 e 7033 em 2011

Cabe destacar que ao longo dos 20 anos (1985-2006) analisados no Atlas de Conflitos no

Campo Brasileiro (CPT- LEMTO - GeoAgraacuteria 2013) isto eacute desde a redemocratizaccedilatildeo no Brasil

o periacuteodo entre 2003 e 2006 no primeiro mandato de Lula foi o que registrou o maior nuacutemero de

conflitos de famiacutelias envolvidas e de outros indicadores de violecircncia3 Segundo CPT (2013) nos

uacuteltimos trecircs anos governo Dilma a meacutedia anual supera as meacutedias anuais de todos os periacuteodos

analisados no Atlas exceto o periacuteodo 2003-2006

Em relaccedilatildeo ao trabalho em condiccedilotildees anaacutelogas agrave escravidatildeo uma ligeira queda foi

observada nas denuacutencias de trabalho escravo e super exploraccedilatildeo passando de 230 para 168

Continuam concentradas na regiatildeo Norte as ocorrecircncias com mais de 50 do total e se

consideramos a Amazocircnia Legal somam 67 dos conflitos trabalhistas

Entre os grupos sociais que sofreram accedilotildees violentas se destacam os povos e comunidades

tradicionais desde a segunda metade dos anos 2000 Em 2013 do total de viacutetimas fatais

(assassinatos) 613 pertencem a gruposclasses sociaisetnias caracterizados como populaccedilotildees

tradicionais Estas correspondem a 588 do total das categorias sociais que sofreram accedilotildees

violentas Em todas as macrorregiotildees do paiacutes mais de 50 das categorias sociais envolvidas em

conflitos satildeo populaccedilotildees tradicionais exceto na regiatildeo Sudeste Das populaccedilotildees tradicionais que em

2013 foram viacutetimas de algum tipo de violecircncia 55 se localizavam na Amazocircnia (CPT 2013)

Com referecircncia especiacutefica aos povos indiacutegenas no ano de 2011 foram registrados 46 casos

de homiciacutedios contra os povos indiacutegenas nos seguintes estados Alagoas (1) Cearaacute (1) Goiaacutes (1)

Maranhatildeo (1) Mato Grosso do Sul (19) Paraacute (7) Rio Grande do Sul (11) Roraima (7) e Santa

Catarina (6) Em 2012 ocorreram 54 casos de homiciacutedios cometidos contra os indiacutegenas Na

interpretaccedilatildeo do CIMI (2013) o governo da presidente Dilma tem cedido agraves pressotildees do

agronegoacutecio especialmente da bancada ruralista no Congresso Nacional e pouco tem feito no

tocante agrave regularizaccedilatildeo de terras indiacutegenas As praacuteticas de violecircncia contra os povos indiacutegenas tecircm

aumentado circunstancialmente e satildeo constituiacutedas por invasotildees possessoacuterias a exploraccedilatildeo ilegal de

recursos naturais os danos ambientais bem como a lentidatildeo do poder puacuteblico nos procedimentos de

demarcaccedilatildeo e a paralisaccedilatildeo de processos de retirada de invasores e ocupantes de aacutereas jaacute

homologadas

3 De acordo com CPT (2013) os nuacutemeros elevados deste periacuteodo se devem por um lado agrave iniciativa dos grupos

dominantes com receio que Lula fizesse a Reforma Agraacuteria e por outro pela pressatildeo dos movimentos sociais com

accedilotildees em prol da Reforma Agraacuteria (Ver Porto-Gonccedilalves Conflitos no Campo Brasil 2004) Jaacute no segundo mandato de

Lula (2007-2010) foi estabelecida a priorizaccedilatildeo da poliacutetica de exportaccedilatildeo de commodities por um lado e por outro das

poliacuteticas de transferecircncia de renda (Fome Zero Bolsa Famiacutelia e outras)

Desse modo nos uacuteltimos 10 anos os levantamentos do CIMI mostram que pelo menos 563

indiacutegenas foram assassinados no paiacutes com meacutedia anual de 563 indiacutegenas Como nos anos

anteriores Mato Grosso do Sul se destaca 60 das ocorrecircncias em 2012 e 55 das ocorrecircncias nos

uacuteltimos 10 anos totalizando pelos levantamentos do CIMI 317 indiacutegenas viacutetimas de assassinatos

Ateacute o ano 2013 percebe-se a ratificaccedilatildeo da violecircncia como suporte do padratildeo de

desenvolvimento capitalista no Brasil Destaca-se que por meio da PEC 21500 os setores

econocircmicos ligados ao agronegoacutecio e agraves empresas de capital internacional que controlam o setor

(Monsanto Bayer Basf Syngenta Cargill Bunge e outras) buscam interferir na implementaccedilatildeo de

direitos sociais de titulaccedilatildeo de terras quilombolas e indiacutegenas bem como na criaccedilatildeo de novas

unidades de conservaccedilatildeo ambiental afirmou o CIMI (2013)

Evidencia-se que o modelo agriacutecola e agraacuterio hegemocircnico em constituiccedilatildeo no Brasil que eacute o

praticaacutevel dentro das regras do atual estaacutegio do capitalismo eacute retroalimentado pela crescente

concentraccedilatildeo da terra exploraccedilatildeo de matildeo de obra e da renda no qual provoca o enfrentamento

permanente entre o modelo do agronegoacutecio e outras formas de vida e relaccedilatildeo socioambiental na

produccedilatildeo agriacutecola e extrativista Assim o modelo de desenvolvimento social e econocircmico no Brasil

nos uacuteltimos 30 anos estaacute ocorrendo permeado pela violaccedilatildeo dos direitos humanos especialmente

dos povos indiacutegenas e dos diversos povos e comunidades tradicionais do paiacutes daqueles que optam

em natildeo participar e cooperar ou mesmo resistir com a corrida desvairadardquo desenvolvimentista por

iacutendices como o Gini e o PIB no atual estaacutegio do capitalismo global

Pesquisador

Page 3: A violência no campo no brasil: questões e dados para o debate

Os dados sobre a violecircncia no campo nos uacuteltimos 30 anos

Em relaccedilatildeo aos dados gerais sobre os conflitos no campo as informaccedilotildees divulgadas pela

CPT datildeo conta de um crescimento de 15 no nuacutemero total de conflitos no campo em 2011 em

relaccedilatildeo agrave 2010 que passaram de 1186 para 1363 As pessoas envolvidas foram 559401 em 2010

e 600925 em 2011 ou seja um aumento de 74 Estes conflitos compreendem 1035 conflitos por

terra 260 conflitos trabalhistas e 68 conflitos pela aacutegua (CPT 2012)

Os conflitos por terra foram os que apresentaram um crescimento mais expressivo Passaram

de 835 em 2010 para 1035 em 2011 um crescimento de 24 O nuacutemero de famiacutelias envolvidas

cresceu 303 passou de 70387 para 91735 Este crescimento1 se deu em 17 das 27 unidades da

federaccedilatildeo mas foi mais expressivo na regiatildeo Nordeste onde chegou a 341 sendo que de 369

conflitos envolvendo 31952 famiacutelias em 2010 passou para 495 conflitos envolvendo 43794

famiacutelias (CPT 2012)

De acordo com a CPT (2012) nos conflitos por terra incluem-se as ocupaccedilotildees de terra e os

acampamentos agraves margens das rodovias ou nas proximidades de aacutereas que se reivindicam para

desapropriaccedilatildeo As ocupaccedilotildees por famiacutelias sem terra ou a retomada de aacutereas por comunidades

indiacutegenas ou quilombolas apresentaram um crescimento de 111 e passaram de 180 em 2010 para

200 em 2011 Jaacute o nuacutemero de famiacutelias envolvidas apresentou crescimento de 351 chegando a

22783 em 2011 Os acampamentos sofreram uma reduccedilatildeo de 35 para 30 com o nuacutemero de famiacutelias

passando de 3579 para 3210 (reduccedilatildeo de 103)

Em 2013 os movimentos sociais foram responsaacuteveis por 244 conflitos (230 ocupaccedilotildees e 14

acampamentos) 189 do total Isso quer dizer que 811 dos conflitos satildeo provocados pela accedilatildeo

de fazendeiros grileiros madeireiros empresaacuterios ou mineradores ndash Poder Privado - atraveacutes de

assassinatos ou expulsotildees ou pela accedilatildeo do Poder Puacuteblico atraveacutes das accedilotildees do Poder Executivo e

do Judiciaacuterio por meio de prisotildees e accedilotildees de despejo

Chama a atenccedilatildeo nos conflitos por terra o aumento em 757 no nuacutemero de famiacutelias

expulsas que passaram de 1216 em 2010 para 2137 em 2011 Tambeacutem teve crescimento

significativo o nuacutemero de famiacutelias ameaccediladas por pistoleiros com aumento de 504 (de 10274

para 15456) Eacute o poder privado voltando agrave lideranccedila das accedilotildees2 responsaacutevel por 502 das

1 O aumento mais significativo foi no Piauiacute com aumento de 1308 que passou de 13 conflitos em 2010 para 30 em

2011 e o nuacutemero de famiacutelias passou de 611 para 1398(mais 1288) 2 Destaca-se que ateacute 2010 a Justiccedila Federal de Mato Grosso do Sul determinou o confisco de 85 fazendas de pessoas

acusadas de lavar dinheiro proveniente de atividades como o traacutefico de drogas e corrupccedilatildeo Juntas as aacutereas somam 368

mil hectares A partir delas criminosos que movimentam grandes somas de capital ilegal conseguem esconder a origem

do dinheiro sujo em operaccedilotildees fictiacutecias de venda de bois e gratildeos ndash estratagema que a Poliacutecia Federal chama de vaca-

papel e soja-papel Desde entatildeo foram confiscados 33 apartamentos 47 casas 86 terrenos 18 aviotildees e seis barcos aleacutem

de 535 caminhotildees e carros (SAKAMOTO 2008)

ocorrecircncias de conflitos por terra 689 de um total de 1035 Por outro lado a accedilatildeo do poder puacuteblico

nos despejos decresceu 128 foram 8064 famiacutelias despejadas em 2010 e 7033 em 2011

Cabe destacar que ao longo dos 20 anos (1985-2006) analisados no Atlas de Conflitos no

Campo Brasileiro (CPT- LEMTO - GeoAgraacuteria 2013) isto eacute desde a redemocratizaccedilatildeo no Brasil

o periacuteodo entre 2003 e 2006 no primeiro mandato de Lula foi o que registrou o maior nuacutemero de

conflitos de famiacutelias envolvidas e de outros indicadores de violecircncia3 Segundo CPT (2013) nos

uacuteltimos trecircs anos governo Dilma a meacutedia anual supera as meacutedias anuais de todos os periacuteodos

analisados no Atlas exceto o periacuteodo 2003-2006

Em relaccedilatildeo ao trabalho em condiccedilotildees anaacutelogas agrave escravidatildeo uma ligeira queda foi

observada nas denuacutencias de trabalho escravo e super exploraccedilatildeo passando de 230 para 168

Continuam concentradas na regiatildeo Norte as ocorrecircncias com mais de 50 do total e se

consideramos a Amazocircnia Legal somam 67 dos conflitos trabalhistas

Entre os grupos sociais que sofreram accedilotildees violentas se destacam os povos e comunidades

tradicionais desde a segunda metade dos anos 2000 Em 2013 do total de viacutetimas fatais

(assassinatos) 613 pertencem a gruposclasses sociaisetnias caracterizados como populaccedilotildees

tradicionais Estas correspondem a 588 do total das categorias sociais que sofreram accedilotildees

violentas Em todas as macrorregiotildees do paiacutes mais de 50 das categorias sociais envolvidas em

conflitos satildeo populaccedilotildees tradicionais exceto na regiatildeo Sudeste Das populaccedilotildees tradicionais que em

2013 foram viacutetimas de algum tipo de violecircncia 55 se localizavam na Amazocircnia (CPT 2013)

Com referecircncia especiacutefica aos povos indiacutegenas no ano de 2011 foram registrados 46 casos

de homiciacutedios contra os povos indiacutegenas nos seguintes estados Alagoas (1) Cearaacute (1) Goiaacutes (1)

Maranhatildeo (1) Mato Grosso do Sul (19) Paraacute (7) Rio Grande do Sul (11) Roraima (7) e Santa

Catarina (6) Em 2012 ocorreram 54 casos de homiciacutedios cometidos contra os indiacutegenas Na

interpretaccedilatildeo do CIMI (2013) o governo da presidente Dilma tem cedido agraves pressotildees do

agronegoacutecio especialmente da bancada ruralista no Congresso Nacional e pouco tem feito no

tocante agrave regularizaccedilatildeo de terras indiacutegenas As praacuteticas de violecircncia contra os povos indiacutegenas tecircm

aumentado circunstancialmente e satildeo constituiacutedas por invasotildees possessoacuterias a exploraccedilatildeo ilegal de

recursos naturais os danos ambientais bem como a lentidatildeo do poder puacuteblico nos procedimentos de

demarcaccedilatildeo e a paralisaccedilatildeo de processos de retirada de invasores e ocupantes de aacutereas jaacute

homologadas

3 De acordo com CPT (2013) os nuacutemeros elevados deste periacuteodo se devem por um lado agrave iniciativa dos grupos

dominantes com receio que Lula fizesse a Reforma Agraacuteria e por outro pela pressatildeo dos movimentos sociais com

accedilotildees em prol da Reforma Agraacuteria (Ver Porto-Gonccedilalves Conflitos no Campo Brasil 2004) Jaacute no segundo mandato de

Lula (2007-2010) foi estabelecida a priorizaccedilatildeo da poliacutetica de exportaccedilatildeo de commodities por um lado e por outro das

poliacuteticas de transferecircncia de renda (Fome Zero Bolsa Famiacutelia e outras)

Desse modo nos uacuteltimos 10 anos os levantamentos do CIMI mostram que pelo menos 563

indiacutegenas foram assassinados no paiacutes com meacutedia anual de 563 indiacutegenas Como nos anos

anteriores Mato Grosso do Sul se destaca 60 das ocorrecircncias em 2012 e 55 das ocorrecircncias nos

uacuteltimos 10 anos totalizando pelos levantamentos do CIMI 317 indiacutegenas viacutetimas de assassinatos

Ateacute o ano 2013 percebe-se a ratificaccedilatildeo da violecircncia como suporte do padratildeo de

desenvolvimento capitalista no Brasil Destaca-se que por meio da PEC 21500 os setores

econocircmicos ligados ao agronegoacutecio e agraves empresas de capital internacional que controlam o setor

(Monsanto Bayer Basf Syngenta Cargill Bunge e outras) buscam interferir na implementaccedilatildeo de

direitos sociais de titulaccedilatildeo de terras quilombolas e indiacutegenas bem como na criaccedilatildeo de novas

unidades de conservaccedilatildeo ambiental afirmou o CIMI (2013)

Evidencia-se que o modelo agriacutecola e agraacuterio hegemocircnico em constituiccedilatildeo no Brasil que eacute o

praticaacutevel dentro das regras do atual estaacutegio do capitalismo eacute retroalimentado pela crescente

concentraccedilatildeo da terra exploraccedilatildeo de matildeo de obra e da renda no qual provoca o enfrentamento

permanente entre o modelo do agronegoacutecio e outras formas de vida e relaccedilatildeo socioambiental na

produccedilatildeo agriacutecola e extrativista Assim o modelo de desenvolvimento social e econocircmico no Brasil

nos uacuteltimos 30 anos estaacute ocorrendo permeado pela violaccedilatildeo dos direitos humanos especialmente

dos povos indiacutegenas e dos diversos povos e comunidades tradicionais do paiacutes daqueles que optam

em natildeo participar e cooperar ou mesmo resistir com a corrida desvairadardquo desenvolvimentista por

iacutendices como o Gini e o PIB no atual estaacutegio do capitalismo global

Pesquisador

Page 4: A violência no campo no brasil: questões e dados para o debate

ocorrecircncias de conflitos por terra 689 de um total de 1035 Por outro lado a accedilatildeo do poder puacuteblico

nos despejos decresceu 128 foram 8064 famiacutelias despejadas em 2010 e 7033 em 2011

Cabe destacar que ao longo dos 20 anos (1985-2006) analisados no Atlas de Conflitos no

Campo Brasileiro (CPT- LEMTO - GeoAgraacuteria 2013) isto eacute desde a redemocratizaccedilatildeo no Brasil

o periacuteodo entre 2003 e 2006 no primeiro mandato de Lula foi o que registrou o maior nuacutemero de

conflitos de famiacutelias envolvidas e de outros indicadores de violecircncia3 Segundo CPT (2013) nos

uacuteltimos trecircs anos governo Dilma a meacutedia anual supera as meacutedias anuais de todos os periacuteodos

analisados no Atlas exceto o periacuteodo 2003-2006

Em relaccedilatildeo ao trabalho em condiccedilotildees anaacutelogas agrave escravidatildeo uma ligeira queda foi

observada nas denuacutencias de trabalho escravo e super exploraccedilatildeo passando de 230 para 168

Continuam concentradas na regiatildeo Norte as ocorrecircncias com mais de 50 do total e se

consideramos a Amazocircnia Legal somam 67 dos conflitos trabalhistas

Entre os grupos sociais que sofreram accedilotildees violentas se destacam os povos e comunidades

tradicionais desde a segunda metade dos anos 2000 Em 2013 do total de viacutetimas fatais

(assassinatos) 613 pertencem a gruposclasses sociaisetnias caracterizados como populaccedilotildees

tradicionais Estas correspondem a 588 do total das categorias sociais que sofreram accedilotildees

violentas Em todas as macrorregiotildees do paiacutes mais de 50 das categorias sociais envolvidas em

conflitos satildeo populaccedilotildees tradicionais exceto na regiatildeo Sudeste Das populaccedilotildees tradicionais que em

2013 foram viacutetimas de algum tipo de violecircncia 55 se localizavam na Amazocircnia (CPT 2013)

Com referecircncia especiacutefica aos povos indiacutegenas no ano de 2011 foram registrados 46 casos

de homiciacutedios contra os povos indiacutegenas nos seguintes estados Alagoas (1) Cearaacute (1) Goiaacutes (1)

Maranhatildeo (1) Mato Grosso do Sul (19) Paraacute (7) Rio Grande do Sul (11) Roraima (7) e Santa

Catarina (6) Em 2012 ocorreram 54 casos de homiciacutedios cometidos contra os indiacutegenas Na

interpretaccedilatildeo do CIMI (2013) o governo da presidente Dilma tem cedido agraves pressotildees do

agronegoacutecio especialmente da bancada ruralista no Congresso Nacional e pouco tem feito no

tocante agrave regularizaccedilatildeo de terras indiacutegenas As praacuteticas de violecircncia contra os povos indiacutegenas tecircm

aumentado circunstancialmente e satildeo constituiacutedas por invasotildees possessoacuterias a exploraccedilatildeo ilegal de

recursos naturais os danos ambientais bem como a lentidatildeo do poder puacuteblico nos procedimentos de

demarcaccedilatildeo e a paralisaccedilatildeo de processos de retirada de invasores e ocupantes de aacutereas jaacute

homologadas

3 De acordo com CPT (2013) os nuacutemeros elevados deste periacuteodo se devem por um lado agrave iniciativa dos grupos

dominantes com receio que Lula fizesse a Reforma Agraacuteria e por outro pela pressatildeo dos movimentos sociais com

accedilotildees em prol da Reforma Agraacuteria (Ver Porto-Gonccedilalves Conflitos no Campo Brasil 2004) Jaacute no segundo mandato de

Lula (2007-2010) foi estabelecida a priorizaccedilatildeo da poliacutetica de exportaccedilatildeo de commodities por um lado e por outro das

poliacuteticas de transferecircncia de renda (Fome Zero Bolsa Famiacutelia e outras)

Desse modo nos uacuteltimos 10 anos os levantamentos do CIMI mostram que pelo menos 563

indiacutegenas foram assassinados no paiacutes com meacutedia anual de 563 indiacutegenas Como nos anos

anteriores Mato Grosso do Sul se destaca 60 das ocorrecircncias em 2012 e 55 das ocorrecircncias nos

uacuteltimos 10 anos totalizando pelos levantamentos do CIMI 317 indiacutegenas viacutetimas de assassinatos

Ateacute o ano 2013 percebe-se a ratificaccedilatildeo da violecircncia como suporte do padratildeo de

desenvolvimento capitalista no Brasil Destaca-se que por meio da PEC 21500 os setores

econocircmicos ligados ao agronegoacutecio e agraves empresas de capital internacional que controlam o setor

(Monsanto Bayer Basf Syngenta Cargill Bunge e outras) buscam interferir na implementaccedilatildeo de

direitos sociais de titulaccedilatildeo de terras quilombolas e indiacutegenas bem como na criaccedilatildeo de novas

unidades de conservaccedilatildeo ambiental afirmou o CIMI (2013)

Evidencia-se que o modelo agriacutecola e agraacuterio hegemocircnico em constituiccedilatildeo no Brasil que eacute o

praticaacutevel dentro das regras do atual estaacutegio do capitalismo eacute retroalimentado pela crescente

concentraccedilatildeo da terra exploraccedilatildeo de matildeo de obra e da renda no qual provoca o enfrentamento

permanente entre o modelo do agronegoacutecio e outras formas de vida e relaccedilatildeo socioambiental na

produccedilatildeo agriacutecola e extrativista Assim o modelo de desenvolvimento social e econocircmico no Brasil

nos uacuteltimos 30 anos estaacute ocorrendo permeado pela violaccedilatildeo dos direitos humanos especialmente

dos povos indiacutegenas e dos diversos povos e comunidades tradicionais do paiacutes daqueles que optam

em natildeo participar e cooperar ou mesmo resistir com a corrida desvairadardquo desenvolvimentista por

iacutendices como o Gini e o PIB no atual estaacutegio do capitalismo global

Pesquisador

Page 5: A violência no campo no brasil: questões e dados para o debate

Desse modo nos uacuteltimos 10 anos os levantamentos do CIMI mostram que pelo menos 563

indiacutegenas foram assassinados no paiacutes com meacutedia anual de 563 indiacutegenas Como nos anos

anteriores Mato Grosso do Sul se destaca 60 das ocorrecircncias em 2012 e 55 das ocorrecircncias nos

uacuteltimos 10 anos totalizando pelos levantamentos do CIMI 317 indiacutegenas viacutetimas de assassinatos

Ateacute o ano 2013 percebe-se a ratificaccedilatildeo da violecircncia como suporte do padratildeo de

desenvolvimento capitalista no Brasil Destaca-se que por meio da PEC 21500 os setores

econocircmicos ligados ao agronegoacutecio e agraves empresas de capital internacional que controlam o setor

(Monsanto Bayer Basf Syngenta Cargill Bunge e outras) buscam interferir na implementaccedilatildeo de

direitos sociais de titulaccedilatildeo de terras quilombolas e indiacutegenas bem como na criaccedilatildeo de novas

unidades de conservaccedilatildeo ambiental afirmou o CIMI (2013)

Evidencia-se que o modelo agriacutecola e agraacuterio hegemocircnico em constituiccedilatildeo no Brasil que eacute o

praticaacutevel dentro das regras do atual estaacutegio do capitalismo eacute retroalimentado pela crescente

concentraccedilatildeo da terra exploraccedilatildeo de matildeo de obra e da renda no qual provoca o enfrentamento

permanente entre o modelo do agronegoacutecio e outras formas de vida e relaccedilatildeo socioambiental na

produccedilatildeo agriacutecola e extrativista Assim o modelo de desenvolvimento social e econocircmico no Brasil

nos uacuteltimos 30 anos estaacute ocorrendo permeado pela violaccedilatildeo dos direitos humanos especialmente

dos povos indiacutegenas e dos diversos povos e comunidades tradicionais do paiacutes daqueles que optam

em natildeo participar e cooperar ou mesmo resistir com a corrida desvairadardquo desenvolvimentista por

iacutendices como o Gini e o PIB no atual estaacutegio do capitalismo global

Pesquisador