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REVISTA DE MANGUINHOS | JUNHO DE 2012 18 ESPECIAL DENGUE

Dengue - cartilha especial

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ESPECIAL DENGUE

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Renata Fontoura

resultado de um estudodesenvolvido pelo Institu-to Oswaldo Cruz (IOC/Fi-ocruz) mostrou que asfêmeas do Aedes aegypti

têm maior atividade locomotora quan-do estão infectadas pelo vírus da den-gue. Em comparação com fêmeas nãoinfectadas, elas apresentaram aumen-to que varia de 10% a 50% na ativida-de. Segundo os pesquisadores, amudança de comportamento pode es-tar relacionada ao relógio circadiano,como é chamado o mecanismo inter-no que controla os ritmos biológicos.

O

Pesquisa inédita mostrou, emcondições de laboratório,aumento de até 50% na

atividade locomotora de fêmeasinfectadas pelo vírus da dengue

Ritmoacelerado

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Iniciado em 2008, o estudo monito-rou a atividade locomotora de mosquitosinfectados e não infectados pelo sorotipo2 do vírus da dengue por meio de umsistema que registra o movimento dosinsetos, mantidos em tubos de vidro,cada vez que cruzam um feixe de luzinfravermelha. “O registro da atividadefoi realizado em uma incubadora comtemperatura de 25ºC e que intercalava12 horas de claro e 12 horas de escurodurante sete dias. Ao final do experimen-to, fizemos uma média da atividade dosdois grupos”, explica a doutoranda Ta-mara Lima-Câmara, uma das autoras doestudo, coordenado por Alexandre Pei-xoto, chefe do Laboratório de Biologia Mo-lecular de Insetos do IOC.

“O aumento da atividade locomo-tora das fêmeas infectadas pode afe-tar alguns aspectos de sua biologia.Acreditamos que essa característicapossa ter desdobramentos na dinâmi-ca de transmissão da doença”, escla-rece a pesquisadora Rafaela Bruno,outra autora do projeto. “O A. aegyp-ti é um mosquito diurno, porém verifi-camos que, no grupo de fêmeasinfectadas, o aumento da atividadetambém ocorreu durante a noite”,acrescenta Tamara.

Ela destaca que os resultados de-vem ser considerados no contexto deuma experimentação em laboratório.“É preciso ressaltar que, na natureza,o mosquito tem vários tipos de ativi-

dades, como a postura de ovos e aprocura de um hospedeiro para se ali-mentar. O monitoramento que reali-zamos serve de parâmetro para aanálise da atividade de voo em cam-po”, pontua.

Segundo as especialistas, a maiorfacilidade de comparação fez com queo sorotipo 2 do vírus fosse escolhidopara desenvolver a pesquisa. “Esse so-rotipo é o que mais apresenta dadosna literatura científica, isso é funda-mental para compararmos resultados”,reforça Rafaela. De acordo com ela,não é possível afirmar se a alteraçãoverificada no estudo ocorre tambémcom mosquitos infectados por outrossorotipos do vírus.

Célula demosquito infectado

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Aedesinfectadovive menos

Renata Fontoura

ual é o impacto da infec-ção pelo vírus da dengueem alguns aspectos dabiologia e do comporta-mento do Aedes aegyp-

ti? A pergunta foi o ponto de partidapara um estudo pioneiro desenvolvidopelo Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fio-cruz) que comparou aspectos da lon-gevidade e da fecundidade de fêmeasinfectadas e não infectadas com o ví-rus da dengue. Os resultados mostra-ram que as fêmeas infectadas viveramem média 15 dias a menos do que asnão infectadas e apresentaram quedano número de ovos colocados a partirda terceira postura. A investigação re-força uma abordagem recente dos es-tudos na área, que passa a consideraros efeitos acarretados pelo vírus no or-ganismo do A. aegypti e sua interfe-rência no ciclo de transmissão.

“Observamos 500 mosquitos fême-as e percebemos que, quando infec-tadas, a média de vida foi de 23 dias,contra 42 das não infectadas. Tambémconstatamos que a quantidade de ovoscolocados a partir da terceira posturadiminuiu”, explica o chefe do Labora-tório de Transmissores de Hematozoá-rios do IOC e co-autor do estudoRicardo Lourenço. “A hipótese paraexplicar esta observação é a de que ogasto desprendido pelo mosquito parase defender do vírus em seu corpo com-prometa sua produção de ovos e ou-tros aspectos de sua biologia ecomportamento”, complementa. O es-

Estudo mostra que fêmeas domosquito transmissor dadengue vivem menos quandoestão infectadas pelo vírus

Q

tudo optou por observar fêmeas do A.aegypti porque apenas elas realizamalimentação com sangue, atuando natransmissão da dengue.

Segundo Lourenço, o estudo refor-ça uma nova perspectiva das pesqui-sas na área. “Se verificarmos atrajetória dos estudos sobre os vetoresda dengue, veremos que dez anosatrás os pesquisadores achavam queo vírus não alterava a vida do mosqui-to. Em nosso estudo, conseguimosobservar os mosquitos ao longo devárias semanas. Com isso, vimos quea infecção no mosquito pode interferirna sua vida e, por conseguinte, no ci-clo de transmissão da dengue”, dis-para o especialista.

O biólogo Rafael Freitas, do mesmolaboratório, explica que duas populaçõesdiferentes de A. aegypti foram analisa-das durante a investigação. “Para quefosse possível aproximar nossos resulta-dos do que acontece na natureza comos mosquitos infectados, acompanha-mos uma população criada em labora-tório, sensível e susceptível ao vírus, eoutra de campo, coletada no bairro doCaju, no Rio de Janeiro. Constatamosdiferenças entre as populações, mas, namédia geral, as fêmeas infectadas tive-ram uma longevidade menor”, afirmouo pesquisador. “Em relação à posturade ovos, observamos que na primeirapostura houve 95% de sucesso e já naquinta, 75%”, concluiu.

A infecção no mosquitopode interferir na sua vida e,por conseguinte, no ciclo detransmissão da dengue

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RRenata Fontoura

esultados de um estudodesenvolvido pelo Insti-tuto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) indicam a co-cir-culação de duas novas

linhagens do vírus dengue tipo 1 noRio de Janeiro. A pesquisa foi realiza-da com base na análise e compara-ção do genoma dos vírus presentesem amostras da epidemia de 1986 ede casos mais recentes, ocorridos en-tre 2009 e 2011. Referência regionalpara o Ministério da Saúde, o Labo-ratório de Flavivírus do IOC já reali-zou investigações similares com outrossorotipos, como o vírus dengue tipo2, contribuindo para o aprofundamen-to das pesquisas relacionadas à suacirculação em nível mundial. O estu-

do investe na abordagem de análisesfilogenéticas para a vigilância e epi-demiologia molecular da doença.

“Realizamos o sequenciamentoparcial dos vírus e na comparação en-tre as amostras observamos que, ape-sar de se tratar do mesmo sorotipo, osorotipo 1, os vírus isolados recente-mente pertencem a linhagens diferen-tes dos vírus responsáveis pelaepidemia em 1986. Portanto, não setrata daquele vírus de 1986 que teriaficado adormecido e reemergiu, massim da introdução de duas novas li-nhagens, uma de origem asiática eoutra latino-americana, próximas aosvírus que circulam nestas localidades”,explica Flávia Barreto, pesquisadorado Laboratório de Flavivírus do IOC.“A introdução das novas linhagens éreforçada pelo fato de que não hou-

ve tempo suficiente para que o vírusque circulou em 1986 se modificassea esse ponto”, avalia a especialista.

Previamente, o grupo demonstroua introdução de uma nova linhagemde dengue tipo 2 que causou a epide-mia de 2008. Nos estudos anteriores,realizados com vírus do tipo 2, o se-quenciamento completo do genomaforneceu informações adicionais sobreo sorotipo. “Apesar de uma nova li-nhagem, concluímos que o vírus do tipo2 que circulou na epidemia de 2008 eainda circula no Brasil é o mesmo quecircula no Sudeste Asiático e nas Amé-ricas nos últimos 20 anos. Quanto maisregiões do genoma e mais cepas vi-rais são sequenciadas, mais informa-ções estarão disponíveis”, destacaFlávia. “No caso do dengue 1, o estu-do ainda está em andamento, por isso,não temos informações relacionadasa aspectos como virulência e replica-ção do vírus nas células humanas, porexemplo. Mas a investigação continuae o objetivo é realizar o sequenciamen-to completo”, esclarece.

Os resultados são depositados emum banco de genes internacional, dis-ponível para consulta de pesquisado-res do mundo todo, agrupando osdiferentes tipos genéticos ou genótipospor similaridade. “A comparação comos sequenciamentos genéticos realiza-dos por grupos de pesquisadores deoutros países aumenta as possibilida-des de pesquisa e contribui para ummaior entendimento do impacto decertos tipos virais ou genótipos em umapopulação”, ressalta Flávia. Com o re-gistro recente de casos da doença pelotipo 4 do vírus em vários estado do país,inclusive no Rio de Janeiro, todos ossorotipos (dengue 1, 2, 3 e 4) circulamno Brasil. “Embora os genótipos, ougrupos genéticos, dos vírus sejam dis-tintos, o paciente que já foi infectadopor um dos sorotipos continuará imunea ele”, conclui a pesquisadora.

Linhagens diferentesEstudo científico aponta que os vírus dengue sorotipo 1 que circulam desde 2009 no Rio de Janeirotêm origens latino-americana e asiática e não são da mesma linhagem que causou a epidemia em 1986

Imagem de vírus da dengue

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Cristiane Albuquerque

ara combater a dengueé preciso conhecer aspec-tos relacionados ao vírus,à transmissão, aos hábi-tos do Aedes aegypti,

seus criadouros preferenciais e as me-didas de prevenção para eliminá-los.Chefe do Laboratório de Fisiologia eControle de Artrópodes e Vetores doIOC, Denise Valle ressalta que nãoexiste fórmula mágica para combatera doença e destaca que a prevençãoé a melhor forma de evitar o avançoda dengue.

Prevenção

“Cuidados básicos em relação aosreservatórios de água são fundamen-tais para o controle do Aedes, vetorda dengue. É preciso lembrar que o

mosquito é extremamente oportunis-ta. Por isso, precisamos verificar qual-quer lugar que possa servir para queas fêmeas coloquem ovos, não ape-nas os criadouros ‘clássicos’. Bande-jas de geladeira ou ralos pouco usadospodem se transformar em focos im-portantes. Outra dica: não olhe ape-nas ‘para baixo’: ovos e larvas doAedes também podem ser encontra-dos em bandejas de ar-condicionadoe em calhas. Voltando aos criadourosmais ‘convencionais’: caixas e tonéisde água não devem ser apenas fe-chados, mas vedados completamen-te; ralos que possam acumular águadevem ser desentupidos. Descartepneus velhos, vire garrafas em áreadescoberta de cabeça para baixo, eli-mine pratinhos com água embaixo dosvasos de planta. Vale ressaltar que omosquito transmissor da dengue vive

e se reproduz dentro das nossas ca-sas. Do ovo até o mosquito adultopassam, aproximadamente, de setea dez dias. Só o adulto transmite den-gue, porque só o adulto (na prática,apenas a fêmea) come sangue. Porisso, é fundamental a mobilização po-pular agindo uma vez por semana nalimpeza de criadouros. Assim, pode-mos interferir no desenvolvimento dovetor podemos impedir que ovos e lar-vas se transformem em adultos”.

Inseticidas e resistência

“Quando se fala em controle deAedes, logo se pensa no ‘fumacê’. Naprática, esta é uma forma de controledo mosquito adulto, só recomendável– e como ação complementar – emsituações particulares, como o bloqueiode uma epidemia. O fumacê é umaforma de controle químico, que utiliza

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ENTREVISTA | DENISE VALLE

Aedes: o que você precisa saber?Especialista tira dúvidas comuns sobre o vetor da dengue eesclarece como funciona o processo de resistência a inseticidas

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o inseticida. Este tipo de controle émais efetivo, porém (e pouca gentese dá conta disto) é o controle ao lon-go do ano, contra as larvas, com a vi-sita dos agentes nas casas. Muito maisimportante que o controle químico é ocontrole mecânico, que consiste naeliminação dos criadouros. E por quê?Porque quando eliminamos criadourosestamos impedindo que qualquer mos-quito se perpetue. Quando usamos in-seticida, matamos apenas parte dapopulação. Que parte não matamos?Não matamos aqueles que são resis-tentes aos inseticidas. Portanto, o usode inseticida é uma estratégia com-plementar e não deve ser tratadacomo a medida mais efetiva, isso cau-sa falsa sensação de segurança napopulação”.

“O uso de inseticida torna o mos-quito resistente? Não. Mosquitos re-sistentes a inseticidas existem, sempreexistiram, em qualquer população demosquitos. É uma característica gené-tica, como ter olhos verdes ou casta-nhos, por exemplo. Os mosquitosexistem, em geral, em quantidades bai-xas nas populações porque não há‘vantagem’ em ser resistente (ele nãoé mais ‘sedutor’, não vive mais, nãocoloca mais ovos). Mas se usarmos oinseticida de forma indiscriminada, empouco tempo a população de mosqui-tos vai estar repleta de indivíduos re-sistentes – e o inseticida não vai termais efeito. Ou seja, vamos perderuma ferramenta que poderia ser usa-da em situações particulares, como obloqueio de uma epidemia”.

“Portanto, a medida mais eficaz éa eliminação dos criadouros, não dei-xando água parada, pois assim atua-mos na fase mais vulnerável do Aedes,a fase jovem (ovos e larvas). Outro as-pecto importante: poucos produtos es-tão hoje disponíveis para controle dovetor, o que ratifica a cautela, já que aresistência entre as populações de mos-quitos torna-se um desafio. O Ministé-rio da Saúde alerta que a utilizaçãoinadequada e indiscriminada dos pro-dutos é capaz de causar graves conse-quências ao ambiente e interferir naeficácia dos programas de controle dadengue, que procuram usar os insetici-

das disponíveis de forma racional e co-ordenada, justamente para frear a dis-seminação da resistência – e preservaros poucos produtos disponíveis”.

Aedes X pernilongodoméstico

“O Aedes é muito ágil, se repro-duz em água limpa, ataca em plenaluz do dia e é responsável por transmi-tir a dengue no Brasil. Já o Culex pre-fere a noite, coloca seus ovos em águasuja e rica em matéria orgânica emdecomposição e atormenta as noitesde sono com seu zumbido. Com a che-gada do verão, acelera-se o ciclo re-produtivo e de desenvolvimento dosdois mosquitos mais urbanos do mun-do: o Aedes aegypti o Culex quinque-fasciatus, o pernilongo doméstico.Depósitos de água suja e contamina-da, esgotos, valões, fossas e todo re-servatório de água com muito materialorgânico são os criadouros preferenci-ais do Culex. Portanto, água contami-

nada acumulada e esgotos a céu aber-to têm grande importância para a saú-de pública, mas não se configuramcomo criadouros potenciais do mosqui-to transmissor da dengue”.

Mitos e verdades

“Ao longo dos anos, disseminou-se entre a população a crença de quecertas fórmulas podem acabar com aproliferação do mosquito transmissor dadengue, como a utilização de cravosda Índia, álcool, borra de café, citro-nela, velas com aromas. É importantechamar atenção para o fato de que nãohá comprovação científica da eficáciadesses produtos e alertar para o perigoque podem representar para a saúdeda população. Especialistas reafirmamque o controle de criadouros pela po-pulação é a principal medida para com-bater o vetor. A multiplicação dainformação e da conduta responsávelsão armas poderosas e eficazes no con-trole da dengue”.

Denise Valle: não existe fórmula mágica para combater a doença

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tema da campanha de combate àdengue em novembro de 2011.

De acordo com Denise Valle, pes-quisadora do IOC e umadas idealizadoras da cam-panha, a iniciativa é umaoportunidade para utilizaro conhecimento e os con-ceitos gerados nos labora-tórios do Instituto paraimpactar a qualidade devida dos brasileiros “Amissão do Instituto Oswal-

do Cruz é colocar a ciência a serviçoda saúde da população. Desenvolve-mos o conceito de 10 Minutos Contra

Cristiane Albuquerque

ma semana tem mais de10 mil minutos. Que talusar apenas dez paracombater a dengue? Esseé o mote da campanha

10 Minutos Contra a Dengue, elabo-rada por pesquisadores e profissionaisde comunicação do Instituto OswaldoCruz (IOC/Fiocruz). O projeto, desen-volvido a partir do conhecimento cien-tífico sobre o Aedes aegypti, foiinspirado em uma estratégia de con-trole do Aedes adotada em Cingapu-ra, nos anos de 2004 e 2005, até entãoa pior epidemia daquele país.

O conceito consiste em orientara população para investir dez minu-tos por semana para checar e elimi-nar os principais criadouros do A.aegypti dentro de suas residências.Devido à biologia do vetor, uma che-cagem semanal é o suficiente por-que, do ovo ao mosquito adulto, ociclo de desenvolvimentodo Aedes leva de sete adez dias. Por isso, agindouma vez por semana épossível interromper o ci-clo de vida do A. aegyptie evitar o nascimento denovos mosquitos. Medi-ante o estabelecimentode parceria junto à Se-cretaria de Saúde do Estado do Riode Janeiro, o conceito 10 MinutosContra a Dengue foi adotado como

10 MinutosContra aDengueBaseada na eliminaçãosemanal de focos, propostafoi formulada a partir dosconhecimentos científicossobre o Aedes aegypti

a Dengue com base neste compromis-so e amparados nos conhecimentos ci-entíficos sobre a biologia do vetor ena experiência prévia de Cingapura”,destaca Denise. Um material informa-tivo, em formato de folder, foi elabo-rado pelos pesquisadores do IOC e trazum guia com os 13 principais criadou-ros no contexto domiciliar e peridomi-ciliar, oferecendo um checklist para achecagem semanal de criadouros.

Saiba mais:

www.ioc.fiocruz.br/dengue/textos/10minutos.html

A campanha é amparada emconhecimentos científicos eem experiências internacionais

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Cristiane Albuquerque

ensado para ajudar a ro-tina de trabalho dos pro-fissionais de comunicaçãoque atuam na divulgaçãoda dengue e seus impac-

tos, o curso Aedes e mídia: introdu-ção aos aspectos científicos do vetorpara jornalistas foi elaborado combase no conhecimento científico dospesquisadores do Instituto OswaldoCruz (IOC/Fiocruz). De forma simplese objetiva, a capacitação reúne infor-mações que podem de fato ajudar nacobertura do tema e na qualidadedas informações que chegam ao pú-blico. O curso itinerante tem dura-ção de 45 minutos e conta com aparticipação de cinco pesquisadoresdo IOC. Hábitos do Aedes Aegypti,

Minicurso capacita jornalistasO curso Aedes e mídia:introdução aos aspectoscientíficos do vetor parajornalistas já atingiu cercade 90 profissionais decomunicação

criadouros preferenciais, diferençasentre o Aedes e Culex, vigilância dovetor e prevenção e estratégias decontrole são alguns temas debatidosna capacitação.

Durante a aula, os jornalistas têma oportunidade de conhecer as diver-sas fases de desenvolvimento do mos-quito. Além disso, uma “experiência”é realizada, fazendo com que os ovosdo mosquito eclodam durante a aula,bastam 20 minutos para que issoaconteça, assim é possível acompa-nhar o nascimento das larvas ao vivo.A primeira edição do curso, realizadaem 2010, reuniu jornalistas de diver-sos veículos. Em sua etapa itineran-te, a capacitação foi realizada parajornalistas da Rádio CBN e TV Globoe contou com a participação de maisde 50 profissionais.

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No curso é possível acompanharo nascimento das larvas ao vivo

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QCristiane Albuquerque

uais são as ferramentaspara o controle do Aedesaegypti? Quais os cria-douros mais comuns domosquito transmissor da

dengue? Com base no conhecimen-to científico de seus especialistas, oInstituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz)reuniu no hotsite Dengue: vírus e ve-tor [acesse em www.ioc.fiocruz/den-gue] informações, imagens e vídeossobre o tema. Todos os conteúdosforam construídos em parceria entrejornalistas e pesquisadores, com o ob-jetivo de disponibilizar na internet in-

formação qualificada e atual sobre otema da dengue, doença que mobili-za o país ano após ano. Assuntos va-riados estão contemplados, incluindoorientações sobre combate aos focosdo mosquito, as diferenças entreA.aegypti e pernilongo doméstico, in-formações sobre o vírus, a história doA. aegypti e como ele se espalhoupelo mundo e dados sobre o compor-tamento do mosquito, conhecido porsua característica oportunista.

No hotsite também estão disponí-veis produtos educativos e documentá-rios desenvolvidos pelo IOC. É possívelassistir aos documentários O mundomacro e micro do mosquito Aedes ae-

Hotsite Dengue: vírus e vetor disponibiliza conteúdos informativos, imagens, vídeos e infográfico

Dengue na redegypti – para combatê-lo é preciso co-nhecê-lo e Aedes aegypti e Aedes al-bopictus: uma ameaça nos trópicos,produzidos pelo Setor de Produção eTratamento de Imagem do InstitutoOswaldo Cruz, que conquistaram prê-mios em vários festivais internacionais.O hotsite disponibiliza, ainda, os con-teúdos do CD-ROM Dengue, destina-do a estudantes, pesquisadores eprofissionais das áreas de ciências davida, medicina e saúde, e os fascículosespeciais sobre dengue da série Com-Ciência na Escola, que oferecem paraprofessores atividades lúdicas sobre abiologia, morfologia e hábitos de vidado mosquito transmissor da dengue.

Imagem do documentário O mundomacro e micro do Aedes aegypt

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João Estabile

pesquisa sobre o controleda transmissão do vírus dadengue foi destacada emdois artigos na revista Na-ture. O pesquisador do La-

boratório de Malária do Centro dePesquisa René Rachou (CPqRR/FiocruzMinas) Luciano Andrade Moreira fazparte da equipe que desenvolve o es-tudo. A pesquisa, feita pela Universi-dade de Queensland, em Brisbane, naAustrália, indica a possibilidade de secontrolar a transmissão do vírus da den-gue. São cerca de 40 cientistas de todo

o mundo que participam do projeto, co-ordenado por Scott O’Neill.

O projeto envolveu uma estraté-gia inovadora para o bloqueio do vírusdengue em mosquitos Aedes aegypti,utilizando uma bactéria Wolbachia.Estima-se que até 70% dos insetos doplaneta contenham naturalmente abactéria, apesar de nunca ter sido en-contrada em Aedes aegypti. De acor-do com Moreira, conseguiu-se inserir,por meio da microinjeção de embri-ões, uma cêpa dessa bactéria (wMel-Pop), originária da mosca Drosophila,no Aedes aegypti. A grande surpresase deu quando os mosquitos que con-

tinham a bactéria bloqueavam o vírusda dengue. Entretanto, os mesmosmosquitos produziam menos ovos e osovos não podiam ficar secos (comonaturalmente ocorre) por muito tem-po que morriam, o que poderia com-prometer a invasão de mosquitoscontendo a bactéria na natureza.

Diante disso, o grupo do biólogo quelidera a pesquisa, Scott O’Neill, da Aus-trália, realizou trabalhos com mosquitosque agora continham um outro “tipo”da mesma bactéria, que não causavamnenhum problema de desempenho bio-lógico aos mosquitos. A pesquisa publi-cada na Nature revelou que, após umasérie de testes em laboratório, foi des-coberto que a bactéria Wolbachia dacepa wMel consegue também bloque-ar a capacidade dos mosquitos Aedesaegypti de transmitir a dengue.

Os cientistas soltaram então 300 milmosquitos adultos infectados com a bac-téria em duas áreas no nordeste da Aus-trália ao longo de um período de cercade dez semanas. Pouco mais de um mêsdepois, após terminarem as liberações,quase todos os Aedes aegypti selvagenstestados haviam sido infectados com abactéria, ficando, portanto, incapazes deespalhar a doença. Entretanto, Moreiraalerta que como a dengue não é epidê-mica na Austrália, testes serão realiza-dos no Vietnã e na Tailândia.

O programa tem grande chance decontrolar a transmissão da doença emvários países e de uma forma pratica-mente gratuita, pois mosquitos conten-do Wolbachia têm mais chance dedeixarem descendentes, o que tendea aumentar o número de insetos coma bactéria na natureza. “No momen-to, desde o início de 2012, novas libe-rações de mosquitos, agora contendoo tipo da bactéria original (wMelPop),estão ocorrendo em outras áreas daAustrália para verificar se essa cepada bactéria conseguirá persistir na na-tureza como mostrado para o tipo li-berado em 2011”, diz Moreira.

Trabalho sobre controle da transmissão do vírus da dengue é publicado na Nature

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O projetoelaborou umanova estratégiapara o bloqueiodo vírus

Estratégia inovadora

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Danielle Monteiro

s índices de casos de den-gue e mortalidade emdecorrência da doençatêm crescido nas últimasdécadas. De acordo com

dados da Organização Mundial daSaúde (OMS), 50 milhões de casos ain-da devem ocorrer por ano no mundo.Estima-se que, do total, 550 mil ne-cessitem de hospitalização e, pelomenos, 20 mil terminem em óbito. Embusca dos fatores que levam à ocor-rência de mortes por dengue, pesqui-sadores do Centro de Pesquisa AggeuMagalhães (CPqAM/Fiocruz), do Insti-tuto de Medicina Integral ProfessorFernando Figueira, no Recife, do Insti-tuto de Higiene e Medicina Tropicalda Universidade Nova de Lisboa e daUniversidade Federal de Pernambucorealizaram estudo que avalia a quali-dade da assistência a pacientes faleci-dos por consequência da doença naRegião Nordeste do país. Os resulta-dos revelam falhas quanto ao manejoclínico dos casos.

Para o estudo, foram analisadascinco ocorrências de óbito pela doençaem dois municípios do Nordeste. A pes-quisa mostra que, embora a rede desaúde avaliada disponha de estruturanecessária para atender os pacientesde dengue, os recursos disponíveis sãopouco utilizados. “As recomendaçõesdo Ministério da Saúde para o manejodos casos de dengue, as quais permiti-riam detectar precocemente os casosgraves e realizar o manejo clínico ade-quado a fim de evitar um desfechodesfavorável, não foram seguidas”, re-latam os estudiosos. A falta de reco-nhecimento da gravidade do caso foium problema frequentemente relata-do pelos entrevistados. “Em nenhumdos casos a dengue foi diagnosticadana primeira visita ao serviço de saúde”,afirmam os pesquisadores.

Os resultados indicam pouca utili-zação de exames clínicos para reavali-ação adequada do paciente, além desituações recorrentes como níveis dehidratação inferiores ao recomendado,sinais de alarmes não pesquisados ouregistrados e reavaliações clínicas comintervalos superiores aos preconizadospara pacientes que necessitam de hi-dratação volumosa. O estudo tambémrevela que o tratamento nos casos ava-liados foi, aparentemente, similar aorealizado com indivíduos com outrasdoenças febris agudas, como virose epneumonia. Familiares das vítimas re-

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Estudo aponta falhas na assistência aos casos de dengue no Nordeste

lataram problemas como quantidadeinsuficiente de profissionais nos perío-dos epidêmicos, longo tempo de espe-ra para consulta e para recebimento dosresultados dos exames e não funciona-mento do serviço em fim de semana.

Diante dos resultados, os estudio-sos propõem o monitoramento dos ca-sos graves e a investigação sistemáticados óbitos por dengue nos serviços desaúde. “Essa ação permitirá identificarproblemas e atuar prontamente, visan-do a melhorar a qualidade da assistên-cia aos pacientes e a evitar desfechosindesejáveis”, afirmam.

A falta de saneamento favorece a proliferação da dengue

Velhos problemas

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Marina Lemle

m tempos de ameaçaepidêmica e de introdu-ção no país do vírus tipo4 (Denv4), aumentam osdesafios da Rede Dengue

Fiocruz, cujo objetivo é integrar todasas atividades de assistência, ensino,pesquisa e desenvolvimento tecnoló-gico realizadas pelas diversas unida-des da Fundação a respeito da doença.A rede inseriu na sua lista de priorida-des o acompanhamento do compor-tamento ambiental, epidemiológico eclínico do Denv4, até então ausenteno país. Nesse sentido, destaca-se tra-balho do Polo Sentinela de Dengue,

da dengue a população teve contatocom os tipos 1, 2 e 3. Sabe-se que apessoa que teve dengue de um tipoadquire imunidade contra esse tipo,porém não para os demais. Portanto,a entrada deste novo tipo significa quetoda a população do Brasil está sujeitaa contrair a doença”, explica.

Qualificação edesenvolvimento

tecnológico

A Rede Dengue colabora com oPrograma Nacional de Controle daDengue e com municípios e estadosnas suas ações de controle da doen-ça. Também está na pauta do dia darede apoiar a qualificação de profissi-

Rede soma esforços contra a doençaMais de 80 projetos em dez unidades da Fiocruz estão ligados à rede, que busca articular competências

Ecoordenado por Patrícia Brasil, do Ins-tituto de Pesquisa Clínica Evandro Cha-gas (Ipec/Fiocruz), que trabalha emconjunto com o Centro de Saúde Es-cola Germano Sinval Faria e com o Ins-tituto Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz),monitorando a entrada do vírus na po-pulação e a velocidade com que se dis-semina no ambiente e estudandoclinicamente a sua gravidade na evo-lução da doença.

De acordo com o coordenador daRede Dengue, o médico José Augustode Britto, a Fiocruz está em fase dearticulação com países que já tem ex-periência clínica e epidemiológica comesse sorotipo. “A preocupação é gran-de, pois ao longo dos últimos 25 anos

A Rede Dengue colabora com o Programa Nacional de Controle da Dengue e com municípios e estados

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onais da saúde para o reconhecimen-to dos sinais de alarme, que devemser identificados precocemente paraque seja conferido o tratamento ade-quado e mortes evitáveis não acon-teçam. Paralelamente, a Fiocruzacompanha junto ao Ministério daSaúde a questão, sempre polêmica,do uso de bioinseticidas no controledo vetor da doença e investe esfor-ços na produção de vacinas contra avirose, reforçando o papel da Funda-ção como estrutura integrante do SUSno desenvolvimento tecnológico.

Um dos objetivos da Rede Den-gue é responder ao SUS se as pes-quisas realizadas na Fiocruz podematender às necessidades da popula-ção que sofre ou venha a sofrer coma doença. Hoje participam da redetodas as unidades da Fiocruz que pes-quisam dengue – localizadas noAmazonas, Rondônia, Pernambuco,Paraná, Bahia, Minas Gerais e Rio deJaneiro. Na última contabilização ha-via 81 projetos inscritos.

Britto explica que, em 2012, ma-peadas as competências da pesquisa,a rede buscará ampliar os esforços,evitando, por exemplo, a duplicidadede ações. “Vamos articular a interse-ção entre pesquisas complementarese induzir propostas e projetos que secomprometam com a saúde pública eo controle de uma doença que há 25anos castiga a população com suas re-correntes epidemias”, afirma.

Britto acrescenta que o trabalhodeverá ser articulado também com aspolíticas do Ministério da Saúde, con-tribuindo inclusive para a sua formula-ção. Também estão ligados, à RedeDengue Fiocruz, gestores do Ministé-rio da Saúde, os conselhos estaduais emunicipais de secretários de Saúde (Co-nass e Conasems), pesquisadores deuniversidades e de outros segmentos,como as secretarias de Educação.

“Estamos sempre abertos a au-mentar o número de parceiros, comofizemos recentemente com a organi-zação internacional Médicos semFronteiras, com a qual fizemos um cur-so de capacitação. Em breve, a Soci-edade Brasileira de Pediatria tambémdeverá entrar na rede”, diz Britto. Ou-

tro parceiro importante é a Coorde-nação de Programas Sociais da Fio-cruz, pois são realizadas ações deeducação em comunidades.

Expertise consagrada

A Rede de Ações Integradas deAtenção à Saúde no Controle da Den-gue (Rede Dengue) foi criada em 2009no âmbito da Vice-Presidência deAmbiente, Atenção e Promoção daSaúde, abrangendo as suas três áre-as de atuação e mais a pesquisa. Mas

a semente da rede é mais antiga ebrotou em 2003, com a destinaçãode recursos para o Programa de De-senvolvimento e Inovação Tecnológi-ca em Saúde Pública (PDTSP) parapromover a pesquisa e ações de con-trole da doença.

Na epidemia de 2008, quandomais de 30 mil casos foram notifica-dos na cidade do Rio de Janeiro, a Fio-cruz, pela sua expertise, foi convocadaa auxiliar o estado e o município nasações de controle, montando uma ten-da de hidratação para os pacientes,com resultados positivos. Desde então,a Fiocruz passou a funcionar como PoloSentinela e a trabalhar nas comunida-des do entorno do campus principal,em Manguinhos, que reúnem as ca-racterísticas e condições adequadas àexpansão da dengue. As experiênciasobtiveram resultados positivos e, apósuma oficina técnica realizada em fe-vereiro de 2009, decidiu-se instituir,como metodologia, uma rede para in-tegrar todas as ações das diversas uni-dades voltadas ao enfrentamento dadengue, iniciando com um projeto pi-loto no complexo de Manguinhos.

Rede Dengue na Rede

Em 2011, a Rede Dengue lançou seusite na internet, atualizado regularmentecom notícias sobre a doença no Brasil,novidades em pesquisa, informações so-bre projetos e atividades da rede, mate-rial didático, campanhas publicitárias,publicações para diferentes públicos, fo-tos e vídeos. Para conhecer a rede, visitewww.fiocruz.br/rededengue.