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As reacções sistémicas à imunoterapia subcutânea foram pouco frequentes (0,1%) e de baixa gravidade (grau 1 ou 2), pelo que a imunoterapia subcutânea, cumprindo as recomendações da EAACI, pode ser considerada um tratamento seguro. Propõese a criação de um sistema de farmacovigilância nacional das reacções sistémicas à imunoterapia subcutânea, de forma a ampliar o conhecimento nesta área, bem como opLmizar e uniformizar os procedimentos de administração, vigilância e tratamento. Um estudo prospecLvo 2010 Natacha Santos , Ana Margarida Silva, Rui Silva, Aida Feiteira, Liliana Castro, José Torres da Costa, José Luís Plácido Serviço de Imunoalergologia, Hospital de São João, EPE As reacções sistémicas (RS) são um efeito adverso pouco frequente mas potencialmente grave da administração de imunoterapia subcutânea (ITsc). Por outro lado, a diversidade de classificações tem levado a dificuldades em avaliar a gravidade e factores de risco das reacções sistémicas à imunoterapia, pelo que foi recentemente publicado um sistema de classificação da Organização Mundial de Alergia (WAO) (1). Neste estudo pretendemos avaliar a incidência e caracterizar as RS ocorridas nos doentes em ITsc a aeroalergéneos no nosso hospital, classificandoas segundo a recomendação da Academia Europeia de Alergia e Imunologia Clínica (EAACI) (2) e a WAO. 1 L. Cox, D. LarenasLinnemann, R. F. Lockey, G. Passalacqua; Speaking the same language: The World Allergy OrganizaLon Subcutaneous Immunotherapy Systemic ReacLon Grading System; J Allergy Clin Immunol 2010;125:56974. 2 J. E. AlvarezCuesta, J. Bousquet, G. W. Canonica, S. R. Durham, H. J. Malling, E. Valovirta. Standards for pracLcal allergenspecific immunotherapy. Ann Allergy Asthma Immunol. Allergy 2006: 61 (Suppl. 82): 1–20 Foi elaborado um formulário para registo da administração e vigilância das reacções adversas à ITsc segundo as recomendações da EAACI. Foi assegurado o cumprimento dos critérios de exclusão, administração e vigilância, e registadas as reacções imediatas (<30 minutos), bem como as reacções tardias à imunoterapia (recurso ao serviço de urgência ou relato na próxima administração). Entre Janeiro de 2008 e Junho de 2010 foi administrada ITsc a 690 doentes (19.328 administrações) Foram registadas reacções sistémicas à ITsc com aeroalergénios em 13 doentes (1,8%), 8e5, idade média 25 anos (1150 anos), 5 dos quais apresentaram mais de um episódio, e correspondendo a um total de 20 RS (0,1%)., caracterizadas na seguinte tabela: Patologia alérgica Sensibilização Vacina Reacções locais Reacções sistémicas Gravidade Suspendeu ITsc Composição Esquema Manifestação Tempo Fase EAACI 2 WAO 3 Rinite Ácaros + Pólenes Polim. pólenes Cluster 1 Pápula < 5 cm Rinorreia Imediata 20 min Indução I 1z Rinite Ácaros + Pólenes Polim. ácaros Convencional Rinorreia Imediata ? Indução I 1z Rinite Ácaros Depot ácaros Convencional Rinorreia Imediata ? Indução I 1z Rinite + Asma Ácaros + Pólenes Polim. ácaros Convencional Rinorreia Prurido ocular Tardia Imediata 6h ? Indução Indução I I 1z 1z Rinite + Asma Ácaros + Pólenes Depot ácaros Convencional Rinorreia Rinorreia Rinorreia Tardia Imediata Tardia 2 horas 30 min ? Indução Indução Indução I I I 1z 1z 1z Sim Rinite Ácaros + Pólenes Polim. ácaros Convencional Prurido orofaringe Tardia 45 min Indução I 1z Rinite Ácaros Poli. ácaros Cluster Rinorreia Rinorreia Imediata Tardia ? 1 dia Manutenção Manutenção I I 1z 1z Rinite + Asma Ácaros + Pólenes Polim. pólenes Cluster Espirros Tardia ? Manutenção I 1z Rinite + Asma Ácaros Polim. ácaros Cluster Crise asma Crise asma Crise asma Tardia Tardia Tardia 2 dias ? 1 dia Indução Indução Indução I I I 2z 2z 2z Rinite + Asma Ácaros + Pólenes Polim. ácaros Convencional Crise asma Tardia ? Indução I 2z Rinite + Asma Ácaros Polim. ácaros Cluster Rinorreia > Crise asma Congestão nasal Tardia Tardia 1 dia ? Indução Indução I I 2z 1z Rinite Pólenes Polim. pólenes Cluster Pápula < 5 cm Eritema > Sibilos Tardia 1h30 Indução II 2z Sim Rinite Ácaros Polim. ácaros Cluster Eritema > Rinorreia > Dispneia Tardia 3 horas Manutenção II 2d Sim 1 esquema présazonal; Polim=polimerizado; 2 Gravidade EAACI : I = urLcária localizada, rinite ou asma ligeira; II = urLcária generalizada ou asma moderada (início > 15 minutos); III = urLcária generalizada, angioedema ou asma severa (início < 15 minutos); IV = choque anafiláLco. 3 Gravidade WAO : 1 = sintomas/sinais cutâneos ou respiratórios superiores; 2 = cutâneos e respiratórios superiores ou respiratórios inferiores ligeiros /moderados ou gastrointesLnais; 3 = asma grave ou edema laringe/úvula/língua; 4 = falência respiratória ou hipotensão; 5 = óbito. Administração de adrenalina: a <5min, b 510 min, c 1020 min, d >20 min após início dos sintomas, z não administrada

Caracterização das reacções sistémicas à imunoterapia subcutânea

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As   reacções   sistémicas   à   imunoterapia   subcutânea   foram   pouco   frequentes   (0,1%)   e   de   baixa   gravidade   (grau   1   ou   2),   pelo   que   a  

imunoterapia  subcutânea,  cumprindo  as  recomendações  da  EAACI,  pode  ser  considerada  um  tratamento  seguro.  Propõe-­‐se  a  criação  de  um  

sistema  de  farmacovigilância  nacional  das  reacções  sistémicas  à  imunoterapia  subcutânea,  de  forma  a  ampliar  o  conhecimento  nesta  área,  

bem  como  opLmizar  e    uniformizar  os  procedimentos  de  administração,  vigilância  e  tratamento.  

Um  estudo  prospecLvo  

2010  

Natacha  Santos,  Ana  Margarida  Silva,  Rui  Silva,  Aida  Feiteira,  Liliana  Castro,  José  Torres  da  Costa,  José  Luís  Plácido  

Serviço  de  Imunoalergologia,  Hospital  de  São  João,  EPE  

As   reacções   sistémicas   (RS)   são   um   efeito   adverso   pouco   frequente   mas  

potencialmente  grave  da  administração  de  imunoterapia  subcutânea  (ITsc).    

Por  outro  lado,  a  diversidade  de  classificações  tem  levado  a  dificuldades  em  avaliar  

a  gravidade  e  factores  de  risco  das  reacções  sistémicas  à  imunoterapia,  pelo  que  foi  

recentemente   publicado   um   sistema   de   classificação   da   Organização  Mundial   de  

Alergia  (WAO)  (1).  

Neste   estudo   pretendemos   avaliar   a   incidência   e   caracterizar   as   RS   ocorridas   nos  

doentes   em   ITsc   a   aeroalergéneos   no   nosso   hospital,   classificando-­‐as   segundo   a  

recomendação  da  Academia  Europeia  de  Alergia  e  Imunologia  Clínica  (EAACI)  (2)  e  a  

WAO.  

1L.  Cox,  D.  Larenas-­‐Linnemann,  R.  F.  Lockey,  G.  Passalacqua;  Speaking  the  same  language:  The  World  Allergy  OrganizaLon  Subcutaneous  Immunotherapy  Systemic  ReacLon  Grading  System;  J  Allergy  Clin  Immunol  2010;125:569-­‐74.  2J.  E.  Alvarez-­‐Cuesta,  J.  Bousquet,  G.  W.  Canonica,  S.  R.  Durham,  H.  J.  Malling,  E.  Valovirta.  Standards  for  pracLcal  allergen-­‐specific  immunotherapy.  Ann  Allergy  Asthma  Immunol.  Allergy  2006:  61  (Suppl.  82):  1–20  

Foi  elaborado  um  formulário  para  registo  da  administração  e  

vigilância   das   reacções   adversas   à   ITsc   segundo   as  

recomendações  da  EAACI.  

Foi   assegurado   o   cumprimento   dos   critérios   de   exclusão,  

administração  e  vigilância,  e  registadas  as  reacções   imediatas  

(<30  minutos),  bem  como  as  reacções  tardias  à   imunoterapia  

(recurso   ao   serviço   de   urgência   ou   relato   na   próxima  

administração).  

Entre  Janeiro  de  2008  e  Junho  de  2010  foi  administrada  ITsc  a  

690  doentes  (19.328  administrações)    

 

Foram   registadas   reacções   sistémicas   à   ITsc   com   aeroalergénios   em   13   doentes   (1,8%),   8♂   e   5♀,   idade  média   25   anos   (11-­‐50   anos),   5   dos   quais  

apresentaram  mais  de  um  episódio,  e  correspondendo  a  um  total  de  20  RS  (0,1%).,  caracterizadas  na  seguinte  tabela:  

Patologia  alérgica   Sensibilização  Vacina  

Reacções  locais  Reacções  sistémicas   Gravidade   Suspendeu  

ITsc  Composição   Esquema   Manifestação   Tempo   Fase   EAACI2   WAO3  

Rinite   Ácaros  +  Pólenes   Polim.  pólenes   Cluster1   Pápula  <  5  cm   Rinorreia   Imediata   20  min   Indução   I   1z  Rinite   Ácaros  +  Pólenes   Polim.  ácaros   Convencional   -­‐   Rinorreia   Imediata   ?   Indução   I   1z  Rinite   Ácaros   Depot  ácaros   Convencional   -­‐   Rinorreia   Imediata   ?   Indução   I   1z  

Rinite  +  Asma   Ácaros  +  Pólenes   Polim.  ácaros   Convencional   -­‐   Rinorreia  Prurido  ocular  

Tardia  Imediata  

6h  ?  

Indução  Indução  

I  I  

1z  1z  

Rinite  +  Asma   Ácaros  +  Pólenes   Depot  ácaros   Convencional   -­‐  Rinorreia  Rinorreia  Rinorreia  

Tardia  Imediata  Tardia  

2  horas  30  min  ?  

Indução  Indução  Indução  

I  I  I  

1z  1z  1z  

Sim  

Rinite   Ácaros  +  Pólenes   Polim.  ácaros   Convencional   -­‐   Prurido  orofaringe   Tardia   45  min   Indução   I   1z  

Rinite   Ácaros   Poli.  ácaros   Cluster   -­‐   Rinorreia  Rinorreia  

Imediata  Tardia  

?  1  dia  

Manutenção  Manutenção  

I  I  

1z  1z  

Rinite  +  Asma   Ácaros  +  Pólenes   Polim.  pólenes   Cluster   -­‐   Espirros   Tardia   ?   Manutenção   I   1z  

Rinite  +  Asma   Ácaros   Polim.  ácaros   Cluster   -­‐  Crise  asma  Crise  asma  Crise  asma  

Tardia  Tardia  Tardia  

2  dias  ?  1  dia  

Indução  Indução  Indução  

I  I  I  

2z  2z  2z  

-­‐  

Rinite  +  Asma   Ácaros  +  Pólenes   Polim.  ácaros   Convencional   -­‐   Crise  asma   Tardia   ?   Indução   I   2z   -­‐  

Rinite  +  Asma   Ácaros   Polim.  ácaros   Cluster   -­‐   Rinorreia  -­‐>  Crise  asma  Congestão  nasal  

Tardia  Tardia  

1  dia  ?  

Indução  Indução  

I  I  

2z  1z   -­‐  

Rinite   Pólenes   Polim.  pólenes   Cluster   Pápula  <  5  cm   Eritema  -­‐>  Sibilos   Tardia   1h30   Indução   II   2z   Sim  Rinite   Ácaros   Polim.  ácaros   Cluster   -­‐   Eritema  -­‐>  Rinorreia  -­‐>  Dispneia   Tardia   3  horas   Manutenção   II   2d   Sim  1esquema  pré-­‐sazonal;  Polim=polimerizado;    2Gravidade   EAACI:   I  =  urLcária   localizada,   rinite   ou   asma   ligeira;   II   =   urLcária   generalizada  ou   asma  moderada   (início   >   15  minutos);   III   =   urLcária   generalizada,   angioedema  ou   asma   severa   (início   <   15  minutos);   IV   =   choque  anafiláLco.    3Gravidade  WAO:  1  =  sintomas/sinais  cutâneos  ou  respiratórios  superiores;  2  =  cutâneos  e  respiratórios  superiores  ou  respiratórios  inferiores  ligeiros  /moderados  ou  gastrointesLnais;  3  =  asma  grave  ou  edema  laringe/úvula/língua;        4  =  falência  respiratória  ou  hipotensão;  5  =  óbito.  Administração  de  adrenalina:  a  <5min,  b  5-­‐10  min,  c  10-­‐20  min,  d  >20  min  após  início  dos  sintomas,  z  não  administrada