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Livro inteligencia estratégica e Competitive Intelligence

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Isabel Santos

INTELIGÊNCIAESTRATÉGICA

Guia Básico para Organizações,Comunidades e Territórios

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I TE IG CI EST T GIC

TÍTULO:Inteligência Estratégica.

Guia Básico para Organizações, Comunidades e Territórios

AUTOR:

Isabel Santos© Todos os Direitos Reservados

ISBN:978-989-20-5763-7

EDIÇÃO:Lisboa

Abril de 2015

DESIGN E CAPA:Patrícia R. Santos – www.psdesign.org

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Sobre o Autor

Isabel Santos tem experiência e formaçãoem Inteligência Estratégica e Prospectiva.

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Dedicado aos meus irmãos.

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AgradecimentosAos meus pais

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The secret of Happiness is FreedomThe secret of Freedom is Courage1

1 Baseado na Oração Fúnebre de Péricles aos atenienses, conforme registada na “História da Guerra do Peloponeso”de Tucídides. Ver fonte de informação nas Referência Bibliográficas.

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ÍNDICE

LISTA DE FIGURAS 19PREFÁCIO 23PERGUNTAS E RESPOSTAS RÁPIDAS 25

INTRODUÇÃO 29ESTRUTURA E CAPÍTULOS 31

1. INTELIGÊNCIA ESTRATÉGICA: VISÃO GERAL 37DEFINIÇÕES E ORIGENS 37INFLUÊNCIAS E SINERGIAS 44

Gestão do Conhecimento (GC) e IE 46IE/CI e Estratégia 49

Guerra e IE 53IE e Prospectiva 56

O CICLO DE IE/CI: UM CICLO ENTRE MUITOS 58Dados, Informação eIntelligence 60

A INVESTIGAÇÃO EM IE 62Organizar e Planear 66

Contingências da Investigação 68

Investigador de IE: que perfil? 70

CONCLUSÃO 71

2. O QUE VIGILAR 72O CONTEXTO COMO FONTE DE SINAIS 72O QUE VIGILAR: NECESSIDADES CRÍTICAS DE INTELLIGENCE 79

Factores Críticos de Sucesso (FCS) 81

Key Intelligence Topics (KITs) 86Cinco Forças da Indústria 88

Outras Abordagens 91

O SISTEMA DE ALERTA ANTECIPADO 92CONCLUSÃO 97

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3. FONTES E INFORMAÇÃO 98FONTES E INFORMAÇÃO: VISÃO GERAL 98

Selecção de Fontes 100

Recolha de Informação 102

Documentos públicos não Publicados 107Observação em IE 109

Validade da Informação 113

‘ELICITATION’ 117A WORLD WIDE WEB COMO FONTE DE INFORMAÇÃO 123

Análise Sentimental e Social Media 130

Credibilidade da Informação 133

CONCLUSÃO 137

4. ANÁLISE 138ORGANIZAR A INFORMAÇÃO 138‘BIAS’ E ENVIESAMENTOS 141

Criatividade, Imaginação 150

A ANÁLISE 152TÉCNICAS E MÉTODOS DE ANÁLISE 1561 – ANÁLISE DA CADEIA DE VALOR DE PORTER 1582 – ANÁLISE DA CADEIA GLOBAL DE VALOR DE KAPLINSKY 1603 – ANÁLISE DAS CINCO FORÇAS DA INDÚSTRIA DE PORTER 1624 – ANÁLISE DE HIPÓTESES CONCORRENTES (AHC) 1645 – ANÁLISE DE STAKEHOLDERS 1666 – ANÁLISE DO CICLO DE VIDA DA INDÚSTRIA/ PRODUTO 1687 – ANÁLISE DOS QUATRO CANTOS DE PORTER 1708 – ANÁLISE PESTA. 1729 – ANÁLISE TOWS. FORÇAS, FRAQUEZAS, OPORTUNIDADES E AMEAÇAS 174

10 – BALANCE SCORECARD (BS) 17611 – ESTRATÉGIAS GENÉRICAS DE PORTER 17812 – JOGOS DE GUERRA – “WAR GAMES” 18013 – MAPA DE UTILIDADE DO COMPRADOR 18214 – MATRIZ ARTHUR D. LITTLE 18415 – MATRIZ DE ANSOFF 18616 – MATRIZ BOSTON CONSULTING GROUP (BCG) 18817 – MATRIZ DE CENÁRIOS 19018 – MAPAS CONCEPTUAIS E MENTAIS 193

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19 – ‘ROADMAPS’ ESTRATÉGICOS 19520 – TEORIA DO U 198CONCLUSÃO 200

5. COMUNICAR INTELLIGENCE 201O DECISOR: CLIENTE DE INTELLIGENCE 201

Produtos de Intelligence 204

Comunicar Intelligence 209CONCLUSÃO 211

6. TECNOLOGIAS DE IE 212SISTEMAS DE COMPETITIVE INTELLIGENCE 212

Tecnologias de IE 221

Big Data e as Tecnologias Analytics 224

Outras Tecnologias 229

› A abordagem DOMEX 229

› TIACRITIS 231 › Jogos para a actividade de Inteligência 231

CONCLUSÃO 233

7. SEGURANÇA E CONTRA-INTELIGÊNCIA 234ESPIONAGEM E SEGURANÇA EM IE 234CONTRA-INTELIGÊNCIA 240

Experiências na protecção de activos contra a Espionagem Económica 244

OS DESAFIOS DA TECNOLOGIA 246The Internet of Things 247Sistemas Biométricos 250

A Tecnologia Wearable 253

CONCLUSÃO 255

8. ABORDAGENS DE INTELIGÊNCIA ESTRATÉGICA 256ISO 31000: UMA NORMA DE INTELIGÊNCIA ESTRATÉGICA? 256

Definições, Princípios e Componentes 257

Perfis, Responsabilidades e Funções 263

Aproximações à Inteligência Estratégica 264

INTELIGÊNCIA ECONÓMICA: A ABORDAGEM FRANCESA DA IE 267A Inteligência Económica na França de hoje 277

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Conceitos de Inteligência Económica 281

Segurança Económica na Inteligência Económica 282

A Influência na Inteligência Económica 286

As PMEs e a Inteligência Económica 290O Ensino da Inteligência Económica 291Novos caminhos da Inteligência Económica. Um modelo a seguir? 293

CONCLUSÃO 298

9. INOVAÇÃO, TERRITÓRIO E INTELIGÊNCIA ESTRATÉGICA 299INOVAÇÃO E SISTEMAS DE INOVAÇÃO 299

Sistemas de Inovação 302

O Modelo Triple Helix 304Clusters Industriais 307

O papel da Informação na Inovação 309

A INTELIGÊNCIA TERRITORIAL 312Uma ferramenta de Desenvolvimento Territorial 314

CEBATE: IE NA INOVAÇÃO TERRITORIAL 318CONCLUSÃO 323

10. APLICAÇÕES DE INTELIGÊNCIA ESTRATÉGICA 325VIGILAR A CONCORRÊNCIA 325RECOMENDAÇÕES E OUTRAS APLICAÇÕES DE IE 330CONCLUSÃO 333

11. CONCLUSÃO 334IE NUM MUNDO QUE NÃO COMPREENDEMOS 334

REFERÊNCIAS 338

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LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1. Designações para IE/CI. Alguns exemplos 39

FIGURA 2. Definições da IE/CI. Alguns exemplos 41

FIGURA 3. Pontos de Sinergia entre GCe IE 48

FIGURA 4. Contributos da IE para as várias abordagens da Estratégia 51

FIGURA 5. O Ciclo de Intelligence 59FIGURA 6. Posição Epistemológica e Metodológica nos paradigmas de investigação em Ciências Sociais 61

FIGURA 7. Uma visão empírica do Ciclo de IE e as suas actividades ) 64FIGURA 8. Dois modos de abordar a Identificação das Necessidades deIntelligence 65

FIGURA 9. Sinais de Mercado segundo Michael Porter 76

FIGURA 10. Diferenças entre a informação corrente e um Sinal de Alerta Precoce. 77

FIGURA 11. Identificação de Necessidades de ‘Intelligence’ a partir dos FCS. 83

FIGURA 12. Acções e Decisões Estratégicas. Alguns exemplos 87

FIGURA 13. Tópicos para Alertas Antecipados. Alguns exemplos 87

FIGURA 14. Protagonistas-chave no Mercado. Alguns exemplos 87

FIGURA 15. Modelo das Cinco Forças 89

FIGURA 16. Identificação de Necessidades deIntelligence a partir das 5 forças da Indústria 90

FIGURA 17. Cinco (5) Questões Básicas. 91FIGURA 18. Componentes básicos de um Sistema de Inteligência Estratégico (SIE) ou... 94

FIGURA 19. Tipos de fontes em IE (com base na literatura) 99FIGURA 20. Três exemplos de motores para Pesquisa Federada na web 127

FIGURA 21. Avaliar fontes de informação na web. Questões básicas para web sites. 133

FIGURA 22. Abordagem genérica à Análise 152

FIGURA 23. Cadeia de Valor de Porter 158

FIGURA 24. Variáveis de Análise na Cadeia Global de Kaplinsky 161

FIGURA 25. As Cinco Forças da Indústria de Porter 162

FIGURA 26. Grelha para Análise de Hipóteses Concorrentes 164

FIGURA 27. Grelha para uma Análise de Stakeholders 166

FIGURA 28. Matriz de Análise do Ciclo de Vida da Indústria/Produto) 169

FIGURA 29. Análise dos Quatro Cantos de Porter. 170

FIGURA 30. Grelha de análise PESTA. Exemplo da variável política. Unidade de análise: empresa 172

FIGURA 31. Análise TOWS 175

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FIGURA 32. Quadro para Análise Balance Scorecard 176

FIGURA 33. Estratégias Genéricas Competitivas de Porter 178

FIGURA 34. Componentes-chave numa Análise War Game 181

FIGURA 35. Mapa de Utilidade do Comprador 182

FIGURA 36. Matriz Arthur D. Little 185FIGURA 37. Matriz de Ansoff 187

FIGURA 38. Matriz Boston Consulting Group 188FIGURA 39. Matriz de Cenários 190

FIGURA 40. Início de um Mapa Conceptual sobre Fontes de IE 193

FIGURA 41. Início de um Mapa Mental sobre Fontes de IE 194

FIGURA 42. Arquitectura simplificada de um ‘Roadmap’ Estratégico 197

FIGURA 43. Espiral da Teoria do U 199

FIGURA 44. Os 10 papéis do(a) líder/gestor(a) segundo Henry Mintzberg 202

FIGURA 45. Componentes genéricas de um Protocolo de Produtos de IE 208

FIGURA 46. Requisitos de um sistema tecnológico de CI em cada fase do Ciclo de Inteligência 217

FIGURA 47. Uma selecção de Ferramentas e Tecnologias aplicáveis em IE/CI. Exemplos 222

FIGURA 48. Linhas de investigação emergentes nos segmentos Analytics 227

FIGURA 49. Tipos de informação alvo de Espionagem Económica 238

FIGURA 50. O Ciclo de Contra – Inteligência 241FIGURA 51. A Internet das Coisas. Exemplos de aplicações 248

FIGURA 52. Tecnologias Biométricas com linhas de investigação em curso 251

FIGURA 53. O Ciclo de Gestão de Risco conforme a norma ISO 31000: 2009 258

FIGURA 54. ISO 31000:2009 e IE. Comparação de componentes estruturais 265

FIGURA 55. Cinco níveis da Inteligência Económica em França 268

FIGURA 56. As propostas do Relatório Carayon. Exemplos em duas áreas. 275

FIGURA 57. Actores e actividades na Inteligência Económica em França. O caso dos Ministérios 279

FIGURA 58. As 5 macro temáticas pedagógicas do Ensino da Inteligência Económica 292

FIGURA 59. Dez tipos de Inovação segundo a consultora Doblin 300

FIGURA 60. Componentes do Sistema Nacional de Inovação Português 305

FIGURA 61. Modelo de Inovação Triple Hélix 306

FIGURA 62. Dimensões a considerar na análise e vigilância de um concorrente 329

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PERGUNTAS & RESPOSTAS RÁPIDAS

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1 – O que é a Inteligência Estratégica?

A Inteligência Estratégica (IE) é o processo sistemático e contínuo de recolhere analisar informação sobre o contexto externo duma organização, comunida-de ou território, com o objectivo de identificar indicadores de mudança (ris-cos, tendências e oportunidades) com impacto estratégico. O fim último da IEé apoiar a decisão e a acção no médio e longo prazo.

2 – Ok. Duma maneira simples: o que é a Inteligência Estratégica?

A IE é um processo que permite antecipar eventos com impacto a médioe longo prazo na vida das pessoas, organizações, comunidades ou territórios, isto é, eventos que podem alterar profundamente a sua evolução numa qualquerdirecção ou sentido.

3 – Que processo é esse exactamente?

É a recolha e analise contínua de informação sobre ambiente externo onde asorganizações, comunidades e territórios desenvolvem as suas actividades.

4 – O que é o Ambiente Externo?

O ambiente externo é o contexto onde qualquer organização, comunidade outerritório se situa, prossegue os seus fins e desenvolve a sua actividade ou o seunegócio.

5 – Dê um exemplo.

O ambiente envolvente externo de uma pequena organização: o RestauranteMarisqueira M45. O seu ambiente externo é a rua, o bairro e a freguesia onde )se situa. Tudo o que acontece nesse espaço físico num dado horizonte temporal,

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e os actores individuais e colectivos que nele se movimentam, assim como assuas acções e interacções, têm impacto maior ou menor na actividade do M45.Mas não só. Se o proprietário do Restaurante M45 quiser acautelar o futuro doseu negócio, ou seja, perspectiva-lo estrategicamente, terá que olhar para alémdessas fronteiras, e dar atenção ao que acontece na cidade, no país e até nocontinente onde esta localizado o seu restaurante, no médio e no longo prazoe aos actores individuais e colectivos que se movimentam nesse amplo contexto.

8 – Dar atenção a isso tudo é muita coisa. Muita informação.

Pois. Por isso é que ele não dá atenção a ‘tudo’. Ele só dá atenção a ‘tudo’ o quetem impacto no seu negócio.

9 – Dê um exemplo.

Por exemplo, se o seu produto de venda principal é o marisco, designadamente,uma determinada espécie de marisco, ele deverá, em princípio, preocupar-secom as questões-chave desse produto na perspectiva do seu negócio: quem pro-duz, onde e como produz, quem vende, onde e como vende, quem distribui,onde e como distribui e por aí adiante. Esse acompanhamento pode permi-tir-lhe antecipar, por exemplo, quando pode haver um problema (uma roturaestrutural no fornecimento da espécie de marisco que comercializa na ementado seu restaurante) ou uma oportunidade (descobrir que há uma nova técnicapara cozinhar aquela espécie específica de marisco que potencia benefícios paraa saúde dos consumidores, facto que pode usar para diferenciar o seu negócioe atrair clientes). Ao mesmo tempo, ele não terá que se preocupar com um pro-duto ou serviço que não vende. Outro negócio terá essa preocupação.

10- Quando se diz ‘dar atenção’ quer se significar efectuar IE…

Sim. Efectuar a recolha e análise de informação de modo sistemático. Fazervigilância sobre o que é relevante para uma actividade ou negócio.

11 – E por quanto tempo tem que ser efectuada essa vigilância?

Enquanto existir a organização. Portanto, em todo o ciclo de vida do negócioou da actividade.

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12 – Há algum método concreto para desenvolver a Inteligência Estratégica?

Sim. Há um processo que é, ao mesmo tempo, um método: é o Ciclo de Inte-ligência.

13 – O Ciclo de Inteligência?

Significa, de maneira simples, o processo contínuo e sistemático (Ciclo) quepermite produzir Inteligência. A ‘inteligência’ é a informação transformada,depois de recolhida e analisada, que tem essa capacidade de antever no presen-te, o perfil e movimento de forças que moldarão o futuro da sociedade comoum todo, ou de uma dimensão específica da sociedade

14 – Resumidamente como funciona esse Ciclo de Inteligência?

Primeiro: definem-se os tópicos que merecem ser alvo de vigilância; Segun-do: recolhe-se a informação necessária sobre esses tópicos; Terceiro: analisa-sea informação que foi recolhida; Quarto e finalmente: comunica-se a quem de-cide o que a análise da informação revelou. Isto é, comunica-se a ‘intelligence’(inteligência) que foi produzida.

15 – O que é que a ‘intelligence’ pode revelar de tão importante a quemdecide?

Pode revelar riscos ou ameaças que ainda não se manifestaram mas que estãoemergentes, isto é, prestes a acontecer. E também pode revelar oportunidadeslatentes e não explícitas que podem ser aproveitadas por quem tiver conheci-mento delas em primeiro lugar ou antes dos outros.

16 – Adoptar essa ferramenta exige custos ou investimentos elevados?

Não. A Inteligência Estratégica tanto pode ser desenvolvida com recursos com-plexos e de elevado investimento, como com instrumentos muito simples e cus-tos que, em alguns casos, podem chegar a ser quase nulos.

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17 – E que instrumentos são esses?

Os instrumentos básicos são três: Conhecimento em IE, pessoas que dominemesse conhecimento, e algumas ferramentas operacionais que incluem fontes deinformação e tecnologias, desde a mais simples como a Internet até software deanálise de informação mais sofisticado.

18- E que entidades podem efectuar Inteligência Estratégica?

Todo o tipo de organizações públicas ou privadas, com fins lucrativos e nãolucrativos, de grande ou pequena dimensão, todo o tipo de comunidades, todoo tipo de regiões ou territórios, podem e devem desenvolver este processo comoinstrumento para enfrentar a complexidade.

19- Numa escala de 1 a 5, qual diria que é o grau de necessidade em adoptaresta ferramenta?

O grau máximo: 5. No tempo em que vivemos de acelerada Mudança e eleva-dos níveis de Complexidade, as organizações e instituições precisam de ferra-mentas como esta para garantir não só a sua sobrevivência mas também a suasustentabilidade.

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INTRODUÇÃO

Este livro é sobre uma prática e uma disciplina que permite a qualquer actor,individual ou colectivo, usar a informação como um instrumento construtor decapacidades, o tipo de capacidades, que permite, a esses actores, perspectivaro médio e o longo prazo com maior sustentabilidade, podendo torna-los assimmais aptos a lidar com os desafios da Complexidade e da Mudança.

Essa prática e disciplina é a Inteligência Estratégica.

A primeira tese académica produzida em Portugal sobre esta área surgiu em19972e o primeiro livro publicado em Portugal surgiu em 20023.O surgimento destes primeiros trabalhos representarão, provavelmente, os pri-meiros contactos da realidade portuguesa com esta disciplina, embora de formamuito tímida, dado que, após o seu aparecimento o que parece ter-se seguidoé um longo período de estagnação (se assim o podemos designar) onde apenasos primeiros interessados e mais alguns que, pontualmente, entretanto emergi-ram, se dedicaram, de alguma forma, ao estudo ou à prática deste domínio deactividade.O presente livro deriva dessa constatação e é o resultado da perspectiva da au-tora (das suas leituras, aprendizagens, interesses, e algumas noções do seu po-

sicionamento e experiência) sobre esta prática e disciplina até recentemente 4tão pouco merecedora de atenção, e foi elaborado com a intenção de contribuir,

2 “Economic Intelligence in University Industry Interactions”. Ana Paula Amorim Marques. Tese de Mestrado. Universidade doMinho.

3 “Competitive Intelligence. Conceitos, Práticas e Benefícios”. Miguel Duarte Ferreira e João Pedro Taborda. Editora Pergaminho.Cascais, 2002.

4 Começamos a ver alguma recuperação desta temática talvez desde cinco ou seis anos a esta parte. Refiro a esse propósito e como

indicadores dessa alteração, o surgimento em 2008 da Comunidade Portuguesa deCompetitive Intelligence (CPCI), a inserção dadisciplina de Competitive Intelligence em algum ou outro curso de pós-graduação universitário e, mais recentemente (Dezembro de2014), o arranque da representação portuguesa daStrategic and Competitive Intelligence Professional Association, sob a designação de

SCIP Portugal.

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por um lado, para a divulgação desta área junto de um público mais indiferen-ciado, mas também, para funcionar como um manual básico introdutório, di-reccionado aqueles que desejam iniciar-se neste ramo profissional e disciplinar.Porque se trata de uma entre várias perspectivas possíveis na abordagem da Inte-ligência Estratégica, a autora gostaria que este livro funcionasse também comoum convite, ou (se se quiser) uma sugestão a outros profissionais e estudiosospara que desenvolvam também as suas reflexões sobre o assunto, e as partilhem,permitindo assim fortalecer este domínio de actividade com dois valores quea autora considera cada vez mais importantes no tempo em que vivemos:a pluridisciplinaridade e a transdisciplinaridade.

A Inteligência Estratégica (ou Inteligência Competitiva como também é co-nhecida) é correntemente mencionada como um instrumento para fomentara Competição no mercado, integrando essa ideia o respectivo agitar de posiçõese atitudes que tal condição envolve: vigilar, defender, atacar, contra-atacar, pro-teger, etc. Essa condição é possível de ser fomentada nesta disciplina, graças(pensa a autora) não só ao óbvio domínio e predomínio do paradigma de livretransacção de bens e serviços que hoje permeia a maioria das economias a esca-la global, mas também, devido às capacidades da própria ferramenta (a IE) quedemonstra como a informação é um poderoso recurso estratégico e pode servirbem o funcionamento desse paradigma se usada enquanto tal.

Mas esse é apenas um ponto de vista possível no modo de aplicar esta ferra-menta.

Para a autora, a perspectiva é outra: a Inteligência Estratégica é, essencialmente,um instrumento para fomentar a Inovação numa abordagem sistémica, isto é,onde os actores envolvidos cooperam e, com a ajuda da informação (aqui, namesma condição, um recurso estratégico) conseguem criar coisas novas quecontribuem para o bem-estar social. Se daí resulta que esses actores (individualou colectivamente) acabam por fortalecem as suas condições de Competitivi-dade, ainda melhor.

O resultado ‘estrela’ da sua aplicação, não é, contudo, a competitividade, masa capacidade de fomentar a Inovação por via de um trabalho concertado decooperação, assente numa dinâmica sistémica, que torna mais sustentável o queé concebido, criado e materializado, o que nesta lógica é possível pelo facto de,

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o que nasce de novo, ter os seus fundamentos assentes numa reflexão criativae prospectiva das forças várias que moldam a evolução das sociedades. Essa re-flexão criativa e prospectiva é o resultado tangível que a Inteligência Estratégicaproporciona: é a ‘intelligence’.

ESTRUTURA E CAPÍTULOS

Este livro organiza-se através de um conjunto de capítulos, do seguinte modo:

• O Capítulo 1 apresenta uma visão geral da IE enquanto prática e discipli-na, as suas diferentes definições e designações, as suas origens históricas,as influências que recebe de outras áreas de Conhecimento, o modeloque a corporiza (denominado Ciclo de Inteligência), e algumas questõesque se colocam na prática concreta de investigação em IE.

• O Capítulo 2 apresenta aquela que é, simultaneamente, a primeira ac-tividade do processo de IE e a primeira fase do Ciclo de Inteligência:a Identificação das Necessidades Críticas de ‘Intelligence’, que, por suavez, dá o nome ao sub-capítulo com a expressão “O que Vigilar”. Aquié explicado que o processo de IE – que se traduz na recolha e análisesistemática de informação – não efectua essa recolha e análise de formaindiferenciada: precisa de definir áreas de interesse com relevância estra-tégica que serão o foco de atenção dessas actividades. A definição dessasáreas é feita através de aplicação de uma espécie de filtros – que desig-namos ‘grelhas’ – que isoladamente ou combinadas, permitem distinguirtais focos de relevância, isto é, permitem identificar as Necessidades de‘Intelligence’. O instrumento operacional que permite efectuar posterior-mente essa monitorização é o Sistema de Alerta Antecipado (com a aju-da de vários recursos: pessoas, Conhecimento e tecnologia) e um concei-to com importância particular: o conceito de Sinais. Ambos tópicos sãotambém tratados neste capítulo.

• O Capítulo 3 desenvolve-se em torno da matéria-prima da IE: a infor-mação. A informação e as fontes de onde tem origem são qualificadascomo primárias, secundárias, internas e externas, e esta tipologia obrigao investigador a seguir procedimentos concretos no modo de descobrir,aceder e tratar essa informação. Essas actividades não estão isentas de de-safios que podem questionar a validade e credibilidade desta que é a ma-

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téria-prima de IE, e o investigador tem de encontrar procedimentos detrabalho que lhe permitam atenuar os riscos que esses desafios colocam.

• O Capítulo 4 trata da 3ª fase do Ciclo de Inteligência: a Análise da infor-mação. A Análise é o momento em que a informação em bruto é sujeitaao crivo do pensamento crítico, analítico e criativo do investigador paraproduzir a ‘intelligence’. O capítulo aborda todos os momentos que en-volvem esta actividade: desde a fase em que a informação é organizadapara ser trabalhada na Análise, passando pelo questionamento crítico dosfiltros cognitivos que podem deturpar o trabalho de reflexão (os ‘Bias’ ouEnviesamentos), até a Análise propriamente dita, em que, com a ajudade ferramentas criativas e de análise estratégica, a informação é transfor-mada numa base de Conhecimento prospectivo a partir da qual é possí-vel apoiar a decisão dos líderes: isto é, é transformada em ‘intelligence’.Um roteiro breve de 20 Técnicas de IE é apresentado em modo de fichasoperacionais, para ajudar o investigador a iniciar-se no desenvolvimentodesta exigente tarefa.

• O Capítulo 5 aborda a Comunicação de Inteligência, o momento emque os líderes tomam conhecimento dos resultados da investigação de IE(isto é, tomam conhecimento da ‘intelligence’) através do esforço comu-nicacional desenvolvido pelo investigador ou equipa de investigadores.Falamos de ‘esforço’ porque é disso que se trata. Comunicar ‘intelligen-ce’ exige do investigador o uso de recursos tangíveis (meios, formatose canais para veicular a sua mensagem) e intangíveis (motivação, estiloscomunicacionais, aspectos culturais, outras variáveis) que permitem ini-ciar a consolidação do fecho do trabalho de investigação. Iniciar, porque,tal trabalho, só está verdadeiramente terminado quando o investigadorobtém, da parte do decisor que escuta/recebe a sua mensagem, algumainformação de retorno da ‘intelligence’ que lhe foi comunicada, isto é,obtém o feedback, da liderança cuja tomada de decisão pretende apoiar.

• O Capítulo 6 trata do tópico ‘Tecnologias de IE’. Há mais de 20 anosque parece existir uma espécie de ‘busca do Santo Graal’ neste domínio:a tentativa de desenvolver ou simplesmente encontrar um sistema tec-nológico capaz de automatizar por inteiro todo o Ciclo de ‘Intelligence’.Os factos revelam, no entanto, que até agora tal não tem sido inteira-mente possível. Mas talvez isso esteja prestes a mudar, a medida que osdesenvolvimentos tecnológicos em áreas como a Inteligência Artificialvenham sendo incorporados em produtos e serviços passíveis de entrar

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no mercado a preços cada vez mais competitivos. Esses novos produtos )baseados neste tipo de competências tecnológicas tornarão, muito pro-vavelmente, o processo de Análise uma tarefa cada vez menos humana,ou seja, cada vez mais automatizada em muitos, ou mesmo em todosos seus aspectos.

• O Capítulo 7 aborda as questões de Segurança da Informação, desig-nadamente, os desafios da Espionagem Económica em muitas das suasvertentes. A Espionagem Económica é o roubo de riqueza em forma deinformação e, estando hoje a informação – das pessoas e organizações –cada vez mais digitalizada, esse património pessoal e organizacional en-contra-se cada vez mais vulnerável. Novamente a tecnologia coloca aquialgumas oportunidades, mas, como assinalamos nesse capítulo, muitosmais riscos. A Contra- Inteligência pode ser um modo de contornar al-guns destes riscos e desafios e dela também falamos neste capítulo.

• O Capítulo 8 desenvolve-se em torno do que designamos de ‘Aborda-gens de IE’. Destacamos uma primeira abordagem: a Inteligência Eco-nómica (o ‘modo francês’ de desenvolver a Inteligência Competitiva ouInteligência Estratégica) e sobre ela desenvolvemos uma reflexão comalgum detalhe, mencionando aspectos históricos, as especificidades quea distinguem, o modo como diversos perfis de actores se congregam paraa sua concretização e alguns desenvolvimentos recentes a seu propósito.O segundo tópico neste capítulo é dedicado à uma segunda abordagemque descobrimos ter muito significativas semelhanças com o processo deInteligência Estratégica (daí termos decidido inclui-la nesta classificaçãode ‘Abordagens de IE’ ) mas que se apresenta sob uma designação bemdiferente: a Norma ISO 3100 de Gestão de Risco.

• O Capítulo 9 é dedicado a temática: Inovação, Território e Inteligência.Na verdade são três temáticas, mas é a sua interligação que ocupa aquia nossa reflexão. É uma reflexão feita na tentativa de ilustrar as muito rele-vantes sinergias que podem ser potenciadas da combinação dessas áreas.A ideia que atravessa esta reflexão e sumariza este capítulo é simples:a Inteligência Estratégica é um estratégico instrumento para fomentara Inovação e o Desenvolvimento, quer na dimensão empresarial/organi-zacional, quer na dimensão do Território.

• O Capítulo 10 lança um brevíssimo olhar sobre aplicações de Inteligên-cia Estratégica. Começa com a Vigilância da Concorrência uma apli-cação que autora não pode deixar de incluir por ser uma abordagem

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Page 24: Livro inteligencia estratégica e Competitive Intelligence

amplamente conhecida nesta área, em particular, quando classificadacomo Inteligência Competitiva (Competitive Intelligence). Contudo,a autora considera esta, apenas uma, das muitas e variadas aplicaçõesque a IE é capaz de potenciar, sendo algumas dessas outras aplicaçõessugeridas muito brevemente no resto deste capítulo.

• O capítulo dedicado à Conclusão fecha o percurso desenvolvido ao lon-go do presente livro, destacando a ideia da Inteligência Estratégica comouma ferramenta que contribui, por um lado, para o desenvolvimento deuma reflexão mais integrada da realidade (o que Edgar Morin designacomo a exigência de um ‘Pensamento Complexo’) e, por outro, comouma disciplina que pode assumir-se também enquanto instrumento pas-sível de apoio ao desenvolvimento sustentando de organizações, institui-ções, comunidades, permitindo-lhes enfrentarem com mais resiliênciaos desafios da Complexidade, uma ideia que apresentamos baseando-nosno conceito de ‘Antifragilidade’ desenvolvido por Nassim Taleb, um dosautores que, em anos mais recentes, também se tem dedicado a pensar asquestões da Complexidade.

Para os profissionais experimentados em Inteligência Competitiva ou Estratégica,este livro será certamente uma revisão, (esperamos não muito maçadora) de ideiase conceitos, pontuada com alguns desenvolvimentos recentes que poderão consi-derar interessantes.

Para os outros (não experimentados, não conhecedores e público em geral poten-cialmente interessado) este livro será certamente uma apresentação introdutóriaútil e (esperamos também) ainda válida num horizonte de médio prazo, que lhespermitirá iniciar-se no desenvolvimento desta actividade.

Uma coisa é certa: a autora procurou que todos os leitores retirassem algum benefí-cio do tempo dedicado a leitura deste livro.

Esperamos tê-lo conseguido.

Lisboa, Abril 2015.

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