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INTEIRO TEOR DA DELIBERAÇÃO 92ª SESSÃO ORDINÁRIA DA SEGUNDA CÂMARA REALIZADA EM 19/12/2013 PROCESSO TC Nº 0902010-0 PRESTAÇÃO DE CONTAS DA COMPANHIA PERNAMBUCANA DE SANEAMENTO - COMPESA, RELATIVA AO EXERCÍCIO FINANCEIRO DE 2008 INTERESSADOS: SRS. ROBERTO CAVALCANTI TAVARES, SANDRA MIRELLY DE SOUZA PEREIRA, CARLOS EDUARDO DE BRITO MAIA E JOÃO BOSCO DE ALMEIDA ADVOGADO: DR. JOÃO VIANEY VERAS FILHO – OAB/PE Nº 30.346 PRESIDENTE E RELATOR: CONSELHEIRO RANILSON RAMOS RELATÓRIO Tratam os presentes autos da prestação de contas do Diretor Presidente da Companhia Pernambucana de Saneamento – COMPESA, Sr. João Bosco de Almeida, relativa ao exercício financeiro de 2008. Figuraram também como ordenadores de despesas o Sr., Roberto Cavalcanti Tavares, Carlos Eduardo de B. Maia, Diretor de Gestão Corporativa período de 01/01/08 a 07/08/08 e 07/08/08 a 31/12/08, respectivamente e Sandra Mirelly de S. Pereira, Gerente de Contratos. Durante os trabalhos técnicos de auditoria a equipe de engenharia elaborou o Laudo de Auditoria que encontra-se às fls.3183/3376. Foram objeto de análise 31 obras/serviços de engenharia, totalizando um valor auditado de R$ 501.994.423,26, conforme quadro a seguir: QUADRO 2.1 - Relação das obras e/ou serviços selecionados para análise Ref. Discriminação Resumida Valor Despendido (R$) 01 Execução dos serviços e obras de implantação do sistema de esgotamento sanitário do município de Escada 1.381.973,71 02 Ampliação do sistema de abastecimento de água do município de Poção 521.692,06 03 Recuperação da capacidade de tratamento da ETA - Várzea do Una - São Lourenço 376.309,21 1

Tce pe - 2013 - prestação de contas compesa exercício 2008 - necessidade concurso advogados

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INTEIRO TEOR DA DELIBERAÇÃO92ª SESSÃO ORDINÁRIA DA SEGUNDA CÂMARA REALIZADA EM 19/12/2013PROCESSO TC Nº 0902010-0PRESTAÇÃO DE CONTAS DA COMPANHIA PERNAMBUCANA DE SANEAMENTO - COMPESA, RELATIVA AO EXERCÍCIO FINANCEIRO DE 2008INTERESSADOS: SRS. ROBERTO CAVALCANTI TAVARES, SANDRA MIRELLY DE SOUZA PEREIRA, CARLOS EDUARDO DE BRITO MAIA E JOÃO BOSCO DE ALMEIDA ADVOGADO: DR. JOÃO VIANEY VERAS FILHO – OAB/PE Nº 30.346PRESIDENTE E RELATOR: CONSELHEIRO RANILSON RAMOS

RELATÓRIO

Tratam os presentes autos da prestação de contas do Diretor Presidente da Companhia Pernambucana de Saneamento – COMPESA, Sr. João Bosco de Almeida, relativa ao exercício financeiro de 2008.

Figuraram também como ordenadores de despesas o Sr., Roberto Cavalcanti Tavares, Carlos Eduardo de B. Maia, Diretor de Gestão Corporativa período de 01/01/08 a 07/08/08 e 07/08/08 a 31/12/08, respectivamente e Sandra Mirelly de S. Pereira, Gerente de Contratos.

Durante os trabalhos técnicos de auditoria a equipe de engenharia elaborou o Laudo de Auditoria que encontra-se às fls.3183/3376.

Foram objeto de análise 31 obras/serviços de engenharia, totalizando um valor auditado de R$ 501.994.423,26, conforme quadro a seguir:

QUADRO 2.1 - Relação das obras e/ou serviços selecionados para análise

Ref. Discriminação Resumida Valor Despendido (R$)

01 Execução dos serviços e obras de implantação do sistema de esgotamento sanitário do município de Escada

1.381.973,71

02 Ampliação do sistema de abastecimento de água do município de Poção

521.692,06

03 Recuperação da capacidade de tratamento da ETA - Várzea do Una - São Lourenço

376.309,21

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Taciana Delgado

Ref. Discriminação Resumida Valor Despendido (R$)

04 Implantação do sistema produtor Pirapama 430.092.831,2505 Reforma e ampliação da estação de tratamento

de esgoto do sistema de esgotamento sanitário da cidade de Caruaru

2.376.994,85

06 Adequação e complementação do sistema de esgotamento sanitário de Rio Formoso-pe

1.268.842,26

07 Execução de obras e serviços relativos ao projeto adutora do Pirapama - integração ao sistema Gurjaú

16.598.924,34

08 Implantação do ramal III do sistema Adutor do Oeste

1.367.183,33

09 Implantação dos Ramais V e VI do Sistema Adutor do Oeste-PE

626.680,17

10 Implantação do SAA para o loteamento Cortegada e outras localidades, na cidade de Igarassu

630.086,40

11 Implantação do tratamento dos efluentes da ETA Botafogo - Igarassu

751.896,87

12 Implantação do SES de Salgueiro 1.102.757,7813 Execução das obras de setorização dos distritos

17-A, 17-B e 21 da rede distribuidora do Recife3.243.187,72

14 Elaboração de diagnóstico, relatório técnico preliminar, projeto básico e estudos complementares do SAA de Ouricuri, componente do Projeto de Integração do Rio São Francisco com Bacias Hidrográficas do Nordeste

14.132,64

15 Elaboração de diagnóstico, relatório técnico preliminar, projeto básico e estudos complementares do SAA de Petrolina, componente do Projeto de Integração do Rio São Francisco com Bacias Hidrográficas do Nordeste

31.698,91

16 Elaboração de estudos de concepção e projetos básicos para a ampliação do sistema de esgotamento sanitário da cidade de Petrolina, componente do Projeto de Integração do Rio São Francisco com Bacias Hidrográficas do Nordeste Setentrional

0,00

17 Ampliação do SAA e implantação do SES de Tamandaré, Praia dos Carneiros e Zona Turística de Rio Formoso

15.638.573,71

18 Prestação de serviços técnicos de controle tecnológico de solos e concreto e assistência técnica à fiscalização da Compesa das obras de

302.571,60

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Ref. Discriminação Resumida Valor Despendido (R$)

SAA e SES de Tamandaré19 Prestação de serviços de instalação de 141.490

hidrômetros, substituição de 43.724 hidrômetros e 28.404 ligações de ramais prediais de água nos SAA do Estado

7.890.364,32

20 Implantação de ligações intradomiciliares de esgoto - Barreiros

2.519.221,77

21 Serviços de engenharia consultiva, gerenciamento e fiscalização da obra de implantação do sistema produtor Pirapama

118.915,94

22 Manutenção de redes em qualquer tipo de material com diâmetro máximo de 200mm e manutenção e instalação de ramais prediais em qualquer tipo de material com diâmetro máximo de 50mm, na Região Metropolitana do Recife

5.570.237,52

23 Recuperação das Unidades SES de Caruaru 0,0024 Recuperação do Sistema Adutor de Maniçoba -

Santa Luzia - São Caetano704.345,18

25 Reabilitação da ETE Alto do Céu - Recife 5.006.166,1726 Implantação do Sistema Adutor Taquara - São

Caetano2.086.467,53

27 Implantação do Sistema de Esgotamento Sanitário de Recife - PROEST

644.845,65

28 Manutenção de Adutoras e Redes de Gravatá 365.402,0829 Implantação do SES de Pau Amarelo - Paulista 699.775,2930 Substituição de parte da adutora DN 300 mm em

fibra por tubos em ferro dúctil em Afogados da Ingazeira.

62.345,00

31 Manutenção de Adutoras, Redes Distribuidoras e de Ramais Prediais, dos Sistema de Abastecimento de Água de Escada

0,00

Totais 501.994.423,26

Obs.: a referência para numeração das obras é própria dessa equipe do TCE.

Após o confronto entre os pagamentos efetuados e os valores orçados foi verificado despesas indevidas totalizando R$ 516.208,70, conforme demonstra o quadro abaixo:

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5.2.2.1 Dos excessos apurados nas obras e/ou serviços de engenharia

Ref. Discriminação Resumida Excesso (R$)

Superfaturamento Desp. Ind. Total

01 Execução dos serviços e obras de implantação do sistema de esgotamento sanitário do município de Escada

0,00 38.305,02 38.305,02

02 Ampliação do sistema de abastecimento de água do município de Poção

0,00 14.994,80 14.994,80

05 Reforma e ampliação da estação de tratamento de esgoto do sistema de esgotamento sanitário da cidade de Caruaru

0,00 79.063,95 79.063,95

06 Adequação e complementação do sistema de esgotamento sanitário de Rio Formoso-pe

0,00 374.816,53 374.816,53

21 Serviços de engenharia consultiva, gerenciamento e fiscalização da obra de implantação do sistema produtor Pirapama

0,00 9.028,40 9.028,40

Totais 0,00 516.208,70 516.208,70

Observações:

1 - Referência da numeração desta tabela é mesma do quadro 2.1

O Relatório de Auditoria (fls. 3977 a 4007), apontou as seguintes irregularidades:

1. Ausência de documentos exigidos na formalização da presta-ção de contas;

2. Ausência de informações obrigatórias nos documentos da prestação de contas;

3. Pagamento de Previdência Complementar acima do valor esti-pulado na Constituição;

4. Enquadramento indevido em inexigibilidade na Contratação de Escritório de Advocacia;

Das irregularidades expressas no Relatório, apenas o pagamento de Previdência Complementar acima do valor estipulado na Constituição, gerou um valor passível de devolução de

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Taciana Delgado
Taciana Delgado

R$ 2.757.315,04. As demais irregularidades e deficiências detectadas no decorrer dos trabalhos de auditoria, geraram apenas recomendações para a adoção de medidas visando ao fortalecimentos dos controles internos e a eficiência da entidade, em conformidade com o art. 37 da Constituição Federal.

Devidamente notificados, conforme documentos às fls. 4012/4015, os interessados apresentaram defesa conjunta acostada aos autos às fls. 4033/4069.

Após análise da documentação, a equipe de Auditoria desta Corte de Contas apresentou Nota Técnica de Esclarecimento (fls. 4757 à 4762) e em sua conclusão afirma que os documentos acostados são relativos aos pontos 4.1, 4.2 e 4.3 do Relatório de Auditoria. Com relação ao item 4.4 foi apresentado um texto cujo conteúdo versava sobre questões de mérito.

Já com relação ao Laudo de Auditoria, foi juntado aos autos às fls.4275/4354, documentação referente à defesa conjunta dos interessados. Em seguida o Núcleo de Engenharia elaborou Nota Técnica de Esclarecimento às fls. 4764/4847.

Com a elaboração da Nota Técnica de Esclarecimento concluída, os interessados foram novamente notificados apresentando defesa às fls. 4858/4926. Após análise da nova documentação, uma segunda Nota Técnica de Esclarecimento foi elaborada pela Engenharia deste Tribunal e acostada às fls. 5945/5985.

É o relatório.

VOTO DO RELATOR

Passo a decidir, levando em conta as análises realizadas pelas equipes de auditoria e engenharia, as defesas apresentadas, nota técnica de esclarecimento e a jurisprudência deste Tribunal.

- Ausência de documentos exigidos na formalização da prestação de contas e de informações obrigatórias - A defesa acosta aos autos uma série de documentos com o objetivo de

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suprir as exigências desta Corte de Contas.

Em Nota Técnica de Esclarecimento, a equipe de auditoria reconhece que foram apresentados os documentos ausentes afirmando ser intempestiva a apresentação de tais documentos e informações neste momento, uma vez que a Constituição Federal e a Lei Estadual nº12.600/2004 impõe a obrigatoriedade da Prestação de Contas por parte do gestor no momento devido, sendo mantido assim a irregularidade.

Entendo não tratar-se de irregularidade de natureza grave cabendo, contudo, recomendação ao gestor para que a falha não mais de repita.

Pagamento de previdência complementar acima do valor estipulado na constituição - A equipe técnica apurou, em resumo, o seguinte: A COMPESA é patrocinadora de plano de previdência complementar para seus funcionários. O Plano é administrado pela Fundação COMPESA de Previdência e Assistência – COMPREV.

No exercício de 2008, a COMPREV pagou, a título de contribuição patronal e participantes ativos, os seguintes valores:

Descrição Cálculo COMPESA

Contribuições Valor Anual %

Patrocinadora 5.183.293,35 68

Participantes ativos 2.425.978,31 32

Total das contribuições 7.609.271,66 100

O Relatório expressa, de acordo com a Legislação constitucional, que a contribuição normal do Patrocinador para planos de benefícios, em nenhuma hipótese poderá exceder a do Participante, sendo exigência Legal a paridade entre elas.

A Auditoria afirma, ainda, que “o Regulamento n° 02-A da Fundação COMPESA de Previdência e Assistência – COMPREV, aprovado pelo Conselho Deliberativo, não poderia contrariar a emenda Constitucional que estabeleceu como ônus para o Patrocinador (empresa de economia mista) apenas a contribuição normal paritária com a do participante (empregado/vínculo com a

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empresa/sem gozo de benefício)”.

A seguir a equipe técnica deste TCE apresenta um quadro com o cálculo baseado no que determina a Lei.

Descrição Cálculo COMPESA Cálculo TCE

Contribuições Valor Anual % Valor Anual % Diferença

Patrocinadora 5.183.293,35 68 2.425.978,31 50 2.757.315,04

Participantes ativos 2.425.978,31 32 2.425.978,31 50 0,00

Total das contribuições 7.609.271,66 100 4.851.956,62 100 2.757.315,04

Por fim, a Auditoria afirma que o que levou aos pagamentos acima da paridade Legal pode ser dividido em duas partes, a saber:

1. Contribuição amortizante – 2,6% da folha de pagamento dos funcionários;

2. Contribuição normal sobre os rendimentos dos assisti-dos.

No primeiro caso, segundo a equipe técnica, está estabelecido na Lei que é devido pelo patrocinador apenas a contribuição normal. E no segundo caso, a Legislação distingue a pessoa do participante daquela do assistido.

A Nota Técnica de Esclarecimento mantém a irregularidade afirmando que a defesa não trouxe aos autos nenhum documento que pudesse alterar as falhas apontadas. Foram, contudo, acostados ao processo, pelo defendente, documentos que discutem questões de mérito do ponto sob análise, porém não analisadas pela Auditoria desta Corte.

A defesa esclarece que o Relatório Técnico baseou-se apenas no art. 6° da Lei Complementar n°108/2001, que tem por objeto regulamentar a dicção prevista na Emenda Constitucional n° 20, de 1998, que modifica o art. 202 da Constituição e que trata do sistema de previdência social.

A alegação do defendente se concentra em alguns aspectos do texto da Lei e sua interpretação. Sendo assim, a defesa transcreve o parágrafo 3° do citado artigo 202 da CF, a saber:

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“É vedado o aporte de recursos a entidade de previdência privada pela União, Estados, Distrito Federal e Municípios, suas autarquias, fundações, empresas públicas, sociedades de economia mista e outras entidades públicas, salvo na qualidade de patrocinador, situação na qual, em hipótese alguma, sua contribuição NORMAL poderá exceder a do SEGURADO”.

A defesa esclarece que a Emenda Constitucional n° 20 utilizou o termo SEGURADO com o propósito de não excluir os ASSISTIDOS. De acordo ainda com o defendente, “segurado é, sem dúvida, todo aquele que é destinatário dos benefícios decorrentes do Plano Previdenciário. Não poderia jamais a legislação hierarquicamente inferior retirar este direito dos assistidos, garantido pelo legislador constitucional, O que de fato não o fez.”

Com essa interpretação, a defesa conclui que “não há, com efeito, qualquer dispositivo Legal ou normativo que afaste expressamente o direito à co-participação do patrocinador em favor dos assistidos”.

Por fim , o interessado afirma que “a suposta irregularidade perpetrada pela COMPESA não é realizada sem qualquer amparo. O aporte financeiro contestado em favor dos assistidos encontra-se expressamente contido no regulamento da COMPREV, devidamente aprovado pela Portaria n° 598, de 07 de agosto de 2006, da Secretaria de Previdência Complementar do Ministério da Previdência e Assistência Social – MPAS, publicada no DOU no dia 08 de agosto daquele ano”.

Após analisar toda a argumentação, bem como a Legislação pertinente, entendo que são fortes e consistentes os argumentos da defesa. Porém, não há como deixar de constatar no comando Legal (art. 6°, § 1°, Lei Complementar n° 108 de 29/05/2001) que a contribuição normal do patrocinador, por hipótese alguma poderá exceder a do participante. Mais adiante, a própria Lei, no seu artigo 27, estabelece um prazo de dois anos para que empresas públicas e sociedades de economia mista possam rever seus Planos de benefícios e serviços para que se ajustem atuarialmente a seus ativos.

Diante do exposto, entendo que a irregularidade, não deve conduzir a rejeição dessas contas, porém cabe determinação ao gestor para que, de imediato, tome providências no sentido de

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se adequar às determinações Legais.

Enquadramento indevido em inexigibilidade na Contratação de Escritório de Advocacia – A equipe de auditoria, em resumo, aponta que não há comprovação da notória especialização dos escritórios contratados, bem como a ausência de comprovação da singularidade do objeto, visto que não restaram bem configurados os critérios que orientariam a escolha das ações judiciais que seriam patrocinadas pelos contratados. A equipe técnica, também, expressa que não há razão para a contratação de advogados para exames de editais na medida que a COMPESA dispõe de quadro próprio de profissionais. Por fim, a auditoria aponta que a previsão contratual disponibilizando um advogado para trabalhar nas dependências da COMPESA com jornada de quatro horas diárias, pode configurar terceirização ilícita.

A defesa esclarece que as citadas contratações foram realizadas no sentido de suprir a necessidade de pessoal qualificado e especializado para atuar nas áreas não atendidas pelo quadro próprio de advogados da companhia. A defesa acrescenta que o volume de demandas atendidas pela companhia é imenso e que o simples aumento do quadro interno mediante a realização de concurso público, não supriria a necessidade das contratações dos escritórios em referência, isto, segundo ainda o defendente, “porque as contratações censuradas envolvem demandas de grande relevância para a COMPESA, seja em face dos altos valores discutidos, seja por serem consideradas estratégicas para a companhia”.

A defesa é extensa anexando diversos posicionamentos da doutrina em relação a singularidade do objeto contratado e a notória especialização, incluindo os mais recentes posicionamentos do Supremo Tribunal Federal sobre a matéria.

Meu entendimento, após análise completa de toda argumentação do defendente, bem como os apontamentos da Auditoria desta Corte, é de que a COMPESA necessita, de imediato, tomar medidas no sentido de que rever a necessidade de contratação de escritórios de advocacia, uma vez que dispõe de razoável quadro de advogados na companhia. Entendo, contudo, que as irregularidades apontadas no Relatório Técnico não devem conduzir à rejeição dessas contas, sendo passíveis de recomendação ao gestor.

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Taciana Delgado
Taciana Delgado
Taciana Delgado
Taciana Delgado

Com relação às obras/serviços de engenharia, o Laudo de Auditoria apresenta 05 obras/serviços com valores passíveis de devolução, as quais passo então a decidir:

Obra 01 - Execução dos serviços e obras de implantação do sistema de esgotamento sanitário do município de Escada

A equipe de engenharia relatou ter encontrado irregularidades na obra, do projeto básico a fiscalização deficiente, bem como antecipação de pagamentos de insumos (tubos) e demora na reposição dos pavimentos danificados para implantação dos tubos, acarretando uma despesa indevida de R$ 38.305,02, a qual poderá ser elidida considerando que a obra ainda encontra-se em andamento.

A defesa argumenta que parte da tubulação estava depositada em outro almoxarifado, com mais espaço para o acondicionamento do material.

O fato é que a obra em tela teve um valor despendido, em 2008, de R$ 1.381.973,71 e tal diferença representa 2,7%, e que conforme o próprio Laudo de Engenharia expressa, como a obra encontra-se em andamento pode ser ainda corrigido.

Acolho a argumentação da defesa. As falhas aqui analisadas devem situar-se no campo das recomendações.

Obra 02 - Ampliação do sistema de abastecimento de água do município de Poção

Da mesma forma que a obra anterior, as deficiências encontradas pela técnicos de engenharia deste Tribunal são referentes ao projeto básico e a planilha orçamentária. Durante a análise da execução do contrato, foi pago ao longo do ano de 2008 o valor de R$ 521.692,21 destacando-se pagamento antecipado de itens de material dando origem a uma despesa indevida de R$ 14.994,80, referente à quantidade a maior de 94,70m de Tubos de FeFo 200mm ao preço unitário de R$ 158,34/m.

Em defesa das irregularidades imputadas à COMPESA, a administração afirma que acrescer itens e quantidades em razão da necessidade verificada após o início da obra constitui fato contratual permitido por Lei, conforme preconiza o artigo 65, com seus incisos e parágrafos, da Lei Federal nº 8.666/93, não configurando inadequação do orçamento.

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Com relação às divergências de quantidades de execução encontradas durante a auditoria, a COMPESA enviou notas fiscais correspondentes a aquisição exata da metragem medida dos Tubos de Fefo TK7, 200mm. Argumenta ainda, que não houve nenhum ato de gestão ilegal, ilegítimo ou antieconômico, pois o documento que atesta a execução do 3º boletim de medição, mediante notas de trânsito dos insumos é verídico, e consequentemente o valor apropriado como despesa indevida não existe, ficando totalmente demonstrados os valores pagos.

Apesar dos ajustes terem ocorridos nas medições seguintes, este fato não seria capaz de macular as contas da gestão.

Acato a defesa apresentada e levo para o campo das recomendações as irregularidades encontradas.

Obra 05 - Reforma e ampliação da estação de tratamento de esgoto do sistema de esgotamento sanitário da cidade de Caruaru

O Laudo de Engenharia informa que a obra foi iniciada em 03/04/2007 e paralisada em 12/08/2008 por 180 dias, conforme justificativa apresentada. Foi despendido na referida obra o valor de R$ 2.376.994,85, no ano de 2008. Durante as vistorias constatou-se algumas irregularidades, desde projeto básico precário e planilha orçamentária incoerente, redundando em significativas modificações dos serviços necessários à conclusão do empreendimento. Foram identificados materiais adquiridos e não utilizados na obra, totalizando R$ 57.868,88. Também foi imputado como despesa indevida os gastos referente ao item Stop Log, no valor de R$ 3.357,40. Ainda foi questionado o pagamento de 607,55m2 de Alvenaria de tijolo de 6 furos de ½ vez dos digestores, ao custo de R$ 29,36/m2, e que foi utilizado para execução de base em alvenaria para o muro de contorno da ETE, resultando em despesa indevida de R$ 17.837,67. Assim o valor total apontado como despesa indevida passível de devolução da referida obra é de R$ 79.063,95, 3,32% do valor pago no exercício.

A defesa inicialmente esclarece que os atos praticados pela COMPESA demonstram ausência de vícios e que houve perfeita

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adequação entre o que foi gasto e o que foi realizado.

Esclarece, ainda, que, o projeto de ampliação e reforma da ETE Caruaru representou uma metodologia pioneira no Estado de Pernambuco, pois consistiu na transformação de um Sistema de Tratamento de Esgoto composto de lagoas com aeradores de superfície em um Digestor Anaeróbico de Fluxo Ascendente, associado a um Sistema de Aeração Por Ar Difuso, contido por paredes de pedras argamassadas e material argiloso-arenoso compactado.

Tal complexidade técnica impôs a contratação de um projetista especializado para detalhar suas unidades de tratamento e por isso, algumas inclusões e outras alterações foram necessárias, e além das ocorridas em consequência de fatos vislumbrados por ocasião da realização da obra.

Continuando, a defesa explica que frente às afirmações dos auditores de que houve medição por serviços não executados ou relativos a serviços extras sem aditivo prévio, que é sabido que obras de engenharia apresentam situações em que eventuais diferenças são constatadas em boletins de medição, entre outras razões pelo fato do grande volume de trabalho a medição é feita por estimativa, mas cuida logo a fiscalização por realizar na medição seguinte os devidos ajustes.

Antes da formalização do termo aditivo correspondente, os serviços extras foram pagos com base em itens semelhantes, como quantitativos correspondentes aos valores dos serviços extracontratuais, mantendo, pois, a situação financeira do contrato próxima a realidade da obra. Isso foi necessário tendo em vista a urgência da conclusão da obra, em razão das determinações havidas no Termo de Ajustamento de Conduta firmado entre a COMPESA e o Ministério Público do Estado, que impunha prazos exíguos para a realização desse investimento e anexa a documentação e memória de cálculos.

Acolho as justificativas apresentadas pela defesa e levo as irregularidades para o campo das recomendações.

Obra 06 - Adequação e complementação do sistema de esgotamento sanitário de Rio Formoso-PE

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O Laudo de Engenharia apresenta em sua análise financeira que foi gasto na obra em tela a quantia de R$ 1.268.842,26 em 2008, e durante a sua execução foram constatadas despesas indevidas por pagamento de serviços não executados de R$ 37.478,43, por pagamento indevido de reajuste de preço de R$ 50.908,59 e por omissão na aplicação de multa contratual no valor de R$ 286.429,51, totalizando R$ 374.816,53.

O contrato sofreu prorrogação de prazo mediante o 1º, 2º e 3º Termo Aditivo tendo como justificativas o fato decorrente de chuvas que provocaram paralisações pelo menos por 120 dias e o não fornecimento de material pelas pedreiras em decorrência da grande demanda de mercado. Segundo a auditoria, esses fatos não justificam a prorrogação, visto que as chuvas são eventos regulares que ocorrem na região ano após anos, portanto previsível e que deveria estar contemplado no cronograma da empresa contratada. Com relação ao outro argumento de que a empresa contratada tinha dificuldades para obter materiais das pedreiras revela uma falta de planejamento da contratada para cumprir suas obrigações contratuais. Ao promover as prorrogações a COMPESA se exime de aplicar sanções previstas no contrato, gerando ainda dispêndios adicionais para a própria COMPESA resultantes do reajustamento financeiro dos serviços executados em atraso, após um ano da data da proposta, além de despesas contínuas com veículos e manutenção do canteiro de obras.

Na apresentação das contrarrazões, a defesa alega que todas as alterações realizadas foram, ao tempo certo, justificadas por solicitações técnicas competentes, com adequado embasamento, descabendo qualquer censura ao gestor público que tão somente supriu a obra com as modificações necessárias à conclusão do empreendimento.

Com relação ao período das chuvas argumenta que como é sabido, houve uma precipitação excepcional das chuvas, causando, inclusive, inundações de proporções catastróficas. Além disso, a previsão para eventos caracterizados como de força maior, é sempre especulativa. Não há como manter um padrão de certeza para a ocorrência e a dimensão desses eventos. Como se não bastasse, trata-se – o contrato em questão – de uma obra de engenharia com alto grau de especificidade, e com uma possibilidade maior de acontecimentos imprevistos – uma vez que se trata de obra com escavações de elevado nível – o que de per

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si já é o bastante para admitir-se dilatação do seu prazo de execução.

Alega ainda a defesa para afastar qualquer dúvida acerca da coerência entre os recursos despendidos e os pagamentos realizados, todos os boletins de medição relativos a esta obra, através dos quais se pode demonstrar objetivamente a realização dos estornos necessários, bem como a perfeita coerência da execução física com o desembolso financeiro e diz que não houve divergências propositais em medições, mas sim equívocos que foram sanados tão logo identificadas as ocorrências.

Alega, ainda, que a obra encontra-se concluída e operando adequadamente. O relatório com o acompanhamento dos efluentes demonstra que o sistema encontra-se dentro das normas especificadas.

É bastante plausível os argumentos apresentados pela defesa, diante do porte e complexidade da obra, acolhendo assim as justificativas e afastando as irregularidades encontras, porém levando para o campo das recomendações ações necessárias para que os fatos não mais se repitam.

Obra 21 - Serviços de engenharia consultiva, gerenciamento e fiscalização da obra de implantação do sistema produtor Pirapama

A obra em tela refere-se à Concorrência Pública nº 016/2007 e foi alvo de uma medida cautelar de nº 03/2008 expedida pelo Conselheiro Relator Dr. Romário Dias, em 07/08/2008. No dia 18/08/2008, o Sr. João Bosco de Almeida protocolou um pedido de reconsideração que foi analisado e acolhido pelo Pleno deste Tribunal e sendo publicado no DOE em 11/09/2008, autorizando o prosseguimento do certame licitatório. Outrossim, continua o laudo de engenharia, “destaco que a decisão aqui proposta não implica contudo, não implicar rejeição das pertinentes observações do Núcleo de Engenharia desta Corte”.

Tais recomendações são relativas à diferença de entendimento quanto aos percentuais dos encargos administrativos

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adotados na planilha licitatória, bem como do percentual referente à remuneração do escritório.

Em 2008 foi pago o valor de R$ 118.915,94, acarretando uma despesa indevida de R$ 9.028,40, ou seja, 7,59% por conta dos percentuais adotados em planilha.

A defesa alega que tal entendimento não guarda qualquer razoabilidade, consoante se pode verificar do próprio texto que, em momento algum expressa qualquer determinação aos gestores.

O escopo do recurso interposto, aliás, foi exatamente o de dar continuidade à contratação nos termos previstos em edital. Não fosse assim, a COMPESA simplesmente alteraria as regras do certame, anulando-o e refazendo-o, para o fim de dar cumprimento à medida cautelar expedida. Com efeito, a sentença a que se apega a equipe de Auditores tão somente expressa que o provimento do recurso interposto pela COMPESA – que possibilitou a continuidade do certame e a contratação deste decorrente – não significa a desconsideração das observações vertidas pelo NEG.

O Conselheiro Relator, por tal expediente, apenas resguardou que o tema fosse objeto de exame no âmbito do processo nº 0805050-8, que tem por objeto a análise do edital da Concorrência Pública nº 16/2007, processo este já julgado regular com ressalvas.

Não houve qualquer determinação coercitiva, a qual, teria inviabilizado o prosseguimento do certame.

Acolho a defesa apresentada.

Do exposto e,

CONSIDERANDO o Relatório de Auditoria, o Laudo de Auditoria e as respectivas Notas Técnicas;

CONSIDERANDO a defesa dos responsáveis;

CONSIDERANDO que as irregularidades remanescentes não se revestem de gravidade para ensejar a rejeição das contas;

CONSIDERANDO o disposto nos artigos 70 e 71, inciso II,

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combinados com o artigo 75, da Constituição Federal, e no artigo 59, inciso II, combinado com o artigo 61, §1º, da Lei Estadual nº 12.600/04 (Lei Orgânica do Tribunal de Contas do Estado de Pernambuco),

Julgo regulares, com ressalvas, as contas do Sr. João Bosco de Almeida, Ordenador de Despesas e Diretor Presidente da COMPESA e dos demais ordenadores de despesas, Sr. Roberto Cavalcanti Tavares e Sr. Carlos Eduardo de Brito Maia, Diretores de Gestão Corporativa e a Sra. Sandra Mirelly de Souza Pereira, Gerente de Contratos, relativas ao exercício financeiro de 2008, dando-lhes, em consequência, quitação, nos termos do artigo 61, §1º, da Lei Estadual nº 12.600/2004 (redação original).

E,

DETERMINO, com base no disposto no artigo 69 da Lei Estadual nº 12.600/2004, que o atual gestor da COMPESA, ou quem vier a sucedê-lo, adote as medidas a seguir relacionadas, a partir da data de publicação desta decisão, sob pena de aplicação da multa prevista no inciso XII do artigo 73 do citado Diploma legal:

• Firmar Termo Aditivo, quando couber, para execução de serviços adicionais, bem como nos casos de prorrogação do prazo de entrega da obra.

• Adotar o uso do livro de ocorrências em todas nas obras.

• Elaborar projeto de “como construído” ao término da obra.

• Atualizar o projeto básico antes da realização da licitação quando houver um interregno significativo entre a data da licitação e a elaboração do projeto.

• Informar no projeto e orçamento básico o nome e o registro do profissional responsável pela sua elaboração.

• Elaborar projeto e orçamento básico adequados contendo os elementos no couber fixados no art. 6°, inciso IX c/c art. 7°,

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§2°, inciso II da Lei de Licitações e Contratos.

• Dar publicidade em tempo hábil aos licitantes das alterações no edital, republicando-o e reabrindo o prazo inicialmente previsto quando a alteração afetar a participação no certame, conforme prescreve o art. 21, §4° da Lei 8.666/93.

• Fixar nos editais o índice setorial para o reajustamento dos preços unitários,conforme estabelece Lei Estadual n° 12.525/2003, inciso I, §1°.

• Não medir os serviços ou materiais que não estejam executados ou disponibilizados na obra, evitando o adiantamento de pagamento e a medição de serviços não realizados.

• Exigir do contratado a manutenção das condições estabelecidas na licitação quando da execução da obra, especialmente os requisitos pertinentes à qualificação técnica dos profissionais responsáveis pela obra.

• Aplicar as sanções previstas no contrato quando do seu descumprimento, especificamente a aplicação de multa pelo não cumprimento dos prazos contratuais, evitando as prorrogações mediante termo aditivo sem justificativa legal.

• Instituir um controle do nível de eficácia da fiscalização das obras, utilizando os instrumento de auditoria interna com a finalidade de impedir as medições e pagamentos de serviço não-executados.

• Nas licitações com recursos de fonte externa (Banco Mundial e outras instituições internacionais de fomento) cumprir as normas da Lei de Licitações e Contrato naquilo que não for incompatível com as normas daquelas instituições, especialmente no tocante à convocação dos proponentes remanescentes por ordem de classificação para realização do objeto pela proposta do primeiro colocado, quando da desistência do vencedor.

• Efetuar os ajustes financeiros nos contratos nos quais foram detectados despesas indevidas e excessos para as obras que se encontram em andamento.

E, ainda,

• Incluir na pauta de reunião do conselho fiscal e de administração as decisões proferidas pelo Tribunal de Contas do Estado de Pernambuco relativas à COMPESA.

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• Incluir anualmente na pauta do Conselho de Administração a aprovação da continuação da política de pessoal referente ao patrocínio dos planos de previdência complementar e de assistência médica.

• Elaborar norma para estabelecer a forma de calcular o pagamento da contribuição patronal, obedecendo a Constituição Federal.

• Elaborar norma para identificar quais processos devem ser realizados por inexigibilidade de licitação, especificando sua singularidade.

• Elaborar norma que solicite a comprovação da notória especialização mediante a apresentação de currículos, certificados e documentos comprobatórios da aptidão técnica para a prestação dos serviços que se almeja contratar;

• Contratar serviços advocatícios que não apresentem singularidade (atividades usuais e rotineiras da Administração) mediante licitação.

• Avaliar e promover o concurso público para contratação de advogados, caso o quadro de profissionais seja insuficiente para atender ao excessivo número de demandas judiciais e às atividades de assessoria jurídica.

OS CONSELHEIROS CARLOS PORTO E DIRCEU RODOLFO DE MELO JÚNIOR VOTARAM DE ACORDO COM O RELATOR. PRESENTE A PROCURADORA DRA. MARIA NILDA DA SILVA.

TVS/MC/ACP

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Taciana Delgado
Taciana Delgado