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Denuncia mppe mais vida Vereadora Marilia Arraes

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Page 1: Denuncia mppe mais vida Vereadora Marilia Arraes

EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) PROMOTOR(A) DE JUSTIÇA DO MINISTÉRIO

PÚBLICO DE PERNAMBUCO – MPPE

MARILIA VALENÇA ROCHA ARRAES DE ALENCAR PONTES,

brasileira, casada, Vereadora da Cidade do Recife, portadora da cédula de identidade nº

5.882.944-SDS/PE, inscrita no CPF/MF sob o nº 051.617.044-97, com endereço na Rua

Princesa Isabel, 410 - Boa Vista, Recife/PE, vem, perante Vossa Excelência, com amparo no art.

6º, §5º, da Lei Complementar Estadual nº. 12/1994, apresentar a presente REPRESENTAÇÃO

em face de irregularidades na gestão de recursos públicos pela Prefeitura da Cidade do Recife,

conforme passa a expor nas linhas adiante.

O objetivo da presente denúncia é narrar graves indícios de irregularidades

em contratações celebradas entre o Município do Recife e a empresa Mais Vida Serviços de

Saúde LTDA. (CNPJ nº. 13.097.538/0001-08) a partir do ano de 2013, especificamente os

contratos nº. 4801.0258/2013 e 4801.0059/2014, cujos objetos consistem na prestação de

“SERVIÇO DE LOCAÇÃO DE VIATURAS DO TIPO AMBULÂNCIA, SUPORTE BÁSICO,

COM CONDUTOR, COM MEDICAMENTOS E EQUIPAMENTO, COM MANUTENÇÃO

PREVENTIVA E CORRETIVA”.

Consoante será demonstrado mais adiante, e à luz da documentação que

segue em anexo, são fortes os indícios de irregularidades na contratação da referida empresa, em

decorrência de dispensa irregular de licitação, fraude em licitação, e violação aos princípios

constitucionais da legalidade, moralidade e impessoalidade. Para demonstrar as diversas

ilegalidades cometidas com o flagrante intuito de beneficiar a empresa contratada e de fraudar a

licitação, é preciso inicialmente realizar breve digressão fática com o intuito de contextualizar

os eventos que demonstram as irregularidades cometidas pela gestão pública municipal na

aplicação de recursos próprios e do Sistema Único de Saúde – SUS.

Inicialmente, importante relembrar que, no ano de 2012, tornou-se pública a

chamada Operação Assepsia, que investigou um grave esquema de fraudes em licitações e

desvio de recursos públicos na gestão da saúde em Natal, Rio Grande do Norte. Segundo apurou

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o Ministério Público em suas investigações, o esquema funcionou entre os anos de 2010 e 2012

e desviou R$ 24 milhões dos cofres da Prefeitura de Natal, conforme amplamente noticiado pela

imprensa naquela oportunidade (Anexo 01).

Em outubro de 2012, em virtude das irregularidades apuradas pela Operação

Assepsia, a Justiça do Estado do Rio Grande do Norte determinou o afastamento da então

prefeita de Natal, Micarla de Sousa, que não chegou sequer a concluir o seu mandato, tendo em

vista a seriedade das irregularidades que cometeu em processos licitatórios na área da saúde

(notícias da época – Anexo 02).

Dentre as empresas envolvidas no escândalo de Natal, está o Instituto de

Tecnologia, Capacitação e Integração Social – ITCI, empresa de fachada que agia em conjunto

com outros interessados para fraudar as licitações em Natal e promover o desvio milionário de

recursos públicos. O esquema está detalhado na denúncia apresentada pelo Ministério Público

do Rio Grande do Norte – MPRN à Justiça (Anexo 03) e em várias notícias veiculadas à época

(Anexo 04).

Conforme se verifica da denúncia do Ministério Público (Anexo 03), a

empresa de fachada ITCI era representada pelos sócios Eugênio Pereira Lima Filho e Myriam

Elihimas Lima, que também foram denunciados e respondem processo na Justiça do Rio Grande

do Norte pela prática dos crimes de dispensa indevida de licitação, falsidade ideológica,

peculato e corrupção (Anexo 04). O processo criminal referente à operação assepsia se encontra

em curso perante a Justiça Federal do Rio Grande do Norte aguardando a sentença do Juiz da 2ª

Vara, conforme extrato processual (Anexo 05) e notícias mais recentes (Anexo 06).

Não satisfeitos com o vasto esquema criminoso que armaram em Natal em

conjunto com a Prefeita Micarla de Sousa, os proprietários do ITCI, Eugênio Pereira Lima Filho

e Myriam Elihimas Lima, vieram a Recife e montaram a empresa Mais Vida Serviços de

Saúde LTDA., possivelmente já com o intuito de obter vantagens indevidas na celebração de

contratos com a administração pública municipal. Conforme se verifica do Contrato Social,

ainda em fevereiro de 2012 eles montaram a Mais Vida após promoverem a alteração do

contrato social da FK Tecnologia e Assessoria em Informática LTDA (Anexo 07).

Além disso, demonstrando que a Mais Vida é um verdadeiro braço da ITCI

que participou do esquema fraudulento em Natal, temos que uma das suas sócias, a empresa

Êxito Gestão de Participações Societárias LTDA. está localizada no mesmo endereço da ITCI

em Recife (conforme cartões de CNPJ – Anexo 08)

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O contrato social da empresa e uma procuração pública passada em

08.07.2014 comprovam que Eugênio Pereira Lima Filho e Myriam Elihimas Lima, os mesmos

que estão respondendo a processo criminal em Natal por diversos crimes em licitações, são

representantes legalmente constituídos da Mais Vida Serviços de Saúde LTDA. (Anexo 09).

Em outubro de 2013, pouco mais de um ano após ter sido denunciado o

grave esquema de desvio de recursos públicos de Natal, a Prefeitura do Recife contratou a

empresa de Eugênio Pereira Lima Filho e Myriam Elihimas Lima, Mais Vida Serviços de

Saúde LTDA., através de inexigibilidade de licitação ao argumento de emergência na

prestação do serviço, firmou com o Município do Recife o Contrato 4801.0258/2013.

Assim, sem realizar processo licitatório, e sem justificar devidamente os fundamentos que

justificariam a suposta emergência, a Prefeitura do Recife celebrou com a empresa cujos

representantes estão envolvidos em esquema milionário de desvio de recursos públicos, contrato

no valor de R$ 708.455,44, para a “prestação de serviços de viaturas do tipo ambulância,

suporte básico, com condutor, com medicamentos e equipamento, com manutenção preventiva e

corretiva”, conforme consta do próprio portal da transparência do Recife (Anexo 10).

Ou seja, sem sequer promover licitação, a Prefeitura entregou a pessoas

recentemente envolvidas em fraudes na saúde de Natal os serviços de ambulância do Recife

pelo preço de R$ 708.455,44, indicando dispensa indevida de licitação para favorecer a empresa

que já se envolvera anteriormente em fraudes de licitações na área da saúde em Natal. Após a

análise dos documentos relativos à dispensa de licitação, Vossas Excelências poderão verificar

se houve efetivo intuito de fugir do certame concorrencial, bem como falta de zelo com os

recursos públicos no intuito de celebrar contrato com pessoas envolvidas em escândalo

milionário de fraudes em contratos também na área da saúde.

Mais adiante, após transcorrida a vigência do primeiro contrato, a Prefeitura

celebrou um novo Contrato com a Mais Vida (nº. 4801.0059/2014), dessa vez pelo prazo de 12

meses, pelo valor global de R$ 2.499.951,95, também para a execução de serviço de locação de

viaturas do tipo ambulância, suporte básico, com condutor, com medicamentos e equipamento,

com manutenção preventiva e corretiva (registro do contrato no portal da transparência – Anexo

11)

Aliás, conforme se observa do registro do segundo contrato celebrado com a

Mais Vida, consta expressamente no cadastro da Prefeitura do Recife que a representante legal

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da empresa é Myriam Elihimas Lima (Anexo 11), cujo envolvimento nas fraudes de licitação

em Natal é inegável.

Ademais, é igualmente curioso que uma das empresas a fornecerem

orçamento para balizar o preço admissível no certame foi a Boa Viagem Locadora de Veículos

LTDA. – ME, localizada na Rua Ondina, 153, sala 109, Pina, Recife/PE, mesmo endereço da

empresa ATL Gestão e Participação LTDA., que é uma das sócias da Mais Vida Serviços de

Saúde LTDA. (que veio a sair vencedora da licitação) – vide cartões de CNPJ das duas

empresas – Anexo.

Evidenciando que possui uma sólida relação com a empresa que participou

do esquema de desvio de recursos em Natal, a Prefeitura publicou no Diário Oficial do dia

08.08.2015 extrato de termo aditivo ao Contrato 059/2014, prorrogando a sua vigência por mais

12 meses (Anexo 12). É preciso apurar o direcionamento do pregão para a empresa Mais Vida,

tendo em vista que o seu elevado grau de envolvimento em fraudes recentes, a sua constituição

recente, e o prévio contrato por inexigibilidade seguido por vitórias sucessivas em pregões

promovidos pelo Município evidenciam, no mínimo, alguma predileção pela empresa que

acabou vencendo o certame.

Além disso, no final de 2014 a Prefeitura deflagrou o pregão eletrônico nº.

020/2014 para realizar o “registro de preços para a contratação de empresa especializada na

prestação de serviços de locação de ambulância do tipo ‘D’ – Unidade de Suporte Avançado –

com gerenciamento operacional, incluindo motorista devidamente habilitado, para transporte de

pacientes”. Mais uma vez, a Mais Vida sagrou-se vencedora da licitação, com a proposta no

valor de R$1.979.280,00 (Anexo 13).

Mais adiante, comprovando que a Mais Vida é curiosamente detentora de

todos os contratos de locação de ambulâncias em Recife, essa empresa venceu também o Pregão

Eletrônico nº. 004/2015, cujo objeto é a “contratação de empresa especializada na prestação de

serviço de remoção de pacientes, através de ambulância do tipo "B" - Unidade de Suporte

Básico - 01 (um) lote, para atender as necessidades da Secretaria de Saúde da Prefeitura do

Recife”, pelo valor de R$ R$ 1.450.500,00, conforme resultado publicado no Diário Oficial do

dia 06.08.2015 (Anexo 14).

Como se vê, desde outubro de 2013, quando celebrou um primeiro

contrato por inexigibilidade de licitação (pouco tempo após ser fundada por pessoas que

respondem a sérios crimes de fraudes em licitações em Natal/RN), a empresa Mais Vida

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Serviços de Saúde LTDA. se tornou uma verdadeira parceira da Prefeitura do Recife,

passando firmado posteriormente contratos milionários e vencido todos os pregões

deflagrados para serviços de ambulâncias.

É muito grave e precisa ser apurada com minúcias por pelo Parquet a

situação atualmente encontrada, pois uma empresa que foi contratada sem licitação e que vem

monopolizando todos os contratos do Recife tem seus representantes legais envolvidos em um

esquema de desvio de recursos públicos de grandes proporções que chegou a afastar o cargo a

então Prefeita de Natal. Existem fortes indícios que de trata-se de pessoas inidôneas, que

respondem a graves acusações de fraude em licitações, falsidade ideológica, peculato e

corrupção, a quem a Prefeitura do Recife não poderia entregar contratos que somam mais de R$

5 milhões, e cujo objeto envolve locação de ambulâncias para a remoção de pacientes

internados e o resgate de pessoas em risco de vida.

Ademais, convém ressaltar que foi noticiado pela imprensa que o Tribunal

de Contas da Paraíba está apurando possíveis fraudes em licitações daquele Estado que somam

prejuízos da monta de R$ 4 milhões, tendo também o Sr. Eugênio Pereira Lima Filho como

envolvido, segundo informado pelo Jornal da Paraíba e pelo site Click PB

(http://www.clickpb.com.br/noticias/politica/apos-supersalarios-tce-constata-desvio-de-r-4-

milhoes-no-hospital-de-trauma-de-joao-pessoa/).

Em suma, os indícios de irregularidades ora suscitados evidenciam a prática

de atos de improbidade administrativa tipificados no art. 10, incisos VIII e XII, da Lei nº.

8.429/19921 e no art. 11, caput, do mesmo diploma (violação aos princípios da administração

pública). Ademais, após o aprofundamento da denúncia, poderão ser apuradas as práticas dos

crimes tipificados nos arts. 89, 90, 91 e 97 da Lei de Licitações e Contratos Administrativos2.

                                                                                                                         1 Art. 10. Constitui ato de improbidade administrativa que causa lesão ao erário qualquer ação ou omissão, dolosa ou culposa, que enseje perda patrimonial, desvio, apropriação, malbaratamento ou dilapidação dos bens ou haveres das entidades referidas no art. 1º desta lei, e notadamente: VIII - frustrar a licitude de processo licitatório ou dispensá-lo indevidamente; XII - permitir, facilitar ou concorrer para que terceiro se enriqueça ilicitamente;  2 Art. 89. Dispensar ou inexigir licitação fora das hipóteses previstas em lei, ou deixar de observar as formalidades pertinentes à dispensa ou à inexigibilidade: Pena - detenção, de 3 (três) a 5 (cinco) anos, e multa. Parágrafo único. Na mesma pena incorre aquele que, tendo comprovadamente concorrido para a consumação da ilegalidade, beneficiou-se da dispensa ou inexigibilidade ilegal, para celebrar contrato com o Poder Público. Art. 90. Frustrar ou fraudar, mediante ajuste, combinação ou qualquer outro expediente, o caráter competitivo do procedimento licitatório, com o intuito de obter, para si ou para outrem, vantagem decorrente da adjudicação do objeto da licitação: Pena - detenção, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa. Art. 91. Patrocinar, direta ou indiretamente, interesse privado perante a Administração, dando causa à instauração de licitação ou à celebração de contrato, cuja invalidação vier a ser decretada pelo Poder Judiciário: Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa. Art. 97. Admitir à licitação ou celebrar contrato com empresa ou profissional declarado inidôneo:

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Em face do exposto, na qualidade de cidadã e de parlamentar da Cidade do

Recife, requer seja recebida a presente representação e formalizada na forma de procedimento

administrativo próprio que subsidiará a instauração de inquérito civil e criminal para apurar as

irregularidades apontadas neste momento, tomando-se as providências que o Ministério Público

entender cabíveis o intuito de ressarcir os prejuízos do erário e de punir as irregularidades

administrativas, civis e criminais incorridas pelos envolvidos.

Pede deferimento.

Recife, 08 de setembro de 2015

Marília Valença Rocha Arraes de Alencar Pontes

Vereadora do Recife

                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                     Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa. Parágrafo único. Incide na mesma pena aquele que, declarado inidôneo, venha a licitar ou a contratar com a Administração.