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PODER JUDICIÁRIO JUSTIÇA DO TRABALHO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 14ª REGIÃO 8ª VARA DO TRABALHO DE PORTO VELHO PROCESSO Nº: 0010206-49.2014.5.14.0008 AUTOR: DANIEL JERÔNIMO PORTO LITISCONSORTE: SINDICATO DOS TRABALHADORES DA EMPRESA DE CORREIOS E TELÉGRAFOS DE RONDÔNIA RÉU: EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELÉGRAFOS SENTENÇA I - RELATÓRIO O reclamante, na petição inicial, alega que foi vítima de assalto na agência dos Correios nesta cidade de Porto Velho, a qual funciona como Banco Postal, requerendo o pagamento de indenização por dano moral. Juntou documentos. Atribuiu à causa o valor de R$50.000,00.

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PODER JUDICIÁRIO JUSTIÇA DO TRABALHO

TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 14ª REGIÃO

8ª VARA DO TRABALHO DE PORTO VELHO

PROCESSO Nº: 0010206-49.2014.5.14.0008

AUTOR: DANIEL JERÔNIMO PORTO

LITISCONSORTE: SINDICATO DOS TRABALHADORES DA EMPRESA DE

CORREIOS E TELÉGRAFOS DE

RONDÔNIA

RÉU: EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELÉGRAFOS

SENTENÇA

I - RELATÓRIO

O reclamante, na petição inicial, alega que foi

vítima de assalto na agência dos Correios nesta cidade de Porto Velho, a qual

funciona como Banco Postal, requerendo o pagamento de indenização por

dano moral. Juntou documentos. Atribuiu à causa o valor de R$50.000,00.

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Em contestação, a reclamada suscita a preliminar

de ilegitimidade passiva. No mérito, sustenta inexistir responsabilidade pelo

fato, diante da ausência de nexo causal e porque o acontecimento ocorreu por

motivo de força maior, sendo a segurança dever do Estado. Assim, pugna pela

improcedência da ação. Juntou documentos.

Na audiência una, foi dispensado o depoimento

das partes e não houve produção de prova testemunhal.

Sem outras provas, foi encerrada a instrução

processual.

Razões finais remissivas pelas partes.

Inexitosas as tentativas de conciliação.

É o relatório.

II - FUNDAMENTAÇÃO

PRELIMINAR

ILEGITIMIDADE PASSIVA AD CAUSAM

O direito brasileiro adota a teoria da asserção, por

meio da qual as condições da ação são verificadas abstratamente, com base

nas alegações contidas na inicial.

Assim, se da narração dos fatos decorrer que a

situação em abstrato pode ser imputada à reclamada, então esta é parte

legítima para integrar a lide, não podendo esta Magistrada adentrar com

profundidade na averiguação, sob pena de exercer juízo meritório.

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A análise quanto à responsabilidade ou não da

reclamada é matéria de mérito, a qual será apreciada oportunamente.

Rejeito.

MÉRITO

INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL

O dano moral consiste na lesão a direitos

personalíssimos do indivíduo, insuscetíveis de aferição econômica, por se

tratar de ofensa extrapatrimonial (ou imaterial). É a dor, humilhação ou

sofrimento íntimo sentido por uma pessoa que lhe cause um efetivo dano à sua

honra, imagem, intimidade ou vida privada. Por conseguinte, o simples

aborrecimento não configura essa espécie.

Por se referir à transgressão a direitos da

personalidade, é assegurado à pessoa uma indenização pelo dano moral

decorrente de sua violação (art. 5º, X, da CF, e arts. 186 c/c 927, caput, do CC)

se presentes os seguintes requisitos essenciais: conduta comissiva ou

omissiva, advento de dano, nexo de causalidade e culpa, ausente este último

se a hipótese for de responsabilidade objetiva.

No âmbito das relações de trabalho é possível a

ocorrência de desrespeito dos direitos da personalidade por parte de ambos os

contratantes, embora o mais comum seja a violação da intimidade, da vida

privada, da honra ou da imagem do trabalhador.

Por se tratar de fato constitutivo do direito do autor,

compete a este provar os fatos deduzidos na exordial quanto ao alegado dano

moral, conforme dispõe o art. 818 da CLT conjugado com o inciso I do art. 333

do CPC.

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No caso autos, o reclamante requer o pagamento

da indenização por dano moral por ter sido vítima de assalto na agência dos

Correios situada na cidade de Porto Velho durante o horário de trabalho. É

incontroversa a ocorrência do assalto e que a agência funciona como Banco

Postal.

Inicialmente, cumpre mencionar que o Banco

Postal foi criado com o objetivo de oferecer serviços bancários básicos à

população e prover inclusão social aos desprovidos de atendimento bancário.

Funciona mediante parceria firmada entre a ECT e o Banco Bradesco, pela

qual as agências dos Correios prestam serviço de correspondente, realizando

diversas operações bancárias, tais como abertura de contas, saques e

depósitos, empréstimos e financiamentos, pagamentos de benefícios do INSS,

recebimento de contas, títulos tributos, taxas e contribuições da previdência.

Nesse diapasão, por analogia às agências

bancárias, os trabalhadores dos Correios que laboram em agência que

funciona como Banco Postal realizam atividade de risco, de forma que é

prescindível analisar o elemento da culpa da empresa, a teor do parágrafo

único do art. 927 do CC. Nesse sentido, cite-se o seguinte julgado:

RECURSO DE REVISTA. DANO MORAL. ASSALTO NA AGÊNCIA POSTAL. RESPONSABILIDADE OBJETIVA. Esta Turma já firmou posicionamento no sentido de que a responsabilidade do empregador, pela reparação de danos morais e materiais, decorrentes de acidente do trabalho sofrido pelo empregado, é subjetiva, nos exatos termos do artigo 7º, XXVIII, da Constituição Federal. Assunto que tem se propagado nos dias de hoje, é saber-se o alcance da responsabilidade pelo dever de reparar. Perante o direito do trabalho, a responsabilidade do empregador, pela reparação de dano, no seu sentido mais abrangente, derivante do acidente do trabalho sofrido pelo empregado, é subjetiva, conforme prescreve o artigo 7º, XXVIII, da Constituição Federal de 1988. No entanto, no plano do direito civil, aqui de aplicação supletória, pode-se considerar também algumas situações em que se vislumbra recomendável a aplicação da Responsabilidade Objetiva, especialmente quando a atividade desenvolvida pelo autor do dano causar ao trabalhador um risco muito acentuado do que aquele imposto aos demais cidadãos, conforme previsto no parágrafo único do artigo 927 do Código Civil Brasileiro. Na hipótese, o Tribunal Regional consignou que o reclamante trabalhava na agência postal, sendo que foi vítima de assalto durante a jornada de trabalho. Assim, independentemente de a recorrente ter culpa ou não no assalto que importou em lesão, não cabe a ele, empregado, assumir o risco do negócio, ainda mais se considerando que o referido infortúnio ocorreu quando ele prestava serviços para a reclamada. Desse modo, a atividade normal da empresa oferece risco acentuado à integridade física de seus empregados, porquanto, estão sempre em contato com dinheiro. Precedentes desta Corte. Recurso de revista de que não se conhece. [] (TST - RR: 12875320115180012 1287-53.2011.5.18.0012, Relator: Valdir Florindo, Data de Julgamento: 22/05/2013, 7ª Turma, Data de Publicação: DEJT 24/05/2013)

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Ainda que assim não fosse, não há comprovação

nos autos de que a reclamada ofereceu a segurança necessária aos

funcionários, equipando a agência bancária com os materiais de segurança ou

oferecendo serviço de vigilância patrimonial. Com efeito, no documento de ID

670923 verifica-se que as agências de porto velho receberam um nível de

investimento baixo no que se refere à segurança.

Embora a segurança seja dever do Estado, na

forma prevista no art. 144 da CF, é cediço que esse direito não é gozado em

plenitude por nenhum cidadão brasileiro e, tratando-se de relação de trabalho,

cumpre ao empregador propiciar um ambiente de trabalho hígido, sadio e

equilibrado, o que se inclui a segurança dos trabalhadores, mormente em se

tratando de atividade econômica de risco, como é o caso dos autos, pois se

trata de agência dos Correios que funciona como Banco Postal. Logo, não há

falar em força maior ou culpa de terceiro.

Quanto ao dano, este independe da demonstração,

sendo in re ipsa, pois é mensurável ao "homem médio" que o sofrimento de um

assalto causa abalo emocional na pessoa e, dependendo do modo de

operação desse fato, há consequências psicológicas sérias para o ser humano.

Desse modo, o próprio fato já configura o dano.

No tocante ao nexo causal, indubitável é a

presença desse requisito, uma vez que o assalto ocorreu dentro do local de

trabalho e em virtude da atividade desempenhada pela ré.

Assim, estão presentes todos os requisitos

previstos para a configuração da responsabilidade civil.

Para a fixação do "quantum" indenizatório, deve-se

levar em conta a extensão do dano (art. 944 do CC), o caráter

pedagógico/punitivo da medida, a capacidade econômica das partes, o dano

causado no ofendido, o tempo de serviço do empregado, o grau de culpa do

agente, a gravidade e intensidade do ato, o desestímulo da prática delituosa,

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os princípios da razoabilidade e proporcionalidade e a vedação do

enriquecimento sem causa ao ofendido.

Diante desses elementos, fixo a indenização em

R$15.000,00, observando-se o disposto na Súmula n. 439 do TST, Súmula n.

498 do STJ e a OJ n. 7 do Tribunal Pleno do TST.

JUSTIÇA GRATUITA

Tendo o reclamante se declarado pobre nos

termos da lei (ID 554259), entendo preenchidos os requisitos exigidos no art.

790, §3º, da CLT.

Defiro.

HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS

Conforme OJ n. 305 da SDI-1 do TST: "Na Justiça

do Trabalho, o deferimento de honorários advocatícios sujeita-se à constatação

da ocorrência concomitante de dois requisitos: o benefício da justiça gratuita e

a assistência por sindicato".

No caso dos autos, o sindicato profissional prestou

assistência jurídica ao autor, sendo devidos os honorários advocatícios pela

reclamada, porém, limitados a 15%, nos termos da Súmula n. 219, I, do TST.

EXPEDIÇÃO DE OFÍCIO

Verifica-se nos autos que o Sindicato foi registrado

como litisconsorte porque atua como assistente do autor, o qual, por sua vez,

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outorgou poderes diretamente ao advogado do Sindicato, que compareceu na

audiência una. Assim, infere-se que, possivelmente, a prestação jurídica pelo

sindicato profissional não foi gratuita, como determina a Lei n. 5.584/70, fato

que, inclusive, já foi verificado em outros feitos (a exemplo dos autos n.

0001210-18.2013.5.14.0131), motivo porque determino a expedição de ofício

ao Ministério Público do Trabalho, com cópias da petição inicial, da procuração

de ID 554253, da ata de audiência e desta sentença, para as providências que

entenderem pertinentes.

III - DISPOSITIVO

Isso posto, e considerando tudo o mais que dos

autos consta, julgo parcialmente procedentes os pedidos formulados na ação

trabalhista ajuizada por DANIEL JERÔNIMO PORTO, em litisconsórcio com o

SINDICATO DOS TRABALHADORES DA EMPRESA DE CORREIOS E

TELÉGRAFOS DE RONDÔNIA em face de EMPRESA BRASILEIRA DE

CORREIOS E TELÉGRAFOS para condenar a reclamada a pagar indenização

por dano moral no valor de R$15.000,00, observando-se o disposto na Súmula

n. 439 do TST, Súmula n. 498 do STJ e a OJ n. 7 do Tribunal Pleno do TST e

honorários advocatícios no percentual de 15%.

Defiro ao reclamante os benefícios da Justiça

Gratuita.

Os demais pedidos são improcedentes.

A liquidação da sentença será por cálculos,

observando-se os limites e parâmetros fixados na fundamentação, que integra

este dispositivo para todos os efeitos, bem ainda os valores contidos na petição

inicial.

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Para os fins do art. 832, § 3º da CLT, a natureza

das parcelas é indenizatória.

Expeça-se ofício ao Ministério Público do

Trabalho, com cópias da petição inicial, da procuração de ID 554253, da

ata de audiência e desta sentença, para as providências que entenderem

pertinentes.

Custas no importe de R$345,00, calculadas sobre

o valor ora arbitrado provisoriamente à condenação em R$17.250,00, a cargo

da reclamada (art. 789, I, §1º, da CLT), de cujo recolhimento isento, na forma

da lei (art. 12 do Decreto -Lei n. 509/1969).

Intimem-se as partes.

Após o trânsito em julgado, inexistindo pendências,

arquivem-se os autos.

Nada mais.

Porto Velho, 01/06/2014.

SONEANE RAQUEL DIAS LOURA

Juíza do Trabalho Substituta