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Histórico da Política de Histórico da Política de Atendimento à Criança e ao Atendimento à Criança e ao adolescente no Brasil adolescente no Brasil Secretaria de Estado da Criança e da Juventude Secretaria de Estado da Criança e da Juventude CENSE – Regional Laranjeiras do Sul CENSE – Regional Laranjeiras do Sul

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A historicidade do Estatuto da Criança e do Adolescente

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Histórico da Política de Histórico da Política de Atendimento à Criança e ao Atendimento à Criança e ao

adolescente no Brasiladolescente no Brasil

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Evolução Histórica

• O Brasil Colônia e a Descoberta da Infância:

•Até o Século XVII a Infância não havia sido descoberta

• Incapacidade social de não ter, não ser, não poder

•Infância do latim Infans = quem não fala, não tem voz

• Início do Século XVIII: frustrada tentativa de dominação, civilização e controle das crianças indígenas

• Proliferação da escravidão negra

• Primeiros indícios de crianças abandonadas

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Representações Sociais da Infância

• Infância enquanto construção confeccionada a partir de uma dada estrutura social;

• Adultos em miniatura – mera fase de transição

• Condição de acordo com a classe social pertencente

• Históricamente nas relações sociais a criança aparece sempre com postura passiva perante uma figura geralmente masculina

• Adultocentrismo => machismo => homofobismo => racismo => valores éticos da elite burguesa

• Intervenção do Estado = Educação pelo medo

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Representações Sociais da Infância

• Criança e adolescente como Objeto de Proteção social => sobrevivência infantil => política do abandono

• Criança e adolescente com objeto de controle e Disciplinamento Social => higienista

• Criança e adolescente como Objetos de Repressão Social => tem como objeto principal adolescentes não absorvidos pelo mercado de trabalho, nem pelo sistema educacional formal, geralmente pobres, que culminam em práticas de infrações penais => Doutrina da Situação Irregular.

• Criança e adolescente como Sujeitos de Direito => Doutrina da Proteção Integral

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Rodas dos Expostos, Caridade e Filantropia

• Elevado índice de mortalidade infantil

• 1693 – Câmaras Municipais tinham a responsabilidade de assistir às crianças enjeitadas

• 1726 – Santa Casa de Misericórdia de Salvador BA: 1ª Roda dos Expostos

• Crianças acolhidas e criadas/exploradas por outras famílias

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• Iniciativas de orientação à população pobre a fim de domesticar a criança e o adolescente visando afastá-los do perigo da vadiagem e da prostituição, transformando-os em classe trabalhadora

• Salvaguarda dos padrões de moral pública e familiar da época

• Negócio lucrativo aos burladores do sistema

Lei dos Municípios de 1828

•Retira o poder das Municipalidades e comunidade local

• Coloca as Rodas à serviço do Estado

• Exime as Câmaras de suas responsabilidades

• Incentiva particulares a assumir a responsabilidade

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Responsabilidade Penal e Correção/Repressão

• Crescente presença de meninos e meninas nas ruas

• Deixam de inspirar piedade e passam a ser incômodo a sensibilidade das elites

• Criação de Instituições de Internação

• Novo sistema de controle jurídico, correcional, repressivo, higienista e asilar em nome da proteção da sociedade

• “Menores Vagabundos” = “Criminosos em embrião”

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Código Criminal de 1830

• Mendicância e vadiagem passam a figurar como crime

• Recolhimento a casa de correção para adolescentes dos 14 aos 17 anos

•É conferido ao Juiz poder soberano para definir quem era ou não criminoso e quem estava sujeito as penas

• Estratégia de controle para camadas livres pobres

• Intervenção do Estado para a formação de trabalhadores dóceis

• Abolição da escravidão: medidas para forçar pobres e libertos ao trabalho agrícola

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Surgimento do “Menor”

• O “menor” atinge bens ou interesses jurídicos tutelados

• Ingresso do “menor” no direito através de suas condutas danosas

• Castigo como idéia inicial e depois “proteção”

• Diferença entre as Categorias Criança e “Menor”

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Assistência Estatal, Vigilância e Controle

• Fins do Século XIX: Abolição da Escravidão, Proclamação da República 1889

• Insuficiência e ineficiência, além da velada exploração das assistências caritativas e filantrópicas

• Transformações sócio-políticas e econômicas no país: surge a necessidade de uma legislação social oficial que regulamentasse a prestação de assistência aos “menores”, concebendo-a como sócio-jurídica

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• Responsabilização do Estado

• Tentativa de estabelecer uma “nova ordem social” através do policiamento de tudo que fosse causador de “desordem física e moral”

• Conceito de infância abandonada “moralmente” como potencialmente perigosa para a sociedade

• Proposta de um novo sistema de “reeducação e tratamento”

• Idéia de disciplinar a caridade para exercer uma ação útil e produtiva fundamentado na ciência, preponderante até 1964, quando começa a fase do Estado de Bem-estar do Menor

• Caridade x Filantropia= disputa política e econômica

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Juízo de Menores e Assistência Jurídico-Sócio-Educativa

• Centralidade dos Poderes no Juízo Privativo de Menores (1923)

• Estado obrigado a invadir a esfera da família sempre que julgar necessário para promover a segurança da criança e do adolescente

• Juiz de Menores: compunha o processo e julgava sem a intervenção de advogado

• Criação dos Abrigos de Menores e do Conselho de Assistência e Proteção aos Menores

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Código de Menores de 1927 (Código Mello Matos)

• Afasta-se a responsabilidade penal dos menores de 18 anos, “substituindo” a repressão pela “reeducação através do isolamento” que deve ser um espaço de “reflexão, reforma e submissão total”

• Fracasso e ineficiência da política e das instituições de atendimento

• Em 1941 surge o Serviço de Assistência ao Menor / SAM, sem fugir das práticas autoritárias e correcional-repressiva como forma de “proteção”

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• O SAM funcionou como o equivalente ao Sistema Penitênciário para a população “menor” até 1945

• Com o fracasso, corrupção, promiscuidade e violência do SAM, durante a ditadura militar - em que a pobreza e a participação social da população oferecem risco a Segurança Nacional -, a infância adquire o status de “Problema Social” e a Assistência assume o caráter de política nacional a ser formulada, implantada e executada pela Fundação do Bem Estar do Menor (FUNABEM) a partir de 1964

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Fundação do Bem-Estar do Menor (FUNABEM)

• Nasce no bojo da Escola Superior de Guerra e sucede o SAM no controle do indivíduos

• Deve agir como uma “casa de educação dos menores” fundamentada nas diretrizes e princípios da Declaração Universal dos Direitos da Criança de 1959, entretanto não perde o seu caráter correcional-repressivo, assim como suas congêneres Estaduais, as chamadas FEBEMs

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Doutrina da Situação Irregular

• Afirmada desde o Código de Menores de 1927, prevê situações de irregularidade: vadiagem, mendicância, delinqüência, etc

• Criança e Adolescente compreendidos e “tratados” como objetos, passiveis da aplicação de medidas jurídicas e sociais impostas verticalmente pelo juiz de menores

• A situação do “menor” era vista como condição natural da orfandade ou vista como incompetência das famílias pobres de cuidar de seus filhos

• Ausência, pobreza e desestrutura familiar como responsáveis pela existência do “menor”

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Código de Menores de 1979

• Reafirma a Doutrina da Situação Irregular

• Discussões pela constituinte da Infância em todo o mundo sobre o projeto Polonês que deu origem a Convenção da ONU sobre os Direitos da Criança (1989).

• O movimento social pela proteção dos direitos da criança e do adolescente é recente no palco das lutas sociais no Brasil, sem espaço para atuar dentro da Ditadura Militar. Mesmo assim pressiona o Poder Público a não atuar mais sozinho

• Participação social limitada à cooperação e execução do atendimento

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Constituição Federal (1988) e Garantismo de Direitos

• Define o Brasil como Estado Democrático de Direito, com fundamento na cidadania, na dignidade da pessoal humana, no poder emanado do povo (art. 1º) e objetivos fundamentais na construção de uma sociedade livre, justa e solidária, na erradicação da pobreza e redução das desigualdades sociais e na promoção do bem estar de todos, sem preconceitos ou discriminação (art. 3º)

• Inaugura uma nova fase de proteção sócio-jurídica da criança e do adolescente ao compreendê-los como sujeitos de direitos e credores de todos os direitos fundamentais e da proteção integral e especial

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Doutrina da Proteção Integral

• A Constituição Federal estabelecendo a Doutrina da Proteção Integral (garantista), estabelece a co-responsabilidade entre Família, Estado e Sociedade pela garantia e defesa dos direitos de todas as Crianças e Adolescentes (art. 227), com absoluta prioridade.

• Prevê as diretrizes da Descentralização Político-Administrativa e da Participação Popular, por meio de organizações representativas, na formulação e no controle das ações nos diversos níveis de governo (art. 227, § 7 c/c art. 204, I e II

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Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos da Criança e do Adolescente

• A Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos da Criança consagra a doutrina da Proteção Integral à infância

• Sua importância reside na revogação da antiga concepção tutelar, trazendo a criança e o adolescente para uma condição de sujeito de direito, de protagonista da própria história, possuidor de direitos e obrigações, e dando um novo funcionamento à Justiça da Infância e da Juventude.

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Principais características da Doutrina da Proteção Integral:

• É dever da família, da sociedade, da comunidade e do Estado restabelecer o exercício do direito da criança que é ameaçado ou violado;

• Determina a situação de irregularidade do Estado, da sociedade ou da família, e não mais da própria criança, em caso de violação ou ameaça do seu direito;

• A política pública em benefício da criança deve ser descentralizada e focalizada no município (municipalização do atendimento);

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Principais características da Doutrina da Proteção Integral:

• As crianças já não são mais pessoas incompletas, mas sim pessoas completas que possuem a particularidade de encontrarem-se em desenvolvimento.

• Apoio institucional à família: condição mínima a ser estabelecida por políticas públicas sérias e permanentes ao pleno exercício do direito fundamental à convivência familiar e comunitária – art. 19, do Estatuto –,

• Incorporada no texto constitucional, integra o Estatuto da Criança e do Adolescente;

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Principais características da Doutrina da Proteção Integral:

• Como o Estatuto baseia-se no princípio de que todas as crianças e adolescentes desfrutam dos mesmos direitos e sujeitam-se a obrigações compatíveis com a peculiar condição de desenvolvimento, rompe-se definitivamente com a idéia de que os Juizados de Menores seriam uma justiça para os pobres.

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Estatuto da Criança e do Adolescente

• Lei Federal 8.069 de 13 de julho de 1990

• Define os direitos da Criança e do Adolescente

• Prevê métodos e instrumentos de exeqüibilidade aos novos princípios constitucionais

• Cria os Conselhos e os Fundos dos Direitos da Criança e do Adolescente (art. 88, II e IV) e o Conselho Tutelar (art. 131), órgãos obrigatórios em todos os municípios (arts. 132 e 261, parágrafo único)

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Estatuto da Criança e do Adolescente

• Livro I, Parte Geral: afirmação de todos os direitos da Criança e do Adolescente, divididos em cinco capítulos, sendo:

- I Vida e saúde (arts. 7º a 14); II Liberdade, respeito e dignidade (arts. 15 a 18); III Convivência familiar e comunitária (arts.19 a 52); IV Educação, cultura, esporte e lazer (arts. 53 a 59); V Profissionalização e proteção no trabalho (arts. 60 a 69)

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Estatuto da Criança e do Adolescente

• Já em seu Livro II – Parte especial, trata da política de atendimento (arts. 86 a 97); das medidas de proteção (arts. 98 a 102), medidas aos pais ou responsável (arts. 129 e 130); do Ato Infracional (arts.103 a 128); do Conselho Tutelar (arts. 131 a 140); do acesso à justiça (arts. 141 a 224) e dos crimes e infrações administrativas (arts. 225 a 258).

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Conselho dos Direitos da Criança e do Adolescente

• Órgão deliberativo e controlador das ações nos níveis municipal, Estadual e Nacional, “assegurada a participação popular paritária por meio de organizações representativas (art. 88)

• Seus membros exercem função considerada de interesse público relevante e não são remunerados

• Além de seu papel formulador e deliberador da política de atendimento dos direitos da Criança e do Adolescente, cabe ao Conselho gerir os recursos do Fundo a ele vinculado, fixando os critérios de utilização das receitas (art. 260, § 2º)

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Conselho dos Direitos da Criança e do Adolescente

• Cabe também ao Conselho o registro das entidades não-governamentais de atendimento (art. 91) e as inscrições e alterações dos programas e regimes de atendimento das entidades governamentais e não-governamentais (art. 90)

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Fundo dos Direitos da Criança e do Adolescente

• O Fundo dos Direitos da Criança e do Adolescente, previsto também nos níveis estadual e nacional é uma concentração de recursos, proveniente de várias fontes, que se destina à promoção e defesa dos direitos de crianças e adolescentes, conforme dispuser a lei municipal

• Cabe ao Conselho de Direitos elaborar os planos de ação e aplicação dos recursos do Fundo para integrarem o orçamento do município. Existem também outras formas de receita como doações, multas e transferências dos Fundos Estadual e Nacional

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Conselho Tutelar

• O Conselho Tutelar é órgão colegiado não jurisdicional, composto de cinco membros escolhidos pela comunidade local para mandato de três anos, encarregados pela sociedade de zelar pelo cumprimento dos direitos da Criança e do Adolescente definidos no Estatuto

• Da concretude à diretriz constitucional da Democracia Participativa, uma vez que assegura a participação da população na administração das questões públicas

• Funciona com recursos previstos na Lei Orçamentária Municipal, vinculado à administração pública Municipal

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Conselho Tutelar

• É autônomo - sem hierarquia ou subordinações -, para atender crianças, adolescentes e suas famílias, aplicar medidas de proteção aos pais ou responsável, requisitar serviços públicos, encaminhar notícias ao Ministério Público e casos de competência da Autoridade Judiciária e representar a esses orgâos (art. 136, I a XI)

• Deve também colocar a salvo de toda ameaça, risco pessoal e/ou social toda Criança e Adolescente, contribuindo para a “construção de uma sociedade livre , justa e solidária, na erradicação e na redução das desigualdades sociais, e na promoção do bem de todos, sem preconceitos ou discriminação

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Conselho Tutelar

• Cabe ao Conselho Tutelar exercer ações de proteção coletiva e difusa que envolvam toda criança e adolescente, tais como:

- Participar de Fóruns;

- Divulgar a Doutrina da Proteção Integral e o Estatuto;

- Conscientizar e mobilizar a sociedade em geral;

- Pressionar as estruturas políticas, econômicas e sociais;

- Cobrar para que haja atendimento prioritário as Direitos de crianças e Adolescentes

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Conselho Tutelar

• Cabe ao Conselho Tutelar exercer ações de proteção coletiva e difusa que envolvam toda criança e adolescente, tais como:

- Assessorar o Poder Executivo na elaboração de proposta orçamentária para planos e programas de atendimento;

- Indicar aos Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente as carências de políticas públicas e as necessidades de investimento;

- Fiscalizar as entidades de atendimento.

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Conclusão I

• Podemos observar que a política para a infância pobre se articula ao processo de desenvolvimento capitalista, inserindo-se na heterogeneidade econômica das várias formas de produção, mantendo a divisão social de classes, a desigualdade e a política de disponibilidade de mão-de-obra, com exploração sistemática da mão-de-obra infanto-juvenil.

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Conclusão II

• o reconhecimento da criança e do adolescente como cidadãos mudou o marco de referência legal, mas foi a ampla mobilização da sociedade pelos direitos infanto-juvenis que propiciou a elaboração de novas políticas vinculadas à Criança e ao Adolescente.

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Conclusão III

• As organizações de crianças e adolescentes podem constituir-se em verdadeiros movimentos sociais, tais movimentos sociais têm assim o desafio de se firmarem enquanto organizações de crianças e adolescentes, e não somente de adultos que lutam pelos direitos da infância. Isso implica em uma mudança profunda das relações entre infância e adultos, tradicionalmente marcadas pelo autoritarismo.

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Participar é preciso !!!

“O ato de participar conduz o indivíduo a desenvolver uma consciência de si mesmo, de seus direitos e de pertencer a um grupo ou comunidade. A participação tem a ver com a possibilidade de tomar decisões com liberdade e não somente com o ato de contrair responsabilidades econômicas ou de qualquer outro tipo. A dignidade e a autodeterminação são características da participação”.

MORFIN, Stoopen; CORONA, Yolanda Caraveo. Participación infantil y juvenil. UNICEF: México, 2001, p. 16.