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Aplicação CPC /15 Vedação decisão surpresa

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Estado do Paraná _________________

PODER JUDICIÁRIO

ESTADO DO PARANÁ

COMARCA DE FOZ DO IGUAÇU

Autos n.º XXXXXXXXXXX.2014.8.16.0030

D E C I S Ã O

1. Ainda que eu seu vacatio legis, a Lei 13. 105/2015 (NCPC), pelo

menos em relação à sua natureza principiológica já admite a sua aplicação ao processo

civil, até mesmo pelo fato de que na maioria das vezes somente positivou princípio já

tratados na doutrina e jurisprudência há vários anos. Ressalte-se que não se trata de

aplicação de lei, antes de sua vigência, o que, por certo violaria os mais fundamentais

princípios de direito, mas sim, a aplicação dos novos princípios previstos no NCPC,

como referência de aplicação da legislação ainda vigente. Como leciona Dierle Nunes1:

O que aqui se defende é que no âmbito

interpretativo os próprios aplicadores, com destaque para os

tribunais (e doutrina), comecem a adaptar seu modo de

interpretar o sistema processual em conformidade com as

novas premissas. (...)

Obviamente, que as disposições normativas

do CPC 2015 indicadas não estão em vigor, mas suas

potencialidades interpretativas são inteiramente aplicáveis,

na atualidade, e seria altamente recomendável que já

começassem a ser utilizadas de modo a reduzir o desgaste

que toda transição gera.

2. A aplicação de princípios positivados no NCPC às decisões

proferidas ainda sob a égide do CPC/73 garante prospectivamente a garantia de

coerência no sistema, evitando-se para o futuro contradições desnecessárias no

sistema. Como leciona Humberto Ávila2, sobre o postulado da coerência do sistema

jurídico:

1 NUNES, Dierle. Interpretação processual já deveria considerar conceitos do novo CPC. Disponível em

http://goo.gl/X6cQa9, acesso em 27/04/2015 2 ÁVILA, Humberto. Teoria dos princípios: da definição à aplicados dos princípios jurídicos. Malheiros, 14ª ed. p.97148

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A conexão de sentido ou a relação de

dependência entre as normas é um reconhecido postulado

hermenêutico: trata-se de uma condição de possibilidade do

conhecimento a ser necessariamente preenchida na

interpretação dos textos normativos. A coerência é tanto um

critério de relação entre dois elementos como uma

propriedade resulta dessa mesma relação.

3. Partindo dessa premissa, tem-se que aos presentes autos são

aplicáveis os artigos 9º e 10º do CPC/153, que garantem a necessidade de preservação

do contraditório pleno por meio da vedação da decisão surpresa4. Como lecionam

Nelson Nery e Rosa Maria Nery5:

“Este dispositivo juntamente com o CPC 10,

veda a chamada decisão surpresa, a qual se baseia em fatos

ou circunstâncias que não eram de conhecimento da parte

prejudicada pela mesma decisão.”

4. Aliás, no direito português, sob a vigência do atual Código de

Processo Civil de 20136, o entendimento é o mesmo acerca da vedação ao julgador de

decidir contra a parte sem lhe oportunizar a manifestação.

5. Destaque-se que, ainda que o Enunciado 057, aprovado no

Seminário - O Poder Judiciário e o Novo Código de Processo Civil da Escola

Nacional de Formação de Magistrados, em correto entendimento, refira que não se

3 Art. 9o Não se proferirá decisão contra uma das partes sem que ela seja previamente ouvida. Parágrafo único. O disposto no caput não se aplica: I - à tutela provisória de urgência;

II - às hipóteses de tutela da evidência previstas no art. 311, incisos II e III; III - à decisão prevista no art. 701. Art. 10. O juiz não pode decidir, em grau algum de jurisdição, com base em fundamento a respeito do qual não se tenha

dado às partes oportunidade de se manifestar, ainda que se trate de matéria sobre a qual deva decidir de ofício. 4 “Verbot der Überraschungsentscheidungen”, na terminologia germânica. 5 Comentários ao Código de Processo Civil, Ed. RT, ano 2015, p. 211 6 Lei n.º 41/2013, de 26 de Junho : Artigo 3.º Necessidade do pedido e da contradição 1 - O tribunal não pode resolver o conflito de interesses que a ação pressupõe sem que a resolução lhe seja pedida por uma das partes e a outra seja devidamente chamada para deduzir oposição.

2 - Só nos casos excecionais previstos na lei se podem tomar providências contra determinada pessoa sem que esta seja previamente ouvida. 3 - O juiz deve observar e fazer cumprir, ao longo de todo o processo, o princípio do contraditório, não lhe

sendo lícito, salvo caso de manifesta desnecessidade, decidir questões de direito ou de facto, mesmo que de conhecimento oficioso, sem que as partes tenham tido a possibilidade de sobre elas se pronunciarem. 4 - Às exceções deduzidas no último articulado admissível pode a parte contrária responder na audiência prévia ou,

não havendo lugar a ela, no início da audiência final. 7 Não viola o art. 10 do CPC/2015 a decisão com base em elementos de fato documentados nos autos sob o contraditório.

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aplica o art. 10º do CPC/15 quando a matéria de fato esteja devidamente documentada

nos autos e dela tenham tido acesso às partes, no caso dos autos entendo necessário

que as partes sejam cientificadas para manifestar-se, posto que, aparentemente a

questão de fato não se encontra devidamente esclarecida.

5. No caso dos autos se vislumbra que a parte autora moveu a ação

contra os profissionais de saúde que lhe atenderam, contudo, do que se observa dos

prontuários de atendimento (mov. 1.9 e 1.10) este atendimento se deu em Posto de

Saúde do Município de Foz do Iguaçu o que, em tese, permitiria a incidência do art. 37,

§6º da CF/88, com reflexos diretos na legitimidade dos réus e da própria competência

do juízo.

6. Assim, esclareçam as partes, em 48(quarenta e oito) horas, se

efetivamente o atendimento prestado pelos réus se deu dentro do sistema único de

saúde pelo Município de Foz do Iguaçu, ou a título privado, após, voltem para decisão.

7. Intimações e diligências na forma do CNCJ.

Foz do Iguaçu, 27 de abril de 2015.

ROGERIO DE VIDAL CUNHA

Juiz de Direito Substituto