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IN MEMORIAM A MÁQUINA ELETRÔNICA DE 1990, ELEIÇÃO ELETRÔNICA, OU URNA ELETRÔNICA DO PAROBÉ Conforme informação obtida do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) [1], em 1989, o juiz eleitoral da cidade de Brusque-SC, Carlos Prudêncio, em caráter experimental, organizou uma seção informatizada, em que autoridades municipais e representantes dos partidos políticos puderam teclar seus escolhidos em um terminal de computador AT-38632. O sistema projetado funcionava com cartão perfurado e transmissão via telefone, completamente diferente da urna adotada a décadas depois pelo TSE, pois o modelo que foi proposto apresentou problemas e não funcionou corretamente, segundo o relato do Sr. Juiz Niederauer (TRE-RS) em entrevista com os desenvolvedores da Urna Eletrônica na Escola Técnica Parobé. Figura 1: Reportagem do jornal Correio do Povo da eleição eletrônica em 14/11/1990.

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IN MEMORIAM A MÁQUINA ELETRÔNICA DE 1990,

ELEIÇÃO ELETRÔNICA,OU URNA ELETRÔNICA DO PAROBÉ

Conforme informação obtida do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) [1], em 1989, o juizeleitoral da cidade de Brusque-SC, Carlos Prudêncio, em caráter experimental, organizou uma seçãoinformatizada, em que autoridades municipais e representantes dos partidos políticos puderam teclarseus escolhidos em um terminal de computador AT-38632. O sistema projetado funcionava comcartão perfurado e transmissão via telefone, completamente diferente da urna adotada a décadasdepois pelo TSE, pois o modelo que foi proposto apresentou problemas e não funcionoucorretamente, segundo o relato do Sr. Juiz Niederauer (TRE-RS) em entrevista com osdesenvolvedores da Urna Eletrônica na Escola Técnica Parobé.

Figura 1: Reportagem do jornal Correio do Povo da eleição eletrônica em 14/11/1990.

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Paralelamente, em 1990 foi idealizado, criado e realizado na Escola Técnica Parobé umavotação eletrônica, ver Figura 1. O teste de uma votação informatizada foi acompanhado pelasprincipais mídias da época (televisionado no Jornal Nacional e Bandeirantes e, impresso no JornalCorreio do Povo e Zero Hora) onde se apresentou efetivamente em funcionamento a UrnaEletrônica nos moldes de funcionamento dos dias de hoje.

O Sr. Juiz Gilberto Niederauer Correa (Presidente do TRE-RS, na época, ver Figura 2)compôs a “Comissão de Informatização das Eleições Municipais”, que segundo o TSE [1], foidecisiva para definição da urna eletrônica. Essa comissão trabalhou de abril a agosto de 1995 e osdocumentos produzidos em seus encontros pautaram todo o desenvolvimento da urna eletrônicabrasileira.

Figura 2: Sr. Gilberto Niederauer Correa testa a máquina eletrônica, Zero Hora 14/11/1990.

Ocorre que o sistema adotado (TSE, Figura 3) foi apresentado seis anos antes na EscolaTécnica Parobé como um trabalho aos alunos do Setor Informática. Foi desenvolvido na disciplinade informática ministrada pelo então professor Eng. Luiz Guerra Piccoli, onde o tema era elaborarum programa computacional, sobre “Eleições - Apuração”. Como os alunos não conseguiramdesenvolver o trabalho proposto, o próprio professor (Luiz Guerra Piccoli e seu filho LeonardoBisch Piccoli, com 13 anos, então estudante de eletrônica), desenvolveram o trabalho proposto aosalunos, onde foi criado o 'Sistema de Coleta e Apuração de Votos ou Sistema Eletrônico de Votaçãoe Apuração', justificando o tema do trabalho proposto aos alunos, junto a direção da Escola.

Foi então que surgiu na Escola Técnica Parobé a 'urna eletrônica' em forma de cabine,monitor, sinal de bipe e teclado numérico, de forma muito similar ao modelo adotado e usadoatualmente pelo TSE. Coube ao prof. Eng. Luiz idealizar e realizar o sistema e a esquematização do

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programa, enquanto ao Leonardo a interface gráfica, resolução de algumas rotinas e compilar paralinguagem de código de máquina Assembly (código protegido), pois o programa fonte foiestruturado e desenvolvido na linguagem de programação Basic.

A apresentação foi realizada em um computador Apple II, que na época já estava sendosubstituído pelos PCs (Personal Computer) e foi testada com sucesso pelos alunos, junto a direçãoda Escola, professores, imprensa televisionada e escrita, delegada de ensino Tânia Maria Heinrich,juiz do TSE-RS Sr. Niederauer e assessores, entre outros convidados.

Figura 3: Máquina contra fraude (Urna Eletrônica), Correio do Povo 23/07/2006.O projeto vinha propor a suprir o sistema de votação e apuração da época, pois era

demorado e cheio de contestações, com esperas de dias para sair o resultado final das eleições eainda com custos muito altos.

O prof. Eng. Luiz e o estudante Leonardo simplificaram todo o processo, colocando em umcomputador, o sistema de coleta de dados e apuração final da seção de votação, pelo própriopresidente da mesa. Consistia na escolha dos nomes propostos na tela do monitor (candidatos – naépoca foi dos governadores na eleição de 1990), digitado o número correspondente ao candidato, obip da confirmação do numero, da gravação dos dados em um disquete, a impressão em papel (ondeseria assinado pela composição da mesa da seção) e no final da votação a destruição do programa, afim de evitar manipulação posterior dos dados coletados na memória do computador. Os dados emdisquete (e também gravados em chip) eram remetidos a uma central que iria computar os dadosdaquela zona eleitoral e assim sucessivamente ate a central final de apuração, onde seria usada amesma estrutura que recebia as urnas de papel.

Na época, a internet estava no seu início, logo, os dados eram remetidos via normal. Mas, osdados impressos, que seriam a prova do resultado daquela seção eleitoral, poderiam ser em caráterimediato, transmitido via telefone. Naquela época, por questão de segurança, conforme relato doEng. Luiz, ao Sr. Juiz Niederauer e o seu secretário Jorge Freitas, quando lhe questionaram sobre asegurança do processo, e este lhe afirmou que os dados poderiam também ser gravados em um chip,como prova final da seriedade dos dados coletados e se houvesse algum problema na seção, esteseria facilmente detetado, pois o presidente de mesa seria o responsável direto pelo processo, bemcomo a equipe que alimentou os equipamentos usados nas seções eleitorais.

O restante do sistema eleitoral não seria alterado e nem tinha o porque na época, como não

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foi até hoje. O problema era a coleta e apuração dos votos, que o sistema veio a resolver,diminuindo o tempo do processo de votação, apuração e como consequência o número de seçõeseleitorais. Hoje com a tecnologia existente, o sistema está sendo sempre aprimorado o seuhardware, aumentando com certeza a sua velocidade e confiabilidade nas eleições. A base para osistema adotado pelo TSE, permanece o mesmo demonstrado na Escola Técnica Parobé, onderecebeu a denominação popular de 'Urna Eletrônica' como poderia receber o nome de 'SistemaEletrônico de Votação e Apuração'.

Conforme continua a relatar o Eng. Luiz, na reunião em portas fechadas com o Sr. JuizNiederauer e o seu secretário, onde foi explicado e respondidas todas as perguntas formuladas,sobre o processo eletrônico de Votação, foi comentado pelo Juiz Niederauer, que se tivesse tempo, osistema poderia ser usado em paralelo ao voto de papel, naquelas eleições. Também, lhe foioferecido o livre acesso ao processo eleitoral do segundo turno de 1990, pelo Sr. Juiz Niederauer eeste aceitou a contribuir para o desenvolvimento do 'Sistema Eletrônico de Votação e Apuração'.

A urna só não decolou e não foi desenvolvida no Parobé, porque ao começar as tratativaspara o seu desenvolvimento, foi descoberto irregularidades na administração do Diretor ProfessorLuiz Carlos Gré da Silva, onde acabou em uma CPI e o seu posterior afastamento. Por falta de investimento e apoio de órgãos de fomento e mesmo a dificuldade em patentear o'Sistema Eletrônico de Votação e Apuração' na época, o projeto parou na sua concepção. Esperava-se a participação e contribuição do TRE-RS, mas o mesmo nunca mais se manifestou sobre oassunto diante aos autores e a própria Escola Técnica Parobé, demonstrando na época um certodesinteresse pelo 'Sistema Eletrônico de Votação e Apuração - Urna Eletrônica'', que hoje é adotadopelo TSE.

O computador, o monitor e o programa original, que foram usados naquela época, existe atéhoje. Esperamos ter resgatado e esclarecido a memória da chamada “Urna Eletrônica” ( SistemaEletrônico de Votação e Apuração), que ainda hoje não foi explicado oficialmente a sua origem econcepção.

As pessoas envolvidas pelo desenvolvimento e participação da máquina de votar no Parobé em 1990, foram:

• Desenvolvimento:1) Luiz Guerra Piccoli: (Engenheiro e programador) : tel 55 4052 9250 - luigi at piccoli.ind.br2) Leonardo Bisch Piccoli (Engenheiro e programador) : tel 51 3519 9787 - leonardo at piccoli.ind.br

• Participação na apresentação:1) Francisco Alberto Rheingatz Silveira (Professor de informática na época) : tel 51 3248 5987 - farsilveira atpucrs.br 2) Sergio J. Chiorri (coordenador do Setor de Informática na época) - tel 51 3233 7969 ou 51 3233 06163) Juiz Gilberto Niederauer Correa (Juiz do TRE-RS - 12mar1990 a 10mar1993) : (Juiz Eleitoral na época, no qual foi fornecido todo o sistema de votação e apuração) – tel 51 3267 15684) Juiz Adroaldo Furtado Fabricio (TRE-RS): Comissão Apuradora do TRE-RS – na época – tel 51 3311 42585) Leonel Tozzi – Diretor Geral do TRE-RS - na época – tel 51 3340 42946) Tania Maria Heinrich – Delegada de Ensino na época – 1ª Delegacia

Referências:[1] TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DO RIO GRANDE DO SUL. Voto Eletrônico. EdiçãoComemorativa: 10 anos da Urna Eletrônica, 20 anos do Recadastramento Eleitoral. PortoAlegre: TRE-RS / Centro de Memória da Justiça Eleitoral, 2006.[2] PAROBÉ APRESENTA ELEIÇÃO ELETRÔNICA. Correio do Povo , Porto Alegre, 14 novembrode 1990.[3] PRESIDENTE DO TRE TESTA MÁQUINA ELETRÔNICA DE VOTAR. Zero Hora , Porto Alegre,14 novembro de 1990.[4] MÁQUINA CONTRA FRAUDE FAZ 10 ANOS. Correio do Povo , Porto Alegre, 23 julho de2006.

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Parobé apresenta eleição eletrônica

Um projeto denominado “Eleição Eletrônica" foi apresentado ontem pelo Centro de Informática da EscolaTécnica Parobé ao presidente do TRE. desembargador Gilberto Niederauer Corrêa. O novo sistema consiste naInstalação de um terminal, junto a cada seção eleitoral, ligado a um computador central onde o eleitor precisariaapenas apertar uma tecla para indicar o candidato escolhido. A identificação do concorrente seria feita através dopróprio nome ou número do político ou de uma cor, facilitando a operação para os analfabetos.

A grande vantagem é com relação a apuração dos votos, uma vez que logo após o término do pleito ocomputador forneceria o resultado final, dispensando o escrutínio manual. O responsável pela elaboração destetrabalho, professor Francisco Silveira, salientou que a probabilidade de erros é nula uma vez que a pessoa só poderáteclar uma vez. Ele explicou que toda a votação ficará armazenada na memória do computador. para consultas oucontestação do resultado.

Para o presidente do TRE “O projeto foi um avanço tecnológico que merece todo o apoio e incentivo.Reduziria em até 80% os custos do processo eleitoral, que somente neste ano ficaram em torno de Cr$ 200 milhões.Gilberto Niederauer salienta que "é multo importante esse tipo de Investimento. por parte da Iniciativa privada, paravalorizar o trabalho das escolas técnicas". Como experiência, o sistema será utilizado nas eleições para a direção daEscola Parobé. no próximo ano.

Texto da Figura 1: Reportagem do jornal Correio do Povo (14/11/1990).

Presidente do TRE testa máquina eletrônica de votar

Equipamento que permite computar imediatamente os votos e reduz em 80% os custos daeleição foi desenvolvido por alunos do Parobé

Os alunos da Escola Técnica Parobé, de Porto Alegre projetaram uma "máquina de votar", capaz de reduzir ocusto de uma eleição em 80% e de fornecer o resultado minutos após a votação. A eleição deste ano está custando ascofres públicos em torno de Cr$ 200 milhões. O projeto desta máquina, que terá o tamanho de urna calculadora debolso, foi apresentado ontem ao desembargador Gilberto Niederauer Corrêa, presidente do Tribunal Regional Eleitoral(TRE), que fez muito elogios.

O convite ao desembargador teve o objetivo conseguir apoio do TRE para financiar este projeto. O custo decada "máquina de votar" é de Cr$ 25 mil, explicou o professor Luiz Carlos Gré da Silva, diretor do Parobé, que tem3.200 estudantes e 200 professores e o titulo de escola técnica mais eficiente do Sul do Brasil.

Esta máquina seria usada dentro de um esquema de informatização de todos os estágios do processo daeleição. Ela ficaria dentro da cabine de votação, ligada a uma central de computação, como acontece nos paísesdesenvolvidos. Atualmente, apenas é informatizada a documentação das eleições, representando em torno de 10% doprocesso todo.

DINHEIRO - Os professores e alunos do Parobé fizeram uma eleição informatizada simulada entre os candidatos X,Y e Z para demonstração do aparelho. No lugar da máquina de votar foi usado um terminar ligado a ummicrocomputador. Segundo o professor de informática Francisco Silveira, a intenção era mostrar ao desembargador aeficiência do sistema. "A próxima eleição para diretor, em outubro do ano que vem, será toda informatizada", avisou odiretor Silva. Será usada, talvez pela primeira vez na história gaúcha, a "máquina de votar".

"Esta iniciativa valoriza o ensino público, e mostra que a fase da decadência das escolas técnicas já passou",opinou a professora Tânia Maria Heinrich, da 1ª Delegacia de Educação. O desembargador Niedeauer reconheceu asvantagens da máquina e da informatização de todo o sistema ao processo eleitoral. "Mas não temos dinheiro para isto",lamentou.

Texto da Figura 2: Reportagem do jornal Correio do Povo (14/11/1990).