135
Caríssimo (a) irmão (a) Este material foi preparado para você. Os servos de Deus que nele trabalharam escrevendo, compilando, digitando, revisando, enfim, sentir-se-ão recompensados se você tirar o máximo proveito dele. Por esta razão sugerimos que: 1– Em Sala de Aula Tenha sempre em mãos a sua apostila e a sua Bíblia, e um caderno para fazer anotações das explicações do professor. Grife na apostila ou na Bíblia aquilo que considerar importante, utilize lápis de cor para identificar assuntos, ou referências bíblicas. Não vá com dúvidas para casa, faça perguntas, caso não queira interromper o professor anote a sua dúvida para perguntar no momento oportuno. Ao final de algumas unidades você encontrará Perguntas para Refletir, estas perguntas têm por objetivo levá-lo a tirar as suas próprias conclusões. Troque idéias com seus colegas sobre as respostas das perguntas para reflexão, assim você poderá aprofundar seus conhecimentos. 2– Em Casa Revise toda a matéria explicada pelo professor em sala. Releia o texto se possível em diferentes versões bíblicas. Releia as anotações que você fez na apostila, codifique as cores das suas anotações correlacionando com os assuntos. Faça um resumo de cada aula. Leia, leia muito, releia várias vezes; sem uma boa e constante leitura o processo de assimilação fica muito pobre. “Aluno que não lê, mal sabe, mal fala e mal vê”. Procure relacionar o conteúdo bíblico estudado com a sua vivência cristã; pergunte-se após o estudo do texto bíblico: O que Deus está querendo me falar através deste texto? *Há alguma lição a aprender? *Existe alguma promessa que Deus quer que eu tome posse? *Existe algum hábito que eu preciso mudar, ou adquirir? *Deus está me mostrando na sua Palavra algum pecado que devo confessar e abandonar? 3– Local de Estudo I.E.Q Secretaria Geral de Educação e Cultura ___________________________ Epístolas Gerais - Revisão em 2006 1

Epistolas gerais aluno

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Epistolas gerais aluno

Caríssimo (a) irmão (a)

Este material foi preparado para você. Os servos de Deus que nele trabalharam escrevendo, compilando, digitando, revisando,

enfim, sentir-se-ão recompensados se você tirar o máximo proveito dele.Por esta razão sugerimos que:

1– Em Sala de AulaTenha sempre em mãos a sua apostila e a sua Bíblia, e um caderno para fazer anotações das

explicações do professor. Grife na apostila ou na Bíblia aquilo que considerar importante, utilize lápis de cor para identificar assuntos, ou referências bíblicas.

Não vá com dúvidas para casa, faça perguntas, caso não queira interromper o professor anote a sua dúvida para perguntar no momento oportuno.

Ao final de algumas unidades você encontrará Perguntas para Refletir, estas perguntas têm por objetivo levá-lo a tirar as suas próprias conclusões.

Troque idéias com seus colegas sobre as respostas das perguntas para reflexão, assim você poderá aprofundar seus conhecimentos.

2– Em CasaRevise toda a matéria explicada pelo professor em sala. Releia o texto se possível em

diferentes versões bíblicas.Releia as anotações que você fez na apostila, codifique as cores das suas anotações

correlacionando com os assuntos. Faça um resumo de cada aula.Leia, leia muito, releia várias vezes; sem uma boa e constante leitura o processo de

assimilação fica muito pobre. “Aluno que não lê, mal sabe, mal fala e mal vê”.Procure relacionar o conteúdo bíblico estudado com a sua vivência cristã; pergunte-se após o

estudo do texto bíblico:O que Deus está querendo me falar através deste texto?

*Há alguma lição a aprender?*Existe alguma promessa que Deus quer que eu tome posse?*Existe algum hábito que eu preciso mudar, ou adquirir?*Deus está me mostrando na sua Palavra algum pecado que devo confessar e

abandonar?

3– Local de EstudoO lugar que você estuda deve ser sempre o mesmo e de preferência o horário também, pois

assim estará criando um hábito, e se tornando disciplinado nos estudos.O local habitual de estudo deve ser tranqüilo, e bem iluminado, evite estudar onde há trânsito

de pessoas, televisão ligada, ou conversas paralelas.O material deve estar bem à mão, para que não precise se levantar toda hora para procurar

algo, além de perder tempo e energia, você ficará disperso e desatento.

Tenha em mãos:*Lápis, canetas, lápis de cor, régua, borracha, apontador.*Bíblias em diferentes versões para que você possa consultá-las ao estudar.*Chave ou Concordância Bíblica*Dicionário da língua portuguesa, dicionário bíblico e enciclopédia ou manual bíblico.

Se você domina outro idioma, ou está aprendendo, procure ler a Bíblia neste idioma.Todo seu empenho vai ser recompensado; você terá êxito dedicando tempo para os estudos. O

Espírito Santo é seu mestre por excelência, e também poderá contar com a ajuda amiga de seus professores. Persevere, seja disciplinado e logo você colherá os frutos.

I.E.Q Secretaria Geral de Educação e Cultura ___________________________Epístolas Gerais - Revisão em 2006

1

Page 2: Epistolas gerais aluno

Bom estudo, sucesso e êxito é o que lhe desejamos!

I Unidade - Epístola de Tiago

SEJA VENCEDOR, NÃO VÍTIMA

INTRODUÇÃO

A Epístola de Tiago é a menos doutrinária e a mais prática de todos os livros do Novo Testamento. É considerada o “guia prático para a vida e conduta cristãs”. Ela é primeiramente prática e ética, enfatizando mais o dever do que a doutrina. O autor visava repreender a forma negligente e vergonhosa com que se realizavam determinados deveres cristãos.

A Epístola de Tiago pode ser vista entre os escritos mais emocionantes do Novo Testamento. Ela nos causa forte impacto e mostra uma atitude voltada à realidade. Seus ensinos em relação à prática da vida cristã são tão atuais que facilmente aceitaríamos que foram escritos por um autor contemporâneo nosso, e não que foi escrita há aproximadamente 2000 anos.

No estilo e conteúdo, a Epístola de Tiago assemelha-se muito aos ensinos de Jesus, notoriamente com o sermão da montanha. Abaixo demonstramos um paralelo entre a Epístola e o sermão da montanha.

Assunto Tiago Sermão da Montanha

Juramento 5.12 Mt.5.34-37

Resposta à oração 1.5; 5.16-18 Mt.7.7

Prática da palavra 1.22 Mt.7.24-27

Julgamento 4.11 Mt.7.1

Se a Epístola fosse entendida da forma correta, poderia servir de base para harmonizar o Cristianismo e o Judaísmo. Ela ensina que a salvação deve ser frutífera produzindo piedade e conduzindo a uma vida de santidade.

Os ensinos da Epístola combatem a “crença e o viver cristãos fáceis”, que muitos queriam introduzir no seio da igreja. Chama seus leitores à realidade, fazendo-os retornar ao ponto de partida do Evangelho puro e verdadeiro. Tiago usa seu zelo, aprendido no Judaísmo para trazê-los de volta aos ensinos originais do Evangelho de Jesus Cristo.

AUTORIA

Esta Epístola traz o nome de seu autor: “Tiago, servo de Deus e do Senhor Jesus Cristo”. O nome Tiago é a forma grega do Hebraico “Jacó”.

As escrituras referem-se a vários Tiagos, mas a maioria deles pode ser descartada imediatamente. Citamos alguns deles:

1) Tiago (o maior), filho de Zebedeu e irmão de João: Este fazia parte do círculo íntimo dos apóstolos que estavam sempre ao lado de Jesus, de quem tinha conhecimento suficiente para

I.E.Q Secretaria Geral de Educação e Cultura ___________________________Epístolas Gerais - Revisão em 2006

2

Page 3: Epistolas gerais aluno

mencionar seus ensinos. No entanto entre os anos 41 e 44 A.D., antes que os escritos neotestamentários fossem produzidos, Herodes Agripa I, “mandou matar a espada Tiago, irmão de João” (At. 12:1;2). Assim, devido à sua carreira cristã curta e a sua morte repentina, fica descartada a autoria da Epístola a este Tiago.

2) Tiago (o menor), filho de Alfeu (Mt. 10:3): Deste Tiago, sabe-se muito pouco, e sendo um tanto quanto “desconhecido”, pois a forma com que o autor se apresenta no versículo 1, demonstra que era uma pessoa conhecida e respeitada.

3) Tiago (O justo), irmão de Jesus: Tiago, a exemplo de seus irmãos, não se converteu aos ensinos de Jesus enquanto Ele vivia, mas assim como Paulo, converteu-se ao ter um encontro pessoal com o Cristo ressurreto (1 Co. 15:7). A este Tiago, é atribuída a autoria desta Epístola.

4) Tiago, o pai de Judas (Lc. 6:16): Este Judas, não é o Iscariotes (Jo. 14:22), mas é identificado como um dos doze e a quem se relaciona o nome de Tadeu (Mt. 10:3; Mc. 3:18).

O que pode-se compreender na leitura da Epístola é que:1) O autor é um judeu profundamente impregnado dos ensinos do Antigo Testamento.

Existem pensamentos similares aos do livro de Provérbios (Tg. 3:12; 13– 18; 4:13, 17; 5:1–6). Existem fortes referências da Teologia judaica:

a) Deus é Nosso Pai (Tg. 1:27; 3:9);b) O autor mostra-se conhecedor da vegetação da Palestina e do regime de chuvas da

região (Tg. 3:12; 5:7);c) O autor cita o Monoteísmo (Tg. 2:19).

2) É também um cristão (Tg. 1:1; 2:1), declarando Cristo como Senhor. Não desenvolve muito as verdades cristãs. Dirige-se aos judeus-cristãos e trata mais de moral que de fé (Tg. 3:7–9).

Tiago juntou-se então aos discípulos (At. 1:14), tornando-se apóstolo (Gl. 1:19) e uma das "colunas" da igreja em Jerusalém (Gl. 2:9). Sua liderança obteve grande destaque, conforme se observa em At. 12:17; 15:13-29; 21:18 e Gl. 2:12. Tornou-se o líder da igreja de Jerusalém, fato este notório quando do concílio de Jerusalém (At. 15), que tratava a respeito da necessidade, ou não, da circuncisão dos gentios convertidos através do ministério de Paulo. Tiago deu a palavra final a respeito da questão, o que indicaria que era hierarquicamente superior a Pedro.

O tom autorizado da Epístola está de acordo com a posição do autor na igreja. Pela tradição, sabemos de alguns fatos concernentes a ele:1) Por causa da santidade de sua vida e aderência rígida à moralidade prática da lei, era estimado pelos judeus de sua comunidade, pelos quais, foi chamado “o justo”, ganhando muitos deles para Cristo.

2) Diz-se que seus joelhos eram calejados como os de um camelo, em conseqüência de sua intercessão em favor do povo.

DESTINATÁRIOS

Tiago é classificada como “Epístola católica (universal)”, por ter sido originalmente escrita para uma comunidade maior que uma igreja local. A saudação “às doze tribos que estão na dispersão” (diáspora) (Tg. 1:1), juntamente com outras referência (Tg. 2:19, 21), indicam que foi escrita a cristãos judeus que viviam fora da Palestina.No Antigo Testamento, “judeus da dispersão”, referia-se a grupos que se dispersaram após o exílio, com muitos deles não retornando a Jerusalém. Os “judeus-cristãos da dispersão” eram, mui provavelmente, aqueles que se espalharam, a partir de Jerusalém devido à perseguição empreendida contra os cristãos após a morte de Estevão, e de Tiago, filho de Zebedeu. É possível que sejam os primeiros convertidos em Jerusalém, que foram dispersos pela perseguição (At. 8:1), até a Fenícia, Chipre, Antioquia da Síria (At. 11:19).

I.E.Q Secretaria Geral de Educação e Cultura ___________________________Epístolas Gerais - Revisão em 2006

3

Page 4: Epistolas gerais aluno

DATA DA EPÍSTOLA

A escassez de discussão Cristológica na Epístola, a forte ênfase dada à ética e aos aspectos morais e os paralelos aos ensinos de Jesus, são fortes indícios de que foi escrita numa época onde, a igreja em formação, estava ainda dentro da esfera geral do judaísmo, antes ainda de ser transformado num movimento religioso independente.

Aliado ainda ao fato da Epístola ser dirigida aos “judeus da dispersão”, que não haviam se convertido numa data tão remota, e pelo fato de que a palavra sinagoga é usada para designar o local de reunião dos cristãos, chegamos à conclusão que o período entre 45 – 48 A.D., é bem razoável, pois o conteúdo da Epístola enquadra-se bastante bem nele. Assim, esta Epístola está entre os primeiros escritos do Novo Testamento.

O historiador judeu Flávio Josefo indica que Tiago foi apedrejado até a morte, por volta de 62 A.D. Outra versão da morte de Tiago é que segundo uma tradição, o sumo sacerdote e os guias religiosos, fizeram-no subir no telhado do templo e lhe ordenaram que negasse e blasfemasse o nome de Cristo. No entanto, ele ousadamente proclamou que Jesus era o Filho de Deus, sendo assim lançado abaixo. Como não morreu na queda, foi então apedrejado até a morte.

Independentemente da forma de sua morte, é notório que Tiago foi morto por volta de 62 A.D. Logo a data da escrita da Epístola é anterior a este ano.

ONDE FOI ESCRITA

As conclusões tiradas acerca da autoria e data da Epístola determinam o local de sua escrita. Tiago viveu em Jerusalém durante todo este período, e seus leitores encontravam-se em regiões imediatamente fora da Palestina, junto à linha costeira para o norte, na Síria, e provavelmente, no sul da Ásia Menor. A referência em Tg. 5:7, das “primeiras e últimas chuvas”, parecem confirmar esta localização, uma vez que apenas ao longo da costa oriental do Mar Mediterrâneo é que as chuvas ocorrem nesta seqüência.

ESTILO LITERÁRIO

Em sua forma, Tiago é uma carta “literária”. Começa com a típica saudação Epistolar: identificação do autor, destino e saudações. No entanto falta-lhe reminiscências pessoais, referências a situações e problemas específicos e sinais de encerramento que caracterizam uma “verdadeira” carta.

Tiago usou a forma de Epístola para fazer exortações espirituais e conforto para os cristãos que habitavam em uma grande área, em suas tribulações e perseguições. Em sua forma difere das Epístolas de Paulo tanto a indivíduos (Filemon, Timóteo e Tito) e a igrejas específicas (Roma, Corinto, Galácia, etc). Assemelha-se mais a 1 Pedro e 1 João, que também são destinadas a grandes públicos.

Fazendo uma análise mais próxima da natureza específica da Epístola, notamos quatro aspectos mais dominantes:

1) Apresenta um forte tom de exortação pastoral. Busca dar ordens, exortar e encorajar. Existe sempre uma terna preocupação pastoral. Dirige-se a seus leitores por quinze vezes como “meus irmãos” ou “meus amados irmãos”;

2) Outro aspecto é o desprendimento de sua estrutura. Alguns trechos tratam de assuntos únicos e relativamente extensos (Tg. 2:1–13; 2:14–16; 3:1-12), mas a maior parte do livro trata de dizeres ou assuntos curtos aparentemente independentes e breves. Fica muitas vezes difícil estabelecer qualquer relação lógica entre uma parte e outra.

I.E.Q Secretaria Geral de Educação e Cultura ___________________________Epístolas Gerais - Revisão em 2006

4

Page 5: Epistolas gerais aluno

3) Outro aspecto que prende a atenção do leitor é o uso que Tiago faz de metáforas, ilustrações e figuras de linguagem. A epístola utiliza fatos reais, eventos hipotéticos, elementos da natureza e até obras das mãos humanas para expressar suas idéias. Fatos reais: Abraão - Tg. 2.21-23. Eventos hipotéticos: O pobre e o rico na sinagoga – Tg. 2.2-4.EPlementos da natureza: O mar e as ondas – Tg.1.6. Obras das mãos humanas: O enxerto – Tg.1.21. Figuras de linguagem: A língua é um fogo – Tg.3.6.

4) O último aspecto não é tão evidente em nossos dias, mas era comum entre os primeiros destinatários da Epístola e estes sentiram seu impacto. Era a propensão de Tiago em usar outras fontes, tais como os ensinos de Jesus, o Antigo Testamento em alguns de seus aspectos legais. Além destas fontes existem vários paralelos entre Tiago e vários livros cristãos e judaicos de data remota. Podemos mencionar 1 Pedro, Eclesiástico (Siraque), Os Testemunhos dos Doze Patriarcas, O Pastor de Hermas e 1 Clemente, Sabedoria de Salomão, Filo, no ensino Didaquê dos doze e nas cartas de Inácio. Parece que estes livros utilizam uma tradição de ensino ético largamente difundida, provavelmente de origem greco-judaica. Tiago mostra familiaridade com esta tradição e se apropria de alguns elementos dela a fim de exortar seus leitores.

ELEMENTOS HISTÓRICOS

Devido à discussão relativa à data da escrita da Epístola surgiram precedentes históricos que precisam ser tratados mais minuciosamente.

A igreja de Tiago existiu em Jerusalém durante cerca de 15 anos após a ressurreição de Cristo.

Cada igreja no lar era dirigida por um ou mais presbíteros. Estes formavam um grupo dirigido por Tiago e tinham a responsabilidade de governar a igreja. Também havia os diáconos (At 6), cuja função era coletar contribuições para caridade e distribuí-las entre os membros mais pobres da igreja.

Nesta época ocorreu grande escassez econômica em Jerusalém o que afetou também os cristãos. Logo havia muitos membros pobres, visto que a igreja, como um todo, era pobre. Havia razões para isso:

1) Muitos membros da igreja eram de fora de Jerusalém, e não podiam exercer seu ofício na cidade, como por exemplo Pedro e André, que eram pescadores. Alguns dentre eles eram peregrinos que se converteram em épocas de festas dos judeus e decidiram não voltar para casa, pois em suas cidades de origem, não haviam igrejas que pudessem nutrí-los espiritualmente.

2) Havia inúmeros turistas, por assim dizer, que desejavam conhecer a respeito do Cristianismo, na sua cidade de origem.

3) O Cristianismo sempre teve a tendência de ter forte apelo junto aos pobres e oprimidos: prostitutas, ladrões, coletores de impostos e pessoas semelhantes. Todos estes eram atraídos pela promessa de perdão. Os ricos e os poderosos, no entanto, viam nos cristãos, um grupo de pessoas a quem preferiam não se associar. Os pobres ouviam com grande alegria uma mensagem de fé, de esperança e de justiça. São estes os chamados por Tiago de “ricos na fé” (Tg. 2:5).

4) Muitos anciãos iam a Jerusalém só para morrer. Ao ouvirem falar da ressurreição de Jesus e se converterem, ficavam sob os cuidados da igreja. Não seria de surpreender, que muitos filhos judeus, que sustentavam seus pais, usassem a desculpa da conversão para cortarem-lhes tal sustento.

5) Jerusalém passou por grandes dificuldades econômicas. A cidade estava situada numa área economicamente marginal, vítima de manobras políticas, defendida mais por razões bélicas do que econômicas.

6) Finalmente aconteceu a perseguição, que em Jerusalém, raramente eram violentas, mas os cristãos constituíam para muitos, uma “seita” desprezada. Isto tornou-se realidade mais tarde, quando os cristãos se recusaram a participar de movimentos patrióticos que visavam a libertação da Palestina. A perseguição poderia vir disfarçada de formas sutis:

I.E.Q Secretaria Geral de Educação e Cultura ___________________________Epístolas Gerais - Revisão em 2006

5

Page 6: Epistolas gerais aluno

a) O trabalhador conhecido por ser cristão, poderia ser o último a ser contratado para trabalhar e o primeiro a ser despedido numa crise econômica.

b) Se um cristão fosse roubado, ou enganado em seu salário, ou em outros direitos, por um patrão judeu, se transformaria em vítima de preconceito e seria prejudicado numa decisão no tribunal.

Nada disso ajudava a igreja a crescer.Enquanto a situação da igreja serve de pano de fundo para a escrita da Epístola, a

preocupação de Tiago é com o mundo que está entrando na igreja. Ele adverte em Tg. 4:4 que “a amizade do mundo é inimizade contra Deus”, e dá o antídoto contra ela a “religião pura e imaculada” e o guardar-se da contaminação do mundo” (Tg. 1:27). O mundanismo manifestava-se na igreja de várias formas:

1) A deferência bajuladora ao rico e a indiferença ao pobre (Tg. 2: 1–4);2) Palavras críticas e descontroladas (Tg. 3:1–12; 4: 11-12; 5:9);3) A sabedoria humana que é “terrena, animal e diabólica”, que produz divisões e violentas

discussões (Tg. 3:13–4:3); arrogância (Tg. 4:13, 17); uma quebra da comunhão com Deus que interrompe a eficácia da oração (Tg. 1:5–8); e um fracasso em colocar a fé em prática (Tg. 1:22–27; 2:14–26).

Tiago chama seus leitores a se arrependerem do mundanismo e a trabalharem com afinco a fim de recuperarem, de seus caminhos errados, a outros pecadores (Tg. 5:19, 20).

ESBOÇO DOS CAPÍTULOS

Tiago trata da maturidade Espiritual, e, apresenta cinco sinais de maturidade:

1) Paciência na provação – Capítulo 12) Relacionamentos – Capítulo 23) Autodomínio – Capítulo 34) Pacificadores – Capítulo 45) Oração nas dificuldades – Capítulo 5

CRESCENDO EM CRISTO (CAPÍTULOS DE 1 A 4)

CAPÍTULO 1

Apresentação e saudação inicial (1:1)

O autor da Epístola apresenta-se como Tiago. A simplicidade da identificação aponta para o bem conhecido “Tiago, o justo”, meio-irmão do Senhor (Gl. 1:19) e líder da primeira igreja de Jerusalém (At. 12:17; 15: 13–21; 21:18–25). Tiago não reivindica para si autoridade apostólica, embora Paulo o chame de “apóstolo”, em Gl. 1:19. Tiago prefere identificar-se apenas como “servo de Deus e do Senhor Jesus Cristo”. Dessa forma Tiago considera sua posição como a de quem presta um humilde serviço a seu mestre, o Senhor Jesus.

Tiago endereça a carta às doze tribos que se encontram na dispersão. Talvez possamos associar os destinatários com a referência, em At. 1:19, àqueles que haviam sido dispersos por causa da perseguição e estavam pregando o Evangelho aos judeus até a “Fenícia, Chipre e Antioquia”. Provavelmente estas pessoas foram convertidas em Jerusalém e “seu antigo pastor” escrevia-lhes buscando fortalecê-los.

I.E.Q Secretaria Geral de Educação e Cultura ___________________________Epístolas Gerais - Revisão em 2006

6

Page 7: Epistolas gerais aluno

O cumprimento de Tiago como tal é bastante breve: “Saudações”. Esta é uma saudação epistolar tipicamente grega, o que demonstra a familiaridade de Tiago com esta língua. No Novo Testamento este cumprimento só aparece aqui e em At. 23:26.

A alegria nas provações (1:2–4)

Tiago abre sua carta com dois aspectos bastante característicos. Ele chama seus leitores de “meus irmãos”, uma forma de tratamento que ele usa catorze vezes (três delas acompanhadas da qualificação “amados”), principalmente para introduzir uma mudança de tema na epístola. Esta forma de tratamento afetuoso confere à epístola um forte tom pastoral a muitas exortações da carta.

Em seguida expressa a ordem “tende por motivo de grande alegria” que é categórica e sugere a necessidade de uma decisão definitiva. O que chama a atenção é que se chama a alegrar-se por algo que costumeiramente não traz alegria: “o passardes por várias provações”. Assim as doenças (Tg. 5:14), dificuldades financeiras (Tg. 1:9) e perseguições econômicas e sociais (Tg. 2:6) estão incluídas neste grupo. Quaisquer que sejam as provações, elas devem ser consideradas pelos cristãos como ocasião para regozijo e oportunidades para a manifestação da glória de Deus em suas vidas.

Através das experiências com Cristo no dia a dia e conhecendo mais e mais a Sua Palavra ( a fé vem pela Palavra de Deus, veja Rm 10:17) é que Deus opera para aperfeiçoar e fortalecer nossa fé. Por conseguinte Deus visa, através de nossas experiências, que alcancemos a “perseverança”. Assim, Tiago pede aos cristãos que reajam com alegria o passar por “provações”, porque ele sabe que elas operam para produzir uma vida com Cristo mais firme e mais segura.

A sabedoria, a oração e a fé (1:5–8)

Uma das maiores virtudes que o cristão deve buscar é a sabedoria (sophia). Ela ocupa um papel central num livro do Antigo Testamento, Provérbios. A percepção da vontade de Deus e do modo pelo qual ela deve ser aplicada na vida é conferida pela sabedoria. A importância da sabedoria descrita em Tg. 1:5 é a maneira pela qual se diz que ela produz um caráter piedoso e maduro naquele que a possui.

Quando Tiago promete a seus leitores que Deus irá conceder sabedoria àqueles que lhe pedirem, está refletido o ensino veterotestamentário (Pv. 2:6 a, ...o Senhor dá a sabedoria”). É provável que ele também tenha em mente a promessa de Jesus: “Pedi, e dar-se-vos-á (Mt. 7:7 a). Tiago nos lembra ainda que Deus a “dá liberalmente, e nada lhes impropera”. Impropera (oneidizontes) significa que Deus não nos repreende por falhas passadas, nem nos traz recordações intermináveis sobre o valor de suas dádivas.

O termo “ânimo dobre” significa literalmente “alma dividida”, e é uma sugestiva descrição das divisões que existem no interior da pessoa. Com certeza, Deus não responde a orações baseadas em tanta descrença. Devemos observar que a inconstância é a antítese da “integridade” ou “perfeição”, que deve ser o alvo do viver cristão, e do caráter “único” e “sincero” de Deus.

A pobreza e a riqueza (1:9–11)

Quando Tiago refere-se ao “irmão de condição humilde” aponta para um cristão de baixa condição sócio-econômica – relativamente pobre e sem poder. Tiago faz uso do termo “tapeinos” que é comum no Antigo Testamento com este significado (Sl. 10:18; 34:18; 102:17; Is. 11:4; Am. 2: 7). E esta era uma condição comum entre os cristãos da Palestina e da Síria, que estão entre os destinatários desta Epístola.

Em meio a tais aflições o cristão, cuja posição, em termos do mundo, é realmente baixa, deve gloriar-se na sua dignidade. “Gloriar-se”, neste contexto, não significa a vanglória arrogante de alguém importante, mas o alegre orgulho possuído pela pessoa que valoriza aquilo que Deus

I.E.Q Secretaria Geral de Educação e Cultura ___________________________Epístolas Gerais - Revisão em 2006

7

Page 8: Epistolas gerais aluno

valoriza. A palavra dignidade é usada em outros lugares do Novo Testamento, como descrição do reino celestial ao qual Cristo foi elevado (Ef. 4:8) e de onde desce o Espírito Santo (Lc. 24:49).

A pessoa rica, assim como a pobre, deve olhar além das circunstância externas, em direção aos valores espirituais interiores e circunstâncias do “reino celestial” que não se vêem. O Salmo 49:16-17 contém uma advertência acerca das riquezas: “Não temas, quando alguém se enriquecer, quando avultar a glória de sua casa: pois, em morrendo, nada levará consigo, a sua glória não o acompanhará”. Tiago baseia-se nesta tradição bíblica, para alertar o rico a não se preocupar em obter aquilo que não pode “carregar” consigo para o outro mundo.

Tiago faz uma comparação da situação do cristão rico com o sol que se levanta em seu resplendor, mas que no mesmo dia vê-se sua luz e seu calor desvanecerem. Compara ainda a erva seca que um dia foi uma flor viçosa, mas que no momento seguinte perdeu seu parecer e formosura. Tudo isso tem um momento de glória que se desvanece, mas a glória do Senhor brilhará para sempre.

As provações e as tentações (1:12–18)

Neste trecho Tiago apresenta a “perseverança” como uma bênção sobre os que suportam a provação. Ele afirma que o cristão precisa praticar a perseverança a fim de alcançar um caráter firme, perseverante. Assim como o atleta suporta a pressão do esforço físico, a fim de obter um nível mais alto de resistência física, também o cristão deve suportar as provações da vida, para que obtenha uma resistência espiritual que leve à perfeição.

Existe uma recompensa prometida a quem alcançar este nível de perfeição: “a coroa da vida”. A palavra coroa refere-se, algumas vezes, a uma coroa real, mas o uso mais comum naqueles dias referia-se a uma coroa de louros conferida ao atleta vitorioso (1 Co. 9:25) e, que de modo figurado, significa glória e honra. No caso dos cristãos, a coroa é um emblema do sucesso espiritual, dada pelo Rei dos Reis e Senhor dos Senhores, àqueles que “guardam a fé” em meio aos sofrimentos e tentações. Mesmo quando suportar a provação significa morte, a vida é a recompensa para aqueles que amam a Deus.

Quando a pessoa enfrenta adversidades não deve tentar se desculpar pelo fracasso em resistir à tentação, atribuindo-o a Deus. Se deseja culpar alguém, tem só a si mesmo para considerar, pois a tentação vem da própria cobiça. Tiago parece pensar na tendência inata do homem em direção ao pecado. A tentação brota deste “impulso maligno” quando este atrai e seduz o homem. A omissão que Tiago faz de satanás como uma fonte de tentações não significa que o ignore como o principal “tentador”. O seu propósito aqui é acentuar a responsabilidade individual pelo pecado.

Em si mesma a concupiscência não é pecado. Apenas quando uma pessoa, por sua vontade, cede à atração é que o pecado surge. Tiago descreve este ato de modo vivo: A concupiscência é retratada como a mãe, que dá a luz ao pecado, seu filho. E este filho, atingindo a maturidade, gera a morte.

Tiago afirma que atribuir a Deus o intento maligno de tentar as pessoas é um assunto muito sério. Ele quer ter a certeza de que seus leitores não se “enganarão” nesta questão. Longe de atrair para o pecado, Deus é a fonte de todas as boas dádivas (Tg. 1:17), dentre as quais a maior é o novo nascimento (Tg. 1:18).

Tiago menciona tanto a boa dádiva como o dom perfeito, para demonstrar o caráter de Deus que é benevolente e imutável, sendo a fonte de tudo quanto é bom. A descrição de Deus como o “Pai das luzes” é a única nas Escrituras. Sabemos que Deus é nosso Pai e que nós somos a luz do mundo (Mt. 5:14). Muitos entendem que estas luzes são provavelmente como os corpos celestes incluindo o sol, a lua e as estrelas (Sl. 136:7–9; Jr. 31:35). A Bíblia sempre faz menção do firmamento dos céus como evidência da obra criadora de Deus e de seu contínuo exercício de poder. “Todas as coisas criadas precisam necessariamente sofrer mudanças, pois isto faz parte de suas características, assim como a imutabilidade é característica de Deus”.

Como um proeminente exemplo das boas dádivas de Deus, Tiago menciona o fato de que Deus “nos gerou pela palavra da verdade” e que isto Ele fez por sua “determinação espontânea e gratuita”.

I.E.Q Secretaria Geral de Educação e Cultura ___________________________Epístolas Gerais - Revisão em 2006

8

Page 9: Epistolas gerais aluno

Desta forma, assumimos a posição de que Tiago apela ao “novo nascimento” espiritual dos cristãos como uma demonstração das boas dádivas que Deus concede. Este “novo nascimento” é motivado pela soberana determinação de Deus, cujo querer, ao contrário de sua criação, é invariável. O instrumento usado por Deus para realizar este “novo nascimento” é a palavra da verdade, e o propósito dEle é que os cristãos permaneçam como o “sinal (primícias) do universal plano redentor de Deus, “boas dádivas” que Ele ainda tem a conceder.

Uma exortação quanto ao falar e à ira (1: 19, 20)

Tiago inicia esta pequena exortação com a já conhecida interjeição: “meus amados irmãos”. Orienta-os a evitarem as palavras precipitadas e a ira descontrolada. Tiago estimula seus leitores a estarem prontos para ouvir a Palavra de Deus, sendo tardios em se tornarem mestres dela.

É significativo o fato de que o descontrole no falar está muitas vezes ligado com a ira sem limites. Segundo Pv. 17:27, “quem retém as palavras possui o conhecimento, e o sereno de espírito é homem de inteligência”. Com muita freqüência, é a ira descontrolada diante de uma pessoa, que nos leva a falar rápido demais e a dizer mais do que devemos. Apesar de Tiago não proibir toda e qualquer ira (há lugar para a “justa indignação”), ele proíbe o temperamento irrefletido e descontrolado que muitas vezes produz palavras ásperas, nocivas e irrecuperáveis (Ec. 7:9) A proibição de uma ira sem limites baseia-se no fato de que a “ira não produz a justiça de Deus”. A ira precipitada, descontrolada, é um pecado porque transgride o padrão de conduta que Deus exige de seu povo.

Tornado-se praticantes da Palavra (1: 21, 27)

Tiago faz um lembrete de que o nascimento espiritual concedido graciosamente pelo Senhor a seu povo, através da Palavra de Deus, era seguido de exortações para que eles evitassem o tipo de comportamento associado com a vida antiga e começassem a viver pelo padrão da Palavra de Deus que os havia salvado. O “despojar-se” da impureza deve ser acompanhado pelo “recebimento” de alguma outra coisa: “a palavra em vós implantada”. Tiago estava com esta afirmação, referindo-se à capacidade natural “inata”, que o homem tem de receber a revelação de Deus – “é a capacidade original envolvida na criação à imagem de Deus, que torna possível aprender a revelação”.

Os cristãos que verdadeiramente foram “gerados” (Tg. 1:18), demonstram que a Palavra os transformou, quando eles humildemente a aceitaram como autoridade e diretriz para a sua vida. Tiago usa também a figura da preparação da “boa terra” em seu coração a fim de que “a semente” da Palavra ali plantada possa produzir muito fruto (Mc. 4:3–20). Fala também do ato de “salvar as vossas almas” como sendo este fruto.

Tiago declara que por mais importante que seja a aceitação mental da Palavra, ela não será verdadeiramente recebida, enquanto não for colocada em prática. Ele não está se opondo ao ato de ouvir a Palavra, mas sim ao fato de que o ouvir não conduz à prática. Aqueles que não praticam a Palavra e se tornam somente ouvintes, praticam uma auto-ilusão perigosa e potencialmente fatal. Aquele que apenas ouve a Palavra é como quem contempla “num espelho o seu rosto natural”, mas que esquece rapidamente daquilo que viu. O praticante da Palavra, por sua vez, contempla a “lei perfeita, lei da liberdade e persevera”; ele é um trabalhador praticante. Tiago estabelece um contraste na maneira de olhar: O que é “somente ouvinte” da Palavra, olha para a lei da liberdade, rapidamente e sem atenção. O que é praticante da Palavra a considera com cuidado.A influência penetrante dos ensinos de Jesus sobre a ética de Tiago sugere que esta “lei” refere-se principalmente às exigências éticas de Jesus. Tiago quer enfatizar a seus ouvintes que as “boas novas” de salvação trazem uma inevitável exigência de obediência completa. Mas com a penetrante e radical exigência do Evangelho vem a graça capacitadora de Deus. Tiago passa a destacar algumas formas específicas pelas quais se manifesta a obediência à Palavra. Uma destas formas, com a qual demonstra não pequena preocupação, é com o controle da “língua”. Ele ensinou que todo homem deve ser “pronto no ouvir e tardio no falar” (Tg. 1: 9). A

I.E.Q Secretaria Geral de Educação e Cultura ___________________________Epístolas Gerais - Revisão em 2006

9

Page 10: Epistolas gerais aluno

pessoa que deixa de controlar sua língua acaba enganando o próprio coração em relação à veracidade de sua religião. Ele é um mero ouvinte da Palavra, e quando falha em colocar em prática aquilo que ouve, mostra que “sua religião é vã”. A verdadeira prova de uma religião é a obediência – sem ela, a religião é vã: vazia, inútil e infrutífera.A pureza moral é outra marca da religião pura. O “guardar-se incontaminado do mundo”, significa evitar que pensemos e ajamos de acordo com o sistema de valores da sociedade que nos cerca. A “religião pura”, do cristão perfeito (Tg. 1:4) associa a pureza de coração à pureza de ação.

CAPÍTULO 2

A imparcialidade e a lei do amor (2:1–13)

Iniciando com a expressão “meus irmãos”, Tiago define o reconhecimento de seus leitores como membros da igreja e então exorta: “não façais acepção de pessoas”. Ainda que o Senhor Deus não apresenta parcialidade (Dt. 10:17; Gl. 2:6), os seres humanos que a Ele servem, sob sua autoridade, e que se supõem terem copiado seu caráter, precisam ser continuamente advertidos contra a parcialidade (Lv. 19:25; Dt. 1: 17; Sl. 82:2; Pv. 6:35; 18:5). A igreja não deveria mostrar parcialidade, nenhum interesse com respeito à beleza externa, à riqueza material e ao poder ou à influência da pessoa.

A única base da igreja é a fé num único Senhor. A fé e a fidelidade no compromisso ao Senhor é o que salva tanto ricos como pobres, igualmente, e todos são leais a um Senhor cuja vida e ensino desprezaram quaisquer posições mundanas. E, acima de tudo, este é um Senhor que vive, que foi exaltado em glória e, que vai voltar a fim de manifestar seu poder e glória e ainda julgar o mundo. Demonstrar parcialidade é violar o caráter do Senhor, é insultá-lo, e certamente é grave pecado.

Tiago continua com este tema: “Se na vossa reunião entrar algum homem com anel de ouro no dedo, e com trajes de luxo”. O anel de ouro no dedo indica sua riqueza, e “a seguir entra também um pobre andrajoso”, que só possui as roupas do corpo, que estão sujas e esfarrapadas. Acostumado à rejeição, o coitado espreita à porta, sentindo que as pessoas reunidas o evitam, o que ele já esperava; o péssimo estado de seu vestuário declara-o lixo humano, sem valor algum sob o prisma mundano.

A igreja reage à situação econômica do rico: “Assenta-te aqui no lugar de honra”. O rico acomoda-se na cadeira mais confortável sob os sorrisos complacentes de todos os presentes. O pobre, por sua vez, é recebido com frieza: “Fica aí em pé”, ou ainda “assenta-te abaixo do estrado dos meus pés”, e independente do lugar onde se assente, a maioria dos presentes, finge que não notou a sua presença. Tiago chama à consciência de seus leitores através dos exemplos do Antigo Testamento, de forma a evitarem esta situação na igreja cristã, o que causava grandes constrangimentos e era totalmente avesso aos ensinos de Jesus. Inicia seu ataque lógico contra essa prática, com um apelo: “Ouví, meus amados irmãos”, chamando-os a algo que já é de seu conhecimento: “Não escolheu Deus aos que são pobres?” Emprega uma terminologia familiar da eleição, com que Israel estava acostumado (Dt 4:37; 7:7), como também a igreja (Ef. 1:4; 1 Pe. 2:9), mas aplica-a de modo específico aos pobres. Mas Tiago está dizendo mais do que isso. Deus elegeu de modo especial “aos que são pobres aos olhos do mundo, para serem ricos na fé e herdeiros do reino que prometeu aos que o amam”. Está usando os ensinos de Jesus, que foi o Senhor que disse que veio de modo particular “para evangelizar os pobres” (Lc. 4:18); e ainda “Bem-aventurados vós, os pobres, pois vosso é o reino de Deus” (Lc. 6:20). O mundo os considera como pobretões desprezíveis, sem importância, mas para Deus eles são “ricos na fé” e herdeiros do reino – o contrário da perspectiva mundana. A igreja que envergonha o pobre, de certo modo, abandonou a vontade de Deus e deixou de agir em prol dEle (1 Co. 11:22). Entretanto, certas igrejas decidiram mostrar preferência pelos ricos, que as oprimem. Acerca disso Tiago levanta alguns fatores:

I.E.Q Secretaria Geral de Educação e Cultura ___________________________Epístolas Gerais - Revisão em 2006

10

Page 11: Epistolas gerais aluno

“São os ricos que vos oprimem”. A opressão dos ricos sobre os pobres tem raízes profundas no Antigo Testamento (Jr. 7: 6; 22:3; Ez. 18:7; Am. 4:1; 8:4; Ml. 3:5). Quando o pobre precisava de um empréstimo, o rico lhe concedia com juros elevados, sendo que obter lucros mediante a desgraça do necessitado, era prática condenada (Ex. 22:25-26). Em surgindo uma disputa, o rico contratava o melhor advogado; ambos se associavam, de modo que o pobre se tornava mais pobre, e o rico mais rico.“Os ricos vos arrastam aos tribunais”. Quando o pobre não podia restituir o empréstimo ao rico, ele o arrastava ao tribunal e fazia com que fosse decretada a falência do pobre; sendo que na maioria das vezes as acusações apresentadas contra os pobres eram caluniosas. “Os ricos, são os que blasfemam o bom nome daquele a quem pertenceis”. Agora, Tiago acrescenta uma acusação de natureza religiosa. O nome de Jesus havia sido outorgado aos cristãos. Todavia, os ricos falam mal desse nome, quando escarnecem de Jesus ou quando insultam seus seguidores.Entretanto, apesar de todos esses fatores, certas igrejas também decidiram insultar os pobres, a quem Deus honra, decidindo favorecer os ricos, identificando-se com a classe opressora. Tiago prossegue em sua argumentação bíblica: “se cumprirdes a lei real ... fazei bem”. Real vem de reino e o Reino em questão aqui é o de Deus (Tg. 2:5). Embora a glória total desse reino ainda pertença ao futuro, o cristão já entrou nele e permanece sob sua autoridade. A lei é “encontrada na Escritura”, porque Jesus interpretava o Antigo Testamento, trazendo nova revelação, em vez de ensinar referirindo-se à revelação anterior. O mandamento específico é citado por Tiago: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo” é um dos prediletos de Jesus (que menciona Lv. 19: 18 seis vezes nos evangelhos sinóticos) e da igreja (Rm. 13:19; Gl. 5:14). Era um mandamento geralmente visto como resumo da lei. De acordo com as Escrituras, o próximo é a pessoa a quem devemos amar. Muitas vezes esses cristãos demonstram parcialidade, ao fazer “acepção de pessoas”; discriminando o pobre e assim quebram a lei. Aqueles cristãos estão sendo “argüidos pela lei como transgressores”: nesta frase temos um retrato do julgamento final de Deus. A razão que sustenta esta conclusão é a seguinte: “qualquer que guardar toda a lei, mas tropeçar em um só ponto, torna-se culpado de todos”. A transgressão pode ser mais ou menos grave, mas o transgressor permanece sob uma maldição, não importando que mandamento tenha quebrado. O argumento de Tiago é importante, pois demonstra que a rebelião contra Deus é questão muito mais séria do que o ato pecaminoso específico, e que nenhuma transgressão deliberada do ensino divino deixa de ter importância. A conclusão de Tiago resume sua argumentação. Em todas nossas ações devemos manter diante dos olhos o julgamento final de Deus. O par de palavras “falai e procedei’ cobre todo o comportamento humano (At. 1:1; 7:22; 1 Jo. 3:18). O padrão de julgamento de que seremos julgados pela “lei da liberdade”. Esta idéia foi mencionada em Tg. 1:25. A obediência a esta lei perfeita traz bênçãos. Tiago não considera este conceito ameaçador, visto tratar-se de princípio, além de nos mostrar como fugir da escravidão do pecado, apontando para o Caminho da Vida. Buscando fundamentar sua argumentação nas Escrituras. Tiago acrescenta um ditado proverbial: “o juízo será sem misericórdia para aquele que não usou de misericórdia”. Deus é misericordioso, e os judeus sabiam muito bem disso. Em Ex. 34:5-6, Deus se apresenta a Moisés como “Deus misericordioso”, compassivo e misericordioso... lento para a ira, abundante em amor” (Dt. 4:31; Sl. 103:8-14). Se este é o padrão pessoal da justiça de Deus, segue-se que seus verdadeiros filhos devem imitá-lo. Se não demonstrarmos misericórdia, sairemos da aliança de Deus, e ao mesmo tempo pediremos a Deus que nos julgue segundo nosso padrão de severidade.Jesus ensinou: “Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia (Mt. 5:7). Esse conceito é enfatizado em seu ensino sobre o perdão (Mt. 6:14-15), sua resposta aos fariseus (Mt. 12:7, citando Os. 6: 6), sua parábola sobre o perdão (Mt. 18:21–35) e sua parábola sobre as ovelhas e os bodes (Mt. 25:31–46). Portanto, o testemunho sólido dos evangelhos é que Jesus seguiu o ensinamento judaico padrão e ensinou que Deus haveria de demonstrar misericórdia apenas a quem obedecesse a ele e o imitasse.

I.E.Q Secretaria Geral de Educação e Cultura ___________________________Epístolas Gerais - Revisão em 2006

11

Page 12: Epistolas gerais aluno

A fé que salva (2:14–26)

Tiago faz outra mudança temática dizendo: “Meus irmãos, que proveito há se alguém disser que tem fé, e não tiver obras?” A forma com que Tiago elabora esta pergunta demonstra sua esperança em ter uma resposta negativa: absolutamente nenhum proveito!

Continua perguntando: “Pode essa fé salvá-lo?” Não há salvação para a pessoa cujo discipulado é deficiente na fé. Se esta for apenas intelectual, expressa tão somente práticas religiosas e não vai salvar a pessoa. No Antigo Testamento também se condena a piedade que não é associada à ação, com a qual condenaram João Batista (Lc. 3: 7 – 14), Jesus (Mt 7: 15 – 27) e Paulo (Rm. 1:5; 2:6–8; 6:17-18; Gl. 6:4–6). Tiago segue esta mesma linha: a fé sem obras não salva.

Tiago exemplifica sua posição dizendo: “Se o irmão ou a irmã estiverem nus, e tiverem falta de mantimento cotidiano”. Esta é a situação de alguém que faz parte da comunidade local dos cristãos, “o irmão ou a irmã”, cuja necessidade é patente, precisam de roupas e de alimentos. “E algum de vós lhe disser: “Ide em paz, aquentai-vos e fartai-vos”. Fica indicada aqui a reação de um membro rico da igreja despedindo seus irmãos sem fazer nada por eles. Suas palavras são piedosas, indicam que reconhecem as necessidades dos irmãos, mas “se não lhes derdes as coisas necessárias para o corpo, que proveito há nisso?” Tiago presume que o cristão deveria fazer algo mais do que orar por seu irmãos. Se tem duas túnicas, uma despensa, geladeira e freezer cheios e não compartilha e ainda utiliza a oração intercessória para aliviar-lhe a consciência, sua oração é inútil.

Tiago continua dizendo: “Assim também a fé, em si mesma, se não tiver obras, é morta”. Se o cristão demonstrar uma fé que não passa de uma crença intelectual, sem a obediência ao evangelho, como no parágrafo anterior, vemos que o que professa acreditar, é vão. Paulo declara que a única fé que interessa, a “que importa é a fé que opera pelo amor (Gl. 5: 6), em vez dos rituais e hábitos religiosos. Para Tiago, a fé que conduz à ação é que salva.

Tiago continua sua argumentação, utilizando o estilo vivo de diálogo imaginativo, tão popular naqueles dias como hoje. “Mas dirá alguém, Tu tens fé, eu tenho obras”. Veja que a fé sem obras é morta; portanto é necessário que a fé seja mostrada através das obras. Contudo quem tem obras, tem fé: “e eu te mostrarei a minha fé pelas minhas obras”. Tiago continua argumentando: “Mostra-me a tua fé, sem as tuas obras”. Em outras palavras está dizendo: mostre-me a tua fé sem ação. A fé de uma pessoa no seu modo de viver, só pode ser vista em suas atitudes ou ações. Logo uma fé sem ação é impossível de ser demonstrada. Tiago contra argumenta “e eu te mostrarei a minha fé pelas minhas obras”. Cada ação cristã exige que se verifique qual é a motivação que a inspira. Se fazemos algo, é porque cremos, ou seja, temos fé que é correto. Logo as ações, ou obras, mostram facilmente onde está nossa fé.

Tiago continua a criticar a fé sem obras. “Crês tu que Deus é um só? Fazes bem! Este é um ensino básico do Judaísmo e do Cristianismo, constituindo parte da Shema. Esta confissão de fé era recitada duas vezes por dia por todos os judeus farisaicos: “Ouve, ó Israel: O Senhor nosso Deus é o único Senhor. Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, e de toda a tua força” (Dt. 6: 4,5). Os cristãos também consideram esta confissão de fé, pois foi declarada por Jesus (Mc. 12:28-34) como o maior dos mandamentos; e por Paulo (Rm. 3:30): “Há um só Deus”.

Porém, o elogio de Tiago é em parte irônico: “Os demônios também o crêem, e estremecem. Não somente o Judaísmo, mas também o Cristianismo conhecia a dinâmica da crença dos demônios que freqüentemente faziam confissões de Cristo mais sólidas que os próprios apóstolos. A reação dos demônios perante o nome de Deus era “estremecer”, pelo fato de estarem em rebelião contra Deus, e porque a “fé” deles não os induzia à ação obediente. De igual forma os que apenas crêem intelectualmente, não estão em situação diferente, pois não votaram fidelidade a Deus numa vida de obediência. Tiago clama: “Ó homem insensato!”. Este é um termo que pode parecer forte demais, indicando não um erro intelectual, mas moral. Este tipo de linguagem era comum na época. Podemos ver outros exemplos em Jesus (Mt. 23:17; Lc. 24: 45) e em Paulo (1 Co. 15:36; Gl. 3:1). Continua fazendo um apelo igualmente forte: “Mas queres saber... que a fé sem as obras é inútil?”. Isto sugere

I.E.Q Secretaria Geral de Educação e Cultura ___________________________Epístolas Gerais - Revisão em 2006

12

Page 13: Epistolas gerais aluno

que é a ignorância voluntária da própria pessoa que exige provas adicionais que impossibilita a aceitação dessas provas.

Cita Abraão, que foi considerado justo (justificado), ou seja foi “declarado justo por Deus” ou ainda “considerado reto por Deus”. O sentido aqui assumido por Tiago é baseado naquilo que Deus disse a Abraão: “Agora sei que temes a Deus”. A declaração baseou-se na ação: “Abraão foi justificado quando ofereceu sobre o altar o seu filho Isaque”. A fé que Abraão demonstrou era real, genuína, porque governava a vida do patriarca. Prossegue Tiago: “Vês”. O ponto central da passagem é claro; “a fé cooperou com as suas obras”. Mas de onde veio a sua fé? Abraão vivia numa cultura idólatra, mas rejeitou a idolatria. Queimou a casa que abrigava os ídolos e comprometeu-se em fidelidade a obedecer o único Deus. Continua dizendo: “pelas obras a fé foi aperfeiçoada”. Está afirmando que Abraão possuía fé, mas que ela amadureceu ao manifestar-se em ação (Tg. 2:14,15). Existe mutualidade entre fé e obras: A fé informa e motiva a ação; a ação amadurece a fé. Tiago não aprova uma, em detrimento da outra, mas, insiste em que são inseparáveis. Tiago resume: “vedes então que o homem é justificado pelas obras, e não somente por fé”. Parece que Tiago está indo contra a doutrina paulina da justificação pela fé. O ponto crítico de Tiago é que Deus não vai aprovar alguém por ser ortodoxo, ou porque consegue passar numa prova de Teologia Sistemática. Deus pode declarar alguém justo se tiver uma fé dinâmica, que se traduz em ação, produzindo resultados de fidelidade e obediência. E isto não é contra a doutrina paulina. Tiago apresenta a ilustração da “meretriz Raabe” cujas palavras e ações em Js. 2:1–21 fascinaram os judeus bem como os cristãos primitivos (Hb. 11: 31). Ela tinha fé e a professou em Js. 2:9-10. Todavia só a fé não poderia salvá-la; ela precisou agir concedendo alojamento aos espias (“acolheu os espias”), e ao encaminhá-los (“os fez partir por outro caminho”) para a liberdade, o que representou arriscar sua própria vida. A fé sozinha não a teria poupado, mas, quando a fé a levou à ação, os espias a declararam justa.

“Assim como o corpo sem o espírito está morto, assim também a fé sem as obras é morta”. Um corpo destituído do espírito é um cadáver. Os judeus sabiam que quando uma pessoa “exalava o último suspiro” ou “entregava o espírito” tal pessoa estava morta. Todo cadáver precisa ser sepultado. De modo semelhante, a fé que não passa de crença intelectual está morta. Não pode salvar; torna-se um perigo, porque ilude a pessoa quanto ao seu verdadeiro estado espiritual. A fé só tem valor quando se torna num compromisso integral de fidelidade ao Senhor, ao ligar-se à ação.

CAPÍTULO 3

Os efeitos nocivos da língua sem controle (3:1–12)

Tiago começa o assunto da língua com uma advertência sobre o ofício de ensinar. Os mestres (didaskaloi) desempenhavam um papel importante na vida da igreja primitiva. O papel do mestre na igreja era comparável ao do rabino judeu, ou seja, transmitia a doutrina cristã (2 Tm. 2:2). Naturalmente, o ministério de ensino conferia certa autoridade e prestígio. A preocupação de Tiago com os que afluíam para este ministério com motivações erradas, justifica a sua advertência: “não vos torneis muitos de vós mestres”. Aponta, para isso, outro aspecto menos atraente do ensino: “sabendo que havemos de receber maior juízo”, sendo que a palavra “juízo”, sugere a idéia de punição ou condenação. A intenção de Tiago não é dissuadir do ensino estas pessoas que, como ele próprio, tem o chamado e o dom de ensinar. O que deseja fazer é imprimir sobre seus leitores a natureza séria do ministério, advertindo-os que não se deve ingressar nele por motivos frívolos ou egoístas. O mestre coloca a si próprio diante do maior perigo de julgamento, uma vez que a principal ferramenta de seu ministério, a língua, é a parte de controle mais difícil do corpo. Tiago usa algumas ilustrações para representar o poder e o perigo que a língua representa (Tg. 3:3–6): Usa a figura do cavalo, que um pequeno freio em sua boca, pode refrear toda sua força. O pequeno freio na boca nos dá controle sobre o corpo inteiro do cavalo.

I.E.Q Secretaria Geral de Educação e Cultura ___________________________Epístolas Gerais - Revisão em 2006

13

Page 14: Epistolas gerais aluno

Usa também a figura do leme que sendo tão pequeno determina o rumo de grandes embarcações, conforme o impulso do timoneiro. Estas duas ilustrações focalizam o controle que um pequeno objeto, exerce sobre uma coisa grande. Quando o homem consegue controlar a sua língua, pode dirigir toda a sua vida segundo a vontade de Deus. Mas quando a língua não é refreada, mesmo sendo tão pequena, também o resto do corpo provavelmente não terá controle nem disciplina. A língua pode gloriar-se e com razão do poder que possui para determinar o destino de uma pessoa. “Vede como uma fagulha põe em brasas tão grande selva”. Isto demonstra o poder de fogo destruidor que a língua pode exercer. Tiago continua enfatizando o grande mal inerente na língua, uma grande “quantidade” ou “volume” de iniqüidade. Está afirmando que a língua contém em si os pecados do mundo decaído. Jesus afirmou que “o que sai da boca” contamina o homem e também que a boca é a expressão do coração, onde se encontram “maus desígnios, homicídios, adultérios, prostituição, furtos, falsos testemunhos, blasfêmias” (Mt. 15:11; 18; 19). Quando a língua contamina o corpo inteiro realiza exatamente o que é oposto da “religião pura”: “guardar-se sem contaminação, do mundo”. Os pecados cometidos com a língua espalham poluição espiritual na pessoa inteira. A questão, assim, é que o poder de fogo e destruição da língua afeta tudo na existência humana, do começo ao fim, e em todas as circunstâncias. De onde vem tamanho potencial de destruição? “Do inferno”, diz Tiago. Faz uma alusão à história da criação, no Gênesis, acerca do domínio do homem sobre o mundo animal. O homem pode dominar animais, mas a língua ninguém pode domar. A língua é “mal incontido”, ou seja , que não se pode refrear, irriquieto. É também “carregada de veneno mortífero”, que reflete o ensino do Antigo Testamento: os homens maus “aguçam a língua como a serpente; sob os lábios têm veneno de áspide” (Sl. 140: 3). O veneno produzido pela língua “destrói o próximo” (Pv. 11:9) e também leva à ruína aquele que peca (Pv. 10: 8). A língua, além de tudo o que já foi descrito, recebe ainda a atribuição de ambigüidade: “com ela bendizemos ao Senhor e Pai; também com ela amaldiçoamos os homens feitos à semelhança de Deus”. A bênção de Deus era uma parte importante da devoção judaica. A ação da bênção, na qual louvamos e honramos a Deus, é citada por Tiago como a mais elevada, pura e nobre forma de discurso. Por outro lado a mais baixa, impura e ignóbil forma de discurso é a maldição. No mundo antigo, a palavra de maldição, que é o oposto da bênção (Dt. 30:19), era vista como detentora de grande poder. Amaldiçoar alguém não é apenas proferir uma praga contra a pessoa; é o desejo de que aquela pessoa seja cortada da presença de Deus e experimente castigo eterno. Jesus proibiu seus discípulos de amaldiçoarem outras pessoas; na verdade, eles deveriam bendizer aqueles que os maldiziam (Lc. 6:28; Rm. 12:14). Tiago declara a incompatibilidade entre um coração puro e palavras impuras, comparando-a primeiro com uma fonte de água, que numa terra seca como a Palestina, era algo muito importante. Mas da mesma fonte não pode fluir água doce e salgada (ou amarga). Compara também com as plantas: “pode a figueira produzir azeitonas, ou a videira produzir figos?”. Da mesma forma não pode o coração puro produzir palavras falsas, amargas e nocivas.

A verdadeira e a falsa sabedoria (3:13–18)Tiago inicia esta seção com uma pergunta que é um desafio: “Quem entre vós é sábio e entendido?”. Se você é sábio demonstre sua sabedoria pelas obras que a verdadeira sabedoria produz. Ele considera a “sabedoria” uma virtude à disposição de todos (Tg. 1:5), e mesmo em Tg. 3:1 realmente não se dirige a mestres, mas àqueles que queriam se tornar mestres. Sua exortação é melhor entendida como se fosse dirigida a todos os cristãos, em geral, mas especificamente àqueles que se orgulhavam de seu conhecimento superior. Tiago adverte que devem estar “em mansidão de sabedoria”, o que deve ser entendido como um qualitativo de obras, sendo estas aplicadas em mansidão. Para os gregos, mansidão sugeria um rebaixamento servil e ignóbil. Mas Jesus, que pessoalmente foi manso (Mt. 11:29), pronunciou a bênção sobre aqueles que fossem mansos (Mt. 5:5). Tal mansidão cristã envolve uma compreensão

I.E.Q Secretaria Geral de Educação e Cultura ___________________________Epístolas Gerais - Revisão em 2006

14

Page 15: Epistolas gerais aluno

sadia acerca de nossa falta de méritos diante de Deus e uma respectiva humildade e falta de orgulho no trato com nossos semelhantes. O oposto de mansidão é “inveja amargurada e sentimento faccioso”. Inveja, é sempre uma coisa má. O sentimento faccioso é praticado por aqueles que se orgulham em sabedoria e conhecimento pessoais e que demonstram um partidarismo invejoso e amargo. De modo um tanto quanto irônico, Tiago compara este tipo de sabedoria com a que “desce lá do alto”. As Escrituras deixam bem claro que a verdadeira sabedoria, procede somente de Deus. “... O Senhor dá sabedoria” (Pv. 2: 6). É por isso que só a obtemos se a pedirmos a Deus (Tg. 1:5). A “sabedoria” que se expressa em egoísmo e inveja tem natureza e origem bem diferentes. Tiago a descreve com três adjetivos:

É terrena – Não é celestial. Pode ter também significados negativos, descrevendo aquilo que é transitório, fraco e imperfeito.É animal – É apontado várias vezes nas Escrituras como aquilo que não é espiritual.É demoníaca – Literalmente, “pertinente a demônios”.

Tiago define a sabedoria “lá do alto” com sete adjetivos: É primeiramente “pura” - A palavra “pura”, tem a conotação de irrepreensibilidade moral, talcomo a castidade imaculada de uma noiva virgem (2 Co. 11:2). É pacífica – O Antigo Testamento nos ensina que a sabedoria produz paz (Pv. 3:17) e Paulo alista “paz” como fruto do espírito. É indulgente – Ser indulgente é ser bondoso, pronto a se submeter, indisposto a “fazer exigências rigorosas”. É tratável – A pessoa tratável é alguém que, literalmente, é “facilmente convencido”, não no sentido de uma ingenuidade fraca e crédula, mas de uma deferência espontânea a outros, quando não se envolve princípios morais ou teológicos inalteráveis. É plena de misericórdia e de bons frutos – Misericórdia é o amor ao próximo evidenciado em ações (Tg. 2:8–13). Atos de misericórdia são aqueles “frutos” que a genuína sabedoria, assim como a fé legítima, deve produzir. É imparcial – É aquele que não demonstra preconceitos, nem faz acepção de pessoas. É sem fingimento – Ela é genuína, “sem exibições ou pretensões”. Para dar um bom desfecho na questão da sabedoria, Tiago ressalta sua natureza pacífica. Isto dá ênfase ao desejo de Tiago de erradicar as amargas e contenciosas discussões e disputas que estavam despedaçando a igreja (Tg. 3:16; 4:1; 2). A paz produzida pela sabedoria genuína estava claramente ausente. Os pacificadores produzem, na atmosfera de paz que eles criam, “o fruto da justiça”. Aqueles que criam tal atmosfera recebem do Senhor a certeza da recompensa: “Bem-aventurados os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus (Mt. 5:9).

CAPÍTULO 4

Os prazeres malignos são fontes de dissensões (4:1–3)

Tiago inicia esta seção exortando e questionando seus leitores: “De onde vem as guerras e contendas entre vós?”. Se a sabedoria de Deus se encontra entre os pacificadores, as “guerrilhas comunitárias” não procedem dos amantes da paz. Mas as questões dentro da igreja – “entre vós” – são guerra civil e não defesa nacional.

Descrevem-se também vividamente os resultados do fracasso desses cristãos. Tiago discute com maiores minúcias este problema. Ele afirma: “seja qual for o objetivo, o desejo é a origem do pecado e do conflito”. Salienta ainda as conseqüências do desejo frustrado: “Não podeis obter o que desejais”. Em vez de reexaminar seus desejos, a pessoa por eles aprisionada, lança mão da calúnia e do abuso verbal contra os que foram atendidos em seus pedidos.

I.E.Q Secretaria Geral de Educação e Cultura ___________________________Epístolas Gerais - Revisão em 2006

15

Page 16: Epistolas gerais aluno

Estes cristãos poderiam responder que na verdade oram, mas parece que a oração não produz efeitos. A resposta de Tiago a eles é: “Pedis e não recebeis porque pedis mal”; há um motivo ponderável para a oração não funcionar: pedis mal, isto é, a motivação é errada. A oração no Novo Testamento cresce do relacionamento com um Pai cuja bondade é suprema. O que Tiago nos aponta é que tais cristãos não estão sintonizados com Deus. Eis a razão: “pedis... para o gastardes em vossos prazeres”. A implicação não é que Deus nunca nos concede coisas que nos dão prazer. Nosso Deus é o Deus misericordioso que nos dá não apenas pão e água, mas também abundância “segundo as suas riquezas” (Fp. 4:19). Sendo motivados por desejos egoístas, estes cristãos pediam somente para satisfazer seu ego. Depois de analisar-lhes, Tiago acrescenta uma acusação: “adúlteros e adúlteras”. Essas pessoas foram comparadas ao povo de Israel. A igreja é a noiva de Cristo, assim como Israel a noiva de Deus (2 Co. 11: 2; Ef. 5: 22–24; Ap. 19:21). Quando se voltava à idolatria, Israel não se afastava de Deus, mas queria praticar um “sincretismo”. E por isso Israel era sempre comparado a uma esposa infiel, adúltera, que desejava manter a segurança e a respeitabilidade de seu lar e do marido, mas também desejava usufruir do amante (Is. 1: 21; Jr. 3; Os. 1:3). Tiago aplica essa imagem à igreja, acusando-a de servir a certo tipo de “ídolo” e simultaneamente a Deus. É fácil identificar o “ídolo”: “ é o mundo”. “Não sabeis que a amizade do mundo é inimizade com Deus?” Portanto qualquer que quiser ser amigo do mundo, constitui-se inimigo de Deus.

Um chamado ao arrependimento (4: 4 – 10)

“Portanto, qualquer que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus” (v.4), aqui Tiago apresenta que o envolvimento com o sistema do mundo é infidelidade. Tiago diagnostica sem pestanejar que essa forma de infidelidade como “apostasia”, é a mesma doença do Antigo Testamento. “Querem ser amigos do mundo”, tornam-se inimigos de Deus e Ele não aceitará menos do que total fidelidade.

Além de condená-los por seu comportamento, Tiago acrescenta uma advertência: “ou pensais que em vão diz a Escritura que...” Quando o povo corrompe seu espírito para servir ao mundo, o ciúme de Deus se inflama. Ai da pessoa que ignora a advertência divina, como se as Escrituras fossem apenas papel e tinta. Tiago infunde no povo, esperança em vez de terror: “antes, ele nos dá graça maior”. Está consciente do juízo de Deus sobre os que se recusam a arrepender-se (Tg. 5:1–6), mas também está consciente de como Deus está disposto a perdoar.

A prova desta verdade também se encontra nas Escrituras: “portanto, diz a Escritura: Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes” (Pv. 3:34). Este é um dos textos prediletos da tradição cristã ética, e proporciona ao povo a possibilidade de uma escolha: pode humilhar-se e receber graça de Deus, ou pode prosseguir em sua auto-suficiência humana e sofrer a ira de Deus. A atitude de Deus não é baseada em pecados do passado, mas pelo atual estado de coração de seu povo. O Deus de Tiago é o Deus benevolente das Escrituras.

Visto que Deus é misericordioso, Tiago chama ao passo seguinte: “arrepender-se”. “Sujeitai-vos pois a Deus”, é o ponto principal. Não há graça barata, nenhum perdão de pecados se o pecador pretende continuar pecando. Contudo, em havendo sujeição a Deus, a graça está disponível. O próximo passo é deixar de agradar ao diabo: “Resisti ao diabo, e ele fugirá de vós”. Tiago demonstra que, embora o impulso para pecar seja interno, ceder a ele é entregar-se ao diabo. Os evangelhos são claros neste ponto (Mt. 4:1–11; Mc. 8:28-34; Lc. 22:31; Jo. 13:2; 27). Todavia, o diabo não exerce poder sobre o cristão, exceto o poder da sedução. Quando resistimos ao diabo, ele se comporta como o fez diante de Jesus, no deserto – foge.

Arrependimento total significa purificação. Há promessa e ao mesmo tempo, exigência na convocação “Chegai-vos a Deus, e ele se chegará a vós”. No Antigo Testamento temos esta chamada em Ml. 3:7 e em Zc. 1:3. Tiago continua: “lavai as mãos pecadores”. O culto no Antigo Testamento exigia mãos cerimonialmente puras (Ex. 30:19–21). Esses cristãos não estão preparados no momento para o culto, porque estão em pecado. O termo “pecadores” é forte, pois Tiago não aceita desculpas.

I.E.Q Secretaria Geral de Educação e Cultura ___________________________Epístolas Gerais - Revisão em 2006

16

Page 17: Epistolas gerais aluno

Tiago deixa agora o comportamento de lado e trata do problema interior, ao exigir: “Vós de ânimo duplo, purificai os corações”. Tiago já declarou que Deus não quer repartir tais crentes com o mundo; Ele os deseja para si, com exclusividade total (Tg. 4:4). Pelo que é preciso que os cristãos se purifiquem por dentro, eliminem os motivos mundanos e busquem somente a Cristo e seu reino.

O arrependimento adequado mostra sinais característicos. No íntimo, esses cristãos, vão perceber seu estado: “senti as vossas misérias”; haverá no coração deles um sentimento de dor que se exprimirá nestas palavras: “ai! Que é que eu fiz?” Esta tristeza se expressa externamente: “lamentai e chorai”. A lamentação é tão natural que qualquer outra reação seria inadequada: “converta-se o vosso riso em pranto, e a vossa alegria em tristeza”. Esta ordem pode ter sido originada nas palavras de Jesus: “Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados” (Mt. 5:4). Ou, “ai de vós, os que agora rides! Pois vos lamentareis e chorareis” (Lc. 6:25). Sem verdadeiro arrependimento agora, o futuro é sombrio, mas com arrependimento, não haverá choro mais tarde.

Finalmente, surge a esperança; quando os pecadores se humilham diante de Deus, “humilhai-vos perante o Senhor”, entristecidos na verdade por causa do pecado, a aceitação da parte de Deus é garantida: “ele vos exaltará” (Tg. 4:6). Esta metáfora ocorre no Antigo Testamento para ilustrar a ação divina na restauração do destino dos pobres: “Ele põem os humildes num lugar alto, e os que choram são levados para a segurança” (Jó 5:11). Tampouco rejeitará Deus a esses cristãos, que se arrependerem de seus pecados e os abandonarem.

A maledicência é proibida (4:11, 12)

Tiago emite um novo mandamento de imediato: “não faleis mal, uns dos outros”, ficando definido que “falar mal” é “julgar a seu irmão”. Ele percebeu que havia cristãos falando mal uns dos outros. Não importa se as acusações são verdadeiras ou falsas, divulgá-las a pessoas que não estão envolvidas na situação vai destruir a harmonia da comunidade. Criticar outra pessoa não é amá-la, tampouco é o modo pelo qual queremos ser tratados. Portanto criticar alguém implicitamente é criticar a própria lei.

Para combater este tipo de prática, Tiago declara: “há um só legislador e juiz”. Ensinou-nos Jesus, que só Deus tem autoridade para julgar (Jo 5:22; 23; 30), e todo judeu sabia que foi Deus quem outorgou a lei. “Tu , porém, quem és, que julgas ao próximo?” Se foi Deus quem outorgou a lei, e se só Deus é juiz, como ousa alguém estabelecer-se como juiz?

A arrogância é condenada (4:13, 17)

Tiago imprime nova direção a seu pensamento: “Hoje ou amanhã iremos a tal cidade, lá passaremos um ano, negociaremos e ganharemos”. Ele fala da classe social das pessoas que planejam viajar para realizar sua atividade profissional: o comércio. Continua dizendo que qualquer homem de negócios honesto planejaria suas atividades mercantis exatamente da mesma maneira; quer pagão, quer cristão, quer judeu. Nada se declara, a respeito de seus desejos quanto ao futuro, ao uso que farão do dinheiro, ou quanto à sua maneira de negociar, que se pudesse afirmar ser diferente do resto do mundo. Ainda que sua forma de prestar culto ao Senhor seja exemplar, mas no que concerne a negócios, pensam exclusivamente de acordo com os padrões do mundo.Tiago prossegue: “Ora não sabeis o que acontecerá amanhã”. De fato, a vida é eminentemente efêmera: “o que é a vossa vida? É um vapor que aparece por um pouco, e logo se desvanece”. Os planos estão traçados; as projeções lançadas. Todavia, tudo gira em torno não da vontade deles, mas sim da vontade de Deus, que não foi nem consultado no planejamento. Ao pensarem unicamente numa esfera mundana, os negociantes cristãos da carta de Tiago tinham uma falsa sensação de segurança. Era preciso que encarassem a morte, e percebessem que não tinham nenhum controle desta vida. Aqueles que não descansam em falsa segurança mas que elevam o pensamento ao nível mais alto, dizem: “Se o Senhor quiser, viveremos e faremos isto ou aquilo”. O que Tiago quer ensinar é que não se deve simplesmente esperar que o Senhor faça, mas deve-se fazer juntamente com Ele.

I.E.Q Secretaria Geral de Educação e Cultura ___________________________Epístolas Gerais - Revisão em 2006

17

Page 18: Epistolas gerais aluno

Desta forma cada plano é avaliado segundo os padrões de Deus e levado a Ele em oração para que se ouça as idéias Dele à respeito. Mas aqueles cristãos estavam longe de planejar em espírito de oração, a eles Tiago disse: “Vós vos jactais das vossas presunções”. Ora toda jactância, tal como esta é maligna, porque rouba de Deus o direito honroso que lhe cabe como Senhor soberano, e exalta o mero homem como se este fora Deus. Todo e qualquer plano concebido fora da vontade de Deus, sem o discernimento da oração, não é tolice apenas, é grave pecado. Para resumir este pensamento, Tiago acrescenta um provérbio: “Aquele, pois, que sabe o bem que deve fazer e não o faz, comete pecado”. Tendo falado a cristãos cujos corações estavam seduzidos pelo mundo, Tiago dirige a atenção, a seguir, aos incrédulos ricos. Ele os critica de forma direta, com linguagem parecida com a do Senhor Jesus (Lc. 6:20–26), buscando desviar os cristãos da sedução da riqueza.

CAPÍTULO 5

Os que fazem mal uso das riquezas serão condenados (5:1–6)

Tiago inicia este capítulo falando no tom dos profetas do Antigo Testamento: “chorai”e “uivai”. Normalmente estas palavras eram usadas para descrever a reação dos perversos quando chegar o dia do Senhor, o que denota julgamento. É certo que a enumeração que Tiago faz dos pecados dos ricos, que ele condena, mostra que, aqui este também é o caso. É obvio que Tiago não pretende lançar julgamento sobre todos os ricos, mas sobre aqueles que fazem mau uso da riqueza. Tiago lança advertências contra os ricos: A primeira advertência contra os ricos tem a ver com suas riquezas corruptas. A segunda advertência contra os ricos é mais específica: eles defraudaram o pagamento dos trabalhadores. A última advertência contra os ricos é que eles têm “condenado e matado o justo”. Estimulando a paciência e a perseverança (5:7–11). Tiago faz referência ao Sl 37 que é um maravilhoso cântico de ânimo dirigido ao justo. Escreve aos justos, principalmente aos pobres, que estavam sofrendo em circunstâncias semelhantes. O conselho é o mesmo do salmista: “sede pacientes, pois a ”vinda do Senhor”, quando os ímpios serão julgados (5:1–6) e os justos libertados, está próxima”.

Tiago incentiva a paciência até a vinda do Senhor. Como exemplo de paciência, Tiago menciona o “lavrador” que aguarda com paciência que a terra produza o precioso fruto do qual depende sua subsistência. Como o agricultor que espera pacientemente a semente germinar e a safra amadurecer, os cristãos devem esperar com paciência a volta do Senhor que os libertará e julgará seus opressores. Enquanto esperam eles precisam fortalecer seus corações.

Tiago não quer dizer que a paciência no sofrimento sempre será recompensada com prosperidade material. Ele procura incentivar nossa firmeza fiel e paciente na aflição lembrando-nos das bem-aventuranças que recebemos de nosso Deus compassivo e misericordioso, em troca de tal fidelidade.

Os juramentos (5:12)

O juramento que Tiago proíbe aqui é o ato de invocarmos o nome de Deus, ou um substituto dele, para garantirmos a veracidade daquilo que dizemos. No Antigo Testamento, Deus é apresentado muitas vezes garantindo com um juramento o cumprimento de suas promessas. A lei não proíbe os juramentos, mas exige que a pessoa seja fiel a qualquer juramento que fizer. (Lv. 9:12). Jesus exigiu de seus discípulos que de “modo algum” jurassem (Mt. 5:34). Quando comparamos Mt. 5:34–37 com Tg. 5:12 vemos que o autor está conscientemente reproduzindo aquela tradição.

A oração e a cura (5:13–18)

I.E.Q Secretaria Geral de Educação e Cultura ___________________________Epístolas Gerais - Revisão em 2006

18

Page 19: Epistolas gerais aluno

Tiago exorta os cristãos a orarem em casos de sofrimentos e a cantarem quando estiverem contentes.

Outra situação onde a oração deve ser proeminente é na doença. Tiago orienta que os enfermos devem chamar os presbíteros da igreja, para que façam oração sobre eles, ungindo-os com óleo. A partir das informações sobre os presbíteros em Atos e da descrição do ofício nas Epístolas pastorais, chega-se à conclusão que os presbíteros eram homens espiritualmente maduros, responsáveis pela supervisão espiritual de cada congregação local. Esta oração deve ser acompanhada de “unção com óleo”, e esta deve ser realizada “em nome do Senhor”, representando a autoridade divina com a qual se pratica a unção.

Apesar da “unção com óleo”, a principal preocupação de Tiago é a oração. Isto é refletido pelo fato de Tiago atribuir a cura prevista à oração dos presbíteros, não à unção. “A oração da fé salvará o enfermo, e seus pecados ser-lhe-ão perdoados”. Esta fé, mesmo incluindo a idéia de confiança na capacidade que Deus tem de responder, também envolve uma confiança absoluta na perfeição da vontade de Deus.

Como conseqüência da promessa de que Deus responde à oração (Tg. 5:14, 15a) e perdoa pecados (Tg. 5:15b), os cristãos devem se comprometer a confessar seus pecados uns aos outros e orar uns pelos outros. A mútua confissão de pecados, que Tiago incentiva como uma prática habitual, é altamente benéfica para a vitalidade espiritual da igreja. Uma vez que o propósito da confissão e oração é a cura física, é melhor entender que se a confissão não é sincera pode colocar obstáculos à cura, e as orações. E, embora seja apropriado que aquelas pessoas encarregadas da supervisão espiritual da comunidade sejam chamadas para interceder pelos seriamente enfermos. Tiago deixa claro que “todos” os cristãos tem o privilégio e a responsabilidade de orar pela cura.

O poder da oração não está limitado aos “super-santos”; o justo designa apenas uma pessoa sinceramente comprometida com Deus e que, de coração, busca fazer a sua vontade. Como exemplo de um homem justo de quem Deus ouviu as orações, Tiago cita Elias. O profeta cujos feitos foram tão espetaculares e foi transladado ao céu, era uma das figuras mais populares entre os judeus. Ele era exaltado por seus milagres poderosos e denúncias proféticas do pecado.

Contudo o que Tiago quer ressaltar em ralação a Elias não são os dotes proféticos especiais, nem seu lugar único na história, mas sim o fato de que mesmo sendo “homem semelhante a nós”, sua oração teve grande eficácia.

Uma chamada final à ação (5:19–20)

Tiago conclui sua carta não com as saudações e bênçãos típicas dos encerramentos epistolares, mas com uma chamada à ação. Ele lhes falou em sua carta acerca de muitos problemas: falar pecaminoso, desobediência, despreocupação com os outros, mundanismo, brigas, arrogância. Agora, ele incentiva cada cristão a tomar a iniciativa de trazer de volta à comunhão com Deus e com a comunidade qualquer pessoa que tenha se “desviado da verdade” de alguma daquelas formas.

Os leitores de Tiago não devem estar profundamente preocupados com que outras pessoas também as “pratiquem”. Participando da convicção de Tiago de que, de fato, existe uma morte eterna, à qual o caminho do pecado conduz, devemos estar motivados a lidar com o pecado em nossa vida e na vida de outras pessoas.

Exercício de Fixação - Unidade I

1) Responder:Por ser mais prática que doutrinária, como é considerada esta Epístola?a) Lâmpada para os meus pés, e luz para os meus caminhos.b) É o guia prático para a vida e conduta cristãs.c) A solução para as dificuldades da igreja.d) Solução para os problemas pessoais dos membros.

I.E.Q Secretaria Geral de Educação e Cultura ___________________________Epístolas Gerais - Revisão em 2006

19

Page 20: Epistolas gerais aluno

2) Se esta Epístola fosse entendida de forma correta, o que ela poderia harmonizar?a) O Judaísmo e o gnosticismo b) O paganismo e o cristianismoc) O cristianismo e o judaísmo d) O gnosticismo e o paganismo.

3) Quem era o líder da igreja de Jerusalém?a) Pedro b) Paulo c) João d) Tiago

4) Qual das características a seguir não corresponde a Tiago, o justo?a) Foi de Jope a Cesaréia b) Era estimado pelos judeus de sua comunidadec) Era um homem de oração d) Era respeitado por sua santidade de vida.5) Segundo o historiador Flávio Josefo, como foi a morte de Tiago?a) Foi decapitado b) Foi apedrejado c) Foi jogado aos leões d) Foi crucificado

II Unidade - I Epístola de Pedro

O APÓSTOLO DA ESPERANÇA

AUTORIA

Tendo presentes os dados da epístola, o autor é Pedro , “apóstolo de Jesus Cristo” (1:1), “ancião”, “testemunha dos sofrimentos de Cristo” (5:1), que escreveu sua carta “por meio de Silvano” (5:12), tendo junto a si Marcos , seu “filho” (5:13). A atribuição da epístola ao apóstolo Pedro é confirmada pela tradição: a segunda epístola de Pedro, um dos escritos mais tardios do Novo Testamento , já dá testemunho disso (2. Pe 3:1); mais tarde, Irineu, Tertuliano e Clemente de Alexandria apontam o apóstolo Pedro como autor desta epístola. A isto tudo acresce o fato que, segundo o historiador Eusébio, Papias atesta, nos inícios do século II, uma relação estreita entre o apóstolo Pedro e Marcos , autor do segundo evangelho (cf. também At. 12:12). Embora, de vez em quando seja colocada em dúvida quem foi o autor desta Epístola, a opinião mais aceita sempre foi que este é um escrito original do apóstolo Pedro, aquele mesmo que conhecemos através dos Evangelhos e de Atos dos Apóstolos. Não temos dúvidas ao concluir que esta Epístola é obra de Pedro, portadora de sua autoridade e testemunhos apostólicos, ao passo que a forma literária da mesma leva a contribuição de Silvano.

ONDE FOI ESCRITA

À vista da declaração em 1 Pe. 5:13, a Epístola foi escrita em “Babilônia”. Nos tempos apostólicos conheciam-se duas cidades com este nome:Uma ficava no Egito, sendo provavelmente um posto militar do Império Romano, no local onde é hoje a cidade do Cairo. A outra é a Babilônia do Eufrates, onde judeus em número considerável, ainda moravam. Muito se tem escrito a favor e contra este parecer. Forte objeção a este ponto de vista diz que não havia nem notícia e nem tradição de que qualquer dos apóstolos, salvo Tomé, ter estado na Mesopotâmia. Uma terceira opinião é que o termo “Babilônia” é empregado como símbolo de Roma. Roma é chamada Babilônia em Ap 17 e 18, assim como, em Ap. 11:8. Na mente de Pedro, a Roma dos seus dias lembrava a antiga Babilônia em riqueza, luxúria e licenciosidade. Este termo também pode ser usado como motivo de prudência, pois em caindo em mãos de funcionário romano, este lendo o escrito se ofenderia e aconteceriam, com certeza, sanções contra os cristãos. Esta explicação era aceita universalmente na era cristã primitiva e ainda hoje se tem como a mais plausível.

I.E.Q Secretaria Geral de Educação e Cultura ___________________________Epístolas Gerais - Revisão em 2006

20

Page 21: Epistolas gerais aluno

DESTINATÁRIOS

A epístola contém poucas indicações que permitam a identificação precisa dos seus destinatários. No primeiro versículo da carta, Pedro a destina “aos forasteiros da Dispersão, no Ponto, Galácia, Capadócia, Ásia e Bitínia. “Os eleitos que vivem como estrangeiros na dispersão" (1 Pe. 1:1). Originalmente, este termo "dispersão" ou "diáspora" se aplicava aos judeus que residiam fora da Palestina , o que permitiria supor, à primeira vista, que aqui se trate de judeus-cristãos. Na realidade, esse termo é muito provavelmente empregado simbolicamente para indicar os cristãos dispersos no mundo (1 Pe. 2:11), de origem majoritariamente pagã. Com efeito, a alusão ao seu antigo modo de vida corresponde melhor a ex-gentios do que a judeus (1 Pe. 1:14; 18; 4:3). Todavia, eles já estavam familiarizados com a Sagrada Escritura, como prova o uso freqüente de citações do Antigo Testamento na epístola. As comunidades a que se destinava a epístola tinham, na sua maior parte sido fundadas durante a missão paulina, ou seja, se não diretamente pelo próprio Paulo, ao menos por seus colaboradores que se espalharam pelas diversas províncias da Ásia Menor, a partir dos principais centros (conforme o exemplo de Epafras, que levou o Evangelho para Colossos, Cl. 1:7). Porque Pedro escreveria para eles? Isso faz com que alguns entendam que, quando essa Epístola foi produzida, Paulo já teria morrido. O fato de Silvano e Marcos, antigos companheiros de Paulo, estarem com Pedro também reforça essa hipótese. Na epístola, a organização dos ministérios é menos elaborada do que nas epístolas pastorais e se amolda melhor a uma época relativamente antiga da vida da Igreja primitiva; mencionam-se apenas os anciãos (1 Pe. 5:1-4) e, indiretamente, os diáconos (1 Pe. 4:11). Com relação à condição social, os membros dessas comunidades, de modo geral, deviam ser humildes, como atesta a passagem especialmente desenvolvida sobre o modo de se comportarem os servos ou escravos (1 Pe. 2:18-25). Os destinatários estavam distribuídos em comunidades cristãs, gente que passou pela experiência de um “novo nascimento” pela fé em Jesus Cristo (1 Pe. 1:3, 23), e que está ligada á sua aceitação ao evangelho que lhes fora pregado (1 Pe. 1:12, 22, 25). Tal evento marcou, decididamente, uma ruptura nas suas vidas, de sorte que agora se pode falar de um “outrora sem Cristo” e de um “mas agora ... com Cristo”. DATA DA EPÍSTOLA

As perseguições aos cristãos, na segunda metade do primeiro século se tornaram tão comuns que as palavras de Pedro poderiam aplicar-se a qualquer década deste período. Pouco aproveita, portanto, procurar deduzir de seus termos, e de sua mensagem, com alguma exatidão, a data da Epístola.Porém, em I Pe. 1:1, Pedro dirige-se aos seus leitores chamando-os “eleitos, forasteiros da dispersão”, nas regiões que menciona. O uso do termo “dispersão” indica que os cristãos a quem Pedro escrevia, davam valor à sua nacionalidade judaica e gozavam dos muitos privilégios que os romanos tornaram extensivos aos judeus. Ora, Pedro ensina claramente que aos cristãos cumpre estar sujeitos a toda ordenação humana por amor ao Senhor e considerar as autoridades civis como divinamente designadas para governá-los (I Pe. 2:13–17). Tal exortação não seria feita depois, senão antes que a perseguição de Nero os alcançasse. Sendo assim a carta deve ter sido escrita antes do verão de 64 A. D.

CARACTERÍSTICAS DA EPÍSTOLA

O livro é exortativo, consolador, cristológico, "cristocêntrico". Observamos que Tiago quase não cita Jesus em sua carta. Pedro, porém, cita-o a todo momento. Aquele que o havia negado, agora tem no seu nome a base de sua doutrina. Pedro apresenta Jesus como:Fonte de esperança – I Pe. 1:3 / Cordeiro do sacrifício – I Pe. 1:19.

I.E.Q Secretaria Geral de Educação e Cultura ___________________________Epístolas Gerais - Revisão em 2006

21

Page 22: Epistolas gerais aluno

Pedra angular – I Pe; 2:6 / Exemplo perfeito – I Pe. 2:21-23.Aquele que levou nossos pecados – I Pe. 2:24. / Sumo Pastor – I Pe. 2:25. Bispo das nossas almas – I Pe. 2:25. / Aquele que está assentado à destra de Deus – I Pe. 3:22.

ESTILO LITERÁRIO

A atenção de numerosos críticos tem sido despertada pelas alusões ao batismo que aparecem, em particular, nos três primeiros capítulos da epístola. Além disso, alguns julgaram poder distinguir uma mudança de atmosfera a partir de I Pe. 4:12, os sofrimentos já não são considerados como mera possibilidade, mas, como realidade atual (I Pe. 4:12; 5:9; 2:20; 3:14, 17). Com fundamento em tais constatações, têm sido emitidas várias hipóteses a respeito do gênero literário e da unidade da epístola, encarecendo principalmente sua origem litúrgica. Uns pensam que ela reproduz uma liturgia batismal (I Pe. 1:3; 4:11), à qual se teria ajuntado um escrito mais tardio, destinado a confirmar os batizados na fé (I Pe. 4:12; 5:14). Outros não dão maior importância às diferenças notadas entre I Pe. 1:3; 4:11; 4:12; 5:11, e consideram I Pe. 1:3–5, 11 como uma homilia batismal, à qual se teria conferido o caráter de uma epístola pelo acréscimo de I Pe. 1:1-2; 5:12-14. Por fim, pretendeu-se ver em I Pedro uma liturgia da semana pascal. Portanto, não há como pôr em dúvida a natureza epistolar e a unidade de 1 Pedro . A epístola está solidamente enraizada em toda uma tradição catequética comum à Igreja primitiva. O final (I Pe. 5:12) lhe define exatamente o escopo: exortar e fortalecer na fé cristãos cujo zelo corria o risco de esmorecer, e cuja coragem estava sendo posta à prova por diversas tribulações. Neste intuito, o autor se refere a ensinamentos que esses cristãos já tinham ouvido por ocasião da sua conversão e do seu batismo. Esta Epístola não se mostra tão hábil na retórica como a de Tiago, mas evidencia conhecimento sobre os artifícios retóricos do grego. A Epístola contém menor número de hebraísmos do que os escritos de Paulo, e os supostamente identificados aparecem em I Pe. 1:13; 14; 17; 25; 3:7.

De forma geral o autor sagrado usa de graça, liberdade e dignidade em sua linguagem, e freqüentemente com precisão refinada. É obvio, portanto que Pedro, o apóstolo não poderia ter escrito esta Epístola pessoalmente, mas os escritos tem o toque de Silvano que era escriba e foi o amanuense dela. Silvano era um judeu, um cidadão romano, escolhido para a delicada tarefa de explicar as resoluções tomadas pelo concílio de Jerusalém (At. 15:22) para igrejas gentílicas de áreas remotas, portanto era um homem de considerável habilidade. Era um obreiro devotado, que trabalhava em áreas gentílicas. Portanto, deveria ser um homem que dominava o idioma grego.

MOTIVO E PROPÓSITOS

Há muitas alusões a perseguições nesta Epístola, considerando-se sua brevidade. Torna-se óbvio que tais perseguições foram o motivo da escrita desta Epístola. O escritor sagrado queria fortalecer os cristãos da Ásia Menor, para poderem enfrentar as tribulações que já sofriam e preparando-os para os testes ainda mais severos no futuro (1 Pe. 4:12), e para todo tipo de oposição que enfrentariam. Também queria que se mostrassem firmes em sua lealdade cristã mostrando-lhes que o próprio Cristo foi perseguido. O alvo do autor desta breve Epístola, é exclusivamente prático. Seus leitores não deveriam perder de vista o grande prêmio; através de seu amor e pureza deveriam avançar e propagar o poder do Evangelho, provocando a admiração de seus adversários. O verdadeiro cristão é distinguido melhor em período de grande sofrimento.

PROPÓSITO DA CARTA - FIRMAR, ORIENTAR, CONFORTAR.

Para os irmãos atribulados, Pedro oferece uma palavra de esperança, menciona os fundamentos da fé cristã e o que Deus tem para nós no futuro. Quando as tribulações se multiplicam, é bastante oportuno que essas verdades sejam mencionadas para renovação da fé e do ânimo. A obra

I.E.Q Secretaria Geral de Educação e Cultura ___________________________Epístolas Gerais - Revisão em 2006

22

Page 23: Epistolas gerais aluno

de Cristo no passado (I Pe. 1:3) e a herança cristã no futuro (I Pe. 1:4-5) são mencionadas como estímulo para se enfrentar as dificuldades presentes (1 Pe. 1:6). Em tais circunstâncias, é necessário que nos lembremos de quem somos. Nossa identidade pode estar sendo questionada pelos homens, pelo diabo (Mt. 4.2) ou até mesmo por nós mesmos. Pedro então enfatiza essa realidade espiritual que, muitas vezes, é desafiada por uma realidade aparente adversa. Ele utiliza enfaticamente o verbo ser: "Não éreis povo..."; "Agora sois... povo de Deus, geração eleita, sacerdócio real, nação santa, povo adquirido..." (I Pe. 2:9-10). "Sois guardados, mediante a fé, para a salvação." (I Pe. 1:5). "Sois edificados como casa espiritual." (I Pe. 2:5). O autor lembra aos seus leitores o que Cristo fez por eles (I Pe. 1:2; 3:19; 2:5-21; 3:18). Nos momentos difíceis é bom lembrarmos o que Jesus fez por nós e qual é o nosso vínculo com ele. O inimigo procura colocar tudo isso em dúvida na hora da tentação.

TEMAS PRINCIPAIS

O tema predominante, que também sugere quase todos os demais, é o do sofrimento do cristão (I Pe. 1:6; 2:12-15; 4:12; 5:9). Vamos considerar os seguintes pontos em relação aos temas:1) Podemo-nos regozijar nos sofrimentos (1Pe. 1:6);2) Isso traz honra e glória a Cristo, através da prova da purificação da fé (I Pe. 1:7);Isso resulta em alegria inexprimível e cheia de glória (I Pe. 1:8);Isso resulta em vida eterna, a salvação da alma (I Pe. 1:9); A própria morte, mediante a perseguição, não é fatal: Deus ressuscitou a Cristo, e Ele também nos ressuscitará após a purificação de nossas almas (I Pe. 1:21-22);Seja como for, toda carne é apenas “erva” e através da perseguição, ou de outro modo, logo haverá de perecer (I Pe. 1: 24-25); Mas a Palavra de Deus, o Evangelho, não pode perecer, como também não podem perecer aqueles que confiam nessa Palavra (I Pe. 1:25); O próprio Jesus, a despeito de toda a sua grandeza e valor, não pode evitar o sofrimento (I Pe. 2:6), antes, seus sofrimentos foram vicários e expiatórios, o que lhes dá imenso valor, assim também os sofrimentos do cristão podem revestir-se de valor (I Pe. 2:21); O sofrimento nos mostra que precisamos ser estrangeiros e peregrinos neste mundo, pois a terra não oferece habitação segura (I Pe. 2:12); Os sofrimentos de Cristo levaram o Evangelho até as almas perdidas no hades (I Pe. 3:18; 4:6). O sofrimento serve-nos de lição moral que nos ensina a rejeitar os pecados da carne, pois é o princípio do pecado que produz desastres, bem como os atos desumanos dos homens (I Pe. 4:1); Os sofrimentos humanos podem ser uma participação nos sofrimentos de Cristo, mas devem ser sofridos apenas porque o cristão participa de sua santidade e não porque merece os maus-tratos devido a uma vida depravada (I Pe. 4:12); Os anciãos da igreja local, particularmente, deveriam estar prontos a sofrer pelo rebanho, tal como fez o Grande Pastor (I Pe. 5:1); Satanás está por detrás de homens ímpios desvairados, ele é o inspirador das desumanidades deles. Resistamos ao diabo, (I Pe. 5:8); Haverá um fim de todos os sofrimentos do cristão, porquanto Deus nos chamará para a vida eterna (I Pe. 5:10), e haveremos de finalmente triunfar, contra todos os obstáculos (I Pe. 5:11). A vida cristã conforme a primeira Epístola de Pedro. Muitas vezes ignorou-se o valor todo especial da mensagem de I Pedro . Ora, este valor aparece com toda a clareza desde que se leve em conta a situação visada pela epístola. Para o autor não se tratava mais de lançar os fundamentos da fé, que já tinham sido ensinados aos leitores destinatários do escrito (1:12). Tratava-se bem pelo contrário, diante das crescentes dificuldades experimentadas pelas comunidades cristãs, de exortá-las à perseverança, em razão mesmo da esperança que lhes fora pregada. Para tal fim, o apóstolo orienta

I.E.Q Secretaria Geral de Educação e Cultura ___________________________Epístolas Gerais - Revisão em 2006

23

Page 24: Epistolas gerais aluno

as atenções de seus leitores em direção a Cristo , a fim de que eles tomem (ou retomem) consciência do poder da vida nova que nele está (1:3; 2:2); ademais, insiste sobre a natureza vitoriosa da esperança recebida, fonte de uma atividade perseverante e radiosa na vida de cada dia. A este propósito, é preciso ressaltar que a cristologia da epístola se assemelha mais à apresentada no início dos Atos, especialmente nos discursos de Pedro, que à de Paulo (p. ex., o tema do servo sofredor, conforme as citações acima; a função do batismo , At 2:38-40 e I Pe. 3:21; cf. igualmente At. 2:31 e I Pe. 3:18). Note-se ainda que se encontram ecos de várias confissões de fé ou hinos da comunidade cristã (p. ex. 2:22-24; 3:22; 4:5). Aos cristãos de todos os tempos, a epístola recorda o que implica “a esperança viva”, que é a deles em Jesus Cristo, a adesão confiante ao Senhor vitorioso, junto com uma atividade construtiva a seu serviço.

CARACTERÍSTICAS DA EPÍSTOLA

Esta é essencialmente a Epístola da esperança, esperança viva, fundada e firmada na ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos. É portadora da certeza de uma herança gloriosa, descrita como sendo incorruptível, incontaminada e imarcescível. Pedro coloca estes pensamentos, acerca da viva esperança e da herança gloriosa, no princípio de sua carta, para encorajar seus companheiros de fé com as consolações do Evangelho, a fim de que permaneçam firmes no dia da prova de fogo, suportando pacientemente seus sofrimentos e triunfando sobre as perseguições, aflições e tentações.

ESBOÇO DOS CAPÍTULOS

I Pedro trata de aspectos relativos à graça de Deus:A graça de Deus e o caráter de Deus – Esperança, santidade e amor fraternal – Capítulo 1A graça de Deus e as relações – Autoridades civis, empregados e igreja – Capítulo 2A graça de Deus e o sofrimento justificado – O exemplo de Cristo – Capítulo 4

CAPÍTULO 1

1. Saudação (1:1–2)

É evidente que se tratava de alguém bastante conhecido, pois não é necessária mais nenhuma explicação sobre a sua pessoa. O autor se apresenta como “apóstolo”. O termo é usado num tom mais ou menos solene, designando a função de autoridade, de que está revestido alguém, que assim se põem a escrever para comunidades cristãs distantes. “De Jesus Cristo”, indica que a autoridade do autor não é sua, mas é delegada.

Pedro fala sobre os destinatários da carta designando-os como os “eleitos que são forasteiros da dispersão”. Dois termos então, identificam este grupo: O primeiro é “eleitos”, que significa basicamente “escolhido dentro de um grupo”. O termo é muito comum na Bíblia grega, designando “aqueles que Deus separou de dentro da grande massa humana, trazendo-os para junto de si”. O segundo termo usado é “forasteiros”, que se traduz por “estrangeiros”. Refere-se a uma pessoa que está a pouco tempo num certo lugar com intenção de lá residir permanentemente. De uma forma geral, parece que os escritos do Novo Testamento, confirmam uma impressão de certos grupos com grande dinâmica e rotatividade domiciliar dentro da condição social da época, o que se tornou numa grande mola propulsora da rápida expansão do Evangelho pelo mundo romano.

I.E.Q Secretaria Geral de Educação e Cultura ___________________________Epístolas Gerais - Revisão em 2006

24

Page 25: Epistolas gerais aluno

A terceira declaração sobre os destinatários de I Pedro é que se encontram na “dispersão”. Usualmente, este termo tem sido compreendido de duas maneiras:Em termos geográficos, sendo um termo técnico do vocabulário judaico, designando os judeus residentes fora da Palestina. Parece que os cristãos logo adotaram para si a idéia, representando os grupos cristãos espalhados pelo mundo gentio. Em sentido figurado, descrevendo a situação dos cristãos em qualquer lugar como pessoas que estão longe da pátria, espalhadas por este mundo. Esse é o sentido de diáspora. Uma vez que a grande maioria dos cristãos na época provinha de classes inferiores da sociedade, marginalizadas e privadas de toda sorte de direitos, a idéia aqui seria então de grupos vivendo à margem da sociedade, numa verdadeira diáspora dentro da própria localidade em que moram. A eleição e o conseqüente estilo de vida dos cristãos em meio à sociedade, é assim apresentada, como: fundamentada no propósito eterno de Deus Pai, concretizada por mediação do Espírito Santo e realizada como obediência a Cristo, junto com o reconhecimento do fato de ser Sua propriedade. O caráter trinitário dessa formulação geralmente é reconhecido por todos. Em cada uma das três frases coordenadas, a ênfase recai respectivamente sobre Pai, Espírito Santo e Jesus Cristo: Em primeiro lugar, a experiência dos cristãos como forasteiros eleitos está fundamentada na presciência de Deus. Uma maneira possível de se compreender o termo, é considerá-lo como tão somente a capacidade que Deus tem de ver e saber todas as coisas antes mesmo que aconteçam (Onisciência). Em segundo lugar, essa salvação que já estava na mente de Deus é realizada concretamente, então, em “santificação do Espírito”. Santificação indica um processo de natureza moral, ou pelo menos com implicações morais claras. Em terceiro lugar, é indicado o objetivo da escolha do Pai concretizada pelo Espírito: a “obediência e a aspersão do sangue de Jesus Cristo”. A ênfase aqui parece estar na obediência como decisão, como aceitação da mensagem do Evangelho, embora não se possa excluir a conseqüência lógica: uma vida de obediência.

2. Louvor a Deus pela Salvação (1:3–12)

Depois da saudação que era comum nas cartas da época, o autor entra agora no conteúdo específico da sua carta. Como em outras cartas do Novo Testamento, olha-se primeiro para o alto, numa expressão de louvor e agradecimento a Deus por bênçãos recebidas, ou em pura contemplação de Sua grandeza e bondade.

2.1. Conseqüências da ressurreição de Jesus Cristo para os cristãos (1:3–5)

“Bendito o Deus e Pai...” O agradecimento e a intercessão é formulado aqui no estilo das bendições judaicas. Mas a situação é bem diferente. Alguma coisa mudou. Aparentemente, aqui Deus está mais próximo, parece ser conhecido de forma mais íntima pela pessoa que louva e bendiz. O Deus que opera prodígios (Sl. 72:18), é reconhecido agora pelo maior prodígio já efetuado na história humana: a ressurreição de Jesus Cristo, revelando através dela, e pelas implicações que dela advém, a Sua grande misericórdia para com o homem. Logo, o novo nascimento é decorrência da ressurreição de Jesus Cristo. Ele é possível porque esta foi possível; é o mesmo poder que opera em ambos. Deus, então, é louvado pela regeneração que operou tanto no autor como nos leitores. O novo nascimento, assim, tem a virtude de criar naqueles que o experimentam uma “viva esperança”. No sentido bíblico, viva esperança é uma esperança sempre renovada, pela confiança no poder e na confiabilidade daquele que a motivou. O propósito ou alvo do novo nascimento é outra vez definido, desta vez em termos de uma “herança”. Esta herança não é definida como uma espécie de utopia futura, mas como tendo já sua existência. Existe uma relação entre o conceito de “herança” (v. 4) e do novo nascimento (v. 3). O cristão renasce dentro de uma nova “família” (Ef. 2:19), passando a estar para com Deus numa

I.E.Q Secretaria Geral de Educação e Cultura ___________________________Epístolas Gerais - Revisão em 2006

25

Page 26: Epistolas gerais aluno

relação de filho (Jo. 1:12), e para com Jesus, de irmão (Rm. 8:29). Cumpre-se então Rm. 8:17: “sendo filhos, logo somos herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo”. Até o dia de entrarem na posse dessa herança, muitas coisas acontecerão na vida dos “eleitos”. Sua condição de “forasteiros”, e com isso “estranhos” a muitas das coisas que fazem parte deste mundo, certamente lhes criará mais dificuldades no “viver o tempo que lhes resta na carne” (I Pe. 4:2). Entre a ressurreição de Cristo e a Sua manifestação final no último tempo, o cristão pode ter certeza do acompanhamento constante de Deus, mesmo que às vezes se torne difícil percebê-lo concretamente. Este “poder”, contudo, não é autoritário e ditador, como muitas vezes é o poder exercido pelos homens. Ele espera, da parte das pessoas, o exercício da fé. Torna-se a falar do futuro que os cristãos têm aberto diante de si, já antes indicado por “esperança” (v. 3), herança (v. 4) e agora salvação (v. 5). Esta salvação já preparada, aguarda o momento próprio, para finalmente vir a ser revelada. Certamente a expectativa escatológica era intensa naqueles dias, não se prevendo muita demora para a consumação final. A isso correspondem outras declarações dentro desta carta como I Pe. 4:2: “o tempo que vos resta”; 4:7: “o fim de todas as coisas está próximo”; 4:17: “a ocasião de começar o juízo é chegada”. A salvação, então, está pronta para revelar-se.

2.2. Sofrimentos e dificuldades no presente são provações para a fé (1:6–9)

O motivo da alegria, nesse caso, é que o sofrimento comprova o cuidado de Deus pelos cristãos, bem como a Sua efetiva presença no meio deles, ainda que disciplinadora (Hb. 12:10-11). Mas ainda, ele representa uma possibilidade concreta de íntima identificação com Cristo, na experiência do sofrimento, por causa da justiça (I Pe. 4:13; 2:19; 1 Ts. 1:6; Rm. 8:17; At. 5:41). “Se necessário” muitas vezes é usado no Novo Testamento, teologicamente, com o sentido de conhecerem a vontade de Deus para eles. Este sentido é implícito, podendo aqui não ser muito diferente de “se for a vontade de Deus” (I Pe. 3:17). Parece haver um senso da mão atuante de Deus, e mesmo do Seu poder (v. 5), por não permitir que as provações sejam maiores do que os ombros dos cristãos. Saber que Deus está por trás de tudo, leva sem dúvida, poder encarar tudo sobre uma ótica diferente. O renascido, o cristão, não está à mercê do destino, mas está resguardado no poder e na vontade de Deus. Ainda mais porque no seu sofrimento, os cristãos podem reconhecer o sofrimento escatológico do povo de Deus, antes da sua derradeira libertação final. Numa oração final descreve-se agora o último porquê das provações, pelas quais os leitores estão passando. Elas são vistas como tendo um propósito purificador. A situação deles é comparada ao processo de purificação do ouro, quando este é separado das impurezas que o acompanham. O plano material, no qual o ouro é considerado a posse mais preciosa, é aqui descrito como “perecível”. O ouro valiosíssimo, é no entanto “perecível”. A fé provada, em comparação com ele, é muito preciosa. Depois de ambos passarem pelo processo de purificação, a diferença de valor é enorme. O ouro, além de não durar eternamente, sempre pode ser roubado ou perdido. A fé, por outro lado, garante o acesso a uma herança não sujeita a desgraças terrenas (Mt. 6:19-20). A fé aparece aqui como o contraponto da visão física, do ver; este tema tem a sua formulação mais contundente na palavra de Jesus a Tomé: “Bem-aventurados os que não viram, e creram (Jo. 20:29). A exultação, que no v. 6, tinha como causa a salvação, agora concentra-se no próprio Salvador. Isso é que torna o Cristianismo diferente: a atenção, o foco, não está em coisas ou ritos, mas numa pessoa, em Jesus Cristo. Ele é a salvação. O objetivo da fé, então, é a salvação de almas.

2.3. Salvação Hoje: cumprimento da palavra profética de ontem (1:10–12)

Não só as comunidades aqui focalizadas buscam a salvação e meditam sobre ela e suas implicações para o dia-a-dia. Tal também se deu com os “profetas”. O conteúdo da pregação dos profetas é aqui descrito como “graça”. I Pedro, resume, assim, a pregação profética como

I.E.Q Secretaria Geral de Educação e Cultura ___________________________Epístolas Gerais - Revisão em 2006

26

Page 27: Epistolas gerais aluno

constituindo-se “na graça a vós outros destinada”. Quer dizer, as comunidades cristãs estão vivendo no tempo em que a graça anunciada se cumpre; os próprios profetas não sabiam bem ao certo quando seria esse tempo, e bem que procuraram saber. “Estas coisas foram indicadas aos profetas pelo Espírito de Cristo”. O Espírito inspirava a profecia, a palavra do Senhor aos profetas era dada por meio dEle (I Pe. 1:20-21) Falando dEle como o “Espírito de Cristo”, parece que o autor também pressupõem uma atividade de Jesus já antes da Sua existência terrena, o que fazia parte da fé da igreja primitiva. Ao dizer que o Espírito “neles estava”, o autor vê a influência do Espírito sobre os profetas como algo um pouco mais efetivo e duradouro do que experiências extraordinárias. Ele estava neles quando refletiam e tentavam entender os “sinais dos tempos” e as coisas que lhes eram comunicadas pelo próprio Espírito. A questão de quando estas coisas haveriam de acontecer, sempre foi primordial também no Judaísmo posterior do Antigo Testamento. Para quem valem as promessas? Qual será a geração que as verá acontecer? A expectativa messiânica era forte, especialmente nas camadas piedosas e em meio ao povo comum. O Espírito que toma a iniciativa de revelar ou anunciar é o mesmo; a mensagem é a mesma, tanto na promessa como no cumprimento. O Evangelho que fora pregado aos leitores engloba, então, a mensagem profética junto com seu cumprimento. Ela é a boa nova de que a salvação, tão ansiosamente esperada, é agora uma realidade, a partir da morte e ressurreição de Cristo. Tudo isso é tão impressionante que até “os anjos no céu, anseiam por observar essas coisas mais de perto e atentamente.

2.4. O novo “status” dos cristãos e suas conseqüências (1:13; 2:10)

Esta seção da Epístola trata da história das tradições, e nela encontramos vários paralelos com o livro do Êxodo, como a seguir:I Pe. 1:13 – Ex. 12:11 (lombos cingidos, atitude de prontidão);I Pe. 1:14 – Ex. 16:3 (conformar-se com os desejos de outrora);I Pe. 1:18 – Ex. 13:3 (resgatados da escravidão do viver antigo);I Pe. 1:19 – Ex. 12:5 (o sangue do cordeiro);I Pe. 1:24 – Is. 40 (parte de Isaías que fala da volta do cativeiro como de um segundo êxodo);I Pe. 2:9 – Ex. 19:5 (povo de propriedade exclusiva de Deus, reino de sacerdotes, nação santa – povo do pacto).

3. Santidade

3.1. Santidade adquirida deve ser Santidade vivida (1: 13 – 21)

Em primeiro lugar a salvação em Cristo deve conduzir à santidade. Na verdade ela é doação de santidade, doação do Espírito de santidade (I Pe. 1:2), que deve agora se expressar concretamente em santidade vivida. O fundamento dela é a morte de Cristo na cruz (I Pe. 1:19), o sangue derramado para nos resgatar da vida anterior, não-santa, fora da esfera divina.

O recebimento dessa salvação, deve levar a uma conduta ajustada e compatível com ela. “Cingindo o vosso entendimento” é uma expressão que na época seria imediatamente compreendida, mas que hoje requer uma explicação. Quer dizer literalmente “cingindo os lombos do vosso entendimento”. “Cingir os lombos” é colocar cinto, cingindo assim a túnica comprida e solta pelo corpo propiciando maior liberdade de movimentos para a pessoa.

“Sede sóbrios”. Usualmente, esta palavra designa alguém que não está embriagado, ou seja, o termo é usado para indicar que a pessoa está no pleno domínio da sua capacidade racional, fazendo assim um forte contraste com as “paixões de antigamente” (I Pe. 1:14). O objeto da esperança é descrito como “a graça que vos está sendo trazida”. A graça aqui funciona como sinônimo da salvação final que se espera. Esta é a característica básica da existência cristã, construir a vida sobre a graça, e exatamente isto é a verdadeira sobriedade.

I.E.Q Secretaria Geral de Educação e Cultura ___________________________Epístolas Gerais - Revisão em 2006

27

Page 28: Epistolas gerais aluno

Os leitores são exortados, ou incentivados, a procederem como “filhos da obediência”. “Ser filho” de alguma coisa significa assumir ou ter esta coisa como característica pessoal. Ser filho da obediência então é caracterizar-se por levar uma vida que expresse obediência, que aqui pode ser definida simplesmente como conformidade com a vontade revelada de Deus. (I Pe. 1:2). Depois da exortação vem o alerta: “não vos amoldeis às paixões que tínheis anteriormente”. Este é um outro modo de dizer que a nova vida em Cristo, transforma a pessoa por dentro e se traduz em novas expressões concretas de vida.

Na seqüência temos uma continuação da frase anterior, a seqüência do pensamento fica: “não vos amoldeis às paixões...mas sede santos”. E continua “segundo é Santo aquele que vos chamou”. Dois pensamentos importantes estão aqui contidos: O primeiro, principal, é que Deus é Santo. O segundo é que este Deus Santo, nos chamou. “Tornai-vos santos” esclarece que aqui com relação aos homens, o termo santo é mais no aspecto moral, o que é destacado pela oposição de “em todo o vosso procedimento”. Poderia-se dizer, com propriedade, que esse chamado à santificação resume em si as injunções éticas de I Pedro. A verdade é que nenhum aspecto da vida fica fora do seu alcance. O todo da existência humana deve estar sob o signo da “santificação do Espírito” (I Pe. 1:2). Essa exortação à santidade fundamenta-se na palavra de Deus. “Está escrito”, tinha provavelmente, para os cristãos daquele tempo, um peso que hoje raramente sabemos avaliar. O apelo à palavra de Deus serve para ratificar, com autoridade, o que foi dito. Sendo “povo de Deus”, “nação santa” (1 Pe. 2:9), os cristãos são chamados assim, a reproduzirem na sua vida o caráter do Deus Santo que os chamou. Assim a lógica é clara: “sede...porque Eu Sou”. Pedro lembra a seus leitores que tem o privilégio de chamar a Deus de Pai, o que representa uma das maiores graças que acompanham a salvação para o Cristianismo primitivo. Assim Jesus se dirigia a Deus (Mc. 14:36), e ensinou também a seus discípulos que assim fizessem (Lc. 11:2). O Nome de Deus é mencionado aqui não segundo o costume judeu, no qual Ele é designado por um de seus “atributos”. Aqui Ele é chamado como “Aquele que julga sem acepção de pessoas”. Pedro faz então uma advertência a eles: “portai-vos com temor”. No caso dos cristãos “temor” não é uma sensação doentia de medo. Trata-se de uma grande reverência. Um sentimento que é de um sadio “assustar-se em vista do acerto de contas diante de Deus”, sensação e faz parte da consciência da realidade do cristão. O que é enfatizado aos leitores é a sua redenção (resgate), e o preço que ela custou. Na concepção corrente na Bíblia, o homem afastando-se de Deus, chegou a se tornar escravizado pelo pecado e pelas forças do mal, não tendo capacidade em si próprio de resistir a esta dominação interna e externa. Quando as mentes mais sensíveis aos propósitos de Deus sentem este aprisionamento dentro dos limites da condição humana, chegam a clamar desesperados, como Paulo: “desventurado homem que sou, quem me livrará do corpo desta morte?” (Rm. 7:24), ficando entre a boa nova do Evangelho e o poder da redenção de Cristo Jesus. O preço do resgate que o dinheiro não podia pagar é então declarado: “o precioso sangue de Jesus Cristo”. O preço pago pela expiação dos pecados nos rituais do Antigo Testamento era um cordeiro “sem defeito e sem mácula”. O Cordeiro de Deus ( Jo. 1:29), ao ser Ele próprio oferecido como sacrifício pelos pecados de todo o mundo (1 Jo. 2:2), leva sobre si, definitivamente, a culpa que pesa sobre a humanidade. Como efeito deste sacrifício, desse preço de resgate, somos “comprados” de volta para Deus (Ap. 5:9). O que era “conhecido” antes da criação, foi “manifestado” agora, dentro do tempo. Tudo isto foi manifestado nestes dias, por causa dos homens que vivem o atual momento histórico, que foram sempre os objetos centrais do planejar e do agir de Deus, e que principalmente representam a manifestação do “amor de Deus por vós”. Este amor é declarado para que “por meio dele (de Cristo) tendes fé em Deus”. Deus não é uma entidade, um ser abstrato e indefinido, mas Aquele que atua com poder na história. Aquele que “ressuscitou a Cristo dentre os mortos e lhe deu glória”. Esta glória foi manifesta através da entronização de Jesus à destra do Todo-Poderoso. E este ato de Deus trouxe-lhes ainda a garantia de que “a vossa fé e esperança estejam em Deus”, o que demonstra que obtiveram provas de amor e de consideração para com Ele.

I.E.Q Secretaria Geral de Educação e Cultura ___________________________Epístolas Gerais - Revisão em 2006

28

Page 29: Epistolas gerais aluno

3.2– A Palavra de Deus leva ao amor fraterno (1:22–25)

“Tendo purificado as vossas almas” é uma simples constatação de que os fatos do passado não nos causam muitas saudades. Esta purificação foi ocasionada pela “obediência à verdade”, e está estreitamente relacionada com ela. Ao aderirem à verdade do evangelho, reconhecendo sua pecaminosidade e ignorância (1 Pe. 1:14), e aceitando pela fé o resgate propiciado pelo sacrifício de Cristo na cruz (1 Pe. 1:19-20), as suas vidas foram purificadas. Foram, igualmente, resgatados do individualismo egoísta que caracteriza a existência humana no pecado, e colocados num novo tipo de “existência corporativa”, como membros do povo de Deus, onde cada um não deve ter em vista só aquilo “que é propriamente seu, senão também cada qual o que é dos outros” (Fp. 2:4). Exorta ainda ao amor fraternal: “amai-vos uns aos outros” que é ainda reforçado por um advérbio de intensidade “ardentemente” e deve ser “de coração”.

Pedro declara que fomos gerados em amor, não de uma semente corruptível, como é o “amor humano”, mas de uma semente incorruptível que é o amor de Cristo, demonstrado não sem que fosse pago um alto preço de regate. E isto tudo é garantido pela Palavra de Deus que é viva e permanente. O cristão tem em si uma nova vida, essencialmente diferente de uma simples existência biológica. O cristão renascido, assim, é um testemunho vivo do poder de Deus e da certeza do futuro que já vai adentrando o presente, conquistando-o.

“Toda a carne” é sinônimo de “toda raça humana”, toda a humanidade. Está realçado o aspecto frágil e passageiro da natureza humana, sujeita à degeneração (tanto física como espiritual), tornando assim mais efetiva a comparação com a erva. A “glória da carne” é tudo aquilo que uma pessoa ostenta, e do que pode se orgulhar: a beleza física, o status, as realizações do homem no vigor da sua existência. Tudo isso é como a “flor da erva”; é bonito, mas fugaz e passageiro. “Seca-se a erva, e cai a sua flor”. Uma triste realidade que não há como mudar, ao menos a partir dos mecanismos do mundo. Mas, a Palavra de Deus é diferente. Ela não está aprisionada às condições humanas. “Passará o céu e a terra, porém as minhas palavras não passarão” (Mt. 24:35). A Palavra de Deus “permanece eternamente”, tendo poder de resgatar a todos que a ela se apegam. Esta é a Palavra que “vos foi evangelizada”, e que não será revogada.

CAPÍTULO 2

3.3 – Crescimento na Palavra (2:1–3)

Pedro começa esta seção orientando seus leitores a abandonarem as práticas más que adotavam antes do “novo nascimento”. Seja como for, teologicamente é certo que a vida cristã não consiste primordialmente da negação de certas práticas, ou de um esforço por abandonar certas coisas. O que é deixado de lado sempre é visto à luz do novo que é ganho, da nova natureza e do novo comportamento que surgem em Cristo. O novo deve ocupar o lugar das velhas práticas que foram abandonadas na vida dos cristãos. Antes alimentavam-se de coisas mundanas, agora, como recém nascidos, precisam desejar ardentemente (e não de qualquer forma), o “genuíno leite espiritual, para que, por ele, vos seja dado crescimento para a salvação”.

O desejo intenso pela Palavra de Deus, então, e o alimentar-se constantemente dela, levarão a um alvo concreto, que é o de ter “experiência de que o Senhor é bondoso”. Esta bondade de Deus mostra-se no Seu agir salvador na vida daqueles que crêem em Cristo, e que chegam a conhecer “a suprema riqueza da sua graça, em bondade para conosco, em Cristo Jesus” (Ef. 2:7). A bondade de Deus é declarada por Jesus em Lc 7: 35, dizendo que seus efeitos atingem até os “ingratos e maus”. Paulo pergunta perplexo: como pode alguém desprezar a riqueza da bondade de Deus? (Rm. 2:4).

3.4 – Edificação do grupo cristão sobre o fundamento que é Cristo (2:4–10)

I.E.Q Secretaria Geral de Educação e Cultura ___________________________Epístolas Gerais - Revisão em 2006

29

Page 30: Epistolas gerais aluno

Para que o homem se reaproximasse de Deus, Ele expôs seu próprio Filho a morrer numa cruz. Depois ficou claro que isso se deu para pagar o preço do pecado da humanidade, pecado esse que “punha um abismo entre Deus e o homem” (Is. 59:2). Chegar ao Filho é chegar ao Pai. Chegar ao Pai é chegar ao Filho, sentado à destra do Seu trono. Ele é a “pedra que vive”. Por parte dos homens, esta pedra é “rejeitada”. O Servo “era desprezado, e o mais rejeitado entre os homens... como um de quem os homens escondem o rosto, era desprezado, e dele não faziam caso” (Is. 53:2-3).

Para com Deus, todavia, essa mesma pedra é considerada “eleita e preciosa”. Temos aqui a chave para compreender toda a doutrina da eleição. Os homens são eleitos porque Jesus foi eleito primeiro. Ele é, por excelência, o eleito de Deus. E como tudo o que Jesus conquistou na cruz é direito nosso, é nossa herança, podemos declarar que “Em Jesus, somos eleitos” (Ef. 1; 4). Cristo é eleito de Deus, e nós somos eleitos nEle.

Como Cristo é pedra que vive, também os que estão nele são como “pedras vivas”. Ele, o novo Homem, o novo Adão, torna em homens novos aqueles que, por fé, se achegam a Ele. Isto é o que torna possível a Paulo falar de Cristo como o “primogênito de muitos irmãos” (Rm. 8:29) e dos cristãos como “co-herdeiros com Cristo” (Rm. 8:17). Cristo é a pedra fundamental da construção da nova humanidade, do novo templo vivo de Deus, aqui “casa espiritual”. Os cristãos são as pedras que gradativamente vão compondo a estrutura da construção. Enquanto esta construção não está acabada existe uma missão a ser cumprida: a imagem usada sofre uma pequena transformação, tornando-se a construção um templo, e as pedras vivas que são os sacerdotes que nele oficiam. Os cristãos são então constituídos como “sacerdócio santo”. É significativo o fato de que todos fazem parte dele e não somente os que fazem parte de alguma casta secerdotal. A função deste sacerdócio é “oferecer sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por intermédio de Jesus Cristo”. Isto significa que diferentemente do sacrifício do Antigo Testamento, que oferecia animais como meio de obter expiação pelos pecados, este “sacrifício espiritual” é “agradável a Deus” pois tem como intermediário não o sangue de um animal, mas o sangue de Jesus Cristo. É esta intermediação que os santifica e que faz com que cheguem ao trono da graça. Pedro chama agora seus leitores à sua nova posição em Cristo: “vós porém”. Eles são chamados “raça eleita”. Esta “nova raça” é aquela que assume os privilégios e a promessa que pertenciam ao povo judeu, por este ter desobedecido à Palavra e rejeitado o Messias (I Pe. 2: 7-8). Perderam também seu “sacerdócio real” que lhes pertencia para serem uma bênção a todos os povos (em cumprimento à promessa feita a Abraão em Gn. 12:2-3). É “real” porque serve ao Rei da terra, e assim tem parte de sua natureza real. São feitos também “nação santa”, por serem os escolhidos de um Deus que é santo, e ditos com “povo de propriedade exclusiva de Deus”, não pertencem mais ao mundo, são de Deus. Este povo descrito em termos tão magnificentes e repletos de conteúdo tem uma missão no mundo: “Proclamar as virtudes daquele que vos chamou das trevas para sua maravilhosa luz”. Estes privilegiados tem , com certeza, a obrigação de proclamar as grandes maravilhas que Deus tem feito em suas vidas e devem ser testemunhos vivos destas verdades. Duas coisas eles não eram e agora são, pela fé em Cristo:“Antes não éreis povo”. Em Os. 1:9, Deus refere-se a Israel, quando chegou ao ponto de rejeitar o Seu povo, por causa de sua idolatria e opressão aos mais fracos na sociedade. Assim Deus os chama agora de “não-meu-povo”. Deus, em Cristo, os transforma de “não-meu-povo” em povo escolhido. “Que antes não tínheis alcançado misericórdia”. Lembra novamente o profeta Oséias em Os 1: 6, que foi instado a dar a uma filha o nome de Lo-Ruhamah, “Desfavorecida”. Este termo refere-se ao futuro de Israel e ao passado dos leitores. Mas agora “alcançastes misericórdia” (I Pe. 1:3).

4. Exortações para a vida diária (2:11; 3:12)

4.1 – Formulação Geral: os cristãos são instados a um novo estilo de vida (2:11–12)

Entre os cristãos primitivos é comum o fato de se dirigirem uns aos outros como “amados”. Isto não é comum no tratamento no mundo ao redor, e indica a expressão de uma nova realidade, a

I.E.Q Secretaria Geral de Educação e Cultura ___________________________Epístolas Gerais - Revisão em 2006

30

Page 31: Epistolas gerais aluno

partir de Cristo, nas relações entre pessoas. Pedro trata-os como “peregrinos e forasteiros”. Peregrinos pode ser traduzido melhor como “estrangeiros residentes”, uma classe de habitantes no local sem plenos direitos de cidadania. Forasteiros são pessoas que se detém num lugar por certo tempo, não sendo residentes. Eles são estrangeiros em meio à sociedade em que vivem, também por causa da sua fé, sendo duplamente marginalizados, como entes sociais e como cristãos.

Pedro conclama-os a se absterem “das paixões carnais” que são os desejos da carne, as paixões e obsessões dos instintos físicos. Estas fazem “guerra contra a alma”. O cristão vive numa constante tensão, por um lado, é requisitado a atender os apelos de sua natureza decaída (oposta a Deus) e, por outro lado, anseia por viver uma vida mais plena, necessariamente conforme a vontade de Deus. Esta divisão interna no homem é um tema importante na teologia bíblica. A personalidade do homem foi criada íntegra, começando a se degenerar a partir da vida em pecado, da oposição a Deus. Neste sentido, carne e alma, podem ser entendidos aqui como representando a velha e a nova naturezas do cristão, as duas inclinações interiores que vimos, e que lutam entre si para se impor dentro da pessoa.

Chama os leitores a “manterem exemplar o vosso procedimento no meio dos gentios”. Devem buscar um modo de servirem melhor aos outros, de forma que os conduza a reconhecer o agir de Deus nas pessoas e no mundo e assim possam também glorificar a Deus em suas vidas, e possam assim não falar deles não como malfeitores, mas que possam observar suas boas obras.

4.2 – Na vida pública (2:13–17)

“Sujeitai-vos” é o mandamento à submissão. Os cristãos devem, num ato de liberdade colocar-se sobre a égide das autoridades públicas. A regra geral para a vida pública é: “sujeitai-vos a toda instituição humana”. Essa sujeição deve ser “por causa do Senhor”. Não é por causa delas (como se fossem divinas) que o cristão se lhe submetem, mas por causa de uma causa externa a eles: Jesus Cristo. O rei tem autoridade máxima nos limites de seu império. O rei tem uma posição superior, e é nessa que se lhe deve submissão. Esta submissão deve ser estendida aos enviados do rei. Governadores e outros cargos afins, que venham em nome dele, tanto para castigar os malfeitores como para louvar os que praticam o bem.

Este é o aspecto fundamental da ética cristã: “a vontade de Deus”. Como o Evangelho de Cristo não é uma nova lei, a vontade de Deus não é prescrita detalhadamente, à maneira do farisaísmo judaico . Ela é enunciada de forma geral, a “prática do bem”, e os próprios cristãos é que terão que decidir em cada caso o que isto significa, e qual a atitude concreta e específica a ser tomada. Assim farão “emudecer a ignorância dos insensatos”. Emudecer quer dizer “calar a boca”. A ética cristã principia na libertação do homem de toda forma de escravidão que o subjugava. É devolvido às pessoas o direito à liberdade, não estão mais escravizados por todo tipo de paixão. No entanto, não devem usar a liberdade como pretexto da malícia. A liberdade é para o bem. No momento em que se é usada para o mal, se torna novamente escravidão. O sentido de malícia deve estar ligado às paixões de que falam várias passagens da carta, como a má conduta no âmbito da sociedade. A verdadeira liberdade supõem uma outra atitude: ser “servos de Deus”. À medida que alguém aceita ser servo de Deus é livre, mas à medida que não aceita não é livre. Os cristãos devem honrar todas as pessoas, no vínculo do amor. Devem amar os irmãos, temer a Deus e honrar ao rei. Desta forma podem demonstrar que são verdadeiramente livres.

4.3 Nas relações de trabalho (2:18–20)

A submissão, em si, não depende do caráter do patrão. Ela deve ser prestada não somente aos bons e cordatos, mas também aos perversos. O verdadeiro teste começa quando a submissão é para com os maus patrões, “os perversos”, em sentido figurado, os de mau caráter, de inclinações perversas. A possibilidade do sofrimento injusto é considerada; não sendo, porém, motivo para a submissão, mas “porque isto é grato”. Na tradição judaica, a vinda do Messias é precedida pelas

I.E.Q Secretaria Geral de Educação e Cultura ___________________________Epístolas Gerais - Revisão em 2006

31

Page 32: Epistolas gerais aluno

“dores de parto”, sendo que o seu povo passará por sofrimento. É muito importante que consideremos este aspecto, para entendermos porque o sofrimento pode ser relacionado com a graça.

Ainda que sofresse injustamente o servo deveria suportar, o que indica que a vida deles não era muito fácil. A diferença agora é que ao invés de terem pecado, agora fizeram o bem e sofrem injustamente, mas isso é considerado grato diante de Deus. O que aos olhos humanos pode parecer uma situação insuportável, aos olhos de Deus pode parecer uma situação em que a Sua graça se revela de forma bem nítida.

4.4 – Cristo, o Supremo modelo para todos ( 2:21, 25)

O próprio Cristo havia feito a si próprio servo (Mc. 10:45; Jo. 13:1–5), e, pelo modo como viveu e sofreu, se tornou um exemplo fácil de ser compreendido pelos sem privilégios sociais. “Para isto mesmo fostes chamados”. Chamado à santidade de vida, a viver na luz de Deus; chamado à disposição ao sofrimento, se isso realçar melhor diante dos outros a imagem do Cristo que a eles pregamos. “Pois, se Cristo também sofreu”: o sofrimento injusto parece ser o destino dos mensageiros de Deus (Mt 5: 11, 12; 23: 34, 35). Poucas vezes, contudo, os cristãos tem se identificado de coração, com um Cristo sofredor, como o de Isaías 53 e como o desta passagem.

Era firme a crença da cristandade primitiva que nunca ninguém pôde, com justiça, apontar qualquer coisa de errado em Jesus: As acusações em seu julgamento demonstraram-se falsas (Mc 14: 56, 57, 63); O próprio Judas reconheceu que traiu um inocente ( Mt 27: 4); Com efeito todas as palavras de Jesus foram verdade (Jo 8: 40); pois só falou aquilo que o Pai quis que falasse (Jo 7: 16; 14: 10), e a palavra do Pai é a verdade (Jo 17: 17) Ele é em pessoa a negação de todo dolo: Ele é a verdade (Jo14: 6). “Quando ultrajado”, refere-se sem dúvida, aos acontecimentos em torno do julgamento de Jesus, quando se cumpriu a Sua previsão de que haveriam de “escarnecer e cuspir nele, açoitá-lo e matá-lo” (Mc 10: 34; 15: 16 – 20). “Quando maltratado” refere-se mais uma vez à questão do sofrimento. Mesmo sofrendo, Jesus não fez ameaças, o que é uma atitude muito comum diante do sofrimento. Em lugar de invocar o julgamento e o inferno sobre os Seus algozes, Jesus “entregava-se àquele que julga retamente”, ou seja, colocava-se nas mãos de Deus. Justiça verdadeira e abrangente sempre pertence a Deus. Ficou claro, então, que nada do que Jesus sofreu chegou a propiciar ocasião de cair em pecado. A sua atitude foi a única que realmente é superior, é a única que tem condições de superar o impasse criado na humanidade pelo círculo vicioso da violência e da injustiça. Há um contraste marcado entre “mortos e vivos”, bem como entre “pecado e justiça”. “Vivamos”, espelha essa tensão entre morte e vida em relação com pecado. Pecado e justiça são duas esferas vivenciais, dois âmbitos dentro dos quais a pessoa pode se mover. Mas, o importante é que o cristão já fez a radical passagem de uma esfera a outra, não se encontrando mais dominado pelo pecado, e estando aberto à possibilidade da justiça. E os cristãos têm sua justiça diante de si como possibilidade, pois passaram por uma radical e profunda intervenção em suas vidas, que os cura da doença do pecado e da injustiça. “Por suas chagas fostes sarados”. “Estáveis desgarrados como ovelhas; agora porém, vos convertestes”. Não foi a ovelha que, por sua intuição ou capacidade, encontrou o caminho; o fiel Pastor é que saiu a procurá-la diligentemente, até encontrar (Lc 15: 4), e quando a encontrou a trouxe de volta ao redil, onde agora é apascentada junto com as outras (Jo 10: 14, 15). Jesus mesmo se apresenta, em João 10, como o Pastor do rebanho, tal como, no Salmo 23, Deus é o bom Pastor do Seu povo.

CAPÍTULO 3

4.5 – Em casa (3:1–7)

I.E.Q Secretaria Geral de Educação e Cultura ___________________________Epístolas Gerais - Revisão em 2006

32

Page 33: Epistolas gerais aluno

O último setor específico da vida dos leitores aqui abordado é o do círculo mais íntimo: a família, mais exatamente as relações entre o homem e a mulher, marido e esposa.

4.5.1. As esposas (3:1–6)

O fato de que as mulheres deveriam ser submissas aos homens era um conceito geral no mundo em que viviam tanto o autor, como os seus leitores. Parece que muitas mulheres cristãs eram casadas com homens descrentes, aqui caracterizados como aqueles que “não obedecem a palavra” (I Pe 2:8). Estes não aceitam a palavra e nem vivem por ela. Certamente uma relação assim pode ser muito delicada. A exortação às mulheres é que sejam submissas, o que equivale dizer, nos termos da época, que sejam boas esposas, mas continua a tensão da religião diferente. Assim, também aqui, os maridos devem observar o procedimento das esposas. O que caracteriza o comportamento das mulheres é:Em primeiro lugar o temor. Este temor é a Deus e não aos homens;Em segundo lugar, o comportamento é honesto, o que significa “puro”, “limpo”, englobando a fidelidade e a decência e também a transparência nas motivações e no comportamento em geral. Esta é a verdadeira força do Evangelho: o poder que ele tem de transformar vidas; e essas vidas transformadas, mesmo caladas, são muito eloqüentes no seu testemunho.O pensamento concentra-se agora naquilo que as mulheres têm de mais característico: a sua beleza. O fato de as mulheres se preocuparem com a sua aparência é muito natural, e não é disputado aqui. Nem a Bíblia como um todo o condena. O que é condenado é o excesso, e especialmente as situações onde os pobres são oprimidos enquanto os mais ricos gastam exageradamente em jóias e vestes. A resposta que Pedro dá à questão sobre o que torna as mulheres graciosas é bastante diferente. Agora não é mais o exterior que é considerado (embora ele não seja desprezado). A verdadeira beleza da pessoa está no seu interior, ou ainda “no homem interior do coração”. O que é ressaltado é a paz interior, a serenidade, e isto é “de grande valor diante de Deus”. Devemos nos cuidar, todavia, para não fazermos um contraste ascético entre o interior e o exterior. A ênfase dada ao aspecto interior deve-se ao fato de que o homem tende a esquecê-lo, preocupando-se somente com o exterior. Para reforçar a exortação, o autor lança mão de um exemplo da tradição do Antigo Testamento, buscando modelos no passado para as mulheres cristãs no presente. E ele começa fazendo isso de forma geral. “Pois foi assim que a si mesmas se ataviaram outrora as santas mulheres”. Sara é elogiada porque “obedeceu a Abraão”, seu esposo. Sobre estas mulheres de outrora são ditas ainda duas coisas: Em primeiro lugar, “elas esperavam em Deus”; Em segundo lugar elas estavam “submissas aos seus próprios maridos”. Dois aspectos da vida das mulheres cristãs são indicados então servindo-lhes como exortação: O primeiro é a “prática do bem”. E nisso elas se inserem com todos os cristãos O segundo é “não temendo perturbação alguma”. Não devem temer problemas que pudessem vir.

4.5.2 – Os maridos (3:7)

O autor faz agora uma exortação curta, porém cheia de conteúdo aos maridos cristãos. Começa conclamando-os a “viver a vida comum do lar com discernimento”. A sabedoria cristã é a sabedoria do amor, a sabedoria no sentido que lhe dá o Antigo Testamento: discernimento para a vida; e o vigor intelectual não se divorcia dessa sabedoria vital. A conseqüência dessa sabedoria do homem ao relacionar-se com sua mulher deve ser tratá-la “com dignidade”. A mulher é preciosa e o homem deve tratá-la com honra, com dignidade. Se este princípio é geral e válido para todos, quanto mais o deve ser para os cristãos que devem acrescentar a isso o fato de que ambos, marido e mulher, são “juntamente herdeiros da mesma graça de vida”.

Conclui a exortação aos maridos com a frase “para que não se interrompam as vossas orações”. Mas as orações podem ser também as do casal em comum, pensando na comunhão

I.E.Q Secretaria Geral de Educação e Cultura ___________________________Epístolas Gerais - Revisão em 2006

33

Page 34: Epistolas gerais aluno

espiritual entre eles. Esta é prejudicada ou até cortada quando o relacionamento entre eles deixa a desejar. Sendo a frase aberta, devemos deixá-la como tal, passível de ser aplicada nos dois modos.

4.6 – Formulação geral: aprendam da Palavra de Deus a viver em harmonia (3:8-12)

“Finalmente, sede todos de igual ânimo”. O autor refere-se a todos os destinatários em geral, neste caso àqueles grupos de cristãos da região da Ásia Menor. “Devem ser fraternalmente amigos”. O amor é necessidade de todos, e os cristãos devem compensar entre eles a hostilidade com que muitas vezes são tratados pelos não-cristãos. Devem ser misericordiosos, que significa literalmente, “de boas entranhas” e ainda humildes, o que designa uma pessoa de sentimento humilde.

Os cristãos não devem pagar o “mal por mal ou injúria por injúria”. Antes devem usar palavras para bendizer, para abençoar, pois receberam este chamado do Senhor e assim receberão bênção por herança. A aceitação da mensagem do Evangelho deve levar a uma conduta condizente com o mesmo e com o exemplo do Senhor que este Evangelho anuncia.

A vida é dom de Deus, por isso deve ser amada. Isto não significa colocá-la acima do próprio Deus. Todo tipo de sofrimento imposto a outros, que os impeça de desfrutar a vida, é intrinsecamente mau. Assim, os cristãos não devem aspirar ao sofrimento, como se ele trouxesse alguma forma especial de santificação. Falar dolosamente quer dizer “mentir”, “não falar a verdade”, “ser falso nas palavras” e o cristão deve se despojar disso tudo. O cristão deve apartar-se do mal representa, um rompimento decidido com toda forma conhecida de mal, e esta atitude deve levá-lo a praticar o que é bom. Deve ainda buscar a paz, o Shalom dos judeus que significa, mais do que ausência de guerra, um envolvimento da totalidade do ser neste sentido. Ter paz nos compromete a sermos lutadores pela paz, em todos os níveis, num esforço constante e persistente. E por isso o autor acrescenta: “empenhe-se por alcançá-la”.

A piedade bíblica é muito consciente de que “os olhos do Senhor estão em todo lugar” (Pv 15: 3; II Cr 16: 9), vendo tudo o que o homem faz, e que os Seus ouvidos ouvem toda palavra que se profere neste mundo. Pedro afirma que “os olhos do Senhor” repousam sobre os justos, e que “Seus ouvidos estão abertos às suas súplicas”. Em contrapartida diz que “o rosto do Senhor está contra aqueles que praticam males”. O significado desta expressão é de julgamento, um julgamento irresistível.

5. Relação com os não-cristãos (3:13; 4:6)

5.1. Comportem-se de forma respeitosa, mesmo quando não são tratados com respeito (3: 13 – 17)

“Quem é que vos há de maltratar, se fordes zelosos do que é bom”? É certo que Pedro recomenda aos cristãos que sejam zelosos na direção do bem, crendo que é por este caminho que o mundo pode ser transformado. Com a frase “mas ainda que venhais a sofrer” abre a possibilidade que mesmo que a instituição social como um todo se apegue ao bem, grupos dentro dela podem agir de forma contrária. Continua ensinando que não deve-se amedrontar e nem ficar alarmados com tais ameaças, não se deve deixar abalar. Antes esta é uma ótima situação para santificar a Cristo, não somente reverenciando e honrando a Deus, como também glorificando-o mediante a obediência aos seus mandamentos. É no coração que Cristo deve ser glorificado, e isto deve substituir o medo e a preocupação, pela confiança e a Esperança, o que era fator central na fé e na pregação dos cristãos.

Pedro continua: “fazendo-o, todavia, com mansidão e temor”, o que quer dizer que há uma postura adequada a este testemunho. O falar de Cristo deve, então, vir acompanhado e sublinhado por uma vida coerente com ele, ou seja, “com boa consciência”. Já os que “falam contra”, ou “difamam o vosso bom procedimento” são aqueles que tem contra si o “rosto do Senhor”.

De qualquer forma, para os cristãos fica uma certeza: o melhor que se tem a fazer em todos os casos é seguir praticando o bem. Desta forma eles podem ter a certeza de estar agradando a Deus e

I.E.Q Secretaria Geral de Educação e Cultura ___________________________Epístolas Gerais - Revisão em 2006

34

Page 35: Epistolas gerais aluno

podem esperar que esse bem seja reconhecido pelos outros como tal. E se tiverem mesmo que sofrer, “é melhor que sofrais por praticardes o que é bom, do que praticando o mal” (I Pe 2: 20).

5.2 – De novo, Cristo é o modelo: Ele se deu em amor, e assim venceu os poderes do mal (3:18–22)

O melhor exemplo para os cristãos é o próprio Cristo que sofreu e morreu. A morte de Cristo foi a morte “do justo pelos injustos”. Somos colocados aqui numa situação em que toda a humanidade, sem exceção, está colocada de um lado, e Cristo, sozinho, do outro. Isto abriu um caminho das trevas para a luz. O sentido da morte de Jesus ficou claro, então, a partir da Sua ressurreição. Ela era necessária para pôr fim à velha ordem e dar passagem para a nova ordem de Deus. Sem morte para o velho, não haveria nascimento para o novo.

Jesus foi “morto sim, na carne, mas vivificado no espírito”. E neste espírito foi e pregou aos espíritos em prisão, aqueles que estavam nas profundezas da terra, no Hades. Ali confirmou a esperança dos que o esperavam e confiavam na sua vinda, e a condenação daqueles que não buscaram a Deus “enquanto se podia achar”. Estes são aqueles que “noutro tempo foram desobedientes, quando a longanimidade de Deus aguardava nos dias de Noé, enquanto se preparava a arca”. Durante os cento e vinte anos da construção da arca, Noé chamava-os ao arrependimento e Deus esperava com longanimidade que respondessem. Mas foram desobedientes. Então só Noé e sua família foram salvos da ira de Deus, a saber, oito pessoas ao todo.

Faz-se então uma associação do dilúvio ao batismo, no sentido de que só aquilo que agrada a Deus deve permanecer na vida do cristão depois do batismo, como só aqueles que agradaram a Deus, e obedeceram seus mandamentos, sobreviveram ao dilúvio. A menção do “batismo que vos salva” fez acender uma antiga disputa, dentro da igreja cristã, acerca dos sacramentos e de sua eficácia. Corria-se o risco de se considerar o batismo suficiente para a salvação. O que deve, no entanto, ficar claro é que o batismo é a evidência externa de um processo interno.

O Cristo ressurreto, então, depois de proclamar a esperança e o juízo aos espíritos em prisão, sobe finalmente ao céu. O lugar à destra de Deus, o soberano supremo do universo, é o lugar do Seu regente, daquele que executa o Seu governo, ficando-lhe subordinados anjos e potestades e poderes. Enfim tudo está sob o Seu governo.

CAPÍTULO 4

5.3–Por isso, vivam o novo, estimulados pelo exemplo de Cristo (4: 1–6)

“Tendo Cristo sofrido na carne”. Todo o sofrimento que Jesus passou e que chegou à morte, serve de exemplo para nós e nos ensina a estar “armados”. Isto denota um termo militar que indica que a vida cristã é vista como uma constante batalha para se manter fiel a Deus. “Pois aquele que sofreu na carne deixou o pecado” soa, a princípio bastante ousado. Este rompimento com o pecado deve se mostrar concretamente no dia-a-dia dos cristãos. “No tempo que vos resta na carne”, quer dizer que eles tem suas vidas colocadas diante deles próprios, e tem que decidir como querem vivê-las. As suas opções são: Viver de acordo com as paixões humanas; Viver segundo a vontade de Deus. A vontade de Deus é então que se libertem definitivamente das “paixões que tinham anteriormente, na sua ignorância” (I Pe 1: 14)., as “paixões carnais, que fazem guerra contra a alma” (I Pe 2: 11). A vontade de Deus é colocada agora em contraposição à “vontade dos gentios”, que é de continuar vivendo nas paixões próprias dos homens. Pedro faz uma lista destas “paixões” que devem ser apagadas de suas vidas: andando em dissoluções, concupiscências, orgias, bebedices e em detestáveis idolatrias. Romper com esse modo de vida dos “gentios” é romper, em parte, com a sociedade na qual se vive, com vizinhos, com colegas de trabalho, parentes e amigos, que nada conseguem ver de errado naquilo que praticam. Não entendem porque os cristãos não mais

I.E.Q Secretaria Geral de Educação e Cultura ___________________________Epístolas Gerais - Revisão em 2006

35

Page 36: Epistolas gerais aluno

concorrem com eles, não estão mais junto com eles nessas festas e cerimônias. “Devassidão” representa a falta de freios, o estar totalmente dominado pelos instintos. A questão de viver segundo a “vontade dos gentios”, dominado por todo tipo de paixões, ou de acordo com a vontade de Deus, não é relativa ou simplesmente uma questão de gosto. Há implicações, já nesta vida e principalmente na outra, futura.

6. Relações entre os cristãos (4:7–11)

“Ora, o fim de todas as coisas está próximo”. Dentro da tradição apocalíptica judaica e cristã, o fim da história será marcado por uma poderosa intervenção de Deus. A característica da espiritualidade cristã é esse desfrutar antecipado da vida futura, o que reforça a capacidade de viver a vida presente já com a perspectiva da futura e do mundo novo e da vida nova de Deus. “Sede, portanto, criteriosos e sóbrios a bem de vossas orações”. São as orações dos cristãos que mantém os seus olhos voltados na direção certa, para que assim norteiem as suas vidas. Existe ainda a necessidade de moderação, sobriedade e discernimento, não deixando que alguma coisa venha a perturbar a capacidade de ver e pensar claramente.

“Acima de tudo” é um modo de chamar a atenção a alguma coisa de especial importância no contexto. “Tende amor intenso uns para com os outros”, quer dizer que o amor entre eles é pressuposto, não precisa ser criado: precisa, sim, ser sempre “mais intenso”. “Porque o amor cobre multidão de pecados”. A atitude de amor de uns para com os outros deve superar os problemas de relacionamento que possam surgir, ainda mais pela tensão que todos suportam face às hostilidades dos de fora. Todo ressentimento deve ser abandonado. E mesmo aqueles que fraquejaram, e por algum motivo se desviaram da verdade, devem ser tratados com amor, que encobre os pecados e ressalta o amor de Deus por todos.

A próxima coisa de que se fala, e que tem relação direta com o amor entre eles é a prática da hospitalidade. “Sede mutuamente hospitaleiros”. As viagens eram bem mais demoradas que hoje, e bem mais difícil levar dinheiro junto consigo para atender às necessidades durante a viagem, devido aos assaltantes que existiam nas estradas (II Co 11: 26). Assim, os missionários cristãos que constantemente estavam viajando tinham de ser sempre hospedados por alguém, que também suprisse as suas demais necessidades (Fm 22; Rm 15: 24; I Co 16: 6). Hospedar os missionários cristãos, então, era tarefa sumamente importante e tecnicamente fundamental para que o cristianismo pudesse se espalhar pelo mundo. Mas além da perspectiva missionária, a hospitalidade era também importante para a vida da comunidade. Existiam muitos pobres, ou empobrecidos devido às constantes perseguições aos cristãos, e estes necessitavam receber hospitalidade de outros membros da comunidade. Os lares cristãos eram realmente o centro da vida comunitária e da missão evangelizadora e, por isso, era fundamental que fossem hospitaleiros. E como tudo o que se faz para o Senhor, isto também deveria ser feito com amor, “sem murmuração”. Vida na comunidade cristã é vida de serviço a outros. Jesus foi o Servo de Deus, Aquele que “não veio para ser servido, mas para servir (Mt 10: 45). Todos os cristãos receberam dons com os quais podem servir aos outros, sendo “bons despenseiros da multiforme graça de Deus”. “Multiforme” também significa, para um mundo dividido como o nosso em culturas e características regionais bastante diferenciadas, que o Espírito leva em conta essa diversificação e trabalha dentro dela. Na comunidade cristã, a graça de Deus (ou a ausência dela), revela-se também na forma como a comunidade é organizada. Todos recebem dons de Deus e participam de uma forma ou de outra. Não há maiores ou melhores entre os cristãos, todos são nivelados diante de Deus. A distinção entre dons é funcional e não de classe (Gl 3: 28). Quem recebeu o dom de falar, faça-o segundo a Palavra de Deus. Quem serve faça-o segundo o dom que recebeu de Deus. Tudo deve ser feito de forma a glorificar a Deus, “por meio de Jesus Cristo, a quem pertence a glória e o domínio pelos séculos dos séculos. Amém”.

7. Os sofrimentos do presente e o que eles significam (4:12–19)

I.E.Q Secretaria Geral de Educação e Cultura ___________________________Epístolas Gerais - Revisão em 2006

36

Page 37: Epistolas gerais aluno

“O fogo ardente”, é um símbolo tanto para o julgamento como para a purificação. As hostilidades que os cristãos estão enfrentando, são comparadas a um fogo que surge e se alastra no meio deles, “destinado a provar-vos”. Eles não devem “estranhar isso, como se alguma coisa extraordinária estivesse acontecendo”. A história do povo de Deus, demonstra que a perseguição já é uma coisa de se esperar, e os evangelistas cristãos certamente advertiram os convertidos de que assim seria também com eles (At 14: 22). O fato de eles passarem por estas dificuldades não deve levá-los à amargura ou à revolta, nem a um senso de estranheza. “Pelo contrário, alegrai-vos”. Isto pode parecer paradoxal, mas vem acompanhado de uma promessa de Deus “na medida que sois co-participantes dos sofrimentos de Cristo” sejais também co-herdeiros de sua glória. E a alegria virá certamente, muito maior, na Sua revelação.

“Se pelo nome de Cristo, sois injuriados”. Os motivos da hostilidade estão claros: “pelo nome de Cristo”, isto é, pelo fato de serem cristãos. Ser identificado com o nome de alguém era ser identificado com a própria pessoa, e o nome de Cristo é uma identificação preciosíssima para os cristãos (At 4: 12, 30; 5: 42; Ap 2: 13). “Bem-aventurados sois” (Mt 5: 11, 12). O termo indica a felicidade maior a quem alguém pode aspirar, que inclui, mas ultrapassa os nosso conceitos normais de felicidade. “Porque sobre vós repousa o Espírito da glória e de Deus”. Bem-aventurado é aquele que assim conta com a presença do Espírito de Deus em sua vida. Digno de nota é o tempo presente do verbo.

Pedro dá uma lista das coisas nas quais os cristãos não devem envolver-se: “assassino, ladrão, malfeitor, ou como quem se intromete em negócios de outrem”. Os cristãos deviam desviar-se destas coisas pois, se pensarmos nas causas e situação de pobreza da maioria dos cristãos da época, não chega a ser impossível pensar que os cristãos pudessem se sentir atraídos por este movimento e até questionar a validade absoluta do ensino cristão da não-violência. “Se sofrer como cristão não se envergonhe disso”. Se o que levou a isso foi o fato de a pessoa ser cristã e defender os princípios de justiça para os quais agora vive (I Pe 2: 24), ela pode ficar com a consciência tranqüila, não tendo do que se envergonhar. “Antes glorifique a Deus com seu nome”.

O sofrer como cristão, e o glorificar a Deus com isso, sendo “fiel até a morte” (Ap 2: 10), todas essas provações que os crentes estão enfrentando, esse “fogo” que começa a se alastrar no meio deles, são sinais claros de que o juízo de Deus está começando, o julgamento final da história da humanidade e isto está começando com os da “casa de Deus”. “Ora, se primeiro vem por vós”, serve para contrastar com o julgamento dos não-cristãos, “os que não obedecem o evangelho de Deus”. A perspectiva do julgamento dos da “casa de Deus” adverte e chama ao arrependimento, já os dos não-cristãos aponta para a condenação e penalidades dela decorrentes.“Se é com dificuldade que o justo será salvo”, indica que não é fácil ser salvo, nem para o justo. O ensino de Jesus a respeito desse assunto (Mt 7: 14) é duro, tanto que os próprios discípulos lhe perguntaram um dia: “mas se é assim, quem pode ser salvo?” (Mt 19: 25). A resposta de Jesus dá a chave: “para Deus tudo é possível”. O “justo” é o cristão, naturalmente (I Pe 2: 24; 3: 12); os outros são, então, os não-cristãos, que na linguagem do Antigo Testamento, são “ímpios”, porque não reverenciam a Deus, e “pecadores”, porque não ligam para a Sua vontade revelada. “Por isso também, os que sofrem segundo a vontade de Deus” reflete a convicção de que, aconteça o que acontecer aos cristãos, isso não está fora dos desígnios de Deus. Não precisamos e nem devemos pensar que o sofrimento deles é a vontade de Deus, mas sim que é um sofrimento “por causa” da Sua vontade, em conformidade com a opção feita por viver de acordo com a vontade divina. Estes devem “encomendar suas almas ao fiel criador”. Trata-se daquela parte do ser que, de alguma forma, sobrevive à morte, e que, no caso dos cristãos, “se revestirá de um novo corpo” quando da ressurreição (I Co 15: 42 – 44, 53). O cristão deve ainda dedicar-se “na prática do bem”, pois os outros, os não-cristãos, precisam ser alcançados através de suas vidas e testemunho. De alguma maneira, o novo mundo de Deus (II Pe 3: 13) guarda alguma relação com o nosso mundo, e por isso todo o esforço pelo bem, pela paz (II Pe 3: 11), e pela justiça (II Pe 2: 24) tem valor permanente aos olhos do Criador.

CAPÍTULO 5

I.E.Q Secretaria Geral de Educação e Cultura ___________________________Epístolas Gerais - Revisão em 2006

37

Page 38: Epistolas gerais aluno

8. Exortações finais (5:1–11)

Depois das exortações de caráter geral, vem agora algumas dirigidas especificamente a grupos dentro da comunidade cristã. Esta seção trata das relações internas entre os cristãos, e como estas devem propiciar um ambiente de amor e de apoio mútuo, em contraposição à hostilidade dos de fora.

8.1. Os presbíteros (5:1–4)

Pedro inicia assim: “Rogo, pois, aos presbíteros”. Presbíteros são aqueles que exercem liderança na comunidade. Também o autor se apresenta como presbítero e como apóstolo, e certamente as duas coisas não se excluem. O apóstolo tem uma responsabilidade pela igreja universal, isto é, por todas as igrejas; ao passo que o presbítero, tem uma responsabilidade mais restrita ao grupo local de cristãos. “Rogo” é um termo técnico para exortação entre os cristãos primitivos. Duas coisas o autor diz de si mesmo contrapondo sofrimento e glória. São elas:Em primeiro lugar, ele é “testemunha dos sofrimentos de Cristo”. O mais natural aqui parece ser que Pedro está dizendo que presenciou a paixão de Cristo, dando agora testemunho da forma como Ele sofreu e da reação que teve e que tanto impressiona.Em segundo lugar, o autor é “co-participante da glória que há de ser revelada”. Pedro presenciou também a transfiguração e ascensão do Senhor e se tornou conhecedor da glória que Jesus recebeu e que está destinada aos que nele crêem. A partir de agora vem a exortação preparada “Pastoreai o rebanho de Deus que há entre vós”. O grupo dos “eleitos” (I Pe 1: 1), o “povo de Deus” (I Pe 2: 9,10), a “casa de Deus “ (I Pe 4: 17) é agora chamado de rebanho (Lc 12: 32; At 20: 38), apelando-se assim para o rebanho de ovelhas, que também na Ásia Menor era uma cena comum. O rebanho precisa dos que o dirigem, e assim também a comunidade cristã. O papel do pastor é “guiar” as suas ovelhas. O exercício da liderança pode ser marcado por intenções e motivos diferentes. Alguns podem ser “constrangidos”, pressionados a aceitá-lo, o que não é bom, pois não assumem de coração e não se entregam inteiramente. Nem os presbíteros o devem ser “por sórdida ganância” que é literalmente “lucro vergonhoso”, isto é, ganho desonesto. “Mas de boa vontade” sempre com o desejo de servir.

Os presbíteros não devem ser “como dominadores, dos que vos foram confiados”. Isto lembra o ensino de Jesus: “os que são considerados governadores dos povos, dominam sobre eles, mas entre vós não é assim” (Mc 10: 42, 43).Às vezes, os líderes cristãos tem a tendência de achar que os seus liderados são “ovelhinhas”, com as quais se pode fazer qualquer coisa. O que ocorre é que os presbíteros têm sob a sua responsabilidade a liderança de um grupo de cristãos, parte de toda a igreja universal, os quais devem instruir e ajudar na caminhada do Evangelho. Os líderes cristãos devem expressar a nova vida do evangelho, de tal forma que o seu modo de viver leve os outros à realidade que “figuram”, a da nova vida em Cristo, num modelo de serviço abnegado e amoroso, tal com é descrito em I Pe 2: 21 – 25.

Pois, os pastores não devem esquecer que tem sobre si um “Supremo Pastor”. De fato, a igreja tem um único Pastor (Jo 10), que guia todos os cristãos ao aprisco celestial. Aqueles pastores que cumprirem seu chamado e ajudarem seus liderados a crescer na graça e no conhecimento do Senhor Jesus Cristo, e fizerem a vontade do Pai, receberão no final a imarcescível coroa da glória.

8.2. Os membros da comunidade (5:5)

Como normalmente os presbíteros são aqueles escolhidos entre os mais velhos e mais experientes da comunidade cristã, vem a exortação agora aos membros: “sede submissos aos que são mais velhos”, ou seja, aos presbíteros. O “trato de uns com os outros” deve ser em amor. Continua exortando: “cingi-vos todos de humildade”. Para que isso? O complemento do versículo responde a

I.E.Q Secretaria Geral de Educação e Cultura ___________________________Epístolas Gerais - Revisão em 2006

38

Page 39: Epistolas gerais aluno

esta questão: “porque Deus resiste aos soberbos, contudo, aos humildes concede a sua graça”. Deus reage para conosco, de uma ou de outra forma, a partir da atitude que temos para com nosso próximo.

8.3 – Diante de Deus e diante do diabo (5:6–11)

Agora a exortação é a de ser humilde diante de Deus: “humilhai-vos, portanto, sob a poderosa mão de Deus”. Certamente, neste contexto, a “mão poderosa de Deus” é uma lembrança do Seu poder de salvar e libertar o Seu povo, e também da Sua prontidão para intervir na situação que eles estão vivendo. Então, as tribulações devem levar os cristãos a buscar a Deus humildemente, na certeza do poder que Ele tem para guardá-los e livrá-los. Então vem a promessa de que Ele “os exalta”, e isto acontece “no tempo oportuno” ou seja, no “tempo de Deus”.

“Lançando diante dEle toda a vossa ansiedade”. A ansiedade por vezes tira a paz, a tranqüilidade. A ansiedade não é negada, mas é lançada diante de Deus. É um gesto de libertação possível, “porque ele tem cuidado de vós”. É um dever das comunidades cristãs propiciar um ambiente onde as pessoas possam libertar-se da ansiedade, um dos maiores problemas que quase todos enfrentam. Deus quer ver toda a ansiedade projetada sobre Ele, mas muitas vezes as pessoas necessitam, para que isso se concretize, da mediação da comunidade cristã, à qual o próprio Deus doou meios para isso.

Os cristãos devem ser “sóbrios e vigilantes”. Há uma razão bem próxima deles, para este estado de alerta e de sobriedade criteriosa: “O diabo, vosso adversário, anda em derredor”. As forças do mal são assim congregadas e representadas na pessoa de um só, o “maioral dos demônios”. A sua principal característica, no tocante ao povo cristão, é que ele é o seu “adversário”, ou seja, aquele que está tentando derrotá-los, apesar de ser ele próprio o grande derrotado por Cristo. Ele “anda em derredor”, sempre presente, na espreita, “como leão que ruge procurando alguém para devorar”. Pedro não visa dar poder demasiado ao diabo, mas simplesmente mostrar o modo como se movimenta. O seu rugir poderia ser interpretado por seus leitores como as acusações e difamações que contra eles são feitas, as ameaças que eles sofrem.

Em I Pe 5: 5, vimos que Deus resiste aos soberbos; essa mesma resistência é recomendada aqui aos cristãos com relação ao diabo.. É não lhe permitir acesso, opor-se às sugestões que vem do mal, “não dar lugar ao diabo” (Ef 4: 27), é ficar firmes, irredutíveis, diante dos métodos do diabo (Ef 6: 11) que impregnam a cultura e a sociedade, a economia e a política, as ideologias e as religiões do mundo ao redor. Eles devem estar certos de que os cristãos espalhados pelo mundo, mesmo que não se conheçam, que falem línguas diferentes e provenham de culturas distintas, são constituídos uma “irmandade” e estão todos sujeitos aos mesmo sofrimentos que vós.

“Ora, o Deus de toda graça, que em Cristo vos chamou à sua eterna glória”. É o Deus que, antes de O conhecerem, os buscou e chamou-os (I Pe 1: 15). Chamou-os ao sofrimento, se necessário (I Pe 2: 21), chamou-os também à sua glória. “Ele mesmo vos há de aperfeiçoar, firmar, fortificar e fundamentar”. Deus sempre nos supre os meios para suportar tudo aquilo que nos advém, por seu nome, e por seu amor. “A Ele seja o domínio, pelos séculos dos séculos. Amém”. Devemos entregar a Ele o senhorio de todas as coisas para sempre.

9. Despedidas (5:12–14)

A epístola foi escrita por meio de Silvano, que para os da Ásia Menor e para Pedro era considerado “fiel irmão”, pois esteve entre eles juntamente com Paulo quando da evangelização deles. Pedro escreveu: “exortando e testificando”, ou seja, dando testemunho do ato redentor de Deus, em Cristo, para com eles, e da mensagem apostólica. Exorta-os a receberem esta mensagem e a conformarem suas vidas a ela, dentro da situação concreta em que estão vivendo. “Testificando, de novo, que esta é a genuína graça de Deus”. O seu testemunho, naturalmente, tinha peso e seria aceito entre seus leitores.

“Aquela que se encontra em Babilônia, também eleita, vos saúda, como igualmente meu filho Marcos”. Pedro os saúda em nome da comunidade dos cristãos que está em Babilônia, e em nome de

I.E.Q Secretaria Geral de Educação e Cultura ___________________________Epístolas Gerais - Revisão em 2006

39

Page 40: Epistolas gerais aluno

Marcos, o mesmo João Marcos, sobrinho de Barnabé (At 12: 12; 13: 5, 13; 15: 37) e que viajava com Paulo (Cl 4: 10; II Tm 4: 11). Este Marcos foi o motivo da separação de Paulo e Barnabé, em suas viagens missionárias, uma vez que os havia abandonado em uma de suas viagens, e que Paulo não quis levá-lo com eles em outra viagem. Logo Paulo seguiu sua viagem e Barnabé com Marcos foram para outro lado. No entanto, este Marcos foi recomendado por Paulo mais adiante em seu ministério, numa clara demonstração de que havia sido perdoado por Paulo a ponto de ser recomendado pelo mesmo.

Babilônia é um nome simbólico para Roma, a capital do império. Este modo de falar era corrente entre os cristãos primitivos, e todos entenderiam. É o lugar onde o povo de Deus foi levado cativo, e nos dias de Pedro significa o lugar onde os cristãos estão dispersos “em terra estranha”. O poder romano é inimigo do povo de Deus, e sobre isso não deve haver ilusão.

“Saudai-vos uns aos outros com ósculo de amor” é a exortação final da Epístola. Ósculo de amor é o “beijo fraternal” que os cristãos trocavam como saudação fraterna, e que mais tarde chegou a fazer parte da liturgia cristã. “Paz a vós outros que vos achais em Cristo”. A mesma paz estava presente em I Pe 1: 2, logo, Pedro emoldura sua Epístola dentro dessa característica tão profundamente cristã que é a paz. “Em Cristo” lembra que ela nunca é perfeita e completa sem Ele. Deixa ecoando também, por serem as últimas palavras, aquele que na sua simplicidade é o segredo maior da vida cristã: “em Cristo”.

Exercício de Fixação - Unidade II

Responda: 1) Quem foi o amanuense de I Pedro?a) Marcos b) Lucas c) Silvano d) Barnabé

2) Qual das cidades abaixo não está entre as destinatárias da Epístola?a) Bitínia b) Babilônia (Roma) c) Capadócia d) Galácia

3) O livro é ...a) Exortativo, consolador, cristológico b) Facultativo, consolador, cristocêntricoc) Emulativo, desesperador, teocêntrico d) Exortativo, conservador, teológico

4) Qual das características abaixo não foi utilizada na linguagem do autor sagrado?a) Dignidade b) Graça c) Liberdade d) Leveza

5) Qual é o propósito da carta?a) Exortar, edificar e consolar b) Edificar, consolar e orientarc) Firmar, orientar e confortar d) exortar, confortar e edificar

III Unidade - II Epístola de Pedro

CONHECENDO CRISTO E CRESCENDO NELE

INTRODUÇÃO

A evidência que nos resta das últimas quatro décadas do primeiro século, revela que as igrejas eram afligidas por heresias e divididas pelos cismas. Em toda a parte ocorriam desvios da verdade, sendo necessária constante vigilância se se queria que os cristãos mantivessem pura a sua fé.

I.E.Q Secretaria Geral de Educação e Cultura ___________________________Epístolas Gerais - Revisão em 2006

40

Page 41: Epistolas gerais aluno

Na segunda carta, avisa do perigo dentro da igreja. Os cristãos precisavam mais de coragem moral do que física. É nosso dever praticar o que é reto em todas as circunstâncias, sem condições e sem hesitação. O cristão nunca está de folga. Defender a verdade muitas vezes é mais difícil do que entrar num combate. Vemos este fato ilustrado na vida de José (Gn 39: 9), de Neemias (Ne 5: 7; 6: 1 – 16), de Daniel (Dn 1: 8) e de Paulo. Também a História está cheia de exemplos: Policarpo, Lutero, Latimer, Wesley. Eles nunca se envergonharam de Cristo, porque o conheciam.

Pedro avisando-os do perigo de dentro, exorta-os a crescer na graça e no conhecimento de Cristo ( II Pe 3: 18). O conhecimento de Cristo era a melhor arma para vencer as falsas doutrinas que estavam penetrando em suas congregações. Esse conhecimento de Cristo vem-nos por sua Palavra. Não a negligencie. Ela é verdadeiramente, “lâmpada para meus pés e luz para o meu caminho” (Sl 119: 105). Em I Pedro ouvimos muito sobre o sofrimento. Em II Pedro ouvimos muito sobre conhecimento.

Pedro, o Apóstolo da esperança, fala outra vez aos novos cristãos. Concita-os a olharem para o céu enquanto habitam por um pouco de tempo neste mundo mau. Procura despertar a mente esclarecida deles com lembranças (II Pe 3: 1). Fala dos leitores como sendo aqueles “que conosco obtiveram fé igualmente preciosa” ( II Pe 1: 1). Lembrando-nos de como Pedro teve a fé sustentada pela oração de Cristo a seu favor: “Eu, porém, roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça, tu, pois, quando te converteres, fortalece a teus irmãos” (Lc 22: 32). É assim que a nossa fé também pode ser preservada.

TEMA

Mestres heréticos, que mascateavam com doutrinas falsas e praticavam uma moralidade frouxa, começavam a lançar sérias investidas contra a igreja, penetrando nela. A segunda Epístola de Pedro é uma polêmica contra os tais, e, particularmente contra o ensino deles, no qual negavam a realidade da volta de Jesus. Pedro assevera o verdadeiro conhecimento da fé cristã a fim de fazer frente àquela doutrinação herética.

AUTORIA

Na saudação, Simão Pedro identifica-se como o autor da carta. Mais adiante ele declara que esta é a sua segunda Epístola (II Pe 3: 1), indicando assim que está escrevendo aos mesmos cristãos da Ásia Menor, a quem foi dirigida a primeira Epístola (I Pe 1: 1). Visto que Pedro, assim como Paulo, foi executado por decreto do perverso Nero (que por sua vez, morreu em junho de 68 A.D. , é mais provável que Pedro escreveu entre 66 e 68 A.D., pouco antes do seu martírio em Roma).

Entre os eruditos modernos, há uma dúvida generalizada de que o Apóstolo Pedro foi o autor desta Epístola. A igreja primitiva demonstrou alguma vacilação por aceitá-la no cânon do Novo Testamento. Entretanto, isso poderia ser explicado mediante a comparativa brevidade da carta, e, quiçá, por uma limitada distribuição da mesma, que assim ficou relativamente desconhecida.

Não nos devemos esquecer, contudo, que a igreja primitiva finalmente a aceitou como genuína e como escrito canônico saído da pena de Pedro. Também é digno de nota que dois livros apócrifos do Novo Testamento, a saber, o Evangelho da Verdade e o apócrifo de João, contém prováveis citações ou alusões extraídas da segunda Epístola de Pedro, comprovando-se desse modo que desde os primórdios II Pedro era aceita como obra autoritativa, isto é, já no segundo século da era cristã.

Por igual modo o antiqüíssimo (século III A.D.) papiro Bodmer, designado P72, mostra que II Pedro era livro aceito como canônico; pois naquele manuscrito, II Pedro compartilha com I Pedro e com Judas, de uma bênção invocada sobre os leitores desses livros sagrados, e chega mesmo a receber um apoio mais elaborado que as duas Epístolas citadas. O estilo de II Pedro é diferente do de I Pedro; mas o trabalho de dois amanuenses diferentes pode explicar isso. Todavia, destacadas similaridades na fraseologia, entre II Pedro, I Pedro e os sermões de Pedro no livro de Atos, apontam para uma origem em comum: o Apóstolo Pedro.

I.E.Q Secretaria Geral de Educação e Cultura ___________________________Epístolas Gerais - Revisão em 2006

41

Page 42: Epistolas gerais aluno

ONDE FOI ESCRITA

Estamos quase completamente no escuro quanto ao lugar de origem desta carta. Se é uma carta genuína de Pedro, foi provavelmente escrita em Roma pouco antes do seu martírio (II Pe 1: 15). Este permanece sendo o lugar mais provável, mesmo se Pedro não fosse o autor. Alguns comentaristas indicam a repugnância de heresia, a referência à morte iminente de Pedro, e a alusão indireta ao evangelho segundo Marcos (II Pe 1: 15) como sendo indicações de uma origem romana, e indica que 1 Pedro e Judas, com as quais esta Epístola tem fortes afinidades, também eram publicações romanas, com toda a probabilidade. A certeza, no entanto, é impossível.

DESTINATÁRIOS

A destinação da carta é também enigmática. O ponto crucial, neste aspecto, é II Pe 3: 1. A maioria dos comentaristas entende que é uma referência a I Pedro. Se assim o for os destinatários devem ser as mesmas pessoas para as quais I Pedro foi enviada, ou seja, os cristãos nas províncias da Ásia Menor (I Pe 1: 1). Se, porém, II Pe 3: 1 se refere a outra carta perdida e não a 1 Pedro, fica mais difícil ter certeza dos seus destinatários. Mesmo assim as probabilidades ainda favorecem a Ásia Menor. A carta foi recebida em data recuada, e a Ásia Menor foi uma das principais sementeiras do gnosticismo do qual II Pedro cita um exemplo antigo.

Outro aspecto obscuro no endereçamento da Epístola é se os destinatários eram judeus ou gentios. Em prol dos judeus pode ser argumentado o contraste subentendido entre “vossos apóstolos” (II Pe 3: 2) e os demais, e as afinidades entre parte da linguagem de II Pedro e os manuscritos de Cunrã. Mas é muito mais provável que seja uma comunidade gentia, ou pelo menos mista. Não somente é Paulo, o apóstolo dos gentios, uma autoridade reconhecida, como também o autor é cauteloso no uso de termos judaicos, que Judas utiliza com perfeito contentamento, e certas frases tais como “fé igualmente preciosa conosco” (II Pe 1: 1) e “livrando-vos da corrupção das paixões que há no mundo” (II Pe 1: 4) sugerem que os leitores eram gentios. É difícil imaginar que a Epístola não teria contido nenhuma citação específica do Antigo Testamento (embora haja grande número de alusões) se os endereçados fossem primariamente judeus. É provável que uma comunidade mista esteja mais perto da verdade; são pessoas às quais o autor já escrevera e ministrara pessoalmente (II Pe 1: 16; 3: 1) e que tinham recebido pelo menos uma carta de Paulo (II Pe 3: 16). É impossível ser mais exato do que isto. Daí a variedade de conjecturas pelos comentaristas acerca de onde viviam.

DATA DA EPÍSTOLA

A data também é outro aspecto largamente contestado. Se II Pedro faz uso de Judas, ou não; se a carta é anterior a 1 Pedro ou subseqüente a ela, há certos indicadores que ajudam na determinação da data da Epístola. Não pode ter sido escrita até que a maioria das paulinas, ou talvez todas elas, tivessem sido escritas (II Pe 3: 16). Logo, não pode ser antes dos meados da década de 60. Se Pedro a escreveu, uma data entre 61 e sua morte (64, 66 ou 68) seria indicada. Se não, qual seria a última data razoável? Uma data que pode ter sido usada pelo “Apocalipse de Pedro”, conforme as autoridades mais recentes, é de 135 A.D.

Deve ter sido escrita antes daquela data, de qualquer maneira, para se ter imposto em Clemente de Alexandria, como sendo digna de um comentário. Uma data de cerca de 80 A.D. recomenda-se por vários estudiosos, tais como Reicke, Albright e Chaine, por uma variedade de razões. Tal ponto de vista não sobrevive à evidência externa de que II Pedro era anterior ao “Apocalipse de Pedro” e Clemente de Alexandria. Além disto deixa de levar em conta certo número de outros aspectos que fazem com que uma data no século II seja realmente difícil de visualizar. Mas, é talvez a natureza subdesenvolvida da heresia atacada, a evidência mais forte em prol de uma origem de II Pedro no século I, e a Epístola apresenta farto material sobre este assunto.

I.E.Q Secretaria Geral de Educação e Cultura ___________________________Epístolas Gerais - Revisão em 2006

42

Page 43: Epistolas gerais aluno

CARACTERÍSTICAS DA EPÍSTOLA

Esta Epístola tem quatro características principais: Ela contém uma das declarações de maior peso em toda a Bíblia no tocante à inspiração, à fidedignidade e à autoridade das Sagradas Escrituras (II Pe 1: 19 – 21);II Pe 2 e a Epístola de Judas têm semelhanças notáveis na incriminação dos falsos mestres. Talvez Judas, enfrentando uma data posterior o mesmo problema dos falsos mestres, empregou trechos dos ensinos inspirados de Pedro, para transmitir a mesma lição; O capítulo 3 é um dos grandes capítulos do Novo Testamento sobre a segunda vinda de Cristo;Pedro cita indiretamente os escritos de Paulo como Escrituras, ao mencioná-los juntamente com as “outras escrituras” (3: 15, 16). Assim como o tema central de I Pedro é o sofrimento, o de II Pedro é o conhecimento. Se os gnósticos, sendo aqueles que laboravam em erro, exageravam o seu conhecimento como base da sua superioridade, Pedro queria mostrar que sua resposta à falsa sabedoria é a verdadeira sabedoria. A idéia de “saber” e “conhecimento” ocorre dezesseis vezes, sendo que seis delas dizem respeito ao conhecimento de Cristo. Este tema recorrente unifica a Epístola e dá progressão ao pensamento. O caráter predominantemente escatológico de II Pedro revela-se com maior clareza no último capítulo. As referências à morte, no capítulo primeiro, indicam que Pedro tinha a eternidade como perspectiva, e a alusão à profecia ( II Pe 1: 21) implica relação com o futuro.

ESTILO LITERÁRIO (CONTRASTANDO COM I PEDRO)

É concebível que estas duas Epístolas, I Pedro e II Pedro, tenham sido escritas pela mesma mão? A linguagem é diferente (e isto de modo marcante no original), e o pensamento também é muito diferente. Examinemos, estes, aspectos:A linguagem – Há uma diferença muito grande de estilo entre estas duas cartas. O grego de I Pedro é polido, culto, dignificado; é dos melhores do Novo Testamento. O grego de II Pedro é grandioso; é um pouco semelhante à arte barroca, quase rude no seu caráter pretensioso e em sua expansibilidade.Boa parte da diferença estilística pode muito bem ser devida a uma mudança de escriba.2) Pensamento – Outra objeção à autenticidade da Epístola tem sido levantada nos tempos modernos, mas não, curiosamente, nos tempos antigos. É que o pensamento de II Pedro é demasiadamente diferente daquele de I Pedro para as duas cartas terem sido elaboradas na mesma mente. Naturalmente, a matéria tratada é bem diferente entre I e II Pedro, pois estas Epístolas foram escritas para duas situações inteiramente diferentes. I Pedro encara a situação de cristãos enfrentando perseguição, e II Pedro, de cristãos enfrentando falsos ensinos com um sabor gnóstico. A nota tônica de I Pedro é, a Esperança; a de II Pedro, o conhecimento verdadeiro. I Pedro dirige os pensamentos dos endereçados aos grandes eventos na vida de Cristo, para imitação e consolo; II Pedro demora-se na grande esperança da volta de Cristo, para advertir os falsos mestres e para desafiar os vacilantes.

Até tratando do mesmo assunto há diferenças de interpretação devido à situação vivida pela igreja na época da escrita das Epístolas. Por exemplo falando da segunda vinda de Jesus, I Pedro respira consolo para os aflitos; II Pedro, advertência para os zombadores. Outro assunto em que II Pedro é contrastado desfavoravelmente com I Pedro é o das referências à vida de Jesus e do próprio Pedro, tão destacadas na Primeira Epístola.

RELAÇÃO COM JUDAS

Tem-se igualmente argumentado que II Pedro fez alguns empréstimos da Epístola de Judas, mormente na descrição acerca dos falsos mestres, e que um homem da estatura apostólica de Pedro não teria buscado subsídios de um escritor comparativamente insignificante como foi Judas. Todavia, poderíamos submeter à apreciação crítica a última porção desse argumento. A história literária está

I.E.Q Secretaria Geral de Educação e Cultura ___________________________Epístolas Gerais - Revisão em 2006

43

Page 44: Epistolas gerais aluno

repleta de exemplos de escritores proeminentes que se valeram de fontes obscuras (Shakespeare é um desses). Outrossim, certo número de estudiosos tem argumentado, muito abalizados em fatos, que Judas escreveu sua Epístola mais tarde, e que foi ele quem se escudou na segunda Epístola de Pedro. Por exemplo, o fato que II Pedro fala do aparecimento de falsos mestres predominantemente com verbo no tempo futuro, mas Judas o faz com verbos no passado, parece servir de indicação que II Pedro foi escrita antes da heresia ter-se propagado, e que Judas escreveu sua Epístola depois de tal propagação. E também é possível que sua fraseologia similar se tenha derivado de alguma fonte informativa comum, que não chegou até nós.

ESBOÇO DOS CAPÍTULOS

II Pedro trata dos seguintes aspectos:Explicação – Conhecimento de Cristo: Conhecendo – dom, crescimento e base – Capítulo 1Exame: Condenação, caráter, pretensões e resultado – Capítulo 2Esperança: “O dia do Senhor” – Capítulo 3

CAPÍTULO 1

1. Introdução e saudação (1:1–2)

Simão Pedro. No início de uma carta que terá de incluir boa parte de repreensão, o autor primeiramente se identifica e depois apresenta suas credenciais. Ele se apresenta tanto como servo, quanto como apóstolo de Jesus Cristo. A humildade pessoal que é notada em I Pedro é combinada com um senso de autoridade da sua posição apostólica, e com muita razão (Mt 10: 40; Jo 20: 21 – 23). “Apóstolo” ressalta solidariedade com Cristo, “servo” com seus leitores. Este último termo prepara o caminho para sua declaração de que obtiveram “fé igualmente preciosa conosco”. Não há distinção entre os cristãos. Todos são pecadores e todos receberam a fé preciosa.

O uso que Pedro faz de justiça nada tem das implicações forenses que achamos em Paulo. Assim como em I Pedro (2: 24; 3: 12, 14, 18; 4: 18), assim também nesta Epístola (2: 5, 7, 8, 21; 3:13) a palavra tem associações éticas que vemos atribuídas a ela no Antigo Testamento; aqui significa a eqüidade, a justiça de Deus. A palavra “Salvador” é usada aqui por Pedro e está edificando seu argumento a favor do desenvolvimento cristão e seu ataque contra a licenciosidade cristã sobre o fato de que seus leitores acharam a salvação.

A oração de Pedro em prol dos seus leitores é idêntica àquela de I Pe 1: 2. “Graça e paz” era a fórmula também utilizada por Paulo (Rm 1: 7; I Co 1: 3; II Co 1: 2). Para Pedro esta não é nenhuma fórmula vazia, no entanto, a experiência da paz de Deus e o recebimento da Sua graça (ou socorro), depende do profundo “conhecimento de Deus e de Jesus”. Sem dúvida o acréscimo de “conhecimento” aqui, tem um impacto polêmico. Pedro estava escrevendo a pessoas que alegavam ter um conhecimento verdadeiro de Deus e de Cristo, mas que continuavam no comportamento imoral. O verdadeiro conhecimento de Deus e de Cristo produz graça e paz na vida; além disso, produz a santidade (II Pe 1: 3).

2. Os privilégios do cristão (1:3, 4)

Pedro está fazendo da chamada divina deles, a base do seu apelo para uma vida santa. Cristo tomou a iniciativa de chamá-los a Ele mesmo (Ef 2: 8). Em qualquer caso a lição é que Aquele que chama, capacita. Estes dons que capacitam estão entesourados no próprio Cristo, e em ficar

I.E.Q Secretaria Geral de Educação e Cultura ___________________________Epístolas Gerais - Revisão em 2006

44

Page 45: Epistolas gerais aluno

conhecendo a Ele, desfrutamos do poder para viver uma vida santa. A pessoa de Cristo atrai os homens; Seu poder os capacita a corresponder. E “preciosas promessas” são dadas. Falando a rigor, são dadas através da “glória e virtude” de Cristo. Deve, porém, haver a resposta apropriada a tudo isto. Já vimos o lugar da fé (II Pe 1: 1). Agora fala do seu correlativo, a fuga do mundo. Por “mundo” Pedro quer dizer a sociedade alienada de Deus pela rebelião (II Pe 2: 20; I Jo 2: 15 – 17; 5: 19). O mundo antigo era dominado pelo conceito de “corrupção”. A transitoriedade da vida, a falta de razão de ser em tudo isto, oprimia muitos dos melhores pensadores na antigüidade (assim como faz hoje). Pedro lhes diz que há uma via de escape – através de Jesus Cristo. Pedro, com grande sutileza, está usando linguagem incomum no Novo Testamento, mas cheia de sentido no mundo pagão. Os falsos mestres enfatizam o conhecimento, Pedro, portanto, ressalta que o objeto do conhecimento na vida cristã é o Senhor que chama os homens. Pensavam que o conhecimento dispensava a necessidade da moralidade. Parece que pensavam que a santidade de vida era impossível (II Pe 2: 19, 20), de modo que Pedro lhes fala do “divino poder”. A participação da natureza divina é o ponto inicial, e não o alvo do viver cristão.

3. A escada da fé (1:5–7)

Por causa do nosso novo nascimento e das preciosas promessas e do divino poder que nos são oferecidos em Cristo, não podemos acomodar-nos e ficar satisfeitos com a “fé” (Tg 2: 20). A graça de Deus exige, como também capacita, a “diligência” ou o “esforço” no homem. Para ilustrar a maneira segundo a qual a vida cristã deve ser concretizada no comportamento, Pedro, assim como Paulo e outros, selecionou uma lista de virtudes que devem ser achadas numa vida cristã sadia. O cristão deve ocupar-se neste tipo de cooperação com Deus para produzir uma vida cristã que é para a honra dEle.

Pedro começa sua lista com a “fé”. Esta aceitação inicial do amor de Deus, esta resposta à Sua graciosa disposição para nos receber, é a pedra fundamental sobre a qual estão edificadas as virtudes que se seguem. A “virtude”, a primeira qualidade que Pedro menciona brotando da fé verdadeira, significa “excelência” e era usada para denotar o devido cumprimento de qualquer coisa. O Cristianismo, no entanto não é meramente uma questão de fé pessoal e de bondade prática; o elemento intelectual em nossas personalidades tem um lugar importante. O “conhecimento”, portanto, é mencionado em seguida. O conhecimento , naturalmente, era uma das palavras prediletas dos falsos mestres, mas Pedro não tinha medo de empregá-la por causa disto. Tinha confiança de que o Deus que Se revelara em Jesus era o Deus da verdade. O conhecimento, portanto, nunca poderia danificar o cristão. A cura para o falso conhecimento não é menos conhecimento, mas sim, mais conhecimento.

Em terceiro lugar vem o “domínio próprio”. Este domínio próprio deve ser exercido não somente em questões de comida e bebida, mas também em todos os aspectos da vida. O domínio próprio cristão, pois, é a submissão ao controle do Cristo que habita nos cristãos; e por este modo a virtude madura realmente fica sendo uma possibilidade para os homens. Do hábito do domínio próprio brota a perseverança, a disposição mental que não é abalada pela dificuldade e pela aflição, e que pode resistir a estas duas agências satânicas da oposição do mundo da parte de fora, e da sedução da carne da parte de dentro. O cristão maduro não desiste. Há poucos testes de fé que são mais fidedignos do que este; a fé verdadeira persevera (Rm 5: 1 – 3; Mc 13: 13).

A esta perseverança de caráter, a “piedade”, ou melhor a “reverência”, deve ser acrescentada. Talvez aqui, Pedro a empregue em contraste deliberado com os falsos mestres, que estavam longe de serem corretos no seu comportamento, tanto diante de Deus, quanto diante do seu próximo. Pedro toma cuidado para ressaltar que o verdadeiro conhecimento de Deus (que erroneamente se ufanavam de possuir), manifesta-se em reverência para com Ele e respeito para com os homens. A “piedade”, porém, não pode existir sem a “fraternidade” (I Jo 4: 20). O amor pelos irmãos cristãos é uma marca que distingue o verdadeiro discipulado, e que representa outra área em que os falsos mestres eram tão aflitivamente deficientes.

I.E.Q Secretaria Geral de Educação e Cultura ___________________________Epístolas Gerais - Revisão em 2006

45

Page 46: Epistolas gerais aluno

O amor para com os irmãos acarreta levar os fardos uns dos outros, e assim cumprir a lei de Cristo; significa guardar aquela unidade, dada pelo Espírito, da destruição pela tagarelice, pelo preconceito e pela recusa de aceitar um irmão cristão por aquilo que é em Cristo. O Espírito de Deus, que é amor, nos é livremente dado, a fim de reproduzir em nós aquela mesma qualidade. Os homens, pois, nunca acreditarão que Deus é amor a não ser que o vejam nas vidas dos Seus seguidores professos.

4. Cristãos estéreis e infrutíferos (1: 8,9)

O conhecimento verdadeiro de Cristo, em contraste com o falso, não produz estas qualidades morais e espirituais no cristão. Já são implícitas dentro da nova natureza que lhe foi transmitida (Ef 1: 4). Não há desculpas para permanecer acomodado com as realizações atuais. A falta de crescimento espiritual é um sinal de morte espiritual. Nem sequer há qualquer vazão para a indolência e para o relaxamento do esforço; senão o cristão fica sendo como o trigo sufocado pelas ervas más que não produzem fruto algum.

5. Um alvo digno (1: 10, 11)

Pedro repete a exortação ao zelo (II Pe 1: 5) e ressalta a urgência do seu rogo de que devem resolver que viverão para Deus. “Procurai... confirmar a vossa vocação e eleição”, é um apelo que vai ao coração do paradoxo da eleição e do livre arbítrio. A vocação cristã e a vida cristã se acompanham mutuamente. Parece que os falsos mestres se jactavam da sua divina vocação e eleição, ao passo que fizeram uma “desculpa para todo tipo de licença, como se tivessem permissão para pecar impunemente porque são predestinados à justiça”. Se você confirmar sua vocação com uma vida de acordo com ela, conclui Pedro, dois resultados te seguirão: Em primeiro lugar, “não tropeçareis em tempo algum”. Naturalmente todos nós tropeçamos de muitas maneiras (Tg 3: 2). Mas o que Pedro quer dizer é que o cristão será poupado de uma derrota desastrosa (Rm 11: 11). Uma vida de progresso sólido deve caracterizar o cristão. Sua vida radiante deve ser a prova silenciosa da eleição divina. Em segundo lugar, chegareis ao seu destino celestial, “a entrada no reino eterno”. Sabemos que o cristão já é participante do “Reino de Deus” (Lc 17: 21) ou do “reino do Filho do seu amor” (Cl 1:13), porém a expressão aqui em II Pedro é “reino eterno”. O segundo resultado da obediência amorosa é colocado diante de nós como sendo o alvo de uma longa viagem. Se generosamente nos esforçarmos na obediência a Deus e Lhe dermos o que temos, Ele generosamente Se esforçará por nós, por assim dizer, e amplamente nos equipará para a vida no reino celeste. O leitor verdadeiramente cristão, diferentemente dos zombadores, relembrará os privilégios concedidos a ele, de participar da natureza divina, e procurará viver de modo digno dela. Além disso, olhará para o dia futuro de avaliação, e se esforçará para viver à luz dele.

6. A verdade aceita repetição (1:12–15)

Pedro julga necessário fazer seus leitores “lembrados acerca destas coisas”, especialmente nesta presente situação em que a graça de Deus estava sendo usada como pretexto para a licenciosidade (II Pe 2: 19; Rm 6: 1), e o conhecimento de Deus como um substituto para a obediência (I Jo 2: 4). Pedro dificilmente pode enfatizar demasiadamente a importância das lembranças. Aqui acabara de lembrar seus leitores. a chamada de Deus, a necessidade para o crescimento na graça e o lar celestial que os aguarda. Parece que nunca poderá esquecer-se da comissão do seu Senhor: “Tu, quando te converteres, fortalece os teus irmãos”. Está resoluto no sentido de continuar com esta comissão até o fim dos seus dias.

Está bem consciente de que este fim talvez não esteja muito distante. Se esta carta foi escrita no início da década de 60 do século I, quando, sob o governo de Nero, os cristãos estavam ficando cada vez mais impopulares em Roma, não seria necessário para um líder cristão tão eminente usar

I.E.Q Secretaria Geral de Educação e Cultura ___________________________Epístolas Gerais - Revisão em 2006

46

Page 47: Epistolas gerais aluno

visão profética para prever uma morte repentina e violenta. “Enquanto estou neste tabernáculo”. Como todos os cristãos primitivos, Pedro estava muito consciente da transitoriedade da vida, e do cumprimento da profecia de Jesus à respeito do término drástico à vida de Pedro, mediante a crucificação (Jo 21: 18, 19). Temos muita coisa a aprender da atitude de Pedro diante da morte. Já havia anos, estava convivendo com a morte; sabia que seu destino seria morrer de maneira horrível e dolorosa. Mesmo assim, pode falar dela desta maneira maravilhosa, aparentemente sem medo nem lástima. Significa a entrada no reino eterno. Significa a partida deste mundo (II Pe 1: 15), para algum outro lugar que Deus nos preparou.

Além de tudo isso, Pedro ainda busca esforçar-se, para que, mesmo depois da “partida”, os cristãos possam ter vivas na memória, todas essas lembranças que ele tem destacado e ensinado a eles.

7. A verdade é atestada por testemunhas oculares apostólicas (1:16, 18)

Pedro está aqui se defendendo contra alguma acusação dos falsos mestres. Diz que não deu a conhecer a eles o poder de Deus por meio de fábulas inventadas, ou ainda através de alegoria, mas pela manifestação plena deste poder, que não está acessível a tais mestres. Pedro foi testemunha ocular das manifestações do poder de Deus através de Jesus Cristo. E quando fala do poder do Senhor ressuscitado visa equipar o cristão para a vida santa, e confirmar-lhe a esperança do futuro glorioso que aguarda o cristão fiel.

Do poder e da vinda de Jesus na transfiguração, Pedro volta-se para a honra e glória reveladas ali: “honra, na voz que Lhe falou; glória, na luz que resplandeceu dEle”. O fato de ser testemunha ocular da transfiguração garante praticamente a autoria desta Epístola a Pedro. Tiago já estava morto e não há nenhuma referência ou tentativa de justificar a autoria de João nesta Epístola.

8. A verdade é atestada por escrituras proféticas (1: 19 – 21)

Pedro busca apoio no cumprimento das profecias do Antigo Testamento confirmadas através do testemunho apostólico. A questão não é se os profetas são mais fidedignos do que o Evangelho. Visto que os judeus não tinham dúvida de que tudo quanto os profetas ensinavam viera da parte de Deus, não é de se estranhar que Pedro diz que sua palavra é mais segura. A palavra profética trazia luz para os israelitas e a revelação de Jesus, a “estrela da alva”, traz luz para com os cristãos.

“Sabendo primeiramente isto” significa: “reconhecei que esta verdade é de máxima importância”. Mas qual verdade? Literalmente que “nenhuma profecia da Escritura veio por vontade humana”, mas sim, “os homens falaram da parte de Deus, à medida que foram levados pelo Espírito Santo”. Pedro não está falando acerca de “interpretação” mas, sim, acerca da “autenticação” das profecias. Da mesma forma trata com o cristianismo. Seu tema é a origem e a fidedignidade do ensino cristão acerca da graça, da santificação e do céu. O mesmo Deus a que os apóstolos ouviram falar na transfiguração, falou também através dos profetas. Pedro termina esta seção falando acerca da inspiração dos escritores sagrados que foram “movidos” pelo Espírito Santo.

CAPÍTULO 2

1. Acautelai-vos dos falsos mestres (2:1–3)O pensamento de Pedro ainda demora-se nas profecias do Antigo Testamento. Em Israel, no

meio do povo, surgiram “falsos profetas” além dos verdadeiros; e agora a história estava-se repetindo. Seus leitores tinham falsos mestres em seu meio. Sempre tem havido falsos mestres entre o povo de Deus e sempre os haverá. Falsos profetas podem significar que falsamente alegavam ser profetas, ou que profetizavam coisas falsas; provavelmente os dois. Os homens eram tão indignos de confiança quanto a mensagem.

Os falsos mestres traziam “ heresias destruidoras”, e o efeito de seu ensino chegou ao ponto de “renegarem o Soberano Senhor que os resgatou”. Ora, estes falsos mestres entendiam, sem I.E.Q Secretaria Geral de Educação e Cultura ___________________________Epístolas Gerais - Revisão em 2006

47

Page 48: Epistolas gerais aluno

dúvida, a libertação oferecida pela cruz de Cristo; a liberdade era um de seus brados de guerra (II Pe 2: 19). Mas não reconheciam o viver santo imposto pelo Crucificado. Mediante suas vidas negavam o Senhor que os comprou. O Cristianismo é, realmente, uma religião de liberdade; mas também exige amoroso serviço totalmente dedicado a Jesus, o Redentor. A negação do Senhor que os comprou é primariamente ética, e não intelectual. Tem dois efeitos: Primeiramente espalha-se para infeccionar outras pessoas, razão pela qual Pedro é tão veemente nas suas condenações.Em segundo lugar, traz descrédito à causa cristã. Pedro fala da imoralidade dos falsos mestres e diz respeito também à sua ganância e condenação. Como os falsos mestres em II Tm 6: 5, estes homens pensavam que o Cristianismo pudesse ser fonte de ganho comercial para si mesmos. Mas é impossível estar sensível, como estava Pedro, à importância ética e intelectual do “caminho da verdade” (o próprio Jesus), sem ficar enfurecido quando aquele caminho é desconsiderado, mormente pela igreja. Pedro reitera o juízo, pronunciado há muito tempo no Antigo Testamento.

2. Três exemplos de julgamento e livramento (2:4–10a)Pedro passa a dar exemplos do julgamento imparcial de Deus, e da certeza de que virá, ainda

que demore (II Pe 3: 8 – 10). Começa com os anjos caídos de Gênesis 6, mas não especifica o pecado deles. Em Gn 6: 1 – 4; Jd 6, Ap 12: 7, fica claro que a rebeldia era a causa principal da sua queda. O dilúvio aparece nos escritos de Pedro tanto aqui como no capítulo 3, como em I Pe 3: 20. Aqui, no pano de fundo do julgamento de um mundo rebelde e perverso, achamos retratada a salvação da parte de Deus. Pedro insiste que era disponível para todos, mas era eficaz somente para uns poucos. O pequeno número de salvos e a certeza do julgamento tinha relevância imediata para seus primeiros leitores. O terceiro exemplo de julgamento divino segue na seqüência cronológica e trata da destruição de Sodoma e Gomorra. Esta destruição total foi permitida por Deus a fim de inculcar às gerações que se sucederiam a lição de que a injustiça terminará em ruína. O ensino falso e o comportamento falso, sempre acabam produzindo o sofrimento e o desastre.

O modo de Deus, no entanto é sempre receber o homem “justo” e temente a Ele, que confia nEle e odeia a iniqüidade. Livrou Ló, cujo livramento era um exemplo clássico da salvação que Deus oferece. Quando porém, a consciência do homem fica demasiadamente embotada diante do pecado, e apático acerca de padrões morais, já não está disposto a procurar livramento da parte do Senhor. “Se... é porque o Senhor sabe livrar da provação os piedosos”. Foi desta provação que Noé e Ló emergiram vitoriosos; ficavam sozinhos entre zombadores e descrentes. No Novo Testamento podemos citar o livramento da tribulação que virá sobre toda a terra, prometida pelo Senhor aos justos em Ap 3: 10. Deus pode deixar-nos enfrentar longos anos de espera antes de intervir; pode usar-nos para ajudar-nos a nós mesmos a sairmos da dificuldade. Mas muito bem sabe livrar os piedosos; podemos confiar nEle. Pedro conclui este tópico assegurando a seus leitores que os falsos mestres ainda estão na mão de Deus. Não escaparam ao controle dEle, a despeito da sua imoralidade evidente.

3. A insolência dos falsos mestres ( 2:10b,11)Pedro faz uma pausa para dar uma descrição adicional aos falsos mestres. São “atrevidos e

arrogantes”. “Atrevidos”, dá a impressão da ousadia impensada que desafia a Deus e aos homens. “Arrogantes” é empregado para uma pessoa obstinada que está firme no propósito de agradar a si mesma, custe o que custar. E nesse seu afã pouco se importa com o respeito às autoridades superiores. Em contraste com estes falsos mestres, os anjos, “embora maiores em força e poder”, não levam contra ele nenhuma condenação ofensiva na presença do Senhor. Os falsos mestres não hesitam em trazer acusações vituperativas contra seus superiores; ao passo que os anjos nem sempre ousam impugnar seus inferiores em tais termos na presença de Deus. Para os “justos” a consciência da presença dEle amansa a língua.

4. Sua arrogância, concupiscência e gula (2:12–16)

I.E.Q Secretaria Geral de Educação e Cultura ___________________________Epístolas Gerais - Revisão em 2006

48

Page 49: Epistolas gerais aluno

Pedro agora lança um ataque direto contra os falsos mestres, arde com indignação moral. Estes homens, longe de possuírem controle próprio angelical, vivem como “brutos irracionais” conforme suas paixões. Estas pessoas negligenciaram sua racionalidade e seguiram suas paixões. Muito bem: seu fim será como o dos animais, também. Serão por “presa e destruição”. Que condenação pitoresca do efeito que o viver como animal tem sobre o homem! Primeiramente, é preso por suas paixões, e depois, é destruído por elas.

O erro deles é confundir a excitação do instinto animal com a presença do Espírito Santo – pois, é muito provável que estes defensores da liberdade cristã fossem vocíferos nas suas reivindicações da plenitude do Espírito Santo. Pedro, como os demais escritores do Novo Testamento, enfatiza que o Cristianismo é inescapavelmente ético. Não se pode ter relacionamento com um Deus bom sem tornar-se um homem melhor.

A devassidão à luz do dia era censurada até mesmo na sociedade romana degenerada (I Ts 5: 7). Os falsos mestres são chamados aqui por Pedro como “ nódoas do convívio cristão”, com caráter oposto ao de Cristo, a quem ele descreve em I Pe 1: 19 como sendo, “sem defeito e sem mácula”. A igreja deve ser como seu Mestre, “sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante” (Ef 5: 27). “Seus olhos estão cheios de adultério”. Cobiçam toda moça que vêem na frente; consideram toda pessoa do sexo feminino como uma adúltera em potencial. Estes libertinos tinham olhos “insaciáveis no pecado”. Há uma saída: o caminho da morte para o pecado e da ressurreição para a novidade de vida.

Pedro volta-se para outras características dos libertinos: “Engodam”, só “seduzem para a ruína”, “almas inconstantes”, estes eram os endereçados de Pedro. Eram facilmente derrubados porque não tinham firmado seus pés suficientemente em Cristo. Por isso os falsos mestres significavam um perigo tão grande para eles. Os falsos mestres são também “exercitados na avareza”. Significa o desejo irrefreado por mais e mais coisas. É freqüentemente empregada a respeito do dinheiro. Estes homens tinham se treinado no desejo pelas coisas proibidas. Não é de se estranhar que Pedro termina com ainda mais um hebraísmo expressivo: “filhos malditos”. Em outras palavras, a maldição de Deus paira sobre eles.

Deliberadamente “abandonaram o reto caminho”. No Antigo Testamento, “caminho reto” era usado para representar a obediência a Deus. O resultado de tamanha desobediência é que os homens se perdem. Seguiram o “caminho de Balaão” que “amou o prêmio da injustiça”. Ele ensinou a Balaque, rei dos midianitas, a como destruir o povo de Deus através do engano (assim como os falsos mestres aqui). Recebeu riquezas de Balaque por suas informações, mas sofreu o castigo de Deus e foi repreendido por um jumento.

5. A nulidade dos falsos mestres (2:17–22)Pedro continua no ataque contra os falsos mestres usando duas metáforas brilhantes:

“São como fonte sem água”. É uma descrição da natureza insatisfatória da falsa doutrina. Seu ensino não sacia a sede de ninguém. Jesus, em contrapartida é a “água da vida” (Jo 4: 13, 14) , e promete que “aquele que crê em mim, Rios de água viva fluirão do seu interior” (Jo 7: 38). “São névoas impelidas pelo temporal”. É uma descrição da instabilidade dos falsos mestres e da natureza efêmera de seus ensinos. São “nuvens levadas pela força do vento”. Oferecem promessas de chuvas que refrescam, mas ao invés disso, são arrancadas para longe sem derramar uma gota sequer. Empregam palavras grandes , jactanciosas em seus discursos, mas elas não somam nada de relevância aos ouvintes. Este tipo de palavras era uma arma para pegar os desprevenidos na armadilha, e a licenciosidade era a isca no seu anzol. Sem dúvida estes mestres sustentavam que a salvação da alma, através do conhecimento, era tudo quanto importava, logo, pouco importava o que fizessem com o corpo. O homem é uma unidade. Aquilo que se faz com o corpo afeta a totalidade da personalidade. Esta consideração sempre deve fixar limites ao exercício da liberdade do cristão. Os falsos mestres “prometem liberdade, quando eles mesmos são escravos da corrupção”. Estes hereges não foram os últimos a colocarem a liberdade contra a lei. Mesmo assim a liberdade da qual jactavam-se tornou-se licenciosidade, e gerou uma nova escravidão. Pedro, chama à razão os seus leitores, declarando que uma vez “como tendo escapado das contaminações do mundo”, se voltarem para elas, terão o seu segundo estado pior do que o primeiro. Seria melhor que não tivessem I.E.Q Secretaria Geral de Educação e Cultura ___________________________Epístolas Gerais - Revisão em 2006

49

Page 50: Epistolas gerais aluno

conhecido o “caminho da justiça”, do que conhecendo-o voltarem atrás apartando-se dele. Note-se o exemplo do homem que, livre do espírito imundo, sentiu-se aliviado, mas voltando o espírito e vendo a casa adornada e vazia, voltou para ela trazendo consigo sete espíritos piores do que ele (Mt 12: 45; Lc 11: 26). Quanto aos falsos mestres, seu castigo é que serão entregues à sorte que escolheram. Pedro usa o exemplo do cão que voltou ao próprio vômito e à porca que limpa, voltou a revolver-se no lamaçal. Eles tiveram e continuam tendo a sua chance de voltarem-se ao ensino verdadeiro do Evangelho. Como não se arrependeram, tem o seu castigo já determinado.

CAPÍTULO 3

1. Reiterando o propósito da carta (3:1, 2)Pedro volta a fustigar os hereges para encorajar os fiéis. Chama-os de “amados”, enquanto

conclama-os às “lembranças”. O ataque ferrenho aos falsos mestres no capítulo 2 e a chamada às lembranças aqui, igualmente brotam de um coração pastoral de amor para com seu rebanho. As lembranças referem-se ao que já haviam aprendido. De qualquer maneira, o significado é bastante claro, e ressalta a conexão entre os profetas que prenunciaram a verdade cristã, Cristo que a exemplificou, e os apóstolos que deram dela uma interpretação autorizada. A fonte da autoridade, tanto dos profetas, como dos apóstolos, era o Espírito que inspirava a ambos. (Ef 3: 5; I Pe 1: 10, 12).

Pedro usa novamente o título integral “Senhor e Salvador”, provavelmente porque está para enfatizar o elemento futuro na salvação, que os zombadores ridicularizavam. Jesus não somente nos salva do passado (II Pe 1 1 – 4), e é nosso Salvador no presente ( II Pe 2: 20), mas também nos salva para o futuro. Negar a segunda vinda de Jesus é negar Jesus como Salvador.

2. O escárnio dos que zombam da segunda vinda (3:3,4)“Tendo em conta, antes de tudo”. Pedro quer que seus leitores saibam que as atividades dos

escarnecedores não eram inesperadas pelos apóstolos (At 20: 29 – 31, I Tm 4: 1). Os escarnecedores já estavam presentes, naturalmente, mas os apóstolos tinham dado aviso prévio da chegada deles, daí o emprego do tempo futuro: “nos últimos dias”. Os falsos mestres são descritos pelo hebraísmo com “escarnecedores com os seus escárnios”. Estes homens zombam da volta gloriosa de Cristo e, ao mesmo tempo, “andam segundo as suas paixões”. O cinismo e a satisfação dos próprios desejos regularmente os acompanham..

Escarnecem da volta de Cristo porque anos se passaram e não aconteceu – “todas as coisas permanecem desde o princípio”. Falam dos pais que “dormiram” como se não houvesse vitória sobre a morte. Esta confiança diante da face da morte, que Pedro quer trazer à lembrança dos leitores, surgiu somente da vitória que Jesus conquistou sobre o último inimigo.

3. Pedro argumenta na base da história (3:5–7)Os falsos mestres ensinavam que este é um mundo estável e imutável, mas deliberadamente

deixaram despercebido o dilúvio, quando Deus realmente interveio em julgamento. A lição ensinada pelo dilúvio, e que os falsos mestres querem negligenciar, é que este é um universo moral, e que o pecado não continuará para sempre impune; e o próprio Jesus citou o dilúvio para ensinar esta moral (Mt 24: 37 – 39). Pedro queria dizer que a vida humana pereceu. Não há nada aqui para sugerir que o mundo inteiro foi destruído pelo dilúvio, e muito menos os céus também.

Pedro falou que pela Palavra de Deus veio o juízo através da água, no dilúvio, para purificar a terra da influência maligna do pecado. Agora o clamor do mundo, devido novamente a esta mesma influência, está movendo um novo juízo de Deus, agora não mais de água, mas de fogo.

4. Pedro argumenta na base da Escritura (3:8)Pedro volta novamente a atenção aos fiéis. Embora os hereges possam ser deliberadamente

ignorantes, pelo menos seus amados leitores não devem deixar de perceber a verdade importante, que o tempo não é para Deus o mesmo que é para o homem. Ao fornecer a eles munição para enfrentar a

I.E.Q Secretaria Geral de Educação e Cultura ___________________________Epístolas Gerais - Revisão em 2006

50

Page 51: Epistolas gerais aluno

zombaria dos escarnecedores por causa da demora da volta de Cristo, o escritor enfatiza primeiro a relação do tempo e, em segundo lugar, a amorosa longanimidade de Deus. O tempo é dádiva de Deus, e Ele nos mandou vigiar, orar e trabalhar.

5. Pedro argumenta na base do caráter de Deus (3:9)O terceiro ataque direto que Pedro faz aos escarnecedores, é tirada da natureza de Deus. Não

é retarde, mas sim, a longanimidade que adia a consumação de toda a história, e que conserva aberta a porta para os pecadores arrependidos, até mesmo os escarnecedores arrependidos. Não é a incapacidade, mas sim, a misericórdia que é a razão para a demora de Deus. I Pe 3: 20 fala da longanimidade de Deus com relação ao dilúvio; aqui, se referindo a julgamento.

6. Pedro argumenta na base da promessa de Cristo (3:10)“Virá, entretanto, como ladrão, o dia do Senhor” (Mt 24: 43; Lc 12: 39, 40). A volta de Cristo

será tão repentina, tão inesperada, tão desastrosa para os despreparados, como um arrombamento noturno. Jesus tinha dito que Ele não sabia a data (Mc 13: 32) e mandara Seus seguidores a refrear-se de especular acerca dela (At 1: 7), pois, a vinda do Filho do Homem seria como um ladrão na noite. II Pe 3: 8, 9 são o remédio para a apatia acerca da volta de Cristo; II Pe 3: 10 é o remédio para o fanatismo excessivo. Devemos deixar nas mãos de Deus a hora exata, mas também devemos vigiar.

7. As implicações éticas da segunda vinda (3:11–14)Como sempre no Novo Testamento, o imperativo moral segue o indicativo escatológico. A

expectativa da volta de Cristo sempre inspira os cristãos a uma vida santa (I Jo 2: 28). A descrença na volta do Senhor por demais, freqüentemente produz o indiferentismo no comportamento, assim como acontecera com estes mestres do erro. Em meio a uma existência precária num mundo precário, é importante ter em mente, que as pessoas são mais importantes do que as coisas. Num universo instável e perecível, o único fator estável e imperecível é a personalidade humana. É com ela que Deus se ocupa primariamente. O caráter do homem é a única coisa que pode levar para fora desta vida juntamente com ele. A santidade de vida, a adoração a Deus e o serviço aos homens são as três conclusões práticas que ele tira deste estudo do advento. Estas qualidades devem estar permanentemente presentes em nossas vidas, em contraste com a imprevisibilidade das nossas circunstâncias num mundo em que todas as coisas podem ser dissolvidas. O cristão que está vivendo em contato com Cristo pode enfrentar o conceito da dissolução de todas as coisas sem aflição – até mesmo com alegria. É assim que o fogo que enche de terror os corações dos escarnecedores, pode ser traduzido aqui como um incentivo para os fiéis. Pedro volta, mais uma vez, ao Antigo Testamento para sua descrição da esperança cristã. Pedro não sabia melhor do que os profetas do Antigo Testamento, de qual maneira isso seria realizado. O que é ressaltado é que os novos céus e a nova terra serão o lar permanente da justiça. Todo o mal será destruído. As nações dos salvos nenhum desejo terão senão fazer a vontade de Deus (Is 60: 19, 20; Ap 21: 27).Porque é somente a justiça que sobreviverá nos novos céus e na nova terra, é imperativo que os cristãos vivam com justiça. A expectativa da esperança deve produzir a vida de santidade. E assim como a confrontação com Cristo será o teste do cristão, assim também, a conformidade com Cristo será o padrão do cristão. Os cristãos verdadeiros devem conformar-se com o padrão imaculável e irrepreensível do Filho de Deus, e a esperança da volta de Cristo deve alegrar nossos corações.

8. Pedro cita Paulo como apoio (3:15, 16)Os falsos mestres tinham negado o Senhor que os comprara. Naturalmente, portanto, estavam

ansiosos por lançarem descrédito sobre Sua volta. Os cristãos genuínos procuravam crescer no conhecimento do seu Senhor e zelosamente antecipavam a Sua volta. Pedro baseia sua insistência e constância em desviar seus leitores dos ensinos destes falsos mestres, utilizando como avalista o

I.E.Q Secretaria Geral de Educação e Cultura ___________________________Epístolas Gerais - Revisão em 2006

51

Page 52: Epistolas gerais aluno

“nosso amado irmão Paulo, que também enfrentou a ameaça dos falsos mestres e de seus ensinos em várias das igrejas fundadas em seu ministério.

9. Conclusão (3: 17, 18)Pedro chama novamente seus leitores de “amados”. Foi por causa do seu amor que falou tão

claramente; aquele mesmo amor agora o leva à exortação final. Eles já foram prevenidos de antemão que é de se esperar a vinda dos falsos mestres. E ser prevenido de antemão é estar preparado. Alertar a respeito dos perigos que os cercam é uma incumbência do pastor cristão, mas desviar-se dos perigos é papel deles. Não há desculpa para a complacência nos cristãos, o erro tem facetas atraentes pelas quais até mesmo os mais experimentados podem ser enganados.Pedro termina a carta como começou, ou seja, tratando do crescimento (II Pe 1: 5). A vida cristã é como, por exemplo, andar de bicicleta. A não ser que a pessoa continue avançando, cai da bicicleta. Nenhum cristão verdadeiro pensa, conforme parece que os falsos mestres pensavam, que já “chegou lá”. O cristão deve crescer na graça e no conhecimento de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, para não cair da bicicleta. Somente progredindo, em sua nova carreira, é que alcançarão a meta final que é a razão da nossa esperança.

Exercício de Fixação - Unidade III

Responda: 1) Como Pedro é chamado?a) Apóstolo do amor b) Apóstolo da Féc) Apóstolo da esperança d) Apóstolo dos gentios

2) Qual o nome do imperador romano que determinou a morte de Pedro e de Paulo?a) César b) Cláudio Lisías c) Festo d) Nero

3) Qual é a outra Epístola que tem mais semelhanças com II Pedro?a) Romanos b) Judas c) Tiago d) Tito

4) Como é o grego usado em II Pedro?a) Grandioso b) Brilhante c) Polido d) Magnífico

5) Existem certas diferenças de Interpretação para o mesmo assunto, entre I e II Pedro. Relativo à segunda vinda de Jesus, qual a interpretação de II Pedro?a) Respira consolo para os aflitos. b) Adverte os zombadores.c) Não se detém com os pecadores. d) Condena os vacilantes.

IV Unidade - I Epístola de João

COMUNHÃO NO REINO DO PAI

INTRODUÇÃO

O assunto principal desta Epístola é o problema dos falsos ensinos a respeito da salvação em Cristo e seu processo no cristão. Certas pessoas, que anteriormente conviveram com os leitores da Epístola, deixaram as congregações (I Jo 2: 19), mas os resultados dos seus falsos ensinos continuavam a distorcer o Evangelho, quanto a “saber” que tinham a vida eterna. Doutrinariamente, a sua heresia negava que Jesus é o Cristo (I Jo 2: 22; 5: 1), ou que Jesus veio em carne (I Jo 4: 2, 3). Na

I.E.Q Secretaria Geral de Educação e Cultura ___________________________Epístolas Gerais - Revisão em 2006

52

Page 53: Epistolas gerais aluno

área moral, ensinavam que não era necessário a fé salvífica (I Jo 1: 6; 5: 4, 5), a obediência aos mandamentos de Jesus (1 Jo 2: 3, 4; 5: 3) e uma vida santa, separada do pecado (I Jo 3: 7 – 12) e do mundo (I Jo 2: 15 – 17). João dá-nos prova daquilo que conhece. Ele tinha ouvido e visto e apalpado com as mãos a Palavra da vida. Ele deseja levar os leitores a essa íntima comunhão com o Pai, e com Seu Filho, para que a alegria deles seja completa (1 Jo 1: 3, 4, 7; 2: 13, 14).Cristo que era Deus, encarnou-se e habitou entre os homens, para que eles pudessem ouvir sua voz, contemplar seu rosto e sentir o toque da sua mão amorosa. Isso trouxe Deus aos homens, para que “tenhamos comunhão”. Andar em comunhão é viver em harmonia. Deus deseja que tenhamos comunhão com Ele e que nEle tenhamos comunhão uns com os outros (I Jo 1: 3). João diz que não só devemos crer como cristãos, mas também agir como cristãos. Nos capítulos de 1 a 3, verificamos se estamos vivendo como cristãos e nos capítulos 4 e 5, se estamos crendo como tais. O raio vem acompanhando o trovão. Assim também a fé vem acompanhada da vida e do testemunho (I Jo 2: 3). Há pessoas que dizem crer em Deus, mas agem mais como o diabo. Não pode ser assim. Devemos ser tão ortodoxos no comportamento como na crença. Pratiquemos a verdade em que cremos. “Se dissermos que mantemos comunhão com Ele, e andarmos nas trevas, mentimos, e não praticamos a verdade ( I Jo 1: 6).

TEMA

Para os cristãos primitivos, as heresias na igreja postulavam o problema de distinguir a ortodoxia da heterodoxia, e os legítimos mestres da Palavra dos mestres falsos. A primeira Epístola de João formula diversos critérios primários: “retidão, amor e uma correta cristologia”, pelos quais os crentes pudessem testar a profissão cristã dos mestres e de si mesmos.

AUTORIA

João, o apóstolo. Seu nome não é mencionado em suas três epístolas. Não obstante, sua autoria foi confirmada por Policarpo, Papias, Eusébio, Irineu, Clemente de Alexandria e Tertuliano. O nome “João” significa “graça de Deus”. Era judeu, pescador (Mt 4: 21), irmão de Tiago, filho de Zebedeu e Salomé (Compare Mt 27: 56 e Mc 15: 40). Foi chamado de discípulo amado (Jo13: 23; 19: 26; 21: 20). Foi o discípulo mais íntimo do Mestre. Até no momento da crucificação, João estava presente. Isso mostra sua disposição de correr risco de vida para ficar ao lado de Jesus. Apesar de ter fugido no momento da prisão de Cristo, João voltou pouco tempo depois. Jesus chamou João e Tiago de boanerges, “filhos do trovão”, referindo-se ao seu temperamento indócil, tempestuoso, violento (Mc 3: 17; Mc 9: 38; Lc.9: 54). São várias as citações a respeito de João nos evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas. Seu nome é omitido no seu evangelho (Jo 20: 2; 19: 26; 13: 23; 21: 2). Encontram-se referências ao apóstolo também em At 4: 13; 5: 33,40; 8: 14; Gl 2: 9; II Jo 1; III Jo 1; Ap 1: 1,4,9. Na segunda e na terceira epístola, ele se apresenta como “o presbítero”. Podendo se apresentar como apóstolo, demonstrou humildade ao utilizar título mais simples. Em Apocalipse, apresenta-se como “servo”. Após o exercício do seu ministério em Jerusalém, João foi pastor em Éfeso, onde morreu entre os anos 95 e 100. Policrates (190 A.D.), bispo de Éfeso, escreveu: “João, que se reclinara no seio do Senhor, depois de haver sido uma testemunha e um mestre, dormiu em Éfeso”.

DESTINATÁRIOS

Por não conter saudações, despedidas ou menção de nomes, tem-se considerado que a carta foi destinada à igreja em geral. O apóstolo trata carinhosamente os destinatários como “meus filhinhos” (2: 1,18,28; 3: 7,18; 4: 4; 5: 21) e “amados” (3: 2,21; 4: 1,7,11). Isso parece indicar que,

I.E.Q Secretaria Geral de Educação e Cultura ___________________________Epístolas Gerais - Revisão em 2006

53

Page 54: Epistolas gerais aluno

embora não tenha vinculado a epístola a uma comunidade específica, o autor tem em mente pessoas conhecidas, as quais seriam as primeiras a receberem aquela mensagem. Ao contrário dos outros apóstolos, João não dirige esta Epístola a nenhuma igreja ou pessoa em particular. Escreve para todos os cristãos, velhos e moços (I Jo 2: 12 – 14). Ele escreveu esta Epístola para que os que cressem em Cristo soubessem que têm a vida eterna (I Jo 5: 13). De acordo com uma tradição da igreja antiga, João viveu em Éfeso nos últimos dias de sua vida. Por conseguinte I João mui provavelmente, foi uma Epístola Geral, escrita para cristãos que ele conhecera na Ásia Menor, na área que circundava Éfeso.

DATA DA EPÍSTOLA Dado de Policarpo (110–120 A.D.) cita a coletânea inteira dos escritos joaninos, com exceção da terceira Epístola, dificilmente tais livros foram escritos muito depois da primeira porção do segundo século. O próprio João, evidentemente, viveu até o fim do primeiro século, ou até ao começo do segundo século. E assim, de qualquer modo, esses livros foram escritos imediatamente ou quase imediatamente após a sua morte. É possível que a terceira Epístola de João tenha sido dada ao público mais tarde, porquanto não é citada pelos primeiros pais da igreja. Todavia, não é impossível que meramente tenha sido negligenciada por eles, devido à sua extrema brevidade e tema tão limitado. A data de escrita da primeira epístola foi provavelmente no final do primeiro século, entre os anos 95 e 100.ONDE FOI ESCRITA

Tradicionalmente, todas as três Epístolas “joaninas”, bem como o Evangelho de João, têm estado associados à Ásia Menor, particularmente à cidade de Éfeso. O apóstolo João aparentemente labutou ali, e ali se desenvolveu sua tradição evangélica. O fato que se opõem de certa forma ao gnosticismo que se sabe ter havido naquela área (contra a qual Colossenses, II Pedro e Judas também foram escritos) também favorece essa teoria. Polícrates, bispo de Éfeso (190 A.D.), e Irineu afirmam que João “entregou” o Evangelho e combateu aos hereges, recusando-se a permanecer sob o mesmo teto com Cerinto , o “adversário da verdade”. E em Éfeso ele permaneceu morando até os dias de Trajano, o qual reinou em 98–117 A.D.. Jerônimo repete a tradição que associa João a Éfeso, e fala da avançada idade a que ele chegou. Também alude ao fato que sua ênfase sempre foi “amor entre os irmãos”.

Apesar de que alguns disputem que João residiu em Éfeso, Westcott concluiu que: “nada é melhor confirmado, na história da igreja primitiva, do que a residência e a obra do Apóstolo João em Éfeso”. Além disso, é dito que João, o “ancião”, referido por Papias, morreu em Éfeso. E que, nos dias de Papias seu sepulcro era conhecido. Portanto, ainda que o Apóstolo João não tenha escrito pessoalmente os livros em questão, a tradição os vincula a Éfeso.

ESTILO LITERÁRIO

Tendo sido muito provavelmente escrita nos fins do século primeiro da era cristã, pelo Apóstolo João, a primeira Epístola de João, não inclui introdução, saudações da parte do autor e nem saudações concludentes. Contudo as declarações “...vos escrevo...” e “Isto que vos acabo de escrever”, demonstram que originalmente I João não fora um sermão oral, mas uma composição escrita. Talvez fosse um panfleto geral para uso na igreja inteira. Entretanto o tratamento afetuoso, “filhinhos meus”, mediante o qual o escritor reiteradamente se dirige aos seus leitores, subentende um círculo limitado de cristãos, com os quais o autor sagrado estava intimamente vinculado. De acordo com uma tradição da igreja antiga, João viveu em Éfeso nos últimos anos da sua vida. Por conseguinte, I João muito provavelmente foi uma Epístola Geral, escrita em estilo homilético, para cristãos que ele conhecera na Ásia Menor, na área que circundava Éfeso. Palavras chave: Conhecimento (ou saber), amor e comunhão.

I.E.Q Secretaria Geral de Educação e Cultura ___________________________Epístolas Gerais - Revisão em 2006

54

Page 55: Epistolas gerais aluno

CARACTERÍSTICAS DA EPÍSTOLA

A carta apresenta denúncia contra os falsos cristãos e incentiva aos verdadeiros. O autor é incisivo, direto, totalmente convicto. Suas afirmações são muito fortes no sentido de apontar o erro e a verdade.

Propósito da carta

O propósito da carta está bem definido:1 - Para que a nossa alegria seja completa – 1: 42 - Para que não pequeis – 2: 13 - Para advertir contra os enganadores – 2: 264 - Para que saibais que tendes a vida eterna – 5: 13

Entendemos que o autor estava bastante preocupado com a igreja, em seu estado presente e futuro. Os demais apóstolos já haviam morrido e falsos mestres apareciam por toda parte. Alertando os irmãos, o apóstolo ficaria mais tranqüilo e sua alegria seria completa (1: 4). Seu alerta é contra o pecado (2: 1) e contra as heresias (2: 26). São duas portas para o diabo entrar na vida e nas igrejas. Embora as duas coisas estejam intrinsicamente ligadas, as heresias apresentam um elemento muito perigoso. Todo tipo de pecado deve ser evitado, mas se, eventualmente, cometermos algum, confessaremos e seremos perdoados (1: 7,9; 2: 1). A heresia entretanto, constitui-se num caminho de “afastamento de Deus”. A heresia, do tipo mencionado por João, leva à apostasia. Então, tem-se uma situação muito perniciosa em que a pessoa está errada, mas pensa que está certa. Trata-se de um estado de pecado sem reconhecimento, sem confissão, sem arrependimento e, consequentemente, sem perdão. Aquele que passa a crer numa doutrina contrária à cruz, como pode ser perdoado? Não é que Deus se recuse a perdoá-lo, mas a própria pessoa não acredita na única solução divina, que é o sacrifício de Cristo. A reversão desse quadro é possível, mas muito difícil. O melhor é a prevenção contra as heresias e isso se faz através do conhecimento e apego à Palavra de Deus.

Outras palavras, expressões e conceitos em destaque:Vida – 1: 1,2; 2: 16,25; 3: 14,15,16; 5: 11,12,13,16,20 - Vida de Deus para nós por meio de Cristo. Mundo - nosso posicionamento: não amamos o mundo; somos odiados por ele; haveremos de vencê-lo (I Jo 2: 2,15,16,17; 3: 1,13,17; 4: 1,3,4,5,9,14,17; 5: 4,5,19).Verdadeiro - Mandamento (2: 8). Luz (2: 8). Unção (2: 27). Jesus (5: 20). Deus (5: 20).Amor ( e verbo amar) - (2: 5,10,12,15; 3: 1,10,14,16 [Jo 3: 16]; 3: 17,18,23; 4: 7,8,9,10,11,12,16,17,18,19,20,21; 5: 1,2,3; [II Jo 1,3,6]; [III Jo 1,6,7]; [Ap 2: 3,4,19; 3: 9,19]). São da autoria de João alguns dos mais famosos versículos bíblicos sobre o amor: “Deus é amor” e “Porque Deus amou o mundo de tal maneira...”.Comunhão – 1: 3,6,7Mandamento(s) – 2: 3,4,7,8; 3: 22,23,24; 4: 21; 5: 2,3 O que se diz e o que é – 1: 6,8,10; 2: 4,6,9; 4: 20

Mandamentos NegativosNão ameis o mundo – 2: 15 Não creais a todo espírito – 4: 1O amor e a fé só são positivos quando bem direcionados.

ESBOÇO DOS CAPÍTULOS

I João trata dos seguintes aspectos:A Família do Pai: Introdução – Capítulo 1

I.E.Q Secretaria Geral de Educação e Cultura ___________________________Epístolas Gerais - Revisão em 2006

55

Page 56: Epistolas gerais aluno

Deus é Luz: Comunhão – Capítulos 1 e 2Os filhos de Deus: Por seu amor – Capítulos 3 e 4Deus é amor: Mais comunhão – Capítulos 4 e 5Exortação final: Propósito de escrever – Capítulo 5CAPÍTULO 1

1. O prefácio (1:1–4)

“O que era desde o princípio”. Esta frase desvenda o propósito de Deus de eternidade a eternidade. O Filho eterno era antes da Sua manifestação histórica, a pregação do Evangelho veio depois. A proclamação do que fora ouvido, visto e sentido fazia parte da Palavra da vida, o Evangelho de Cristo. O Evangelho anuncia e oferece a vida em Cristo. Esta audível, visível e tangível apreensão daquilo que era desde o princípio só foi possível aos homens porque “a vida se manifestou”. Não poderíamos ter visto Aquele que estava eternamente com o Pai, se Ele não tivesse tomado deliberadamente a iniciativa de manifestar-se. Os homens só podem aprender o que Deus se apraz em tornar conhecido.

Jesus não somente se manifestou aos discípulos para qualificá-los como testemunhas oculares, mas também lhes deu uma comissão autorizada como apóstolos para pregarem o Evangelho. O autor insiste em que possui essas credenciais necessárias. Tendo ouvido, visto e tocado o Senhor Jesus, dá testemunho dele. Tendo sido comissionado, proclama o Evangelho com autoridade. A proclamação não era um fim em si mesma; agora se define o seu propósito imediato e último. O imediato é a “comunhão”, e o último é a “alegria”. “Isso vos escrevo para que a vossa alegria seja completa”. A idéia da plenitude de alegria não é incomum na literatura joanina (Jo 3: 29; 15: 11; 16: 24; 17: 13; II Jo 12), e é significativo que em cada caso há uma alusão ao tema da comunhão com Deus, ou uns com os outros. Todavia, a “perfeita alegria” não é possível neste mundo de pecado, porque a perfeita comunhão não é possível. Então a comunhão consumada produzirá alegria completa (Sl 16: 11).

2. A mensagem apostólica e suas implicações morais (1: 5 – 2: 22)

João afirma que esta mensagem não foi inventada por ele ou pelos outros apóstolos, mas é o que “ouviram da parte dEle”. Das afirmações acerca do Ser essencial de Deus, nenhuma é mais compreensiva do que “Deus é luz”. É sua natureza revelar-se, como a propriedade da luz é brilhar, e a revelação é de perfeita pureza e inexprimível majestade. Devemos pensar em Deus como um Ser pessoal, infinito em todas as Suas perfeições, transcendente, “o alto, o sublime, que habita a eternidade, o qual tem o nome de Santo” (Is 57: 15). Os infortunados erros dos hereges se deviam à sua ignorância da auto-revelação de Deus como luz. João mostrou a conseqüência de andar nas trevas, agora descreve o que acontecerá “se... andarmos na luz”. Deus está eterna e necessariamente na luz porque Ele mesmo é luz; os homens são chamados para andar na luz. São-nos dados dois resultados disto: Primeiro, mantemos comunhão uns com os outros. Esta comunhão funda-se em nossa comunhão com o Pai e o Filho. Segundo, “o sangue de Jesus, seu Filho, nos purifica de todo pecado”. Deus faz mais do que perdoar. Ele apaga a mancha do pecado. A segunda pretensão dos hereges era um estágio pior do que o primeiro, a saber, a de não ter pecado, de “ser sem pecado”. A primeira alegação herética ao menos parecia conceder a existência de pecado, embora negando que ele tivesse o efeito de afastar de Deus o pecador. Agora o próprio fato do pecado é negado. Estes homens não podem beneficiar-se com os efeitos purificadores do sangue de Jesus porque dizem: “não temos pecado”. A atitude cristã própria para com o pecado não é negá-lo, mas admití-lo e receber o perdão que Deus tornou possível e nos promete. “Se confessarmos os nossos pecados”, reconhecendo perante Deus que somos pecadores, não só por natureza (pecado) mas também pela prática (nossos

I.E.Q Secretaria Geral de Educação e Cultura ___________________________Epístolas Gerais - Revisão em 2006

56

Page 57: Epistolas gerais aluno

pecados), Deus nos perdoará os nossos pecados, e também “nos purificará de toda injustiça”. “Ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça”.A terceira pretensão dos hereges é indicada pelas palavras: “se dissermos que não temos cometido pecado”. Podemos conceder em teoria que o pecado romperia nossa comunhão com Deus se pecássemos, e que o pecado existe em nossa natureza como uma disposição inata, e, contudo, negar que pecamos na prática e que assim nos colocamos fora da comunhão com Deus. Os hereges sustentavam que a sua iluminação superior os tornava incapazes de pecar. Dizer que não cometemos pecado não é apenas uma deliberada mentira, ou ser iludido, mas realmente acusar Deus de mentir, fazê-lo “mentiroso” é revelar claramente que “a sua palavra não está em nós”.

CAPÍTULO 2A frase “filhinhos meus” sugere principalmente o terno e afetuoso relacionamento que havia

entre o autor e seus leitores. A provisão que Deus faz para o cristão que peca revela-se agora. Está naquele que é descrito, primeiro como Advogado, junto ao Pai; segundo como Jesus Cristo é justo, e terceiro como a propiciação pelos nossos pecados. A pessoa que crê em Cristo já “tem a vida eterna, não entra em juízo, mas passou da morte para a vida” (Jo 5: 24; I Jo 3: 14; 5: 12). O “nosso Advogado” é apresentado como a “propiciação pelos nossos pecados”. Nosso Advogado não defende que nós somos inocentes, nem aduz circunstâncias atenuantes. Reconhece a nossa culpa e apresenta a Sua obra vicária como a base da nossa absolvição.

3. Primeira aplicação das provas (2:3–27)

3.1 Obediência, ou prova moral (2:3–6)“Ora sabemos”. “Sabemos como fato”, não pela percepção, mas como algo evidente por si

mesmo. Como podemos “estar certos de que o conhecemos”? Somente podemos saber que viemos a conhecê-lo “se guardamos os seus mandamentos”. Somente se Lhe obedecemos podemos ter a pretensão de conhecê-lo, não apenas ter informação precisa sobre Ele, mas haver-nos tornado pessoalmente familiarizados com Ele. As palavras de um homem devem ser provadas por suas obras. Se desobedece aos mandamentos de Deus, sua alegação de que veio a conhecer a Deus é uma mentira. Sua conduta contradiz a sua profissão e prova que ela é falsa.

Por outro lado, aquele, entretanto, que “guarda a sua palavra” (não só observando os seus mandamentos, em particular, mas a Sua Palavra em geral, considerada como uma única e completa revelação da Sua vontade), é evidenciado, por sua obediência, trata-se de um cristão verdadeiro, quer se apresente como tal ou não. Este é “aperfeiçoado no amor de Deus”. O verdadeiro “amor a Deus” se expressa, não em linguagem sentimental ou em experiência mística, mas na obediência moral. Não basta guardar “a sua palavra”, temos que “andar assim como Ele andou”. A conformidade do cristão deve ser com o exemplo de Cristo, bem como com os seus mandamentos (I Jo 2: 29; 3: 3, 7; Jo 13: 15; I Pe 2: 21). Não podemos pretender permanecer Nele, a menos que nos comportemos como Ele.

3.2 Amor, ou prova social (2:7–11)João aplica agora a segunda prova, que não é moral, mas social. Como está prestes a

descrever sobre o amor fraterno, apropriadamente se dirige a eles tratando-os como seus “amados”. O amor fraternal era parte integrante na mensagem original que chegara a eles. João não o estava inventando agora. Não era uma inovação como o que os hereges pretendiam ensinar. Era tão antigo como o próprio Evangelho. “Todavia”, o que era antigo para eles, porque tinham ouvido a seu respeito antes, era em si novo. Isto é, a sua novidade era um fato quando Cristo primeiramente lhe chamou “novo mandamento” (Jo 13: 34). A idéia de amor em geral não era nova, mas Jesus a revestiu de um significado mais rico e mais amplo. E quando esse amor é manifesto “as trevas se vão dissipando, e a verdadeira luz já brilha”.

João mostra um contraste forte e absoluto. O amor e o ódio são colocados em oposição um contra o outro, sem nenhuma alternativa, exatamente como se nos diz que estamos na luz ou nas trevas, e não existe penumbra como meio termo. O ódio distorce a nossa perspectiva. Não julgamos I.E.Q Secretaria Geral de Educação e Cultura ___________________________Epístolas Gerais - Revisão em 2006

57

Page 58: Epistolas gerais aluno

falsamente as pessoas primeiro e as odiamos como resultado; a nossa opinião sobre elas é direcionada por nosso ódio. O amor é que vê direito, pensa com clareza e nos faz equilibrados, em o nosso modo de ver, em nossos julgamentos e em nossa conduta (Jo 8: 12; 11: 9, 10; 12: 35).

3.3 – Digressão acerca da igreja (2:12–14)Por terem nascido de Deus, os leitores de João tinham se tornado filhos de Deus. Os seus

pecados são perdoados “por causa do seu nome”, isto é, foram e continuam sendo perdoados por causa do “nome” de Cristo, nossa propiciação e nosso Advogado.”Nome que representa a Sua Pessoa divina e a Sua obra salvadora (At 4: 12). Os “pais” a quem João se refere agora, são os espiritualmente adultos da congregação. Os pais progrediram muito, rumo a uma profunda comunhão com Deus. Os filhinhos conhecem-no como Pai; os pais vieram a conhecê-lo como “aquele que existe desde o princípio”, o que é uma referência à imutabilidade de Deus, que não mudou como o homem muda.

Entre os filhinhos e os pais, estão os “jovens”, ativamente envolvidos na batalha do viver cristão. A vida cristã, pois, não é só gozar o perdão e a comunhão de Deus, mas combater o inimigo, e vencê-lo. O perdão dos pecados passados deve ser acompanhado pela libertação do poder atual do pecado, a justificação pela santificação. A “força dos jovens” só existe porque “a palavra de Deus permanece em vós”.

3.4 – Digressão acerca do mundo (2:15–17)“Não ameis o mundo”. João não está contradizendo com esta frase, Jo 3: 16. O amor de Deus

é pelas pessoas que estão no mundo e não pelas concupiscências do mundo. É a este tipo de amor que João se refere aqui. O cristão deve amar a Deus, e a seu irmão, mas não deve amar o mundo. A razão pela qual somos intimados a não amar o mundo é que “o amor pelo Pai” e o amor pelo mundo são mutuamente exclusivos (Tg 4: 4; Mt 6: 24; Lc 16: 13). Se houvesse algumas coisas no mundo que fossem do Pai poderíamos amá-las, mas como o que “há no mundo... procede do mundo”, nada dele podemos amar. E o que é aqui referido como sendo do mundo?: “a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida”. Estas coisas lhe parecem “as marcas essenciais do modo pagão de viver”. Descrevemos a seguir estes três aspectos:“A concupiscência da carne”, descreve o desejo de nossa natureza pecaminosa. Pode-se dizer que ela está “no mundo” porque o mundo, em que reina o diabo, é a esfera da sua livre operação. “A concupiscência dos olhos”, parece indicar tentações que nos assaltam, não de dentro, mas de fora, através dos “olhos”. Esta é a tendência para deixar-nos cativar pela exibição externa das coisas, sem investigar os seus valores reais. A visão que Eva teve da árvore proibida como “agradável aos olhos”, o olhar de Acã, vendo “entre os despojos uma boa capa babilônica” e o olhar lascivo de Davi quando viu Bate-Seba tomando banho, são exemplos óbvios (Gn 3: 6; Js 7: 21; 2 Sm 11: 2). “A soberba da vida”, destas três expressões esta é a mais difícil. Se trata de uma arrogância ou vanglória relacionada com as circunstâncias externas de alguém. Seja a riqueza ou posição, ou vestuário, “ostentação pretensiosa”, “o desejo de brilhar e ofuscar os outros” com uma vida totalmente egoísta e luxuriosa.

A segunda razão para não colocarmos o nosso amor no mundo, é que o mundo passará e os homens com concupiscências mundanas passarão com ele. Somente uma classe de gente permanecerá: “Aquele, porém, que faz a vontade de Deus permanece eternamente”.

3.5 – Fé, ou a prova doutrinária (2:18–27)João já falou das provas morais e sociais (1 Jo 2: 3 – 11), e acrescenta agora a prova

doutrinária.

3.5.1 – Os hereges e os cristãos genuínos (2:18–21)

I.E.Q Secretaria Geral de Educação e Cultura ___________________________Epístolas Gerais - Revisão em 2006

58

Page 59: Epistolas gerais aluno

Duas vezes ele diz aos “filhinhos” que é “a última hora”. A evidência disso era que “agora muitos anticristos tem surgido”. A palavra “anticristo”, ocorre na Bíblia, somente nas Epístolas joaninas (I Jo 2: 18, 22; 4: 3; 2 Jo 7), mas o conceito se acha noutros lugares. O aparecimento do anticristo era considerado como um sinal da proximidade do fim. Certamente Jesus advertiu os discípulos dos “falsos cristos”, que seu ensino é aqui reconhecido como sendo fundamentalmente contra Cristo e uma negação de Cristo. Os muitos anticristos que já vieram (em contraste com o que virá) são agora identificados como mestres humanos e que abandonaram a igreja à qual João está escrevendo. Com sua deserção deram clara prova do seu verdadeiro caráter. “Não eram dos nossos”. Eles saíram por sua própria vontade, mas por trás disso estava o propósito divino de que os espúrios ficassem manifestos (Lc 12: 2).

Aqueles que “possuem a unção que vem do Santo” e que estão entre “todos (que) tendes entendimento” criam um contraste entre a sua lealdade para com a verdade, e o ensino herético dos que saíram da igreja. Se os falsos mestres eram anticristos, há um sentido em que todo cristão é um verdadeiro “Cristo”, tendo recebido a mesma unção e conhecimento que Jesus recebeu através do Espírito Santo. O propósito de João ao escrever a eles não é informá-los de uma nova verdade, mas confirmá-los na verdade que eles já conhecem (Rm 15: 14, 15), e conhecem o seu caráter, que é totalmente veraz e coerente, e que “mentira nenhuma jamais procede da verdade”. Ao contrário as mentiras provém do diabo (Jo 8: 44).

3.5.2 – A natureza e o efeito da heresia (2:22, 23) O falso ensino dos que deixaram a igreja é revelado agora. É uma negação de que “Jesus é o

Cristo”. Eles ensinavam (como também alguns gnósticos posteriores) que Jesus nasceu e morreu homem, e que o “Cristo” que era uma emanação divina, esteve nele somente durante o seu ministério público, descendo sobre Ele no batismo e deixando-o antes da cruz. Portanto negavam que Jesus era ou é o Cristo ou o Filho. Negavam a encarnação do Cristo. Não podemos possuir comunhão com o Pai se não confessarmos o Filho. Somente o Filho pode revelar o Pai aos homens (Mt 11: 27; Jo 1: 18; 12: 44, 45; 14: 9); somente o Filho pode representar os homens e reconciliá-los com o Pai (I Jo 2: 1, 2; Jo 14: 6; I Tm 2: 5).

3.5.3 – Salvaguardas contra a heresia (2:24–27)“O que ouvistes desde o princípio” é o Evangelho, o ensino apostólico, a mensagem original

que fora pregada. Não tinha mudado e não iria mudar. O testemunho apostólico visa essencialmente o Filho. Além disso, devem permanecer no “Filho e no Pai”, no sentido de experimentarem a comunhão espiritual com ambos. Como resultado dessa lealdade ao Filho e ao Pai, e dessa comunhão com Eles, gozaremos a “vida eterna” prometida. Mas o ensino apostólico não era suficiente em si para conservá-los na verdade. João não subestima o poder e a sutileza dos enganadores. O diabo é primariamente o enganador, pois em sua própria natureza “é mentiroso e pai da mentira” (Jo 8: 44).

Contra esses pretensos enganadores eles tinham uma segunda salvaguarda, a saber, “a unção que dele recebestes e que permanece em vós”. Jesus pessoalmente prometeu que uma vez dado o Espírito Santo, Ele estaria sempre conosco (Jo 14: 16). Possuindo o conhecimento pela iluminação direta do Espírito Santo, “não tendes necessidade de que alguém vos ensine” (Jr 31: 34; 1 Ts 4: 9). Deve-se tomar cuidado para não se exagerar este ensino, achando que ninguém nos pode ensinar nada. João estava dizendo que eles não precisavam do ensino dos falsos mestres, pois estes, não são dirigidos pelo Espírito Santo. Mas dos que falam em Seu nome, destes temos muito o que aprender.

4. Segunda aplicação de provas (2:28; 4:6)

4.1 Uma elaboração da prova moral: Justiça (2:28 - 3:10)4.1.1 – O futuro aparecimento de Cristo (2:28 - 3:3)

I.E.Q Secretaria Geral de Educação e Cultura ___________________________Epístolas Gerais - Revisão em 2006

59

Page 60: Epistolas gerais aluno

João repete a ordem: “permanecei nele”, para que “quando ele se manifestar”. A doutrina da volta do Senhor fazia parte da fé apostólica primitiva. Os homens reagirão de duas formas diante da volta do Senhor: Uns terão “confiança”; outros ficarão “envergonhados diante dele”, ou melhor, se afastarão “dele com vergonha”. Mas, somente se permanecermos nele agora, é que teremos confiança diante dele e não nos afastaremos dele no último dia. Aqueles que sabem, como um fato, que Deus é justo, diz João, então percebereis como conseqüência lógica que “todo aquele que pratica a justiça é nascido dele”. O filho exibe o caráter do pai, porque participa da natureza do pai. A retidão de uma pessoa é, pois, a prova do seu novo nascimento, não sua causa ou condição.

CAPÍTULO 3 A menção do fato de sermos nascidos Dele, leva João a explodir em admiração do amor de

Deus fazendo-nos “Seus filhos”. É como se dissesse que o amor do Pai é tão diferente do amor terreno, tão estranho para este mundo. Este amor Deus não nos “mostrou” apenas, mas realmente nos concedeu, temo-lo experimentado nós mesmos. Os “filhos de Deus” e o “mundo” são tão diferentes entre si que, de fato, o “mundo não nos conhece” (I Co 2: 15, 16). A razão disso é que “não o conheceu a Ele mesmo”. Já está declarado que somos “filhos de Deus” e aguardamos “o que havemos de ser”. Isto, portanto, não quer dizer que não sabemos nada acerca do nosso estado futuro: “Sabemos isto, que quando Ele se manifestar, seremos semelhantes a Ele, porque havemos de vê-lo como Ele é”. Para nós é suficiente saber que no último dia e pela eternidade, estaremos com Cristo e seremos como Ele.

João chama novamente à santidade que devemos buscar, pois: “E a si mesmo se purifica todo o que nEle tem esperança, assim como Ele é puro”. Somente com a purificação, buscada através da santidade de vida é que chegaremos à pureza esperada.

4.2 – A passada manifestação de Cristo (3:4–10)

4.2.1 – A natureza do pecado: transgressão da lei (3:4–7)“Todo aquele que pratica pecado”. Este é um ataque direto de João contra a arrogante

presunção dos hereges de que eles constituíam uma “elite” separada da gente comum. O Evangelho, com as suas implicações morais, preocupa-se com todos os homens, não apenas com alguns. João continua: “Todo aquele que pratica pecado transgride a lei; porque o pecado é a transgressão da lei”. Não é apenas que o pecado se manifesta em contraposição à lei de Deus, mas que o pecado é, em sua própria natureza, ilegalidade. Jesus chama a atenção de seus leitores à Pessoa e Obra de Jesus Cristo. “Ele se manifestou para tirar os pecados, e nele não existe pecado”. João coloca aqui a obra de remoção dos pecados do homem realizada por Cristo e a impecabilidade de Sua Pessoa, que faz parte da Sua natureza essencial e eterna, maravilhosamente juntas

Segue-se a dedução lógica. Se a natureza de Jesus é sem pecado, e se o propósito de Seu aparecimento histórico era tirar o pecado, então “todo aquele que permanece nele não vive pecando”, ao passo que, por outro lado “aquele que vive pecando, não o viu, nem o conheceu”. João continua ensinando seus “filhinhos”: “Não vos deixeis enganar”. Os falsos mestres, instrumentos de satanás, os arqui-enganadores, estavam procurando extraviá-los, não só teologicamente, mas também moralmente. Cuidado com eles. “Aquele que pratica a justiça, é justo, assim como ele é justo”. Quem não pratica a justiça, “não o viu e nem o conheceu”.

4.2.2 – A origem do pecado: o diabo (3:8–10)“Aquele que pratica o pecado procede do diabo”. Esta segunda generalização ligada ao

pecado, não com a lei de Deus, que ele transgride, mas com o diabo, em quem se origina. Se a obra característica do diabo é pecar, a obra característica do Filho de Deus é salvar. “Para isso se manifestou, para destruir a obra do diabo”. Estas são muitas e más. Mas, aquele que procede de Deus, “não vive na prática do pecado”, pois isso não faz mais parte da sua natureza, pois é agora “nascido de Deus”. Nascer de Deus é uma transformação interior, profunda, radical. Além disso, a

I.E.Q Secretaria Geral de Educação e Cultura ___________________________Epístolas Gerais - Revisão em 2006

60

Page 61: Epistolas gerais aluno

natureza recebida no novo nascimento permanece. Ela exerce forte pressão interna em direção à santidade.

Ainda não é manifesto o que somos, se somos filhos de Deus ou filhos do diabo. Mas a verdade e a falsidade, o bem e o mal, o certo e o errado, Deus e o diabo são opostos irreconciliáveis. A nossa ascendência ou é divina ou diabólica. A maneira pela qual tornar-se filho de Deus é, do lado humano, crer em Cristo e recebê-lo, e, do lado divino, pelo novo nascimento (Jo 1: 12, 13). Por enquanto, os filhos de Deus e os filhos do diabo podem ser reconhecidos por sua conduta moral. “Pelos seus frutos os conhecereis” (Mt 7: 20). Tendo em mente os hereges pecaminosos e destituídos de amor: “todo aquele que não pratica a justiça não procede de Deus, também aquele que não ama a seu irmão”. A falta de justiça e de amor provam a falta do nascimento divino.

4.2.3 – Uma elaboração social: amor (3:11–18)

Os hereges estavam a jactar-se do seu novo ensino. Seus leitores estariam a salvo se se apegassem firmes à mensagem que tinham ouvido, e isso pública e abertamente, “desde o princípio”. O Evangelho não muda. A verdade acerca da pessoa de Cristo e da conduta cristã é inalterável. Tanto na doutrina como na ética devemos voltar diretamente ao “princípio”, ao ensino original dos apóstolos. A mensagem era “que nos amemos uns aos outros” (I Jo 3: 23; 4: 7, 11, 12; II Jo 5; Jo 13: 34; 15: 12, 17).

4.2.3.1 – O ódio de Caim, e do mundo (3:12, 13).

Com este amor mútuo que nos é ordenado, João imediatamente contrasta o comportamento de Caim. Seu ódio se originou no diabo, no “maligno”, e deu em assassinato. “Suas obras eram más, e as do seu irmão, justas. Caim é o protótipo do mundo, que manifesta hoje as torpes qualidades que ele exibiu primeiro. O “mundo” é a posteridade de Caim, e leva a sua “herança” (Gn 4: 11).

- O amor de Cristo, e da igreja (3: 14 – 18)

O fato de que “amamos os irmãos”, dá-nos boa base para a certeza de que possuímos a vida eterna. Tornar-se cristão não é nada menos de que uma ressurreição ou vivificação da morte espiritual para a vida eterna. Os verdadeiros cristãos, que passaram “da morte para a vida” estarão ansiosos pela comunhão cristã. O relacionamento pessoal dos cristãos, “uns com os outros”, será marcado pelo altruísmo e por desvelado amor. João declara que a falta de amor é evidência da morte espiritual. Ele não está necessariamente negando a possibilidade de arrependimento e perdão para um homicida (Jesus orou rogando que os Seus assassinos fossem perdoados). Está antes afirmando, como princípio geral, que tirar a vida é perder o direito à vida, e que nenhum assassino “tem a vida eterna permanente em si” como posse atual e permanente. Mas o verdadeiro amor não se revela somente no supremo sacrifício; expressa-se em todas as dádivas menores. Amor, é “a disposição para entregar aquilo que tem valor para a sua própria vida, para enriquecer a vida de outrem”. Assim João escreve que “aquele que possuir recursos deste mundo e vir a seu irmão padecer necessidade”, estará em débito para com ele. “Se porém fechar-lhe o seu coração”, uma coisa é certa, “o amor de Deus não permanece nele”. A súplica final de João a esse respeito é que protestos de amor não bastam. Ações falam mais alto do que palavras. Essencialmente o amor não é nem sentimento, nem conversa, mas atos.

4.3 – Digressão acerca da segurança e do coração que acusa (3:19–24)

4.3.1 – O coração que acusa, e como devolver-lhe segurança (3:19, 20)

I.E.Q Secretaria Geral de Educação e Cultura ___________________________Epístolas Gerais - Revisão em 2006

61

Page 62: Epistolas gerais aluno

É dentro do contexto geral do ensino da Epístola sobre a segurança que aparece esta situação do coração acusador. Às vezes as acusações da nossa “consciência” serão verdadeiras e outras vezes falsas, inspiradas pelo “acusador de nossos irmãos” (Ap 12: 10). Mas devemos tranqüilizar “perante ele...o nosso coração”, isto é, devemos ser capazes de agir assim à vista de Deus. Está implícito que só seremos capazes de fazer isso se conhecermos “que somos da verdade”. É o conhecimento mental pelo qual as dúvidas do coração podem ser silenciadas.

“Pois , se o nosso coração nos acusar”. Nós precisamos nos tranqüilizar ou restabelecer, a segurança, e pacificar os temores do nosso coração. Mas como conseguir isso? Em parte por conhecermos que “somos da verdade” e em parte pelo fato de que Deus “é maior do que o nosso coração, e Ele conhece todas as coisas”. A nossa consciência não é de forma nenhuma infalível; a condenação que ela faz pode ser freqüentemente injusta. Apelamos então para Deus que é maior e conhece mais. Mais forte que qualquer tranqüilizador químico é a confiança em nosso Deus que conhece todas as coisas.

4.3.2 – O coração que não acusa e suas bênçãos (3:21–24) João se volta do tormento de um coração acusador, para a bênção de um coração que não acusa. Esta bênção não está só nisso, na paz de uma consciência não perturbada, mas em seu resultado, a saber, uma comunhão com Deus livre e irrestrita de um lado; e ativamente buscada e experimentada, por outro lado. A segunda bênção de um coração que não acusa é agora declarada: “temos confiança diante de Deus”, não somente para ter acesso a Ele em oração, mas também, para receber respostas dEle. Mas não é só por isso que Deus ouve e responde as nossas orações, há uma razão subjetiva, moral, a saber: “porque guardamos os seus mandamentos”, e mais geralmente “fazemos diante dEle o que lhe é agradável”.

Mas que mandamentos são estes que temos que cumprir? Basicamente há somente um mandamento abrangendo a fé em Cristo e o amor aos outros. Em I Jo 3: 10, João ligou a prática da justiça com o amor fraternal. Aqui ele liga o amor com a fé em Cristo. Ninguém pode dizer que permanece em Cristo e Cristo nele se não cumprir pelo menos três mandamentos: a fé em Cristo, o amor pelos irmãos e a justiça moral. E uma coisa é notável nos que cumprem estes mandamentos: A permanência de Deus neles é reconhecida “pelo Espírito que nos deu”.

CAPÍTULO 4

4.4 – Uma elaboração da prova doutrinária: fé (4:1–6)

4.4.1 – O conteúdo do ensino (4:1–3)Deus nos deu o Seu Espírito (I Jo 3: 24), mas há outros espíritos ativos no mundo, aos quais

não devemos dar crédito. Portanto, por trás de cada profeta está um espírito, e por trás de cada espírito está Deus ou o diabo. Antes de podermos confiar em quaisquer espíritos, precisamos prová-los, “se procedem de Deus”. O que importa é a sua origem. João alerta: “Nisto reconheceis o Espírito de Deus”. Pode-se discernir o espírito que inspira, pelo ensino do profeta por meio de quem ele fala. “Todo espírito que confessa que Jesus Cristo veio em carne é de Deus”. Aqui além de demonstrar que somente o Espírito Santo pode fazer isso, João ainda ataca diretamente o ensino de Cerinto, que ensinava que o Cristo e Jesus eram pessoas distintas. Logo, João declara que o ensino de Cerinto é do diabo. Os falsos mestres eram também chamados de anticristos.

4.4.2 – O caráter dos ouvintes (4:4–6)Através do ensino verdadeiro do Evangelho e do discernimento de espíritos que seus leitores

estão adquirindo através dele, João pode declarar que eles são de Deus e estão vencendo, desta forma, os falsos profetas, não por sua capacidade ou conhecimento, mas “porque maior é o que está em vós do que aquele que está no mundo”. Os falsos mestres e seus ensinos procedem do mundo e por isso são ouvidos “pelo mundo”, que está, não em Deus, e sim “jaz no maligno”. Assim também se pode reconhecer a “Palavra de Deus”, pois o povo de Deus a ouve; exatamente como podeis I.E.Q Secretaria Geral de Educação e Cultura ___________________________Epístolas Gerais - Revisão em 2006

62

Page 63: Epistolas gerais aluno

reconhecer o povo de Deus, porque ele ouve a Palavra de Deus. Os que não ouvem o ensino apostólico, mas preferem absorver o ensino do mundo, não só passam por juízo sobre si mesmos, mas também, por esse meio, sobre a mensagem a que dão atenção. “Nisto reconhecemos o espírito da verdade e o espírito do erro”. Podemos provar os espíritos e “conseguir saber” tudo muito bem, examinando, não só a mensagem que eles proclamam mediante os seus instrumentos humanos, mas também pelo caráter dos que os ouvem.

5. Terceira aplicação das provas (4:7 – 5:5)

5.1 – Mais uma elaboração da prova social: amor (4:7–12)A primeira parte do argumento em prol do amor fraternal é tirada da natureza eterna de Deus.

Inicia-se com a admirável assonância: “Amados, amemo-nos...”. O autor pratica o que prega. Ao concitá-los a amar-se uns aos outros, primeiro os certifica do seu amor por eles. Os cristãos devem amar-se por dois motivos:Primeiro “porque o amor procede de Deus”;Segundo, pois “Deus é amor”. Deus é a fonte e a origem de todo amor, e todo verdadeiro amor deriva dEle, e todo aquele que ama a Deus e ao seu próximo com esse amor é literalmente “nascido de Deus, e conhece a Deus”. Mas Deus não é somente fonte de todo verdadeiro amor, Deus é amor em Seu Ser mais profundo. Mas “aquele que não ama não conhece a Deus”. O Deus que é amor, “nos amou”, e expressou o Seu amor enviando “Seu Filho unigênito ao mundo” e é através do Filho que nós temos vida. O amor de Deus, que já foi demonstrado em Sua escolha, redenção e proteção de Israel, foi primeiramente conhecido na dádiva de seu Filho. A grandeza do amor de Deus se manifesta na natureza do Seu dom e seu propósito, pois deu Seu Filho para morrer por nós, pecadores inveterados. Não se poderia imaginar mais clara manifestação do amor de Deus. O dom do Filho de Deus não somente nos garante o amor de Deus por nós, mas lança sobre nós uma obrigação. Quem provou do imensurável e imerecido amor de Deus, demonstrado por nós na cruz, pode voltar a uma vida de egoísmo. Se Deus “de tal maneira” nos amou, devemos nós também “de tal maneira” amar uns aos outros. Não devemos pensar no amor somente como constituindo o ser eterno de Deus e como historicamente manifesto no fato de enviar Ele o Seu Filho ao mundo. Deus que é amor ainda ama, e hoje o Seu amor é visto em nosso amor. O nosso amor uns pelos outros é evidência da presença de Deus em nós. São estas três verdades acerca do amor de Deus que João usa como incentivo ao amor fraternal:Devemos amar-nos uns aos outros, primeiro porque Deus é amor;Segundo, porque Deus nos amou;Terceiro, porque se amarmos uns aos outros, Deus permanece em nós e o Seu amor é em nós aperfeiçoado.

5.2 – Combinação das provas doutrinárias e social (4:13–21)

5.2.1 – Deus em nós (4:13–16)A capacidade para crer e a capacidade para amar são igualmente atribuíveis ao Espírito Santo.

Assim se vê que a fé e o amor são relacionados entre si na missão do Filho e na permanente presença do Espírito no cristão. É pelo Espírito que vimos a confessar a divindade de Jesus (I Jo 4: 1 – 3; I Co 12: 3), e é pelo mesmo Espírito que somos capacitados a amar (1 Jo 3: 23, 24; 4: 12, 13). O homem natural não pode crer nem amar. Em seu estado decaído e não redimido, ele é cego e egoísta. O propósito da graça do Pai foi enviar o Seu Filho ao mundo como Salvador e enviar o Seu Espírito aos nossos corações como testemunhas (Gl 4: 4 – 6).

Como vêm os homens a reconhecer assim a divindade de Jesus? O testemunho apostólico é necessário, mas não leva ao reconhecimento. É pelo Espírito Santo que os homens confessam que Jesus é o Cristo vindo em carne.

I.E.Q Secretaria Geral de Educação e Cultura ___________________________Epístolas Gerais - Revisão em 2006

63

Page 64: Epistolas gerais aluno

5.2.2 – O perfeito amor (4:17–21)João torna a falar sobre a inabalável confiança que teremos por ocasião da vinda de Cristo se

permanecermos nEle agora. A nossa confiança é sinal de que nosso amor é “aperfeiçoado”. Trata agora do amor que arrebata a confiança e bane o temor. “No amor não existe medo”. Os dois são incompatíveis como água e óleo. Portanto, não temos medo de Deus. Em vez disso, “nós o amamos”. A nossa grande característica, se somos cristãos, não é que tememos, mas que amamos. O amor de Deus existiu primeiro; todo verdadeiro amor é uma resposta à sua iniciativa..

O amor a Deus não somente se expressa em confiante atitude para com Ele, isenta de temor, mas num afetuoso interesse por nossos companheiros cristãos. O verdadeiro amor que lança fora o medo, lança fora o ódio também. Alegar que conhecemos a Deus e que temos comunhão com Ele quando andamos nas trevas da desobediência é mentir (I Jo 1: 6; 2: 4). Alegar que possuímos o Pai quando negamos a divindade do Filho é mentir (I Jo 2: 22, 23). Alegar que amamos o Pai quando odiamos os irmãos também é mentir. Estas são as três mentiras da Epístola: moral, doutrinária e social. O homem não pode separar o que Deus juntou. Além disso, se amamos a Deus, guardamos os seus mandamentos (I Jo 2: 5; 5: 3), e o Seu mandamento é que amemos o nosso próximo como a nós mesmos.

CAPÍTULO 5

5.3 – Combinação das três provas (5:1–5)

João mostra claramente que crer é a conseqüência, não a causa do novo nascimento, pela qual nos tornamos e continuamos sendo filhos de Deus. Este novo nascimento, que nos leva ao confiante reconhecimento do Filho eterno, também nos envolve num amoroso relacionamento com o Pai e com os Seus outros filhos. Na verdade, tão certa e inevitavelmente o amor ao Pai celeste leva consigo o amor a Seus filhos na terra, que podemos dizer, “nisto conhecemos que amamos os filhos de Deus, quando amamos a Deus”. O amor aos irmãos expressa-se “de fato e de verdade” em serviço sacrificial (I Jo 3: 17, 18); o amor a Deus, em guardar os seus mandamentos. Jesus disse a mesma coisa acerca do sentido do amor a Ele (Jo 14: 15, 21). Tampouco havemos de achar difícil expressar o nosso amor mediante a obediência, pois os seus mandamentos não são penosos.

Estes mesmos mandamentos são intoleravelmente pesados ao mundo, mas aos filhos de Deus eles não parecem “penosos”, “porque todo o que é nascido de Deus vence o mundo”. Não é o homem, mas o seu nascimento de Deus que vence. Esta vitória sobre o mundo é alcançada pela fé. “Quem é que vence o mundo senão aquele que crê ser Jesus o Filho de Deus?

6 - As três testemunhas e a nossa conseqüente segurança (5:6–17)

6.1 – As três testemunhas (5:6–12) O Filho de Deus “é aquele que veio por meio de água e sangue”. “Água e sangue”, que correm juntos em alguns dos rituais levíticos, são símbolos inteligíveis de “purificação e redenção”. “E o Espírito Santo é o que dá testemunho, porque o Espírito é a verdade”. Jo 16: 13, 14, fala entre outras coisas da missão do Espírito Santo, e Jesus declara que “Ele vos guiará em toda a verdade”. E ainda “Ele me glorificará”. Logo é o Espírito que dá testemunho da verdade e que glorifica o Filho. Na continuação fala-se das três testemunhas no céu: O Pai, a Palavra (ou o verbo, ou o Filho) e o Espírito Santo, e estes três são um. E das três testemunhas na terra: O Espírito (o outro consolador deixado por Jesus), a água e o sangue, “num só propósito”. Havendo descrito a natureza do testemunho, João passa a demonstrar seus resultados. O propósito do testemunho de Cristo é evocar a fé em Cristo (Jo 1: 7; 20: 31) Aceitar o testemunho leva naturalmente a crer naquele de quem o testemunho é dado. Desta forma, os resultados da fé e da incredulidade são fortemente contrastados.

I.E.Q Secretaria Geral de Educação e Cultura ___________________________Epístolas Gerais - Revisão em 2006

64

Page 65: Epistolas gerais aluno

João esquece agora o incrédulo e resume a bênção assegurada ao cristão que recebe e responde positivamente ao testemunho de Deus. “E o testemunho é este: que Deus nos deu vida eterna; e esta vida está no seu filho”. Isto tudo é assegurado ao cristão que aceitou os testemunhos: tanto o celeste (O Pai, a Palavra e o Espírito Santo) como o terreno (a Água, o Sangue e o Espírito Santo). O caminho da vida é a fé, e o caminho da fé é o testemunho. A seqüência do pensamento é a mesma aqui. Deus dá testemunho do Seu Filho para que os homens creiam nele e assim O “tenham”, e tendo-o, tenham vida.

6.2 A nossa conseqüente segurança (5:13–17)O Evangelho foi escrito para descrentes, para que lessem o testemunho dado por Deus, de Seu

Filho, cressem no Filho para quem o testemunho apontava, e assim recebessem vida pela fé. A Epístola por outro lado foi escrita para cristãos. O desejo de João quanto a eles não é que creiam e recebam, mas que, tendo crido, saibam que receberam, e, portanto, continuam tendo a vida eterna. João passa para uma segunda segurança desfrutada pelo cristão, agora não da vida eterna, mas da oração respondida. Esta confiança cristã, não pertence apenas ao futuro, à parusia (volta de Cristo) (I Jo 2: 28) e ao dia do juízo (I Jo 4: 17), mas ao aqui e agora. A condição da oração respondida é que a nossa conduta concorde com os mandamentos de Deus; aqui, é que os nossos pedidos concordem com a Sua vontade. É pela oração que buscamos a vontade de Deus, abraçamo-la e nos alinhamos com ela.

João passa a falar da oração, não mais de petição, mas a de intercessão. Devemos orar por nossos irmãos, para que se pecarem, possam receber vida. Contudo, nem todo pecador pode receber vida em resposta à oração. João traça uma distinção entre “pecado não para a morte e pecado para morte”. Por aqueles que pecam não para a morte, o cristão orará, e por meio da oração lhe dará vida. Já pelos que pecam para a morte, os cristãos não devem orar. Muito possivelmente este tipo de pecados são, para João, aqueles praticados pelos falsos mestres, que além de pecarem, e não se arrependerem de seus pecados e por conseguinte, terem a morte como salário (Rm 6: 23), ainda levam outros a pecar e também a “morrer”.

Ao distinguir pecado não para a morte e pecado para a morte, João não pretende diminuir a gravidade do pecado, nem tampouco tem a intenção de desencorajar seus leitores quanto à oração, pois muitos podem receber vida em resposta à oração da fé.

7. Três afirmações e uma Exortação para concluir (5:18–21)“Todo aquele que é nascido de Deus não peca”. Isto indica que o novo nascimento, longe de

uma fase transitória da experiência religiosa, tem um resultado permanente. Aquele que foi gerado por Deus continua sendo filho de Deus, com privilégios e obrigações permanentes. Este é guardado por Aquele que nasceu de Deus, que é Jesus Cristo. O diabo não toca no cristão, porque o Filho o guarda, e assim, porque o Filho o guarda, o cristão não peca. Esta é a “libertação do maligno” pela qual oramos no final da oração do Senhor. “Sabemos que somos de Deus”. “Tendo nascido de Deus” (I Jo 5: 18), Deus continua sendo a nossa fonte de vida e ser espiritual. Mas, em terrível contraste, “o mundo inteiro jaz no maligno”. Não é representado como lutando ativamente para livrar-se, mas como jazendo tranqüilamente, talvez até dormindo inconscientemente, nos braços de satanás.

João faz uma afirmação que mina toda a estrutura da teologia dos hereges. Diz respeito ao Filho de Deus, exclusivamente por meio de quem podemos ser salvos do maligno e libertados do mundo. A revelação e a redenção são Sua obra de graça. Sem Ele não poderíamos conhecer a Deus nem vencer o pecado. Estas coisas são-nos possíveis hoje, somente porque “o Filho de Deus é vindo” e, tendo vindo, “nos tem dado entendimento...”, e isto “para reconhecermos o verdadeiro”. Não O conhecemos somente; também estamos nele. Diferentemente do mundo, que está “no maligno”, estamos em Deus, compartilhando Sua própria vida, como também, “somos de Deus”, tendo derivado dele o nosso ser espiritual.

João termina a Epístola fazendo a seguinte advertência: “filhinhos, guardai-vos dos ídolos”. Este dever surge naturalmente da condição e caráter do verdadeiro cristão. “O Filho o guardará” (I Jo 5: 18), mas isso não o isenta da responsabilidade de guardar-se. O culto a ídolos, irreal e morto, é

I.E.Q Secretaria Geral de Educação e Cultura ___________________________Epístolas Gerais - Revisão em 2006

65

Page 66: Epistolas gerais aluno

incoerente e incompatível com aquele conhecimento do verdadeiro Deus, que é a vida eterna, exatamente como o pecado e o egoísmo são incompatíveis com o conhecimento de Deus que é luz e amor.

Exercício de Fixação - Unidade IVResponda:1) Qual é o assunto principal desta Epístola?a) O problema dos falsos ensinos a respeito da salvação em Cristo e seu processo no cristãob) A dificuldade dos falsos mestres em entenderem o propósito de Deus em suas vidasc) Como acabar com os falsos ensinos sobre a salvaçãod) Como o ensino dos falsos mestres pode contribuir para a compreensão dos cristãos

2) A que João desejava levar seus leitores?a) A vencerem os falsos mestresb) A possuírem fé suficiente para remover montanhasc) A terem íntima comunhão com o Pai, e com Seu Filhod) A absterem-se de toda forma de desejo carnal

3) Qual dos critérios primários abaixo não é formulado em I João?a) Amor b) Conhecimento c) Uma correta cristologia d) Retidão 4) Jesus chamou Tiago e João de Boanerges. O que este nome significa?a) Filhos do relâmpago b) Filhos do vento c) Filhos da chuva d) Filhos do trovão

5) Qual a cidade em que João vivia na época em que escreveu I João?a) Tessalônica b) Filipos c) Colossos d) Éfeso

V Unidade - II Epístola de João

A VERDADE NO LAR E NA IGREJA

INTRODUÇÃOA segunda e a terceira Epístolas de João são os documentos mais curtos do Novo Testamento,

mais curtos até do que a Epístola a Filemon e a de Judas, que são as duas Epístolas do Novo Testamento que consistem de apenas um capítulo.

O estabelecimento e a consolidação do Império romano tornaram as viagens através de todo o mundo habitado, muito mais fáceis e mais seguras do que jamais tinham sido antes. Foram facilitadas pelas grandes estradas que os romanos construíram e pela “pax Romana” que as regiões mantinham, como também por uma língua comumente entendida. A rápida propagação do Evangelho no primeiro século A.D., deveu-se muito a essas vantagens.

TEMA Todas as epístolas de João foram escritas na mesma época. Nota-se na segunda, que os assuntos da primeira ainda persistem na mente do apóstolo. Ele ainda se mostra combativo em relação aos enganadores. Seu esforço é a favor da verdadeira doutrina de Cristo. A segunda Epístola de João é dominada pelos temas do amor e da verdade cristãos.

AUTORIA O autor não menciona seu próprio nome. Apresenta-se como “presbítero”, que significa “ancião”, conforme já consta em algumas versões bíblicas. Os anciãos, desde os tempos do Velho Testamento, eram os homens mais velhos, mais experientes, e, por conseqüência, líderes do povo (Ex 3: 16,18; 4: 29; 12: 21 etc.). Ao escrever seu evangelho e epístolas, o apóstolo João já era idoso.

I.E.Q Secretaria Geral de Educação e Cultura ___________________________Epístolas Gerais - Revisão em 2006

66

Page 67: Epistolas gerais aluno

Estando já familiarizados com os escritos do apóstolo, logo reconhecemos sinais de sua autoria na segunda epístola. Por exemplo, a ênfase sobre os temas: “verdade”, “amor”, “mandamento”, “permanecer”, e o combate às falsas doutrinas. Tudo isso constitui marca de João em seu evangelho, na primeira epístola, e também na segunda. Afinal, dos 13 versos da segunda epístola, 8 se encontram quase idênticos na primeira.

Os mais antigos pais da igreja, todavia, não exibiram qualquer dúvida sobre a autoria joanina dessas Epístolas. Em ambas João se apresenta, não no sentido de ser um oficial eclesiástico de alguma igreja local, mas no sentido de ser um idoso estadista da igreja.

DESTINATÁRIOS Os destinatários da Epístola são “à senhora eleita (ou escolhida) e aos seus filhos”. Alguns intérpretes consideram que estas pessoas eram bem conhecidas pelo Apóstolo. Porém, é bem mais provável que a “senhora eleita” seja aqui a personificação de uma igreja local, ao passo que os “seus filhos” sejam os membros individuais da dita igreja; é assim que pensamos porque a senhora eleita e seus filhos são amados por “todos que conhecem a verdade”. É altamente improvável que uma única família desfrutasse de tão ampla reputação por toda a cristandade, mas é perfeitamente concebível que assim acontecesse com alguma igreja local proeminente.

PROPÓSITO DA EPÍSTOLAJoão escreveu esta carta a fim de prevenir “a senhora eleita” contra os falsos obreiros

(mestres, evangelistas e profetas) que perambulavam pelas igrejas. Os tais abandonaram os ensinos do Evangelho e propagavam os seus falsos ensinos. A destinatária não devia recebê-los, dialogar com eles, nem auxiliá-los. Fazer isso significaria ajudá-los a disseminar os seus erros e participar da sua culpa. A carta repudia o mesmo falso ensino denunciado em I Jo.

VISÃO PANORÂMICAEsta Epístola realça uma advertência, que também se acha em I Jo, sobre o perigo de falsos

mestres que negam a encarnação de Jesus Cristo e que se afastam da mensagem do Evangelho (II Jo 7, 8); João se alegra de que por vezes, “a senhora eleita” e seus filhos andam na verdade (II Jo 4). O verdadeiro amor cristão deve ser obediente aos mandamentos de Cristo e ser mútuo entre os irmãos (II Jo 5, 6).

O amor cristão deve também incluir o discernimento entre a verdade e o erro, e também não dar apoio aos falsos mestres (II Jo 7 – 9). Receber amavelmente os falsos mestres é participar dos seus erros ( II Jo 10, 11). A carta breve, pois João planeja uma visita para breve, e assim falhar-lhe “de boca a boca” ( II Jo 12).Palavra-chave: verdade. Palavras em DestaqueVerdade (1,2,3,4)Mandamento (4,5,6) Amor (3,6). Ensino (doutrina) (9,10)Permanecer (2,9). Anticristo (v.7)

ESBOÇO DE CAPÍTULOSII João apresenta os seguintes aspectos:1) Devemos conhecer a verdade: Amar a verdade e viver em verdade (1 – 3)2) Devemos andar na verdade: verdade, amor e obediência (4 – 8)3) Devemos permanecer na verdade: Doutrina errada é viver errado (7 – 11)

1. Introdução (1–3)Seguindo o costume epistolar grego, o autor começa a sua carta identificando-se. Não usa o

nome pessoal, mas o título, pelo qual com certeza é conhecido pelos leitores e no qual fica

I.E.Q Secretaria Geral de Educação e Cultura ___________________________Epístolas Gerais - Revisão em 2006

67

Page 68: Epistolas gerais aluno

reconhecida a sua autoridade: “O presbítero”. Sua carta é dirigida “à senhora eleita e aos seus filhos”. Os comentaristas estão divididos quanto à destinação da carta; se refere-se realmente a uma senhora e aos seus filhos, ou seja, uma família; ou ainda se a personificação de uma igreja local e seus membros, uma vez que havia perseguição contra a igreja, e o apóstolo queria preservar a integridade física de seus leitores.

João descreve o seu relacionamento com a igreja usando as palavras “a quem eu amo na verdade”, mas ele não estava sozinho nesse amor por eles, pois “todos os que conhecem a verdade” compartilham do seu amor por eles. Este amor à verdade é “por causa da verdade que permanece em nós, e conosco estará para sempre”. Sendo cristãos devemos amar o nosso próximo, e mesmo os nossos inimigos; mas estamos ligados aos nossos irmãos em Cristo pelos laços especiais da verdade. A verdade é a base do amor cristão recíproco.

João usa a saudação “a graça, a misericórdia e a paz da parte de Deus Pai e de Jesus Cristo, o Filho do Pai, serão conosco em verdade e amor”. Isto pode significar que só receberemos isso se permanecermos em verdade e no amor. O nosso amor não deve ser tão cego que ignora as opiniões e a conduta dos outros. A verdade deve tornar discriminativo o nosso amor. João não vê incoerência nenhuma em acrescentar à sua ordem para amar-nos uns aos outros.

2. A mensagem (4–11)João começa a sua mensagem de modo semelhante ao que Paulo começa oito das suas treze

Epístolas, com uma expressão de ação de graças. Há muita coisa na comunidade local que lhe causa regozijo. Mas ele sabia que nem todos os membros da igreja estavam vivendo coerentemente. “Fiquei sobremodo alegre em ter encontrado, dentre os teus filhos os que andam na verdade”. Ela permanece em nós e nós andamos nela. Deus não nos revelou a sua verdade de modo tal que nos deixa livres para, a nosso bel prazer, crermos ou não nela, obedecermos ou desobedecermos a ela. A revelação traz responsabilidade consigo, e, quanto mais clara a revelação, maior a responsabilidade de crer nela e de obedecer-lhe (Am 3: 2).

Ser cristão é crer em Cristo e amar uns aos outros (I Jo 3: 23; Cl 1: 4; 2 Ts 1: 3). Se negamos o Filho e não amamos, nem temos e nem conhecemos a Deus (I Jo 2: 23; 4: 8). João não dá à igreja um mandamento do qual ele próprio se exime. Na verdade ele não dá mandamento nenhum, apenas repete o mandamento do Senhor. João cita o mandamento do amor e estabelece uma relação entre o amor e a obediência. Ele interpreta cada um em termos do outro:

1) Primeiro: “E o amor é este: que andemos segundo os seus mandamentos”;2) Segundo: “Este mandamento... é que andeis nesse amor”;A vida cristã é aqui olhada do ponto de vista dos mandamentos. Devemos andar “segundo os

seus mandamentos” (II Jo 6a) e, portanto, andar na verdade (II Jo 4), e andar no amor (II Jo 6b), porque estes são Seus mandamentos. Jesus advertiu os apóstolos do surgimento de “falsos cristos e falsos profetas” que tentariam enganar até os eleitos, com os quais eles deviam ter cuidado (Mc 13: 22, 23). Cumpriu-se a profecia do Senhor. João escreveu em sua primeira Epístola sobre “muitos falsos profetas” que saíram pelo mundo (I Jo 4: 1), e aqui lhes chama “muitos enganadores”. A heresia desses mestres era que eles não confessavam “Jesus Cristo vindo em carne”. A encarnação não é apenas um evento na história. É uma verdade permanente. Jesus não se tornou o Cristo, ou o Filho em seu batismo, nem deixou de ser o Cristo ou o Filho antes de sua morte. Aquele que nega a encarnação não é apenas “um enganador e um anticristo, mas “o enganador e o anticristo”.

João emite sua primeira advertência: “Acautelai-vos”. Não podiam permitir-se relaxar a sua vigilância. Neste caso, João não está tão preocupado com o seu trabalho em relação a eles, mas sim, com que obtivessem e não perdessem, a recompensa completa do seu trabalho cristão. O pensamento não é sobre a obtenção ou perda da sua salvação (que é uma dádiva gratuita), mas com a recompensa ou galardão pelo serviço fiel. A advertência de João, aos seus leitores, acerca do falso ensino não é exagerada. Mostra-se agora a sua extrema gravidade. “Todo aquele que transgride, e não permanece na doutrina de Cristo, não tem Deus”. Ninguém pode ter o Pai sem confessar o Filho. O Filho é a revelação do Pai (Jo 1: 18; 14: 7; 9: 1; I Jo 5: 20; Mt 11: 27) e o caminho para o Pai (Jo 14: 6; 1 Tm

I.E.Q Secretaria Geral de Educação e Cultura ___________________________Epístolas Gerais - Revisão em 2006

68

Page 69: Epistolas gerais aluno

2: 5), combinando as funções de profeta e sacerdote. Portanto, confessar o Filho é possuir o Pai; negar o Filho é estar privado do Pai.

João traz agora a segunda advertência. Tão séria é a conseqüência do erro dos enganadores, que ele não somente os exorta a que se cuidem, mas os instrui sobre como tratar um falso profeta, que, tendo “saido para o mundo”, agora “vem ter convosco”. Seu dever é claro e definido: “Não o recebais em casa, nem lhes deis as boas vindas”. É-nos dado agora o motivo da instrução do apóstolo. O ensino falso, que nega a Cristo e assim priva os homens do Pai, não é apenas, um grande erro; “é uma obra iníqua.” Pode enviar almas à ruína eterna. Se, pois, não queremos favorecer essa obra iníqua, é preciso que não ofereçamos nenhum incentivo ao que a realiza.

3. A conclusão (12, 13)João ainda nem acabou de escrever e já declara que ainda teria muitas coisas a dizer-lhes, mas

não quer fazê-lo com tinta e papel, mas quer ir ter com eles pessoalmente, “face a face”. O propósito desta comunhão, que João quer ter com seus leitores, é “para que a vossa alegria seja completa”. Alegria completa é o resultado da comunhão. A Epístola termina com uma mensagem de saudações da parte “dos filhos da tua irmã eleita”, isto é, dos membros da sua congregação-irmã, a igreja de onde João está escrevendo.

Exercício de Fixação - Unidade V

Responda: 1) Porque as viagens ficaram mais fáceis e mais seguras com o estabelecimento e consolidação do império romano?a) Pelas grandes estradas construídas pelos romanos e pelo decreto de César.b) Pela criação de meios de transportes ultra-modernos, e pela guarda pretoriana.c) Pelas grandes estradas construídas pelos romanos e pela “pax” Romana.d) Pela construção de grandes rodovias e pela “pax e amorx Romanos”.2) Como João se apresenta e qual o significado deste nome?a) “ancião”; “idoso” b) “obreiro”; “ancião”c) “Ministro”; “digno de louvor” d) “presbítero”; “ancião”

3) Qual a interpretação mais provável dos destinatários da Epístola: “A senhora eleita e seus filhos”a) Uma igreja local e seus membros.b) A administração regional da igreja e as igrejas locaisc) Uma senhora da igreja eleita como cristã modelo e seus filhosd) Uma viúva necessitada e seus filhos

4) Qual o propósito de João ao escrever à “senhora eleita”a) Devido às dificuldades financeiras pela qual ela estava passandob) A fim de confortar seu coração pela segunda vinda de Jesusc) A fim de prevenir contra os falsos mestresd) Para orientá-la a ser hospitaleira com tais mestres

5) O que significa “Receber amavelmente os falsos mestres”a) Cumprir o mandamento do Senhor de ser hospitaleirob) É participar dos seus errosc) É declarar que todos são dignos de confiançad) Cumprir as condições para aquele que almeja o episcopado

VI Unidade - III Epístola de JoãoI.E.Q Secretaria Geral de Educação e Cultura ___________________________Epístolas Gerais - Revisão em 2006

69

Page 70: Epistolas gerais aluno

A ALMA PRÓSPERA

INTRODUÇÃOO enfoque da atenção, na terceira Epístola de João, é sobre certa disputa eclesiástica. O lugar

da residência dos destinatários é desconhecido, mas o mais provável é que fosse na região em torno de Éfeso. João enviou a Epístola a Gaio a fim de:

1) Elogiar a hospitalidade de Gaio pelos “irmãos” (provavelmente mestres itinerantes enviados por João).

2) Exprobar a Diótrefes, um mestre local que se impunha qual superior, por sua falta de hospitalidade para com os “irmãos”, por seu métodos ditatoriais e por sua oposição à autoridade apostólica de João.

3) Elogiar a Demétrio, provável portador da Epístola. Demétrio pode ter tido necessidade dessa recomendação, porquanto estava de mudança da igreja de Éfeso, com a qual o apóstolo João estava associado, para a igreja onde Gaio era membro. Demétrio podia ser também um dos pregadores itinerantes a quem Diótrefes costumava recusar hospitalidade. Na verdade, Diótrefes expulsara da igreja local os membros que ousassem oferecer alimentos e abrigo àqueles pregadores itinerantes.

João indica também que havia escrito uma outra carta à igreja inteira à qual Gaio fazia parte. João ameaça fazer uma visita pessoal à igreja a fim de ter uma confrontação direta com Diótrefes.

AUTORIAJoão, o apóstolo amado, apresenta-se novamente como “O presbítero”. Esta carta pessoal é

endereçada a um fiel cristão chamado Gaio, talvez pertencente a uma das igrejas da Ásia Menor. Assim como as demais Epístolas de João, III João foi certamente escrita em Éfeso, entre 90 e 95 A.D.. Em fins do primeiro século, ministros itinerantes da igreja viajavam de cidade em cidade, sendo comumente sustentados pelos cristãos que os acolhiam em casa e os ajudavam nas despesas de viagem (5 – 8; II Jo 10). Gaio era um dos muitos cristãos dedicados que graciosamente acolhiam e auxiliavam ministros viajantes de confiança (1- 8). Ao mesmo tempo, um homem de projeção chamado Diótrefes resistia com arrogância à autoridade de João e recusava hospitalidade aos irmãos viajantes, enviados da parte dele.Tema: Caráter cristão. Palavra-chave: verdade.

ESTILO LITERÁRIOA terceira epístola de João é uma correspondência particular dirigida a um irmão chamado

Gaio. Este nome era bastante comum naquela época. Temos sua ocorrência em At 19: 29, 20: 4, Rm 16: 23 e I Cor 1: 14, além de III João. Contudo, tais passagens não se referem sempre à mesma pessoa.

Não temos muitas informações sobre Gaio, a quem João escreve. Entendemos que ele não era o líder de sua igreja local. O versículo 9 indica que o líder é outro.

A QUESTÃO DA PROSPERIDADEO verso 2 diz: "Amado, desejo que te vá bem em todas as coisas, e que tenhas saúde, assim

como bem vai à tua alma." Este talvez seja o versículo mais conhecido dessa pequena carta, o qual é muitas vezes utilizado como apoio para ensinar sobre prosperidade. Devemos observar que a única certeza do texto está relacionada à alma do destinatário, ou seja, seu bom estado interior. No mais, o verso expressa apenas o desejo de João no sentido de que Gaio tivesse boa saúde e fosse próspero em todas as coisas. Embora não tenhamos aqui uma promessa de prosperidade material, entendemos que o desejo de João era a prosperidade de Gaio, o que expressa sim, também o desejo de Deus aos seus filhos amados.

I.E.Q Secretaria Geral de Educação e Cultura ___________________________Epístolas Gerais - Revisão em 2006

70

Page 71: Epistolas gerais aluno

PROPÓSITO DA EPÍSTOLA

João escreveu para dar testemunho de Gaio pela sua fiel hospitalidade e ajuda prestada aos fiéis obreiros viajantes, para fazer uma advertência indireta ao petulante Diótrefes, para recomendar a Demétrio e para preparar o caminho da sua própria visita pessoal.

VISÃO PANORÂMICATrês homens são mencionados por nome em III João:

1) Gaio é mencionado calorosa e honrosamente pela sua piedosa vida na verdade (3, 4), e pela sua hospitalidade exemplar para com os irmãos viajantes (5 – 8).

2) Diótrefes, um dirigente ditador, é denunciado pelo seu orgulho, cujas manifestações são: rejeitar uma carta anterior de João (v. 9), calúnia contra João (v. 9), recusar o acolhimento aos mensageiros de João e ameaçar com exclusão aqueles que os receberem (v. 10).

3) Demétrio, talvez o portador desta carta, ou pastor de uma comunidade na vizinhança, é louvado como um homem de boa reputação e lealdade à verdade (v. 12).

CARACTERÍSTICAS DA EPÍSTOLA

Duas características principais sobressaem nesta Epístola:1) Embora seja pequena, dá uma noção de várias facetas importantes da história da igreja

primitiva, perto do final do século I.2) Há semelhanças notáveis entre III João e II João. Mesmo assim, as duas Epístolas diferem

entre si em um aspecto importante. III João elogia a hospitalidade e ajuda oferecidas aos bons ministros viajantes, ao passo que II João acentua que não se conceda hospitalidade e sustento a maus obreiros, para não sermos culpados de apoiar seus erros ou más obras.

ESBOÇO DE CAPÍTULOS

III João apresenta os seguintes aspectos:1) Gaio: Andou na verdade – (1 – 8)2) Diótrefes: Resistiu à verdade – (9 – 11)3) Demétrio: Recebeu um bom relatório da verdade – (12 – 14)

1. A mensagem a Gaio (1 – 8)Outra vez o autor se apresenta, não com seu nome pessoal, mas com o título que seus leitores

evidentemente reconheciam, “O presbítero”. O destinatário da carta chama-se Gaio. “Amado”. O amor do presbítero por Gaio era genuíno e agora se expressa num desejo, em

favor do seu bem estar material e saúde. Não havia necessidade de expressar um voto semelhante por seu bem-estar espiritual, também, porque ele sabia, como disse, que “é prospera a tua alma”. Aqui há uma autorização bíblica para desejarmos o bem-estar físico e espiritual bem como o bem-estar material dos nossos amigos cristãos. A prova do bem-estar espiritual de Gaio que levara João a regozijar-se grandemente, lhe fora trazida por certos “irmãos”, que testemunharam a ele a respeito de Gaio de como ele “anda na verdade”. Sua verdade e seu amor eram conhecidos de todos. Até “estrangeiros” (v. 5) puderam ver o seu mérito de primeira grandeza e puderam dar testemunho disso.

Gaio muito provavelmente estava entre aqueles que na primeira Epístola, João chamava de “filhinhos”. O presbítero considera Gaio como seu filho, e a maior alegria de um pai é ver que seus filhos continuam andando no caminho que lhes ensinou, o que, neste caso, é o caminho da verdade. Outra vez o presbítero chamando-lhe “amado”, escreve agora não sobre a sua verdade, mas sobre o seu amor. Ele era dado à “hospitalidade” como se ordena que sejam todos os cristãos (Rm 12: 13; Hb 13: 2; 1 Pe 4: 9). Gaio deve ter recebido os missionários cristãos e até os estrangeiros em sua casa e

I.E.Q Secretaria Geral de Educação e Cultura ___________________________Epístolas Gerais - Revisão em 2006

71

Page 72: Epistolas gerais aluno

deve tê-los hospedado às custas dele. Este serviço, comenta o presbítero, estava sendo feito fielmente. Sua verdade não fora mantida em segredo em sua mente, nem seu amor em seu coração. Ambos eram patentes. “Os irmãos” tinham visto ambos ficando impressionados com eles, e deram testemunho deles.

O presbítero continua animando-o a continuar hospedando os mestres em viagem. O que estava implícito, a extensão da hospitalidade aos missionários itinerantes, agora fica evidente. Estes não devem apenas ser acolhidos, quando chegam, mas devem receber fortalecimento e provisões tais (sem dúvida, suprimentos de alimentos e dinheiro) que sejam enviados à etapa seguinte da sua viagem “de maneira piedosa”. Estes viajantes saíram não em seu nome, mas no Nome, que é o Nome de Jesus, e por isso devemos honrá-los, pois nada receberam dos gentios, mas como vem anunciando o Nome de Cristo, devem ser cuidados e tratados pelos cristãos. Quem recebe a estes irmãos, e os ajuda, se torna cooperador da verdade, uma vez que eles anunciam a Palavra da verdade, não tendo outra forma de sustento.

2. A mensagem concernente a Diótrefes (9, 10)O presbítero apresenta agora o problema criado por Diótrefes. No caráter e na conduta ele era

inteiramente diferente de Gaio. Gaio é retratado como alguém que anda na verdade, ama os irmãos, hospeda os estrangeiros. Diótrefes, por outro lado, é visto como alguém que ama a si próprio, mais que os outros, e que recusa acolhida aos evangelistas em viagem, e não permite que os outros o façam. João gostaria de visitá-los e então fará lembradas as obras e palavras de Diótrefes. Ele sabe que as palavras más, como as obras más (II Jo 11), emanam do maligno. Diótrefes usava de palavras maliciosas para com João, além de não receber nenhum evengelista, ainda proíbe que outros membros da igreja o façam, e se fizerem, expulsa-os da igreja.

3. A mensagem concernente a Demétrio (11, 12) João deixa de lado a sua descrição do dano que estava sendo feito por Diótrefes para dar uma palavra de conselho pessoal a Gaio, seguida de uma recomendação a Demétrio. Daí, escreve: “amado, não imites o que é mau, senão o que é bom. Quem pratica o bem vem e permanece em Deus, aquele que pratica o mal jamais viu a Deus”. Exatamente como pensar em Diótrefes levou João a escrever acerca de praticar o mal, a menção da prática do bem parece agora recordar-lhe Demétrio, pois dele todos dão testemunho. De acordo com as constituições apostólicas, João mais tarde o nomeou bispo de Filadélfia.

4. A conclusão e a saudação (13, 14) João tem muitas coisas que escrever, muito mais do que pode incluir numa folha de papiro,

mas estas coisas ele prefere comunicar oralmente, pois está planejando visitar Gaio em breve, e então, diz ele, conversaremos de viva voz. “A paz seja contigo”, é uma apropriada oração para Gaio, pois tinha que exercer liderança numa igreja em que Diótrefes estava provocando discórdia. “Os amigos te saúdam”. Saúda os amigos, nome por nome. O Bom Pastor chama as Suas ovelhas “pelos nomes” (Jo 10: 3); subpastores e ovelhas também devem conhecer-se uns aos outros pelos nomes.

Exercício de Fixação - Unidade VI

Responda: 1) Qual é o enfoque da atenção na terceira Epístola de João?a) É sobre certa disputa eclesiásticab) É sobre certa disputa pela atenção dos irmãosc) É sobre certa disputa para saber de quem é o ensino corretod) É sobre certa disputa de João com Cerinto.

I.E.Q Secretaria Geral de Educação e Cultura ___________________________Epístolas Gerais - Revisão em 2006

72

Page 73: Epistolas gerais aluno

2) Qual das alternativas não corresponde ao motivo pelo qual João enviou esta Epístola?a) Expobrar Diótrefes b) Elogiar Demétrioc) Explorar Diótrefes d) Elogiar Gaio por sua hospitalidade pelos irmãos

3) Porque João elogia a Gaio?a) Por seu interesse no bem-estar do apóstolo b) Por sua alegria em ter Diótrefes ao seu ladoc) Pelo amor à causa das viúvas. d) Pela hospitalidade aos “irmãos”

4) Qual o motivo pelo qual João ameaça fazer uma visita pessoal à igreja?a) Para agradecer pessoalmente a Diótrefes b) Para ter uma confrontação direta com Diótrefesc) Para confrontar-se com Gaio d) Para ter uma confrontação direta com Demétrio

5) Em termos de estilo literário o que é a terceira Epístola de João?a) É uma correspondência epistolar à igreja de Éfesob) É uma correspondência pessoal que visa criticar a Diótrefesc) É uma correspondência para toda a igreja que está na casa de Gaiod) É uma correspondência pessoal dirigida a um irmão chamado Gaio.

VII Unidade – Epístolas de Judas

LUTANDO PELA FÉ

INTRODUÇÃOEsta epístola previne o leitor contra falsos doutores, difíceis de identificar. O retrato dos

adversários inclui traços convencionais, clichês da literatura polêmica do judaísmo contemporâneo da era cristã: esses homens são glutões, devassos, gananciosos, interesseiros… São acusados de introduzir divisões na Igreja, de insultar os anjos, de renegar o Senhor Jesus Cristo. Tratar-se-ia de gnósticos, de pessoas com pretensão a ser os detentores do único verdadeiro conhecimento (gnose) que salva e em nome do qual desprezam a carne, entregam-se a vícios contra a natureza e põem em dúvida a Encarnação. Isto explicaria por que o autor os chama ironicamente de “psíquicos” (v. 19); eles, que se gabam de possuir uma essência superior, são na realidade movidos por seus próprios instintos e não pelo Espírito Santo. Não obstante, é difícil delimitar as suas doutrinas. Só tentaremos caracterizar o ambiente do autor.

É também numa linha apocalíptica que se situa a pregação da epístola a respeito do julgamento dos ímpios. O castigo virá inexoravelmente; já está prefigurado na condenação dos anjos culpados, na punição de Sodoma e Gomorra, no extermínio das gerações incrédulas no deserto. Repare-se na mentalidade tipológica que subjaz a estes exemplos. Os ímpios aparecem já castigados pelas grandes condenações de outrora; o autor chega até a dizer que eles pereceram na revolta de Coré (v. 11). O presente já está anunciado e contido no passado. Esta atualização da Escritura prolonga concepções judaicas, ela é marcada por uma época; mas é um jeito de afirmar que as maneiras de agir de Deus permanecem idênticas, e que a Escritura continua como norma sempre válida para o tempo presente.

AUTORIA "JUDAS, servo de Jesus Cristo, e irmão de Tiago, aos chamados, santificados em Deus Pai, e conservados por Jesus Cristo" (v. 1).

Houve certa controvérsia sobre o Tiago descrito nesta carta. Há três discípulos distintos que tinham este nome: Tiago, o irmão de João, um dos filhos de Zebedeu, um dos Doze; Tiago, o filho de Alfeu, também um apóstolo, e Tiago chamado “o menor” provavelmente porque ele era o mais

I.E.Q Secretaria Geral de Educação e Cultura ___________________________Epístolas Gerais - Revisão em 2006

73

Page 74: Epistolas gerais aluno

jovem (Mc 15: 40), chamado por Paulo em Gálatas como “o irmão de nosso Senhor” (Gl 1: 19), e aparece também em At 15: 13-21, como uma influência preeminente na igreja em Jerusalém.

A epístola não poderia ter sido escrita por Tiago, o irmão de João, porque ele foi morto por Herodes (At 12: 2) antes de ser escrita. A autoria ou deve ser designada a Tiago, o filho de Alfeu, ou a Tiago, “o irmão do Senhor”. Dos dois, o mais provável irmão de Judas foi Tiago “irmão do Senhor”. Para esta conclusão temos os seguinte fatos conhecidos: Ele era um residente permanente de Jerusalém, e preeminente na igreja; ele parece ser a figura principal no “Concílio de Jerusalém” descrito em At 15: 13; ele era um dos pilares da igreja (Gl 2: 9); conseqüentemente ele poderia falar com autoridade para os cristãos judeus dispersos no estrangeiro.

Judas escreve uma carta a cristãos que parecem convertidos há muito tempo. Suas comunidades são invadidas por pregadores hereges, gnósticos.

DESTINATÁRIOS

Judas não menciona o nome dos destinatários desta carta. Trata-se de uma carta “geral”, pensando-se que tenha sido enviada a uma igreja local.Data: entre 64 e 70 A.D.

TEMA

Da mesma forma que II Pedro a Epístola de Judas polemiza contra os falsos mestres que se haviam intrometido na igreja, em maior número; ao que parece, que na época em que fora escrita a segunda Epístola de Pedro. Suas heresias particulares não merecem uma descrição detalhada ou refutação na Epístola, mas os próprios hereges são veementemente assediados. Judas visa a defesa da fé cristã. Palavra-chave: guardar.

ESBOÇO DE CAPÍTULOS

Judas trata dos seguintes aspectos:1) Introdução e exortação: “Batalha” (1 – 4)2) Exemplos de apostasia: “Lembrança” (5 – 7)3) Descrição dos falsos mestres: “Pesar” (8 – 19)4) Instrução e conforto: “Guardar” (20 – 25)

1. O autor e seus leitores (1, 2)

Podemos aprender muita coisa acerca de um homem ao escutar o que tem a dizer acerca de si mesmo. Judas faz duas alegações relevantes:

1) Em primeiro lugar, “é servo de Jesus Cristo”. O próprio reconhecimento de Jesus como Cristo ou Messias, significa que o cristão se via como servo devoto.

2) Em segundo lugar, Judas se chama “!irmão de Tiago”. O nome Tiago, sem outro acréscimo, significa uma só pessoa exclusivamente na igreja apostólica: Tiago, o irmão do Senhor, o líder da igreja em Jerusalém. Embora outros chamassem Judas de “irmão do Senhor” (I Co 9: 5), ele preferia intitular-se “irmão de Tiago e servo de Jesus Cristo”.

Judas não nos conta onde seus leitores moravam, mas há três descrições notáveis daquilo que significa ser um cristão. Esta é a primeira de várias tríades nesta curta Epístola:

1) Primeiramente, “são amados em Deus Pai”;2) Em segundo lugar, “são guardados em Jesus Cristo”;3) Em terceiro lugar, “são chamados”.

I.E.Q Secretaria Geral de Educação e Cultura ___________________________Epístolas Gerais - Revisão em 2006

74

Page 75: Epistolas gerais aluno

Judas, tem uma outra tríade de qualidades que, segundo a oração dele, devem vir para seus leitores. Judas quer que “a misericórdia, a paz e o amor sejam multiplicados a eles”. Quando um homem sabe que foi aceito por Deus, por menos merecimento que tenha, este fato lhe dá uma profunda paz na sua vida. E assim esta antiga saudação hebraica de “paz” (shalôm) é preenchida por Judas com um significado mais profundo. A Misericórdia graciosa de Deus não somente transforma a vida de quem a recebeu, como também se estende através dele a outras pessoas. O amor de Deus é derramado até transbordar do nosso coração pelo Espírito Santo (Rm 5: 5). A misericórdia da parte de Deus, a paz por dentro, e o amor ao próximo, todas na mais plena medida.

2. A carta que Judas não escreveu, e a carta que escreveu (3, 4)

Judas não meramente fala acerca do amor; demonstra-o, tanto no trato afetuoso repetido de “amados” (Jd 3, 17, 20; II Pe 3: 1, 8, 14, 17), quanto nas advertências sérias e repreensões severas que administra no decurso da Epístola. Judas nunca teve o propósito de escrever esta carta! Propondo-se a “escrever acerca da nossa comum salvação”, foi forçado a pegar sua pena às pressas por causa da notícia de uma heresia perigosa na igreja. O pastor verdadeiro é também um vigilante (At 20: 28 – 30; Ez 3: 17 – 19), embora essa parte do seu dever seja negligenciada em nossa geração, pleiteando-se a tolerância.

Este é o perigo que levou Judas a escrever às pressas esta carta repentina e curta. Ouviu falar de certos homens que se “introduziram com dissimulação” ou “se insinuaram”. Tal incursão de “homens ímpios” era séria exatamente porque era sutil (Gl 2: 4; II Tm 3: 6). Sempre é mais séria quando o perigo vem de dentro da igreja. Mas as escrituras tanto do Antigo Testamento, como do Novo Testamento, através dos ensinos de Jesus e dos apóstolos, sempre advertiram sobre o surgimento dos falsos mestres e dos falsos profetas. Estes homens tratavam do fato de que Deus graciosamente aceita os pecadores como desculpa para seu pecado flagrante e desavergonhado “tornando em libertinagem a graça de nosso Deus”. Estes falsos mestres certamente eram culpáveis de uma negação prática da Divindade e do Senhorio de Cristo pela forma do gnosticismo insipiente que seguiam.

3. Três lembranças de advertência (5–7) Depois desta pequena introdução dos seus oponentes, Judas passa a declarar de forma bem clara, o que acontecerá com eles. Usa três exemplos de julgamento divino (mais uma tríade), com os quais já haviam tido conhecimento, mas que tinham, agora aparentemente, esquecido. São eles:

1) O primeiro julgamento foi primeiramente distribuído a Israel, o povo que Deus tirou da terra do Egito, fez grandes coisas por eles, mas destruiu os que não creram; Judas refere-se aqui, aos seus adversários que já foram cristãos ortodoxos, que deliberadamente se desviaram para a heresia;

2) Em segundo lugar aos anjos que pecaram. Foram criados para servir e adorar a Deus, mas cujo orgulho os levou a participar da rebelião de Lúcifer;

3) Em terceiro lugar às cidades da planície (Sodoma e Gomorra). Nestas cidades imperava o baixo nível moral. Os homens entregavam-se à homossexualidade.

Estes três exemplos nos mostram que as pessoas não contavam com o julgamento divino para condenação. Entregavam-se ao orgulho e às concupiscências e ainda transformavam em libertinagem a graça de Deus. Logo o destino deles será tão cruel como o daqueles.

4. Aplicadas as analogias do julgamento (8, 9)

Das três analogias de julgamento anteriores, Judas tira três lições claras (mais uma tríade). Aqueles falsos mestres são formalmente acusados de:

1) Concupiscência: são “sonhadores que contaminam a carne”, através da libertinagem;

I.E.Q Secretaria Geral de Educação e Cultura ___________________________Epístolas Gerais - Revisão em 2006

75

Page 76: Epistolas gerais aluno

2) Rebeldia: além disso “rejeitam governo”. Estes são sinais da arrogância e do orgulho que dominavam esta nova fase da sua vida. Estes homens eram contrários à lei, um estado de coisas bastante comum quando as pessoas seguem as suas próprias concupiscências e exultam no seu próprio conhecimento;

3) Irreverência: “difamam as autoridade superiores”, os mensageiros de Deus, “os anjos”. Os homens de Sodoma e Gomorra foram irreverentes quando os anjos vieram alertá-los.

O arcanjo Miguel não cometeu semelhante erro, Não tratou o diabo de modo frívolo, nem lhe deu resposta grosseira. Quando Moisés morreu, o arcanjo Miguel foi enviado por Deus para se encarregar do corpo de Moisés. Mas o diabo disputou seu direito de assim fazer, pois Moisés tinha sido um assassino (Ex 2: 12), e, portanto, seu corpo pertencia, por assim dizer, ao diabo. Além disto o diabo alegou sua autoridade sobre toda a matéria, e o corpo de Moisés, naturalmente, encaixava-se nesta categoria. Mas mesmo sob tal provocação, conforme diz a história. Miguel não tratou o diabo com desrespeito; “não se atreveu a condená-lo com palavras ofensivas”. Simplesmente deixou o caso com Deus, dizendo: “O Senhor te repreenda”. A lição da história acha-se exatamente aqui. Se um anjo era tão cuidadoso naquilo que dizia, quanto mais os homens mortais devem vigiar suas palavras.

5. Crítica violenta (diatribe) contra os falsos mestres - (10 – 13)

Já os falsos mestres arrogam para si conhecimento superior, tornando-se arrogantes, e bem ao contrário do que fez o arcanjo Miguel, lançam juízo contra tudo e contra todos. Como é irônico que quando os homens alegam ter conhecimento, realmente são ignorantes; quando pensam ser superiores ao homem comum, realmente estão no mesmo nível que os animais, e estão corrompidos pelas próprias práticas.

Judas, assim como Pedro, volta-se a passagens sombrias do Antigo Testamento, formando mais uma tríade, para ilustrar a condenação de tais homens. “Ai deles”. Judas os compara a:

1) Primeiramente a Caim, que foi o primeiro assassino. Judas quer dizer claramente, que os falsos mestres são assassinos das almas das pessoas que enganam.

2) Compara-os a Balaão que era excessivamente avarento. Este recebia as profecias de Deus, mas devido à sua avareza perverteu o mandamento do Senhor. Ele envolveu Israel na imoralidade e idolatria em Baal-Peor (Nm 31: 16). Os falsos mestres levam o povo à imoralidade e à idolatria.

3) São comparados a Coré que foi infame por sua rebelião contra Moisés e Arão, os líderes divinamente nomeados de Israel (Nm 16: 1). Estes homens, como Coré, tinham claramente desafiado a liderança devidamente constituída da igreja, recusando-se a aceitar sua autoridade e colocando-se em oposição.

“Estes homens são como rochas submersas, em vossas festas de fraternidade”. As festas de fraternidade, também conhecidas como festas do amor cristão, forneciam o meio-ambiente para a Santa Ceia na igreja primitiva, e dentro de bem pouco tempo demonstraram-se passíveis a abusos mediante a gula, a desordem e a imoralidade (I Co 11: 20). Estes libertinos na festa de amor cristão eram como recifes submersos, esperando para naufragar os incautos. Judas apresenta ainda outras “qualificações” de tais homens:

1) Em primeiro lugar, são como “nuvens sem água impelidas pelo vento”. Estas “nuvens” que trazem a promessa de chuva, mas não dão uma gota sequer à terra sedenta; “são levadas pelo vento”, ou seja, por qualquer “vento de doutrina”;

2) Em segundo lugar, são como “árvores frutíferas” estéreis. São árvores que deveriam ter frutos, mas não o tem. Têm aparência de produtoras, mas são estéreis. Estes falsos mestres tinham vidas estéreis, quando deveriam ser frutíferos. Eram como a figueira estéril da parábola de Jesus (Lc 13: 6 – 9);

3) Em terceiro lugar, “são como ondas bravias do mar, que espumam em suas próprias sujidades”, suas ações vergonhosas. Sem dúvida Is 57: 20 está por trás desta linguagem figurada, ao fazer pensar na inquietude dos ímpios e na sua produção contínua de sujeiras;

I.E.Q Secretaria Geral de Educação e Cultura ___________________________Epístolas Gerais - Revisão em 2006

76

Page 77: Epistolas gerais aluno

4) Em quarto lugar, são como “estrelas errantes”, cuja condenação é serem aprisionadas nas trevas para sempre. Judas está pensando, não em planetas, mas sim, em estrelas cadentes que caem do céu e estão engolfadas nas trevas, para o desgosto daqueles que as observam. Assim são os falsos mestres, como estrelas cadentes com seus dias contados para serem engolfados nas trevas. E a tristeza fica para os que os observam, pois se continuarem como estão, tem o mesmo destino.

6 – A profecia de Enoque aplica-se a eles (14 – 16)

Judas confirma esta análise final dos seus oponentes com uma profecia de julgamento inescapável, o julgamento que acompanhará a volta de Cristo. Enoque era um homem que andava com Deus (Gn 5: 24) e uma profecia pronunciada por ele, para Judas, decide o assunto. Nada mais há que possa ser dita acerca da condenação dos falsos mestres: “Eis que veio o Senhor entre suas santas miríades, para exercer juízo contra todos e para fazer convictos todos os ímpios, acerca de todas as obras ímpias que impiamente praticaram e acerca de todas as palavras insolentes que ímpios pecadores proferiram contra ele”. Esta profecia é trazida para nossos dias com o juiz, Jesus Cristo, trazendo juízo para estes e outros falsos mestres que proferiram contra Ele.

Judas apresenta uma lista das “qualidades” dos falsos mestres, quais sejam:

1) São murmuradores;2) São descontentes;3) Andando segundo as suas paixões;4) A sua boca vive propalando grandes arrogâncias;5) São aduladores dos outros por motivos interesseiros.Através desses “atributos morais e pessoais” dos falsos mestres é que notamos que a profecia

de Enoque aplica-se corretamente a eles e àqueles que seguem os seus caminhos e os seus ensinos.

7 – As palavras dos apóstolos se aplicam a eles (17 – 19)Depois de aplicar contra os falsos mestres as palavras de Enoque, relembra agora aos seus

leitores as palavras dos apóstolos. Os falsos mestres esquecem: “vós porém” deveis lembrar-vos. O esquecimento do ensino e das advertências de Deus na Escritura é uma causa principal da deterioração espiritual. O apelo ao ensino apostólico seria muito justo e apropriado numa pessoa como Judas, que não era apóstolo, e que parece ter sido um homem muito modesto.

“Os quais vos diziam”, ressalta a natureza repetida das advertências apostólicas. Os falsos mestres alegavam que estavam tão cheios do Espírito Santo que não havia lugar para leis na sua vida cristã. Alegavam que a graça era tão abundante que seu pecado (se é que devesse ser chamado assim), providenciava maior oportunidade para ela. (v. 4). Alegavam que a salvação da alma é o que importa, e aquilo que o homem faz com o seu corpo não vem ao caso, pois forçosamente há de perecer. Para eles, os que se preocupavam com a pureza sexual pareciam estranhamente ingênuos. Desses pensamentos dos falsos mestres podemos entender que realmente “andam segundo as suas ímpias paixões”. O que mais pode dizer acerca dos hereges? Aqui são chamados de “os que promovem divisões”. Estes homens eram arrogantes porque tinham alcançado o sucesso, espiritual e intelectualmente. Eram a elite. É por isso que se conservaram reservados entre si. Uma pessoa que pensa e age dessa maneira simplesmente “não tem o Espírito”.

8. Exortações aos fiéis (20 – 23)Judas já disse o que tinha de dizer acerca dos ímpios, e agora volta-se para o ensino de seus

leitores. Pela segunda vez chama-os de “amados” (v. 17), e em cada ocasião é em contraste com o falso ensino. A exortação é feita em quatro fatores:

I.E.Q Secretaria Geral de Educação e Cultura ___________________________Epístolas Gerais - Revisão em 2006

77

Page 78: Epistolas gerais aluno

1) Em primeiro lugar, devem zelar por “Sua fé santíssima” que é a revelação cristã, transmitida pelos apóstolos. Nisto devem edificar-se. O cristão deve estudar as Escrituras se é para ele crescer na fé e ter qualquer utilidade para outras pessoas (Hb 5: 12; 2 Tm 2: 25);

2) Em segundo lugar, devem ficar “orando no Espírito Santo”. A batalha contra os falsos mestres, pois, não é ganha por argumentos. É provável que os falsos mestres tivessem abandonado a oração;

3) Em terceiro lugar, devem permanecer dentro da esfera do amor de Deus. Foi o seu amor que primeiramente os atraiu para Ele mesmo, mas conforme os falsos mestres demonstraram, é possível para alguém virar as costas ao amor de Deus;

4) Em quarto lugar, devem conservar viva a chama da esperança cristã.

9 - Doxologia (24 – 25)É coisa perigosa viver por Cristo, numa atmosfera de falso ensino e de moralidade sedutora. É

coisa arriscada procurar salvar homens para o Evangelho, do meio de tal ambiente. Se você ficar perto demais do fogo este te queimará; se você ficar perto demais da roupa contaminada pela carne, esta o maculará. A reposta então é retirar-se? Não. Avance contra as forças do mal, enfrente os perigos envolvidos, uma vez que você tem em você o Poder de Deus. No meio de convívios difíceis, do pensar turbulento, e do questionar dos padrões morais, é somente o Senhor que pode conservar-nos.

Somente a Deus seja toda a glória. Há um único Deus e Ele é nosso Salvador. No Antigo Testamento enfatizava-se que Deus é o Salvador do Seu povo; não há nenhum outro (Is 45: 15). A doutrina cristã da salvação vai de mãos dadas com a unidade de Deus. O único Deus pessoal, santo e amoroso, criou o mundo, o mantém, redimiu-o mediante Jesus Cristo e será glorificado nele. A radiância eterna de Deus foi cristalizada em Jesus Cristo (Jo 1: 14; Hb 1: 3); assim também Sua majestade, a grandeza real que sofre sem queixar-se; assim também Seu controle, no Senhorio de Jesus; assim também a Sua capacidade de fazer qualquer coisa, pois em Jesus Cristo, Deus está pronto para satisfazer qualquer das necessidades do homem. Tal é o nosso Deus, tais são Suas qualidades eternas, desvendadas em Cristo. Ele mesmo nos levará para o Pai se permitirmos, e Ele nos apresentará imaculados diante da Sua glória. A Ele pertencem “a glória, e a majestade, e o domínio, e o poder para sempre. Amém.Exercício de Fixação - Unidade VII

Responda: 1) Do que a Epístola quer prevenir o leitor?a) Dos falsos mestres e de sua falsa doutrinab) Contra falsos doutores, difíceis de identificarc) Contra falsos doutores, que andam mercadejando a Palavrad) Dos falsos ensinos e dos seus incentivadores

2) Qual das alternativas corresponde ao castigo reservado aos ímpios?a) Sodoma e Gomorra b) O fogoc) A condenação pela idolatria d) O extermínio das gerações incrédulas no deserto.

3) Quem eram os pregadores hereges que invadiram as comunidades dos cristãos?a) Os afeólatras b) Os antinômios c) Os Antitactos d) Os gnósticos

4) Quem é o Tiago mais aceito para ser o irmão de Judas?a) O líder da igreja de Jerusalém b) O filho de Zebedeuc) O filho de Alfeu d) O filho de Eliseu

5) Judas visa a Defesa da ...a) Instituição da família b) Fé cristã c) Autoridade apostólica d) Igreja local

I.E.Q Secretaria Geral de Educação e Cultura ___________________________Epístolas Gerais - Revisão em 2006

78

Page 79: Epistolas gerais aluno

VIII Unidade - As Viagens Missionárias de Pedro

O Livro de Atos demonstra a comissão em exercício. Antes do Pentecoste, Pedro é quem assumia a liderança da comunidade (At. 1:15), depois disso ele aparece como principal pregador e isso tornou-se notório no dia de Pentecostes, quando Pedro pregou e três mil pessoas tornaram-se cristãos (At. 2:14–42). Pedro tornou-se ainda o porta voz dos cristãos diante das autoridades judaicas (At. 4:8) e o presidente da administração da disciplina (At. 5:3). Pedro cura um homem aleijado. Ele foi detido com João e advertido a não pregar (At. 3:1; 4:22).

Embora a igreja como um todo tivesse deixado profunda impressão sobre toda a comunidade, foi Pedro em particular que exibiu poderes sobrenaturais (At 5:15). Samaria tornou-se o primeiro campo missionário da igreja. Pedro e João seguem a Filipe, enviados aos que tinham-se tornado cristãos, e também ali a mesma liderança foi exercida (At. 8:14). Pedro e João voltam para Jerusalém, e pregam, pelo caminho, nas aldeias samaritanas (At 8:25).

Significativamente também, Pedro foi o primeiro apóstolo associado com a missão entre os gentios, e isso por meios inequivocamente providenciais (At. 10:1; 15:7). Pedro vai a Lida e depois a Jope para ressuscitar a Dorcas dos mortos. Ali ele permanece por algum tempo (At. 9: 32–43). Gl 2:11 nos fornece uma rápida visão sobre Pedro em Antioquia, a primeira igreja com um elemento significativamente ex-pagão, compartilhando da comunhão da mesa com os convertidos gentios, e então enfrentando uma barragem de oposição por parte dos cristãos judeus, em face da qual ele finalmente recuou. Tal recuo foi violentamente denunciado por Paulo; apesar disso, não há qualquer indicação de diferença teológica entre eles, e a queixa de Paulo é antes a incompatibilidade da prática de Pedro com a sua teoria. A antiga teoria de persistente rivalidade entre Paulo e Pedro, tem pouquíssima base nos documentos.

A despeito desse lapso, a missão entre os gentios não tinha amigo mais autêntico do que Pedro. O Evangelho, tanto pregado por Paulo como pregado por Pedro, tinha o mesmo conteúdo, ainda que expresso de um modo, um tanto diferente. Os discursos de Pedro, no livro de Atos, no Evangelho de Marcos e em I Pedro apresentam a mesma teologia, da cruz enraizada no conceito de Cristo como Servo Sofredor. Ele estava pronto, com a mão direita de comunhão, a reconhecer a sua missão entre os judeus, e a missão de Paulo entre os gentios, como partes diversas do mesmo ministério (Gl 2: 7), e no concílio de Jerusalém, registrado está que Pedro foi o primeiro a apelar, para que se aceitasse plenamente os gentios sobre a base exclusiva da fé (At 15: 7).

A carreira de Pedro, depois da morte de Estevão é difícil de acompanhar. As referências a ele em Jope, Cesaréia e noutros lugares, sugere que ele realizou trabalho missionário na Palestina (Tiago, sem dúvida havia então assumido a liderança em Jerusalém). Pedro foi aprisionado em Jerusalém e, ao escapar milagrosamente, partiu para outro lugar (At 12: 17). As tentativas para identificar este outro lugar são infrutíferas. Sabemos que ele foi para Antioquia (Gl 2: 11); talvez tivesse ido para Corinto, embora provavelmente não se tenha demorado muito tempo ali (I Co 1: 12). Pedro aparece intimamente associado com os cristãos do norte da Ásia Menor (I Pe 1: 1), e possivelmente a proibição de entrar na Bitínia, feita a Paulo (At 16: 7) tivesse sido devida ao fato de que Pedro estava trabalhando ali.

A residência de Pedro em Roma tem sido ponto muito disputado, ainda que sobre bases insuficientes. I Pedro, quase certamente, foi escrita dali (I Pe 5: 13). Esse livro demonstra sinais de haver sido escrito pouco antes ou durante a perseguição movida por Nero, enquanto que, “I Clemente 5” deixa subentendido que, à semelhança de Paulo, Pedro morreu ao rebentar tal perseguição. Baseado no contexto de “I Clemente” e nas indicações fornecidas por Paulo na Epístola aos filipenses, sobre as tensões existentes na igreja em Roma, de que Pedro, talvez por solicitação de Paulo, viera especificamente para corrigir a brecha, e que a amargura surgida entre os cristãos precipitou a morte de ambos, é algo digno de uma séria consideração.

I.E.Q Secretaria Geral de Educação e Cultura ___________________________Epístolas Gerais - Revisão em 2006

79

Page 80: Epistolas gerais aluno

A história que aparece em “Atos de Pedro” acerca de seu martírio por crucificação (Jo 21: 18) de cabeça para baixo, não pode ser aceita como digna de fé. Certamente que estes “Atos”, tal qual outros testemunhos do segundo século, salientam a cooperação de apóstolos em Roma.

Cornélio, em Cesaréia, tem uma visão para mandar chamar a Pedro. Pedro tem uma visão em Jope. Ele vai a Cesaréia, e gentios tornam-se cristãos (At 10). Pedro dá a notícia à igreja em Jerusalém, e os cristãos dali aceitam que o evangelho também se destine aos gentios (At 11: 1 – 18). Pedro é preso, mas miraculosamente é solto. Ele foge de Jerusalém (At 12: 1 – 19). Pedro dirige a palavra ao concílio de Jerusalém (At 15: 1 – 21). Agora Tiago aparece como líder da igreja em Jerusalém.

Há poucas informações sobre o restante do trabalho de Pedro: Pedro se encontra com Paulo em Antioquia (Gl 2: 11 – 14). Pedro visita as igrejas do norte da Ásia Menor (1 Pe 1: 1). Evidência de Pedro ter estado em Corinto ( 1 Co 1: 12). Pedro em Roma, onde foi executado ( I Pe 5: 13). “Babilônia” = Roma. Há fortes evidências de que Marcos, seguidor de Pedro, escreveu seu Evangelho em Roma, pouco depois da morte de Pedro, usando a pregação de Pedro como testemunha ocular acerca de Jesus. Desta forma, podemos notar que através desses parâmetros, podemos traçar a trajetória das viagens missionárias do Apóstolo Pedro, que foram muito importantes para que o Evangelho saísse de Jerusalém e chegasse até aqueles que precisassem de transformação, e do poder curador do Evangelho.

Exercício de Fixação - Unidade VIII

Responda: 1) Segundo o livro de Atos, quem foi o primeiro a assumir a liderança da comunidade dos cristãos?a) Tiago b) João c) Pedro d) André

2) Qual cidade se tornou o primeiro campo missionário da igreja?a) Jope b) Lida c) Antioquia d) Samaria

3) Quem foi o primeiro apóstolo associado com a missão aos gentios?a) João b) Pedro c) Paulo d) Barnabé4) Qual dos Evangelhos abaixo contém colocações de Pedro?a) Mateus b) Marcos c) Lucas d) João

5) Qual o milagre realizado através de Pedro em Jope?a) A ressurreição de Dorcas b) A cura do coxo da porta formosac) Curas realizadas através de sua sombra d) A expulsão do espírito imundo da leitora de mãos

Bibliografia:

1) MEARS, Henrietta C. – Estudo Panorâmico da Bíblia – Editora Vida 9ª Impressão 19972) GUNDRY, Robeert H. – Panorama do Novo Testamento – Edições Vida Nova – 3ª Reimpressão -

maio de 19963) TENNEY, Merril C. – O Novo Testamento, Sua origem e análise – Vida Nova Edições – 1ª edição

– 1953.4) PEARLMAN, Myer – Através da Bíblia, Livro por Livro – Editora Vida – 18ª impressão – 19965) DAVIDS, Peter H. – Novo Comentário Bíblico Contemporâneo, Tiago – Editora Vida – 1ª Edição

– 1997

I.E.Q Secretaria Geral de Educação e Cultura ___________________________Epístolas Gerais - Revisão em 2006

80

Page 81: Epistolas gerais aluno

6) MOO, Douglas J. – Tiago, Introdução e Comentário – Série Cultura Bíblica – Edições Vida Nova – 1ª edição1985

7) MUELLER, Ênio R. – I Pedro, Introdução e Comentário – Série Cultura Bíblica – Edições Vida Nova – 1ª Reimpressão – setembro de 1991

8) GREEN, Michael – II Pedro e Judas, Introdução e Comentário – Série Cultura Bíblica – Edições Vida Nova – 2ª reimpressão – janeiro de 1993

9) STOTT, John R. W. – I, II e III João, Introdução e Comentério – Série Cultura Bíblica – Edições Vida Nova – 3ª reimpressão outubro de 1991

10) CHAMPLIN, Russel norman – O Novo Testamento interpretado, Versículo por versículo, Volume 6 – Milenium, Distribuidora Cultural – 2ª Impressão, 1980

11) ALMEIDA, João ferreira - Bíblia de Estudo Plenitude – Sociedade Bíblica do Brasil – 1ª edição, 2001

12) ALMEIDA, João ferreira – Bíblia de Estudo Pentecostal – CPAD – 1ª edição 199513) Site da Internet do Pr. Anísio Renato de Andrade14) Apostila de Hebreus e Epístolas Gerais – Paulo César Ponte

Gabarito dos Exercícios

I Unidade

1) B2) C3) D4) A5) B

II Unidade

1) C2) B3) A4) D5) C

III Unidade

1) C2) D3) B4) A5) B

IV Unidade

1) A2) C3) B4) D5) D

V Unidade

1) C2) D3) A4) C5) B

VI Unidade

1) A2) C3) D4) B5) D

VII Unidade

1) B2) B3) D4) A5) B

VIII Unidade

1) C2) D3) B4) B5) A

I.E.Q Secretaria Geral de Educação e Cultura ___________________________Epístolas Gerais - Revisão em 2006

81