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MANIFESTAÇÃO SOBRE REFORMA DO DECRETO Nº 8.771/2016 QUE REGULAMENTA A LEI 12.965/2014, MARCO CIVIL DA INTERNET Setembro de 2016 INTRODUÇÃO A Brasscom, Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação, entidade que congrega seleto grupo de empresas fornecedoras de software, soluções e serviços de TIC e que tem como missão trabalhar em prol do desenvolvimento do setor, disseminando seu alcance e potencializando seus efeitos sobre a economia e o bem-estar social. É inquestionável o importante papel que a Internet tem na sociedade atual, tanto como viabilizadora de inclusão social quanto indutora de inovação e avanço tecnológico. Com efeito, a Lei nº. 12.965, de 23 de abril de 2014, representa um importante avanço no tocante aos princípios que norteiam a Internet no Brasil e ao regramento das relações jurídicas e responsabilidades entre os diversos atores sociais envolvidos. A Brasscom serve-se desta oportunidade para manifestar-se sobre a necessidade de reformar o referido decreto, com alteração e revogação de alguns artigos que são detalhados na sequência. Os aspectos envolvidos nas alterações podem inibir e prejudicar o desenvolvimento da economia da Internet. NOTAÇÃO DAS ALTERAÇÕES PROPOSTAS E RESPECTIVAS JUSTIFICATIVAS Adotamos uma solicitação bastante pontual, reunindo um conjunto de modificações de maior relevância ou de aperfeiçoamento do texto e algumas modificações que são decorrentes da extrapolação de limites do decreto, tais justificativas são sumarizadas em cada artigo. No intuito de melhor fundamentar as proposições manifestadas neste documento, a Brasscom se coloca à disposição para esclarecimentos adicionais ou mais detalhados. Adota-se a seguinte notação: Fragmento de texto taxado Propõe-se a eliminação do fragmento de texto no Decreto; Fragmento de texto sublinhado Propõe-se que o fragmento de texto seja acrescentado ao Decreto. [...] Brasscom - Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação document.docx 1/4

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MANIFESTAÇÃO SOBRE REFORMA DO DECRETO Nº 8.771/2016

QUE REGULAMENTA A LEI 12.965/2014, MARCO CIVIL DA INTERNET

Setembro de 2016

INTRODUÇÃO

A Brasscom, Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação, entidade que congrega seleto grupo de empresas fornecedoras de software, soluções e serviços de TIC e que tem como missão trabalhar em prol do desenvolvimento do setor, disseminando seu alcance e potencializando seus efeitos sobre a economia e o bem-estar social.

É inquestionável o importante papel que a Internet tem na sociedade atual, tanto como viabilizadora de inclusão social quanto indutora de inovação e avanço tecnológico. Com efeito, a Lei nº. 12.965, de 23 de abril de 2014, representa um importante avanço no tocante aos princípios que norteiam a Internet no Brasil e ao regramento das relações jurídicas e responsabilidades entre os diversos atores sociais envolvidos.

A Brasscom serve-se desta oportunidade para manifestar-se sobre a necessidade de reformar o referido decreto, com alteração e revogação de alguns artigos que são detalhados na sequência. Os aspectos envolvidos nas alterações podem inibir e prejudicar o desenvolvimento da economia da Internet.

NOTAÇÃO DAS ALTERAÇÕES PROPOSTAS E RESPECTIVAS JUSTIFICATIVAS

Adotamos uma solicitação bastante pontual, reunindo um conjunto de modificações de maior relevância ou de aperfeiçoamento do texto e algumas modificações que são decorrentes da extrapolação de limites do decreto, tais justificativas são sumarizadas em cada artigo.

No intuito de melhor fundamentar as proposições manifestadas neste documento, a Brasscom se coloca à disposição para esclarecimentos adicionais ou mais detalhados. Adota-se a seguinte notação:Fragmento de texto taxado

Propõe-se a eliminação do fragmento de texto no Decreto;Fragmento de texto sublinhado

Propõe-se que o fragmento de texto seja acrescentado ao Decreto.[...]

Refere-se à manutenção do fragmento de texto original do Decreto.

CAPÍTULO IIDA NEUTRALIDADE DE REDE

ART. 3ºArt. 3º A exigência de tratamento isonômico de que trata o art. 9º da Lei nº 12.965, de 2014, deve garantir a preservação do caráter público e irrestrito do acesso à da natureza aberta da internet e os fundamentos, princípios e objetivos

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do uso da internet no País, conforme previstos na Lei nº 12.965, de 2014, Arts. 2º, 3º e 4º. 

JUSTIFICATIVA Em se tratando da Internet, fenômeno com intensa dinâmica de evolução

e transformação tecnológica, com impactos sociais e econômicos, o decreto deve pressupor a observância dos princípios estatuídos na lei e a latitude exegética quanto ao sopesamento de princípios. O acesso à Internet é considerado Serviço de Valor Agregado, à luz do Art. 61 e seu §1º, da Lei nº 9.472/1997, LGT. No tocante à neutralidade de rede, importa preservar a natureza aberta e não discriminatória da Internet, conforme disposto no Art. 2º, IV, Art. 3º, VII, e no Art. 4º, incisos I e IV, da Lei nº 12.965/2014.

ART. 9º, INCISO I E NOVO INCISO II

Art. 9º Ficam vedadas condutas unilaterais ou acordos entre o responsável pela transmissão, pela comutação ou pelo roteamento e os provedores de aplicação que:I - comprometam o caráter público e irrestrito do acesso à a natureza aberta da internet e os fundamentos, os princípios e os objetivos do uso da internet no País;

JUSTIFICATIVAO acesso à Internet é considerado Serviço de Valor Agregado, à luz do Art.

61 e seu §1º, da Lei nº 9.472/1997, LGT. No tocante à neutralidade de rede, importa preservar a natureza aberta e não discriminatória da Internet, conforme disposto no Art. 2º, IV, Art. 3º, VII, e no Art. 4º, incisos I e IV, da Lei nº 12.965/2014.

ART. 10 E NOVO PARÁGRAFO ÚNICO

Art. 10.  As ofertas comerciais e os modelos de cobrança de acesso à internet devem preservar a uma internet única, de natureza aberta, plural e diversa da Internet, baseada na livre iniciativa e na liberdade de modelos de negócios, e compreendida como um meio para a promoção do desenvolvimento humano, econômico, social e cultural, contribuindo para a construção de uma sociedade inclusiva e não discriminatória.  Parágrafo único. As ofertas e modelos de prestação de serviços com tráfego gratuito ou de qualquer forma subsidiado são permitidas desde que não impliquem em discriminação ou degradação técnica do tráfego de aplicações de terceiros.

JUSTIFICATIVAAtravés dos modelos de negócios inovadores é possível oferecer, aos

consumidores economicamente menos favorecidos, o acesso à Internet com tráfego gratuito ou parcialmente subsidiado, viabilizadas por modelos alternativos de precificação ou pagamento, incluindo, mas não se limitando a modelos de conteúdo patrocinado, propaganda e pagamentos indiretos. A regulamentação do Marco Civil da Internet não deve vedar modelos subsidiados

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de oferta, em linha com a aplicação dos seus próprios princípios e diretrizes, tais como: os direitos humanos, o desenvolvimento da personalidade e o exercício da cidadania em meios digitais (art. 3º, II); a abertura e a colaboração (art. 3º, IV); a liberdade dos modelos de negócios promovidos na internet (art. 3º, VIII); e a expansão e uso da Internet no Brasil (art. 24, inciso II).

CAPÍTULO IIIDA PROTEÇÃO AOS REGISTROS, AOS DADOS PESSOAIS E ÀS COMUNICAÇÕES

PRIVADASSEÇÃO II

PADRÕES DE SEGURANÇA E SIGILO DOS REGISTROS, DADOS PESSOAIS E COMUNICAÇÕES PRIVADAS

ART. 13, § 2º E NOVO § 3º

Art. 13 [...]§ 2º Tendo em vista o disposto nos incisos VII a X do caput do art. 7º da Lei nº 12.965, de 2014, os provedores de conexão e aplicações devem reter a menor quantidade necessária, possível de dados pessoais, comunicações privadas e registros de conexão e acesso a aplicações para consecução das finalidades ofertadas, os quais deverão ser excluídos:I - tão logo atingida a finalidade de seu uso; ou§ 3º No tocante ao disposto no artigo 10º da Lei nº 12.965, de 2014 e seus parágrafos, os provedores de aplicação não são obrigados:I - a armazenar nenhum dado diferente ou além do que seja expressamente disposto em lei; II – a criar vulnerabilidades que comprometam a criptografia ou as medidas de proteção que garantem a segurança de seus sistemas e a privacidade dos usuários.

JUSTIFICATIVA Com o fim de garantir os mais altos padrões de segurança da informação

e a inviolabilidade dos dados, os limites técnicos da aplicação e as escolhas do provedor de aplicação quanto ao armazenamento de dados deverão ser respeitadas. Os provedores de aplicação não devem ser obrigados, em função de dispositivos infralegais, a modificar suas aplicações de forma a criar vulnerabilidades que comprometam a criptografia ou as medidas de proteção utilizadas como forma de garantir a segurança de seus sistemas e a privacidade dos usuários.

ART. 14 E INCISOS

Art. 14.  Para os fins do disposto neste Decreto, considera-se:I - dado pessoal - dado relacionado à pessoa natural identificada ou identificável, inclusive números identificativos, dados locacionais ou identificadores eletrônicos, quando estes estiverem relacionados a uma pessoa; eII - tratamento de dados pessoais - toda operação realizada com dados pessoais, como as que se referem a coleta, produção, recepção, classificação, utilização, acesso, reprodução, transmissão, distribuição, processamento, arquivamento,

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armazenamento, eliminação, avaliação ou controle da informação, modificação, comunicação, transferência, difusão ou extração. 

JUSTIFICATIVAUm decreto não pode inovar sobre a lei que lhe deu causa de existir. A

definição do conceito de dado pessoal e tratamento excede o campo de competência infralegal do decreto em tela, invadindo a esfera legal. Tal se consubstancia pela existência de Projetos de Lei em tramitação no Congresso Nacional versando sobre Proteção de Dados Pessoais. Tema tão específico, de enorme complexidade, e que afeta todos os setores da economia (não só a Internet) deve ser objeto de legislação própria e específica, sendo, inadequada, a via infralegal.

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