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Maria José Mexia Bigotte Chorão

Foral Manuelino de Vila Real - 1515 (v. digital)

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Maria José Mexia Bigotte Chorão

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INTRODUÇÃO

O Foral concedido a Vila Real em 22 de Junho de 1515, do qual o Município de Vila Real comemora os quinhentos anos com o presente estudo e fac-simile, é resultado de uma ampla acção política reformadora empreendida por

D. Manuel I no período entre 1496 e 1520, ano em que deu por concluída a reforma dos forais. Reforma que foi uma das mais importantes acções do seu reinado.Os forais manuelinos foram concedidos com o intuito de regular a vida económica de cada localidade, tendo como principal objetivo a centralização do poder régio. O número de forais emitidos só no ano de 1514 (237), faz entender o alcance que se pretendia com esta reforma. Também a beleza gráfica dos mesmos, principalmente nos seus fólios iniciais e nas suas ricas encadernações, repletas de símbolos referentes ao rei venturoso, guardam na história um momento de autonomia dos municípios. Ao comemorarmos a outorga do Foral Manuelino a Vila Real, assinalamos a importância do percurso histórico do nosso Concelho, cuja circunscrição abrangeria, na época, 160 lugares e aldeias, distribuídos por 24 freguesias. Dar a conhecer a nossa história é perpetuar no tempo uma memória identitária de que todos nos devemos orgulhar, de modo a permitir a cada um de nós traçar o seu caminho de cidadania interventiva. Lembrar este caminho e como chegámos até aqui, impõe-se tarefa cada vez mais significativa, para compreendermos o nosso lugar e o emergir das novas mudanças na sociedade, resultado da globalização, que não podemos deixar serem opositoras dos valores da democracia. As adversidades que agora vivemos não podem diminuir a presença física da nossa história. A paisagem urbana da cidade está marcada por estruturas a que devemos dar novo arrebatamento. Vila Real tem testemunhos patrimoniais seculares dignos de interesse e referências identitárias da comunidade, como a Casa de Mateus, a Sé Catedral, o Pelourinho, etc., não omitindo o rio Corgo que, rasgando a cidade, nos distingue com as suas margens policromadas, que importa estudar, valorizar e dar a conhecer cada dia com maior ênfase. Pretende-se que estas comemorações do quinto centenário da outorga do foral por D. Manuel I a Vila Real, sejam ânimo e energia que nos auxiliem a perspetivar o futuro da nossa terra, afirmando-se como centro vital entre as terras de montanha e a região do Douro. Ambicionamos ainda, que estas comemorações sejam um momento de união, de solidariedade e orgulho, que permitam criar laços afetivos, sentimentos de pertença e de memória coletiva entre os cidadãos e o passado histórico da comunidade a que pertencemos, numa renovada esperança no futuro.

Engº Rui Jorge Cordeiro Gonçalves dos Santos

Presidente da Câmara Municipal de Vila Real

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Desde que D. Dinis dera foral a Vila Real (1293) passaram-se mais de 200 anos até 1507, data

da primeira movimentação - de que temos conhecimento -, destinada a preparar um novo texto.1

O foral anterior, de 1289, estabelece que haveria mil povoadores, cada um com direito a sua courela,

vinha e horta, pela qual pagaria um morabitino e meio, e ficaria obrigado a construir casa. Os juízes

eram eleitos pelo concelho, e os ricos-homens não poderiam permanecer na terra mais do que um

dia. Os moradores não pagavam passagem nem portagem, e um almoxarife arrecadava as rendas do rei.

Em 1293 o mesmo rei volta a dar novo foral, segundo o qual haveria dois tabeliães de nomeação régia,

e, como anteriormente, os moradores do concelho elegiam anualmente os seus juízes, e aí não podia

entrar meirinho, porteiro ou outras justiças de fora. A questão das courelas foi novamente tratada com

minúcia: o número de moradores baixa de 1000 para 500, cada um obrigado a dar 2 morabitinos

anualmente. Tratava-se pois de um concelho do senhorio régio. Nobres – só de passagem.

Porém o regime senhorial tardou cerca de um século, mas chegou a Vila Real cerca de 1424, data

provável da doação da terra e do título de Conde de Vila Real a D. Pedro de Meneses, por D. João I.

Conhecem-se os termos da confirmação dessa doação a favor de seu genro, D. Fernando de Noronha,

que recebe o condado em 7 de Setembro 1434, com todas as rendas, direitos reais e outros quaisquer

que o rei houvesse, excepto as sisas e o serviço novo dos judeus, e com toda a jurisdição cível e crime,

excepto correição e alçada.2

Sabemos que os povos desde o primeiro quartel do século XIII pediram a revisão dos forais, mas

fixemo-nos nas cortes de D. Afonso IV realizadas em Santarém em 1331,3 nas quais alguns concelhos

apresentam um “caderno reivindicativo” que não poupa ninguém. Assim, dizem que alguns moradores

escondiam e se apoderavam dos bens que andavam perdidos, sem darem tempo a que os seus donos

os pudessem recuperar4; os relegueiros agiam de conluio com alguns mercadores, prejudicando a um

tempo o rei e o concelho5; os senhorios - o mosteiro de Santa Cruz e o bispo de Coimbra6 - não

queriam que os lavradores das suas terras pagassem as fintas e sacadas ao concelho. De uma maneira

geral, quase todos se queixavam do mau estado dos forais, da dificuldade em entender o latim em que

1 TT, CC,III,3,25.2 TT, Chancelaria de D. Duarte, Liv. 1, fl. 84.3 Cortes portuguesas. Reinado de D. Afonso IV (1325-1357). Universidade Nova de Lisboa, 1982.4 Ibid, Capítulos Gerais, p.33.5 Ibid, Capítulos Especiais de Lisboa, pp. 78-79.6 Ibid, Capítulos Especiais de Coimbra, p. 61.

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estavam escritos7; das rasuras e falsificações introduzidas pelos senhorios de que resultava agravamento

dos foros; da caducidade dos pesos e medidas – desactualizados uns, e já desconhecidas outras, por

vezes falsificados todos.

A reforma sucessivamente pedida, prometida e adiada começa a ser executada em 14968, a ponto

de em 1500 ter sido assinado o primeiro foral, o de Lisboa. Se é certo que assim o rei atendeu aos

pedidos das populações, convirá perceber as suas razões, que eram bem outras, e que estão claramente

anunciadas no início do foral de Lisboa: na exposição ou narrativa – parte inicial do documento em

que, por assim dizer, se conta a história que lhe deu origem - o rei mostra as suas razões: “...vendo

Nós como o ofício de rei não é outra coisa senão reger bem e governar seus súbditos em justiça e

igualdade, a qual não é somente dar a cada um o que seu for, mas ainda não deixar adquirir, nem levar

nem tomar a ninguém senão o que a cada um direitamente pertence, e visto isso mesmo como o Rei

é obrigado pelo cargo que tem nas coisas em que sabe seus vassalos receberem agravos e sem-razões

os remediar, e os tais males lhes tolher e tirar, posto que pelos danificados requerido não seja (…)”.

Procurar saber exactamente quais eram os reais direitos das populações; dar o seu a seu dono – é afinal a

principal atribuição régia. O processo de preparação do foral contém uma frase que encerra o espírito

da empresa: “e quanto aos reguengos do termo da vila não pareceu necessário bolir com eles porque

nenhuns nunca se agravaram de pagarem mais do contido em forais …” Ou seja: não há queixas de

parte a parte? Fica como está, concluem todos, de acordo.

A população precisa de ser atendida e protegida, e nestes pedidos feitos em cortes o rei lia as

opressões a que lhe competia pôr cobro. Opressões que eram exercidas por senhorios – seculares e

regulares -, seus criados e oficiais régios que cobravam a portagem.

As razões para esta empresa são de natureza diversa, se atendermos ao que dizem os povos e por

outro lado à verdadeira intenção régia. A verdadeira intenção régia, além de garantir o direito dos

súbditos, consistia em travar a eventual prepotência dos senhorios.

O foral é o documento fundador do município, com as suas leis próprias, as regras pelas quais

a população se deve reger, o reconhecimento da sua autonomia face aos outros grupos populacionais.

Com o tempo, foram sendo publicadas leis gerais e as terras, os concelhos, foram sofrendo grandes

alterações – como tudo o que cresce. A especificidade de cada concelho, do ponto de vista da organização

e da justiça, foi-se esbatendo.

A preparação do novo foral consistia em consultar os forais antigos, os tombos e outra

documentação vigente, em recolher informações sobre a forma como eram cobrados os direitos e

exercido o poder até então, auscultadas as populações, ou seja, o concelho e o senhorio. Logo no início

da narrativa dá-se parcialmente conta do historial, dos antecedentes do diploma.

Na sua essência, o foral consta de três matérias: direitos reais, - direitos do rei, direitos do

concelho, do senhorio -, penas por incumprimento, excepções/isenções. Direito real - um ramo do

direito privado -, é o poder directo sobre uma coisa que a lei atribui a uma pessoa. Os direitos reais

são os direitos das coisas (que em latim se diz res, e daí reais e não régios que deriva de rex, rei), e têm a

sua principal expressão nos direitos de portagem ou seja, o tributo a pagar pelas mercadorias entradas

e saídas da terra para vender. Comerciante que viesse de fora tinha que passar com os seus produtos na

entrada obrigatória da terra que nos primeiros tempos da nacionalidade tinha por vezes uma porta na

muralha circundante (como Óbidos, Sortelha e tantas outras) e aí pagar o tributo que por isso se chama 7 A maior parte dos forais são anteriores a D. Dinis, e foi este rei que mandou que todos os documentos públicos fossem escritos em português.8 D. Manuel subiu ao trono em Outubro de 1495.

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portagem. E como se distinguiam os comerciantes? Pela quantidade de produtos que traziam.

Nos direitos reais há que distinguir entre os produtos que os lavradores pagam ao senhorio,

e os direitos reais régios, (direitos das coisas que os lavradores pagam ao rei no caso de haver terras

reguengas, ou seja, que lhe pertençam).

Pagam portagem os seguintes produtos trazidos ou levados para vender: os cereais - trigo,

centeio, cevada, milho painço9, aveia, farinha, cal, sal, vinho, vinagre, linhaça, fruta verde, legumes,

melões, peixe, marisco, mas ficam isentos caso se trate de pequenas quantidades que se destinem a

consumo próprio.

Paga o gado vacum, porco, carneiro, gado miúdo, gado cavalar, muar ou asnal, escravos, panos

de linho, lã (fiados ou em peça), seda e algodão, couros, azeite, mel, sebo, unto, cera, mel, queijos

secos, manteiga salgada, pez, resina, breu, sabão, alcatrão, forros, especiarias, quinquilharias, produtos

de farmácia e drogaria, metais, frutos secos como castanhas e nozes secas, ameixas passadas, amêndoas,

pinhões por britar, avelãs, bolotas, mostarda, lentilhas, e todos os outros legumes secos, cebolas e

alhos, bem como sumagre, telha, tijolo e outra louça de barro ou vidrada do reino e de fora dele, arcas

e utensílios de madeira, esparto, palma ou junco, tabúa ou funcho.

Ficam isentos de portagem o pão cozido, queijadas, biscoito, farelos, ovos, leite e seus derivados

sem sal, prata, vides, canas, carqueja, palha, tojo, vassouras, barro, lenha, erva, produtos para as

armadas, ou de passagem, rendas ou outros bens levados para fora, e outros produtos como os metais.

O critério para avaliar o destino dos bens – isentos ou não de pagamento de portagem – dependia

do facto de se destinarem ou não a venda. A distinção fazia-se atendendo à avaliação da quantidade e da

possibilidade de conservação: produtos em pequena quantidade, o leite e os queijos frescos, isto é, sem

sal, destinavam-se tendencialmente ao abastecimento doméstico, a serem consumidos in loco, quase de

imediato, pois pela sua natureza não suportavam a conservação.

A conservação dos alimentos era pois uma das preocupações permanentes, de todos os tempos, e

isso é muito visível no foral, pois não são esquecidas as taxas do sal e do sumagre, usado como conservante

e condimento (semelhante ao limão) e em tinturaria. O preço dos frutos e legumes secos era superior

aos frescos, particularmente numa época em que havia procura de alimentos de longa conservação para

abastecer as grandes viagens marítimas. A este propósito é interessante que se comercializavam pinhões

e outros frutos secos por britar, ou seja, com casca, que se mantinham comestíveis por mais tempo. A par

destes bens, muitos são os materiais usados na construção e calafetagem dos barcos – resina, pez, breu,

linho, e as fibras de que se faziam cordas e amarras.

O facto de haver bens que pagavam sempre imposto poderá interpretar-se como uma forma de

proteger a produção local: compreende-se que se taxe a importação de tijolo ou legumes numa região

que os produz.

O preço a pagar pelas mercadorias avaliava-se pelo tamanho das cargas, sendo a maior a que era

transportada por um cavalo ou muar, a carga menor por um asno, e o costal a que um homem pode

trazer às costas.

Meios de tracção e transporte – cavalos, mulas, burros, carros, carretas -, materiais de construção

9 Milho painço, ou apenas painço ou milho: o milho que hoje consumimos, maíz, só foi introduzido em Portugal no início do século XVI e vulgarizado no século XVII. Agradeço esta informação ao Prof. Fernando Martins, da UTAD.

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– telha, tijolo -, géneros alimentícios básicos, actividade transformadora - os fornos, e também os

curtumes, que necessitam de água abundante -, e os têxteis, quer se trate de linho, lã, algodão ou seda,

estão presentes no foral, bem como os necessários produtos usados para curtir e tingir.

Muito presentes no foral os moinhos para cereais, fonte de riqueza em todos os tempos, e o

estabelecimento minucioso da forma, data e preceitos vários a que devia obedecer o pagamento

dos foros, e acima de tudo a obrigatoriedade de todos os actos decorrentes da administração deste

património – móvel e imóvel – resultarem de um acordo entre todas as partes envolvidas.

A grande diversidade dos pesos e medidas há muito requeria uma reforma, uma vez que o

incremento da actividade comercial requeria um sistema de simples e geral aplicação, em que a unidade

de contagem tivesse múltiplos e submúltiplos. Essa reforma viria a acontecer em 1499, e os resultados

são já visíveis no foral de Lisboa, de 1500. D. Manuel em 1502 mandou distribuir os novos pesos

pelo país e deu o prazo de 6 meses para a sua aplicação10. Se é verdade que os povos se queixavam da

diversidade e falsificação de pesos e medidas, razão acrescida tinham os moradores de Vila Real, pois na

recolha dos produtos da terra, o que se usava, em 1507, ainda eram os pesos do senhorio, D. Fernando

de Meneses, Marquês de Vila Real.11

Devido à adopção de legislação geral, as características diferenciadoras dos primeiros forais

desapareceram, e assim aos concelhos eles já não diziam muito, mas o concelho era por assim dizer o

representante dos foreiros e moradores e o guardião dos documentos que lhes interessavam, uma vez

que as receitas do concelho, as taxas, dependiam das vereações. No entanto, e no caso de Vila Real, as

rendas dos montados, que pertenciam ao concelho, era o marquês que as arrecadava, o que é motivo

de reclamação.

O foral dado por D. Manuel a Vila Real, hoje muito incompleto, e o respectivo registo da Torre

do Tombo12 foram já publicados e descritos pela Profª Olinda Santana da UTAD13, e não se conhece o

paradeiro do exemplar do senhorio. Como se pode ver pela publicação referida, os dois textos não são

absolutamente coincidentes. Não são nem deveriam ser.

Convém fazer aqui algumas observações de natureza diplomática. Todos os forais contêm no final

a nota de que foram feitos três exemplares – um deles para a câmara, outro para o senhorio dos direitos

e outro para a Torre do Tombo, para em todo o tempo se poder tirar qualquer dúvida que sobre isso

pudesse sobrevir. Os dois primeiros, os originais, são material e textualmente iguais, assinados pelo

escrivão, pelo chanceler-mor e pelo rei, e o da Torre do Tombo é um registo dos mesmos exemplares,

escrito pelo escrivão anónimo, em texto corrido, em códice com mais de duas centenas de páginas de

pergaminho de grande formato. O registo – é de regra - prescinde de todo o formulário (como a

intitulação do rei) e frequentemente incorpora remissões: se um determinado item de um foral é

comum a outro foral que já consta de um dos cinco livros em que tais documentos são lançados, para

poupar tempo, materiais de escrita e trabalho faz-se uma remissão em vez de uma repetição. É o que

acontece no caso presente. Por isso, apesar da falta de fólios do exemplar do Município, foi possível –

pois é sempre possível - refazê-lo na íntegra, à excepção da narratio, ou narrativa, parte do documento

10 LOPES, Luís Seabra, Sistemas legais de medidas de peso e capacidade do Condado Portucalense ao século XVI. PORTUGALIA, Nova Série, Vol. XXIV, 2003.11 D. Fernando de Meneses, 2.º Marquês de Vila Real, nasceu em 1463.12 TT, LN, Forais da Comarca de Trás-os-Montes, fl.47v.13 SANTANA, Olinda, Forais de Vila Real. Vila Real: 1993.

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em que é apresentada a origem, a história do documento, como se disse14. O texto que agora se publica

é pois o resultado da conjugação do que resta do foral pertencente ao Município com o registo da Torre

do Tombo.

Como se disse, chegou até nós o processo para o foral, constituído por um requerimento dos

moradores de Ferreiros, a acta da sessão de Câmara datada de 1507, os depoimentos de membros

da população e a minuta do foral. Em Vila Real, nos Paços da Câmara, em sessão, na presença de

Luís de Boiro e Diogo Homem, respectivamente ouvidor e contador do Marquês de Vila Real, juízes

ordinários, vereadores e muitos outros, com Fernão de Pina, todos concluem que se verificavam certas

alterações desde o último foral - não se levava dízima das sentenças nem da execução delas, cobravam-se

27 reais pela entrada de besta de cabresto, a arrecadação dos frutos e pena de arma seguiam a lei geral,

os montados e maninhos estavam na posse do marquês, e outros pontos sobre os quais a população se

pronunciou. Findos os depoimentos, os doutores Rui Boto, chanceler-mor e o desembargador Rui

da Grã mandam que com base neles, atento em qualquer caso o disposto na lei geral, se fizesse o foral.

Segue-se a minuta, redigida por Fernão de Pina, rubricada pelo chanceler-mor. A minuta remete para

outros forais em que se fixa a lei geral – dos maninhos -, para Regalados15 e daqui para Refóios16. Da

mesma forma o registo enuncia alguns itens e remete-os para os correspondentes relativos a Lamego

- caso da portagem que remete para a da Beira, cujo padrão era Lamego, e da pena de arma e gado do

vento.

A tabuada é exclusiva do original, e o fólio 1 está em falta. O início do texto, ou seja, o nome

e a intitulação do rei, como foi dito, não figura no registo ( nem na minuta, obviamente, por ser

instrumento de trabalho) Segue-se, em itálico, texto atribuído, porque presente em muitos diplomas,

mas apesar de tudo variável. No entanto, o fólio 1 devia incluir pelo menos alguma referência ao foral

de 1289, porque no fólio 2 está escrito “o dito foral de D. Dinis”.

O fólio 1v, em falta, foi transcrito do registo; os fólios 2 e 2v, do original; os fólios 3 a 6v, em

falta, do registo, e os seguintes do original. No entanto, alguns itens no registo não seguem a mesma

ordem do original. Assim, no original, a pena de arma e o gado do vento constam do fólio 2v, e no

registo figuram mais adiante. O que se fez consistiu em seguir obviamente o original, e na sua falta o

registo, mas pela ordem da tabuada. O fólio 2v termina a meio da pena de arma, e o fólio 3 falta. O

registo remete, quanto a este ponto, para Lamego17, no título Sangue, em que o texto é desenvolvido, pois

funciona como exposição de doutrina, abrangendo os direitos de mordomado, portagem e outros a

que chama pessoais, e por extensão fala-se não de pena de arma mas de pena de sangue, mais abrangente.

Ocupa, em Lamego, quase uma coluna e meia, mas além das determinações de carácter geral, especifica

algumas peculiaridades relativas a Lamego, e essas não foram aqui consideradas. Procurou-se ver em

que ponto deste extenso item do registo relativo a Lamego terminava o caso particular e começava o

geral (a aplicar a Vila Real) onde poderia entroncar a frase incompleta do original de Vila Real, e a

proposta apresentada pareceu a mais provável. O número II do apêndice documental inclui o item

completo tal como consta do registo relativo a Lamego.

14 A prática está largamente documentada. A Câmara de Pinhel em 1684 pediu uma certidão do seu foral de 1510, e o texto resultante é muito mais extenso do que aquele que consta do registo, que remete, quanto à portagem (de razoável extensão) para o foral da Guarda, e quando é pedida a certidão, o arquivo régio tem o habitual procedimento racional que consiste em fazer uma reconstituição dos originais a partir dos registos que guarda, uma vez que os originais, emitidos, em princípio, e por definição, não existem nos arquivos. Ver COSTA, Paula Pinto, Os Forais de Pinhel. Pinhel: CM, 2010.15 TT, LN, Forais da Comarca de Entre-Douro-e-Minho, fl 106v.16 TT, LN, Forais da Comarca de Entre-Douro-e-Minho, fl 49v.17 TT, LN, Forais da Comarca da Beira, fl 133v.

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O original contém as determinações sobre o direito de passagem, item que posteriormente

foi eliminado porque esse direito não existia, e realmente não figura na tabuada. É que a passagem faz

parte da portagem, que é a de Lamego, mas a minuta diz “a da Beira em tudo tirando o capítulo da

passagem que não irá nela.”

No próprio texto do Município temos a notícia de que o foral foi muito contestado, de que

voltou à chancelaria, e da correspondência trocada entre o rei, D. Fernando de Meneses, Marquês

de Vila Real, e Fernão de Pina, tudo envolto em clima pesado – Fernão de Pina diz mesmo que o

comportamento do marquês é de homem bruto e não sabedor18-, e torna-se evidente que o foral é um

tabuleiro em que se jogam outras cartas. Para as conhecer temos, por sorte, alguma correspondência

entre o rei e o marquês que nos mostra a tensão entre os dois, por velhos e novos motivos. Não se trata

de simples direitos reais a receber por D. Fernando, mas de contas que o marquês tinha a acertar com

o rei por – entre outras razões - ter devolvido à Casa de Bragança o Condado de Ourém que D. João II

tinha atribuído à Casa de Vila Real depois da execução do 3º Duque de Bragança, em 20 de Junho de

1483. Trata-se de património, mas principalmente de jurisdição, ou seja, de poder, poder de que o rei

não quer abrir mão.

Em carta datada de 151719 o marquês responde indignado ao rei que o chamara à pedra por

ele ter julgado um caso para que supostamente não tinha jurisdição. Ora ele apenas condenara um

homem por ter chamado a outro um nome feio, - pena desprezível para um crime insignificante

para o qual ele achava que tinha mais que jurisdição - e diz que, ainda que culpas tivesse, o que não

acontecia, ainda que culpas tivesse, “seriam coimas de figos para não se perguntarem a um juiz duma

aldeia”. Essa correspondência é elucidativa quanto à teia de forças que se digladiavam ferozmente, se

opunham impiedosamente, sem esquecer o arcebispo de Braga, D. Diogo de Sousa, sem o esquecer

até porque provavelmente é ele que concita maiores queixas. A Casa de Bragança também não escapa,

como era de esperar. É dessa teia de forças que o rei quer defender os habitantes das suas terras e é

nessas circunstâncias que o foral é assinado – em 1515 -, assinado e logo contestado, e suspensa, por

isso mesmo, a sua aprovação em sessão pública. Pelos documentos que nos chegaram, o marquês queria

cobrar muito mais do que o devido; a população queixou-se, ele tentou defender-se, desvalorizando,

negando e dizendo que tudo se devera a um erro do escrivão, que o foral estava rasurado e ele, marquês,

nunca tivera intenção de prejudicar ninguém. O foral volta à chancelaria para verificação com o texto

do registo, e é provavelmente aí que o desencadernam.

Não tinha razão o marquês, mas em abono da verdade é preciso dizer que no referido processo

para o foral está escrita uma verba, em reais, da seguinte forma - CLRbij, (197), as letras encimadas por

um traço horizontal – o que, caso o traço não seja acidental mas multiplicativo (por mil), se lê 197000,

e o C inicial traçado, cortado. Assim, se o traço horizontal for puramente acidental e a inutilização

do C for propositada, lê-se 97. O processo era um instrumento de trabalho, não destinado a ser

consultado pelo público, e o marquês não sendo definitivamente persona grata20, não estaria por dentro,

não teria acesso aos meandros da administração. De qualquer modo, em rigor não se pode negar a

possibilidade de leitura daquela verba como 197000, independentemente de poder ter sido feita uma

correcção posterior e do carácter eventualmente acidental do traço horizontal que encima o conjunto.

Na exposição, não datada21, mas certamente de 1507 pois foi redigida na presença de

18 Apêndice documental, nº III.19 TT, CC, I, 21,18 (1517).20 Por insólito que possa parecer, seria mais apropriado dizer que o rei não era persona grata do marquês.21 Os requerimentos e documentos semelhantes, destinados a obter parecer, não costumam ser datados.

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Fernão de Pina que nesse ano estava em Vila Real, como consta do mesmo processo, os lavradores

apresentam as suas razões concretas e afirmam que são prejudicados porque “todos os oficiais são criados

do marquês e fazem por acrescentarem em seus foros e rendas e nós somos avexados em assim nos irem

contra o nosso foral”. Não era só o marquês a oprimi-los, mas os seus criados. Rui Lopes, almoxarife

do marquês, das terras já aproveitadas que pagavam o oitavo, agora queria o quarto, queria cobrar

mais direitos do que estava estipulado, e levava os direitos dos maninhos, direitos que pertenciam ao

concelho.

O foral voltou pois à chancelaria. Não conhecemos o exemplar do marquês, mas o do Município

apresenta vários vestígios de rasuras – a pele rasurada fica menos macia, menos brilhante, a tinta pega

de forma diferente, menos nítida, e fica a suspeita de que a intervenção foi feita depois de terminado

o texto. Assim, no fólio 2, no que toca ao foro da terra dos dois maravedis, na conta dos 97 reais, que

estiveram na base da contestação, no fólio 2v, relativamente à pena de arma, e no fólio 7, sobre a taxa

da prata lavrada, é notório que se alongou o desenho da letra de forma a preencher o espaço ocupado

pelo texto inicial, entretanto rasurado. É certo que entre o original e o registo não há diferenças

substanciais, de fundo, que, a haver, feriam a autenticidade dos documentos, mas apenas variantes

formais. De facto, como se disse, a pena de arma e o gado do vento, na estrutura do teor diplomático

do original e do registo, não ocupam o mesmo lugar, o que não tem nenhum significado relevante.

Significado relevante deve ser dado à introdução no foral da pena pelo incumprimento do

mesmo, pois ela constitui o móbil do rei: para responder às queixas dos povos, a nova lei identifica as

fontes da opressão – todos os incumpridores, naturalmente, mas particularmente os senhorios e os

oficiais, quer os régios quer os senhoriais. A pena geral era o pagamento ao lesado de 30 vezes a quantia

devida e o degredo; para os senhorios a perda das rendas e da jurisdição; para os oficiais a perda do

ofício. Era dura a pena, era dura a lei, mas era para todos, a lei.

Maria José Mexia Bigotte Chorão

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Critérios de transcrição

A grafia foi completamente actualizada, tendo-se porém mantido algumas formas verbais e outras, caídas em desuso – todolos, mui, grandura, leixar. Apenas nos depoimentos dos lavradores – e dado que o escrivão era o da câmara, provavelmente de lá e não um oficial levado de fora - figuram entre parênteses as formas particulares, como quigerem, que reflecte um traço que, a meu ver, caracteriza a fonética da região. Manteve-se igualmente o género feminino da palavra fim, e introduziu-se acentuação.

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Foral de Vila Real

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Tabuada de Vila Real

Foro da terra dos dois maravedis, gado do vento, tabeliães • • • • • I

Pena de arma, pesos, dízima das sentenças • • • • • • • • •• II

Montados, moinhos, • • • • • • • • • • • • •• • • • III

Reguengos do termo • • • • • • • • • • • • • • • • • IV

Portagem, pão, vinho, cal, sal, • • • • • • • • • • • • •• •

Fruta verde, hortaliça • • • • • • • • • • • • • • • • VI

Linhaça, legumes, pescado • • • • • • • • • • • • • • • •

Declaração das cargas, coiros, coisas de que se não paga portagem • • VII

Gados de montados • • • • • • • • • • • • • • • • • •

Casa movida • • • • • • • • • • • • • • • • • • • •

Novidades dos bens para fora • • • • • • • • • • • • •• •

Gado bestas escravos • • • • • • • • • • • • • • • • •

Panos, lã, linho • • • • • • • • • • • • • • • • • • •

Azeite, mel e outros • • • • • • • • • • • • • • • • • •

Forros, marçarias • • • • • • • • • • • • • • • •• • VIIJ

Metais, ferro • • • • • • • • • • • • • • • • • • • •

Coisas de que se não paga portagem • • • • • • • • • •• • •

Fruta seca • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • •

Legumes secos • • • • • • • • • • • • • • • • •• • •

Cebolas, alhos • • • • • • • • • • • • • • • • • • • •

Casca sumagre • • • • • • • •• • • • • • • • • • • •

Obra de barro • • • • • • • • • • • • • • • • • • • IX

Coisas de pau • • • • • • • • • • • • • • • • • • • •

Coisas de esparto • • • • • • • • • • • • • • • • • • •

Entrada • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • •

Descaminhado por entrada • • • • • • • • • • • • • • • •

Descaminhado por saída • • • •• • • • • • • • • • • • X

Privilegiados da portagem • • • • • • • • • • • • •• • •

Pena do foral • • • • • • • • • • • • • • • • • • • XJ

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Dom Manuel por graça de Deus Rei de Portugal e dos Algarves daquém e dalém mar em África e Senhor de Guiné e da conquista navegação e comércio de Etiópia Arábia Pérsia e da Índia. • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • •

A quantos esta nossa carta de foral dado para sempre a Vila Real virem fazemos saber que por bem das sentenças e determinações gerais e especiais que foram dadas e feitas por nós e com os do nosso conselho e letrados acerca dos forais dos nossos Reinos e dos direitos reais e tributos que se por eles deviam de arrecadar e pagar e assim pelas inquirições e justificações que principalmente mandamos fazer em todos os lugares de nossos Reinos e senhorios • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • •

Posto que na dita vila fossem dados outros forais pelos reis destes reinos, agora e daqui em diante se usará somente do dito foral del rei Dom Dinis e dos outros se não usará, pelo qual foral a dita vila é obrigada de pagar e nós havemos de receber do dito concelho em cada um ano mil maravedis velhos contidos no dito foral de vinte e sete soldos o maravedi e a //fl.2// quarenta e oito reais e meio correntes de seis ceitis o real por cada um deles, os quais logo foram antigamente repartidos por prazimento do senhorio e dos moradores da dita vila, e assim, por bem do dito foral que logo declarou os ditos mil maravedis em quinhentas courelas com todas as coisas a cada uma delas pertencentes para quinhentas casas ou casais ou moradores pagos, foi repartido o dito foro dos mil maravedis, isto é, a dois maravedis por cada morador ou courela das ditas quinhentas, que vem por libras noventa e sete reais, pagos às terças do ano, isto é, aos 15 dias de Janeiro e outros tantos de Maio e Setembro que valem quarenta e oito mil e quinhentos reais.• • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • •• •

(D)a qual taxa e repartição é antigamente feito tombo segundo as terras que cabiam a cada courela, e os oficiais dos direitos reais e do senhorio deles terá o tombo da repartição das ditas courelas, e pelos herdeiros delas arrecadará a paga dos ditos maravedis segundo aquilo que lhe couber pela dita taxação soldo à libra, sem o dito concelho em nome do concelho ago//fl.2v//ra nem em nenhum tempo ser obrigado a compor nenhuma coisa que falecer dos ditos mil maravedis, nem das ditas quinhentas courelas por elas repartidas como dito é, e o senhorio por seus oficiais as arrecadará pelos herdeiros das ditas courelas segundo foram repartidas, até cumprimento dos ditos noventa sete reais e mais não, em que a dita terra for aforada e repartida.• • • • • • • • • • • • • • • • • • • •

O gado do vento é do senhorio, levar se á por nossa ordenação, com declaração que a pessoa a cuja mão for ter o dito gado o vá escrever a dez dias, sob pena de lhes ser demandado de furto. • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • •

• • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • •

Item pagará cada um dos oito tabeliães que há-de haver mil e duzentos reais pelas libras cada um ano. • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • •

• • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • •

A pena de arma se levará por nossa ordenação, isto é, duzentos reais e arma perdida e mais não, e a dita pena levará o alcaide-mor ou o alcaide pequeno ou o meirinho que primeiro as tomar ou demandar segundo a dita ordenação, com //fl.3//22 estas limitações, isto é, quando apunharem espada ou qualquer outra arma sem a tirar, nem os que sem propósito em rixa nova tomarem pau 22 TT, LN, Forais da Comarca da Beira, fl. 134.

foro da terra dos dois maravedis

gado do vento

tabeliães

pena de arma

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ou pedra, posto que fizerem mal, e posto que de propósito as tomem, se não fizerem mal com elas não pagarão, nem pagará moço de 15 anos e daí para baixo, nem mulher de qualquer idade, nem os que castigando sua mulher e filhos e escravos tirarem sangue, nem os que sem arma tirarem sangue com bofetada ou punhada, nem quem em defendimento de seu corpo ou apartar e estremar outros em arruído tirarem armas, posto que com elas tirem sangue, nem escravo de qualquer idade que sem ferro tirar sangue. • • • • • • • • • • • • •

E não se levará direito de açougagem, nem dos fornos, nem dos pesos e medidas, nem das outras coisas contidas no foral, porquanto por tempo imemorial se não usou, nem usará delas, salvo dos pesos por que se pesa sumagre ou outras semelhantes coisas dos quais levam de cada arroba que neles pesam aos homens de fora um real por arroba, e do mais e do menos por este respeito. • • • • • • •

E a dízima das sentenças se não levará na dita vila assim da dada como da execução, visto como na dita vila nunca nenhuma delas se levou, nem é feita menção dela no dito foral nem em nenhuma outra escritura da dita vila, porquanto assim foi determinado por nós geralmente com os do nosso Desembargo em Relação

E nos montados dos gados dos de fora se não fará nenhuma mudança de como sempre se usaram e os concelhos usaram uns com os outros por suas posturas.

E pagam mais à Coroa real foros os moinhos que estão de redor da vila segundo antigamente são concertados e aforados com os oficiais dos ditos direitos reais, e na dita maneira o serão os que novamente os aforarem, segundo os quais aforamentos mandamos que ao diante paguem sem outra inovação nem acrescentamento se mais fazer aos que ora pagam os ditos foros de como sempre pagaram, e aos que estão por fazer segundo as partes se concertarem, e os que ora pagam são estes, ou seja, à ponte de Santa Margarida pelo moinho em uma casa 27 reais, os quais recebe o almoxarife del rei e andam mais com os direitos reais estoutros moinhos no Rio de Machados, ou seja, os que foram de João Pires Capelinhos em fatiota e outros que traz João da Cunha em vidas trinta reais e duas galinhas, e outros de Simão Pimenta vinte reais e duas galinhas, e outros de Fernando Afonso da Folhdela vinte reais e duas galinhas, e no córrego abaixo da vila Gonçalo Afonso, sapateiro, outros vinte e sete reais, e na Ponte de Santa Maria outros de João da Cunha vinte e sete reais, Pedro Álvares da Nóbrega no córrego, vinte reais e uma galinha. • • • • • • • • • • • • • • • • • • • •

E além dos ditos direitos e coisas que assim havemos de haver na dita vila e aro e arrabalde dela como dito é, são ainda na terra e jurisdição da dita vila muitos reguengos de lugares e concelhos e aldeias em que se pagam muitos direitos reais a nós e à Coroa de nossos reinos, segundo declaradamente nos forais particulares é contido que cada um dos ditos lugares tem, segundo os quais queremos e mandamos que se os ditos direitos dos ditos lugares e forais leve como se neles contém, sem nenhuma mudança nem contradição de como nos

pesos

dízima das sentenças

montados

moinhos

reguengos do termo

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ditos forais é declarado, sob as penas contidas no derradeiro capítulo deste foral, assim na paga que das coisas nos forais contida hão-de pagar, como também no tempo e modo da dita paga, porque em nenhuma das ditas coisas não queremos que se faça nenhuma mudança nem inovação contra o dito foral. Com declaração que os almoxarifes mordomos ou rendeiros serão diligentes que vão partir com os foreiros no dia que para isso forem requeridos ou ao outro dia àquelas horas, porque não indo as partes partirão suas novidades com duas testemunhas e leixarão o direito real na eira e no lagar23 ou tendal sem serem a mais obrigados nem incorrerem por isso em alguma pena. • • • • • • • •

E se forem obrigados a levar alguns foros aos celeiros e adegas levá-los-ão ao tempo devido, e não lhos querendo então receber, torná-los-ão para sua casa e não serão obrigados de lhos lá mais levarem se não quiserem, e pagá-los-ão a dinheiro pelo preço que somente valiam ao tempo que lhos não receberão levando-os como dito é. • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • •

E quanto aos maninhos da dita vila e termo declaramos que aquelas terras que foram repartidas as quinhentas courelas no foral contidas não se possam dar de sesmaria nem por maninho, posto que este(ja)m desaproveitadas, pois se delas paga foro em cada um ano a nós, e serão requeridos que as aproveitem e, segundo as leis das sesmarias, se darão então, guardada toda a lei sem mais se acrescentarem mais direitos dos que lhe são taxados pela repartição dos ditos 48500 reais. E esta mesma lei mandamos que se cumpra e guarde inteiramente nas outras semelhantes terras desaproveitadas em quaisquer reguengos do termo da dita vila que sejam anexos ou fossem apropriados a cada um dos reguengos que a nós pagam já foro, e quando alguns maninhos fora destes lugares se houverem de dar, mandamos que se tenha esta regra e maneira, isto é,24 por petição em escrito em câmara aos oficiais dela, declarando na tal petição mui declaradamente onde pedem o tal maninho, e da grandura que o pedem, e com quais confrontações são, para justificação da qual coisa serão citados e chamados em concelho todos os vizinhos e comarcões do tal maninho pedido, para a qual coisa isso mesmo será chamado o mordomo do senhorio dos direitos reais, e quando não for contradito por nenhum dos moradores e vizinhos se darão pelo que se concertarem com o senhorio pelo treslado da petição que primeiro fez, da qual ficará o treslado na câmara da dita vila para se saber quanta parte foi dada e não contradita, salvo se for em cada uma das freguesias em que há direitos de reguengos na dita terra, porque então se não darão os tais maninhos senão aos que pagam já os foros e tributos reais pela dita terra entre os quais serão repartidos os ditos maninhos igualmente, segundo cada um paga do foro, sem mais pagarem outro, salvo se for em reguengo despovoado, porque então será o direito nosso, e o senhorio que de nós tiver os ditos direitos os dará por suas avenças como puder. • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • •

E declaramos que os foros sobreditos de pão e carnes se entregarão até Natal de cada um ano, e até então não serão penhorados nem pagarão penhora nem nenhuns custos, posto que penhorados sejam, porque não entregando e

23 No Registo, logar.24 Na minuta, a nota : aqui o de Regalados. No texto de Regalados remete.se por sua vez para Refóios, onde, na linha 6 do capítulo de maninhos, começa o texto que se segue, desde serão pedidos até como puder.

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pagando até o dito tempo pagá-lo-ão à maior valia, segundo a determinação nossa em tal caso feita.25 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • •

Declaramos primeiramente que a portagem que se houver de pagar na dita cidade há-de ser por homens de fora dela que aí trouxerem coisas de fora a vender ou a comprarem aí e tirarem para fora da dita cidade e termo, a qual portagem se pagará desta maneira, isto é, • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • •

de todo o trigo centeio cevada milho painço aveia e de farinha de cada um deles

e assim de cal ou de vinho ou vinagre e linhaça e de qualquer fruta verde, entrando melões e hortaliça • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • •

e assim de pescado ou marisco • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • •

se pagará por carga maior, isto é, cavalar ou muar de cada uma das ditas coisas um real de seis ceitis o real, e de carga menor que é de asno, meio real, e por costal que um homem pode trazer às costas dois ceitis, e daí para baixo em qualquer quantidade em que se venderem se pagará um ceitil, e outro tanto se pagará quando se tirar para fora. Porém quem das ditas coisas ou de cada uma delas comprar e tirar para fora para seu uso e não para vender coisa que não chegue a meio real de portagem, segundo os sobreditos preços, dessa tal não pagará portagem nem o fará saber • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • •

E posto que mais se não declare adiante neste foral a carga maior nem menor, declaramos que sempre a primeira adição e assento de cada uma das ditas coisas é de besta maior sem mais se declarar, ou seja, pelo preço que nessa //fl.7//primeira será posto se entenda logo sem aí mais declarar que o meio preço dessa carga será de besta menor, e o quarto do dito preço por conseguinte será do dito costal, • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • •

e quando as ditas coisas ou outras vierem ou forem em carros ou carretas pagar--se-á por cada uma delas duas cargas maiores segundo o preço de que forem.

E quando todas as cargas deste se não venderem todas, começando-se a vender pagar-se-á delas soldo à libra segundo venderem, e não do que ficou por vender. • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • •

A qual portagem se não pagará de todo pão cozido, queijadas, biscoito, farelos, nem de ovos, nem de leite, nem de coisa dele que seja sem sal, nem de prata lavrada, nem de vides, nem de canas, nem de carqueja, tojo, palha, vassoiras, nem de pedra, nem de barro, nem de lenha, erva, nem das coisas que se comprarem da vila para o termo nem do termo para a vila, posto que sejam para vender, assim vizinhos como estrangeiros, nem das coisas que se trouxerem ou

25 O gado do vento e a pena de arma, no registo, estão aqui, e remetem para Lamego, bem como a portagem.

portagem

pão

pescado

declaração das cargas

vinho cal sal fruta verde hortaliça linhaça

carros

coisas de que senão paga portagem

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levarem para alguma arma //fl.7v //da nossa ou feita por nosso mandado, nem dos mantimentos que os caminhantes comprarem e levarem para si e para suas bestas. • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • •

Nem dos gados que vierem pastar a alguns lugares passando nem estando, salvo daqueles que aí somente venderem, das quais então pagarão pelas leis e preços deste foral. E declaramos que das ditas coisas de que assim mandamos que se não pague portagem se há-de fazer saber. • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • •

A qual portagem isso mesmo se não pagará de casa movida, assim indo como vindo, nem outro nenhum direito por qualquer nome que o possam chamar, salvo se com a dita casa movida levarem coisas para vender, porque das tais coisas pagarão portagem onde somente as houverem de vender, segundo as quantias neste foral vão declaradas e não doutra maneira. • • • • • • • • • • • • • • • • • • •

E não pagarão a dita portagem os que levarem os frutos de seus bens móveis ou de raiz, ou levarem as rendas e frutos de quaisquer outros bens que trouxerem de arrendamento ou de renda nem das coisas que a algumas pessoas forem dadas em paga-//fl.8//mento de suas tenças casamentos mercês ou mantimentos, posto que as levem para vender. • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • •

E pagar-se-á mais de cada cabeça de gado vacum, assim grande como pequeno, um real, e do porco meio real, e do carneiro e todo o outro gado miúdo dois ceitis. • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • •

E de besta cavalar ou muar dois reais, e da besta asnar um real • • • • • • • • • • •

E do escravo ou escrava, ainda que seja parida, seis reais, e se se forrar dará o dízimo da valia de sua alforria por que se resgatou ou forrou. • • • • • • • • • • •

E pagar-se-á mais de carga maior de todos os panos de lã, linho, seda e algodão de qualquer sorte que sejam, assim delgados como grossos, e assim da carga de lã ou de linho fiados, oito reais. • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • •

E se a lã ou linho forem em cabelo, pagarão quatro reais por carga. • • • • • • • •

E os ditos oito reais se pagará de toda coirama curtida, e assim do calçado e de todas as obras dele, e outro tanto da carga dos coiros vacaris curtidos e por curtir, e por qualquer coiro da dita coirama dois ceitis que se não contar em carga. • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • •

E outros oito reais por carga maior de //fl.8v//azeite, cera, mel, sebo, unto, queijos secos, manteiga salgada, pez, resina, breu, sabão, alcatrão. • • • • • • • •

E outro tanto por peles de coelhos ou cordeiras de qualquer outra pelitaria e forros. • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • •

casa movida

bestas

novidades dos bens para fora

gado

escravos

panos

lã linho

azeite mel e outros

gados de montados

forros

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E da dita maneira de oito reais a carga maior se levará e pagará por todas as marçarias, especiarias, boticarias e assim por todas as suas semelhantes. • • • • •

E outro tanto se pagará por toda carga de aço, estanho e por todos os outros metais e obras de cada um deles de qualquer sorte que sejam. • • • • • • • • • • •

E do ferro em barra ou em maçuco e de qualquer obra dele grossa se pagará quatro reis por carga maior, e se for limada, estanhada, ou envernizada pagará oito reais com os outros dois metais de cima. • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • •

E quem das ditas coisas ou de cada uma delas comprar e levar para seu uso e não para vender não pagará portagem não passando de costal de que se hajam de pagar dois reais de portagem, que há-de ser de duas arrobas e meia levando a carga maior deste foral em dez arrobas, e a menor em cinco, e o costal por este respeito nas //fl.9//ditas duas arrobas e meia. • • • • • • • • • • • • • • • • • • • •

E pagar-se-á mais por carga maior destas outras coisas a três reais por carga maior de toda fruta seca, isto é, castanhas e nozes verdes e secas, e de ameixas passadas, amêndoas, pinhões por britar, avelãs, boletas, mostarda. • • • • • • • •

Lentilhas e de todos os outros legumes secos e das outras cargas a esse respeito, e assim das cebolas secas e alhos, porque os verdes pagarão com a fruta verde um real. • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • •

E a casca e sumagre pagarão os três reais como estoutros de cima. • • • • • • • • •

E por carga maior de qualquer telha ou tegelo e outra obra e louça de barro, ainda que seja vidrada e do reino e de fora dele, se pagarão os ditos três reais.

E outros três reis por carga de todas as arcas e de toda louça e obra de pau lavrada e por lavrar. • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • •

E outro tanto por todas as coisas feitas de esparto, palma ou junco, assim grossas como delgadas, e assim de tabúa ou funcho. • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • •

26

E o direito sobredito que atrás fica //fl.9v//declarado que se haja de pagar de compra e venda se pagará por todas as pessoas não privilegiadas de passagem26 das ditas coisas, sem nenhuma diferença. • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • •

E os que trouxerem mercadorias para vender, se no próprio lugar onde quiserem vender houver rendeiro da portagem ou oficial dela, far-lho-ão saber ou as levarão à praça ou açougue da dita vila, ou nos rossios e saídas dela qual mais quiserem, sem nenhuma pena, e se aí não houver rendeiro nem praça descarregarão livremente onde quiserem sem nenhuma pena, contanto que não vendam sem o notificar ao requeredor se o aí houver, ou ao juiz ou vintaneiro

26 No texto. Porém foi riscado e não figura na tabuada. A isenção de passagem figurava já no primeiro foral de D. Dinis.

entrada

coisas de que se não paga portagem

fruta seca

casca sumagre

legumes secoscebolas e alhos

obra de barro

coisas de pau

coisas de esparto

passagem

marçarias

metais

ferro

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se aí se puder achar, e se aí nenhuns deles houver nem se puder então achar, notifiquem-no a duas testemunhas ou a uma se aí mais não houver, e a cada um deles pagarão o dito direito da portagem que por este foral mandamos pagar, sem nenhuma mais cautela nem pena. • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • •

E não o fazendo assim descaminharão e perderão as mercadorias somen-//fl.10//te de que assim não pagarem o dito direito da portagem e não outras nenhumas, nem as bestas nem carros nem as outras coisas em que as levarem ou acharem, e posto que não haja rendeiro no tal lugar ou praça, se chegarem porém depois de sol-posto não farão saber, mas descarregarão onde quiserem, contanto que ao outro dia ante que partam ou vendam o notifiquem aos oficiais da dita portagem sob a dita pena de descaminhado, e posto que não vendam pagarão da dita passagem como se comprassem ou vendessem, como atrás se contém, por ser assim imposto pelo dito foral e costumado. • • • • • • • • • • • • • • • • • • • •

E os que comprarem coisas para tirar para fora de que se deva de pagar portagem podê-la-ão comprar livremente sem nenhuma obrigação nem diligência, e somente antes que as tirem para fora da tal vila e termo arrecadarão com os oficiais a que pertencer sob a dita pena de descaminhado. • • • • • • • • • • • • •

E os privilegiados da dita portagem, posto que a não hajam de pagar, não serão escusos destas diligências destes dois capítulos atrás das entradas e saídas //fl.10v //como dito é sob a dita pena. • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • •

As pessoas eclesiásticas de todos os mosteiros, assim de homens como de mulheres que fazem voto de profissão, e os clérigos de ordens sacras, e assim os beneficiados das ordens menores, posto que as não tenham, que vivem como clérigos e por tais forem havidos, todos os sobreditos são isentos e privilegiados de pagarem nenhuma portagem, usagem nem costumagem por qualquer nome que a possam chamar, assim das coisas que venderem de seus bens e benefícios como das que comprarem trouxerem ou levarem para seus usos ou de seus benefícios e casas e familiares de qualquer qualidade que sejam. E assim o serão as ditas vilas e lugares de nossos reinos que têm privilégio de não pagarem, isto é, a cidade de Lisboa, Gaia do Porto, Póvoa de Varzim, Guimarães, Braga, Barcelos, Prado, Ponte de Lima, Viana de Lima, Caminha, Vila Nova de Cerveira, Valença, Monção, Castro Laboreiro, Miranda, Bragança, Freixo, o Azinhoso, Mogadouro, Ansiães,//fl.11//Chaves, Monforte de Rio Livre, Montalegre, Castro Vicente, a cidade da Guarda, Jarmelo, Pinhel, Castelo Rodrigo, Almeida, Castelo Mendo, Vilar Maior, Sabugal, Sortelha, Covilhã, Monsanto, Portalegre, Marvão, Arronches, Campo Maior, Fronteira, Monforte, Vila Viçosa, Elvas, Olivença, a cidade de Évora, Montemor-o- -Novo, Monsaraz, Beja, Moura, Noudar, Almodôvar, Odemira, e assim serão privilegiados quaisquer pessoas outras ou lugares que nossos privilégios tiverem e os mostrarem ou o treslado deles em pública forma, além dos acima contidos.

E assim o serão os vizinhos do dito lugar e termo escusos da dita portagem na mesma vila, nem serão obrigados a fazerem saber de ida nem vinda • • • • • •

descaminhado por saída

privilegiados daportagem

descaminhadopor entrada

saída

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E as pessoas dos ditos lugares privilegiados não tirarão mais o treslado de seu privilégio nem o trarão, somente trarão certidão feita pelo escrivão da câmara e com o selo do concelho como são vizinhos daquele lugar, e posto que haja dúvida nas ditas certidões se são verdadeiras //fl.11v //ou daqueles que as apresentam poder-lhes-ão sobre isso dar juramento sem os mais deterem, posto que se diga que não são verdadeiras, e se depois se provar que eram falsas perderá o escrivão que a fez o ofício e será degredado dois anos para Ceuta, e a parte perderá em dobro as coisas de que assim enganou e sonegou à portagem, metade para a nossa câmara e a outra metade para a dita portagem, dos quais privilégios usarão as pessoas neles contidas pelas ditas certidões, posto que não vão com suas mercadorias nem mandem suas procurações, contanto que aquelas pessoas que as levarem jurem que a dita certidão é verdadeira, e que as tais mercadorias são daqueles cuja é a certidão que apresentaram. • • • • • • • •

E qualquer pessoa que for contra este nosso foral levando mais direitos dos aqui nomeados, ou levando destes maiores quantias das aqui declaradas, o havemos por degredado por um ano fora da vila e termo, e mais pague da cadeia trinta reais por um de tudo o que assim mais levar //fl.12//para a parte a que os levou, e se a não quiser levar seja metade para quem o acusar e a outra metade para os Cativos, e damos poder a qualquer justiça onde acontecer, assim juízes como vintaneiros ou quadrilheiros, que sem mais processo nem ordem de juízo, sumariamente sabida a verdade, condenem os culpados no dito caso de degredo e assim do dinheiro até quantia de dois mil reais sem apelação nem agravo, e sem disso poder conhecer almoxarife nem contador nem outro oficial nosso nem de nossa fazenda em caso que o aí haja, e se o senhorio dos ditos direitos o dito foral quebrantar por si ou por outrem, seja logo suspenso deles e da jurisdição do dito lugar, se a tiver, enquanto nossa mercê for, e mais as pessoas que em seu nome ou por ele o fizerem incorrerão nas ditas penas, e os almoxarifes, escrivães e oficiais dos ditos direitos que o assim não cumprirem perderão logo os ditos ofícios e não haverão mais outros, e portanto mandamos que todas as coisas contidas neste foral que nós pomos//fl.12v//por lei se cumpram para sempre, do teor do qual mandámos fazer três, um deles para a câmara de Vila Real, e outro para o senhorio dos ditos direitos e outro para a nossa Torre do Tombo para em todo o tempo se poder tirar qualquer dúvida que sobre isso possa sobrevir. Dada em a nossa mui nobre e sempre leal cidade de Lisboa a 22 dias de Junho do ano do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de 1515 anos.(Autógrafo:) Vai escrito em doze folhas com esta concertado por mim Fernão de Pina. • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • •

El Rei Foral para Vila Real Rodericus (Rui Boto)27

//fl13//(Da mão de Fernão de Pina:) Registado no tombo. Fernão de Pina.

27 Seguem-se vários textos, escritos em anos diferentes e sem respeitarem a sequência cronológica. Como ela (a sequência cronológica) é importante para se compreender o desenrolar dos factos, publicam-se obedecendo a essa mesma sequência, que se percebe mesmo no caso do texto não datado.

pena do foral

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Verba da carta del rei nosso senhor

Da dúvida do foral de Vila Real que nos escrevestes, nós escrevemos a Fernão de Pina, e ele Nos respondeu que pelo conto das herdades e o que de cada uma se havia de pagar se faria a justa conta disso se no foral se achava algum respançado, e que no registo do dito foral, que se acharia em sua pousada nesta cidade, se acharia o que era, o qual mandamos ver e achamos por ele que hão-de ser quinhentas courelas e por elas mil maravedis velhos - a saber - dois maravedis por cada morador ou courela das quinhentas que vão por libras noventa e sete reais- e a este respeito se faça a conta do que em todas monta- e na dita quantia se guarde se não achardes nela (duvida?).//fl.13v// E visto o dito foral e verba da carta de Sua Alteza pelo dito assistente e desembargadores mandaram a mim Vasco Serrão, contador, que aí perante eles fizesse conta do que se montavam nas quinhentas courelas a noventa e sete reais por courela, a qual conta eu fiz perante o dito regedor e desembargadores, e por eles e por mim foi achado que nas ditas quinhentas courelas se montavam quarenta e oito mil e quinhentos reais, e feita assim a dita conta o dito regedor e desembargadores mandaram em este foral (juntar?) onde estavam postos noventa e sete mil reis e mandaram pôr (assim ?) por fora pela margem quarenta e oito mil e quinhentos reais, que é a soma verdadeira que as ditas quinhentas courelas devem pagar, e mandaram que em tudo se cumprisse inteiramente assim como o dito senhor manda, e disto tudo mandaram a mim Vasco Serrão no dito foral fazer este auto e declaração, e mandaram que Geraldo Ribeiro, escrivão que outrossim presente a isto estava, que comigo concertou a dita verba da carta de Sua Alteza, assinasse comigo este auto.

(assinado:) G. Ribeiro — Vasco Serrão//fl.14//

Aos 3 dias do mes de Fevereiro de 1517 anos em esta nobre vila e marquesado de Vila Real do marquês etc. nosso senhor, nas casas de Domingos Barbosa, meirinho do dito senhor onde ora pousa o Licenciado Fernão da Fonseca, corregedor com alçada por el Rei nosso senhor, estando ele presente como corregedor nestas comarcas de Trás-os-Montes, estando ele presente e assim estando aí juntos os honrados João de Estrada, cavaleiro fidalgo da casa do senhor marquês nosso senhor, e assim Martim Dá Mesquita, escudeiro fidalgo outro escudeiro fidalgo da casa do dito senhor marquês e juízes ordinários em a dita vila por sua Senhoria, e assim o bacharel João Lopes e Garcia Fernandes, escudeiro da casa do dito senhor marquês, vereadores o presente ano, e assim Baltasar Fernandes, outrossim escudeiro da casa do dito senhor marquês e procurador do concelho, pelo dito corregedor foi apresentado e mostrado o foral novo que ora com outros geralmente se fez por mandado del Rei nosso senhor — a saber — o que se deu e fez para esta vila o qual vinha escrito em pergaminho e assinado por Sua//fl.14v//Alteza, encadernado em tábua e coberturas de pele vermelha com as quinas e armas de Sua Alteza, com selo de chumbo posto e pendurado em fitas vermelhas e brancas de retrós como se atrás contém, o qual foral disse o dito corregedor que era o da dita vila. E logo o dito corregedor mandou receber dos custos que disse que se com ele fizeram que vinha pagar a dita vila novecentos e setenta e seis reis de custos que logo se aí pagaram perante mim escrivão, e disse o dito corregedor que tinha de fora

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do dito foral regimento del Rei nosso senhor da maneira que se havia de ter e usar dos ditos forais e que ficara por esquecimento em poder do escrivão da chancelaria, e que o mandaria logo em pública-forma — a saber — para o senhor marquês etc. nosso senhor e outro para a dita vila, e que o mandaria tanto que fosse onde estava a casa da correição. E os ditos oficiais da dita vila pelo senhor marquês disseram que enquanto não viam o regimento de Sua Alteza da maneira que haviam de ter no guardar e ter e cumprir o dito foral ou dizer de sua justiça assim pelo que tocava e pertencia ao serviço do dito senhor marquês, nosso senhor, como ao direito do povo não podiam dar reposta em caso que obedeciam ao mandado de Sua Alteza a quem beijavam as mãos por verem seu assinado e todavia se reportavam ao regimento de Sua Alteza //fl.15//e tanto que o vissem dariam sua reposta mais perfeitamente, e contudo o dito corregedor mandou receber os ditos novecentos e setenta e seis reis. Testemunhas Gonçalo Lobo cavaleiro fidalgo da casa do dito senhor marquês e seu secretário de sua senhoria, e o dito Martim Dá Mesquita e Diogo Barbosa, meirinho de sua senhoria, e Martim Ribeiro Pedro de Monforte e Galisteu de Seixas, escrivães dante o dito corregedor, e eu Diogo Vilela escrivão da Câmara que isto escrevi.

//fl.15v// Ano do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de 1520 anos aos 30 dias de Outubro na vila de Vila Real onde ora está alçada que o dito senhor pelo Reino tem enviada por o Doutor Estêvão Dias do desembargo do dito senhor e seu desembargador na dita alçada, foi mandado a Martim Dá Mesquita, juiz da dita, que porquanto a ele se iam queixar muitas pessoas da dita vila que lhes não fora publicado o dito foral, lhe mandava que comigo escrivão o publicássemos e lêssemos todo ao povo, e que ele o mandasse chamar e que, publicado, eu escrivão assentasse esta publicação, em cumprimento do qual mandado o dito juiz, comigo, escrivão, fomos ao tavolado da dita vila, e por ser dia de feira e o povo ser junto, o dito juiz mandou deitar pregões pela vila que quem o quise[sse] ir ver o publicar do dito foral //fl.16//que fosse a tavolado e que ali o haviam de publicar, e logo o povo junto o dito juiz comigo escrivão ao pé da cruz que no dito tavolado está, nos assentámos e ali foi lido e publicado o foral atrás escrito todo de verbo a verbo, por Álvaro Pires, tabelião da dita vila e escrivão da Câmara, em presença da mor parte do povo, e por assim passar, pus aqui esta publicação e assinei e escrevi. Testemunhas Rui Dias tabelião da dita vila e Francisco Carneiro escrivão ante o ouvidor. Giraldo Ribeiro o escrevi.

(assinado:) Giraldo Ribeiro

(De outra mão): E esta publicação escrevi eu, Giraldo Ribeiro, neste foral depois do auto feito que Sua Alteza mandou fazer, e por assim ser a verdade pus este termo aqui. Giraldo Ribeiro o escrevi.

Visto em correição. 1829 S(…)Visto em correição de 1805 (rubrica ilegível)Visto em correição de 1829Visto (…) Vas …Vas …//fl.16v//

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Visto em correição de 1833 28

(Da mão de Fernão de Pina:) Valem os custos-------976 reais

Este foral de Vila Real que é o que foi dado à câmara da vila, foi vindo à corte por mandado del Rei, nosso senhor, com outro tal do senhor marquês, por algumas dúvidas de respançados que se acharam em alguns deles, os quais sua alteza por si viu e justificou com o tombo verdadeiro que cá ficou do dito foral e de todolos do Reino, por onde se declarou onde dizia noventa e sete mil reais dever de dizer como diz noventa sete reais somente, e por lembrança desta verdade fiz aqui esta salva que corregi os ditos forais por mandado do dito Senhor, em Lisboa a doze de Março de mil quinhentos e vinte e um.

A qual justificação se fez em presença e por consentimento do senhor marquês, que diz que nunca quisera levar os noventa sete mil reis por lhe parecer erro de escrivão, somente os ditos mil maravedis pelas quinhentas courelas, que são quarenta oito mil e quinhentos reis.

Fernão de Pina29

28 Seguem outras correições, que mal se leêm, aparentemente datadas entre 1778 e 1792.29 Arquivo Municipal de Vila Real. Foral de Vila Real.

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APÊNDICE DOCUMENTAL

I Processo para o foral Senhor

Os moradores de Ferreiros termo de Vila Real fazemos saber a vossa mercê que no foral que nós outros temos se contém que nó, os ditos moradores, paguemos ao senhor marquês ou a seus feitores certo foro, ou seja, por dia de Maio cinco carneiros, e estes carneiros que sejam de um ano, e mais lhe havemos de dar de pão onze moios, isto é, meio moio de centeio e meio moio de milho, e assim lhe havemos de fazer esta paga de pão por Nossa Senhora de Agosto. Mais somos obrigados a pagar onze moios de vinho na bica do lagar e mais duzentos e dezasseis maravedis, e a paga do vinho há-de fazer por dia de S. Miguel e o dinheiro por dia de S. Martinho. Mais se contém em nosso foral que esta paga de pão que se faça em dia de Nossa Senhora de Agosto, e que nós os assentemos e apresentemos a seus feitores e se eles o não quiserem (quigerem) receber que não sejamos por aquele (aquelhe) ano obrigados a lhe pagar o dito foro de pão, pelo qual eles, não obstante o assim conteúdo em nosso foral, nos compelem que onde havemos de pagar os carneiros em dia de Maio que lhos paguemos em dia de Natal, e lhes paguemos por cada carneiro oitenta reais onde somos obrigados a pagar carneiros ecificadamente e mais premem30 o tempo da paga, e assim não querem tomar o pão nem vinho no tempo estatuído em nosso foral, e despois 31demandam-nos pelos foros à mor (maior) valia e isto, senhor, fazem estes feitores do senhor marquês por nos avexarem, e porque todos os oficiais são criados do marquês e fazem por acrescentarem em seus foros e rendas, e nós somos avexados e em assim nos irem contra o nosso foral, pedimos a vossa mercê que nos proveja com justiça e que não consinta que eles feitores do Senhor Marquês nos quebrem o conteúdo em nosso foral, mas antes por vosso especial mandado lhes mandeis que recebam seus foros assim como se contém em o dito foral, e nisto nos fará mercê e justiça.

[Da letra de Fernão de Pina:]

Destes agravos se fez libelo contra os oficiais do marquês que são os reguengueiros do termo e os que daí fizeram estes requerimentos foram os escudeiros e oficiais de Vila Real que eram os próprios agravadores e portanto …”

Aos 27 dias do mês de Maio de 1507 em Vila Real na Casa do Concelho onde se fazem as câmaras, estado aí juntos e chamados o bacharel Luís de , ouvidor do Senhor Marquês e Gonçalo Taveira e Afonso Botelho, juízes ordinários, e Gonçalo Pinto, vereador, e Rui Cão, procurador por Martim Afonso, procurador do concelho, e assim estado aí Diogo Homem contador do dito Senhor Marquês e Fernão Mora, João de Estrada e Francisco de Barros e Diogo Dá Mesquita e Pero Dá Mesquita Vasco Carneiro e Martim Teixeira Gonçalo Pinto, Fernando de Pro(…), Jorge da Fonseca e Simão Pimenta e Diogo Barbosa e João Jácome, tabelião, escudeiros e Afonso Pires dos Chãos, Martim Afonso Botelho, Pero Gonçalves, Diogo Vasconcelos e o bacharel João Lopes, todos moradores e vizinhos da dita vila, aos quais foi por Fernão de Pina, cavaleiro da Casa del Rei nosso senhor apresentado o alvará de Sua Alteza atrás escrito e dado juramento etc. aos quais foram mostrados dois forais que antigamente foram dados à dita vila por el Rei Dom Dinis.

E quanto ao primeiro foral da era de 132732 disseram que não estavam em posse nem se costumava, porquanto pelo segundo foral dado pelo dito Rei de 133133 usavam agora, ou

30 Do verbo premer, ou primir.31 Consideramos a forma despois uma vez que ainda hoje se usa na linguagem popular. 32 Ano de 1289.33 Ano de 1293.

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seja, pagarem por ele os moradores da dita vila os 1000 maravedis no dito foral por 500 povoadores a que foi dado, contando a cada um 2 maravedis velhos, pelos quais pagam pelas libras 97 reais.

E disseram que esses maravedis foram antigamente repartidos por consentimento do rei e prazimento deles por 500 courelas e pertenças e a cada uma delas 2 maravedis para cumprimento dos ditos 1000 maravedis do foral e o senhorio o recada em cada um ano pelos herdeiros das ditas 500 courelas sem o concelho ser obrigado a refazer o que falecer das ditas courelas, as quais estão escritas e repartidas nos livros dos oficiais do dito Senhor Marquês, os quais pelos ditos livros os recada pelas pessoas que a elas são obrigados, e quando alguma coisa falecer para cumprimento dos 2000 maravedis o concelho em geral nem em particular não é a isso obrigado.

Item perguntados se (sic) por outros direitos disseram que da terra não se pagava nenhum outro foro nem tributo a el Rei.

E pagava-se portagem e passagem segundo forma do dito foral tanto das cargas que passam como das que se vendem e compram.

E disseram que levam de besta em cabresto, isto é, nova, 27 reais por costume antigo sem foral

E perguntados pela açougagem e foros e medidas dos pesos e de todas as outras coisas contidas no foral disseram que não estavam em costume de pagar nenhuma coisa, salvo que os pesos são do senhorio e levam-nos de fora e vêm pesar sumagre ou outra coisa que se pesa de cada arroba levam 1 real, e por este respeito do mais ao menos.

E somente tem o senhorio nestes rios de arredor da vila estas moendas que se seguem (seguem-se 5 linhas da mão de Fernão de Pina):

segundo vão na folha seguinte por mim. Os montados e maninhos irão pelas leis del Rei segundo em todos se faz e assim as leis do partir as novidades e do receber dos frutos secundum legem.” (…)34

Gonçalo Eanes de Vila Seca 10 anos que casou e que soíam de pagar das terras aproveitadas de oito, um, e que Rui Lopes, almoxarife do senhor marquês, as tirou de quarto às terras já aproveitadas, e os que rompem agora terra nova pagam de dez um.

Perguntado se era reguengo, disse que não.

Leixei provisão ao procurador do povo que por minha ementa ou minuta de perguntas que lhe leixei perguntasse todas as pessoas pessoalmente que pagam estes maninhos, e o auto que disso se fizer me mandará Diogo Homem e o outro procurador.

E das moendas ao menos nas por fazer não parece que têm direito pelo foral derradeiro que mostram pelo qual agora pagam contra o qual diz Diogo Homem que tem outra provisão dos reis antigos por que renunciaram, o qual visto se poderá bem tudo declarar.

E quanto aos reguengos do termo da vila não pareceu necessário bolir com eles, porque nenhuns nunca se agravaram de pagar mais do contido em forais que todos têm particularmente, e o foral não faz deles menção e portanto far-se-á deles remissão na fim do foral como no Algarve e Santarém com reportar-se aos tombos que disso há.

E se se mandarem justificar faça-se por mandado del Rei com os oficiais do marquês e com os tombos velhos (?)

(De outra mão:)

34 Segue-se a relação dos moinhos, que se omite por constar do foral.

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Item perguntados pela pena de arma disseram que se levava pela ordenação e a levava o alcaide-mor ou pequeno ou meirinho quem primeiro a demanda.

São oito testemunhas paga cada um 1200 reais por 666 reais por libras

Item o gado do vento quando o aí há o leva o senhorio da terra

Item disseram que os maninhos não eram do concelho e que estava o senhor marquês em posse de os levar, e porque esta coisa era prejudicial, lhes requereu aos oficiais do senhor marquês que lhes trouxessem as pessoas que os pagavam e vieram presentes a isso.

O auto se há-de fazer segundo leixei a Pedro Álvares da Nóbrega ut retro dixi. (À margem:) adiante vai por mim.

Não se leva dízima das sentenças nem da dada nem execução.

E disseram todos que além dos direitos e coisas atrás contidas que se na dita vila pagam são ainda da coroa real, e por conseguinte do senhor marquês, no termo da dita vila estes reguengos que se seguem, com aclaração do que cada um paga segundo se neles contém (da mão de Fernão de Pina:) tem foro cerrado não se agrava ninguém.

E disseram que se não pagava na dita vila nem termo outros nenhuns direitos reais e por elo assinaram aqui comigo, Diogo Vilela, escrivão da câmara que isto escrevi.

Luís de Boiro, Diogo Homem, Afonso Botelho, Gonçalo Pinto, Gonçalo Taveira, Martim Afonso, Rui Cão, Jorge da Fonseca, Simão Pimenta, Afonso Botelho, Fernão Mora, João de Estrada, Francisco de Barros, Diogo Dá Mesquita, Pero Dá Mesquita, Vasco Carneiro, Martim Teixeira, Gonçalo Pinto, Fernando de Pro(…), Diogo Barbosa, Afonso Pires dos Chãos Martim, Pero Gonçalves, Diogo Vasconcelos, João Lopes, João Jácome35

(Da mão de Rui da Grã:)

Faça-se o foral segundo esta diligência, vindo a diligência que se há-de fazer acerca dos maninhos, a qual nos será mostrada e paga se fará dos carneiros e vinho, segundo é contido em os forais.

(Assinado:) Rui Boto Rui da Grã.

(Da mão de Fernão de Pina:) Pelas leis gerais das sesmarias se pode provar as dúvidas dos maninhos e bem os justificativos melhor que pela inquirição que o povo não pode bem fazer (?) aprobatum fuit per patres.36

IICapítulo relatvo à pena de sangue no foral de Lamego.

À margem: sangue

E quanto aos outros direitos do mordomado, portagem etc. que se chamam pessoais declaramos primeiramente que da pena de sangue se leve somente de morte de homem 900 reais ou de quem forçar ou tomar mulher casada por força e de sangue somente de sobrolho se levará a metade, isto é, 450 reais. E os que morarem na cerca de cima pagarão somente das penas dos 900 reais, 150 reais. E de sangue de sobrolhos 75 reais. E pagar-se-á mais por direitos de alcaidaria de quem quer que tirar arma para fazer mal com ela 200 reais e as armas perdidas, com declaração que as pessoas que pagarem os 900 reais acima declarados da dita morte e sangue não pagarão a

35 Existem outras rubricas, não legíveis nem sequer delimitáveis, pelo que podem ser mais 2 ou 4.36 TT, CC/III/3/25. Segue-se a minuta propriamente dita, que à excepção das primeiras linhas, foi transcrita ipsis verbis para o foral, com as alterações já referidas.

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dita pena de 200 reais e perderão somente as armas para o alcaide, e cada uma das ditas penas se não levarão, com37 estas limitações, isto é, quando apunharem espada ou qualquer outra arma sem a tirar, nem os que sem propósito em rixa nova tomarem pau ou pedra, posto que fizerem mal, e posto que de propósito as tomem, se não fizerem mal com elas não pagarão, nem pagará moço de 15 anos e daí para baixo, nem mulher de qualquer idade, nem os que castigando sua mulher e filhos e escravos tirarem sangue, nem os que sem arma tirarem sangue com bofetada ou punhada, nem quem em defendimento de seu corpo ou apartar e estremar outros em arruído tirarem armas, posto que com elas tirem sangue, nem escravo de qualquer idade que sem ferro tirar sangue38.

III

Senhor

Vi a carta por que Vossa Alteza me manda que lhe escreva a dúvida do foral de Vila Real se hão-de ser 48.000 se 97.000 reais e esta subtileza parece muito de homem bruto ou não sabedor porque para as tais coisas mandou Vossa Alteza fazer três forais para cada lugar e pois o Concelho tem outro em sua câmara que lhe foi entregue por vosso corregedor da comarca esse devera de ver quem tão escusada pergunta fez porque se são ambos de uma substância não prejudicará ser um deles respançado sendo conforme ao outro. E mais como se pode suster tamanha falsidade em quarenta e nove mil reis de paga cada ano sobejos isto vai tudo por semelhas que me parece que são mil maravedis velhos em mil courelas a dois maravedis a cada courela levando o maravedi de 27soldos em 48 reis meio que fazem a dita soma de 97 reais mas isto não vai afirmativo nem eu o posso aqui fazer porque em Évora leixei toda minha ferramenta velha e nova e o secretário o pode ver com muito pouco trabalho na minha pousada em ver os tombos do Reino apartados uns dos outros onde nos da comarca de Trás-os-Montes achará tresladado o foral de Vila Real e no primeiro capítulo dele achará este caso bem declarado para ficar claro o que lhe deve neste caso demandar.

E essa resposta para o marquês mando apartada desta por que lha possa Vossa Alteza dar em resposta ainda que por isso mais queixas tenha contra mim mas terá menos razão de importunar Vossa Alteza nisto.

Item eu tenho dias há escrito a Vossa Alteza que um filho meu que mandei na companhia de Diogo Lopes para a Índia foi lá morto como a Deus aprouve e meus pecados têm merecido a Deus, no qual tinha posta uma igreja de Carreço que eu muito tempo há que tenho, a qual ficou a mim cum retentione e com regresu, que foi o primeiro que em Roma se deu, e porque eu tenho, enquanto Deus quiser, outros filhos que vivem com Vossa Alteza e com seus filhos, beijar-lhe-ei as mãos para mitigar alguma parte de meu mal haver por bem que esta igreja venha por seu consentimento ou apresentação a outro meu filho por minha morte ou renunciação, e não me estendo em mais palavras porque se minhas obras não abastam não quero que as palavras o mereçam. Em Montemor a 2 de Novembro de 520.

Beijo as mãos de Vossa Alteza

Fernão de Pina39

37 A partir daqui, texto da fl. 3, que está em falta, e foi copiado do registo relativo a Lamego. Até aqui trata-se de matéria que não diz respeito a penas de sangue, e por isso não são de considerar.38 TT, LN, 46, Forais da Comarca da Beira, fol. 133v. Capítulo relativo à pena de sangue no foral de Lamego. Em itálico, o texto com as determinações particulares de Lamego, seguido da doutrina geral, aplicável a Vila Real.39 TT., Gaveta 15, Maço 12, Nº 15.

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Glossário

Alçada Antigo tribunal itinerante

Aposentadoria Prestação gratuita de hospedagem a pessoas de fora

Aro Vizinhança, termo, terra contígua

BiscoitoO biscoito era a base alimentar das tripulações na época dos descobrimen-tos portugueses. Consistia num pão de farinha de trigo, de forma achatada, cozido no forno duas, três ou mais vezes

Breu Betume

Cabelo, em cabelo (lã, linho) Lã ou linho por curar, por fiar

Casa movida Casa mudada, transportada

Cativos

Prisioneiros feitos em batalha a cujo resgate se destinavam algumas esmolas e o pagamento de certas condenações. O resgate era confiado à Ordem da Santíssima Trindade da Redenção dos Cativos, fundada em Portugal por S. João da Mata.

CeitilMoeda mandada cunhar por D. João I em memória da conquista de Ceuta (ou Ceita)

Costumagem Direito baseado no costume e não em lei escrita

Demandado Acusado

Descaminhar Perder a mercadoria por falta de pagamento de direitos

DesembargoDesembargo do Paço, tribunal superior criado por D. João II, presidido pelo rei, autónomo face às Casas da Suplicação e do Cível e da Relação do Porto.

Dízima das sentenças Pena pecuniária executada pelas justiças locais

Esparto Stipa tenacissima L. Planta cujo caule serve para fazer cordas, capachos e esteiras.

Especiarias Plantas aromáticas usadas para os alimentos e bebidas

Fatiota, em fatiota, enfiteuseContrato de longo prazo, que confere o domínio útil de um imóvel, medi-ante o pagamento anual de uma pensão, ou foro

Finta Imposto

Forrar Conceder liberdade

Forros Revestimento de roupa

Gado do vento Gado que anda perdido, sem dono conhecido

Maçuco Em barra, maciço

Mararavedi, morabitino Moeda do tempo de D. Afonso Henriques

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Marçarias Coisas miúdas, quinquilharias

Meirinho Oficial de justiça

Montado Imposto pago aos donos dos terrenos para os gados aí poderem pastar

Maravedi, morabitinoMoeda muçulmana e a primeira moeda de ouro portuguesa, cunhada por D. Sancho I

Partir Medir os géneros a pagar

PortagemImposto pago pelos produtos que entravam ou saíam da terra para serem comercializados

Porteiro Juiz executor de sentenças

QuadrilheiroOficial de uma quadra, grupo de oficiais que colaborava no policiamento e manutenção da ordem pública, e que também podia receber os rendimentos da portagem

Relação Tribunal superior

RelegoMonopólio, exclusivo do rei ou seu donatário de vender o vinho dos seus reguengos, em certos tempos. Tornou-se extensivo ao lagar ou tulha, adega ou celeiro em que o vinho se faz e recolhe.

SacadaDireito ou imposto que se pagava por levar para fora de uma terra qualquer mercadoria

Soldo Moeda

Sumagre

Arbusto de fruto amargo, semelhante ao limão, usado nas indústrias de curtumes e têxteis, como condimento e como planta medicinal para tratar doenças de pele. As folhas eram reduzidas a pó em moinhos próprios – as atafonas

Tabelião Notário

TabúaPlanta semelhante ao junco, de que se fazem esteiras, cestaria e fundos de cadeiras

Tabuada Índice

Termo Todo o território de uma localidade

Usagem Direito baseado no uso e não em lei escrita

VintaneiroAutoridade judicial em pequenos povoados ao menos com vinte moradores; funcionário que cobra a vintena, a vigésima parte de qualquer rendimento

_______________________________________________________________________________________________________________

SIGLAS

CC – Corpo CronológicoLN – Leitura NovaTT - Arquivo Nacional da Torre do Tombo

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ÍNDICE

Introdução ...............................................................................................................1Apresentação ............................................................................................................3Transcrição do Foral de D. Manuel ...............................................................................11Apêndice documental ................................................................................................26Glossário ...............................................................................................................30Siglas .....................................................................................................................31

FICHA TÉCNICA

Título: Foral de Vila RealAutor: Maria José de Magalhães Mexia Bigotte ChorãoIntrodução: Rui Jorge Cordeiro Gonçalves dos Santos (Presidente da Câmara Municipal Vila Real)Coordenação-geral: Pedro Abreu PeixotoApoio à investigação: Joaquim Barreira GonçalvesApoio técnico: Maria Emília FerreiraApoio geral: Vitor Oliveira, Maria José TaveiraEdição: Município de Vila Real | Arquivo Municipal de Vila RealISBN 978-989-8653-20-8 | Depósito Legal N.º 376306/14Tiragem: 200 exemplares

Concepção gráfica e paginação: © Helena Lobo DesignFotografia: © António Pinto FotografiaImpressão: Gráfica Maiadouro

A presente publicação é parte integrante das comemorações dos 500 anos da outorga do Foral a Vila Real por D. Manuel I em 22 de Junho de 1515.

©Município de Vila Real. Todos os direitos reservados de acordo com a legislação em vigor.

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Municípiode

Vila Real

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Foral

de

VilaReal

1515

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FICHA TÉCNICATítulo: Edição fac-simile do Foral de Vila Real de 22 de Junho de 1515Edição: Município de Vila Real | Arquivo Municipal de Vila RealPresidente da Câmara Municipal Vila Real: Rui Jorge Cordeiro Gonçalves dos SantosCoordenação-geral: Pedro Abreu PeixotoApoio à investigação: Joaquim Barreira GonçalvesApoio técnico: Maria Emília FerreiraApoio geral: Vitor Oliveira, Maria José TaveiraISBN 978-989-8653-21-5 | Depósito Legal N.º 376305/14Tiragem: 200 exemplares

Concepção gráfica e paginação: © Helena Lobo DesignFotografia: © António Pinto FotografiaImpressão: Gráfica Maiadouro

A presente publicação é parte integrante das comemorações dos 500 anos da

outorga do Foral a Vila Real por D. Manuel I em 22 de Junho de 1515.

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