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Externalidades e valor Roberto S. Waack

Conferência Ethos 360°: Roberto Waack

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Material produzido por Roberto Waack para a atividade "Alcoa Oferece: O Jogo das Externalidades e o Valor das Empresas" na Conferência Ethos 360°.

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Externalidades e valorRoberto S. Waack

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Externalidades – o que é isso mesmo?

• Efeitos indiretos, negativos ou positivos, da produção de bens ou serviços, e que são transferidos a indivíduos e ou entidades não envolvidas no processo produtivo. A poluição ambiental é um exemplo de externalidade negativa. CFA Institute

• Custos do business as usual imputado a terceiros. Pavan Sukhdev – Corporation 2020

• Efeitos das atividades de produção e consumo que não se apresentam diretamente no mercado.

• Tudo aquilo que produz algum impacto negativo ou positivo sobre alguém e que não entra no sistema de preços. Ricardo Abramovay – FEA/USP

• Custo socializado, pago por outros. “Significa que, em vez de todo mundo pagar o pato, que pague o pato quem é responsável por ele”. Carlos Eduardo Frickmann Young – UFRJ

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Quantificações – tem de tudo!• O valor de tudo que a natureza oferece sem cobrar ao ser humano, é estimada em US$

124,8 trilhões por ano, o que corresponde, aproximadamente, ao dobro do PIB mundial. Robert Costanza -Australian National University

• A superexploração dos recursos naturais no mundo já causou uma perda nos serviços ambientais de US$ 20,2 trilhões, entre 1997 e 2011. Robert Costanza -Australian National University

• 40% das mortes no mundo são resultantes de fatores ambientais, incluindo efeitos secundários da degradação ambiental e disseminação de enfermidades. CFA

• Poluição ambiental causa perda de 5 anos de vida por pessoa no norte da China. CFA

• .

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Onde estão?

• “Estão embutidas no valor dos imóveis, no valor de aluguéis de áreas como a Zona Sul do Rio. A presença da externalidade deprecia os espaços sociais. Um imóvel localizado próximo a um lixão custará bem menos que outro idêntico, mas localizado longe do lixão. A sociedade, de um jeito ou de outro, já precificou isso”. C. Young

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Quem paga a conta?

• “...eu estabeleço uma cobrança sobre o dano que foi gerado, ou seja, cobro o responsável por isso. O que percebo é que, sob o argumento falacioso de que internalizar a externalidade penaliza o pobre, acabo criando uma justificativa para manutenção do status quo, em que a perda para o mais pobre é mais alta pela externalidade gerada que a eventual perda privada que ele terá, pelo preço mais alto daquilo que vai consumir”. C. Young

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Quem paga a conta?

• A tragédia dos comuns: indivíduos não consideram externalidades em suas atividades. Não consideram que o recurso que retiram da natureza pertence ao conjunto da vizinhança e não só a ele, envolvendo interesses individuais e o bem comum.

• Uma gestão mista, parte pública e parte privada, com regras formais e informais, seria mais a forma mais eficiente de lidar com o problema. O preço internaliza uma parte da externalidade, e a gestão pública impede que a exploração econômica desvinculada dos outros valores não incorporados no preço se legitime. Elinor Ostrom

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Quem paga a conta?• Externalidades ocorrem geralmente quando direitos de propriedade não são claramente

definidos. Quem é dono do recurso tende a gerenciá-lo melhor, pois são diretamente afetados no valor de seu recurso.

• Quando poluidores não são obrigados a compensar a sociedade pela poluição causada, não tem incentivos para reduzir a poluição e produzirão de forma a maximizar seus lucros.

• Na falta de preços de externalidades (compensação para os donos dos recursos), os níveis e formas de produção são usualmente acima do nível ótimo.

• Poluindo, produtores impõem custos à Sociedade, na forma de degradação ambiental, custos com saúde, etc.

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Custos Verdadeiros

• Carta da Terra, (ECO 92): “incluir totalmente os custos ambientais e sociais de bens e serviços no preço de venda” e “adotar estilos de vida que acentuem a qualidade de vida e a subsistência material num mundo finito”.

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Custos Verdadeiros

“The true cost of a burger” • Para o preço de um hambúrguer ser mais realista precisaria embutir os gastos

com tratamentos de obesidade e doenças crônicas provocadas pela carne vermelha, os custos da destinação dos resíduos gerados, o valor da água usada na produção desde a irrigação dos grãos que alimentaram o gado até a produção das embalagens, a perda de biodiversidade com a derrubada de florestas para implantação de pastagens, a contaminação por agrotóxicos etc. • Contando-se apenas as externalidades negativas mais fáceis de calcular, o

preço de um hambúrguer, que nos Estados Unidos está custando em média US$ 4,49, deveria subir entre 68 centavos de dólar e US$ 2,90. Mark Bittman, colunista do jornal The New York Times

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Custos Verdadeiros • Mesmo que dobre de preço, os mais ricos continuarão comendo

hambúrguer e permanecerão ricos. Aos mais pobres, porém, o lanche parecerá mais “indigesto”. A tendência, portanto, é a procura por fast food diminuir, o que, em última análise, pode ser muito bom para a saúde dos ex-consumidores e do planeta. Para recuperar a competitividade, toda a cadeia ligada ao negócio – desde agropecuária, indústrias de alimentação, varejo, fornecedores –, em tese, teria de fazer valer os princípios da sustentabilidade. Sem tantas externalidades negativas, o preço do hambúrguer aos poucos se aproximaria novamente dos US$ 4,49. Se essa lógica funcionar de fato, significa que o sistema econômico, tido como o grande vilão do meio ambiente, é capaz de gerar externalidade positiva por meio da monetização de itens intangíveis.

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Custos Verdadeiros

• “A mudança climática ainda trará prejuízos gigantescos, em dinheiro, sofrimento, perda de vidas. Esse custo se abaterá principalmente sobre as populações pobres do planeta. Aproveitar toda a engrenagem do mercado para enfrentar a mudança climática parece bem mais complicado do que calcular as externalidades negativas não computadas no preço de um hambúrguer”. Sergio Besserman

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Preços Verdadeiros

• “se eu considerar a internalização das externalidades, a estrutura de preços seria diferente... O problema são os preços relativos, os preços de um produto em relação ao outro”. C. Young

• “Quando elevo o preço do combustível, eu penalizo o consumidor do combustível do automóvel – e também quem produz o automóvel. Mas, se essa medida é eficaz para reduzir o uso do transporte que não de massa, eu terei um benefício de ganho de mobilidade. ... o benefício coletivo torna-se superior à perda individual”. C. Young

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Mensuração• “Not all that counts can be counted and not all that can be counted

counts”. Einstein (*)

• A mensuração da externalidade é uma tentativa de estabelecer um grau de relevância dessa perda com outros valores econômicos.

(*) Nem tudo o que importa pode ser medido e nem tudo o que pode ser medido importa.

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Vários níveis de valoração: qualitativa, quantitativa e monetária

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Valores de distintas naturezas:

Valores de uso: direto, indireto, opcionais (futuro)

Valores de não uso: legados futuros, existência (independente do uso), altruístas

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Valoração do Capital Natural (!?)• Se o ar, os rios, os nutrientes da terra e o subsolo são insumos de toda produção e

a condição da vida, então o planeta pode ser encarado como um gigantesco estoque de capital.

• “Podemos pensar na atmosfera como um ativo comum, que seria mantido em trust para a atual geração e as futuras ... Com um trust atmosférico, aqueles que gastam o ativo são cobrados por esse gasto, por exemplo, com impostos sobre o carbono, mas aqueles que melhoram o ativo são pagos, por exemplo, com créditos de carbono.” Robert Costanza, da Australian National University

• “Calculating the economic value is not the same as putting a price tag on nature”. Jutta Kill

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• A falta de propriedade das commodities ambientais é a causa do problema. O modelo de maximização de lucros leva em conta apenas custos diretos, não os indiretos associados a efeitos negativos de poluição de ar e água. Assim, mais produtos e serviços são produzidos do que seriam se poluição fosse controlada ou precificada. CFA

• Tendência? Tributação fundamentada em externalidades. Incentivo para positivas (ex. reciclagem) e punição às negativas (carbon tax).

Valoração do Capital Natural (!?)

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• “the economic invisibility of nature must end” . “Usamos a natureza porque ela tem valor, mas perdemos a natureza porque ela não tem preço. Atualmente ninguem paga pelos serviços ecossistemicos. … Falta um incentive aos que fazem as coisas direito … É preciso criar um Mercado”. Pavan Sukhdev

X• “Se a nossa preocupação é conservar os serviços ecossistemicos, a

valoração é amplamente irrelevante … Valoração não é nem necessária nem suficiente para conservação. Nos conservamos muito do que não valorizamos, e não conservamos o que valorizamos” Geoffrey Heal

Valoração do Capital Natural (!?)

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Financeirização da natureza (?!)

• “If this is your land, where are your stories?… how stories give meaning and value to the places we call home”. Gitskan elder, Canadá

• A “nova economia da natureza” está perigosamente concentrada numa definição estrita de que natureza significa “áreas selvagens sem interferência humana, ricas de biodiversidade”. Jutta Kill

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Precificação

• A precificação já está acontecendo e prejudicando os mais pobres? ... Pergunte a quem gasta 4 a 5 horas por dia no transporte, ou vive próximo a um lixão, ou perto do barulho dos aviões. C. Young

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Monetização

“What is a cynic? A man who knows the price of everything and the value of nothing.” Oscar Wilde

• “Empurrar o mundo natural ainda mais para o fundo do sistema que o está devorando vivo”. George Monbiot

• “Pagamentos muitas vezes legitimam a exploração econômica do recurso”. Guilherme Lichand

• “Não há dados suficientes para a monetização da natureza e, diante da urgência socioambiental, não podemos aguardá-los para só depois agir”. CEBDS

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Transações

• “Não queremos transacionar, vender ou privatizar esses ativos, mas temos de reconhecer seu valor e começar a tomar medidas urgentes para protegê-los e restaurá-los.” Robert Costanza -Australian National University

• “Títulos verdes”, emitidos por empresas como GDF-Suez e Unilever. Em 2013 foram lançados US$ 11 bilhões nesses títulos e, no primeiro semestre de 2014, US$ 18,3 bilhões. Um mercado que tem crescido 60% ao ano. HSBC

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Iniciativas de Valoração e Transação

• Millennium Ecosystem Assessment, Natural Capital accounting, The Economics of Ecosystems and Biodiversity (TEEB) e outros• PES - Payment for Environmental Services – 4 categorias:

I. PES para implementação de politicas públicas voltadas para proteção de áreas naturaisII. Doações privadas e programas governamentais não ligadas a políticas públicas de conservaçãoIII. Pagamentos voluntários para compensação de poluição ou destruição percebidas como

excessivasIV. Pagamentos para permissão para destruir ou poluir acima de limites legais

• Qual a diferença?• Esquemas III e IV são fundamentados no pagamento de permissão para produção de externalidades

negativas• Mudam a forma como as leis tratam de poluição e outras formas de danos ambientais. Passam a ser

permitidas desde que um valor “apropriado” seja pago. Significa que aqueles que podem pagar a conta, podem adquirir o direito de causar externalidades ilegais, transformando o que era certo ou errado em preços. Jutta Kill

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Cap-and-trade

• Permissões transferíveis do direito de poluir. Um preço pelo direito de poluir. • Se o preço for maior que a o custo tecnológico requerido para

eliminar a poluição, a inovação será promovida.

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X ou + ?

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Contabilização

• CEBEDS desenvolve ferramenta, voltada para a tomada de decisão. Métrica que caracteriza passivos ambientais, e os recursos financeiros para remediação de problemas ambientais são expressos nos demonstrativos contábeis. Participação de Petrobras, Basf, Votorantim e Vale

• “O mundo da contabilidade já entende a valoração socioambiental como uma necessidade, mas é preciso padronizar a régua”. Carlos Rossin, PwC Brasil

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REPORTING PLAYERS

IASC International Accounting Standards CommitteeIASB International Accounting Standards Board

International Financial Reporting Standards

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PWC medindo impacto total: limites dos impactos diretos ampliados para a cadeia de valor inteira

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EP&L Puma: Externalidades medidas e valoradas em 4 níveis da cadeia da valor

Exemplo: do gado, origem do couro, e desmatamento, a emissões GHG na distribuição dos produtos finais

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EP&L Puma Impacto por categoria: uso

da terra, GHG, água, resíduos e poluição do ar

Impacto por supridores: matérias primas, impressores, manufatura, logística

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Transparência das externalidades

Taxação (punitiva e incentivada) relacionada a externalidades socioambientais

Marketing responsável

Limitação da alavancagem das empresas

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Empresas causam problemas sociais e ambientais Prosperam às custas da sociedade Visão estreita de criação de valor

Foco em resultados financeiros de curto prazo Ignoram determinantes de sucesso de longo prazo

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INCORPORAÇÃO ESG NO VALOR

Valor EstratégiaOperação

ESGSustentabilidade

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INCORPORAÇÃO ESG NO VALOR

Valor EstratégiaOperação

Materialidade(o que realmente

importa!) Externalidades

TransparenciaReporting

ESGRisco/Benefício

(Sustentabilidade)

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INCORPORAÇÃO ESG NO VALOR

Valor EstratégiaOperação

Externalidades

TransparenciaReport

ESGRisco/Benefício

(Sustentabilidade)

Integrated Report

Balançose

Valuations Produtos e

receitas Custos Riscos

Materialidade(o que realmente

importa!)

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The Pricing of Everything 

The Natural Capital Agenda looks like an answer to

the environmental crisis. But it’s a delusion.

 By George Monbiot, p

ublished on the Guardian’s

website, 24th July 2014

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[email protected]

Monetizing Nature: Taking Precaution on a Slippery Slope

Barbara Unmüßig

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• Quem acha que questões sócio ambientais não são importantes e não tem valor?• Quem acha que quem causa impactos sócio ambientais não precisa pagar

por esses impactos?• Quem acha que a natureza tem valor?• Quem acha que este valor tem que ser quantificado?• Quem acha que este valor deve ser monetizado?• Quem acha que este valor pode que ser negociado?

Se precisa pagar pelos danos e não se pode precificar e negociar, qual a solução? Afetar o valor das organizações?

Pra pensar em público...