15
Equipe Mariano Laplane (Presidente do CGEE) Adriana Badaró (Coordenadora do CGEE) Douglas Falcão (Diretor do DEPDI/SECIS/MCTI) Ildeu de Castro Moreira (Consultor do estudo e professor do UFRJ) Yurij Castelfranchi (Consultor do estudo e professor do InCiTe /UFMG) Fernando Rizzo (ex-diretor do CGEE) Ivone de Oliveira (Assistente técnico do CGEE) Marcelo Paiva (Assistente de pesquisa do CGEE) Tomáz Carrijo (Estatístico do CGEE) Execução das entrevistas CP2 - Consultoria, Pesquisa e Planejamento Ltda. Ciência e tecnologia no olhar dos brasileiros Sumário executivo

Sumário executivo - Percepção Pública da Ciência e Tecnologia 2015

Embed Size (px)

Citation preview

Equipe

Mariano Laplane (Presidente do CGEE) Adriana Badaró (Coordenadora do CGEE)

Douglas Falcão (Diretor do DEPDI/SECIS/MCTI) Ildeu de Castro Moreira (Consultor do estudo e professor do UFRJ)

Yurij Castelfranchi (Consultor do estudo e professor do InCiTe /UFMG) Fernando Rizzo (ex-diretor do CGEE)

Ivone de Oliveira (Assistente técnico do CGEE) Marcelo Paiva (Assistente de pesquisa do CGEE)

Tomáz Carrijo (Estatístico do CGEE)

Execução das entrevistas

CP2 - Consultoria, Pesquisa e Planejamento Ltda.

Ciência e tecnologia no olhar dos brasileiros

Sumário executivo

Centro de Gestão e Estudos Estratégicos Presidente Mariano Francisco Laplane Diretor Executivo Marcio de Miranda Santos Diretores Antonio Carlos Filgueira Galvão Gerson Gomes

Centro de Gestão e Estudos Estratégicos SCS Qd 9, Lote C, Torre C, 4º andar, Salas 401 A 405, Ed. Parque Cidade Corporate Brasília, DF Telefone: (61) 3424.9600 http://www.cgee.org.br

Esta publicação é parte integrante das atividades desenvolvidas no âmbito do Contrato de Gestão CGEE – 8º Termo Aditivo/Ação: Foros de Discussão em CT&I /Subação: Percepção pública da CT&I no Brasil - 7.01.53.05.11. Todos os direitos reservados pelo Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE). Os textos contidos nesta publicação poderão ser reproduzidos, armazenados ou transmitidos, desde que citada a fonte.

Percepção pública da ciência e tecnologia 2015 - Ciência e tecnologia no olhar dos brasileiros. Sumário executivo. Brasília: Centro de Gestão e Estudos Estratégicos, 2015.

15 p : il.

1. Percepção Pública. 2. Ciência e Tecnologia. 3. Popularização da ciência. 4. Divulgação

científica. 5.Brasil. I. CGEE. II. Título.

3

Percepção pública da C&T - 2015

Ciência e tecnologia no olhar dos brasileiros

Introdução

O Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE) e o Ministério da Ciência, Tecnologia e

Inovação (MCTI) realizaram a quarta edição da pesquisa: Percepção Pública da Ciência,

Tecnologia e Inovação no Brasil, 2015.

Este estudo teve como objetivos principais realizar um levantamento atualizado sobre

interesse, grau de informação, atitudes, visões e conhecimento dos brasileiros em relação à

Ciência e Tecnologia (C&T) e produzir uma análise da evolução dessa percepção pública sobre

a área na última década.

Justificativa

Para que as ações de popularização científica e de educação em ciência sejam aprimoradas, é

importante conhecer e analisar o grau de informação, o conhecimento geral, as atitudes e as

visões da população brasileira sobre C&T. Além disso, entender as implicações econômicas,

políticas, educacionais, culturais e éticas da percepção pública da C&T pode contribuir para a

formulação mais adequada de políticas públicas em educação científica e em comunicação

pública da ciência. Tal conhecimento pode favorecer, ainda, a inclusão social e contribuir para

estimular os jovens para as carreiras científicas.

Breve histórico das enquetes de percepção pública da C&T

Em 1979, foi realizada nos Estados Unidos da América (EUA) a primeira enquete sobre

percepção pública da C&T daquele país, uma ação que se repetiu periodicamente ao longo dos

anos seguintes. A Europa, particularmente pela sondagem Eurobarômetro, iniciou pesquisas

de opinião similares em 1977 e prosseguiu com essa rotina em anos subsequentes. Nas duas

décadas seguintes, diversos países do mundo, como Índia, China e Japão realizaram pesquisas

de percepção pública da C&T.

Na América Latina, a partir de meados da década de 1990, algumas nações promoveram

enquetes nacionais de percepção pública da C&T, como Colômbia (1994, 2004, 2012), México

(1999, 2003, 2009, 2011), Panamá (2001, 2009), Argentina (2003, 2006, 2012), Chile (2007),

Venezuela (2007), Uruguai (2008) e Costa Rica (2012).

O Brasil fez sua primeira enquete nacional desse tipo em 1987 (MAST;CNPq;GALLUP) e duas

pesquisas quantitativas mais amplas em 2006 e 2010, coordenadas pelo então Ministério da

Ciência e Tecnologia. Foram realizadas também, em anos recentes, enquetes de percepção

pública da ciência em âmbito estadual ou municipal, em São Paulo, patrocinadas pela

Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), e agora, em 2015, em Minas

Gerais, pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig).

4

I. Informações sobre a enquete

Enquete nacional de 2015

Esta pesquisa de opinião quantitativa teve como base um questionário com 105 perguntas

(fechadas e abertas), com amostra probabilística representativa de toda a população brasileira

com 16 anos de idade ou mais, estratificada por gênero, faixa etária, escolaridade, renda

declarada, com cotas proporcionais ao tamanho da população, segundo os dados do IBGE.

A coleta de dados primários foi feita com a utilização da técnica Computer Assisted Telephone

Interviewing (CATI). Os dados foram coletados entre os dias 22/12/2014 e 16/3/2015, em 1962

entrevistas realizadas em todas as regiões do Brasil. A caracterização dos entrevistados foi

feita por meio do levantamento do perfil sociodemográfico e de (auto) avaliação das condições

de vida e moradia.

O questionário da de 2015 está baseado, em grande parte, nas perguntas das enquetes

nacionais de 2006 e 2010, com a finalidade de garantir a comparabilidade entre as edições e

possibilitar a análise da evolução histórica da percepção púbica sobre C&T no Brasil.

Inovações metodológicas da enquete 2015

Um estudo preliminar das pesquisas anteriores feitas no País e das principais enquetes

internacionais [EUA, União Europeia (EU), Argentina, Espanha, China, Índia] examinou tanto a

formulação das perguntas das enquetes quanto as escalas de resposta e a organização dos

dados (estrutura fatorial, variáveis latentes, entre outros). Isto permitiu a construção de um

questionário que possibilitou o aprimoramento do instrumento de consulta, por meio da

presença de um número significativo de perguntas em comum com as pesquisas nacionais

anteriores, favorecendo a comparação histórica, bem como a comparabilidade com

indicadores mensurados internacionalmente. Assim essa enquete permitiu, ainda, que os

dados sejam usados para análises longitudinais, identificação de tendências e variáveis

latentes e para o estudo da evolução das atitudes e opiniões dos brasileiros ao longo do

tempo.

Além das dimensões investigadas mundialmente nas enquetes sobre percepção pública da

ciência, como interesse sobre C&T, grau de acesso à informação, avaliação da cobertura da

mídia sobre C&T, opinião sobre cientistas, papel da C&T na sociedade, percepção sobre os

riscos e benefícios da ciência e atitudes diante de aspectos éticos e políticos da C&T, a enquete

inova ao acrescentar um leque mais amplo de variáveis relativas ao contexto de vida e moradia

dos entrevistados.

Também são investigadas as percepções dos brasileiros sobre temas candentes em C&T, que

têm relevância e impacto nacional, e outras atitudes e escolhas individuais relativas à

componente religiosa e à participação social e política. Tais indicadores novos possibilitam

discernir correlações importantes entre as atitudes sobre C&T e a trajetória de vida das

pessoas.

Algumas conclusões relevantes da enquete emergiram pela construção de modelos preditivos,

da análise de variáveis latentes e de indicadores. Essas análises evidenciaram que:

5

Educação, acesso à informação, renda e interesse por C&T não são, em geral,

suficientes para explicar as atitudes das pessoas sobre C&T.

Algumas atitudes sobre C&T se tornam mais críticas ou cautelosas com o crescimento

do grau de informação e da escolaridade das pessoas; outras atitudes, ao contrário,

são mais positivas entre pessoas de alta escolaridade.

Alguns aspectos da vida social, das escolhas religiosas, do contexto de moradia das

pessoas podem influenciar as atitudes sobre C&T tanto quanto, ou até mais em alguns

casos, o grau de escolaridade, a renda, o interesse e a informação em C&T.

II. Principais resultados da enquete

1. Interesse e grau de informação sobre C&T

O interesse declarado dos brasileiros sobre assuntos de C&T é bastante elevado, mas, apesar

disso, eles continuam tendo escasso acesso à informação científica e tecnológica,

especialmente nas camadas sociais de menor escolaridade e renda:

Os brasileiros declaram ter bastante interesse por assuntos de C&T: 61% deles dizem

ser interessados ou muito interessados em C&T, uma média maior que para o tema

Esportes (56%) e bem maior que para Moda (34%) ou Política (28%). O interesse por

temas correlacionados com a C&T, como Meio Ambiente e Medicina e Saúde, é muito

elevado, com 78% para ambos, comparável ao interesse por Religião (75%) (Gráfico 1).

Gráfico 1. Percentual dos entrevistados segundo o interesse declarado em ciência e tecnologia e outros temas, 2015. Fonte: Pesquisa sobre percepção pública da C&T no Brasil (CGEE, 2015).

6

Entre a enquete de 2010 e a de 2015, o interesse declarado caiu ligeiramente para a

maioria dos assuntos, inclusive para C&T (de 65 para 61%). Os interesses declarados

em Política e Religião permaneceram iguais e o interesse por Moda caiu

significativamente.

Os níveis médios de interesse declarados pelos brasileiros são comparáveis ou

superiores às médias da maioria dos países nos quais tais enquetes foram efetuadas.

Por exemplo, 61% dos brasileiros se declaram muito interessados ou interessados em

C&T, percentual maior que os 53% registrados na União Europeia (EU) em 2013.

Gráfico 2. Comparação sobre o interesse declarado em ciência e tecnologia (BRASIL, 2015; EUROBRARÔMETRO, 2013). Fonte: Pesquisa sobre percepção pública da C&T no Brasil (CGEE, 2015)

O acesso à informação sobre C&T é pequeno para a grande maioria dos brasileiros, sendo a TV

o meio mais utilizado. Há um crescimento expressivo do uso da internet e das redes sociais:

A TV é o meio mais usado para adquirir informações sobre C&T: 21% dos brasileiros

fazem isso com muita frequência e 49% com pouca frequência. A maioria deles declara

informar-se “nunca, ou quase nunca” sobre C&T nos outros meios de comunicação

investigados (jornais, revistas, livros, rádio e conversas com amigos), como

demonstrado no Gráfico 3. O nível declarado de consumo de informação científica na

TV e no rádio se manteve estável nos últimos anos, enquanto o acesso à informação

científica em jornais, livros e revistas, que já era reduzido em 2010 (em torno de 12%

declararam que os utilizavam com frequência), diminuiu ainda mais em 2015.

7

Gráfico 3. Percentual dos entrevistados segundo a frequência declarada de informação sobre C&T, por meios de divulgação, 2015. Fonte: Pesquisa sobre percepção pública da C&T no Brasil (CGEE, 2015).

No entanto, aumentou de forma marcante, tendo dobrado entre 2006 e 2015 (de 23%

para 48%), o uso da internet e das redes sociais como fonte de informação sobre C&T.

Sua utilização com muita frequência (18%) já se aproxima da TV. Previsivelmente, tal

uso é muito maior entre os jovens. Muitas pessoas declaram utilizar, como fonte para

acessar informação de C&T na internet, sites de instituições de pesquisa, seguidos de

sites de jornais e revistas, Facebook, Wikipedia e blogs.

Cerca da metade dos brasileiros avalia que os meios de comunicação noticiam de

maneira satisfatória as descobertas científicas e tecnológicas; 20% acham que essa

divulgação é feita de forma parcialmente satisfatória e, em igual proporção,

consideram que a informação não é satisfatória, tanto no que se refere ao número de

matérias quanto à qualidade do conteúdo divulgado.

Gráfico 4. Distribuição dos entrevistados segundo a opinião declarada sobre a divulgação de C&T pela mídia, 2015. Fonte: Pesquisa sobre percepção pública da C&T no Brasil (CGEE, 2015).

8

Quadro 1. Distribuição dos entrevistados segundo a opinião declarada sobre a divulgação de C&T pela mídia, 2015. Fonte: Pesquisa sobre percepção pública da C&T no Brasil (CGEE, 2015).

A visitação a espaços científico-culturais (museus e centros de C&T, museus de arte,

bibliotecas, jardins botânicos, zoológicos e parques ambientais) e a participação em atividades

públicas de popularização da ciência (feiras e olimpíadas científicas, Semana Nacional de C&T)

aumentaram no Brasil ao longo da última década. Contudo, a visitação a museus e centros de

C&T continua ainda muito baixa, se comparada com padrões europeus, e é extremamente

desigual: o acesso é muito menor em camadas de renda e escolaridade mais baixas:

Cresceu significativamente, de 2006 a 2015, a participação em feiras e olimpíadas de

ciências (de 13 % para 21%), na Semana Nacional de C&T (de 3% para 8%) e a visitação

a museus ou centros de C&T (de 4% para 12%), como exposto no Gráfico 5. O

crescimento foi mais forte em regiões que eram menos favorecidas em termos de

infraestrutura de C&T e de divulgação científica. O crescimento da visitação em

museus e centros de C&T foi mais intenso entre os jovens (Gráfico 6).

O número de matérias é insuficiente 35,7% 22,5% 37,4%

As fontes geralmente não são confiáveis 22,5% 32,1% 23,5%

O conteúdo é de má qualidade 20,7% 18,3% 21,4%

As matérias são tendenciosas 20,7% 18,3% 17,2%

São ignorados os riscos e os problemas que a aplicação da

ciência e tecnologia pode causar19,2% 12,4% 12,2%

Em geral, é difícil entender as matérias 12,6% 11,2% 11,3%

Jornais

impressos

Principais motivos para a mídia não apresentar descobertas tecnológicas de

maneira satisfatória

TV Internet

9

Gráfico 5. Percentual dos entrevistados segundo a declaração de visitação a espaços de difusão científico-cultural, segundo as enquetes 2006, 2010 e 2015. Fonte: Pesquisa sobre percepção pública da C&T no Brasil (CGEE, 2015).

Gráfico 6. Percentual dos entrevistados segundo a declaração de visitação a espaços de difusão científico-cultural, por região, segundo as enquetes 2006, 2010 e 2015. Fonte: Pesquisa sobre percepção pública da C&T no Brasil (CGEE, 2015).

Em termos de comparação com outros países, mencionamos as taxas de visitação

anuais a museus de C&T: 36% (Suécia, 2005); 27% (China, 2010); 25% (EUA, 2012); 20%

(Alemanha e Reino Unido, 2005); 16% (média da Europa, 2005); 12% (Índia, 2004).

10

No caso de espaços científico-culturais ligados à natureza, como jardins botânicos,

zoológicos e parques ambientais, a visitação anual é significativa, alcançando cerca de

30% dos brasileiros.

As dificuldades de acesso aos espaços científico-culturais, incluindo a não existência

deles na região, são as principais razões declaradas por metade dos brasileiros para

que esses espaços não sejam visitados.

2. Atitudes e visões sobre C&T

As atitudes dos brasileiros sobre C&T são, em geral, muito positivas, prevalecendo a percepção

sobre seus benefícios, a confiança grande nos cientistas e nas suas motivações, bem como o

reconhecimento da importância do investimento público em C&T. O otimismo quanto aos

impactos da C&T vem crescendo desde 1987:

O número de pessoas que acreditam que a C&T está associada “só a benefícios” para a

humanidade, continuou crescendo de forma expressiva, desde 1987, e hoje tal opinião

é a da maioria dos brasileiros. Isto ocorreu mesmo que, em 2015, tenha havido uma

retração na porcentagem de pessoas que acreditam que a C&T traz “mais benefícios

que malefícios”. A grande maioria dos brasileiros (73%) declara acreditar que C&T traz

“só benefícios” ou “mais benefícios do que malefícios” para a humanidade (em 2010

este número alcançava 81%). Só uma minoria muito reduzida (4%) acredita que os

malefícios sejam preponderantes. Tal opinião otimista prevalece em todas as faixas de

renda e escolaridade e em todas as regiões do Brasil, sendo um pouco maior na região

Sul.

Gráfico 7. Comparação entre percepção sobre benefícios e malefícios da C&T, por enquete nacional (1987, 2006, 2010 e 2015). Fonte: Pesquisa sobre percepção pública da C&T no Brasil (CGEE, 2015).

As enquetes internacionais mostram que a maioria das pessoas, em todo o mundo,

pensa que os resultados benéficos do desenvolvimento científico e tecnológico são

maiores que os malefícios. O Brasil se destaca como um dos países mais otimistas do

11

mundo, com índice similar ao da China, quanto aos benefícios da C&T: 73% dos

cidadãos do País em comparação com 63% nos EUA e porcentagens menores na

Argentina e nos países europeus. Nos EUA, a porcentagem dos que percebem só

malefícios na C&T é, embora muito pequena, maior que no Brasil (8% contra 4%).

Gráfico 8. Comparação entre a percepção sobre benefícios e malefícios da C&T, por país. 2015. Fonte: Pesquisa sobre percepção pública da C&T no Brasil (CGEE, 2015).

Os brasileiros, em sua maioria, confiam muito nos cientistas como fonte de informação.

Se computarmos um Índice de Confiança (IC), que engloba os graus declarados de mais

ou menos confiança nos diversos profissionais, como fonte de informação em assuntos

importantes, os cientistas ligados a instituições públicas têm o nível mais alto de

confiança entre os atores sociais pesquisados (desde 2006), acima de jornalistas e

médicos. O IC dos jornalistas subiu paulatinamente, desde 2006, e superou

ligeiramente o dos médicos em 2015. O nível de confiança em políticos permaneceu

extremamente baixo em todas as enquetes.

12

Quadro 2. Índice de confiança (IC) nos diversos profissionais, por ano de enquete (2006, 2010 e 2015). Fonte: Pesquisa sobre percepção pública da C&T no Brasil (CGEE, 2015).

Atitudes positivas sobre a importância da C&T:

Os brasileiros concordam, em sua maioria, com as seguintes afirmações: a pesquisa

científica é essencial para indústria; a C&T está tornando nossas vidas mais

confortáveis; os governantes devem seguir, pelo menos em parte, as orientações dos

cientistas; a experimentação animal deve ser permitida dependendo do caso; e a C&T

poderá contribuir para a redução das desigualdades sociais no País.

As atitudes positivas em relação à C&T, no entanto, não são acríticas nem ingênuas. A maioria

dos brasileiros expressa coletivamente uma preocupação com riscos decorrentes do

desenvolvimento científico e tecnológico e não ignora limitações na C&T:

Mais da metade dos brasileiros vê a C&T como responsável pela maior parte dos

problemas ambientais e acha que os cientistas têm conhecimentos que os tornam

perigosos. Em algumas questões complexas, os brasileiros se mostram mais divididos:

a metade dos brasileiros discorda que a C&T ajuda a eliminar pobreza e fome no

mundo e concorda que o uso dos computadores e a automação geram perda de

emprego; e defende que uma nova tecnologia não deve ser usada caso suas

consequências não sejam bem conhecidas. Os brasileiros estão também divididos

quanto à ampla liberdade de pesquisa por parte dos cientistas e quanto à

responsabilidade destes em relação ao mau uso que outros fazem de suas

descobertas.

A maioria dos brasileiros considera que: é necessário o estabelecimento de padrões

éticos sobre o trabalho dos cientistas; estes profissionais devem expor publicamente

os riscos decorrentes da C&T; as pessoas são capazes de entender o conhecimento

científico se este for bem explicado; e deveria haver participação da população nas

grandes decisões sobre os rumos da C&T.

13

Ao contrário do interesse e do acesso à informação, fortemente influenciados pela

escolaridade e renda, as atitudes sobre C&T não são explicáveis a partir destes fatores, a não

ser de forma fraca e não homogênea. As atitudes sobre C&T não podem ser entendidas de

maneira linear a partir apenas de variáveis sociodemográficas: as pessoas mais informadas não

necessariamente possuem visões mais positivas e as pessoas com visões mais cautelosas ou

críticas não necessariamente possuem menor grau de escolaridade. As trajetórias de vida e o

contexto de moradia, capital social, valores, participação em atividades de sociabilidade e

políticas, têm um peso importante na forma como as pessoas se apropriam da informação

científica e formam suas atitudes sobre os cientistas e sobre a ciência e tecnologia.

3. Avaliação sobre a C&T no Brasil

A avaliação positiva dos brasileiros sobre o grau de avanço da ciência brasileira cresceu

significativamente de 1987 a 2010, sofrendo uma retração em 2015:

A tendência, desde 1987, foi a de uma redução expressiva da parcela da população

que aponta que a ciência brasileira está atrasada no campo das pesquisas científicas e

tecnológicas: 59% (1987), 35% (2006) e 28% (2010). Em 2015, no entanto, pela

primeira vez, aumentou a porcentagem dos brasileiros que considera a situação do

País em pesquisa como atrasada: 43%.

Os brasileiros apoiam, em sua grande maioria, o aumento do investimento público em C&T:

A grande maioria da população (78%) apoia a ideia de que devem ser feitos maiores

investimentos de recursos públicos em C&T.

Gráfico 9. Percentual dos entrevistados segundo a opinião declarada sobre o aumento dos investimentos em C&T nos próximos anos, 2015. Fonte: Pesquisa sobre percepção pública da C&T no Brasil (CGEE, 2015).

Se comparada esta posição com a dos norte-americanos, obtida em enquete similar, a

diferença de visão entre os cidadãos dos dois países é marcante: 78% dos brasileiros

declarou acreditar que os investimentos deveriam aumentar (o dobro que nos EUA), e

só 3% considera que deveriam diminuir, contra 12% nos EUA. Na Argentina a

porcentagem dos que defendem mais recursos para a C&T alcança 63%, na Suécia,

Espanha e França fica em torno de 40%, enquanto cai para cerca de 25% na Alemanha

14

e no Reino Unido. Uma parcela significativa da população de todos esses países acha

que os investimentos em pesquisa devem ser mantidos como estão.

Gráfico 10. Comparação sobre a opinião a respeito dos investimentos em C&T, 2015.

Fonte: Pesquisa sobre percepção pública da C&T no Brasil (CGEE, 2015).

A maioria dos brasileiros aponta que a principal razão para não haver um

desenvolvimento maior em C&T no País é a insuficiência de recursos. Para eles, a área

prioritária para investimento, similar ao que ocorre em outros países, é a dos

medicamentos e tecnologias médicas. Os brasileiros colocam como opções

predominantes, após esta, o investimento em energias alternativas, agricultura e, em

proporção menor, mudanças climáticas e exploração dos recursos da Amazônia.

Os brasileiros se mostram bastante preocupados com algumas questões local e globalmente

relevantes nas quais a C&T está envolvida. Neste caso, o grau de preocupação foi mensurado

em uma escala de 1 a 10:

O maior grau de preocupação surge com o Desmatamento da Amazônia, com índice

9,2, seguido por Efeitos das mudanças climáticas e do aquecimento global (9), Uso de

pesticidas na agricultura (8,4), Uso da energia nuclear (8,1) e Plantas transgênicas ou

comida com ingredientes transgênicos como possíveis causadoras de doenças (7,9).

Ao se analisar este índice de preocupação, percebe-se que ele está associado, com

maior intensidade, a pessoas que demostram maior interesse por C&T e maior

consumo de informação científica e tecnológica.

O conhecimento dos brasileiros sobre instituições do País que se dedicam a fazer pesquisa

científica e sobre cientistas brasileiros importantes é muito baixo:

Uma parcela muito pequena da população consegue lembrar o nome de algum

cientista brasileiro importante ou de alguma instituição de pesquisa. Em 2015, apenas

12% dos brasileiros se lembraram de alguma instituição que faça pesquisa no País e só

6% lembraram o nome de um cientista brasileiro. Esses números são menores que os

da enquete de 2010 (18% e 12%, respectivamente). O desconhecimento entre os

jovens é particularmente significativo. Mesmo entre pessoas com título superior, a

porcentagem de pessoas que dizem saber mencionar um cientista brasileiro é muito

15

baixa. Como comparação, registre-se que, na Argentina, a última enquete (2012)

apontou que 25% das pessoas conseguem mencionar uma instituição científica local.

Esse índice fica em torno de 30% para outros países da América Latina, como Chile e

Venezuela.

Enquetes tomadas como base para as comparações nacionais e internacionais

O que o brasileiro pensa da ciência e da tecnologia? (CNPq/GALLUP, 1987) Disponível em: http://www.museudavida.fiocruz.br/media/1987_O_que_o_Brasileiro_Pensa_da_CT.pdf

Enquete Nacional de Percepção Pública da Ciência (MCTI, Museu da Vida, ABC, LabJor, 2006)

Disponível em: http://www.museudavida.fiocruz.br/media/2007_Percepcao_Publica_da_CT_Brasil.pdf

Enquete Nacional de Percepção Pública da Ciência (MCTI, Museu da Vida, Unesco, 2010)

Disponível em: http://www.recyt.mincyt.gov.ar/files/ActasComisionCyT/Acta2011_01/Anexo_VII_Public_Survey_2010_Portuguese.pdf

Segunda Encuesta Nacional de Percepción Pública de la Ciencia, Cultura Científica y Participación Ciudadana, MCYT (Venezuela, 2007)

Tercera Encuesta Nacional de Percepción Pública de la Ciencia, Cultura Científica y Participación Ciudadana, MCYT (Venezuela, 2009)

Disponível em: http://pt.slideshare.net/Mariosamuelcamacho16/resentacionterceraencuestadepercepcionpublicadelacienciamariosamuelcamachorodriguez

Chinese public understanding of science and attitudes towards science and technology, (China Research Institute for Science Popularization, Beijing, China: CRISP 2010)

Disponível em: http://www.crisp.org.cn/csi.pdf

Percepción social de la ciencia y la tecnología (Espanha, Fecyt, 2010) Disponível em: http://icono.fecyt.es/informesypublicaciones/Documents/Publicacion_PSC2010.pdf

Tercera Encuesta Nacional de Percepción Pública de la Ciencia (Argentina, Ministerio de Ciencia, Tecnología e Innovación Productiva, 2012).

Disponível em: http://www.mincyt.gob.ar/tag/Tercera+Encuesta+Nacional+de+Percepci%C3%B3n

Public perceptions of science, research and innovation (Eurobarometer, 2014) Disponível em: http://ec.europa.eu/public_opinion/archives/ebs/ebs_419_en.pdf