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PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DE PERNAMBUCO JUÍZO DE DIREITO DA COMARCA DE OLINDA VARA DO TRIBUNAL DO JÚRI Av. Pan Nordestina S/N, Km 04, Vila Popular – Olinda/PE. AÇÃO PENAL PROCESSO N.º 005961-91.2012.8.17.0990 AUTORA: JUSTIÇA PÚBLICA RÉUS: JORGE BELTRÃO NEGROMONTE DA SILVEIRA, ISABEL CRISTINA DA SILVEIRA e BRUNA CRISTINA OLIVEIRA DA SILVA TIPIFICAÇÃO: Art. 121, § 2º, Incisos II, III, IV e V, Art. 211 e Art. 212 c/c o Art. 69 todos do CPB. SENTENÇA CONDENATÓRIA Vistos, etc... JORGE BELTRÃO NEGROMONTE DA SILVEIRA , conhecido por “MONTE”, brasileiro, divorciado, 3º Grau em Educação Física, natural de Recife-PE, nascido em14/12/1961, com 50 anos de idade à época do fato, RG. nº 2.761.942-SSP-RN, filho de Antônio Negromonte da Silveira e de Zélia Beltrão Negromonte da Silveira, residente na Rua dos Emboabas, nº 598, Jardim Petrópolis, Garanhuns-PE; ISABEL CRISTINA DA SILVEIRA , conhecida como “DONA BEL”, brasileira, divorciado, ensino fundamental incompleto, natural de Recife-PE, nascido em 12/05/1961, com 51 anos de idade à época do fato, RG. nº 2.893.928-SDS-PE, filha de Francisco Pires Braga e de Maria Elisabete Torreão Pires, residente na Rua dos Emboabas, nº 598, Jardim Petrópolis, Garanhuns/PE e BRUNA CRISTINA OLIVEIRA DA SILVA , brasileira, solteira, alfabetizada, natural de Natal-RN, nascida em 29/09/1986, com 25 anos de idade à época do fato, RG. 002319833-SSP-RN, filha de José Antônio das Neves da Silveira e de Denise Francisca Oliveira da Silva, residente na Rua dos Emboabas, nº 598, Jardim Petrópolis, Garanhuns-PE, foram pronunciados como incursos nas penas dos Art. 121, § 2º, Incisos I, III, IV e V, Art. 211 e Art. 212 todos c/c o Art. 29 e Art. 69 todos do Código Penal Brasileiro, com as conseqüências do Art. 1º, inciso I da Lei nº 8072/90, sob a imputação de, no mês de maio de 2008, na Av. Colibri, Rua-A, nº 1272, Loteamento Boa Fé-I, bairro de Rio Doce, nesta cidade, em comunhão de ação e desígnios, haver praticado os crimes de homicídio quadruplamente qualificado, vilipêndio e ocultação de cadáver contra a pessoa de Jéssica Camila da Silva Pereira , menor de 17 (dezessete) anos de idade, consoante consta do Exame Pericial em Local de Homicídio, (fls. 334/347) , Perícia de DNA Forense (fls. 351/359), além dos demais elementos de informação trazidos no inquérito policial e provas produzidas durante a fase judicial . Ontem e hoje os acusados JORGE BELTRÃO NEGROMONTE DA SILVEIRA , ISABEL CRISTINA DA SILVEIRA e BRUNA CRISTINA OLIVEIRA DA SILVA foram submetidos a julgamento neste Tribunal do Júri, com observância das formalidades legais nos termos do art. 447 e seguintes do CPP. Nos debates, a Representante do Ministério Público requereu a condenação dos réus nos exatos termos da Decisão de Pronúncia, afirmando que os mesmos concorreram para a prática dos crimes de homicídio quadruplamente qualificado (motivo torpe, meio cruel, utilização de recurso que 1

Sentença condenatória dos Canibais de Garanhuns

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Page 1: Sentença condenatória dos Canibais de Garanhuns

PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DE PERNAMBUCO

JUÍZO DE DIREITO DA COMARCA DE OLINDA

VARA DO TRIBUNAL DO JÚRI

Av. Pan Nordestina S/N, Km 04, Vila Popular – Olinda/PE.

AÇÃO PENAL

PROCESSO N.º 005961-91.2012.8.17.0990

AUTORA: JUSTIÇA PÚBLICA

RÉUS: JORGE BELTRÃO NEGROMONTE DA SILVEIRA, ISABEL CRISTINA DA SILVEIRA e BRUNA CRISTINA

OLIVEIRA DA SILVA

TIPIFICAÇÃO: Art. 121, § 2º, Incisos II, III, IV e V, Art. 211 e Art. 212 c/c o Art. 69 todos do CPB.

SENTENÇA CONDENATÓRIA

Vistos, etc...

JORGE BELTRÃO NEGROMONTE DA SILVEIRA, conhecido por “MONTE”, brasileiro,

divorciado, 3º Grau em Educação Física, natural de Recife-PE, nascido em14/12/1961, com 50 anos de idade à

época do fato, RG. nº 2.761.942-SSP-RN, filho de Antônio Negromonte da Silveira e de Zélia Beltrão

Negromonte da Silveira, residente na Rua dos Emboabas, nº 598, Jardim Petrópolis, Garanhuns-PE; ISABEL

CRISTINA DA SILVEIRA, conhecida como “DONA BEL”, brasileira, divorciado, ensino fundamental

incompleto, natural de Recife-PE, nascido em 12/05/1961, com 51 anos de idade à época do fato, RG. nº

2.893.928-SDS-PE, filha de Francisco Pires Braga e de Maria Elisabete Torreão Pires, residente na Rua dos

Emboabas, nº 598, Jardim Petrópolis, Garanhuns/PE e BRUNA CRISTINA OLIVEIRA DA SILVA, brasileira,

solteira, alfabetizada, natural de Natal-RN, nascida em 29/09/1986, com 25 anos de idade à época do fato,

RG. 002319833-SSP-RN, filha de José Antônio das Neves da Silveira e de Denise Francisca Oliveira da Silva,

residente na Rua dos Emboabas, nº 598, Jardim Petrópolis, Garanhuns-PE, foram pronunciados como

incursos nas penas dos Art. 121, § 2º, Incisos I, III, IV e V, Art. 211 e Art. 212 todos c/c o Art. 29 e Art. 69 todos

do Código Penal Brasileiro, com as conseqüências do Art. 1º, inciso I da Lei nº 8072/90, sob a imputação de,

no mês de maio de 2008, na Av. Colibri, Rua-A, nº 1272, Loteamento Boa Fé-I, bairro de Rio Doce, nesta

cidade, em comunhão de ação e desígnios, haver praticado os crimes de homicídio quadruplamente

qualificado, vilipêndio e ocultação de cadáver contra a pessoa de Jéssica Camila da Silva Pereira, menor de

17 (dezessete) anos de idade, consoante consta do Exame Pericial em Local de Homicídio, (fls. 334/347),

Perícia de DNA Forense (fls. 351/359), além dos demais elementos de informação trazidos no inquérito

policial e provas produzidas durante a fase judicial.

Ontem e hoje os acusados JORGE BELTRÃO NEGROMONTE DA SILVEIRA, ISABEL CRISTINA DA

SILVEIRA e BRUNA CRISTINA OLIVEIRA DA SILVA foram submetidos a julgamento neste Tribunal do Júri,

com observância das formalidades legais nos termos do art. 447 e seguintes do CPP.

Nos debates, a Representante do Ministério Público requereu a condenação dos réus nos

exatos termos da Decisão de Pronúncia, afirmando que os mesmos concorreram para a prática dos crimes

de homicídio quadruplamente qualificado (motivo torpe, meio cruel, utilização de recurso que 1

Page 2: Sentença condenatória dos Canibais de Garanhuns

impossibilitou a defesa da vítima e para assegurar à execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de

outro crime), além dos crimes de vilipêndio e ocultação de cadáver. As defesas dos réus apresentaram, nos

debates, as seguintes teses:

a) A defesa do acusado JORGE BELTRÃO NEGROMONTE DA SILVEIRA argüiu a

tese de semi-imputabilidade penal em razão de doença mental, a qual o

tornou parcialmente incapaz de entender o caráter ilícito do seu

comportamento ao tempo da ação ou omissão típica.

b) A defesa da acusada ISABEL CRISTINA DA SILVEIRA argüiu a tese principal de

coação moral irresistível visando a inculpabilidade da mesma por ter havido

inexigibilidade de conduta diversa e como tese subsidiária coação moral

resistível visando diminuição no quantum da reprimenda.

c) A defesa da acusada BRUNA CRISTINA OLIVEIRA DA SILVA argüiu a tese

principal de coação moral irresistível visando a inculpabilidade da mesma por

ter havido inexigibilidade de conduta diversa e como tese subsidiária coação

moral resistível visando diminuição no quantum da reprimenda.

Após o embate de teses, consultado o Conselho de Sentença, este respondeu aos

questionários apropriados, em três séries de quesitos para cada um dos acusados, que não receberam

qualquer contestação pelas partes, passando a individualizar na forma que segue:

1. Quanto ao réu JORGE BELTRÃO NEGROMONTE DA SILVEIRA e a vítima Jéssica Camila da

Silva Pereira o Egrégio Conselho de Sentença, respondendo AFIRMATIVAMENTE, por mais de 03 (três)

votos, aos questionários propostos, relativo à autoria, concluiu que o réu concorreu para o crime de

homicídio quadruplamente qualificado, consoante requereu o Ministério Público em plenário, rechaçando a

tese da defesa, tudo conforme termo de votação.

Relativamente ao réu JORGE BELTRÃO NEGROMONTE DA SILVEIRA e o tipo penal previsto no

art. 211 do CPB, o Egrégio Conselho de Sentença, respondendo por mais de 03 (três) votos,

AFIRMATIVAMENTE aos questionários propostos, relativo à autoria, concluiu que o réu concorreu para o

crime de ocultação de cadáver, consoante requereu o Ministério Público em plenário, tudo conforme termo

de votação.

Relativamente ao réu JORGE BELTRÃO NEGROMONTE DA SILVEIRA e o tipo penal descrito no

art. 212 do CPB, o Egrégio Conselho de Sentença, respondendo por mais de 03 (três) votos,

AFIRMATIVAMENTE aos questionários propostos, relativo à autoria, concluiu que o réu concorreu para o

crime de vilipêndio de cadáver, consoante requereu o Ministério Público em plenário, tudo conforme termo

de votação.

2. Em relação à ré ISABEL CRISTINA DA SILVEIRA, e a vítima Jéssica Camila da Silva Pereira o

Egrégio Conselho de Sentença, respondendo AFIRMATIVAMENTE, por mais de 03 (três) votos, aos

questionários propostos, relativo à autoria, concluiu que o réu concorreu para o crime de homicídio

quadruplamente qualificado, consoante requereu o Ministério Público em plenário, rechaçando a tese da

defesa, tudo conforme termo de votação.

Relativamente à ré ISABEL CRISTINA DA SILVEIRA e o tipo penal previsto no art. 211 do CPB o

Egrégio Conselho de Sentença, respondendo por mais de 03 (três) votos, AFIRMATIVAMENTE aos 2

Page 3: Sentença condenatória dos Canibais de Garanhuns

questionários propostos, relativo à autoria, concluiu que à ré concorreu para o crime de ocultação de

cadáver, consoante requereu o Ministério Público em plenário, tudo conforme termo de votação.

Relativamente à ré ISABEL CRISTINA DA SILVEIRA e o tipo penal descrito no art. 212 do CPB, o

Egrégio Conselho de Sentença, respondendo por mais de 03 (três) votos, AFIRMATIVAMENTE aos

questionários propostos, relativo à autoria, concluiu que o réu concorreu para o crime de vilipêndio de

cadáver, consoante requereu o Ministério Público em plenário, tudo conforme termo de votação.

3. Em relação à ré BRUNA CRISTINA OLIVEIRA DA SILVA e a vítima Jéssica Camila da Silva

Pereira o Egrégio Conselho de Sentença, respondendo AFIRMATIVAMENTE, por mais de 03 (três) votos,

aos questionários propostos, relativo à autoria, concluiu que o réu concorreu para o crime de homicídio

quadruplamente qualificado, consoante requereu o Ministério Público em plenário, rechaçando a tese da

defesa, tudo conforme termo de votação.

Relativamente à ré BRUNA CRISTINA OLIVEIRA DA SILVA e o tipo penal previsto no art. 211 do

CPB o Egrégio Conselho de Sentença, respondendo por mais de 03 (três) votos, AFIRMATIVAMENTE aos

questionários propostos, relativo à autoria, concluiu que a ré concorreu para o crime de ocultação de

cadáver, consoante requereu o Ministério Público em plenário, tudo conforme termo de votação.

Relativamente à ré BRUNA CRISTINA OLIVEIRA DA SILVA e o tipo penal descrito no art. 212 do

CPB o Egrégio Conselho de Sentença, respondendo por mais de 03 (três) votos, AFIRMATIVAMENTE aos

questionários propostos, relativo à autoria, concluiu que o réu concorreu para o crime de vilipêndio de

cadáver, consoante requereu o Ministério Público em plenário, tudo conforme termo de votação.

Assim, com base na soberana decisão do Conselho de Sentença e no art. 492, inc. I c/c o art.

387, ambos do Código de Processo Penal, CONDENO, JORGE BELTRÃO NEGROMONTE DA SILVEIRA,

ISABEL CRISTINA DA SILVEIRA e BRUNA CRISTINA OLIVEIRA DA SILVA pela prática dos crimes previstos no

art. Art. 121, § 2º, Incisos I, III, IV e V, art. 211 e art. 212, tudo c/c os Arts. 29 e 69 todos do Código Penal

Brasileiro, com as conseqüências da Lei 8.072/90, dos crimes praticados contra a pessoa de Jéssica Camila

da Silva Pereira.

Impõe-se como indispensável a análise das circunstâncias judiciais ditadas no art. 59, do CPB

para dosimetria e fixação das penas a serem aplicadas aos sentenciados de forma individualizada, como

segue:

1. Com relação ao réu JORGE BELTRÃO NEGROMONTE DA SILVEIRA e a vítima Jéssica Camila

da Silva Pereira: Pelo que consta do processo, o réu é tecnicamente primário, entretanto existem nos autos

informações de que responde e (ou) respondeu outros processos de igual natureza, o que não lhe

favorece. A culpabilidade restou evidenciada, inconteste. Demonstra o réu uma personalidade diferenciada

do cidadão comum, com comportamento irregular e conduta social com reprovação, oferecendo, inclusive,

perigo no convívio com a sociedade. As circunstâncias do crime foram de extrema gravidade, a considerar a

determinação do réu para a prática da conduta, pois agiu de forma previamente concebida e atuou

intelectualmente, pensante, selecionou a vítima, no meio de tantas que vivia em condições precárias, mas

que atendia os requisitos e condições que almejava, usou de meios e manobras ardilosas para levar a vítima

até a sua convivência. Tais atitudes são inaceitáveis, proporcionam rechaço, indignação e intensa

repercussão social, desfavorecendo o réu na aplicação da pena. As conseqüências do crime foram de

reprovação total, em virtude da execução da vítima, que teve sua história interrompida em plena idade

produtiva e inexistem informações de que tenha contribuído para a ação do réu, exceto por haver 3

Page 4: Sentença condenatória dos Canibais de Garanhuns

acreditado, talvez pela sua pouca idade, nas promessas vãs que foram lançadas por aquele que a eliminou,

de forma cruel, lhe impondo extremo e desnecessário sofrimento, e, ainda insatisfeito, degustou partes de

seus restos mortais, numa clara manifestação de uma antiga e abjeta prática da humanidade primitiva, o

que causou comoção nacional e repercussão internacional: O canibalismo. Os motivos do crime restaram

nebulosos, sombrios, em face das versões que foram expostas aos autos, não favorecendo o acusado. Por

fim, o crime foi praticado em concurso de agentes e foram reconhecidas as circunstâncias qualificadoras, o

que não favorece ao réu na aplicação da pena e, de per si, já justificaria pena superior ao mínimo legal.

Assim, sopesadas tais circunstâncias judiciais ditadas pelo art. 59 do CPB, fixo-lhe a pena base

além do mínimo legal em razão dos elementos acima delineados, os quais se constituem de extrema

reprovação em face da periculosidade demonstrada pelo agente em sua vida pregressa, exigindo maior

severidade e considerando, ainda, as circunstâncias qualificadoras, ora reconhecidas para o delito em tela,

tomando por base o patamar da pena que vai de 12 (doze) a 30 (trinta) anos de reclusão, e, portanto,

aplico-lhe a pena-base em 21 (VINTE E UM) ANOS DE RECLUSÃO, atenuando-a em 01(UM) ano,

reconhecendo em seu favor a norma ditada no art. 65, inciso III, alínea “d”, tornando-a concreta e

definitiva, à míngua de circunstâncias outras modificadoras da reprimenda em 20 (VINTE) ANOS DE

RECLUSÃO.

Relativamente ao réu JORGE BELTRÃO NEGROMONTE DA SILVEIRA, e o tipo penal previsto no

art. 211 do CPB. Tomando por base as circunstâncias judiciais acima ditadas pelo art. 59 do CP, sendo

desnecessário repeti-las, uma vez tratando-se do mesmo réu, fixo-lhe a pena base além do mínimo legal, em

razão dos elementos acima delineados, que se apresentam de reprovação total e em face da periculosidade

demonstrada pelo agente, exigindo maior severidade, além das circunstâncias qualificadoras, para o delito

em tela, cuja pena varia de 01(um) a 3 (três) anos de reclusão e multa, aplico-lhe a pena-base em 02(DOIS)

ANOS DE RECLUSÃO atenuando-a em 06 (SEIS) meses, reconhecendo em seu favor a normas ditadas pelo

art. 65, inciso III, alínea “d” do CPB, tornando-a concreta e definitiva, a míngua de circunstâncias outras

modificadora da reprimenda em 01 (UM) ano e 06 (SEIS) meses de reclusão e 160(CENTO E SESSENTA)

dias multa, a qual deverá ser calculada com base no salário mínimo vigente à época do fato, nos termos

do art. 49 e seguintes do CPB.

Relativamente ao réu JORGE BELTRÃO NEGROMONTE DA SILVEIRA, e o tipo penal previsto no

art. 212 do CPB: Tomando por base as circunstâncias judiciais acima ditadas pelo art. 59 do CP, sendo

desnecessário repeti-las, uma vez tratando-se do mesmo réu, fixo-lhe a pena base além do mínimo legal, em

razão dos elementos acima delineados, que se apresentam de reprovação total e em face da periculosidade

demonstrada pelo agente, exigindo maior severidade, além das circunstâncias qualificadoras, para o delito

em tela, cuja pena varia de 01(um) a 3 (três) anos de detenção e multa, aplico-lhe a pena-base em 02(DOIS)

ANOS DE DETENÇÃO, atenuando-a em 06 (SEIS) meses, reconhecendo em seu favor a normas ditadas pelo

art. 65, inciso III, alínea “d” do CPB, tornando-a concreta e definitiva, a míngua de circunstâncias outras

modificadora da reprimenda em 01 (UM) ano e 06 (SEIS) meses de detenção e 160(CENTO E SESSENTA)

dias multa, a qual deverá ser calculada com base no salário mínimo vigente à época do fato, nos termos

do art. 49 e seguintes do CPB.

2. Com relação à ré ISABEL CRISTINA DA SILVEIRA e a vítima Jéssica Camila da Silva Pereira:

Pelo que consta do processo, a ré é primária, contudo, existem nos autos informações de que responde

outros processos de igual natureza, o que não lhe favorece na aplicação da pena. A culpabilidade restou

evidenciada, inconteste. Demonstra a ré, personalidade diferenciada da cidadã comum, com

comportamento irregular e conduta social com reprovação, oferecendo perigo ao convívio com a 4

Page 5: Sentença condenatória dos Canibais de Garanhuns

sociedade, ante as informações constantes dos autos. As circunstâncias do crime foram de extrema

gravidade, a considerar a determinação da ré para a prática da conduta, pois selecionou a vítima - no meio

de tantas -, a qual vivia em condições precárias, usou de meios e manobras ardilosas para levá-la a sua

convivência, posto que atendia aos seus interesses, teve oportunidades diversas de comunicar as

ocorrências e pretensão do seu consorte, no entanto, aceitava com passividade sua orientação e

desiderato. Afiguram-se, portanto, atitudes omissas inaceitáveis do ponto de vista moral e geram intensa

repercussão social, desfavorecendo a ré na aplicação da pena. As conseqüências do crime foram de

reprovação total, em virtude da execução da vítima, que teve sua história interrompida em plena idade

produtiva e inexistem informações de que tenha contribuído para a ação do réu, exceto, haver acreditado,

quiçá pela sua pouca idade, nas promessas vãs que foram lançadas por aquele que a eliminou, de forma

cruel, lhe impondo extremo e desnecessário sofrimento, e, ainda insatisfeito, degustou partes de seus

restos mortais, numa clara manifestação de uma antiga e abjeta prática da humanidade primitiva, o que

causou comoção nacional e repercussão internacional: O canibalismo. Os motivos do crime restaram

nebulosos em face das versões que foram expostas aos autos, não favorecendo a acusada. Por fim, o crime

foi praticado em concurso de agentes, e foram reconhecidas as circunstâncias qualificadoras suscitadas, o

que não favorece a ré na aplicação da pena e, de per si, já justificaria pena superior ao mínimo legal.

Assim, sopesadas tais circunstâncias judiciais ditadas pelo art. 59 do CPB, fixo-lhe a pena base

além do mínimo legal, em razão dos elementos acima delineados, que se apresentam de extrema

reprovação em face da periculosidade demonstrada pela agente em sua vida pregressa, exigindo maior

severidade da justiça penal, além das circunstâncias qualificadoras, ora reconhecidas, para o delito em tela,

a pena varia de 12 (doze) a 30 (trinta) anos de reclusão, e aplico-lhe a pena-base em 19 (DEZENOVE) ANOS

DE RECLUSÃO, atenuando-a em 01(UM) ano, reconhecendo em seu favor a norma ditada no art. 65, inciso

III, alínea “d”, tornando-a concreta e definitiva, à míngua de circunstâncias outras modificadoras da

reprimenda em 18(DEZOITO) ANOS DE RECLUSÃO.

Relativamente à ré ISABEL CRISTINA DA SILVEIRA e o tipo penal previsto no art. 211 do CPB:

Tomando por base as circunstâncias judiciais acima ditadas pelo art. 59 do CP, sendo desnecessário repeti-

las, uma vez tratando-se do mesmo sujeito ativo, fixo-lhe a pena base além do mínimo legal, em razão dos

elementos acima delineados, que se apresentam de reprovação total em face da periculosidade vil

demonstrada pelo agente, exigindo maior severidade, além das circunstâncias qualificadoras, para o delito

em tela, cuja pena o delito de ocultação de cadáver, varia de 01(um) a 3 (três) anos de reclusão e multa,

aplico-lhe a pena-base em 01 (UM) ANO E 06 (SEIS) MESES DE RECLUSÃO atenuando-a de 06(SEIS) MESES

reconhecendo em seu favor a norma ditada pelo art. 65, inciso III, alínea “d” do CPB, tornando-a concreta

e definitiva, a míngua de circunstâncias outras modificadoras da reprimenda em 01 (UM) ano de reclusão e

60(SESSENTA) dias multa, a qual deverá ser calculada com base no salário mínimo vigente à época do

fato, nos termos do art. 49 e seguintes do CPB.

Relativamente à ré ISABEL CRISTINA DA SILVEIRA, e o tipo penal previsto no art. 212 do CPB:

Tomando por base as circunstâncias judiciais acima ditadas pelo art. 59 do CP, sendo desnecessário repeti-

las, uma vez tratando-se do mesmo réu, fixo-lhe a pena base além do mínimo legal, em razão dos

elementos acima delineados, que se apresentam de reprovação total em face da periculosidade vil

demonstrada pelo agente, exigindo maior severidade, além das circunstâncias qualificadoras, para o delito

em tela, cuja pena para o delito de vilipêndio de cadáver, varia de 01(um) a 3 (três) anos de detenção e

multa, aplico-lhe a pena-base em 01 (UM) ANO e 06 (SEIS) MESES DE DETENÇÃO, atenuando-a de 06(SEIS)

MESES reconhecendo em seu favor a norma ditadas pelo art. 65, inciso III, alínea “d” do CPB, tornando-a 5

Page 6: Sentença condenatória dos Canibais de Garanhuns

concreta e definitiva, a míngua de circunstâncias outras modificadoras da reprimenda em 01(UM) ano de

detenção e 60(SESSENTA) dias multa, a qual deverá ser calculada com base no salário mínimo vigente à

época do fato, nos termos do art. 49 e seguintes do CPB.

3. No que pertine à ré BRUNA CRISTINA OLIVEIRA DA SILVA, e a vítima Jéssica Camila da Silva

Pereira: Pelo que consta do processo a ré é primária, contudo existe nos autos informações de que

responde a outros processos de igual natureza, o que não lhe favorece. A culpabilidade restou evidenciada,

inconteste. Demonstra a ré, personalidade diferenciada da cidadã comum, com comportamento irregular e

conduta social com reprovação, oferecendo perigo ao convívio com a sociedade. As circunstâncias do

crime foram de extrema gravidade, a considerar a determinação da ré para a prática da conduta, selecionou

a vítima, no meio de tantas, usou de meios e manobras ardilosas para levá-la a sua convivência, teve

oportunidades diversas de comunicar as ocorrências e pretensão do seu consorte, no entanto, aceitava

com passividade sua orientação e desiderato, atitudes que são inaceitáveis e de repercussão social,

desfavorecendo a ré na aplicação da pena. As conseqüências do crime foram de reprovação total, em

virtude da execução da vítima, que teve sua história interrompida em plena idade produtiva e inexistem

informações de que tenha contribuído para a ação do réu, exceto, haver acreditado, quiçá pela sua pouca

idade, nas promessas vãs que foram lançadas por aquele que a eliminou, de forma cruel, lhe impondo

extremo e desnecessário sofrimento, e, ainda insatisfeito, degustou partes de seus restos mortais, numa

clara manifestação de uma antiga e abjeta prática da humanidade primitiva, o que causou comoção

nacional e repercussão internacional: O canibalismo. Os motivos do crime restaram nebulosos em face das

versões que foram expostas aos autos, não favorecendo a acusada. Por fim, o crime foi praticado em

concurso de agentes, e foram reconhecidas as circunstâncias qualificadoras suscitadas, o que não favorece

a ré na aplicação da pena e já justificaria pena superior ao mínimo legal.

Assim, sopesadas tais circunstâncias judiciais ditadas pelo art. 59 do CPB, fixo-lhe a pena base

além do mínimo legal, em razão dos elementos acima delineados, que se apresentam de extrema

reprovação em face da periculosidade demonstrada pela agente em sua vida pregressa, exigindo maior

severidade da justiça penal, além das circunstâncias qualificadoras, ora reconhecidas, para o delito em tela,

a pena varia de 12 (doze) a 30 (trinta) anos de reclusão, e aplico-lhe a pena-base em 19 (DEZENOVE) ANOS

DE RECLUSÃO, atenuando-a em 01(UM) ano, reconhecendo em seu favor a norma ditada no art. 65, inciso

III, alínea “d”, tornando-a concreta e definitiva, à míngua de circunstâncias outras modificadoras da

reprimenda em 18(DEZOITO) ANOS DE RECLUSÃO.

Relativamente à ré BRUNA CRISTINA OLIVEIRA DA SILVA, e o tipo penal previsto no art. 211 do

CPB: Tomando por base as circunstâncias judiciais acima ditadas pelo art. 59 do CP, sendo desnecessário

repeti-las, uma vez tratando-se do mesmo réu, fixo-lhe a pena base além do mínimo legal, em razão dos

elementos acima delineados, que se apresentam de reprovação total em face da periculosidade vil

demonstrada pelo agente, exigindo maior severidade, além das circunstâncias qualificadoras, para o delito

em tela, cuja pena para o delito de vilipêndio de cadáver, varia de 01(um) a 3 (três) anos de detenção e

multa, aplico-lhe a pena-base em 01 (UM) ANO E 06 (SEIS) MESES DE RECLUSÃO atenuando-a de 06(SEIS)

MESES reconhecendo em seu favor a norma ditadas pelo art. 65, inciso III, alínea “d” do CPB, tornando-a

concreta e definitiva, a míngua de circunstâncias outras modificadoras da reprimenda em 01(UM) ano de

reclusão e 60(SESSENTA) dias multa, o qual deverá ser calculada com base no salário mínimo vigente à

época do fato, nos termos do art. 49 e seguintes do CPB.

Relativamente à ré BRUNA CRISTINA OLIVEIRA DA SILVA e o tipo penal descrito no art. 212 do

CPB: Tomando por base as circunstâncias judiciais acima ditadas pelo art. 59 do CP, sendo desnecessário

6

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repeti-las, uma vez tratando-se do mesmo réu, fixo-lhe a pena base além do mínimo legal, em razão dos

elementos acima delineados, que se apresentam de reprovação total em face da periculosidade vil

demonstrada pelo agente, exigindo maior severidade, além das circunstâncias qualificadoras, para o delito

em tela, cuja pena para o delito de vilipêndio de cadáver, varia de 01(um) a 3 (três) anos de detenção e

multa, aplico-lhe a pena-base em 01 (UM) ANO E 06 (SEIS) MESES DE RECLUSÃO atenuando-a de 06(SEIS)

MESES reconhecendo em seu favor a norma ditadas pelo art. 65, inciso III, alínea “d” do CPB, tornando-a

concreta e definitiva, a míngua de circunstâncias outras modificadoras da reprimenda em 01(UM) ano de

reclusão e 60(SESSENTA) dias multa, o qual deverá ser calculada com base no salário mínimo vigente à

época do fato, nos termos do art. 49 e seguintes do CPB.

Tomando por base o artigo 69 do Código Penal, posto que houve concurso material de crimes,

somo as penas anteriormente aplicadas aos sentenciados, à consideração do concurso material de crimes,

perfazendo o total de:

a) 21 (VINTE E UM) ANOS E 06 (SEIS) MESES DE RECLUSÃO, 01 (UM) ANO E 06 (SEIS) MESES DE

DETENÇÃO, ALÉM DE 320 (TREZENTOS E VINTE) DIAS-MULTA PARA O CONDENADO JORGE BELTRÃO

NEGROMONTE DA SILVEIRA;

b) 19 (DEZENOVE) ANOS DE RECLUSÃO, 01 (UM) ANO DE DETENÇÃO, ALEM DE 120 (CENTO E

VINTE) DIAS-MULTA PARA A CONDENADA ISABEL CRISTINA DA SILVEIRA;

c) 19 (DEZENOVE) ANOS DE RECLUSÃO, 01 (UM) ANO DE DETENÇÃO, ALEM DE 120 (CENTO E

VINTE) DIAS-MULTA PARA A CONDENADA BRUNA CRISTINA OLIVEIRA DA SILVA.

A pena de reclusão imposta aos sentenciados deverá ser cumprida em REGIME

INICIALMENTE FECHADO, na Penitenciária Barreto Campelo em Itamaracá e na Colônia Penal Feminina do

Recife ou em outro estabelecimento Prisional a critério do Juízo da Vara de Execuções Penais,

respectivamente para os ora sentenciados, na forma prevista no art. 33 do código Penal c/c a Lei 8.072/90 e

demais modificações pertinentes e introduzidas pela Lei 11.464/07, observada a detração penal prevista no

art. 42 do CPB e a pena de detenção e as multas na forma acima descrita.

Mantenho a prisão provisória dos sentenciados, a considerar que ainda estão presentes os

pressupostos e fundamentos de ditas medidas cautelares, além da existência de informações quanto ao

comportamento dos réus que indicam que oferecem perigo a sociedade, revelando, outrossim, necessidade

fidagal de se manter a constrição.

Condeno a ré BRUNA CRISTINA OLIVEIRA DA SILVA no pagamento das custas do

processo, as quais deverão ser recolhidas em favor do Fundo Penitenciário, dentro dos dez dias

subseqüentes ao trânsito em julgado desta sentença, na forma do que preceitua o art. 50 do CPB, e, em

seguida, com o trânsito em julgado, remetam-se os autos ao contador do Fórum para cálculo do montante

devido. Nos termos do art. 51 do CPB, com a redação que lhe foi conferida pela Lei 9.268/96, decorrido o

decêndio, sem que haja o pagamento da multa, extraia-se certidão, encaminhando-a ao Procurador da

Fazenda Pública neste Estado para adoção das medidas cabíveis, ao mesmo tempo em que deixo de

condenar o réu JORGE BELTRÃO NEGROMONTE DA SILVEIRA e a ré ISABEL CRISTINA DA SILVEIRA, no

pagamento das custas do processo, posto que foram assistidos em plenário por Defensor Público e

Defensor dativo, respectivamente.

Condeno o Estado no pagamento de honorários Advocatícios que arbitro em favor do

advogado, Dr. PAULO HENRIQUE MELO SILVA SALES, OAB-16707, posto que faz jus aos benefícios do art.

22, §1º da Lei nº 8906/94, conforme tabela própria, c/c o provimento nº 04/2010 do Conselho da 7

Page 8: Sentença condenatória dos Canibais de Garanhuns

Magistratura, considerando que foi nomeado pelo Juízo para patrocinar a defesa da acusada ISABEL

CRISTINA DA SILVEIRA.

Com esteio no Art. 9º-A da Lei 7210/84, fica desde já autorizada à identificação do perfil

genético, mediante extração de DNA - ácido desoxirribonucléico, por técnica adequada e indolor,

observado o procedimento previsto no §1º deste mesmo dispositivo legal. Neste sentido, caminham os

ensinamentos de Norberto Avena: “Outro aspecto a ser mencionado, é o de que a extração de DNA no caso

referido deve ser determinada, a nosso ver, na própria Sentença Condenatória, condicionando-se, logicamente,

ao respectivo trânsito em julgado sob pena de violação do princípio constitucional da presunção de inocência”

(Avena, Norberto. Manual de Processo Penal, p. 179).

Com o trânsito em julgado deste decisum, lancem-se os seus nomes no rol dos culpados,

na forma do artigo 5º, inciso LVII - CF/1988.

Expeçam-se Cartas de Guia em definitivo, remetendo-se ao Juízo das Execuções Penais,

com cópia desta Sentença.

Oficie-se ao Tribunal Regional Eleitoral e/ou à Zona Eleitoral onde os apenados encontram-

se alistados como eleitores, a fim de suspender-lhes os direitos políticos, e preencham-se os Boletins

Individuais dos sentenciados, dentro da rotina, remetendo-se ao Instituto Tavares Buril, com das

formalidades legais.

No mais, cumpra a Secretaria o seu regimento.

Publicada esta Sentença e intimadas as partes em Plenário, inclusive sobre o prazo de

cinco dias do recurso apelatório, de que trata o Art. 593 e de oito dias para apresentação das razões e

contra-razões do apelo, na forma prevista no Art. 600, "caput", ambos da Lei de Ritos Penais do Brasil,

salvo hipótese do § 4º do artigo e lei citados imediatamente anteriores. Registre-se. Sala das Sessões do

Tribunal Popular do Júri de Olinda/PE, aos 14 (quatorze) dias do mês de novembro de 2014, pelas 19:20

horas.

Maria Segunda Gomes de Lima

JUÍZA DE DIREITO PRESIDENTE DO TRIBUNAL DO JÚRI

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