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MRV é condenada a pagar taxa de condomínio por entregar imóvel com infiltração

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A MRV Engenharia foi condenada a pagar taxa de condomínio por entregar imóvel com infiltração. Decisão em favor de cliente da empresa, determinada por desembargador da 21ª Vara Cível de Curitiba. Caso queira conhecer melhor nossa atuação, acesse: www.engeladvocacia.com.br

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APELAÇÃO CÍVEL Nº 1.093.144-7, DA 21ª VARA CÍVEL

DO FORO CENTRAL DA COMARCA DA REGIÃO

METROPOLITANA DE CURITIBA.

APELANTES: 1) MRV ENGENHARIA E

PARTICIPAÇÕES LTDA.

2) EVALDO LEANDRO PERUSSOLO

E OUTRA

APELADOS: OS MESMOS

RELATOR: DESEMBARGADOR LUIZ SÉRGIO NEIVA

DE LIMA VIEIRA

REVISOR: DESEMBARGADOR LUIZ ANTÔNIO BARRY

APELAÇÃO CÍVEL – DIREITO CIVIL E PROCESSUAL

CIVIL – AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS

MORAIS E MATERIAIS C/C OBRIGAÇÃO DE FAZER E

REVISÃO CONTRATUAL – COMPROMISSO DE

COMPRA E VENDA – APELO 1 – ALEGAÇÃO DE QUE

NÃO HOUVE ATRASO NA ENTREGA DA OBRA –

DISPOSIÇÃO EXPRESSA EM SENTENÇA NO MESMO

SENTIDO REQUERIDO PELA RECORRENTE –

RETENÇÃO DA QUANTIA REFERENTE AO SINAL DO

NEGÓCIO – ALTERCAÇÃO IMPERTINENTE VISTO

QUE A DEMANDA NÃO VERSA SOBRE A RESCISÃO

DO CONTRATO – FALTA DE INTERESSE RECURSAL

– CONHECIMENTO PARCIAL DO RECURSO – TAXA

COBRADA A TÍTULO DE SERVIÇOS DE ASSESSORIA

E INTERMEDIAÇÃO NO AJUSTE DE FINANCIAMENTO

BANCÁRIO (“TAXA DE ASSESSORIA”) – OBRIGAÇÃO

QUE DEVE SER SUPORTADA POR AQUELES QUE

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Apelação Cível nº 1.093.144-7

CONTRATARAM O SERVIÇO, NO CASO, OS

AUTORES – COMISSÃO DE CORRETAGEM –

LEGITIMIDADE PASSIVA RECONHECIDA – VALOR

QUE NÃO PODE SER CONSIDERADO SINAL DE

NEGÓCIO – CONDENAÇÃO À DEVOLUÇÃO DAS

ARRAS AFASTADA, ANTE A OCORRÊNCIA DE

JULGAMENTO EXTRA PETITA – ABUSIVIDADE DA

CLÁUSULA QUE TRANSFERE AOS PROMITENTES

COMPRADORES A RESPONSABILIDADE PELO

PAGAMENTO DA COMISSÃO DE CORRETAGEM

(ART. 51, INCISOS III E IV, E ART. 54, § 4º, AMBOS DO

CDC) – RESTITUIÇÃO QUE DEVERÁ SE DAR DE

FORMA SIMPLES, POIS NÃO COMPROVADA A MÁ-FÉ

DA PROMITENTE VENDEDORA – “JUROS DE OBRA”,

DEVIDOS DURANTE A FASE DE CONSTRUÇÃO, SEM

AMORTIZAÇÃO DO FINANCIAMENTO – IMÓVEL

ENTREGUE EM OUTUBRO/2011 – PRESUNÇÃO DE

QUE NAQUELA DATA AS OBRAS JÁ HAVIAM

TERMINADO – ATRASO NA AVERBAÇÃO DA

CONCLUSÃO DA OBRA JUNTO À MATRÍCULA DO

IMÓVEL – RÉ QUE NÃO SE DESINCUMBIU DE SEU

ÔNUS DE PROVAR QUE A DEMORA NÃO OCORREU

POR CULPA SUA – CONDENAÇÃO À RESTITUIÇÃO

DAS PARCELAS PAGAS, LIMITADAS ÀQUELAS

RELATIVAS AO PERÍODO COMPREENDIDO ENTRE

OUTUBRO/2011 (QUANDO EFETIVAMENTE

ENTREGUE O IMÓVEL) E MARÇO/2012 (EIS QUE A

PARTIR DO MÊS SEGUINTE PASSOU O MÚTUO A

SER AMORTIZADO) – REEMBOLSO DAS COTAS

CONDOMINIAIS DEVIDO ATÉ QUE O IMÓVEL SEJA

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Apelação Cível nº 1.093.144-7

ENTREGUE EM PERFEITAS CONDIÇÕES DE

HABITABILIDADE – OS COMPRADORES, DESDE A

ENTREGA DAS CHAVES, EM RAZÃO DE

INFILTRAÇÕES, POUCOS DIAS PERMANECERAM NA

POSSE DO BEM, TENDO SIDO IMPEDIDOS DE

DESFRUTAR PLENAMENTE O IMÓVEL ADQUIRIDO –

AFASTADA A CONDENAÇÃO AO PAGAMENTO DO

VALOR CORRESPONDENTE À TROCA DO PISO

LAMINADO, SEJA PORQUE HÁ NECESSIDADE

SOMENTE DA SUBSTITUIÇÃO DO PISO DA SALA E

DO CORREDOR, SEJA PORQUE O REPARO JÁ ESTÁ

COMPREENDIDO NA OBRIGAÇÃO DE FAZER

ORDENADA EM ANTECIPAÇÃO DE TUTELA, SOB

PENA DE CONFIGURAR BIS IN IDEM – LUCROS

CESSANTES – COMPRADORES QUE ESTÃO SENDO

PRIVADOS DA FRUIÇÃO DO IMÓVEL, QUER PARA

MORADIA QUER PARA LOCAÇÃO – CULPA

EXCLUSIVA DA VENDEDORA QUE NÃO O

ENTREGOU EM PERFEITAS CONDIÇÕES DE USO –

DANOS MATERIAIS AQUI CONSISTENTES NOS

ALUGUÉIS QUE PODERIAM TER RECEBIDO SE O

IMÓVEL ESTIVESSE À SUA DISPOSIÇÃO – DANO

MORAL CARACTERIZADO NA ESPÉCIE –

INADIMPLEMENTO QUE NÃO SE RESUMIU À

INEXECUÇÃO CONTRATUAL – ABORRECIMENTOS E

DISSABORES INCOMENSURÁVEIS – QUANTUM

INDENIZATÓRIO MAJORADO – TERMO INICIAL DOS

JUROS DE MORA – DATA DO ACÓRDÃO, QUE

AUMENTOU A IMPORTÂNCIA ARBITRADA –

REDISTRIBUIÇÃO DOS ÔNUS SUCUMBENCIAIS –

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Apelação Cível nº 1.093.144-7

VERBA HONORÁRIA, QUANTO À CONDENAÇÃO,

FIXADA EM PERCENTUAL – APELO 1

PARCIALMENTE CONHECIDO E PARCIALMENTE

PROVIDO – APELO 2 CONHECIDO E PARCIALMENTE

PROVIDO.

VISTOS, relatados e discutidos estes autos de Apelação

Cível nº 1.093.144-7, da 21ª Vara Cível do Foro Central da Comarca da Região

Metropolitana de Curitiba, em que figuram como apelantes 1) MRV

ENGENHARIA E PARTICIPAÇÕES LTDA. e 2) EVALDO LEANDRO

PERUSSOLO E OUTRA e como apelados OS MESMOS.

1. RELATÓRIO

Trata-se de Recurso de Apelação interposto em face da

sentença de fls. 349-358 (CD), que julgou parcialmente procedente o pedido

inaugural, para o fim de condenar a ré: a) ao pagamento de danos morais no

valor de R$ 15.000,00 (quinze mil reais), corrigido monetariamente pelo INPC,

desde a sentença, e acrescido de juros de mora de 1% (um por cento) ao mês,

desde a citação; b) ao pagamento do valor de R$ 2.370,00 (dois mil, trezentos

e setenta reais), correspondente à troca de piso, devidamente atualizado pelo

INPC, incidindo juros de mora de 1% (um por cento) ao mês desde a citação e

multa contratual de 2% (dois por cento); c) ao pagamento de lucros cessantes

consistentes no valor de aluguel pelo período correspondente à mora da

requeria (primeira inundação no imóvel – outubro de 2011) até a data em que o

imóvel foi entregue em perfeito estado de uso, a ser calculado em liquidação de

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Apelação Cível nº 1.093.144-7

sentença por arbitramento, levando-se em conta o preço médio aplicado pelo

mercado, valor este que deverá ser corrigido pelo INPC e acrescido de juros de

mora de 1% (um por cento) ao mês e multa contratual de 2% (dois por cento);

d) a devolver os valores cobrados a título de arras, comissão de corretagem e

taxa de assessoria, corrigidos pelo INPC e acrescidos de juros de mora de 1%

(um por cento) ao mês e multa contratual de 2% (dois por cento) desde a

citação. Pela sucumbência mínima dos autores, restou a ré condenada ao

pagamento das custas processuais e honorários advocatícios, arbitrados em

R$ 2.000,00 (dois mil reais).

Inconformada, a requerida interpôs apelação às fls. 410-

445 (CD), sustentando que não houve atraso na entrega da obra, pois,

consoante o contrato particular de promessa de compra e venda firmado entre

as partes, estava ela prevista para setembro/2011 e a entrega das chaves

ocorreu efetivamente em 1.10.2011, ou seja, dentro do prazo estipulado,

considerando a tolerância de 180 dias. Argumenta, ademais, que os autores

não comprovaram nem a culpa exclusiva da ré nem qualquer dano material

efetivo ou aquilo que deixaram de auferir, tendo inclusive consignado

claramente que o imóvel destinava-se à sua moradia, e não à obtenção de

renda com aluguel. No que tange à corretagem, a apelante aduz que não pode

ser responsabilizada pela comissão, sob pena de enriquecimento sem causa

dos recorridos, já que foram eles os beneficiados pela intermediação e

conclusão do contrato. Assevera, ainda, que o serviço de corretagem foi

prestado por empresa diversa e que inexiste grupo econômico formado pela

apelante e a Apolar Imóveis. Em relação à taxa de assessoria, defende que a

obrigação pelo pagamento é dos próprios contratantes, que tinham

conhecimento prévio de que a taxa ficaria sob seu encargo. Quanto às arras,

argui que a condenação é extra petita, eis que inexiste pedido de devolução

dos valores cobrados a esse título; sustenta, ainda, a possibilidade de retenção

da quantia referente ao sinal do negócio, nos termos dos artigos 418 e 419 do

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Apelação Cível nº 1.093.144-7

Código Civil. No que se refere ao piso, argumenta que os reparos no imóvel já

se iniciaram, faltando pouco para sua conclusão, razão pela qual deve ser

afastada a condenação por dano material. Aduz, ademais, a inocorrência de

dano à esfera extrapatrimonial dos postulantes, que nem sequer foi

comprovado, sendo, portanto, indevida a indenização por danos morais;

subsidiariamente, requer a redução do quantum indenizatório e que os juros de

mora incidam somente a partir da data de seu arbitramento. Pugna, por fim,

pela inversão dos ônus sucumbenciais, ante o princípio da causalidade.

Também irresignados, os autores manejaram recurso às

fls. 460-479 (CD), arguindo que a demandada deve arcar com os juros

específicos da fase de construção (“juros de obra”) incidentes desde a data em

que o imóvel deveria ter sido entregue até a data de averbação do habite-se na

matrícula do imóvel, pois, até a referida averbação, tais valores não

amortizariam a dívida do financiamento contraído junto à Caixa Econômica

Federal. Sustentam, outrossim, que devem ser ressarcidos das taxas

condominiais pagas no período em que o imóvel está na posse da apelada,

isso desde outubro de 2011 até que o bem seja-lhes entregue. Pleiteiam a

majoração do valor arbitrado a título de danos morais, propondo como razoável

a importância de R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais). Requerem, ainda, a

devolução em dobro dos valores pagos a título de sinal de negócio, já que

restou evidente a má-fé da requerida. Rogam também pela majoração da verba

honorária, a fim de que sejam observados os percentuais estabelecidos no art.

20, § 3º, do CPC.

As partes apresentaram contrarrazões às fls. 482-489 e

508-540.

É a breve exposição.

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2. VOTO

2.1. CONHECIMENTO DOS RECURSOS

Quanto à alegação de que não houve atraso na entrega

da obra, o apelo da demandada não comporta conhecimento, haja vista a

inexistência de interesse recursal, pela disposição expressa em sentença no

mesmo sentido ora requerido pela apelante.

O mesmo ocorre quando sustenta a possibilidade de

retenção da quantia referente ao sinal do negócio, nos termos dos artigos 418

e 419 do Código Civil. Isso porque a demanda não versa sobre a rescisão do

contrato firmado, mostrando-se, pois, impertinente o pleito de retenção das

arras.

Destarte, em análise aos pressupostos de admissibilidade

intrínsecos (legitimidade, interesse, cabimento e inexistência de fato impeditivo

ou extintivo) e extrínsecos (tempestividade, regularidade formal e preparo),

conheço parcialmente da apelação interposta pela ré e conheço do recurso

manejado pelos autores, para, na parte conhecida, apreciar-lhes o mérito.

2.2. FUNDAMENTAÇÃO

2.2.1. Taxa de Assessoria

A primeira apelante defende que a obrigação pelo

pagamento da taxa de assessoria é dos próprios contratantes, que tinham

conhecimento prévio de que a taxa ficaria sob seu encargo.

Razão lhe assiste.

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Da análise do termo aditivo colacionado às fls. 151-152

(CD), extrai-se que os promitentes compradores, necessitando contrair

financiamento bancário para a quitação do imóvel, contrataram a promitente

vendedora para prestar-lhes serviços de assessoria e intermediação no ajuste.

Como é cediço, com a contratação desses serviços o

adquirente apresenta a documentação essencial para a realização do

financiamento à empresa contratada, a qual, a partir de então, fica responsável

por todo o trâmite burocrático, até a liberação do financiamento pelo agente

bancário.

Desse modo, o comprador do imóvel, que, por si mesmo,

poderia providenciar o financiamento, vê-se livre de boa parte dos incômodos

advindos do processo, sendo essa a razão de ser da contratação desse tipo de

serviço.

Importante frisar que não se trata de “preparar

documentação para registro”, como afirmado pelos demandantes, mas sim de

reunir os documentos e promover, junto ao banco, o financiamento da unidade

por eles adquirida, o que, por óbvio, não constitui obrigação inerente à

atividade desenvolvida pela promitente vendedora.

Por assim ser, a referida “taxa de assessoria”, que, em

verdade, nada mais é do que a remuneração pela prestação de um serviço,

deve ser suportada por aqueles que o contrataram, no caso, os autores.

2.2.2. Comissão de Corretagem e Arras

No que tange à corretagem, a ré aduz que não pode ser

responsabilizada pela comissão, sob pena de enriquecimento sem causa dos

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recorridos, já que foram eles os beneficiados pela intermediação e conclusão

do contrato. Assevera, ainda, que o serviço de corretagem foi prestado por

empresa diversa e que inexiste grupo econômico formado pela vendedora e a

Apolar Imóveis. Quanto às arras, argui que a condenação é extra petita, eis

que inexiste pedido de devolução dos valores cobrados sob essa rubrica.

Os autores, por sua vez, requerem a devolução em dobro

dos valores pagos a título de sinal de negócio, ao argumento de que restou

evidente a má-fé da requerida.

Compulsando-se os autos, verifica-se que a unidade

imobiliária foi negociada pelo valor de R$ 240.350,00 (duzentos e quarenta mil,

trezentos e cinquenta reais), conforme consta no item 3.1 do quadro resumo do

contrato particular de promessa de compra e venda (fl. 48 – CD), sendo R$

40.350,00 (quarenta mil, trezentos e cinquenta reais) dados como sinal de

negócio e o restante, R$ 200.000,00 (duzentos mil reais), seria objeto de

financiamento (item 4).

Alegam os demandantes, contudo, que a Apolar Imóveis,

na condição de representante da requerida, cobrou-lhes a mais o valor de R$

12.650,00 (doze mil, seiscentos e cinquenta reais).

Dita importância teria sido cobrada a título de comissão

de venda. Entretanto, como os compradores não aceitaram o aumento no

preço da negociação, a Apolar Imóveis teria emitido o recibo de fl. 64 (CD),

consignando que o valor referia-se a “sinal e princípio de pagamento”.

Pois bem.

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Primeiramente, deve-se esclarecer que, não obstante

inexista, de fato, grupo econômico formado pela MRV e a Apolar Imóveis (já

que uma não está sob a direção, controle ou administração da outra), a ré é

parte legítima para figurar no polo passivo da demanda no tocante à comissão

de corretagem e às arras.

É que a hipótese enquadra-se na tipologia denominada de

“redes contratuais”. De acor do com esse conceito, próprio dos negócios

jurídicos contemporâneos, certos contratos são independentes entre si, mas se

conectam pela mesma finalidade almejada. Ocorre um fenômeno de

interligação, de conexidade supracontratual, na medida em que a participação

conjunta de diversos segmentos possibilita uma potencialização nos benefícios

e uma diminuição de riscos existentes no mercado de consumo.

Isso resulta na mitigação do princípio da relatividade dos

contratos (res inter alios acta), ao admitir-se que determinada reivindicação

seja oponível a terceiro, que, embora diretamente não tenha tomado parte na

negociação, vem a também responder pelo descumprimento da avença.

No caso dos autos, a teor do contido à fl. 145 (CD),

previamente à aquisição do imóvel pelos requerentes, houve uma negociação

entre a MRV e a Apolar Imóveis, a fim de facilitar a realização de contratos de

compromisso de compra e venda das unidades disponibilizadas no

empreendimento Spazio Castel Di Bettega.

Muito embora o “sinal de negócio” em questão tenha sido

pago à Apolar Imóveis, em decorrência de um negócio jurídico do qual a MRV

não participou, patente que esta se beneficiou do contrato, na medida em que a

intermediação (corretagem) contribuiu, fomentou e otimizou a venda das

unidades de seu empreendimento.

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A conexidade fica mais evidente quando se observa, no

item 6 do quadro resumo do contrato de compromisso de compra e venda – ou

seja, em negócio jurídico realizado exclusivamente entre vendedora e

compradores, sem a participação da corretora –, que a ré transfere aos autores

a responsabilidade pelo pagamento da comissão.

Por tais motivos, não há como ser afastada a legitimidade

passiva ad causam da requerida.

Por outro lado, impossível considerar como arras a

importância cobrada pela Apolar Imóveis, uma vez que o sinal de negócio foi

devidamente especificado no contrato de compromisso de compra e venda.

Ademais, o documento de fl. 61, não desconstituído pela ré, demonstra que

inexistiu abatimento, já que houve um acréscimo no preço ajustado, o que uma

vez mais a descaracteriza, consoante disposto no art. 417 do Código Civil.

Evidencia-se, portanto, que razão assiste aos

demandantes quando afirmam que, na verdade, o valor de R$ 12.650,00 foi

pago a título de comissão de corretagem, e não de sinal de negócio.

Nesse diapasão, convém acolher a alegação da primeira

apelante de que houve julgamento extra petita. Com efeito, em nenhum

momento os autores pleiteiam a devolução de arras. O que pretendem,

conforme consta no item 5 do seu rol de pedidos (fl. 42), é a condenação da

requerida a restituir em dobro a comissão de corretagem paga à Apolar

Imóveis.

Sendo assim, denota-se que a sentença acolheu direito

não suscitado pela parte quando do ajuizamento da demanda. Observe-se,

nesse tocante, a disciplina ditada pelo art. 460 do Código de Processo Civil:

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“Art. 460. É defeso ao juiz proferir sentença, a favor do

autor, de natureza diversa da pedida, bem como condenar

o réu em quantidade superior ou em objeto diverso do que

Ihe foi demandado.”

Conforme se extrai da redação do dispositivo legal em

comento, o provimento jurisdicional, pelo princípio da correlação, está adstrito

ao pedido, não sendo dado ao julgador conceder à parte aquilo que não foi

postulado, sob pena de incorrer em julgamento extra petita vedado pelo

ordenamento jurídico.

Nesse sentido, confira-se a lição de Humberto Theodoro

Junior:

“Como o juiz não pode prestar tutela jurisdicional senão

quando requerida pela parte (art. 2º), conclui-se que o

pedido formulado pelo autor na petição inicial é a

condição sem a qual o exercício da jurisdição não se

legitima. ‘Ne procedat iudex ex officio’. Como, ainda, a

sentença não pode versar senão sobre o que pleiteia o

demandante, forçoso é admitir que o pedido é também o

limite da jurisdição (arts. 128 e 460). ‘Iudex secundum

allegata partium iudicare debet’. (...) Em síntese, o pedido

é a condição e o limite da prestação jurisdicional, de

maneira que a sentença, como resposta ao pedido, não

pode ficar aquém das questões por ele suscitadas

(decisão ‘citra petita’) nem se situar fora delas (decisão

‘extra petita’), nem tampouco ir além delas (decisão ‘ultra

petita’).” (THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de

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Apelação Cível nº 1.093.144-7

direito processo civil. 38. ed. vol. I. Rio de Janeiro:

Forense, 2002. p. 461)

Por essa razão, tenho que a sentença deve ser

modificada no ponto, a fim de afastar a condenação no que toca à devolução

dos valores cobrados a título de arras.

Uma vez firmada a premissa de que toda a importância de

R$ 12.650,00 configura comissão de corretagem, necessário se faz definir se o

pagamento de tal valor constitui ou não obrigação dos compradores.

Para solucionar a questão, mister trazer a lume a

disciplina legal sobre a matéria. Assim dispõe o art. 722 do Código Civil:

“Art. 722. Pelo contrato de corretagem, uma pessoa, não

ligada a outra em virtude de mandato, de prestação de

serviços ou por qualquer relação de dependência, obriga-

se a obter para a segunda um ou mais negócios,

conforme as instruções recebidas.”

É possível denotar-se, do dispositivo legal em questão,

que, se a atividade de corretagem é feita em nome do contratante, a comissão

devida constitui obrigação daquele que contrata o serviço, salvo convenção em

sentido contrário.

Note-se a orientação jurisprudencial a respeito:

“CORRETAGEM DE IMÓVEL. CONTRATO.

OBRIGAÇÃO DE PAGAR A COMISSÃO, SE DO

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Apelação Cível nº 1.093.144-7

ADQUIRENTE OU DO VENDEDOR. MATÉRIA DE

PROVA.

- Em princípio, quem responde pelo pagamento da

comissão é aquele que contratou o corretor, ou seja,

o comitente.

- Em sede de apelo especial não se reexamina matéria de

natureza fático-probatória (Súmula n.º 7-STJ).

Recurso especial não conhecido.” (STJ – REsp

188324/BA – Quarta Turma – Rel. Min. BARROS

MONTEIRO – j. 7.3.2002 – destaquei)

“APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE COBRANÇA -

CERCEAMENTO DE DEFESA - INOCORRÊNCIA -

COMISSÃO DE CORRETAGEM - RESPONSABILIDADE

DO CONTRATANTE - HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS -

FIXAÇÃO - OBSERVÂNCIA AO DISPOSTO NO ARTIGO

20, § 4º, DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL

1. Em conformidade com o disposto no artigo 330, inciso

I, do Código de Processo Civil, o juiz pode julgar

antecipadamente a lide quando não houver necessidade

de produção de provas.

2. A comissão de corretagem, na ausência de

estipulação em sentido contrário, deve ser arcada por

quem contratou os serviços do corretor.

3. Os honorários advocatícios devem ser arbitrados de

forma razoável e com observância aos critérios previstos

no artigo 20, §4º, do Código de Processo Civil.

4. Apelação parcialmente provida.” (TJPR – Sétima

Câmara Cível – Rel. Des. GUILHERME LUIZ GOMES – j.

22.9.2009 – destaquei)

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Apelação Cível nº 1.093.144-7

“PROMESSA DE COMPRA E VENDA -

INCORPORAÇÃO IMOBILIÁRIA - UNIDADE

HABITACIONAL EM CONDOMÍNIO - ATRASO NA

ENTREGA DA OBRA - CULPA DA CONSTRUTORA -

RESCISÃO CONTRATUAL - DEVOLUÇÃO DAS

PARCELAS PAGAS - COMISSÃO DE CORRETAGEM

DEVIDA POR QUEM A CONTRATA - RECURSO NÃO

PROVIDO.

Demonstrada a culpa da construtora quanto ao prazo para

a entrega da obra, correta é a decisão que rescinde o

contrato e determina a esta a devolução dos valores

pagos pelo compromissário comprador, monetariamente

corrigido, desde o desembolso de cada parcela.

A despesa com comissão de corretagem deve ser

suportada pela compromissária vendedora, se ela

própria contratou vendedor comissionado e com ele

ajustou o percentual respectivo.” (TJPR – AC nº

308.120-5 – Décima Sexta Câmara Cível – Rel. Juiz

Subst. 2º Grau MARCOS GALLIANO DAROS – j.

28.2.2007 – destaquei)

Na espécie, além de inexistir contrato de corretagem

firmado pelos demandantes, é clarividente que os serviços foram contraídos

pela própria vendedora, a teor dos documentos de fls. 145-147, não

impugnados pela ré.

Por outro lado, não se pode olvidar que o item 6 do

quadro resumo (fl. 49), segundo a qual os promitentes compradores

declararam que a comissão de intermediação seria por eles devida, “isentando-

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Apelação Cível nº 1.093.144-7

se a promitente vendedora de qualquer responsabilidade”, possui caráter

abusivo.

Em primeiro lugar porquanto implica a transferência, ao

consumidor, de responsabilidade assumida pela vendedora perante o corretor,

estabelecendo obrigação que o coloca em desvantagem exagerada e, ao

mesmo tempo, incompatível com a equidade (art. 51, incisos III e IV), do CDC).

Em segundo porque, importando em restrição de direitos

– na medida em que lhe impõe um custo –, mencionada cláusula deveria ter

sido redigida com destaque, a fim de permitir sua imediata e fácil compreensão

pelo consumidor (art. 54, § 4º, do CDC).

Dessa feita, inevitável é o reconhecimento da nulidade da

cláusula 6 do quadro resumo do contrato particular de promessa de compra e

venda entabulado entre as partes e, por conseguinte, resta indevida a

comissão de corretagem pelos promitentes compradores, ora postulantes,

motivo pelo qual há de ser mantida a condenação da ré à restituição dos

valores pagos a esse título.

A devolução em dobro pleiteada pelos autores, contudo, é

indevida. Como se sabe, a boa-fé é presumida, devendo a má-fé ser

comprovada. In casu, não ficou demonstrado nos autos que houve má-fé por

parte da promitente vendedora quando transferiu a obrigação pela comissão de

corretagem aos adquirentes.

E, conforme já se manifestou a Corte Superior, “a

consecução dos termos contratados, a considerar a obrigatoriedade que o

contrato encerra, vinculando as partes contratantes, não revela má-fé do

fornecedor, ainda, que, posteriormente, reste reconhecida a ilicitude de

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Apelação Cível nº 1.093.144-7

determinada cláusula contratual” (REsp 1.060.001/DF – Terceira Turma – Rel.

Min. MASSAMI UYEDA – j. 15.2.2011).

Sendo assim, a restituição deverá se dar de forma

simples, como consignado na decisão monocrática.

2.2.3. “Juros de Obra”

Arguem os demandantes que a requerida deve arcar com

os juros específicos da fase de construção (“juros de obra”) incidentes desde a

data em que o imóvel deveria ter sido entregue (29.7.2011) até a data de

averbação do habite-se na matrícula do imóvel (7.5.2012), pois, até a referida

averbação, tais valores não amortizariam a dívida do financiamento contraído

junto à Caixa Econômica Federal.

Comporta parcial acolhida a irresignação.

De início, consigne-se, por oportuno, que, consoante o

item 5 do quadro resumo e a cláusula quinta do contrato de promessa de

compra e venda, a entrega do imóvel estava prevista para 30.9.2011. Contudo,

poderia o prazo ser modificado em razão da data da assinatura do contrato de

financiamento, prevalecendo como data de entrega um mês após a celebração

deste.

A interpretação que se deve fazer das mencionadas

cláusulas é de que o prazo de um mês a contar da assinatura do contrato de

financiamento somente prevaleceria se este fosse firmado a partir de setembro

de 2011. Ora, não parece sensato que o comprador possa exigir, com base na

exceção, a entrega das chaves antes mesmo do prazo expressamente previsto

para conclusão das obras (30.9.2011).

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Apelação Cível nº 1.093.144-7

Na hipótese, como o contrato de financiamento foi

assinado em 29.6.2011 (fl. 138 – CD), não se mostra razoável que os

promitentes compradores pudessem reclamar o bem desde 29.7.2011, pois,

consoante o cronograma de obras, o empreendimento ainda não estaria

pronto.

Por tais razões, deve preponderar, in casu, como prazo

fatal para a entrega do imóvel, aquele expressamente consignado, qual seja, o

último dia do mês de setembro de 2011. E, tendo em vista que os compradores

receberam as chaves em 1º.10.2011 (fl. 66 – CD), não há que se falar em

atraso na entrega do bem.

De fato, ainda que com defeitos ocultos, o imóvel foi

entregue aos postulantes na data aprazada. Importante frisar que não se está

aqui a dizer que o problema das infiltrações não merece reparos. Apenas não

pode ser ele utilizado para imputar à vendedora um suposto atraso na entrega

das chaves.

Por outro lado, assim dispõe a cláusula sétima do contrato

de financiamento (fl. 117 – CD):

“CLÁUSULA SÉTIMA – FORMA E LOCAL DE

PAGAMENTO DAS TAXAS À VISTA, NA FASE DE

CONSTRUÇÃO E DE AMORTIZAÇÃO E DOS

ENCARGOS MENSAIS – São devidas seguintes taxas e

encargos:

(...)

II – Pelo(s) COMPRADOR(ES)/ DEVEDOR(ES)/

FIDUCIANTE(S), mensalmente, na fase de construção

(...):

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Apelação Cível nº 1.093.144-7

a – Encargos relativos a juros e atualização monetária, à

taxa prevista no item “C” deste instrumento, incidentes

sobre o saldo devedor apurado no mês;

(...)

V – Pelo(s) COMPRADOR(ES)/ DEVEDOR(ES)/

FIDUCIANTE(S), mensalmente, após o término da fase

de construção (...):

a – Prestação de Amortização e Juros (A+J), à taxa

prevista no item “C” deste instrumento;

(...)

PARÁGRAFO NONO – A amortização do empréstimo

será efetuada em prestações mensais e sucessivas,

vencendo-se a primeira parcela de amortização no mês

subsequente ao término do cronograma de obras e no dia

correspondente ao da assinatura do presente contrato.

(...).”

Como se pode observar, durante a fase de construção as

parcelas pagas à CEF não amortizariam o mútuo contraído, o que só passaria

a ocorrer ao término do cronograma de obras.

De se ressaltar que o contrato de financiamento não

esclarece quando se encerraria a fase de construção: se com a entrega das

chaves ou com a liberação e registro do “habite-se”.

A única conclusão a que se pode chegar é de que, uma

vez entregue o imóvel em outubro de 2011, as obras já haviam terminado

naquela data. Diante disso, restaria indevido, a partir de então, o pagamento de

juros e correção monetária relativos à fase de construção, devendo-se

adentrar, desde logo, à fase de amortização.

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Apelação Cível nº 1.093.144-7

Contudo, do documento de fl. 143, vislumbra-se que, de

julho/2011 a março/2012, o que os requerentes pagaram foram juros e

atualização monetária referente ao período de construção, pois a primeira

prestação do financiamento, com o início da amortização da dívida, foi paga

somente no mês de abril/2012.

Não consta nos autos o que motivou tal situação. O ônus

da prova, por sua vez, restou invertido no primeiro grau, em razão da aplicação

das regras do Código de Defesa do Consumidor. Com efeito, não se pode

exigir dos autores, diante de sua hipossuficiência técnica e econômica, o

conhecimento sobre a realidade de tais fatos. Ademais, os documentos

colacionados aos autos demonstram a verossimilhança da alegação.

Entretanto, a análise do caderno processual atesta que

em nenhum momento a parte ré se desincumbiu do ônus de provar que o

atraso na averbação da conclusão da obra junto à matrícula do imóvel não

ocorreu por culpa sua, devendo, portanto, responder pelos prejuízos daí

resultantes.

Diante disso, alternativa não resta senão a condenação

da ré a restituir em favor dos demandantes as parcelas pagas em favor da

Caixa Econômica Federal durante a fase de construção, limitadas àquelas

referentes ao período compreendido entre outubro/2011 (quando efetivamente

entregue o imóvel) e março/2012 (eis que a partir do mês seguinte passou a

dívida a ser amortizada), corrigidas monetariamente pelo INPC desde cada

pagamento e acrescidas de juros de mora de 1% (um por cento) ao mês a

partir da citação.

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Apelação Cível nº 1.093.144-7

2.2.4. Cotas Condominiais

Sustentam os postulantes, outrossim, que devem ser

ressarcidos das taxas de condomínio pagas no período em que o imóvel está

na posse da apelada, isso desde outubro de 2011 até que o bem seja-lhes

entregue.

A insurgência merece guarida.

Como é cediço, as cotas condominiais referem-se ao

rateio, entre os condôminos, das despesas advindas daquilo que é do interesse

de todos eles, pois por todos usufruído, como manutenção das áreas comuns e

pagamento de funcionários, por exemplo.

A documentação trazida aos autos demonstra que, desde

a entrega das chaves, em 1º.10.2011, os compradores poucos dias

permaneceram na posse do bem, haja vista as infiltrações nele existentes. Os

defeitos ocultos, que se manifestaram logo com a primeira chuva, ao que

consta, ainda não foram solucionados pela demandada.

A devolução dos valores desembolsados para pagamento

de taxa condominial é medida que se impõe. Isso porque os compradores, até

o momento, não puderam desfrutar plenamente o imóvel adquirido.

Com efeito, para ver o problema solucionado, os

proprietários foram obrigados a retirar-se de sua residência. A requerida, que

deveria ter entregado o bem em perfeitas condições de habitabilidade, causou-

lhes tais prejuízos, uma vez que, não estando na efetiva posse do imóvel, os

apelantes benefício direto algum obtiveram com o pagamento dessas cotas.

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Apelação Cível nº 1.093.144-7

A condenação, nesse aspecto, dependerá de liquidação

de sentença, pois, como consta, à fl. 71, a informação de que a vendedora iria

efetuar o pagamento da fatura de dezembro/2011 e, ainda, tendo em conta que

inexistem nos autos dados que apontem a efetiva conclusão do conserto, não é

possível averiguar a liquidez do montante devido.

Sobre os valores, deverão incidir correção monetária pelo

INPC, desde cada desembolso, e juros de mora de 1% (um por cento) ao mês,

a partir da citação.

2.2.5. Piso

No que se refere ao piso, argumenta a requerida que os

reparos no imóvel já se iniciaram, faltando pouco para sua conclusão, razão

pela qual deve ser afastada a condenação por dano material.

Assiste razão à apelante nesse aspecto.

Na petição inicial, alegam os autores que, em decorrência

das infiltrações existentes, seria necessária a troca do piso de madeira, motivo

por que pleiteiam o ressarcimento da importância de R$ 2.870,00 referente ao

valor gasto com a colocação do piso em todo o apartamento e ao aluguel de

caçamba para o acondicionamento daquele a ser retirado.

Contudo, em antecipação de tutela, confirmada

posteriormente pela sentença, foi determinado à demandada que entregue o

imóvel em perfeitas condições de uso. E a ré, em conformidade com os

documentos colacionados às fls. 295, 299 e 309, demonstrou que está

providenciando a troca do piso na parte que ficou danificado, ou seja, sala e

corredor.

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Apelação Cível nº 1.093.144-7

Sendo assim, o pleito dos postulantes, nesse ponto, deve

ser julgado improcedente, seja porque há necessidade somente da troca do

piso da sala e do corredor, pois o dos demais cômodos restou preservado, seja

porque o reparo está compreendido na obrigação de fazer ordenada na tutela

antecipada e a condenação da requerida também ao pagamento do respectivo

valor configuraria bis in idem.

2.2.6. Lucros Cessantes

Argumenta a demandada, ademais, que os autores não

comprovaram nem sua culpa exclusiva nem qualquer dano material efetivo ou

aquilo que deixaram de auferir, tendo inclusive consignado claramente que o

imóvel destinava-se à sua moradia, e não à obtenção de renda com aluguel.

A respeito da fixação dos alugueres, o Superior Tribunal

de Justiça já se posicionou no sentido de que:

“A inexecução do contrato pelo promitente-vendedor, que

não entrega o imóvel na data estipulada, causa, além do

dano emergente, figurado nos valores das parcelas pagas

pelo promitente-comprador, lucros cessantes a título de

alugueres que poderia o imóvel ter rendido se tivesse sido

entregue na data contratada. Trata-se de situação que,

vinda da experiência comum, não necessita de prova (art.

335 do Código de Processo Civil). Recurso não

conhecido.” (STJ – REsp 644.984/RJ – Terceira Turma –

Rel. Min. NANCY ANDRIGHI – j. 16.8.2005)

Embora na hipótese, como visto, não houve efetivo atraso

na entrega da obra, o mesmo raciocínio deve ser adotado, pois restou

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Apelação Cível nº 1.093.144-7

clarividente que os adquirentes estão sendo privados da fruição do imóvel, seja

para moradia seja para locação.

As perdas e danos, nesse caso configurado naquilo que

razoavelmente os requerentes deixaram de lucrar (art. 402 do Código Civil),

foram causados por culpa exclusiva da vendedora, que, inadimplindo com o

contrato firmado, não o entregou em perfeitas condições de moradia.

O prejuízo daí decorrente é patente, visto que deixaram

os compradores de receber os aluguéis que poderiam ter recebido se o imóvel

estivesse à sua disposição. Parece óbvio que o que se pretende com a

aquisição de um apartamento ou é nele residir, e assim isentar-se do

pagamento de aluguel, ou é auferir renda através da locação.

De uma forma ou de outra, a lesão sofrida deve ser

reparada integralmente.

Note-se, a respeito, a jurisprudência desta Câmara:

“APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE RESCISÃO

CONTRATUAL CUMULADA COM RESSARCIMENTO

POR PERDAS E DANOS - COMPROMISSO DE

COMPRA E VENDA DE IMÓVEL - ATRASO NA

ENTREGA POR CULPA DA PROMITENTE

VENDEDORA - INADIMPLEMENTO CONFIGURADO -

PRESCRIÇÃO - INOCORRÊNCIA - PRAZO DECENAL

PREVISTO NO ART. 205 DO CÓDIGO CIVIL -

PRETENSÃO DE NATUREZA PESSOAL - ALEGAÇÃO

DE DESCUMPRIMENTO DO CONTRATO POR PARTE

DO APELADO - NÃO CONFIGURAÇÃO - ATRASO NA

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Apelação Cível nº 1.093.144-7

ENTREGA IMPUTÁVEL SOMENTE A CONSTRUTORA -

DANOS MATERIAIS - PAGAMENTO DE ALUGUERES -

CABIMENTO - DESNECESSIDADE DE

COMPROVAÇÃO - JUSTA REMUNERAÇÃO PELO

QUE O APELADO DEIXOU DE GANHAR - CORREÇÃO

MONETÁRIA - INCIDÊNCIA A PARTIR DO

DESEMBOLSO DAS PARCELAS - HONORÁRIOS

ADVOCATÍCIOS - MANUTENÇÃO DO MONTANTE

ARBITRADO - RECURSO CONHECIDO E

DESPROVIDO.” (TJPR – AC nº 781.436-2 – Sétima

Câmara Cível – Rel. Des. CELSO JAIR MAINARDI – j.

26.7.2011 – destaquei)

“APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE RESOLUÇÃO DE

CONTRATO COM PEDIDO CUMULADO DE

INDENIZAÇÃO POR LUCROS CESSANTES - PEDIDO

PARA DECLARAR NULA A DECISÃO MONOCRÁTICA

QUE DEFERIU O PEDIDO DE JUSTIÇA GRATUITA AOS

APELADOS - PEDIDO ACOLHIDO - CAPITAL SOCIAL

DA EMPRESA NO VALOR DE R$ 1.000.000,00 (UM

MILHÃO DE REAIS) - PROVA QUE DEMONSTRA A

CAPACIDADE DE PAGAR OS ENCARGOS

PROCESSUAIS - COBRANÇA DA MULTA PREVISTA

EM CONTRATO - INADIMPLEMENTO CONTRATUAL

CARACTERIZADO - MULTA DEVIDA - LUCROS

CESSANTES - DEVIDOS - VALOR ESTABELECIDO

COM ESTIMATIVA DA LOCAÇÃO DOS IMÓVEIS -

RECURSO DE APELAÇÃO PARCIALMENTE PROVIDO.”

(TJPR – AC nº 669.669-5 – Sétima Câmara Cível – Rel.

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Apelação Cível nº 1.093.144-7

Des. ANTENOR DEMETERCO JUNIOR – j. 1º.2.2011 –

destaquei)

“APELAÇÕES CÍVEIS. DEMANDA COMINATÓRIA COM

PEDIDO DE ANTECIPAÇÃO DE TUTELA JULGADA

PARCIALMENTE PROCEDENTE.

APELAÇÃO 1. ATRASO NA ENTREGA DO IMÓVEL

INJUSTIFICADA. NÃO-CUMPRIMENTO DO ART. 333, II,

DO CPC. ALEGAÇÃO DE AUSÊNCIA DE PROVAS

ACERCA DAS PERDAS SOFRIDAS. INOCORRÊNCIA.

LUCROS CESSANTES E PERDAS E DANOS DEVIDOS.

RECURSO DESPROVIDO.

Não havendo justificativa para o atraso na entrega do

imóvel no seu tempo e modo devido, é de se

responsabilizar o construtor pelos prejuízos decorrentes

da não-fruição do bem prometido, em conformidade com

as disposições contidas no artigo 402 do Código Civil de

2002.

APELAÇÃO 2. PLEITO DE ANTECIPAÇÃO DE TUTELA

EM GRAU DE APELAÇÃO. PEDIDO NÃO ANALISADO

EM SENTENÇA. RECEBIMENTO DO APELO EM SEU

DUPLO EFEITO. AUSÊNCIA DE RECURSO ADEQUADO

DA PARTE. PRECLUSÃO. PEDIDO NÃO-CONHECIDO.

LUCROS CESSANTES DEVIDOS. RESSARCIMENTO

READEQUADO. CUMULAÇÃO ALTERNATIVA DE

PEDIDOS. DESNECESSIDADE DE ANÁLISE DO

SEGUNDO PEDIDO. ÔNUS SUCUMBENCIAIS.

REDISTRIBUIÇÃO. AUTORES QUE DECAÍRAM DE

PARTE MÍNIMA DO PEDIDO. HONORÁRIOS

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ADVOCATÍCIOS DEVIDAMENTE FIXADOS. RECURSO

PARCIALMENTE CONHECIDO, E, NA PORÇÃO

CONHECIDA, PARCIALMENTE PROVIDO.

1.Posteriormente, quando do recebimento da apelação,

os autores deixaram de agravar da decisão que recebeu o

recurso em seu duplo efeito, ficando, desta forma,

subordinados ao trânsito em julgado da decisão, não

podendo a tutela antecipada ser examinada em segundo

grau.

2.A rescisão do contrato por culpa da promitente

vendedora gera o dever de indenizar a promitente

compradora em perdas e danos, nas quais se incluem

os lucros cessantes, em valor equivalente ao do

aluguel de um imóvel semelhante, desde a data em

que a obra deveria ter sido entregue.

3.Quando se fala em ressarcimento de dano, deve-se

observar o binômio de propósitos, quais sejam: a-os

autores devem ser ressarcidos pelo tempo que foram

tolidos de usufruírem o bem; b-a ré deve sentir-se punida

pelo não- cumprimento do contrato, buscando-se, assim,

inibir que tal conduta não se repita.

4.Quando se trata de pedidos formulados em ordem

sucessiva (cumulação alternativa), um deles é realizado

como principal, e o outro para a eventualidade de não ser

possível o acolhimento do primeiro.” (TJPR – AC nº

398.375-7 – Sétima Câmara Cível – Rel. Des. JOSÉ

MAURÍCIO PINTO DE ALMEIDA – j. 5.6.2007 –

destaquei)

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Apelação Cível nº 1.093.144-7

Por tais motivos, o apelo não comporta provimento nesse

tópico.

2.2.7. Dano Moral

Aduz a ré a inocorrência de dano à esfera

extrapatrimonial dos postulantes, que nem sequer foi comprovado, sendo,

portanto, indevida a indenização por danos morais; subsidiariamente, requer a

redução do quantum indenizatório.

Os postulantes, por sua vez, pleiteiam a majoração do

valor arbitrado a título de danos morais, propondo como razoável a importância

de R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais).

Pois bem.

Ao contrário do que defende a requerida, o dano moral

restou configurado na hipótese, diante dos graves transtornos suportados pelos

compradores, que, mal haviam se instalado no imóvel, dele tiveram que se

retirar em razão de infiltrações e improvisar nova moradia, já com o filho recém-

nascido.

Evidente, portanto, os incomensuráveis dissabores pelos

quais passaram os autores, ansiosos por realizar o sonho da casa própria. Isso

tudo por culpa da ré, que lhes entregou o imóvel sem as devidas condições de

habitabilidade.

Ensina Yussef Said Cahali que o dano moral se

caracteriza como “a privação ou diminuição daqueles bens que têm um valor

precípuo na vida do homem e que são a paz, a tranqüilidade de espírito, a

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Apelação Cível nº 1.093.144-7

liberdade individual, a integridade individual, a integridade física, a honra e os

demais sagrados afetos, classificando-se desse modo, em dano que afeta a

parte social do patrimônio moral (honra, reputação, etc.) e dano que molesta a

parte afetiva do patrimônio moral (dor, tristeza, saudade, etc.), dano moral que

provoca direta ou indiretamente dano patrimonial (cicatriz deformante, etc.) e

dano moral puro (dor, tristeza, etc.)." (CAHALI, Yussef Said. Dano Moral. 2. ed.

São Paulo: Revista dos Tribunais, 1998, p. 20).

É consabido que, via de regra, o inadimplemento puro e

simplesmente não gera direito a este tipo de indenização, já que os transtornos

dele advindos são riscos ínsitos da própria contratação.

A indenização pela dor moral, contudo, não pode ser

descartada das relações contratuais quando o abalo causado ao sujeito for

superior às suas expectativas.

É o caso dos autos, onde o inadimplemento não se

resumiu à inexecução contratual, traduzindo-se em frustração, aborrecimentos

excessivos, dissabores incomensuráveis.

Outrossim, sabe-se que o intuito da indenização é

proporcionar ao ofendido certa satisfação na medida do dano sofrido, evitando

o enriquecimento ilícito, mas também não pode ser irrisória, a ponto de não

atender ao caráter punitivo e inibidor da repetição do ato, levando-se em conta

a gravidade do fato, a repercussão do trauma na vítima e culpa do ofensor, a

situação pessoal e financeira do ofendido e as condições socioeconômicas do

ofensor.

Desta feita, diante dos aspectos declinados no tramite

processual, levando-se em conta a situação apresentada, tenho por bem

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Apelação Cível nº 1.093.144-7

majorar os danos morais para R$ 26.000,00 (vinte e seis mil reais), atendendo

ao grau de razoabilidade na reparação dos danos dessa natureza sofridos

pelos autores.

Por outro lado, comporta acolhimento a irresignação da ré

quando pleiteia que os juros de mora incidam somente a partir da data do

arbitramento da indenização por danos morais, pois se pressupõe que o

montante encontra-se atualizado até aquele momento.

Efetivamente, é apenas com o Acórdão que majora a

condenação que surge a quantia líquida e certa arbitrada a título de dano

extrapatrimonial, devendo os juros moratórios incidir somente a partir de então,

sob pena de fazer retroagir sua incidência antes mesmo de ter-se constituída a

obrigação de indenizar.

Sobre o tema, confira-se a orientação jurisprudencial

deste órgão fracionário:

“APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER

C/C DANOS MORAIS - INSCRIÇÃO INDEVIDA DO

NOME DO REQUERENTE EM CADASTRO DE

RESTRIÇÃO AO CRÉDITO - QUANTUM

INDENIZATÓRIO - MONTANTE DEVE SER FIXADO

LEVANDO EM CONSIDERAÇÃO OS

POSICIONAMENTOS JURISPRUDENCIAIS A

RESPEITO DA QUESTÃO - VALOR A TÍTULO DE

INDENIZAÇÃO MINORADO - CORREÇÃO MONETÁRIA

(INPC) E JUROS DE MORA DEVEM INCIDIR A PARTIR

DO ARBITRAMENTO - RECURSO CONHECIDO E

PROVIDO.” (TJPR – AC nº 633.771-7 – Sétima Câmara

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Apelação Cível nº 1.093.144-7

Cível – Rel. Des. LUIZ SÉRGIO NEIVA DE LIMA VIEIRA

– j. 23.2.2010 – destaquei)

“APELAÇÕES CÍVEIS - AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR

DANOS MORAIS - MANUTENÇÃO INDEVIDA DO NOME

DA ALUNA EM CADASTRO DE RESTRIÇÃO AO

CRÉDITO - QUANTUM CORRETAMENTE FIXADO -

VALORES ADEQUADAMENTE ARBITRADOS -

OBEDIÊNCIA AOS PRINCÍPIOS DA RAZOABILIDADE E

PROPORCIONALIDADE - JUROS DE MORA -

CORREÇÃO MONETÁRIA - TERMO INICIAL - DATA DA

SENTENÇA - SÚMULA 362 DO SUPERIOR TRIBUNAL

DE JUSTIÇA - HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS -

FIXAÇÃO - CRITÉRIOS - INTELIGÊNCIA DO DISPOSTO

NO ARTIGO 20, §§ 3º E 4º DO CÓDIGO DE PROCESSO

CIVIL. 1. Mostrando-se condizente com as peculiaridades

da lide e atendendo à finalidade da condenação -

reparação e sanção - o quantum fixado a título de danos

morais deve ser mantido. 2. Consoante enuncia a Súmula

362, do Superior Tribunal de Justiça: ‘A correção

monetária do valor da indenização do dano moral incide

desde a data do arbitramento.’. 3. Os honorários

advocatícios devem ser fixados em patamar condizente

com as peculiaridades da lide, observadas as normas

previstas no artigo 20, §3º c/c suas alíneas "a", "b" e "c",

do Código de Processo Civil. 4. Apelação 1 desprovida.

Apelação 2 parcialmente provida.” (TJPR – AC nº

955.198-8 – Sétima Câmara Cível – Rel. Des.

GUILHERME LUIZ GOMES – j. 26.2.2013 – destaquei)

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Apelação Cível nº 1.093.144-7

Sendo assim, a sentença deve ser reformada quanto ao

termo inicial dos juros de mora, a fim de que incidam a partir do presente

Acórdão, momento em que se aumentou a importância arbitrada a título de

danos morais.

2.2.8. Ônus Sucumbenciais

Por fim, pugna a ré pela inversão dos ônus de

sucumbência ante o princípio da causalidade. Já os autores rogam pela

majoração da verba honorária, a fim de que sejam observados os percentuais

estabelecidos no art. 20, § 3º, do CPC.

A inversão total dos ônus sucumbenciais em desfavor dos

demandantes é incabível, uma vez que, pelo princípio da causalidade,

responde pela sucumbência aquele que deu indevida causa ao processo.

Entretanto, no caso em apreço, nem todos os pedidos

formulados pelos postulantes na exordial mostraram-se procedentes. E, por

assim ser, embora tenha efetivamente havido sucumbência superior por parte

da requerida, que restou vencida quanto à maior parcela dos pleitos formulados

na inicial, não há como imputar-lhe a causalidade com exclusividade.

Noutro giro, tendo em vista que houve condenação, o

arbitramento em valor certo dos honorários advocatícios em prol do patrono da

parte autora é impertinente, devendo-se, pois, ser fixado em percentual, em

consonância com o disposto no art. 20, § 3º, do Código de Processo Civil.

Feitas tais considerações, tenho por bem, nesse aspecto,

dar parcial provimento ao recurso da ré e provimento ao recurso dos autores,

de modo a proceder à redistribuição dos ônus sucumbenciais, a fim de que

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Apelação Cível nº 1.093.144-7

restem condenados: a) os requerentes na proporção de 20% (vinte por cento)

das custas processuais e ao pagamento de honorários advocatícios em favor

do procurador da parte demandada, os quais arbitro em R$ 2.000,00 (dois mil

reais); b) a requerida na proporção de 80% (oitenta por cento) das custas

processuais e ao pagamento de honorários advocatícios em favor do patrono

da parte demandante, os quais fixo em 10% (dez por cento) sobre o valor da

condenação.

2.2.9. Conclusão

Por conseguinte, é de se dar parcial provimento aos

Recursos de Apelação interpostos, para o fim de: a) afastar a condenação à

devolução dos valores cobrados a título de arras e de taxa de assessoria; b)

condenar a ré à restituição das parcelas pagas em favor da Caixa Econômica

Federal durante a fase de construção, limitadas àquelas referentes ao período

compreendido entre outubro/2011 e março/2012; c) condenar a requerida ao

reembolso das cotas condominiais, desde outubro/2011 até que o imóvel seja

entregue aos postulantes em perfeitas condições de uso; d) majorar os danos

morais para R$ 26.000,00; e) fixar a data do Acórdão como termo inicial dos

juros moratórios incidentes sobre o dano moral; f) redistribuir os ônus

sucumbenciais.

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3. DISPOSITIVO

ACORDAM os Desembargadores, integrantes da Sétima

Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Paraná, por unanimidade de votos,

em conhecer parcialmente do Recurso de Apelação interposto pela ré e

conhecer do Recurso de Apelação manejado pelos autores, para, na parte

conhecida, dar-lhes parcial provimento, nos termos do voto do Relator.

Participaram do julgamento, presidido pelo

Desembargador ANTENOR DEMETERCO JÚNIOR (sem voto), e

acompanharam o voto do Relator os Desembargadores LUIZ ANTÔNIO

BARRY e FÁBIO HAICK DALLA VECCHIA.

Curitiba, 26 de novembro de 2013.

DESEMBARGADOR LUIZ SÉRGIO NEIVA DE LIMA VIEIRA

Relator