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Questões Discursivas Comentadas de Auditor Fiscal do Trabalho

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Introdução

Primeiramente, quero lhe agradecer pelo interesse em baixar esse material.

Este e-book apresenta duas questões discursivas aplicadas no concurso paraAuditor-Fiscal do Trabalho de 2013 organizado pelo CESPE. A questão 2 deEconomia do Trabalho e a dissertação de Direito Administrativo, ambascobradas na P3, e com elevado grau de dificuldade.

Os comentários foram elaborados de forma clara, objetiva e na profundidadeadequada à exigência das provas para Auditor-Fiscal do Trabalho (AFT) doMinistério do Trabalho.

Cada tópico foi comentado de forma individualizada. Ao final de cada questão,é apresentada uma proposta de resolução adequada ao padrão de cobrançaexigido pela banca.

Na medida do possível, foi observado o número de linhas destinado pela bancapara a resposta.

Ademais, agradeço pelas observações, críticas e sugestões.

Prof. Aldair Lazzarotto

[email protected]

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1. Questão de Economia do Trabalho

Tradicionalmente, os economistas tendem a considerar a determinação desalários no mercado de trabalho de forma similar à determinação de preçosem um mercado qualquer, onde as forças de oferta e de demandadesempenham papel central. Nesse contexto, o sindicato é visto como umvendedor monopolista de trabalho regido pelo princípio da maximização, demodo que a união laboral passa a ser interpretada de forma análoga a umafirma que comercializa o seu produto. Contudo, quando se rejeita adeterminação dos salários nominais pelas forças de mercado, sob as quais omercado de trabalho deveria sempre se comportar da mesma forma quetodos os demais mercados, abre-se espaço para discutir aspectosrelacionados à estrutura institucional do mercado de trabalho e da dinâmicasalarial, à heterogeneidade dos agentes participantes do sindicato, aotamanho dos grupos tomadores de decisão, entre outros aspectos. Tendo o texto acima como referência inicial, discorra sobre:

Ø Os efeitos macroeconômicos da negociação coletiva sobre o nívelde desemprego e a inflação [valor: 9,00 pontos] Ø Indique a razão econômica de o resultado da taxa de desempregoser menor em países com determinação salarial no âmbito da firma ouno âmbito centralizado que em países com determinação salarial noâmbito da indústria [valor: 10,00 pontos]

Informações Preliminares

Disciplina: Economia do TrabalhoAssunto: Instituições e Mercado de TrabalhoNúmero de Linhas: até 20Modalidade: Questão Discursiva

Comentários

Tópico 1 - Os efeitos macroeconômicos da negociação coletiva sobre onível de desemprego e a inflação.

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Para responder a este tópico, deve-se partir das seguintes premissas: ossindicatos controlam a oferta de trabalho e seu objetivo principal é maximizaros salários e o emprego; já as empresas controlam a demanda de mão de obrae seu principal objetivo é maximizar o lucro.

Essa questão tem por base os ensinamentos de Lars Calmfors e John Driffill(Bargaining structure, corporatism, and macroeconomic performance.Economic Policy. 1988). O assunto foi tema de tese de doutorado apresentadaà Universidade de Brasília (UnB):

http://repositorio.unb.br/bitstream/10482/13880/1/2012_FlavioAugustoCorreaBasilio.pdf.

Segundo os autores, os efeitos macroeconômicos da negociação coletivasobre o desemprego e a inflação dependem do grau de centralização danegociação salarial (ou do poder de mercado dos sindicatos) e de como ossindicatos internalizam os efeitos da determinação salarial sobre o nível globalde preços.

Quanto maior o poder de mercado dos sindicatos, maior a capacidade dereajustar os salários e, consequentemente, influenciar o nível dedesemprego. Quanto maior a centralização da determinação salarial, maiorserá a percepção dos efeitos das pressões salariais sobre a economia, o que,consequentemente, influencia a inflação.

Dessa forma, níveis mais estáveis (baixo nível de inflação e baixo nível dedesemprego) podem ser alcançados nas economias em que a influência dossindicatos é mínima (negociação no nível da firma) ou considerável(negociação no nível centralizado).

Por outro lado, o desemprego atinge o ponto máximo (alto nível dedesemprego e inflação) quando os sindicatos se tornam influentes, mas nãoo suficiente para que suas ações possam ser perceptíveis sobre o mercadogeral de trabalho (negociação no nível da indústria).

Assim, tanto negociações muito descentralizadas como muito centralizadasproduzem resultados superiores em termos de emprego e inflação, quandocomparadas a situações intermediárias.

Isso ocorre, pois a capacidade de coordenação e de moderação salarial

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decorrente do tipo de relação entre organizações sindicais e firmas promovemtanto a estabilidade de preços quanto o crescimento econômico e o baixodesemprego.

Tópico 2 - Indique a razão econômica de o resultado da taxa dedesemprego ser menor em países com determinação salarial noâmbito da firma ou no âmbito centralizado que em países comdeterminação salarial no âmbito da indústria.

Para se chegar à conclusão trazida pelo enunciado, deve-se supor que todos ostrabalhadores da economia são filiados aos sindicatos, os quais atuam fixandoos salários nominais em três diferentes âmbitos:

Ø Âmbito da firma: um único sindicato fixa o salário nominal apenas paraesta firma.

Ø Âmbito da indústria: um único sindicato fixa o salário nominal paratodas as firmas da indústria (exemplo: sindicato dos bancários que fixa osalário para todos os empregados de bancos).

Ø Âmbito centralizado: um único sindicato fixa o salário nominal paratodos os trabalhadores da economia (ou do país).

Os sindicatos que operam apenas no âmbito da firma possuem limitadopoder de mercado e, por isso, baixa possibilidade de fazer pressões salariais.Consequentemente, os grupos de trabalhadores, pequenos e isolados, não sãosuficientemente fortes para alterar os salários de mercado. Assim, o salárionão aumenta e a taxa de desemprego não se eleva.

No âmbito centralizado, o aumento salarial acarreta aumento do nível geralde preços (inflação). Todavia, os grandes sindicatos reconhecem seu poder demercado e levam em conta em suas ações os efeitos sobre a inflação e odesemprego em suas demandas por aumentos salariais. Por essa razão, ossindicatos preferem obter um aumento salarial apenas moderado, mas mantero emprego com baixa inflação.

Assim, a taxa de desemprego é similar e baixa em países com determinaçãosalarial no âmbito da firma e em países com determinação salarial no âmbitocentralizado.

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Por outro lado, em países com determinação salarial no âmbito da indústria,os sindicatos exercem algum poder de mercado, mas desconsideram os efeitosadversos provocados pelos aumentos salariais no desemprego e na inflação,focando exclusivamente na elevação do salário real do setor em relação aosdemais.

Assim, a taxa de desemprego é maior em países com determinação salarial noâmbito da indústria do que em países com determinação salarial no âmbito dafirma ou no âmbito centralizado.

Portanto, a razão econômica de o resultado da taxa de desemprego ser menorem países com determinação salarial no âmbito da firma ou no âmbitocentralizado que em países com determinação salarial no âmbito da indústriasão a capacidade de pressão salarial dos sindicatos e a forma com que elesconsideram a influência do aumento de salário na inflação.

Sugestão de Resposta

Os efeitos macroeconômicos da negociação coletiva sobre o nível de

desemprego e sobre a inflação, de acordo com Calmfors e Driffill, dependem

do grau de centralização da negociação, do poder de mercado dos sindicatos e

de como estes consideram a influência da elevação do salário na inflação.

Segundo os autores, os níveis de desemprego e de inflação tendem a

ser mais estáveis nos países em que a influência dos sindicatos é mínima ou

máxima. Por outro lado, o desemprego é maior nos países em que os

sindicatos se tornam influentes, mas não o suficiente para que suas ações

possam ser perceptíveis sobre o mercado geral de trabalho.

Conforme Flávio Augusto Basílio, a razão econômica de o resultado da

taxa de desemprego ser menor em países com determinação salarial no

âmbito da firma ou no âmbito centralizado que em países com determinação

salarial no âmbito da indústria são a capacidade de pressão salarial dos

sindicatos e a forma com que eles consideram a influência do aumento de

salário na inflação.

Segundo o autor, os sindicatos que operam apenas no âmbito da firma

possuem baixa possibilidade de fazer pressões salariais, ou seja, não são

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suficientemente fortes para alterar os salários de mercado. Já no âmbito

centralizado, os grandes sindicatos levam em conta em suas negociações os

efeitos das demandas por aumentos salariais sobre a inflação e o desemprego.

Por essa razão, o salário não aumenta o suficiente para elevar a taxa de

desemprego.

Por outro lado, no âmbito da indústria, os sindicatos exercem relativo

poder de mercado, mas não consideram os efeitos adversos provocados pelos

aumentos salariais no desemprego e na inflação. Por essa razão, o salário

aumenta em nível suficiente para elevar a taxa de desemprego.

2. Dissertação de Direito Administrativo

Determinado servidor público requereu à administração pública a conversãode férias vencidas e não gozadas em indenização pecuniária, argumentandoque, por motivo de interesse público (necessidade do serviço), aadministração não autorizara o exercício do direito. O órgão público indeferiuo pedido de conversão, ressaltando a ausência de autorização legal para odeferimento. Em face dessa situação hipotética, discorra sobre o direito constitucional doservidor às férias [valor: 8,00 pontos], abordando se é viável a conversãodesse direito em pecúnia [valor: 20,00 pontos], com fundamento na legislaçãode regência e na jurisprudência do Supremo Tribunal Federal e do SuperiorTribunal de Justiça [valor: 10,00 pontos].

Informações Preliminares

Disciplina: Direito AdministrativoAssunto: Servidores Públicos (Férias) Número de Linhas: até 40Modalidade: Dissertação

Comentários

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Esta questão causou muita polêmica e foi responsável pela reprovação de maisde 40% dos candidatos aprovados na 1ª fase do concurso de 2013.

A razão é muito simples! Perceba que a proposta temática se divide em trêstópicos:

(...) o direito constitucional do servidor às férias [valor: 8,00 pontos],

(...) abordando se é viável a conversão desse direito em pecúnia [valor: 20,00pontos],

(...) com fundamento na legislação de regência e na jurisprudência doSupremo Tribunal Federal e do Superior Tribunal de Justiça [valor: 10,00pontos].

Atente-se que apenas o segundo tópico é responsável pela metade da nota daquestão. Neste tópico, a resposta do candidato, basicamente, deve se resumira um “sim” (é possível a conversão) ou a um “não” (não é possível aconversão). Ademais, o edital previa a eliminação do candidato que nãoatingisse 50% da nota na dissertação.

Ademais, o enunciado solicita que o candidato responda se é possível aconversão do direito a férias em pecúnia baseado em três fontes: legislação deregência, STF e STJ. Esse conjunto é responsável por 30 pontos (75% da notatotal).

Por fim, o enunciado não esclarece a que esfera pertence o servidor (federal,estadual ou municipal). Essa informação é pertinente, na medida em que cadaente possui legislação própria para reger as relações com seus servidores.Todavia, em face da questão ser cobrada no concurso para AFT, pressupõe-se oregime da Lei 8.112/90.

Tópico 1 - Direito constitucional do servidor às férias.

A Constituição Federal de 1988 não trata, especificamente, sobre férias dosservidores públicos em seu Art. 38 (Dos Servidores Públicos). Contudo, não sedeve olvidar que o direito às férias dos servidores é um direito garantidoconstitucionalmente, em face da previsão no Art. 7º, inciso XVII, que prevê odireito dos trabalhadores ao gozo de férias anuais remuneradas com, pelo

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menos, um terço a mais do que o salário normal.

O direito às férias do servidor público federal é regulado pela Lei 8.112/90, emseu Art. 76 e seguintes. O servidor faz jus a trinta dias de férias anuaisremuneradas, que podem ser acumuladas, até o máximo de dois períodos, nocaso de necessidade do serviço.

As regras sobre o direito constitucional de férias dos servidores podem serassim sintetizadas:

Ø 30 dias por ano.

Ø Adicional de 1/3 (um terço) da remuneração (considerando a vantagemdecorrente de função de direção, chefia ou assessoramento ou cargo emcomissão, se for o caso).

Ø Para o primeiro período aquisitivo de férias serão exigidos 12 (doze)meses de exercício.

Ø É vedado considerar no calculo das férias qualquer falta ao serviço.

Ø Poderão ser parceladas em até três etapas, desde que assim requeridaspelo servidor e no interesse da administração pública.

Ø Pagamento das férias até 2 (dois) dias antes do início do respectivoperíodo.

Ø Em caso de parcelamento, o valor será pago no primeiro período.

Ø As férias podem ser interrompidas por motivo de calamidade pública,comoção interna, convocação para júri, serviço militar ou eleitoral, ou pornecessidade do serviço declarada pela autoridade máxima do órgão ouentidade. Nesse caso, o restante do período interrompido será gozado de umasó vez.

Tópicos 2 e 3 – (...) abordando se é viável a conversão desse direitoem pecúnia com fundamento na legislação de regência e najurisprudência do Supremo Tribunal Federal e do Superior Tribunal deJustiça.

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Esses tópicos serão comentados de forma conjunta, em razão da interligaçãoentre eles. Em suma, a banca quer saber o seguinte: 1 - A legislação admite ou não a conversão de férias do servidor em pecúnia? 2 - O STF admite ou não a conversão de férias do servidor em pecúnia? 3 – O STJ admite ou não a conversão de férias do servidor em pecúnia? Atente-se ao que propõe o enunciado: “Determinado servidor público requereuà administração pública a conversão de férias vencidas e não gozadas emindenização pecuniária, argumentando que, por motivo de interessepúblico (necessidade do serviço), a administração não autorizara oexercício do direito. O órgão público indeferiu o pedido de conversão,ressaltando a ausência de autorização legal para o deferimento”.

De acordo com a legislação de regência, é viável a conversão do direito aférias em pecúnia?

Não. A Lei 8.112/90 não prevê e possibilidade de conversão do direito a fériasem pecúnia, mesmo quando as férias não são gozadas por motivo de interessepúblico ou por necessidade do serviço. A única possibilidade de indenização pecuniária prevista na Lei 8.112/90 é parao servidor exonerado do cargo, que não tenha completado o períodoaquisitivo ou que não tenha gozado férias no tempo oportuno. De acordo com o § 3º do Art. 78 da Lei 8.112/90, “o servidor exonerado docargo efetivo, ou em comissão, perceberá indenização relativa ao período dasférias a que tiver direito e ao incompleto, na proporção de um doze avos pormês de efetivo exercício, ou fração superior a quatorze dias”. Todavia, esse não é o caso do servidor relatado no enunciado da questão. Aproposta fala de um servidor que não gozou férias em razão de interessepúblico (necessidade de serviço). Portanto, a resposta deste tópico, de acordocom a legislação de regência é NÃO. De acordo com o STF, é viável a conversão do direito a férias em pecúnia?

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Sim, desde que o servidor não possa mais usufruí-las. O Supremo TribunalFederal (STF) discutiu esse tema, inicialmente, por meio do RecursoExtraordinário com Agravo (ARE) nº 721.001, em 28/02/2013. Acredita-se queesse julgamento foi a base utilizada pelo examinador para a formulação daquestão. O STF reafirmou a jurisprudência dominante da Corte no sentido dapossibilidade de conversão em pecúnia de férias não usufruídas porservidor público, a bem do interesse da Administração, ou seja, por motivode interesse público (necessidade do serviço). A posição do Supremo explicitada no RE 721.001, decisão publicada em28/03/2013, era no sentido de que é devida a conversão de férias nãogozadas bem como de outros direitos de natureza remuneratória emindenização pecuniária por aqueles que não mais podem delas usufruir,seja por conta do rompimento do vínculo com a Administração, sejapela inatividade, em virtude da vedação ao enriquecimento sem causa daAdministração. Infelizmente, não houve informações no comando da questão sobre a esfera(federal, estadual ou municipal) a que pertencia o servidor e a sua situaçãofuncional no momento do requerimento (ativo, aposentado, exonerado, etc).Não há dúvidas de que um melhor detalhamento da proposta facilitaria aresposta do candidato e não daria margens a recursos e questionamentos. Todavia, a conversão em pecúnia não é uma faculdade do servidor. Ele nãopode optar pelo gozo das férias ou por sua transformação em pecúniaindenizatória. Nesse caso, ficaria ao seu arbítrio a criação de despesa para oerário. A conversão somente é admissível quando a Administração der causa àmora e o gozo das férias não possa mais ser usufruído. Portanto, o STF assegurou ao servidor público a conversão de férias nãogozadas em pecúnia, em razão da vedação ao locupletamento ilícito porparte da Administração. Em suma, se o benefício não é usufruído porque aAdministração indeferiu requerimento tempestivo do servidor, ao argumento deabsoluta necessidade do serviço, impõe-se a indenização correspondente,acrescida do terço constitucional, a partir do momento em que o servidor tiverrompido seu vínculo com a administração. A ação teve prosseguimento no STF após a data da prova do AFT/2013, pormeio da interposição de embargos declaratórios pelo Estado do Rio de Janeiro,que alegou erro material da decisão anterior que concedeu ao servidor odireito à indenização pecuniária.

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Em razão de o servidor em questão ainda estar ativo, o embargante pediu eobteve a reforma da decisão, visto que a razão para o STF reconhecer aexistência do direito à indenização pecuniária era justamente o fato de oservidor não mais poder usufruir das férias, seja por conta do rompimentodo vínculo com a Administração, seja pela inatividade. O Supremo reconheceu que alguns precedentes da Corte não faziam distinçãoentre servidores ativos e inativos para conversão em pecúnia de fériasvencidas (ARE-AgR-ED 662.624/RJ e ARE-AgR 762.069/RJ). Segundo o STF,igualar a situação dos servidores que não podem mais gozar as férias com osservidores ativos implica amesquinhar o próprio direito de férias, permitindoque a Administração frustre indefinidamente o descanso anual de servidores. Além disso, para o STF, o enriquecimento ilícito da Administração só seconfigura nos casos em que as férias não possam ser gozadas. Em relação aservidores em atividade, a norma constitucional impõe o efetivo gozo, não aconversão em pecúnia. Por essa razão, o Supremo concedeu efeito modificativo aos embargos dedeclaração para obrigar a Administração Pública a conceder as fériasvencidas ao servidor e firmou o entendimento de que a conversão empecúnia de férias vencidas não se aplica a servidores em atividade. De acordo com o STJ, é viável a conversão do direito a férias em pecúnia? O STJ possui o mesmo entendimento do STF, amparado pelos mesmosfundamentos (vedação ao locupletamento ilícito por parte da Administração eprincípio da vedação ao enriquecimento sem causa). Citam-se, a título exemplificativo, excertos do julgamento do Recurso Especialnº 1.360.642:

RE nº 1.360.642: Este Superior Tribunal, em diversos julgados, consolidou aorientação de que é cabível a conversão em pecúnia da licença-prêmioe/ou férias não gozadas, em razão do serviço público, sob pena deconfiguração do enriquecimento ilícito da Administração. (...) a conversãoem pecúnia das férias e/ou licenças-prêmios não gozadas, em razão dointeresse público, independe de previsão legal, uma vez que esse direito,como acima apresentado, está calcado na responsabilidade objetiva do

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Estado.

Sugestão de Resposta

O servidor público tem direito constitucional ao gozo de férias anuais

remuneradas. De acordo com a Constituição Federal de 1988 (CF/88), é direito

dos trabalhadores o gozo de férias com, pelo menos, um terço a mais do que o

salário normal.

O direito às férias do servidor público federal é regulado pela Lei

8.112/90. As férias do servidor podem ser acumuladas, até o máximo de dois

períodos, no caso de necessidade do serviço.

Ademais, as férias podem ser parceladas em até três etapas, desde

que assim requeridas pelo servidor, e no interesse da Administração Pública.

Nesse caso, o pagamento deverá ser realizado em até dois dias antes do início

do descanso.

Todavia, é possível que o servidor não goze suas férias no tempo

oportuno, por motivo de interesse público ou por necessidade do serviço.

Nesse caso, ele pode requerer a conversão das férias vencidas em indenização

pecuniária.

De acordo com a Lei 8.112/90, legislação de regência dos servidores

públicos federais, é inviável a conversão do direito a férias em pecúnia. A Lei

não prevê essa possibilidade, mesmo para o servidor que não tenha gozado

férias por interesse do serviço.

Entretanto, a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal (STF)

firmou entendimento no sentido da viabilidade da conversão do direito a férias

em pecúnia quando as férias não foram usufruídas por interesse da

Administração e desde que o servidor não possa mais usufruí-las, seja por

conta do rompimento do vínculo, seja pela inatividade. Essa posição decorre da

observância ao princípio da vedação ao enriquecimento sem causa pela

Administração.

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Page 14: Questões Discursivas Comentadas de Auditor Fiscal do Trabalho

No mesmo sentido, a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça

(STJ) entende que é viável a conversão em pecúnia do direito a férias não

gozadas em razão do serviço público, sob pena de configuração do

enriquecimento ilícito da Administração. Ademais, segundo o STJ, essa

possibilidade independe de previsão legal, uma vez que esse direito está

calcado na responsabilidade objetiva do Estado.

Chegamos ao final deste Ebook!

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Em caso de dúvidas, críticas ou sugestões, entre em contato:

Prof. Aldair [email protected]

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