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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA DEPARTAMENTO DE SAÚDE LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA REABILITAÇÃO NEUROMUSCULAR DE LESÕES NO JOELHO: UMA PRÁTICA DOMICILIAR DESENVOLVIDA PELO PROFISSIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA INTEGRADO AO PROGRAMA DE SAÚDE DA FAMÍLIA (PSF) SIRLEY LIMA BARRETO FEIRA DE SANTANA 2004

Reabilitação neuromuscular de lesões no joelho

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Page 1: Reabilitação neuromuscular de lesões no joelho

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA

DEPARTAMENTO DE SAÚDE

LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA

REABILITAÇÃO NEUROMUSCULAR DE LESÕES NO

JOELHO: UMA PRÁTICA DOMICILIAR

DESENVOLVIDA PELO PROFISSIONAL DE

EDUCAÇÃO FÍSICA INTEGRADO AO PROGRAMA DE

SAÚDE DA FAMÍLIA (PSF)

SIRLEY LIMA BARRETO

FEIRA DE SANTANA

2004

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SIRLEY LIMA BARRETO

REABILITAÇÃO NEUROMUSCULAR DE LESÕES NO

JOELHO: UMA PRÁTICA DOMICILIAR DESENVOLVIDA

PELO PROFISSIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA

INTEGRADO AO PROGRAMA DE SAÚDE DA FAMÍLIA

(PSF)

Monografia apresentada ao curso de Educação Física da Universidade Estadual de Feira de Santana, em cumprimento parcial aos requisitos para a obtenção do grau de Licenciado em Educação Física. Orientador(a): Prof. Dra. Suzi de Almeida V. Barboni

FEIRA DE SANTANA

2004

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Minha dedicação é toda especial à meus pais, que sempre acreditaram em mim, até

quando nem eu mesma acreditava; que não pouparam esforços para que pudesse agora estar

concluindo mais uma etapa da minha vida.

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AGRADECIMENTOS

• À Jeová Deus, que criou essa inigualável máquina que é o ser humano, dotada das

mais singulares qualidades; • À Gil, Sid e Alex, que foram meus companheiros desde o início e me ajudaram

SEMPRE que precisei; • À Emília e Ilma, a quem eu sempre abusava, por morar mais próximo de mim; • À Neto, que entrou nas nossas vidas no meio do curso, mas que conseguiu ser tão

inesquecível quanto os outros; • Ao professor Torres, que me ajudou a ver que o basquete era realmente tudo de

bom, como eu já imaginava; • À minha orientadora Suzi, que com toda a sua paciência e otimismo, me ajudou a

construir essa monografia; • À quem eu considero meu co-orientador, Marcos Temístocles, que apesar de não tê-

lo abusado muito, sempre soube que podia contar com ele; • Aos meus colegas da Conexão Saúde que muitas vezes deixaram seus afazeres para

me substituir no trabalho enquanto corria atrás da monografia; • Ao meu esposo Fábio, que foi muito paciente e até me ajudou a comprar um

computador pensando especialmente na monografia; • Ao meu professor de basquete e amigo Kal, que sempre me dizia palavras de

encorajamento; • Aos meus colegas de basquete e, em especial, Cascia, Aline e Daiana, com quem eu

construí grande parte da minha vida; • Aos meus irmãos espirituais, com quem sei que poderei contar sempre; • À toda a minha família, que me apoiava com sua união; • À minhas colegas de república, que foram minha segunda família durante os quatro

anos que morei em Feira de Santana; • A todos os professores; • A todos os colegas com quem convivi, mesmo que por apenas um semestre; • A todos os funcionários do Parque Esportivo e do Colegiado, que sempre

mostraram ser nossos companheiros nessa caminhada.

Page 5: Reabilitação neuromuscular de lesões no joelho

RESUMO

O presente estudo mostra a importância do profissional de Educação Física na

reabilitação neuromuscular das lesões no joelho, de forma intradomiciliar, não-invasiva, de

baixo custo e integrado na equipe multiprofissional do Programa Saúde da Família(PSF).

Para tanto foi realizado um levantamento bibliográfico utilizando produções científicas

recentes, as quais foram analisadas e confrontadas. Diante dos achados, concluiu-se que o

profissional de Educação Física pode, e deve, integrar a equipe PSF, universalizando, dessa

forma, o acesso, a atividade física, cujo acesso encontra-se totalmente privatizado em FSA.

Com esta inclusão e garantido-se que seja realizada de forma segura sob a supervisão de

um profissional capacitado, a qualidade de vida pode ser melhorada, as seqüelas resultantes

das lesões podem ser minimizados, tendo seu tratamento barateado pela prática da atividade

física. Ressalte-se ainda, a possibilidade de atendimento individualizado, podendo dessa

forma haver melhores resultados, pela proximidade professor de Educação Física com o

paciente e com os outros profissionais da equipe.

Page 6: Reabilitação neuromuscular de lesões no joelho

SUMÁRIO

1.Introdução 7

1.1.Problema 11

1.2.Hipóteses 12

1.3.Estado do Tema 13

1.4.Justificativa 16

1.5.Objetivos 17

2.Metodologia 18

3.Desenvolvimento 19

3.1 Anatomia funcional e estrutural do joelho 19

3.1.1.Anatomia estrutural 19

3.1.2.Anatomia funcional 22

3.2.Principais lesões da articulação do joelho 24

3.2.1.Lesões por predisposição estrutural 24

3.2.2.Lesões por uso excessivo (microtraumáticas) 25

3.2.3.Lesões por trauma direto (macrotraumáticas) 29

3.2.4.Artrites 36

3.2.5.Artroses 37

3.3.Tratamento: reabilitação convencional de lesões no joelho e proposta de

terapêutica intradomiciliar 38

3.3.1.Atividades realizadas durante a reabilitação 39

3.3.2.Pratica intradomiciliar dos exercícios terapêuticos 44

3.4.Intervenção do profissional de Educação Física no Programa de Saúde da

Família 47

3.5.Terapêutica a ser desenvolvida pelo profissional de Educação Física 49

4.Conclusão 51

5.Anexos 53

6.Referências 54

Page 7: Reabilitação neuromuscular de lesões no joelho

1.INTRODUÇÃO

A articulação do joelho foi elaborada ao longo da evolução para dar mobilidade e

estabilidade ao corpo humano. Esta articulação alonga e encurta funcionalmente o membro

inferior, junto com o quadril e o tornozelo, suporta o peso do corpo quando o indivíduo está

em pé e é uma unidade funcional primária para a atividade de andar, subir e sentar.

Como o joelho é a articulação primária entre o quadril e o pé, problemas nessas

duas áreas irão interferir na função do joelho na marcha. Ainda devido a sua posição no

corpo humano, o joelho é bastante suscetível a lesões traumáticas por ser submetido

constantemente a esforços (já que se localiza entre os dois braços de alavanca, o fêmur e a

tíbia) e, não ser protegido por tecido adiposo nem por músculo. Esta apresentação tanto no

que se refere à posição anatômica, quanto a falta de proteção contribui para a alta

incidência de lesões que acometem a articulação. Essas particularidades fazem-se presentes

como fatores principais nas patologias que a comprometem, sejam elas de maior ou menor

gravidade.

O joelho precisa estar livre de dor e estável para a sustentação do peso do corpo e

marcha normal, desempenhando assim suas funções. Lesões traumáticas, agudas ou lesões

crônicas, deformidades congênitas e degeneração articular nessa região podem causar dor

intensa, instabilidade articular, grave deformidade, limitação de mobilidade ou limitação da

amplitude de movimento (que podem ser por instalação de hipotrofia muscular) causando

alteração na marcha e afastamento das atividades profissionais e/ou esportivas.

Uma das lesões mais comuns no joelho é o comprometimento de estruturas

ligamentares e meniscais, responsáveis pela estabilidade articular estática. Estas lesões

podem ser tratadas conservadoramente, através de tratamento clínico e fisioterápico, ou

cirurgicamente com posterior terapia.

Os tipos de procedimento médico e fisioterápico aos quais os pacientes eram

submetidos há alguns anos, quer por falta de um maior conhecimento científico da

complexidade articular, quer por escassez de recursos tecnológicos existentes, deixavam os

acometidos sujeitos a seqüelas, resultando em afastamento de suas atividades laborativas,

desportivas e/ou recreacionais.

Page 8: Reabilitação neuromuscular de lesões no joelho

Nos últimos 10 anos vem-se observando um número crescente de pesquisadores

preocupados com o desenvolvimento de técnicas que proporcionem maior estabilidade e

funcionalidade articular associado ao início precoce do tratamento fisioterápico a fim de

minimizar os danos à articulação, bem como no tratamento pós-cirúrgico.

As principais repercussões na artrocinética do joelho foram observadas em

pacientes submetidos a intervenção cirúrgica por comprometimento ligamentar, sobretudo

na reconstrução do ligamento cruzado anterior (LCA). Este fato também pode ser associado

ao encaminhamento tardio do indivíduo ao tratamento fisioterápico ou como na maioria das

vezes, devido ao desconhecimento dos processos cirúrgicos aos quais foram submetidos

não procurando tratamento fisioterápico adequado.

Lalonde (1974 cit. BARBONI, 2002) aponta como determinantes do processo

saúde-doença de uma população uma multiplicidade de fatores como: os biológicos ou

inalteráveis – herança genética, idade, sexo, etc. – , o estilo de vida ou comportamentos

autodeterminados e adquiridos no convívio social – tabagismo, dieta, sedentarismo, etc. –

os fatores ambientais ou ambiente físico, social e psíquico - poluição ambiental por agentes

químicos radioativos, tipo de inserção na força de trabalho, estresse, entre outros; e o

acesso ao serviço de saúde (ROUQUAYROL & ALMEIDA FILHO, 1999 cit. MACEDO,

2004).

As lesões do joelho podem estar relacionadas com alguns fatores, a exemplo das

causas genéticas (má formação), doenças e agravos (raquitismo, obesidade) e causas

externas (acidentes de trânsito, lesões ocupacionais ou pela prática de esportes e outros). O

somatório dos dois últimos indica que o indivíduo tem mais chance de desenvolver doenças

do aparelho locomotor quando agravado por outros fatores da modernidade, como o estilo

de vida.

Sendo as causas genéticas difíceis de serem controladas pelas tecnologias atuais, um

dos desafios para as políticas na área de saúde, e especificamente para o Programa Saúde da

Família (PSF), consiste não só na redução dos outros fatores, mas também promover sua

reabilitação.

Se os problemas genéticos e alguns acidentes são inevitáveis, inerentes a própria

vida urbana, e os meios para eliminá-los ainda não foram conquistados pela ciência, cabe

Page 9: Reabilitação neuromuscular de lesões no joelho

então a busca de políticas sociais para amparar a população acometida por estes problemas

de saúde.

Do ponto de vista ético, a maioria dos acidentes, pela magnitude com que

acontecem no Brasil e especificamente em Feira de Santana, poderiam ser evitados pelos

meios disponíveis, mas continuam acontecendo em grande número, gerando uma multidão

de mutilados e incapazes.

Diversos estudos têm mostrado que mesmo sendo bem conhecidas as doenças do

aparelho locomotor, estas persistem tendo como pano de fundo a falta de acesso ou acesso

tardio ao serviço de saúde, por diversos motivos.

Dessa forma, a condição para a recuperação da saúde dos indivíduos afetados

por lesões no aparelho locomotor, em especial no joelho, na conjuntura social-

econômica brasileira, pode estar relacionada a uma intervenção mais eficaz do serviço

público de saúde. Neste aspecto, PSF pode se constituir num excelente aliado para a

população, garantindo através da inserção do profissional de Educação Física na

equipe, a promoção e reabilitação da saúde, contribuindo de forma significativa por

meio da prática de atividade física, para a melhoria da qualidade de vida da

população.

A atividade física orientada por profissional capacitado é capaz de promover

modificações notórias no joelho, aumentando a autonomia dos afetados e influindo

também na auto-estima, não só por mecanismos fisiológicos, mas também, pela

influência de aspectos subjetivos, produzindo sensação de bem-estar e redução do

estresse psíquico, permitindo rápido retorno à rotina ativa.

Objetivando ampliar a discussão sobre a intervenção por parte dos Professores de

Educação Física no PSF na cidade de Feira de Santana, este projeto vem demonstrar essa

necessidade e propor meios para que esse profissional possa estar inserido na equipe

multiprofissional com trabalhos de forma integrada, aproximando-o do médico,

melhorando os resultados de sua intervenção quanto à atividade física e qualidade de

vida da população.

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Neste contexto, a proposta de atividade física orientada e diferenciada no PSF surge

como um elemento em oposição ao modelo clássico individual, medicalizado e ao alto

custo do tratamento.

Logo, se alguns dos movimentos do joelho podem ser reabilitados e a extensão de

algumas lesões podem ser controladas pela atividade física, é eticamente inadmissível que a

prevenção – a atividade física orientada e diferenciada – ou a reabilitação – não estejam

disponíveis para toda a população e muito menos que o acesso possa variar em função da

condição social do indivíduo. Diz-se isso porque as metodologias/tecnologias que podem

reabilitar a marcha dos acometidos, não só em Feira de Santana, mas na maioria das

regiões, são disponíveis para uns e não para outros, dependendo de sua condição social,

uma vez que são amplamente difundidas apenas em espaços privados como hospitais,

clínicas de fisioterapias e academias particulares.

Neste particular, ressalte-se o compromisso da Universidade Estadual de Feira de

Santana, e em especial do Departamento de Saúde, onde está alocado o Curso de

Licenciatura em Educação Física, o qual consiste em produzir, reproduzir e socializar

conhecimentos, formando profissionais com consciência de cidadania que promovam,

previnam, tratem e reabilitem em relação à saúde, tendo em vista o atendimento à

demanda social e contribuam para a melhoria da qualidade de vida

(www.uefs.br/uefs/saude/cursos.htm). Com isso, definiu-se a opção filosófica do

Departamento pela Saúde Coletiva (MORAIS, 2003).

Tendo em vista os dados aqui apresentados, este estudo monográfico justifica-se

considerando que o seu desenvolvimento não se limitará a só apresentar dados já existentes

na literatura, mas propor formas de intervenção, ratificando que o profissional de Educação

Física deve atuar juntamente com outros profissionais também inseridos no Programa de

Saúde da Família, na reabilitação da saúde.

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1.1. PROBLEMA:

Como o profissional de Educação Física pode contribuir para a reabilitação

neuromuscular de lesões no joelho em domicílio integrado ao Programa de Saúde da

Família?

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1.2. HIPÓTESES

� O profissional de Educação Física pode realizar a reabilitação neuromuscular de

lesões do joelho, tanto de forma conservadora como no pós-cirúrgico, por meio

de exercícios físicos que aumentem a amplitude de movimento do joelho sem

que este seja acompanhado de processo doloroso;

� A reabilitação neuromuscular de patologias do joelho realizadas em domicílio

podem ser feitos por um valor financeiro mais barato para o SUS do que nas

clínicas de fisioterapia;

� A inserção de um programa de reabilitação e reeducação da articulação do

joelho a ser desenvolvido pelo profissional de Educação Física integrado a

equipe do PSF contribui para a saúde coletiva;

� O currículo do Curso de Licenciatura em Educação Física da UEFS inclui

disciplinas que dão base para que o profissional formado possa integrar a equipe

PSF e esteja apto para realizar reabilitação neuromuscular .

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1.3.ESTADO DO TEMA

Ao contrário do que se imagina, as lesões de joelho são muito comuns e não são

provocadas apenas por traumas decorridos de atividade atlética, acidentes e crescimento da

população idosa(CAILLIET, 2001),podem ser também congênitas. Além disso, não são

apenas os atletas profissionais ou amadores que correm o risco de adquirir uma lesão no

joelho, os não-atletas também desenvolvem os mais variados problemas na articulação. Por

exemplo, cerca de 30% das crianças com idade a partir de três anos apresentam alguma

deformidade de joelho, cuja principal causa é a genética. Ou seja, são hereditários

(Moraes).

A medicina, também auxiliada pela engenharia, e a ergonomia tem proporcionado

uma melhor compreensão das funções do joelho, cujas lesões podem agora ser

Page 14: Reabilitação neuromuscular de lesões no joelho

reconstituídas com precisão e os danos resultantes aos tecidos podem ser melhor

entendidos(CAILLIET, 2001).

Com o advento da ressonância magnética para o diagnóstico preciso da gravidade

da lesão e dos procedimentos e equipamentos cirúrgicos, como a artroscopia (procedimento

minimamente invasivo, uma espécie de videocirurgia, que permite visualizar precisamente

as lesões nos tendões e articulações, além de tratá-las e prevenir a evolução das mesmas),

os índices de cura têm elevado significativamente, girando em torno de 90% dos casos.

Contudo, é preciso salientar a importância da fisioterapia no processo de recuperação das

lesões de joelho que dependem de intervenção cirúrgica. A fisioterapia é tão fundamental

quanto a cirurgia, é indispensável para o sucesso do tratamento. Além do mais,

o tratamento das lesões no joelho varia de acordo com a gravidade das mesmas e pode envolver desde antiinflamatórios, fisioterapia executada em clínicas especializadas e até, em alguns casos, procedimentos cirúrgicos; daí a importância de se realizar o diagnóstico preciso do tipo de lesão e, posteriormente a aplicação de tratamento adequado(MORAES).

Podem acontecer lesões isoladas ou combinadas e as mais comuns são: a lesão

cruzado anterior (LCA – que afeta o ligamento cruzado anterior, responsável pela

estabilidade do joelho “anteriormente”, não permitindo o movimento para frente) e a lesão

menisco medial (LMM). As mais graves são as combinadas LCA e LCP (lesão cruzado

posterior – que afeta o ligamento posterior, responsável pela estabilidade do joelho

“posteriormente”, não permitindo o movimento para trás), mais ligamentos colaterais,

localizados nas laterais do joelho, responsáveis pela estabilidade lateral e medial da

articulação. As chamadas deformidades dos joelhos varo (joelho para fora e perna para

dentro), e valgo (joelho para dentro e perna para fora, joelho em “X”) são os problemas

mais comuns congênitos e que se manifestam por volta dos três ou quatro anos de idade. O

joelho varo pode ser causado também pelo raquitismo – deficiência de vitamina D. É

importante chamar a atenção das mães para este tipo de problema, já que hoje existem

ferramentas na medicina que possibilitam o tratamento adequado, com excelentes

resultados(MORAES).

O diagnóstico das lesões causadas por traumas pode ser clínico com exame de

ressonância nuclear magnética e algumas vezes por via artroscópica (quando a cavidade

articular é analisada com a ajuda de um aparelho especial chamado artroscópio). As lesões

meniscais e de cartilagem (chamadas condrais) evoluem muito bem com a artroscopia, pois

Page 15: Reabilitação neuromuscular de lesões no joelho

é considerada menos agressiva e invasiva do que as cirurgias convencionais e possibilita a

prevenção de lesões tardias graves como artrose precoce, além de permitir recuperação

mais rápida(MORAES). Os esportistas estão mais sujeitos a lesões, dependendo da

modalidade esportiva. Os surfistas, por exemplo, sofrem mais com meniscos e ligamentos

rompidos devido à força aplicada em uma manobra, quando o joelho é forçado a um

movimento brusco de rotação. No voleibol, os saltos constantes e a impulsão vertical

provocam lesões na articulação do joelho. Os ciclistas reclamam com freqüência de dor nos

membros inferiores e isso se deve, geralmente, a lesões provocadas pela inadequação das

dimensões da bicicleta ao corpo do atleta. Além destas peculiaridades, as variações

anatômicas de quem pedala, a intensidade, a forma de treinamento e a duração dos treinos

também são responsáveis pelo problema. Importante destacar também que

O preparo físico e muscular é importantíssimo, tanto para atletas como não atletas. Alongar, caminhar, fazer teste ergométrico periodicamente e manter o peso com uma alimentação balanceada são alguns dos procedimentos que devem fazer parte da rotina de todos. É a melhor forma de manter uma vida saudável e livre de lesões(MORAES)

Já para os atletas profissionais, a exigência de preparo físico é muito maior e mais

freqüente. Mesmo assim, o calendário exaustivo dos campeonatos em grande parte das

modalidades favorece o aparecimento das lesões, apesar de todos os cuidados dos técnicos

e comissões esportivas.

O aumento da incidência de lesões no joelho tem sido constatado em adolescentes,

jovens, homens acima de 45 anos e mulheres, estas últimas porque estão praticando cada

vez mais esporte.

Page 16: Reabilitação neuromuscular de lesões no joelho

1.4.JUSTIFICATIVA

Tendo observado na prática diária o crescente número de pessoas, inclusive em

Feira de Santana, que são acometidas por patologias na articulação do joelho, por diversas

etiologias, surgiu a idéia de fazer essa pesquisa.

Page 17: Reabilitação neuromuscular de lesões no joelho

Além do aumento no número de casos, observei pelo levantamento bibliográfico

prévio que a terapia pode ser simplificada, não-invasiva e realizada intradomiciliar,

melhorando acessibilidade à reabilitação bem como reeducação da articulação do joelho.

Como há demanda populacional local e uma vez que o Programa de Saúde da

Família (PSF) já possui diversas equipes em Feira de Santana a proposta desta monografia

baseia-se na apresentação e na sistematização de um programa de reabilitação do joelho a

ser executado pelo profissional de Educação Física integrado a equipe PSF de forma

intradomiciliar, de baixo custo e incorporando pouca tecnologia.

Além disso, se constitui num avanço para o SUS, o atendimento intradomiciliar para

pessoas com dificuldade de locomoção, garantindo portanto, o preceito constitucional de

igualdade de direitos e acesso ao serviço público de saúde.

1.5.OBJETIVOS

� Apresentar as patologias que mais comumente acometem a articulação do joelho, bem

como as possibilidades de uma intervenção não-cirúrgica em tais casos;

Page 18: Reabilitação neuromuscular de lesões no joelho

� Identificar as vantagens da realização da reabilitação neuromuscular nas lesões do

joelho em domicílios;

� Demonstrar que os profissionais de Educação Física integrados a equipe do PSF podem

desenvolver um programa de reabilitação neuromuscular, muitas vezes não-invasivo e

de boa resolutividade das patologias do joelho;

� Reforçar a contribuição positiva de um programa de reabilitação no PSF;

� Discutir a reabilitação física como um dos campos de atuação do profissional de

Educação Física na equipe multidisciplinar do PSF.

2. METODOLOGIA

Esse estudo será realizado com base em Marconi e Lakatos (1996), sendo

considerada uma pesquisa de base bibliográfica cujo desenvolvimento se dará a partir de

Page 19: Reabilitação neuromuscular de lesões no joelho

material já publicado (fontes secundárias) relacionado à atividade física, que se constitui

principalmente de livros e artigos científicos, bem como de matérias localizadas na Internet.

Para tanto, serão selecionados livros da Biblioteca da Universidade Estadual de

Feira de Santana que trazem alguma abordagem relacionado ao tema da pesquisa e que

tiverem uma contribuição significativa a dar ao projeto. O mesmo procedimento será feito

com os artigos de periódicos científicos bem como aqueles encontrados por meio de

pesquisas na Internet (Portal da CAPES).

Depois de selecionadas as fontes documentais que contribuirão para a construção da

monografia, serão feitos os fichamentos para posterior análise e confronto de dados; a partir

dos dados obtidos é que se montará um esboço de proposta deste estudo.

Apesar de ser baseada em artigos já elaborados, a pesquisa bibliográfica “não é

mera repetição do que já foi dito ou escrito sobre o assunto, mas propicia o exame de um

tema sob um novo enfoque ou abordagem, chegando a conclusões inovadoras” (MARCONI

& LAKATOS, 1996).

.

3. DESENVOLVIMENTO

3.1.ANATOMIA FUNCIONAL E ESTRUTURAL DO JOELHO

Page 20: Reabilitação neuromuscular de lesões no joelho

A articulação do joelho é uma estrutura bastante complexa e muito vulnerável aos

mais diversos tipos de lesões, isso devido ao fato de suas superfícies serem anatomicamente

incongruentes, com a presença de meniscos, estruturas ligamentares intrínsecas e

alinhamento dos tendões musculares. Devido a essa complexidade é importante entender de

anatomia funcional normal do joelho e avaliação do desvio da normalidade para

compreender suas patologia.

3.1.1.ANATOMIA ESTRUTURAL

A articulação do joelho é considerada a articulação de maior complexidade do corpo

humano, visto ser formada por duas articulações estrutural e funcionalmente diferentes: a

articulação tibiofemoral e patelofemoral.

Articulação tibiofemoral: componentes ósseos

A articulação tibiofemoral é constituída pela extremidade distal do fêmur e pela

extremidade proximal da tíbia. A extremidade distal do fêmur possui duas superfícies

condilares, em forma de cela, convexas e assimétricas, revestidas por cartilagem separados

por uma fossa intercondilar; essa fossa é profunda e larga, do tamanho aproximado de um

polegar.

A superfície tibial possui duas concavidades, as quais são opostas aos côndilos

femorais, mesmo assim, seu encaixe não é perfeito, visto que as superfícies articulares

côncavas são mais rasas que as superfícies articulares convexas, além de haver diferenças

nas suas curvaturas.

Page 21: Reabilitação neuromuscular de lesões no joelho

Uma articulação é considerada uma “articulação congruente verdadeira” quando as

curvas que participam da articulação se encaixam perfeitamente umas as outras e não há

necessidade de lubrificação da sinóvia, ao passo que um grau de incongruência deve mover

o lubrificante para cada lado da articulação, como acontece na articulação do joelho, onde o

suporte maior é dado pelos ligamentos enquanto os músculos ficam responsáveis pela ação

cinética.

A congruência da articulação tibiofemoral só é alcançada pela inserção de meniscos

entre os côndilos femorais e o platô tibial. Esses meniscos são formados de fibrocartilagem

em formato de cunha cuja função mecânica é promover segurança na distribuição de

pressão entre o fêmur e a tíbia. A medida que proporcionam uma articulação mais

congruente, ajudam também a lubrificar a articulação (CAILLIET, 2001).

Devido à incongruência da articulação, o joelho possui pouca estabilidade; embora

os meniscos melhorem a estabilidade estática, eles não tem efeito no componente cinético;

os músculos concedem movimento mas pouco contribuem para sua estabilidade; a cápsula

atua essencialmente para conter o liquido sinovial nutriente mas também não contribui

muito para a estabilidade. O papel estabilizador é desempenhado principalmente pelos

ligamentos, tanto na forma estática como na forma cinética do movimento.

Os ligamentos são um tipo de tecido conjuntivo que se assemelham em estrutura e

em função aos tendões, embora a disposição do componente das fibras seja mais irregular

que nos tendões. “Devido a sua composição, os tendões podem ser restaurados mais

rapidamente e recuperam-se melhor de lesões do que os ligamentos; os tendões costumam

ser empregados na substituição cirúrgica de ligamentos lesionados” (CAILLIET, 2001).

Os ligamentos cruzados são considerados mais importantes que os ligamentos

laterais para assegurar um funcionamento normal (CAILLIET, 2001). Há dois ligamentos

cruzados: o ligamento cruzado anterior (LCA), que é mais freqüentemente envolvido na

deficiência, e o ligamento cruzado posterior (LCP).

Esses ligamentos são bastante resistentes, situam-se dentro da articulação e se

encontram formando a letra X: O LCA insere-se adiante da eminência intercondilar da

tíbia, unindo-se com a extremidade anterior do menisco lateral e dirige-se para trás, onde se

fixa na parte posterior da face medial do côndilo lateral do fêmur; já o LCP, mais curto,

Page 22: Reabilitação neuromuscular de lesões no joelho

insere-se na fossa intercondilar posterior da tíbia e dirige-se para a parte anterior da face

medial do côndilo medial do fêmur

Vários músculos atuam no sentido de mover e estabilizar o joelho e fazem parte

desse grupo: extensor anterior, flexor posterior, adutor medial e abdutor lateral.

O principal grupo extensor é o quadríceps femoral, formado pelo reto femoral e os

três vastos (lateral, medial e intermédio). Cruzando a articulação do quadril, o reto femoral

exerce forças flexoras.

Articulação patelofemoral

A patela é um osso sesamóide que se acha inserido no tendão do quadríceps.

A parte interna da patela é coberta por cartilagem e desliza sobre a cartilagem da

fossa intercondilar femoral, assim como a articulação tibiofemoral, a articulação

patelofemoral é incongruente.

O músculo sartório e o tensor da fáscia lata também fazem parte do grupo muscular

anterior da coxa.

O músculos da parte posterior da coxa são designados de músculos isquiotibiais e

divide-se em grupos medial e lateral. O grupo medial é formado pelos músculos

semimembranoso e semitendinoso. O bíceps femoral é o principal músculo lateral do grupo

isquiotibial. O músculo poplíteo também é flexor do joelho, mas muito fraco.

Os músculos posteriores da panturrilha são formados pelo gastrocnêmio e pelo

sóleo. O primeiro nasce de duas cabeças achatadas e tendinosas descendo para a perna e

unindo-se ao músculo sóleo.

“As bursas em geral se localizam em locais de tecido móvel a fim de permitir a ação

sem fricção e de diminui o atrito e a inflamação desses tecidos contíguos” (CAILLIET,

2001). Existem, pelo menos, 11 bursas na região da articulação do joelho.

3.1.2.ANATOMIA FUNCIONAL

Page 23: Reabilitação neuromuscular de lesões no joelho

Para compreender as patologias e o tratamento adequado é necessário compreender

a anatomia funcional normal do joelho e como avaliar o desvio da normalidade, “A maneira

como o joelho funciona estabelece o modo pelo qual a lesão, a deficiência, a identificação e

o tratamento são determinados” (CAILLIET, 2001).

Tanto no movimento de flexão como no movimento de extensão existe uma rotação

do joelho. durante a flexão a tíbia roda internamente sobre o mesmo eixo e, durante a

extensão, roda externamente sobre o mesmo eixo. Esse movimento de rotação é devido a

incongruência da articulação, que possui uma diferença no comprimento das superfícies

articulares dos côndilos femorais e seus correspondentes côndilos laterais.

Quando há extensão completa do joelho, os ligamentos colaterais medial e lateral

ficam tensos, não permitindo rotação da tíbia nem movimento em varo ou valgo.

O ligamento cruzado anterior (LCA) é quem limita a rotação interna e a rotação

externa; por isso, a insuficiência do LCA é considerado a causa mais comum de

instabilidade no joelho,que leva à osteo-artrite pós – traumática (CAILLIET, 2001)

Lesões de LCA precisam ser tratados não só com substituição e fortalecimento dos

ligamentos remanescentes, mas também com treinamento de coordenação muscular, já que

o tendão reparado ou substituído encontra-se sem nervos aferentes.

Os meniscos inserem-se essencialmente na tíbia e a articulação consiste nos espaços

meniscofemoral e menisco tíbial.

Os principais músculos que agem na articulação do joelho são as quatro cabeças do

quadríceps femoral e o grupo posterior de músculos, predominantemente os isquiotibiais.

No movimento de extensão, os últimos 15° são os mais importantes para estabilizar

a articulação do joelho, pois o quadríceps necessita de 60° a mais de força. Acreditava-se

que o vasto medial era o responsável pelos últimos graus de extensão pois era o mais

atrofiado e último a recupera-se após uma lesão de joelho. Hoje sabe-se que ele atua em

toda a amplitude de movimento, com mais intensidade nos últimos graus. Essa atrofia é

devido a esse músculo ser acentuadamente obliquo e superficial. Considera-se atualmente

que o alinhamento horizontal do vasto medial evita que a patela deslize em sentido lateral.

(CAILLIET, 2001).

Page 24: Reabilitação neuromuscular de lesões no joelho

Quando há relato de dores na articulação do joelho costuma haver uma dificuldade

maior em contrair o músculo quadríceps, resultando em atrofia.

Esses fatores de inibição e excitação são importantes na prescrição de exercícios:

exercícios com peso, por exemplo, podem agravar a dor. Nesse caso, seria interessante

realizar exercícios sem suporte do peso, de preferência, começando com isometria, depois

com ativos assistidos, ativos, e então, resistidos(CAILLIET, 2001).

O alinhamento da patela dentro da fossa femoral pode resultar em patologias e

deficiências.

3.2.PRINCIPAIS LESÕES DA ARTICULAÇÃO DO JOELHO

As principais causas de dor na região anterior do joelho têm sido relacionada às

patologias da articulação patelofemoral (CAILLIET, 2001). Algumas das causas mais

Page 25: Reabilitação neuromuscular de lesões no joelho

comuns de dores na articulação do joelho são: lesão por predisposição estrutural e lesões

traumáticas.

3.2.1.LESÕES POR PREDISPOSIÇÃO ESTRUTURAL

Genuvalgo

É a deformidade que se caracteriza pela aparência de joelhos muito juntos( em

forma de tesoura ou em forma de X). Consiste em uma angulação medial do joelho e desvio

para fora do eixo longitudinal da tíbia e do fêmur.(ARAGÃO, 2002)

Essa deformidade, quando aparece em crianças de 2 a 6 anos, costuma ser corrigido

espontaneamente; alguns médicos recomendam o uso de aparelhos.

No genu valgo ocorre também uma frouxidão do ligamento colateral medial do

joelho.

Genuvaro

É a deformidade que se caracteriza pelo arqueamento dos membros inferiores.

Também conhecida como “pernas de cowboy”, consiste numa angulação externa da

articulação do joelho, com o eixo do fêmur e da tíbia desviando-se

medialmente.(ARAGÃO, 2002)

3.2.2.LESÕES POR USO EXCESSIVO (MICROTRUMÁTICAS)

Condromalácia patelar

Page 26: Reabilitação neuromuscular de lesões no joelho

É um processo degenerativo ou amolecimento da cartilagem hialina na superfície

posterior da patela(TEMÍSTOCLES). Essa cartilagem é muito pouco vascularizada e sua

recuperação fica prejudicada.

Pode ser causada não só por impactos repetitivos; outros fatores que predispõem o

aparecimento dessa condição incluem: músculos do quadríceps enfraquecidos, observado a

hipotrofia do Vasto Medial Oblíquo(VMO); fratura de patela; aumento do ângulo Q; patela

luxável; patela protrusa; geno valgum; alterações da fossa troclear; o uso excessivo de salto

alto também pode ser um agravante

Os sintomas mais comuns são dor ao levantar e ao agachar, dor quando a patela é

comprimida contra o fêmur e estalos durante a flexão e a extensão do joelho.

O tratamento é realizado com a administração de analgésicos, fortalecimento do

quadríceps com ênfase no VMO, alongamento de isquiotibiais e banda iliotibial e

propriocepção.

Síndrome da dor patelo-femoral

A síndrome da dor patelo-femoral é caracterizada por dores na região medial,

lateral, retropatelar ou peripatelar e descrita como uma dor difusa, sutil e latejante, que é

agravada com o aumento da força de compressão na articulação, como subir e descer

escadas ou agachar-se(SILVA).

A causa não é totalmente conhecida, mas alguns fatores parecem influenciar:

sobrecarga constante, anormalidades ósseas, insuficiência do quadríceps, falta de

flexibilidade de isquiotibiais, mau alinhamento do membro inferior, entre outros.

Tendinite patelar( joelho do saltador)

Page 27: Reabilitação neuromuscular de lesões no joelho

É decorrente do uso excessivo do mecanismo patelofemoral como as forças

resultantes da aceleração e da desaceleração nas atividades de salto. A patologia está no

tendão ósseo do mecanismo patelar, dentro dos ligamentos supra e infrapatelares e na

inserção do tubérculo. Na verdade, não é uma tendinite (não há inflamação), pois não há

ruptura das fibrilas do tendão.(CAILLIET, 2001)

Ocorre quando há inflamação do tendão infrapatelar que, dependendo do grau, que

varia de 1 a 4, pode evoluir de pequena sensação dolorosa até a incapacidade.

No tratamento, o repouso total deve ser evitado, pois retarda o processo de

proliferação e remodelação do tendão( SOARES, 2000 cit. TEMÌSTOCLES).

Síndrome do atrito na banda íliotibial

Quando o tensor da fáscia lata desenvolve tensão para auxiliar na estabilização da

pelve, isso aumenta o atrito entre o trato iliotibial e o côndilo lateral do fêmur durante a

flexão/extensão, podendo resultar em sintomas de dor e aumento da sensibilidade na face

lateral do joelho. A irritação associada ao desgaste pode causar inflamação de uma bolsa

adjacente à banda iliotibial no epicôndilo femoral lateral.

Os sintomas mais comuns são dor, principalmente durante a corrida(por isso

também é conhecida como Joelho de Corredor), aumento da sensibilidade e inflamação

local. Geralmente caminhar resolve os sintomas, mas a dor retorna rapidamente quando o

atleta volta a correr

O tratamento é realizado com a administração de analgésicos, gelo, DAINE,

redução do esforço e alongamento da banda iliotibial(SCHENCK, 2003).

Tendinite do quadríceps

Page 28: Reabilitação neuromuscular de lesões no joelho

Caracterizada como uma dor na inserção do tendão proximal a patela. Possíveis

predisposições para esta condição podem incluir a rigidez do quadríceps e músculos

posteriores da coxa.(SCENCK, 2003)

O tratamento realizado para a tendinite do quadríceps é o mesmo para a tendinite

patelar; deve-se ter repouso das atividades de alto impacto, realização de exercícios de

baixo impacto, alongamento dos músculos posteriores da coxa; se o tratamento conservador

não for bem sucedido, faz-se uma IRM para determinar se alguma parte do tendão está

modificada

Fraturas patelares por estresse ou por fadiga

Esse tipo de fratura resulta de uma falha existente no equilíbrio ósseo normal por

causa de microtrumas repetitivos ou por causa de uso excessivo, combinado ao repouso

inadequado.

Geralmente o paciente relata dor na região anterior do joelho que aumenta com a

atividade e reduz no repouso.(SCENCK, 2003)

Os exercícios de baixo impacto, como natação e ciclismo, podem ser realizados

desde que não causem dor.

Lesões na cartilagem

Além das lesões que ocorrem por uso repetitivo, as lesões ligamentares também

contribuem para que ocorram a chamada artrite por desgaste ou osteoartrite, ambas formam

pequenas ou grandes fendas nas superfícies do fêmur, tíbia e patela. Há dor, inchaço,

crepitação e travamento. Os danos podem ser superficiais, não cicatrizam e não progridem,

caso seja na área onde não participa da sustentação do peso; profundas , se estendem para

abaixo do osso subcondral, não cicatrizam, progredindo para osteoartrite; osteocondrais ,

Page 29: Reabilitação neuromuscular de lesões no joelho

que passa pelo osso subcondral podendo cicatrizar por inflamação.(PETERSON e

RENSTRÖM, 2002 cit. SANTOS, 2004)

O tratamento é a redução dos exercícios, fortalecimento da musculatura da

coxa e antiinflamatórios.Só haverá cirurgia quando houver desbridamento

(estimulação da reparação fibroblástica , ou seja, infiltração de células na área

defeituosa) de cartilagens soltas e de retalhos cartilaginosos que interferem na função

articular.(SANTOS, 2004)

Bursite

Ocorre quando a bursa (saco cheio de fluido lubrificante que reduz o atrito entre

dois diferentes tipos de tecido, como tendão e osso) fica inflamada(TEMÍSTOCLES).

A bursite causa dor em torno da lesão, provocando uma dificuldade no movimento;

pode também causar edema local e, às vezes, febre.

Há 4 tipos principais de bursite bursite pré-patelar, bursite infrapatelar subcutânea,

bursite infrapatelar profunda e a bursite suprapatelar.( SANTOS, 2004)

O alongamento e aquecimento local antes da prática de atividade física pode ajudar

na prevenção.(AGENDA SAUDE)

O diagnóstico é feito através de exame físico e história da lesão.

O tratamento é baseado em antiinflamatórios.

Osteocondrite dissecante

É uma condição dolorosa do joelho onde há fragmentação da cartilagem articular;

este fragmento pode estar parcial ou completamente separado do osso remanescente,

tornando-se um corpo estranho dentro da articulação. ( CAILLIET, 2001). Ocorre mais

comumente em crianças e adolescentes do sexo masculino(osteocondrite juvenil) ou em

Page 30: Reabilitação neuromuscular de lesões no joelho

adultos(osteocondrite dissecante). Inicialmente, a dor é contínua e mal localizada durante

e após exercícios, a rigidez pode ser agravada e o joelho pode travar.

O tratamento é feito com imobilização ou, em alguns casos, com intervenção

cirúrgica. A fase final consiste na recuperação da força muscular e mobilidade articular,

com prioridade para os músculos do quadríceps(TEMÍSTOCLES).

Lesão no músculo-tendão do bíceps femoral distal

É ocasionada por aterrissagem e saltos repetitivos, causando lesão na junção

músculo-tendão ou na inserção do tendão à cabeça da fíbula; pode ainda gerar fragmentos

ósseos e ser combinada com lesão de LCL. Os sintomas mais comuns são inchaço e

dor.(SANTOS, 2004)

Assim, o tratamento consistirá basicamente de exercícios de força, alongamentos,

antiinflamatórios e imobilização.

Já a cirurgia será efetuada apenas se houver ruptura completa.

3.2.3.LESÕES POR TRAUMA DIRETO (MACROTRAUMÁTICAS)

Lesões de ligamento são bastante comuns quando ocorre algum tipo de traumatismo

na articulação do joelho. Os principais ligamentos da articulação do joelho são mostrados

na figura que segue:

Fonte: http://www.fisionet.com.br/anatomia.asp?page=1&cat=36

Lesão no ligamento cruzado anterior

Page 31: Reabilitação neuromuscular de lesões no joelho

A ruptura do ligamento cruzado anterior(fig. A) é geralmente ligada a atividade

esportiva.

Essa ruptura é geralmente observada quando o quadríces é fortemente contraído; um

estalo pode ser percebido acompanhado de uma sensação de deslocamento; observa-se

também dor e inchaço de intensidade variável.(ORTOPEDIE.COM) Para comprovar uma

ruptura de LCA costuma-se usar o teste de Lachman-Trillat.

No tratamento da ruptura ou lesão total do LCA pode-se utilizar da intervenção

cirúrgica, embora possa ser feito apenas tratamento conservador em alguns casos,

principalmente em pacientes mais idosos sem ambição de praticar esportes.

A RM(Ressonância Magnética ) é o exame mais confiável para o diagnóstico da

ruptura dos ligamentos e das lesões meniscais.

No caso de necessitar de intervenção cirúrgica, o primeiro passo pós-cirurgia é o

trabalho neuromuscular, que pode ser feito através de reeducação proprioceptiva( ajuda a

prevenir a reruptura) e alongamento associado à musculação.(ORTOPEDIE.COM) A

reabilitação após a reconstrução do ligamento cruzado anterior inclui o ganho de amplitude

de movimento completa rapidamente no pós-operatório. Exercícios de cadeia cinética

fechada são realizados, como o leg press e bicicleta. Inicialmente exercício de cadeia aberta

são evitados. Aproximadamente 90% dos pacientes terão um joelho normal após a

reconstrução.(MEDICINA DO ESPORTE)

Figura A

Fonte: www.ortopedie.com/br/ligamento_cruzado_anterior

Lesão no ligamento cruzado posterior

É uma lesão menos comum, acontece com uma queda sobre a tíbia proximal

anterior com o pé em flexão plantar, ou um golpe direto no mesmo local. É uma lesão

muitas vezes assintomática, não afetando a estabilidade do joelho, e o diagnóstico da lesão

não é realizado; somente 2 semanas depois aparecem os sintomas, como dor anterior no

Visão anterior (*) do joelho em flexão (sem a “rotula”-patela- ): ligamento cruzado anterior em

vermelho

Page 32: Reabilitação neuromuscular de lesões no joelho

joelho, efusão leve, dificuldade de desacelerar e correr devido a subluxação na

tíbia.(SANTOS, 2004)

Cuidadoso exame do joelho, verificando se a tíbia não está subluxada

posteriormente é essencial ao diagnóstico. O teste da gaveta posterior é útil. Lesões

combinadas do ligamento cruzado posterior, ligamentos colaterais e do ligamento cruzado

anterior podem ocorrer e deve ser considerada a possibilidade de ter havido luxação do

joelho.(MEDICINA DO ESPORTE)

O tratamento conservado da lesão do ligamento cruzado posterior é recomendado na

maioria das lesões. Alguns autores recomendam a reconstrução em lesões isoladas quando

se demonstra uma instabilidade posterior maior que 15mm. O fortalecimento do músculo

quadríceps pode compensar a perda deste ligamento, e alguns atletas podem continuar as

suas atividades. Pacientes com instabilidade sintomática depois da reabilitação são

candidatos à cirurgia.(MEDICINA DO ESPORTE)

Lesão no ligamento colateral medial

Acontece com um golpe direto na lateral do joelho com o pé fixo no solo, ou

seja, uma força valga, ou essa mesma força sobre o joelho com a tíbia em rotação

externa com pé no solo.(SANTOS, 2004)

Nas lesões isoladas deste ligamento o paciente apresentará edema localizado,

dor ao estresse em valgo e ausência de hemartrose.

É importante examinar todos ligamentos e meniscos do joelho quando se suspeita de

lesão do ligamento colateral medial, pois podem haver lesões associadas.

Sua ruptura pode ocorrer em dois pontos: femoral ou tibial , o jogador sente a

dor medial, consegue realizar a extensão, caso a ruptura não tenha ocorrido na

origem femoral ou se não houve ruptura do ligamento cruzado anterior .Será

realizado o Teste de Lachman ou Gaveta Posterior para observar se há lesões

combinadas com os ligamentos cruzados

Page 33: Reabilitação neuromuscular de lesões no joelho

Se a lesão for isolada, o tratamento consiste na mobilização precoce e

fortalecimento. Um brace estabilizando o valgo pode ser útil. Tratamento cirúrgico

destas lesões é raramente necessário.(MEDICINA DO ESPORTE)

Lesão no ligamento colateral lateral

Lesões deste ligamento são menos comuns que o medial, pois tem que haver um

golpe na região medial do joelho; geralmente são mais graves e raramente são lesões

isoladas, pois os ligamentos cruzados e o complexo postero-lateral é freqüentemente

lesionado.(MEDICINA DO ESPORTE)

O tratamento destas lesões é difícil. Em lesões combinadas, o complexo postero-

lateral, incluindo o ligamento colateral lateral deve ser reparado e os ligamentos cruzados

reconstruídos.

Deve-se realizar um Teste de estresse em varo em 30º de flexão. O tratamento deve

ser conservador, quando afeta somente o LCL, mas quando atinge o complexo lateral, deve

haver a cirurgia, mesmo não havendo bons procedimentos de reconstrução.(SANTOS,

2004)

Lesão no menisco

Geralmente, ou ruptura dos meniscos só ocorre quando estes estão submetidos a

pressão o tração anormal.(RICKLIN, 1981)

Ricklin(1981) tentou explicar o mecanismo de ruptura dos meniscos da seguinte

maneira: o menisco( fig. B), ao se deslocar para o interior da articulação, seria aprisionado

e esmagado por uma espécie de pinça formada pelos côndilos do fêmur e da tíbia; quando

submetido a forças intensas, esse menisco se partiria em sentido longitudunal, deslocando-

se todo, ou em parte, para o interior da articulação. Alguns fatores predispõem a essa

Page 34: Reabilitação neuromuscular de lesões no joelho

ruptura:constituição e variações morfológicas congênitas, lesões dos ligamentos, alterações

degenerativas, atividades específicas.

O tratamento conservador das lesões dos meniscos depende do tipo das alterações

encontradas no exame clínico

É importante que o treino muscular do quadríceps comece durante a fase de

imobilização para prevenir a atrofia muscular.(RICKLIN, 1981) Os movimentos ativos

cuidadosos podem começar logo após a retirada do aparelho de gesso ou alguns dias após o

acidente(nos casos em que não haja necessidade de imobilização)

Figura B

Fonte: http://www.fisionet.com.br/anatomia.asp?page=1&cat=36

Sinovite

Page 35: Reabilitação neuromuscular de lesões no joelho

A sinovite, geralmente causada por traumatismos, pode ser também ser causada por

uso excessivo.

O que ocorre é uma lesão na membrana sinovial, fazendo com que cause um

gradiente de pressão dentro da articulação devido ao extravasamento do liquido sinovial;

assim, devido ao trauma, as suas enzimas lisossômicas quebram o ácido que possui,

reduzindo a sua viscosidade protetora. Nos sintomas, o jogador sente a presença de liquido

na articulação, espasmos, dor e limitação dos movimentos, portanto o tratamento é através

do fortalecimento do quadríceps, calor e aspiração do liquido.(SANTOS, 2004)

Ruptura do tendão patelar e do quadríceps

Ocorre geralmente em tendões que já se encontravam em processos degenerativos,

assim quando realizam um movimento que o force a realizar uma distensão, ou seja, um

alongamento além do permitido pelo seu limite, acarreta em uma ruptura. O paciente sente

um estalo, dor, não consegue se movimentar, inchaço.(SANTOS, 2004)

Ruptura aguda completa do tendão deve ser reparada cirurgicamente. Se não tratada,

ocorrerá migração proximal e encurtamento do quadríceps. O reparo produz excelentes

resultados. Após o reparo imobiliza-se o joelho em extensão.(MEDICINA DO ESPORTE)

O tratamento é feito com gelo, repouso, exercícios (com aumento gradual da

intensidade), imobilização e antiinflamatórios. A cirurgia só se mostra necessária se os

sintomas persistirem .

Luxação no joelho

Considerada uma das lesões mais graves no joelho no ambiente atlético; é uma

situação emergencial devido ao potencial de rupturas vasculares (devido a proximidade da

artéria poplítea com a tíbia proximal pode haver obstrução do fluxo arterial com a

luxação).(SCHENCK, 2003)

Page 36: Reabilitação neuromuscular de lesões no joelho

O mecanismo de lesão é parecido com o da ruptura do LCP , mas com

aplicação de uma força maior que termina lesionando normalmente o LCA , LCP e

estruturas capsulares, no momento o atleta não consegue ficar em pé. Realizam Teste

de Extensão e Flexão dos dedos dos pés para testar os ramos fibular e tibial do nervo

ciático. Se o suprimento sangüíneo estiver comprometido para a extremidade do

membro inferior, devera haver cirurgia. O retorno ao esporte acontece dentro de 9-12

meses.(SANTOS,2004)

O tratamento inicial consiste de exercícios de fortalecimento muscular do vasto

medial, exceto na luxação traumática aguda, que pode ser tratada cirurgicamente

para reconstruir os estabilizadores mediais rompidos(BARROS).

Fraturas osteocondrais

A Luxação patelar que ocasiona fratura no côndilo femoral e também

fratura medial na faceta patelar é uma das causas, podendo ser por meio de uma

queda na superfície dura com o pé em dorsiflexão, assim ambas causando travamento,

crepitações e efusões.

O tratamento consiste na imobilização do joelho, aplicando-se

compressa fria no inchaço e utilizando-se da fisioterapia se não houver nenhum

bloqueio mecânico, pois os corpos livres são absorvidos pela sinóvia do joelho e

reabsorvidos. Se houver algum bloqueio e crepitação, realiza-se uma

artroscopia.(SANTOS, 2004)

3.2.4.ARTRITES

É uma doença sistêmica , um distúrbio inflamatório do tecido conjuntivo com

envolvimento primário das membranas sinoviais(CAILLIET, 2001).

Page 37: Reabilitação neuromuscular de lesões no joelho

A artrite é mais comum em mulheres de meia idade, mas pode afetar qualquer

pessoa; histórico de artrite na família, fumo, obesidade e um histórico de transfusões de

sangue são fatores de risco significativos.

O diagnóstico da artrite reumatóide são observados: (1)rigidez matutina, (2) dor no

movimento articular, (3) tumefação simétrica das articulações, (4) nódulos subcutâneos, (5)

alterações típicas observadas nas radiografias e (6) teste positivo para o fator

reumatóide(CAILLIET, 2001).

O tratamento da artrite costuma envolver uma combinação de remédios, exercícios e

mudanças no estilo de vida. Os programas de exercícios podem envolver exercícios

isométricos, aeróbicos e isotônicos (DESPERTAI, 2001). A perda de peso pode reduzir

significativamente a dor nas articulações.

Não existe um remédio que cure a artrite, apenas aliviar seus sintomas debilitantes

3.2.5. ARTROSES

É a doença articular mais freqüente e a cartilagem é o tecido inicialmente afetado;

há também uma deficiência funcional(CAILLIET, 2001). A cartilagem está aderida à

superfície dos ossos que se articulam entre si.

A osteoartrite( sinônimo de artrose) tem inicio quando alguns constituintes protéicos

modificam-se e outros diminuem em número ou tamanho. Esse processo é acompanhado da

liberação de enzimas que provocam uma reação inflamatória no local (ABC DA SAÚDE,

2003).

Devido a reação inflamatória, todos os elementos da articulação sofrem hipertrofia;

o grau de comprometimento pode variar, podendo evoluir até a destruição da articulação ou

estacionar logo no início.

O paciente relata desconforto articular, dor e limitação do movimento.

A partir dos 50 anos aumenta muito a prevalência, e são mais freqüentes em

obesos(no caso da osteoartrite do joelho); o diabetes e o hipotireoidismo também

favorecem o desenvolvimento da artrose(ABC DA SAUDE, 2003).

Page 38: Reabilitação neuromuscular de lesões no joelho

A dor no joelho osteoartrítico tem sido tratada com antiinflamatórios. Para manter a

nutrição e a regeneração da cartilagem lesada, é necessária a compressão-relaxamento

alternada da cartilagem do joelho. A caminhada deve ser encorajada, mas modificada,

dependendo do estágio da degeneração, é comum haver redução na velocidade da

marcha(CAILLIET, 2001).

3.3.TRATAMENTO: REABILITAÇÃO CONVENCIONAL DE LESÕES NO

JOELHO E PROPOSTA DE TERAPÊUTICA INTRADOMICILIAR

Ultimamente tem sido desenvolvido e aperfeiçoado novos programas de

reabilitação, proporcionando uma recuperação cada vez mais rápida e eficiente.

Na avaliação da deficiência é que é determinado o tecido ou tecidos responsáveis

pela deficiência do movimento e os seus graus de envolvimento para posterior seleção de

técnicas de tratamento específicas. Dependendo da lesão, o tratamento pode ser direcionado

à cápsula, unidade musculotendinosa ou a ambos. A seleção das técnicas adequadas de

tratamento vai ampliar ao máximo os resultados. Resultados positivos podem ser medidos

através de um aumento na amplitude de movimento sem que este seja acompanhado de dor

ou efusão (GOULD ,1993).

Os traumas em geral costumam causar rigidez na articulação os e músculos se

tornam mais fracos, e é muito mais incapacitante ter articulação rígida do que ter os

músculos fracos, visto que a função dos músculos não é só mover a articulação, mas

protegê-la. Por isso, o paciente deve recuperar primeiro a força muscular e então aumentar

a amplitude do movimento articular sob o controle dos músculos(WILSON, 1978).

Schenck(2003) classifica em quatro as fases de reabilitação do joelho.

A primeira fase envolve o tratamento pós-traumático ou pós-operatório; esta fase

pode envolver a proteção do joelho através de imobilização, utilização de órteses protetoras

e restrições na carga de peso até que o paciente possa andar sem mancar.

Page 39: Reabilitação neuromuscular de lesões no joelho

A fase 2 visa restabelecer a amplitude de movimento e a mobilidade da articulação.

Os exercícios de resistência são realizados para manter ou restabelecer o condicionamento;

a propriocepção e o equilíbrio avançam e as atividades funcionais leves podem ser iniciadas

Na fase 3 essas atividades continuam e é implementado o treinamento de velocidade

e potência

A fase 4 envolve os critérios de retorno ao jogo.(no caso dos pacientes que são

atletas)

Ele também cita quatro fatores considerados os mais importantes e que servem

como ponto de partida para a reabilitação. São eles: amplitude de movimentos e

flexibilidade, força, propriocepção e cinestesia, resistência, coordenação e precisão

funcional.

3.3.1.ATIVIDADES REALIZADAS DURANTE A REABILITAÇÃO

Cada fase da reabilitação pode envolver a realização de atividades isométricas,

isotônicas, isocinéticas, de equilíbrio e propriocepção, resistência, potencia.

Quando realiza-se o tratamento com o exercício ativo, tanto os músculos são

fortalecidos como há a prevenção da atrofia óssea, estimula a circulação, aumenta a

coordenação e restaura a função.

A forma mais comum de aumentar a força de um músculo é por meio da realização

de exercícios resistidos cuja carga vai aumentando progressivamente(WILSON, 1978). Não

é interessante também que o exercício se torne chato e repetitivo e cabe estar fazendo

variações dos exercícios, mantendo-se o mesmo objetivo do trabalho.

Os exercícios que fortalecem os músculos consistem em contrações musculares

repetidas contra uma dada resistência, e essas contrações podem ser estáticas (isométricas)

e ativas (isotônicas).

Os exercícios isométricos acontecem quando um músculo contrai-se e produz força

sem nenhuma alteração macroscópica no ângulo da articulação; são muitas vezes chamadas

de estáticas ou de sustentação(SMITH, WEISS, LEHMKUHL, 1997).

Page 40: Reabilitação neuromuscular de lesões no joelho

SCHENCK(2003) sugere alguns exercícios isométricos:

• Contradição do quadríceps

O paciente deita-se em decúbito dorsal, senta-se ou fica e pé com o joelho afetado

em extensão total. O paciente contrai os músculos do quadríceps e mantém por 10

segundos. O uso de um estimulador muscular elétrico (EME) ou de uma unidade de

“biofeedback” pode ajudar o paciente a manter a contração. Unidades de EME portáteis de

baixa intensidade para o uso domestico são menos eficazes que as unidades clinicas de alta

intensidade no que diz respeito à recuperação da forca do quadríceps. O paciente deve ser

monitorado para que excute padrões corretos de ativação muscular, de modo que os glúteos

e os músculos posteriores da coxa não substituam a atividade do quadríceps.

• Contração dos músculos posteriores da coxa

O paciente senta-se ou deita-se em decúbito dorsal e pressiona o calcanhar da

extremidade afetada na superfície de apoio, usando os músculos posteriores da coxa. O

paciente devera ser monitorado para evitar os padrões de substituição pelos glúteos.

o calcanhar afetado na superfície de apoio.

• Isométricos multiangulares

O quadríceps e os músculos posteriores da coxa podem ser isometricamente

exercitados em vários graus de flexão do joelho. Estes ângulos serão determinados pelo

diagnostico do paciente,as precauções pós-cirúrgicas e a tolerância. O nível de forças de

cisalhamento no LCA e no LCP, as forças de reação na articulação patelofemoral e os

níveis de estabilidade patelar variam com as diferentes posições. O treinador atlético irá

sensatamente determinar quais posições são mais seguras e apropriadas para o paciente em

cada estagio da reabilitação.

0s exercícios isotônico ocorrem quando o paciente contrai com força os músculos,

levantando uma carga verticalmente,uma resistência oferecida contra a gravidade.(SMITH,

WEISS e LEHMKUHL, 1997)

Os exercícios isotônicos podem ser considerados uma evolução dos exercícios

isométricos, devendo se iniciar com uma execução de curta amplitude, contra a resistência

de molas ou pesos. A sobrecarga deve ser de forma gradual (o aumento de apenas 200gr

pode ser considerado significativo) e nunca de forma súbita.

Page 41: Reabilitação neuromuscular de lesões no joelho

A recuperação dos movimentos articulares também faz parte do processo de

reabilitação; já que a lesão tende a deixar a articulação mais rígida, seja por causa direta da

lesão ou em conseqüência da imobilização, é importante que o paciente mova ativamente a

articulação, até mesmos com ajuda de alguém, contanto que esses movimentos não lhe

causem dor.

Em relação aos exercícios isotônicos, SCHENCK(2003) ainda sugere:

• Erguer a perna reta

Inicialmente, estes exercícios podem ser realizados usando somente o peso da

extremidade. À medida que a força do atleta melhora, pesos externos podem ser fixados

à coxa, ao joelho ou ao tornozelo.

Flexão: O paciente deita-se supino com a extremidade não-afetada flexionada e a

extremidade envolvida em extensão total. Primeiro, o paciente encaixa o quadríceps

envolvido e depois ergue o calcanhar da mesa.

Abdução: O paciente deita-se sobre o lado não-afetado com o joelho não-afetado flexionado

e a extremidade afetada em extensão total. Primeiro, o paciente encaixa quadríceps e depois

ergue a extremidade afetada da mesa.

Extensão: O paciente deita-se em decúbito ventral com os joelhos em extensão total.

Primeiro, o paciente encaixa o quadríceps afetado e depois ergue a extremidade envolvida

da mesa.

Adução: O paciente deita-se sobre o lado envolvido com o joelho afetado em extensão total

e a extremidade não-afetada cruzada sobre a envolvida. O paciente primeiro contrai o

quadríceps envolvido e depois ergue a extremidade envolvida da mesa.

• Agachamento

O movimento de agachar-se pode ser realizado de muitas maneiras com vários

auxílios, incluindo pesos livres, bolas de ginástica, elásticos de resistência, paredes e barras

guiadas. Ele pode ser realizado em uma amplitude de movimento limitada conforme a

necessidade individual do atleta. A atividade dos músculos posteriores da coxa é facilitada

pela flexão do tronco.

• Exercícios de “step”

Estes exercícios começam com pouca altura e vão avançando à medida que a AM e

a força melhoram. Vetores de movimento laterais, para frente e para trás podem ser usados.

Page 42: Reabilitação neuromuscular de lesões no joelho

O paciente começa subindo em um banquinho baixo, primeiro com um pé. Depois com o

outro, e depois descendo do banquinho da mesma ordem.

• Extensão do joelho em cadeia fechada terminal

O paciente em pé com o joelho afetado em aproximadamente 30º de flexão. A

resistência é aplicada atrás do joelho proximal à fossa poplítea e o paciente endireita o

joelho contraindo o quadríceps. O treinador atlético deverá monitorar o paciente para que

não ocorra substituição pelos glúteos.

Rosca de perna: O paciente deita-se em decúbito ventral e a resistência e aplicada

posteriormente e proximal ao tornozelo. Arcos limitados de movimento podem ser usados.

Extensão da perna: O paciente está sentado e a resistência é aplicada anteriormente e

proximal ao tornozelo. Arcos limitados de movimento podem ser usados.

Abdução/adução/flexão/extensão: O paciente fica em pé e a resistência é aplicada

proximalmente ao joelho ou ao tornozelo, em direções lateral , medial, anterior e posterior.

Os quadris são abduzidos, aduzidos, flexionados e estendidos contra a resistência.

Erguer a panturrilha: O paciente senta-se com resistência aplicada sobre a coxa proximal

ao joelho enquanto o tornozelo realiza flexão plantar contra a resistência. Uma posição

alternativa é com o peso sobre os ombros ou segurando as mãos.

Além do exercício ativo, também costuma ser bastante utilizado como exercício

terapêutico a facilitação neuromuscular propioceptiva, que é planejada para reforçar

músculos paralisados por afecção neurológica e que pode ser adaptada para a reabilitação

em geral(WILSON, 1978).

Sobre propriocepção, SCHENCK(2003) ainda cita alguns exemplos:

• Chutes em pé com elásticos

O paciente fica em pé apoiado apenas sobre a extremidade afetada. Um elástico ou

faixa envolvem o pé e o tornozelo não-afetados e o paciente chuta contra tensão do elástico

ou faixa enquanto tenta manter o equilíbrio. Os padrões de flexão dos quadris, adução,

abdução, extensão ou diagonais podem ser usados.

• Exercícios sobre uma perna só

Os exercícios sobre uma perna só podem ser realizados com ou sem movimento da

perna não-afetada. O paciente fica em pé apoiado apenas sobre a perna afetada e tenta

manter o equilíbrio pelo maior tempo possível. A principio, podem ser usadas dicas visuais

Page 43: Reabilitação neuromuscular de lesões no joelho

para melhorar o desempenho. Mais tarde, o paciente poderá realizar o mesmo exercício

com os olhos fechados, para aumentar a dificuldade. O movimento da perna não-afetada

também poderá aumentar a dificuldade. A incorporação de movimentos como agarrar,

lançar, manipular objetos ou atividades com bolas medicinais com a extremidade superior

não-afetada produz forças de reação ao longo do corpo que também aumentam a

dificuldade da atividade.

• Minitrampolins

O paciente pode realizar exercícios de uma perna só, em pé, sobre a superfície em

movimento de um trampolim em miniatura. Aqui, também, dicas visuais e o movimento

das extremidades superiores podem aumentar a dificuldade da atividade.

• Trave de equilíbrio

A trave de equilíbrio proporciona ao paciente a dificuldade de manobrar sobre uma

base de apoio estreita. Os equilíbrios estático e dinâmico pode ser desafiados com variações

do exercício sobre uma perna só e andando para frente, para trás, de lado e do calcanhar

para os dedos.

• Tabua vestibular

A tabua vestibular,tipicamente, desafia o paciente em duas direções: para frente e

para trás, e de lado a lado. Como ela tem uma área superficial maior que outras superfícies

de treino mais instáveis, o paciente pode realizar atividades que envolvem distancias

maiores ou o ajoelhar-se e pode focalizar-se no controle das duas direções de movimento.

• Estabilização rítmica

A estabilização rítmica poderá ser realizada em posições funcionais como em um

agachamento, em escadas, ou em um aparelho de treino de esqui em declive. O paciente

mantém a posição enquanto o treinador atlético tenta demovê-lo através de perturbações. A

força aplicada pelo treinador atlético poderá ser individualizada, de acordo com a tolerância

do paciente.

Nos casos em que for possível, preferencialmente nas fases iniciais da recuperação,

quando o paciente pode não ter a confiança necessária para exercitar o membro lesado

contra a gravidade, podemos nos utilizar também da hidroterapia. Esta costuma ser

realizada em piscinas aquecidas, e o efeito antigravidade poderá dar mais confiança ao

paciente, pois o calor e a flutuação na água relaxam o espasmo muscular.

Page 44: Reabilitação neuromuscular de lesões no joelho

Os profissionais do exercício terapêutico têm à sua disponibilidade uma variedade

de possíveis locais para a sua atuação profissional: Hospitais de Reabilitação, onde os

pacientes permanecem por um período prolongado; Centros para Pacientes em Observação,

onde os pacientes ficam durante o dia e retornam para casa durante a noite; Centros

Esportivos; Prática Particular, que pode ser feito até mesmo na casa do paciente, método

que já tem sido utilizado em várias cidades do país.

3.3.2.PRATICA INTRADOMICILIAR DOS EXERCÍCIOS TERAPÊUTICOS

Nesse momento, o que mais nos interessa é essa prática intradomiciliar, que vem

auxiliar não somente os pacientes com limitações de locomoção, mas também diminuir os

custos do tratamento, especialmente no caso da reabilitação, cujo trabalho precisa ser

desenvolvido diariamente.

A rede pública de saúde tem sido tratada com desdém até mesmo pelos governos,

por reduzir a qualidade dos atendimentos e por deixar de lado os investimentos, e o

resultado disso é a diminuição da capacidade de trabalho, da qualidade e da expectativa de

vida (VAZ, 1993).

Os serviços de saúde aqui no Brasil são centrados na doença e no hospital, o que

exige uma grande estruturação e muitos equipamentos; o resultado disso são enormes filas

e congestionamentos nas unidades. A utilização de medidas preventivas seria menos

custoso e mais humanizado, não quase não se vê esse tipo de preocupação sincera com a

qualidade de vida (VAZ, 1993).

A locomoção até os hospitais e até mesmo alguns casos de internação poderia ser

evitados, reduzindo a carência dos leitos hospitalares e melhorando a qualidade de

atendimento através da sua descentralização; e isso seria possível se a prestação de serviços

fosse transferida para unidades mais simples e para a própria residência.

Vaz (1993) propõe algumas alternativas de desconcentração de serviços de saúde,

de acordo com os graus de complexidade:

Visitas domiciliares: além dos atendimentos nos postos de saúde, os profissionais de

saúde podem fazer visitas às casas; além de estarem mais próximos da comunidade, poderia

Page 45: Reabilitação neuromuscular de lesões no joelho

ser realizado um trabalho mais personalizado, conhecendo melhor o quadro clínico do

paciente, bem como suas condições de vida em termos econômicos, sociais e familiares.

Internação domiciliar: às vezes é possível que o paciente receba em casa o mesmo

tratamento que receberia num hospital, como em situações de baixo risco, cuidados de

enfermagem e até em casos de pacientes terminais, nos casos em que não for possível

reverter o quadro; pode ser indicada também para algumas crianças e alguns idosos, que

sentem mais o afastamento da família.

Prestação de serviços especializados: esses são realizados quando o paciente tem

dificuldade de locomoção, para coleta de exames, curativos e fisioterapia, que é o que nos

interessa.

É importante observar as condições existentes na residência do paciente para saber

se é possível receber tais cuidados em casa. Por isso, costuma-se realizar apenas programas

mais simples e os serviços de fisioterapia, mais especificamente a cinesioterapia, permite

esse tipo de trabalho.

Uma grande vantagem das visitas domiciliares é que poderíamos contar também

com o apoio das mães, que normalmente passam mais tempo em casa e podem ajudar a

detectar alguma anormalidade na articulação do joelho, seja por processos dolorosos, seja

por limitações no movimento, principalmente no caso das crianças.

No caso de um programa de reabilitação do joelho integrado ao Programa de Saúde

da Família, as visitas poderiam ser feitas por bairros, escolhendo inicialmente aqueles que

apresentam uma maior incidência de doenças do aparelho locomotor. Seria feito um

cadastro das pessoas necessitadas de atendimento e posterior visita particular para detectar

as suas limitações, bem como as possibilidades de intervenção cabível ao profissional de

Educação Física.

Às vezes é necessária uma intervenção cirúrgica para restaurar a saúde, embora seja,

muitas vezes, nociva ao corpo: afeta os músculos e nervos envolvidos, diminui a massa e

função muscular e decréscimo da função cardiovascular (HOFFMAN, 2002).

Nos casos em que não há necessidade de cirurgia local, o tratamento conservador

(aquele em que não há necessidade de intervenção cirúrgica) começa quase que

imediatamente após a lesão esportiva (HOFFMAN, 2002).

Page 46: Reabilitação neuromuscular de lesões no joelho

O objetivo dos programas de reabilitação ortopédica é restaurar o movimento livre

de sintomas ao membro e assegurar que o sistema cardiopulmonar seja restaurado ao nível

que pode novamente atender às exigências da atividade. A restauração da função de um

membro consiste em aprimorar a amplitude articular de movimento, a força e a endurance

muscular, bem como a endurance cardiovascular (HOFFMAN, 2002).

3.4.INTERVENÇÃO DO PROFISSIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA NO

PROGRAMA DE SAÚDE DA FAMÍLIA

Dentro da equipe multidisciplinar de reabilitação, o profissional de Educação Física

pode estar inserido, visto que os conhecimentos adquiridos durante a graduação e nas

especializações permite este ser o profissional competente na prescrição de atividade física.

O curso de Educação física da Universidade Estadual de Feira de Santana traz em

seu currículo disciplinas que dão subsídios para que o profissional formado esteja apto para

trabalhar, juntamente com outros profissionais, no tratamento conservador de lesões do

joelho.

Tendo como base o currículo que formou os profissionais que hoje estão no

mercado de trabalho, mesmo sem ainda ter passado pela reformulação que hoje está em

vigor, observamos a existência de, pelo menos, 29 disciplinas localizadas na área de

biologia e de saúde, onde todas têm sua contribuição a dar na formação do profissional

atuante na área de exercícios terapêuticos

Além disso, o Departamento de Saúde, onde está alocado o Curso de Licenciatura

em Educação Física, tem como opção filosófica a produção, reprodução e socialização de

conhecimentos, formando profissionais com consciência de cidadania capazes de promover

,prevenir, tratar e reabilitar, tendo em vista atender à demanda social e contribuir para a

melhoria da qualidade de vida. Essa opção também nos apara, no sentido de dar subsídios

para que nossa formação no permita trabalhar com exercícios terapêuticos(MORAIS,

2003).

Page 47: Reabilitação neuromuscular de lesões no joelho

E se antes não existia nada em termos legais que amparassem tal intervenção, hoje

segundo a resolução do CONFEF nº 046/2002, “O profissional de Educação Física é

especialista em atividades físicas, nas suas diversas manifestações – ginásticas, exercícios

físicos, desportos, jogos, lutas, capoeiras, artes marciais, danças, atividades rítmicas,

expressivas e acrobáticas, musculação, lazer, recreação, reabilitação (grifo

nosso),ergonomia, relaxamento corporal...”

O profissional de Educação Física pode ainda estar atuando integrado a programas

de assistência domiciliar à saúde, a exemplo do Programa de Saúde da Família (PSF), visto

que esse é um programa que visa a promoção, prevenção e recuperação à saúde (MORAIS,

2003).

O PSF é uma estratégia do Governo Federal que visa a promoção, prevenção e

recuperação da saúde, atuando nas comunidades e nos domicílios.

O PSF foi lançado em 1994 pelo Governo Federal com o intuito de mudar a

lógica de atendimento as questões de saúde no Brasil, saindo da visão

hospitalocêntrica, curativa e de alto custo para uma saúde resolutiva, eficaz, de

qualidade, coletiva e acessível. Para tanto, este Programa foi considerado prioridade

sendo inserido em um conjunto de decisões políticas nacionais no sentido de fortalecer

a atenção básica dada à população (MORAIS, 2003).

Essas decisões políticas vêm implementadas há anos em vários âmbitos desde os

anos 60, quando a Organização Mundial de Saúde (OMS) publicou documentos sobre a

formação do médico da família, decorrente da crescente preocupação com a

superespecialização do trabalho médico e suas conseqüências negativas como os altos

custos financeiros dos tratamentos e a deterioração da relação humana com o paciente

(MORAIS, 2003).

O PSF atua tendo como base uma equipe multiprofissional que trabalha integrada,

onde podem, e devem estar inseridos profissionais que trabalham na área de saúde,

inclusive o profissional de Educação Física.

Page 48: Reabilitação neuromuscular de lesões no joelho

3.5.TERAPÊUTICA A SER DESENVOLVIDA PELO PROFISSIONAL DE

EDUCAÇÃO FÍSICA

Depois de exposto um pouco de anatomia do joelho, sua principais lesões, a

importância da reabilitação neuromuscular, sobre atendimento domiciliar e sobre Programa

de Saúde da Família, cabe agora expor o esboço de uma proposta de como se daria o

trabalho de reabilitação neuromuscular do Profissional de Educação Física dentro da equipe

multidisciplinar do PSF. Digo esboço porque, como é um trabalho a ser ainda implantado, é

natural que à medida que ele esteja sendo desenvolvido surjam necessidades que talvez não

tenham recebido atenção durante a construção do projeto; ou talvez a realidade

populacional com a qual se pretenda trabalhar não permita a aplicação do projeto assim

como foi idealizado.

Visto que uma das grandes vantagens do projeto é o atendimento individualizado ao

paciente e, de preferência, na sua residência, a proposta é que o profissional responsável

pela execução dos programas de reabilitação neuromuscular faça um cronograma de visita

às casas de um determinado bairro(esse bairro pode ser escolhido após uma averiguação da

real necessidade de cada bairro de Feira de Santana, levantamento esse que não pôde ser

feito durante a construção dessa monografia).

É importante lembrar que para que o trabalho possa obter o sucesso desejado, é

indispensável a motivação e que ele esteja disposto a seguir a orientação do profissional

responsável e que tenha capacidade de realizar os exercícios

Page 49: Reabilitação neuromuscular de lesões no joelho

Essas visitas iniciais seriam feitas nos horários de 8:00 às 11:00 e das 14:00 às

17:00. Em casos em que nenhum morador tenha sido encontrado em casa, faz-se um

registro para posteriores revisitas. Caso restasse alguma dúvida por parte dos visitados ou

daqueles ainda por visitar, estes poderia dirigir-se à unidade de saúde mais próxima, onde

encontraria cartazes e folhetos explicativos.

A priori, o profissional levaria consigo apenas o registro de casa-em-casa; através

desse registro, mais precisamente um questionário, faria-se todas as anotações relacionadas

à deficiência do paciente para posterior análise e para debate com profissionais de outras

áreas, caso seja necessário. Em alguns casos, talvez o paciente precise consultar algum

outro profissional que não esteja incluso na equipe multidisciplinar do Programa de Saúde

da Família. Nesses casos, essas visitas ficariam por conta do próprio paciente

À medida que os diagnósticos são feitos, são montados os programas de reabilitação

neuromuscular e o profissional retorna então à casa do paciente para iniciar a aplicação dos

mesmos. Uma vez iniciado o tratamento, o profissional compromete-se a visitar o paciente

diariamente e, em casos extremos, pelo menos três vezes na semana.

A correta aplicação do método de reabilitação neuromuscular em domicilio

deve trazer algumas vantagens:

1- Motivação dos pacientes: a maior parte dos exercícios é feito nas academias de ginástica

que são mais agradáveis e estimulantes do que as clínicas de fisioterapia.

2- Menor custo para o paciente: as orientações são mais acessíveis economicamente.

3- Controle evolutivo preciso pelo Ortopedista, através de visitas programadas.

4- Desenvolvimento de conscientização e responsabilidade pelo paciente em relação à

recuperação funcional completa do joelho.

5- Cria o hábito de praticar exercícios regularmente

Page 50: Reabilitação neuromuscular de lesões no joelho

4.CONCLUSÃO

O conceito de saúde tem evoluído bastante nesses últimos anos, sendo uma

discussão antiga e que tem ainda muito para melhorar.

Observamos que a visão hospitalocêntrica tem dado lugar à idéia de promoção da

saúde. E isso é mais que cuidar da doença; é dar à população melhores condições de vida, o

que requer uma intervenção multidisciplinar.

Para que os indivíduos possam desempenhar suas funções diárias e possa contribuir

com a proposta de melhoria da saúde e das condições de vida individual e coletiva, é

importante que eles tenham, pelo menos, capacidade de locomoção.

As lesões no joelho, que é o tema desse trabalho, é um fator que prejudica a marcha

normal, muitas vezes dificultando a locomoção e impossibilitando o desempenho das

funções normais, seja no âmbito profissional, seja no âmbito familiar e, porque não citar, no

âmbito do lazer.

Durante a construção dessa monografia, tentei mostrar como são comuns as lesões

no joelho, bem como uma variedade de fatores que podem predispor o indivíduo a

desenvolver alguma dessas condições patológicas .

E visto que tem-se observado um numero crescente de pessoas acometidas por

alguma deficiência nessa articulação( que se mostra tão complexa), tem-se desenvolvido

Page 51: Reabilitação neuromuscular de lesões no joelho

técnicas mais avancadas de tratamento relacionadas à maioria dessas patologias, inclusive

tratamento não-invasivo, que muitas vezes consiste apenas no tratamento neuromuscular.

Muitos dos exercícios de reabilitação neuromuscular podem ser realizados não só

em clinicas fisioterápicas, mas também em academias, em clubes e até mesmo na casa do

próprio paciente, sob a supervisão de um profissional habilitado.

E o profissional de Educação Física é um profissional habilitado para desenvolver

esse tipo de atividade. Primeiro, porque o curso de graduação( analisei o currículo antigo do

curso de Licenciatura em Educação Física da UEFS) oferece os subsídios necessários, por

meio das disciplinas oferecidas, para que os alunos, ao entrarem no mercado de trabalho,

estejam aptos para atuar também nessa área. Segundo, porque somos amparados por lei,

que reconhece o profissional de Educação Física como um profissional multidisciplinar,

capaz de atuar nas mais diversas áreas, inclusive na área de reabilitação.

Quando o tratamento fisioterápico é realizado nos clubes e em domicilio, observa-se

uma redução significativa no custos se comparado com os valores cobrados pelas clinicas

de fisioterapia.

Além da vantagem da redução de custos, quando o tratamento vai até a casa do

próprio paciente, o acesso da população é facilitado, reduzindo a necessidade de

deslocamentos (que pode ser penoso para alguns paciente), personalizado o atendimento e

possibilitando maior orientação aos pacientes.

E visto que o Programa de Saúde da Família tem esse perfil de ação integrada à

comunidade, cujas ações estão ligadas à idéia de promoção da saúde e que é composto por

uma equipe multiprofissional, foi que vi a possibilidade da inserção do profissional de

Educação Física nessa equipe, atuando no campo da promoção da saúde, especialmente na

reabilitação neuromuscular de lesões no joelho.

O profissional de Educação Física, trabalhando em equipe, principalmente com

ortopedistas e fisioterapeutas no Programa de Saúde da Família, poderá acompanhar a

história de vida da população a ser trabalhada, auxiliar no diagnóstico, cuidar e prescrever

exercícios que auxiliem a reabilitação do paciente e que lhe permita voltar o mais rápido

possível às suas atividades diárias normais.

Viu-se então, que um programa de Reabilitação Neuromuscular Domiciliar de lesões

no joelho é eficiente, prático, de fácil aplicação e de baixo custo, e pode ser mais um

Page 52: Reabilitação neuromuscular de lesões no joelho

serviço oferecido à população (principalmente de baixa renda) por meio do Programa de

Saúde da Família, permitindo, um bom relacionamento com o profissional responsável para

que as avaliações e as orientações sejam seguras e eficientes para o paciente.

ANEXO I – Doenças mais frequentes Diagnóstico

Características Síndrome de d

Jovens. Rótul

Page 53: Reabilitação neuromuscular de lesões no joelho

or Patelo-femural (Patelo = rótula)

a mal Alinhada em sua articulação com o fêmur.

Page 54: Reabilitação neuromuscular de lesões no joelho

Implantação alta da rótula*

Jovens

Síndromes de sobrec

Atletas, corredores

Page 55: Reabilitação neuromuscular de lesões no joelho

arga*

, dançarinas, obesos. Defeito alinhamento entre

Pernas “em xis”, arqueada

Page 56: Reabilitação neuromuscular de lesões no joelho

coxas e pernas*

s, rotadas.

Hipermobilidade da rótula *

A rótula desliza fora da calha

Page 57: Reabilitação neuromuscular de lesões no joelho

no fêmur. Doenças da rótula *

Condromalacia, osteocondrite. Síndro

Dor na

Page 58: Reabilitação neuromuscular de lesões no joelho

me do coxim gorduroso

“bola” de gordura que se forma na região inter

Page 59: Reabilitação neuromuscular de lesões no joelho

na do joelho. Bursite

Na frente ou abaixo da rótula. TeMa

Page 60: Reabilitação neuromuscular de lesões no joelho

ndinite

is freqüente na região interna da perna. Doença

Após t

Page 61: Reabilitação neuromuscular de lesões no joelho

s dos meniscos **

raumatismo ou em idosos. Também ocorre em situa

Page 62: Reabilitação neuromuscular de lesões no joelho

ções de sobrecarga crônica. Ruptura parcial ou

Traumatismo.

Page 63: Reabilitação neuromuscular de lesões no joelho

total de ligamentos ** Doença de Osgood-Schlatt

Dor e inchume na perna l

Page 64: Reabilitação neuromuscular de lesões no joelho

er **

ogo abaixo da rótula. Entre 9 e 15 anos. Mais e

Page 65: Reabilitação neuromuscular de lesões no joelho

m sexo masculino (ver osteonecroses). Doenças d

Sinovite

Page 66: Reabilitação neuromuscular de lesões no joelho

a membrana articular (sinovial)

vilo-nodular, condromatose**, tumores malignos*

Page 67: Reabilitação neuromuscular de lesões no joelho

*. Osteoartrite (artrose)

Desestruturação da cartilagem. Artrite (sino

Doenças infla

Page 68: Reabilitação neuromuscular de lesões no joelho

vite)

matórias ou infecciosas. Fonte: http://www.abcdasaude.com.br/artigo.php?167

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