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América Informativa opular ou P opulista? Chile Esquerda x Direita Malvinas ou Falklands? Incentivo de Programas Federais A economia brasileira em destaque Hugo Chávez e a Venezuela Um relacionamento de amor e ódio O governo de Evo Morales Uruguai da guerra ao Poder Editora AI edição 01 - ano 43 julho de 2010 www.americainformativa.blogspot.com Exemplar exclusivo do assinante

América Informativa

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Revista temática sobre o populismo na América Latina

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América Informativa

opular ou Populista?

ChileEsquerda x DireitaMalvinas ou Falklands?

Incentivo de Programas FederaisA economia brasileira em destaque

Hugo Chávez e a VenezuelaUm relacionamento de amor e ódio

O governo de Evo Morales

Uruguai da guerra ao Poder

Editora AIedição 01 - ano 43julho de 2010

www.americainformativa.blogspot.com

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47| Evo Morales e seu estilo de governar

HISTÓRIA 49| Um pouco mais de Evo...

52| Da guerra para o Poder

56| Paraguai na visão populista

58| Liderança Carismática

62| Paternalismo 66|América Retratos

6| Editorial

PRINCIPAL9| Popular ou Populista?

OPINIÃO11| Lula no comando da ONU?

AMÉRICA SABORES 14 | Descubra os sabores da América do Sul

ECONOMIA17| Incentivo de Programas Federais

18| Economia Populista

21| Bolsa Família para quem?

POLÍTICA 22| O Nacionalismo de Kirchner

26| Malvinas ou Falklands?

27| A grande imprensae o mito do neopopulismo na América

29| Da Esquerda para a Direita 32| O Cenário

32| Canção: “Vencer-emos” 34| Hugo Chávez e aVenezuela: Um rela-cionamento de amor e ódio

RESENHA 38| “ A revolução não será televisionada “

42|Integração no cir-culo equatoriano

JULHO DE 2010 ANO I N º 01

Reprodução/A

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América Informativa

EXPEDIENTE

EDITOR CHEFERenato Duarte

REPÓRTERESAndréa GarbimCamila OhanaCarina Basso

Neila FlorêncioRenato Duarte

Rômulo MendesThamyris Barbosa

Willian Rafael

REDAÇÃOAndréa Garbim

PROJETO GRÁFICOThamyris Barbosa

COLABORADORA PROJETO GRÁFICO

Andréa Garbim

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Editorial

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eguindo o pensamento de que a proximidade é um dos elementos básicos para a notícia,

aproveitando uma das “brechas” no mercado jornalístico, planejamos trazer surpresas nesse primeiro projeto.

Com uma cobertura diferenciada e de qualidade sobre a América do Sul, objetivamos levar credibili-dade e a satisfação de um dos desejos naturais do ser humano: o de saber o que está acontecendo ao seu redor!

Assim, qualquer hipótese que vise outra trajetória - que não seja a democrática, não chega perto da nossa linha editorial e consequentemente é criticada e investigada.

Quando falamos na cobertura política da América do Sul, nos referimos à América Informativa - “A notícia como você nunca viu”.

Sejam bem vindos à primeira edição!

Andréa Garbim

SCaminhos Políticos da América do Sul

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SÉRGIO DUTTI

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ntre as mais fortes personali-dades da política, atualmente

rotuladas como populistas, destaca-se o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que optou por um caminho con-servador, vindo de iniciativas toma-das de cima para baixo, abraçando a política neoliberal macroeconômica de FHC. O líder tomou providên-cias que promoveram a ascensão social da camada dos mais pobres - não no caminho revolucionário da ruptura por baixo, mas pela via sancionada do acesso ao mercado, base suprema do modelo capitalista.O professor de Ciências Políticas da UniBrasil, Emerson Cervi, segue a definição dos cientistas sociais e não considera Lula um populista. “Trata-se de um líder político popular e não populista. Ele respeita as instituições e não promove políticas economica-mente irresponsáveis, ao contrário

do que o termo sugere”, afirmou. O governo brasileiro, por sua vez, toma medidas e tem seu foco nas classes mais baixas, que seriam as mais prejudicadas em caso de crise. Programas sociais típicos do governo Lula como “Minha Casa, Minha Vida” e o “Bolsa Família”, têm o objetivo de evitar que as classes menos favorecidas ou os excluídos sofram as consequências da tensão, permitindo a geração de empregos e o crescimento do país. Para o doutor em Ciência Política da USP, José Paulo Martins, a idéia de populismo surge quando o presi-dente da república manobra a mas-sa popular em busca de objetivos por fora das instituições, usando a massa para pressionar o congresso. “Eu não entendo que o Lula seja ex-atamente um populista. Ele é muito mais popular; busca falar a língua

do povo numa comunicação direta, sempre mantendo o respeito pelas instituições - mesmo com seus es-corregões -, ele sempre foi ligado aos partidos políticos”, enfatizou.

Martins ainda explica que o que está por trás dos discursos de todo políti-co é a vontade de se manter no pod-er. Independente do líder, boa parte das políticas públicas, são realiza-das com o intuito de maximizar os votos; o mesmo acontece com Lula. Outra observação apontada por Martins é a forma de condução do governo, que fez da imagem de Lula se associar diretamente à massa. No caso do Brasil, a estabilidade econômica que foi mantida (mes-mo durante a crise mundial), as conquistas do aumento de salário mínimo, o Bolsa Família – que es-tão atreladas ao cenário econômico,

Dois termos direcionados ao governo de Lula, porém especialistas afirmam: “é um tanto perigoso confundir seus significados”

EPor Andréa Garbim

Popular ou Populista?

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fizeram com que a maioria das pes-soas tivesse mais dinheiro no bolso, do que no passado. “O principal termômetro da avaliação de gov-erno é a condução econômica. Se a economia vai bem, o governo vai bem. Se a economia vai mal, o gov-erno vai mal”, acrescenta Martins.

Seguindo o raciocínio do especial-ista, podemos entender que Lula sempre se baseou em elementos populares, porque ele é do povo, metalúrgico e um trabalhador que ao longo do tempo se vinculou aos sindicatos, fazendo carreira política. Em 1994, tinha um discurso radical de esquerda sem sucesso. Porém, como a maioria do eleitorado brasil-eiro é conservador – não aceita as transformações de baixo para cima, Lula foi transformando seu discurso em conservador, com o objetivo de manter a estabilidade, os contratos, sempre utilizando um linguajar pop-ular, para se aproximar da massa.

O cientista político da UFRJ, Hen-rique Castro também acredita que Lula se vale pela sua popularidade, firmando seu espaço político de-pois de quatro candidaturas, ele de-senvolveu no campo político uma trajetória de persistência e quando conseguiu finalmente chegar à presidência, ele soube durante esses oito anos, transformar sua imagem numa popularidade frente às ações mais ligadas às questões sociais que ele implementou no governo. Castro enfatiza que um governo populista seria uma espécie de “aparelho” do Estado, que impõe uma censura para que ninguém o critique, deixando apenas que a boa imagem do líder seja divulgada, através dos meios de comunicação. “Sou contrário a dizer que o governo Lula, ou o próprio seja populista. Eu diria que ele é um popular, no sen

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Lula no comando da ONU?

e fato não existe uma regra estabelecida que impeça o

presidente Lula de ser secretário-geral da ONU (Organização das Nações Unidas), mas há indícios de que as chances disso acontecer são próximas de zero, pois o presi-dente tem uma série de obstáculos a superar. Exemplo, a reforma do Conselho de Segurança, uma das precondições para entrar na dis-puta, ainda não está no horizonte.

A ideologia do líder brasileiro, sobre vários temas polêmicos, é outro entrave, porque isso não cos-tuma combinar com o perfil de um secretário-geral. Por fim, um rodízio informal entre os continen-tes significa que a vez de um lati-no-americano assumir o comando da ONU virá somente em 2027.

Contudo, no momento não há sinais de que a reforma [do Conselho de Segurança] vá acontecer em breve. Há rivali-dade demais entre as regiões do mundo para concordarem so-bre qual país as representaria. Para que a reforma que o Brasil son-ha seja concretizada, cada região pre-

cisaria eleger um representante para ocupar novos assentos permanentes, que hoje são cinco - EUA, China, Rússia, Reino Unido e França. A diferença de opiniões com os EUA sobre temas chave, como no caso do Irã é outro fator que coloca em risco a nomeação de Lula. Ele precisaria do aval do Conselho de Segurança, onde os EUA têm direito a veto.

Por sua vez, o Conselho de Segu-rança prefere figuras mais discretas, e Lula tem muita bagagem política, no sentido de que todos sabem suas preferências, então os que discordam dele vão garantir que seja derrotado.Na hipótese da reforma na ONU acontecer e o Brasil conquistar a vaga permanente, o cenário não melhora: há um "acordo de caval-heiros" que impede os permanentes de concorrer à secretaria-geral. Se-ria muito poder para uma só pessoa.

De 2017 a 2026, a vaga deve ser ocupada por um país do Leste Eu-ropeu. A América Latina pode considerar ter a liderança a partir de 2027, quando Lula terá 81 anos. Será que ele consegue???

Por Andréa Garbim

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Opinião

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istoricamente, o termo pop-ulismo acabou por ser mais

identificado com fenômenos políti-cos típicos da América Latina, prin-cipalmente a partir de 1930, estando associado à industrialização, à ur-banização e à dissolução das es-truturas políticas oligárquicas, que concentravam firmemente o poder político na mão de aristocracias rurais. Daí a gênese do populismo, no Brasil, estar ligada à Revolução de 1930, que derrubou a República Velha oligárquica, colocando no poder Getulio Vargas, que viria a ser a figura central da política brasileira até seu suicídio em 1954. O termo populismo é uma forma de gover-nar em que o governante se utiliza de vários recursos para obter apoio popular. O populista utiliza uma linguagem simples e popular, usa e

abusa da propaganda pessoal, afir-ma não ser igual aos outros políti-cos, toma medidas autoritárias, não respeita os partidos políticos e insti-tuições democráticas, diz que é ca-paz de resolver todos os problemas e possui um comportamento bem carismático. É muito comum en-contrarmos governos populistas em países com grandes diferenças soci-ais e presença de pobreza e miséria.

do Dicionário...

Populismo: “ação política que toma como referência e fonte de legit-imidade o cidadão comum, cujos interesses, pretende representar”, ou “política fundada no aliciamento das classes sociais de menor poder aquisitivo”.

tido desse termo conseguir traduzir exatamente a reação da massa - que o aprova, o admira, seja pelo car-isma ou pelas políticas aplicadas”. Em relação às políticas públicas, o especialista explica que na maioria das vezes elas ganham uma espécie de “roupagem” especial – que se-ria um meio do marketing do gov-erno passar mais simplicidade às ações de Lula. Então quando ele cria uma nomenclatura como o PAC e o Bolsa Família, é uma forma de tornar mais acessível, à população, o conhecimento do tipo de política que está sendo implementada. Não esquecendo que há um interesse em utilizar essa boa imagem, prin-cipalmente pela dinâmica da políti-ca regional – quando os políticos que apóiam o governo procuram

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“colar” sua imagem a esses progra-mas – que são considerados positi-vos pela massa - que na maioria das vezes sente a necessidade de ver resultados práticos na sua realidade.

E o Lula conseguiu tornar tudo isso muito real e presente, através da divulgação dessas ações.Por fim, afirmarmos que se trata de um erro grave dizer que um líder que tem sido capaz de construir, com políticas públicas, um novo ambiente econômico e social para o desen-volvimento de milhões de pessoas, seja entendido como um populista.

“ Devemos debater o assunto, criando a possibilidade de construir, de baixo para cima, um país mais justo e democrático

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Descubra os sabores da América do Sul... América do Sul é um con-tinente com uma valiosa oferta gastronômica. O

melhor país para apreciar um bom prato, seria o Peru, onde localiza-mos os restaurantes mais requinta-dos. Região dona das mais variadas e deliciosas culinárias do mun-do, baseada na fusão de gostos e preferências indígenas e européias.

Porém, cada restaurante tem a sua própria visão da gastronomia, a culinária na zona das Caraíbas, as frutas tropicais e os pratos de peixe fresco, por exemplo, são ex-celentes. Se for para o interior, a carne de vaca é uma iguaria re-quintada, em países como a Argen-tina, o assado é uma especialidade. Portanto, a América do Sul tem uma diversificada gastronomia composta por carne fresca, peixe fresco, frutas tropicais, vinhos e café da Colôm-bia. Além disso, na maioria das zonas turísticas, você poderá en-contrar restaurantes especializados em outras cozinhas, como a coz-inha italiana, asiática ou Africana.

Ensalada Cruda , da Bolívia

Ingredientes: Tomates sem peloCenoura cruaBeterraba cruaPimentão cruCebolas cruasMaioneseAzeite e Sal

Modo de preparo: Em uma tigela bonita, pique os tomates, rale as cenou-ras e a beterraba. Pique em quadrados o pimentão, em rodelas bem finas a cebola e misture tudo com a maionese e azeite. Coloque sal a gosto.

Chucula, do Equador

Ingredientes: 3 bananas maduras

1e 1/2 xícara (chá) de açúcar3 ramos de canela4 cravos da índia1 litro de leite

Modo de preparo: Cozinhe as bananas sem cas-ca em água por 10 minutos. Corte em pedaços pequenos e bata no liquidificador com um pouco do leite por 2 minutos.Em uma panela coloque o res-tante do leite para ferver com

Por Andréa Garbim

Ensalada Cruda, da Bolívia

América Sabores

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Descubra os sabores da América do Sul...o cravo e a canela, incorpore a banana batida e vá colo-cando o açúcar aos poucos, mexendo sempre com uma colher de pau por 10 minutos. Espere esfriar e leve à geladeira.

Huevos Chimbos, da Venezuela

Ingredientes: Ovos12 gemasmargarina para untar as formin-hasCalda: 3 xícaras (chá) de água2 xícaras (chá) de açúcar1/4 de colher (sobremesa) de baunilha3 colheres (sopa) de rum, brandy ou conhaque

Modo de preparo:Com uma batedeira elétrica se batem as gemas até ob-ter um creme que faça bi-cos. Unte umas forminhas de empada e se enchem até a metade com o ovo batido.

Coloque os moldes em ban-ho maria durante 10 minu-tos (ao introduzir um palito de madeira, deve sair seco).

Desinforme e reserve. Numa panela ferver a água e o açú-car, mexendo durante 15 minutos em fogo alto, até obter uma calda grossa.

Baixe o fogo e junte os ovos, deixando que se coz-inhem por mais 5 minutos.

Retire do fogo adicione o li-cor e a baunilha. Deixe es-friar e se leve à geladeira.

Costeleta ancha a la parrilha, da Argentina

Ingredientes: 8 costeletas de vaca cortadas não menos que 3 cm c/u3 pimentas amarelas em vinagre2 pimentões vermelhosAlho e salsinha para provenzalMolho Chimichurri

Modo de preparo:Acender o fogo pelo menos uma hora antes da refeição. Calcula-se que teremos bra-sas entre 20-25 minutos depois.

O tempo de cocção varia de acor-do com o gosto dos comensais. Recomenda-se fogo alto (muitas brasas) e virar as costeletas não mais que 8 -10 minutos cada lado.

Isto dará uma carne tosta-da por fora e muito suculen-ta por dentro. Salgar a carne antes de colocar na grelha. Quando der a última volta na car-ne, agregue o vegetal que você mais gosta pimentão, pimenta, alho e salsinha. Da grelha ao prato, deve-se comer quente.

Coctel de Cuqui, do Uruguai

Ingredientes:1 lata de pessegos em calda1 lata de abacaxí em calda1 litro de suco de pessego1 litro de champagne seco300 ml de gin

Modo de preparo: Reserve um pouco dos pêssegos e do abacaxi em calda.

Bater o restante dos pêssegos em calda, do abacaxi em calda, o suco de pêssego, o cham-panhe e o gim no liquidificador.

Coloque em taças as fru-tas reservadas cortadas em pequenos pedaços, junte gelo e a mistura batida.

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os últimos anos, uma das economias que tem se

destacado como a mais próspera da América Latina e do mun-do é a economia brasileira. Ao assumir o comando do país, o at-

Incentivo de Programas FederaisA economia brasileira em destaque na América do Sul

NPor Carina Basso

ual presidente Luiz Ignácio Lula da Silva, encontrou uma situação sócio-econômica onde podemos numerar diversos fatores que prejudicavam a solidificação econômica de um país.Dentre os fatores desfavoráveis,

podemos destacar o alto índice de desemprego, os altos níveis de in-flação, que por mais que se encon-travam menores do que em outras épocas, ainda eram altos, se com-parados aos de atualmente e prin-cipalmente a dívida pública em to-dos seus aspectos, que ao longo dos anos foi sanada pelo atual governo.

No atual governo, foi possível re-alizar o pagamento completo da dívida pública e tal fator fez com que o Brasil passasse de devedor, para credor mundial, o que conse-quentemente gerou diversos recur-sos para o investimento em progra-mas internos. Ainda tratando-se do viés econômico, podemos destacar a crise econômica mundial de 2008, momento em que o país manteve-se forte e encarou a crise com medi-das que impulsionaram a economia.Os programas governamentais têm sido a base do atual governo, como os projetos “Fome Zero”, “Bolsa Família”, entre outros de inclusão social, como os de internet banda larga nas escolas publicas e para a população. Com todos esses itens, pode-se dizer que atualmente o país passa não só por um bom momento econômico, como tam-bém por um bom momento social.Os programas complementares articulados em nível federal es-tão descritos no quadro a seguir:

Economia

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O Brasil possui uma economia aberta e inserida no processo de globalização. A análise feita pelo Comitê de Datação de Ciclos Econômicos, coordenado pelo ex-presidente do Banco Central Affon-so Celso Pastore, e teve participação de mais seis economistas. Segundo o estudo, que considerou dados a partir de 1980, o bom desem-penho da economia começou seis meses após a posse do presidente Lula e se prolongou por 61 meses.

O segundo melhor período foi entre fevereiro de 1987 e outubro de 1988, na gestão do ex-presidente José Sarney.O menor período recessivo, de acor-do com o levantamento, foi também no governo atual e durou seis me-ses: de junho de 2008 a janeiro de 2009, quando o país conviveu com a recessão. Mesmo sendo menos afe-tado do que outros países, o Brasil sofreu nesse período reflexos da cri-

se financeira internacional. O maior intervalo de baixo desempenho, classificado de recessivo, por se es-tender por meses seguidos, ocorreu entre junho de 1989 e dezembro de 1991, prolongando-se até janeiro de 1992, num total de 30 meses. Essa fase crítica começou em meio à cam-panha pela primeira eleição direta para a Presidência da República de-pois do regime militar (1964-1985).Destacamos como uma economia instável a da Argentina, que mes-mo mantendo o papel de segunda maior economia do Mercosul, teve sua moeda, o peso, desvalo-rizada ao longo dos anos. Apesar de ser famosa pelo turismo, a base econômica do País é na produção agrícola e pecuária. Mantém-se como um dos principais expor-tadores de trigo do mundo, além das exportações de têxtil, metais e produtos químicos. Porém, Carlos Ménem, em seu governo, acelerou

os programas de privatização e lib-eralizou o setor público. Lançou um plano econômico de choque para sanear o sistema financeiro do país e estabeleceu a paridade mon-etária do peso em relação ao dólar.

A maior parte da população sofreu com a política econômica de Mé-

Economia Populi$ta

Causas e consequências de uma economia voltada para projetos sociais

atual economia do Brasil encontra-se forte e sólida: um grande produtor e exportador de mer-

cadorias de diversos tipos, principalmente commodi-ties minerais, agrícolas e manufaturados. As áreas de agricultura, indústria e serviços encontram-se, atualmente, em bom momento de expansão.

APor Carina Basso

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nem, mas estas medidas reduz-iram a inflação e a dívida externa. No entanto, após uma década de crescimento inteira, a ameaça do caos econômico reapareceu em 2001 com uma grave crise ligada ao reembolso da dívida externa, acompanhada de motins na capital.

Silvia Manfredini, economista da PUC de São Paulo explica que a entrada de Cristina Kirchner para a presidência, alavancou a econo-mia da Argentina e que através de sua postura política de socializar a população e os transformar em con-sumidores, sua moeda obtêm forte crescimento perante o dólar. Enfati-

zou que desde sua campanha eleito-ral Kirchner já vem incentivando os argentinos com programas sociais: “Argentina teve um crescimento mé-dio de 8% nos últimos cinco anos, o desemprego e a indigência estão abaixo dos 10% e a pobreza caiu de 60% para 26%. Pela primeira vez na história, o país teve um superávit

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fiscal primário de US$ 10 bilhões, as exportações estão na casa dos US$ 50 bilhões. O salário mínimo subiu e empregos foram gerados, tudo isso permitiu a transformação de mil-hões de pessoas em consumidores”

Com a chegada das crises socio-econômicas, causadas pelas ex-periências neoliberais dos gover-nos de direita, a América do Sul virou-se a uma nova realidade, a política para o povo. Visando en-contrar soluções e medidas que mu-dasse o quadro geral sul americano.No final dos anos 90, começou a sucessão de candidatos populis-tas sendo eleitos para comandar os países que até então, enfrentavam governos elitistas, imperialistas e com visões voltadas ao Governo.Os presidentes populistas adotaram novas perspectivas para seus países. Ana Maria Afonso, cientista social e economista da USP explica que os planos governamentais foram voltados para as populações de baixa renda. Defendendo os dire-itos humanos, as centrais sindicais, as organizações não governamen-tais e os partidos de esquerda. E que, em sua maioria, os candidatos elegeram-se por passarem a ideia

de mudança. Fazendo com que cada cidadão sonhasse com uma vida melhor, com um emprego es-tável e o tão esperado incentivo do Governo as classes desfavorecidas.

Foram criadas medidas socio-econômicas, como planos de as-sistência a famílias de baixa renda; incentivo para as crianças frequenta-rem as aulas; planos para facilitar o crédito de pessoas que não possuem renda ou possui uma renda limitada às necessidades familiares; redução

na burocracia das aquisições da casa própria e de automóveis; Ampliar-am de uma forma geral o poder de compra das classes média e baixa de seus países, viabilizando o cresci-mento do consumo dos mesmos. Fazendo a economia girar e crescer.Antes o foco, dos governantes Sul Americanos, estava nas priva-tizações das empresas, nas ex-portações e na macroeconomia do País. Hoje o governo também criou diversos trabalhos para man-ter e alavancar a macroeconomia.

Percentual do produto da América do Sul no PIB mundial-1980/2005

Participação dos Principais Parceiros Comerciais nas Exportações Brasileiras

20 América Informativa | Julho de 2010

Folha de S.Paulo

Page 21: América Informativa

Porém com a preocupação em faz-er a economia girar, possibilitou o surgimento de novos empregos, novas empresas e novos consumi-dores. Com o novo foco econômico, os países tiveram aumento no con-sumo, e declínio das taxas de juros. A inflação, em geral vem decaindo e possibilitando com isso que os produtos tenham forte queda em seus preços. Podemos considerar que o quadro econômico atual é muito fa-vorável a todos os países, porém não podemos esquecer que a facilidade de crédito na praça também acar-reta diversos problemas, tais como: o crescimento de inadimplentes.

Segundo Julien Schwab, econo-mista da Universidade de São Pau-lo, os governos populistas apenas seguiram o que já vinha sendo feito nos governos anteriores. Que os planos econômicos hoje estabeleci-dos foram criados há muitos anos, porém não se popularizavam, por terem como foco a macroeconomia. E os atuais governantes, através de suas políticas populares con-seguiram transformar a economia elitizada em uma economia com base na população de baixa renda.Este foi um dos motivos pelo qual o mundo entrou em crise em 2009, onde diversos bancos e institu-ições financeiras quebraram pela grande inadimplência de seus cli-entes. Porém os países sul america-nos não sofreram tanto o impacto, pois caminham ao longo dos anos, com o fortalecimento da econo-mia, com base na política de con-sumo, com uma base sustentável.

Pois nestes países onde a economia tem o foco no público de menor poder aquisitivo, o número de in-adimplentes é muito baixo, com-parando-se com os demais países.Consideramos os países sul america-

nos com governantes populistas, em sua maioria, constituídos como país-es de terceiro mundo, como potên-cias mundiais. Pois o crescimento

Bolsa família para quem?

O programa Bolsa Família, criado pelo governo federal em outubro de 2003, chega ao seu sétimo ano com novas perspectivas, atender mora-dores de ruas, remanescentes das co-munidades quilombolas, indígenas e pessoas acampadas dos movimen-tos direcionados à reforma agrária, como os sem-terra, por exemplo.

É certo e não se pode negar que o programa beneficiou milhões de famílias e, segundo apontam estu-dos, foi responsável por 20% da que-da da desigualdade de renda e pela redução de 8% na taxa de pobreza adotada pelo programa. Somente até o ano 2009, cerca de 11,1 milhões de famílias receberam o benefício e esse número aumentará em 2010 devido ao acréscimo de outras classes.

Entretanto, até que ponto essa verba, que alcançou no ano de 2009 o pata-mar de R$ 12,5 bilhões em benefícios,

chega a realmente a quem precisa?

Vale ressaltar que devido a um ca-dastro atualizado periodicamente (o qual o governo não estipulou o período) mais de 2 milhões de famílias já deixaram o programa devido ao aumento da renda ou auditorias realizadas. Contudo, é paradoxal o mesmo governo não saber estimar quantas famílias entre os acampados da reforma agrária recebem o mesmo benefício.

Não estamos levantando uma bandei-ra contra as pessoas que lutam pela tão sonhada reforma agrária, porém diversos benefícios são direcionados a essas pessoas, como descontos em universidades, cotas específicas etc. sem que haja um controle, o que nos faz pensar: de que lado eles estão e de que lado o governo está... Dos brasileiros que realmente precisam, é que aparentemente ninguém está!

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econômico dos mesmos vem preocu-pando as atuais potências mundiais, por terem conseguido criar e manter um padrão socioeconômico sólido. R

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uan Domingues é um cidadão argentino peronista. No

momento do auge dos Kirchners ele era franco defensor do casal no poder da República Argentina.

Ele sempre votou no partido justicialista, porém, diante os problemas atuais que está viven-do pretende mudar o seu voto. Domingues acha que Cristina não soube continuar o governo de seu marido. Domingues vê os indicies apontarem diminuição de pobreza, mas não percebe a mu-dança no seu dia a dia. Há 40 anos ele vota no partido justicialista. Enquanto isso a grande im-prensa mundial intitu-la Cristina como populista.

As acusações partem do baixo sucesso que ela vem tendo no país, onde a presidenta aplica políticas que visam o resgate de sua pop-ularidade às próximas eleições – segundo a grande imprensa. “Cristina é acusada de ser popu-lista, vaidosa, autoritária, com-pradora de dólares e de fraca, por deixar que seu marido seja o real

poder do governo”, afirma Ariel Palácios, renomado correspon-dente internacional desde 1955. Palácios considera que a dis-cussão das Malvinas e a crise diplomática entre governo e Ban-co Central são os embates políti-cos mais populistas de Cristina. Já o professor Oliveiros da Sil-va Ferreira, líder do NERIPUC (Núcleo de Estudos em Rela-ções Internacionais da PUC), observa que o populismo nada tem a ver com estas questões.

“Numa está em jogo o problema da soberania, noutra, a questão de saber a quem cabe a inter-pretação da lei e se o Executivo pode valer-se das reservas do BC numa emergência, questão que, não resolvida, poderá co-locar o governo argentino em má posição diante da comuni-dade financeira internacional”.Cristina pretende usar as reser-vas cambiais do BC, reservando parte do orçamento para gastos à população mais carente. Em um ano em que a Argentina esta fechada para o mercado externo,

Cristina quer usar 2,1 bilhões dos 48 bilhões das reservas cam-biais argentinas, conquistados graças ao peso desvalorizado. “Ela elaborou o chamado ‘Fun-do Bicentenário’ ordenando Martín Redrado, presidente do Banco Central, a deposi-tar o valor total das reservas.

Redrado resistiu alegando que uma futura fuga de capitais traria alto risco de inflação e que o procedimento pode atra-palhar o desenvolvimento em longo prazo”, afirma Palácios. Segundo Ramon Casas Vilari-no, historiador e pesquisador do NEILS (Núcleo de Estudos So-bre Ideologias e Lutas Sociais da

J

O NACIONALISMO DE KIRCHNERMalvinas e Banco Central são temas de algumas políticas de Cristina Kirchner, acusada de “neopopulista” pela fraca apuração da grande imprensa

Por Renato Duarte

Política

22 América Informativa | Julho de 2010

Page 23: América Informativa

PUC / SP), devemos tomar cui-dado quando falamos da aferição do desenvolvimento econômico. “Se um governo aumenta o sa-lário mínimo, isto no ponto de vista empresarial pode ser conce-bido como uma medida populista que atrapalha em longo prazo.

Já quando perguntamos para os sindicatos representantes dos trabalhadores vão dizer que isso não é populismo e que está é uma ação justa e devida”.Ou seja, temos que fazer uma análise qualitativa antes de afir-mar se a ação é populista ou não. Vilarino exemplifica: “se existem determinadas escolas e o gabi-nete escolar não chega, não dá

para esperar um crescimento da economia para investir”. A Ar-gentina possui apenas cinco por cento de população analfabeta e uma grande crise econômica.

MalvinasOutra problemática de repercussão mundial do governo argentino é a discussão sobre a soberania políti-ca das Malvinas em detrimento do controle inglês. Segundo Ariel Palácios, Cristina força um nacio-nalismo em busca de apoio popu-lar. Até mesmo a oposição se vê obrigada a ceder apoio para que não fique mal vista diante a popu-lação, sociedade civil e imprensa.A Argentina assinou um decreto restritivo à navegação entre a Ar-

Cristina Kirchner no seu discurso de posse, quando contava com o apoio da maioria da população argentina

gentina e as Ilhas Malvinas. O objetivo de Cristina é dificultar o abastecimento das ilhas uma vez que a ilha de plataforma britânica Ocean Guardian está retomando a prospecção de reservas que podem chegar a 60 bilhões de dólares, es-timados - comparável ao pré-sal brasileiro e mais de vinte vezes maiores do que a região pertencen-te aos argentinos no arquipélago.

“Durante a chamada Guerra das Malvinas o governo ditatorial de Leopoldo Galtieri usou as ilhas como forma de desviar a atenção dos outros problemas sociais que a Argentina vivia. Não por acaso a questão é ret-omada no momento em que o gover-no da presidenta Cristina é bastante questionado”, diagnostica Vilarino.

A grande imprensa veicula que a política de Cristina diante as Malvi-nas é populista, pois não ambiciona, de fato, o conflito bélico, como pre-ga. “Esta é uma boa estratégia popu-lista de resgate de imagem”, observa Ariel Palácios. Na realidade, “o governo argentino apenas está buscando uma solução para o delicado problema de fixar

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definitivamente qual é o Estado que tem soberania sobre as ilhas. A In-glaterra invoca o uti possidetis em seu favor, pois desde o século XIX tem a posse das ilhas; “A Argentina recorre ao argumento de que os in-gleses conquistaram as ilhas pela força e ao de que elas foram, desde muito tempo antes da operação mil-itar, um território argentino”, anal-isa o professor Oliveiros da Silva Ferreira.

Ao contrário dos dias sombrios do falecido general Leopoldo Galtieri, Ramon Casas Vilarino acredita que Cristina não está sendo tão descuida-da quanto o governo militar que em 1982 provocou o conflito bélico com a Inglaterra. “Cristina já declarou de antemão que jamais provocaria mais uma guerra na região, ela pretende brigar dentro dos organismos inter-nacionais, principalmente ONU”. Ferreira também não acredita no conflito bélico. “Não existe perigo

de guerra dada à situação política e econômica em que a Argentina se en-contra e dada também à conjuntura internacional, que seria desfavorável a qualquer ato de guerra. Ademais, é preciso ter presente que a sobera-nia não se exerce sobre o petróleo, mas sim sobre a ilha”. Por outro lado dentre as medidas consideradas “populistas” na atual Argentina, Vilarino destaca o cer-ceamento da imprensa aplicado por Cristina. Para o professor a imp-rensa ainda é o principal veículo de acesso do líder populista até a pop-ulação. “Se você tem um órgão da imprensa que se coloca contrário a este líder, de alguma forma ele deve ser cerceado e calado no ponto de vista do líder populista”, explica Vilarino. Cristina comprou briga com órgãos da grande imprensa. Diante as políticas populares de Cristina na atualidade, como expli-car os 18% de aprovação do gov-

Cristina Kirchner é mais uma representante de estado nacionalista da América Latina

erno de Cristina segundo pesquisa divulgada em fevereiro pela em-presa privada Consulta Mitofsky? “Ainda que esforços ideológicos tendam a mascarar a realidade, a crise econômica faz com que os trabalhadores argentinos percebam que a realidade não é aquela que está sendo proferida nos discursos”, observa Ramon Casas Vilarino. A pobreza caiu de 54% (2003) para 13% (2009) de acordo com dados do governo, ou 30% a 40% (2009) segundo economistas independent-es e a igreja católica (2009) - porém, em 2006 a pobreza era de 23,4%.

O aumento de 2006 para cá é uma demonstração do desapego da pop-ulação para com a presidenta. É in-teressante notar que diante a inter-venção de Cristina a diversos meios de comunicação fica difícil confiar nos dados do atual governo. Neste âmbito, “o governo da senhora Kirchner não tem se caracterizado por medidas populistas, a não ser com relação aos ‘piqueteiros’, um grupo de ação cujos membros, em troca de apoio ostensivo ao gov-erno e atacando manifestações dos que são contrários às políticas que este adota, gozam de posição rela-tivamente boa no quadro social do

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país”, afirma o professor Oliveiros da Silva Ferreira. No dia em que Cristina venceu as eleições a BBC de Londres enfocou no seu site uma notícia comparativa entre ela e Evi-ta Perón, colocando Cristina em um patamar superior em diversos aspec-tos, desde carismáticos até políticos. Vilarino não concorda com este en-foque. Ele lembra que Evita vincula um drama pessoal como se estivesse entregando seu corpo e sua alma à pátria, enquanto que Cristina vive em outro contexto diante uma imen-sa crise economia. Contudo as duas

Kirchner trouxe o show da Madona para os Argentinos. Esta é mais uma política popular

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de Cristina. “Ainda que esforços ideológicos tendam a mascarar a re-alidade, a crise econômica faz com que os trabalhadores argentinos per-cebam que a realidade não é aquela que esta sendo proferida nos discur-sos”, afirma Vilarino.Porém, diante a tentativa de reservar dinheiro do orçamento para a população mais carente qualquer medida contrária ao discurso neoliberal acaba sendo intitulado como populista. “Acusar um líder latino americano de popu-lista é a coisa mais fácil, como se de fato fosse uma coisa ruim. É como

dizer que isso esta fora do jogo, sem credibilidade. De repente joga todo mundo no mesmo saco e ninguém con-segue iden-tificar mais nada”, con-clui Vilarino. O neopopu-lismo que a grande imp-rensa insiste em enfocar é concebido

acabam tendo o peronismo na alma, uma por vinculo familiar e ideológi-co e a outra pelo partido Justicialista.O professor Ferreira também não concorda com a comparação. “Eva Perón teve seu papel numa con-juntura política totalmente diversa, além de uma personalidade diferente daquela que a Sra. Kirchner possui. Imaginar que seria possível reedi-tar-se o fenômeno Evita será não só desconhecer a história da Argentina e a do peronismo, como descon-hecer o processo histórico”. A crise econômica que assombra a Argenti-na é o principal inimigo do sucesso

aqui como governos populares nacio-nalistas, não só na Argentina como na maioria dos países sul-americanos.

A grande imprensa aproveita o na-cionalismo do populismo do pas-sado e começa a intitular os gover-nos latinos americanos - como o da Argentina - de acordo com seus in-teresses econômicos. Cristina é uma das poucas líderes sul-americanas que está com baixíssima populari-dade em sua gestão. A estagnação financeira dos anos 90 fez com que a Argentina não estivesse preparada perante a crise mundial do momento.

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Guerra das Malvinas ocor-reu em 1982 entre a Argen-

tina e a Inglaterra pela soberania do arquipélago que havia sido domina-do a força em 1833 pelos ingleses, quando colonos ingleses foram en-viados para ocupar o arquipélago. Em 1965 os dois países ten-taram chegar a um denomina-dor comum através da Assem-bléia Geral das Nações Unidas.

Foi discutida a resolução 1514, no qual é dado status colonial para as Malvinas, com isso a Argentina res-gatou o território perdido diante a política colonialista da Inglaterra, resolução 2065. Porém, em instantes, a Inglaterra voltou atrás da decisão. Em 1973 a Assembléia promove a Resolução 3160 para diminuir o fervor das discussões entre os dois países. Porém, em 1982, a Argen-tina ataca a região inglesa e começa a guerra das Malvinas, resultando em mais de 655 soldados mortos - 255 britânicos e três malvinos.

É interessante notar que o debate atual é bem diferente. Naquele mo-mento o país era governado pelo gen-eral Leopoldo Fortunado Galdieri, um governo militar e opressor que visava ganhar popularidade tentan-do desviar a atenção dos problemas políticos internos que a Argentina vivia com esta manobra populista. A discussão sobre as Malvinas gan-hou força quando a Inglaterra anun-ciou prospecção petrolífera na pla-ca continental das ilhas. A grande imprensa enfoca o fato como mais uma política populista de Cris-tina. Sendo essa uma discussão que esta aquém do mero termo.

O jornalista e colunista do jornal britânico The Guardian, Simon Tis-dall, afirma que “os trabalhos de exploração preliminares até agora foram decepcionantes. E além das tensões políticas, está o estresse físi-co de trabalhar numa região aonde o mar em algumas áreas poder chegar a uma profundidade de três mil met-ros. As chuvas são constantes e as temperaturas no inverno, de conge-

lar. O custo para operar uma plata-forma num ambiente como esse pode chegar a US$ 1 milhão por dia”.A argentina conta com apoio de 32 países da América Latina, incluindo Brasil, mais o caribe. É tenebroso conceber a idéia de existir um ter-ritório colonial em pleno séc. XXI.

É nesse ponto em que Cristina bate e ganha apoio político do continen-te. A evidência mostra que um novo conflito bélico esta descartado. Não existindo a ameaça de guerra, o que os ingleses vão fazer para não estabelecer o diálogo com os ar-gentinos? A discussão é fervorosa. Todos os coirmãos do continente estão unidos diante do abuso inglês. Aparentemente este é um embate neocolonialista, não neopopulista.

A disputa nas Malvinas está aquém do termo populismo. O populismo já foi e o colonialismo permanece, em pleno século vinte e um ingleses foram enviados para ocupar o arquipélago

Por Renato Duarte

Malvinas ou Falklands?

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A grande imprensa e o mito do Neopopulismo na América

Enquanto a mídia nativa se concentra no discurso populista de Cristina a argen-tina possui noventa e cinco por cento da população alfabetizada

Por Renato Duarte

É impressionante o discurso elitizado que a grande imp-rensa brasileira possui. As afirmações, ou acusações da grande imprensa não trazem dados concretos para pro-var a sua informação. Por uma coisa muito simples. Se os próprios historiados possuem dificuldade para con-ceber o termo populismo para a atualidade, como po-dem os grandes jor-nalistas brasileiros acusar os governos sul-americanos? É o que acontece normalmente na mídia nativa. Os jornalistas ao os julgadores; através da união de di-versos meios de comunicação bur-gueses em uma só ideologia, for-mulam a opinião esquecendo-se da regra básica do jornalismo - apura-ção qualitativa. São muitos os meios de comunicação brasileiros que acusam algum líder de populista sem ao menos procurar alguma fonte do campo das ciências sociais para confirmação do que está sendo veiculado. Em u texto de 23 de fevereiro, a Folha de S. Paulo fez uma reportagem condizendo que o PIB tinha começado a cair desde a ascensão de Cristina. Porém, os mesmos ignoram que em 2006, um ano antes de Cristina assumir a presidência, o PIB já caia com rumores de mais queda para os próximos anos. Não obstante não mencionam que a taxa de pobreza diminui com o casal Kirchner no poder.

Naturalmente competir com o PIB dos grandes países do capitalismo sempre foi difí-cil para os Estado Nacionais do continente. Nestor Kirchner teve que retomar a economia de alguma forma – como de fato foi feito - com oratória, renegociando contratos de dívida externa.

A grande imprensa se preocupa com a retra-ção macroeconômica do PIB dos argentinos, se esquecendo dos outros setores como educação. Afinal, a Argentina possui somente cinco por cento da população analfabetos, segundo último levanta-mento da Cepal (Comis-são Econômica para a América Latina e o Car-ibe) que tem base em es-timativas da população de 15 anos ou mais em áreas urbanas da América Lati-na e do Caribe.A impren-

sa deveria trazer uma análise mais qualitativa antes de começar com a arte taxionômica de pré-conceituar. Deveria buscar duas opiniões divergentes para que o receptor seja respeitado no que tange a qualidade de informação e a apuração jornalística. Porém, quando os meios de comunicação elitizados se unem é difí-cil se livrar do contexto. O preconceito é enraizado e vira um fato social geral diante a sociedade dada. É necessário ter cuidado com o mito do neopopulismo estimulado pela grande imprensa da América Latina.

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JPOR RENATO DUARTE PLANTIER

Da Esquerda para a Direita

m presidente deposto, uma ditadura instalada, 20 anos de repressão.

Com o fim da era Pinochet o Chile voltou a caminhar a passos largos em direção à democracia. Elegeu por votos diretos o presidente Patri-cio Aylwin, em seguida Eduardo Frei Ruiz-Tagle, Ricardo Lagos e finalmente Michele Bachelet. O que todos esses presidentes têm em co-mum? Todos são socialistas.

Foram mais 17 anos de comando esquerdista no país, até que nas ul-timas eleições um candidato de 61 anos, empresário com participação em várias corporações, milionário e de centro-direita põe fim a este ciclo.A vitória de Sebastian Piñera sobre Eduardo Frei foi o marco de uma mudança drástica num país tradicionalmente esquerdista. Mas a que se deve tamanha mudança no comportamento do cidadão

chileno?Durante os últimos 4 anos o Chile foi governado por Michele Bachelet, mulher considerada um exemplo até pelos próprios ci-dadãos. Filha de um general da for-ça aérea que foi perseguido, preso e morto durante a ditadura, Michele se formou em medicina pela Uni-versidade do Chile, foi também uma perseguida política e no ano de 2000

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Bachelet era uma militante política, o Piñera é um homem cuja vida nem sempre foi ligada à política

“foi eleita ao primeiro cargo político de sua trajetória: Ministra de Saúde.Nota-se então de cara as principais diferenças entre Bachelet e Piñera: “A Bachelet era uma militante políti-ca, o Piñera é um homem cuja vida não foi sempre ligada à política. (...) A primeira ocupação do Piñera foi a questão empresarial”, comenta

Política

Depois de uma longa trajetória de presidentes esquerdistas, o Chile vive uma nova fase

Por Thamyris Barbosa

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o Doutor em Ciências Políticas Antônio Carlos Peixoto.Piñera é economista e membro do partido de centro-direita Reno-vación Nacional . Assumiu o cargo em 11 de março de 2010, após o de-sastroso terremoto de 27 de feve-reiro, que deixou pelo menos 802 mortos e 500 feridos. Ele foi eleito com a promessa de reconstruir do país.Como o terremoto ocorreu ainda na gestão de Bachelet, houve rec-lamações principalmente em rela-

ção à marinha,que não teria dado o alerta de tsunami. De modo geral, a Bachelet sai com a imagem um pouco arranhada, segundo a avalia-ção de Antonio Carlos Peixoto.Apesar deste arranhão do terremo-to, o mandato da ex-presidente foi muito bem avaliado pelos chilenos. Mas ainda não serviu para eleger seu sucessor de esquerda, Eduardo Frei.O governo de Michele teve uma gestão focada nos aspectos sociais, melhorou muito o aceso do chileno de classe media e baixa à Internet

e Cultura. Embora não tenham sido solucionados problemas mais pro-fundos e nem problemas de justiça ainda pendentes da ditadura (de fato Augusto Pinochet morreu sem ser julgado e condenado), a liderança de Bachelet foi avaliada como de boa qualidade. Esta é a visão de Di-ego Weissel, um jovem nascido na Alemanha, mas que mudou-se para o Chile com sua família em 1999. Mas esta não é apenas uma visão singular, a ex-presidente chilena encerrou seu mandato com 86% de aceitação popular.

Michele teve uma gestão focada nos aspec-tos sociais e aumentou acesso dos chilenos à internet

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A boa aceitação de seu governo deve-se basicamente a dois fatores, segundo análise do cientista político. Primeiro a personalidade dela. Ela é uma mulher que inspira respeito an-tes de mais nada -até pela trajetória política. Ela não é uma aventureira, no ponto de vista político". Em se-gundo lugar, a gestão dela à frente do Estado chileno foi uma gestão marcada pela sinceridade. "Ela nun-ca enganou ninguém. Era uma mul-her que tinha franqueza. Se ele dizia isso, é isso. O governo dela foi um governo marcado pela honestidade. Corrupção existe em qualquer lugar do mundo. Uma coisa é corrupção consentida, outra coisa é corrupção por baixo do pano. Se existiu ou não existiu no Chile, é difícil dizer. Mas certamente ela foi uma mulher que impôs um padrão de honestidade ao modo político de operar o governo chileno. Então a população chilena gostou dela”.

A eleição de Piñera torna-se assim intrigante, afinal, o candidato que disputava as eleições com ele (Edu-ardo Frei Ruiz) foi escolhido pela Consertacion (uma coalizão eleito-ral de partidos políticos chilenos de centro-esquerda onde confluem so-cial-democratas e democratas-cris-tãos. É formada por quatro partidos políticos principais: Partido Demó-crata Cristiano (PDC); Partido por la Democracia (PPD); Partido Radical Social Demócrata (PRSD) e Partido Socialista (PS)) para substituir a en-tão governante Michele Bachelet. Mesmo com tanta popularidade, ela não conseguiu transferir seus votos para derrotar um rival histori-camente em desvantagem (por ser de direita) e pouco conhecido na política chilena.

Há quatro hipóteses para a questão.

A primeira é que, segundo Antonio Peixoto, Bachelet não se empenhou por Eduardo Frei. “Ela cruzou os braços, não foi pra esquina da rua, trepar num caixote e pedir voto pro candidato dela que voltaria portanto à democracia cristã como o Lula está fazendo para a Dilma Roussef. Ela não se movimentou”, explica.

Uma segunda hipótese levantada pela Secretária Internacional do Partido Comunista do Chile no Bra-sil, Marilena Santos, é que uma vez que o candidato derrotado Eduardo Frei já tenha sido eleito à presidên-cia em 1994, o povo chileno decidiu apostar em algo novo, já que con-hecia o estilo de governar do ex-presidente.

A terceira possibilidade levantada pelo jornalista chileno, Diego Weis-sel, é que houve um desencanto com a performance dos governos de cen-tro-esquerda, que não conseguiram solucionar problemas ainda graves de diferencias sociais e culturais muito agudas. Nem dar uma ver-dadeira opção de reconciliação dos dois principais pólos ainda muito separados e intolerantes da esquerda e direita tradicionais. Apareceu, no entanto uma nova direita, popular se voltando por questões, fazendo uso de muito marketing para atrair os indecisos. Foi crescendo uma idéia de que devia ser dada uma oportunidade a essa nova direita (embora herdeira da direita enriquecida e defen-dida pela ditadura militar, e talvez chamada de "nova" como um sim-ples recurso publicitário). Isto agiu em consonância com uma tendência “direitizante” da política mundial e um desencanto pelas classes políti-cas de centro-esquerda também aco-modadas, o que acabou por deixar o poder em mãos do empresário Se-

bastian Piñera.

O novo governo

O cidadão chileno Diego Weissel entende que o Chile esta confiante no governo de Sebastian Piñera. “Deve deixar uma boa impresão no começo, pois alem de ser um novo pressidente é uma nova etapa na política chilena onde a direita reto-ma o poder após quase 20 anos nas mãos da “Concertación”. É um mo-mento chave onde a opinião publica avalia fortemente o governo e onde qualquer indicio de descaso pode significar uma importante perda da incipiente confiança.A partir de uma avaliação a respeito do novo governo chileno, o Doutor em ciências políticas destaca que um ponto importante do Piñera é a questão da educação, “Ele vai ten-tar aumentar o grau de ensino no Chile”.

Você sabia?Os japoneses investiram em

bancos de pesca no Chile, e hoje o salmão que se consome no Brasil é exportado de

lá. Os enlatados, resultantes da

pesca são uma fonte de renda

extremamente lucra-tiva, porque o litoral

chileno é muito abundante.

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O comandante que liderou o golpe nasceu em Val-

paraíso, ingressou na carreira militar aos 17 anos e chegou ao cargo após a renúncia de Carlos Prats, que se recusava a partici-par de qualquer golpe de estado. O novo comandante-em-chefe as-sume a presidência em 17 de Jun-ho de 1974. Instala-se a ditadura.Augusto Pinochet era seu nome. Foi autor do período considera-do mais autoritário e violento do Chile. No poder do Chile dis-solveu o Congresso, proscreveu os partidos políticos, restringiu os direitos civis e declarou ilegal a Unidade Popular, frente que apoiava Allende, prendendo seus principais líderes. Foi responsável pela morte de cerca de 3 mil oposi-tores do regime e tortura de quase 30 mil. Centenas de milhares de chilenos foram obrigados a exilar-se. Paralelamente, o general pro-moveu reformas econômicas, cujo sucesso inicial levou a se falar num "milagre econômico chileno".Em 18 de fevereiro de 1988, porém, Pinochet foi derrotado no plebiscito que podia referendar o prolongamento da sua presidên-cia. No ano seguinte foram real-izadas eleições e o general entre-gou a presidência ao democrata cristão Patricio Aylwin, em 11 de março de 1990. Mas a transição ao regime democrático foi cer-cada de cuidados para não haver

retaliação aos líderes militares.Uma figura importante da história chilena, no que diz respeito à di-tadura é o cantor, compositor, ator e revolucionário Victor Jara. Ele foi detido junto com outros alunos e professores,no golpe de estado, e conduzido ao Estádio do Chile (usado como campo de concentração).Jara foi mantido lá durante vários dias, foi tor-turado e teve suas mãos cortadas como parte do "castigo" dos mili-tares a seu trabalho de conscien-tização social aos setores mais desfavorecidos do povo chileno. O próprio Pinochet continuou no comando do Exército até 1998, quando passou a exercer a função de senador vitalício no Congresso, à qual renunciou em virtude dos problemas de saúde e das diver-sas acusações de violações aos direitos humanos. Em julho de 2001, apresentou um atestado de debilidade mental que o sal-vou de uma possível condenação. Pouco antes de morrer, assumiu a responsabilidade pessoal por tudo o que ocorreu no Chile du-rante seu governo, declarando assim ter agido por patriotismo. No dia 3 de dezembro de 2006, aos 91 anos, o general sofreu um ataque cardíaco e foi in-ternado às pressas no hospital militar de Santiago. Faleceu no dia 10, ironicamente o dia inter-nacional dos direitos humanos, e foi velado na Escola Militar.

O CenáriONo dia 11 de setembro, o atual presidente foi deposto através do golpe militar e as forças armadas chilenas

bombardearam o La Moneda

Venceremos (composição: Victor Jara)

No que diz respeito a nossa bandeira mulheres se jun-taram ao clamor

O vencedor da Unidade Pop-ular opressor ianque é grave

Refrão: Venceremos, vencere-mos com Allende, em setembro a ganhar

Venceremos, venceremosUnidade Popular no poder.

Com a força que vem do povo um país melhor para fazer,batendo juntos e unidospoder, poder, poder

Se a justa vitória de Allende a direita quiser ignorartodas as pessoas, determi-nadas e corajosas com um homem se levantará.

Canção

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ÃOPor Thamyris Barbosa

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Um balanço dos doze anos de Hugo Chávez no poder

ugo Chávez é sem dúvida o principal responsável por

colocar a Venezuela aos olhos do mundo, no entanto as terras ven-ezuelanas lhe concederam o espaço para a implantação de sua política, gerando um relacionamento de 12 anos. Relação, esta que divide opiniões em torno do assunto. Den-tro desta conjuntura nasceram os chavistas e anti-chavistas que dire-cionam o caminho do país. Entenda melhor sobre o relacionamento en-tre Chávez e a Venezuela.

Histórico PopularChávez disputou a presidência em 1998, contra o empresário Henrique Salas Römer e acabou sendo eleito por 56% da aprova-ção eleitoral, sucedendo Rafael Caldera DO COPEI. Chávez emer-giu ao poder como uma renovação, segundo o especialista em ciên-cia política e doutor pela IFLCH da USP, Rui Maluf, sua imagem se fortaleceu devido o descrédito contra as forças políticas tradi-cionais AD, Ação Democrática E COPEI, Comitê de Organizacion

Política Electoral Independendiente.Para o especialista em ciência política e professor doutor da uni-versidade Mackenzie, Agnaldo dos Santos, Chávez é um divisor de águas na política de seu país, devido à reorientação das ações

estatais em prol da população mais humilde e sua diferenciação aos outros políticos antecedent-es é o forte centralismo político.Já eleito como presidente da Ven-ezuela, suas primeiras implementa-ções na política foram à mudança do

HPor Rômulo Mendes

Hugo Chávez e a Venezuela Um relacionamento de AMOR E ÓDIO

Política

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nome do país para “Republica Boli-variana da Venezuela”, seguindo na construção de um novo modelo, a Assembleia Nacional, que aumen-tou o poder ao legislativo, causando o prolongamento do seu mandato. Com a política exercida de Hugo

Chávez as classes de menores ren-das experimentaram uma melho-ria em suas condições financeiras, entretanto ao longo de seu man-dato, sua posição foi extrema-mente radical, principalmente ao tratar-se de políticas externas.

Responsável por um terço do PIB do país, a exportação do petró-leo foi um dos pontos negativos do seu governo. Para Rui Maluf a perseguição de Chávez as ativi-dades econômicas privadas domes-ticas e internacionais caminhou na contramão e conseqüentemente criaram-se menores oportunidades para oferecer a população. O seu descontentamento com a política

Hugo Chávez e a Venezuela Um relacionamento de AMOR E ÓDIO

neoliberal dos Estados Unidos foram um dos primeiros indícios para um governo autoritário. Alvo de críticas por parte da imprensa Venezuelana ao longo de seu man-dato, esta rincha ganhou noto-riedade após a tentativa de golpe sofrida pelo governo Chávez, em 2002. Segundo Maluf, a briga do governo e a imprensa é o fruto de uma concepção autoritária do poder, que o faz não aceitar ser contestado.Paralelo a isso, Agnaldo Santos, de-clara ser contrário a esta posição, dizendo que é preciso saber como é o comportamento da imprensa, se ela cumpre mais o papel de in

“ Chávez é um divisor de águas da política de seu país, devido a reorientação das ações estatais em prol dapopulação mais humilde

35 América Informativa | Julho de 2010

FERNANDO CAVALCANTI

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formar do que o partido político. Ainda, relata um acontecimento em 1964, quando a mesma im-prensa venezuelana apoiou um golpe contra o presidente da época.

Chavistas e anti-chavistasO estilo de política de Hugo Chávez deu início aos chavistas e anti-chavistas: são eles quem o aprova ou não. Divisão explícita que já chegou às ruas, por meio de con-frontos. Exemplo que se pode ser visto no filme “A revolução Não Será Transmitida”, dos irlandeses Kim Bartley e Donnacha Obrian.

“A polarização foi latente durante muitos anos devido às característi-cas de sua sociedade e economia, porém, reascendendo ao poder, o mandatário atual o explorou como um amigo-inimigo, não tem nada de positivo pensando a médio e longo prazo da vida do país”, afirmou Rui.

Queda de popularidadeAo longo de seus mandatos, a política exercida por Hugo Chávez centralizou as classes de baixa renda da Venezuela, por este mo-tivo que o rótulo de populista surgiu na mídia se popularizan-do diante das classes humildes. Porém, atualmente sua popularidade vem atingindo quedas, segundo a pesquisa divulgada pela empresa venezuelana Interlaces, somente 35% da classe D e 43% da classe

E mantêm apoiando o mandatário, enquanto o restante dos 59% man-tém pouca ou nenhuma confiança.Para o jornalista Rafael Brasil, do Grupo Bandeirantes de Comuni-cação, a queda da popularidade de Chávez é a prova de que a política autoritária dele ruma para a di-tadura, contudo, isto é um forte índice de uma futura mudança.Concordando com a mesma opinião de Rafael, Rui acrescen-ta que a queda de popularidade é uma constatação das lacunas que os serviços públicos deixaram devido a evidência do enfraqueci-mento que a política externa sofre.Entretanto, Chávez não poupa esfor-ços para (re)-fortalecer sua imagem e eleger sua posição nas próximas eleições legislativas em setembro, prova disso é a criação de um per-fil no “twitter”, uma rede social.

De acordo com sua última declara-ção fornecida na sua vinda ao Bra-sil em abril deste ano, ele possui média de 20 mil novos seguidores.Tendo o número extenso de segui-dores e não dando conta da ma-

nutenção de seu perfil, o presidente contratou uma equipe especial-mente para lidar com esses proble-mas, perguntado a Agnaldo, sobre as possíveis contradições que con-tornam a nova empreitada do man-datário Chávez, ele responde que o acesso à internet está alcançando a todos, por meio da política de in-clusão digital, mesmo o setor pri-vado com a criação das lan houses.

O enfraquecimento do governo Chávez gera muitas perguntas e a principal delas é a existên-cia da possibilidade de renova-ção no poder da Venezuela? O futuro de Hugo Chávez

Há algum tempo, mesmo que seja de uma forma tímida, os ares de renovação pairam no ar de Miro Flores. Passando por problemas internos, com forte ruptura na sua base aliada, o governo começa a sentir uma pequena ameaça.Segundo Rui, vários sinais já vem sendo dados divulgados, como, por exemplo, o resultado das últi-

“ A queda de popularidade do presidente venezuelano é a prova de que a política autoritária dele rume para a ditadura

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mas eleições regionais em que as oposições venceram em estados importantes. A eleição para o Leg-islativo no final desse ano pode ser outro momento muito valioso.Após ministros de sua própria base es-

tarem envolvidos com problemas de corrupção, Chávez destituiu alguns cargos. No entanto, para o jornalista Rafael, Chávez encontra-se com a constituição a seu favor e, portanto seria difícil uma renovação imediata.Na atual conjuntura nota-se algo parecido com o que Cristina Kirch-ner está vivenciando, que vem ge-rando problemas sucessivos, cau-sando a perda de sua popularidade.Prever o que irá acontecer com o presi-dente da Venezuela, não é tarefa fácil. A Venezuela está tão caracter-izada por Chávez, que a modi-ficação é quase inatingível.Para Agnaldo Santos é possível que ela faça um sucessor “existe o risco dele se transformar personalista, com

uma base social pouco organizada, sendo possível que ele conduza um sucessor, devido a divisão social”.O relacionamento de Hugo Chávez e a Venezuela está desgastada, am-bos tiveram um relacionamento de

amor e ódio ao longo dos 12 anos, na atual conjuntura do presidente venezuelano que se encontra em queda da popularidade, seria o melhor posicionamento de mu-dança a surgir no cenário político do país, para fortalecer a imagem do presidente como mito e as-sim abrir espaço para renovação.

O saldo final

É preciso entender o benefício que a Venezuela está ganhando com a personificação do seu man-datário, principalmente em ter-mos de país que está se desenvol-vendo, segundo o especialista Rui Maluf, se formos pensar no início

do seu mandato, sua atuação foi bastante proveitosa, houve o au-mento de poder aquisitivo para classe pobre, no entanto, o seu descontentamento com a política externa do país deu início ao man-dato autoritário, que elevou em suas contradições já conhecidas.

Contrariando esta opinião, Agnal-do dos Santos, mantêm a declara-ção que essa pergunta deveria ser respondida por um venezuelano, sua explicação vem do fato da imprensa distorcer alguns acon-tecimentos da Venezuela, devido ao seu relacionamento pertur-bado com os Estados Unidos.

Dos doze anos...

de mandato, muitas coisas acontece-ram, para pontuar o relacionamento entre ambos, a Venezuela como país e Hugo Chávez como mandatário, o jornalista Rafael Brasil, explica que o desequilíbrio seria a melhor maneira de qualificar esse período, apesar do Chávez se mostrar um pouco flexível quando questionado sobre políticas externas e internas, detêm uma briga com a imprensa, então notamos que existe um forte desequilíbrio no seu mandato.

Para Agnaldo Santos, o problema da América Latina é a desigualdade e exclusão social no continente, que a corrupção só faz aumentar, nesse ponto de vista Hugo Chávez favore-ceu a Venezuela. Em visita pelo Brasil, o próprio de-clarou opinião sobre sua atuação e diz estar implantado o socialismo que Simon Bolívar sonhava, quan-do questionado sobre possível ren-ovação na presidência, foi claro ao afirmar que a Venezuela ainda precisa dele.

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o inicio mostra-se um Chávez expondo opiniões

contrárias sobre a globalização e o neoliberalismo exposto pelos nortes americanos. Nos discursos para milhões de venezuelanos, enfatiza uma política visando a classe baixa. O cerco político se fecha, quando Chávez propõe a dis-tribuição dos rendi-mentos do petróleo a classe carente, ge-rando revolta nos elitistas de plantão.Diante de um jogo de interesses, a imprensa e o governo promovem uma batalha de discur-sos na grade televisiva.

O ponto crucial para realização do golpe de estado acontece durante um encon-tro intencionado entre chavistas e opositores, nos arredores do palácio presidencial Miro Flores. A imprensa privada usa uma imagem na qual os chavistas atiram da ponte Llaguno em Caracas, para manipu-

lar a sociedade, para pensarem que Chávez ordenou a execução dos tiros contra os opositores. Segundo o documentário os tiros foram res-postas pelo ataque sofrido dos fracos atiradores liderados por opositoresO governo de Chávez ficou en-fraquecido depois do acontecimento

afirma ter saindo por intermédio de uma ameaça de bombardeamento em Miro Flores e não por renunciar.Pedro Carmona foi declarado novo presidente da república, horas de-pois. Uma parte da população saiu às ruas para protestar a decisão, oca-sionado um conflito entre os policiais.

Os protestos se tor-naram diários e in-controláveis. A so-ciedade caminhou rumo a Miro Flores e se tornou peça fun-damentl para a volta de Chávez no poder. A Guarda Civil do país chegou ao local alegando proteger o governo de Carmona, no entanto expulsaram todos os membros que tinham posse no exec-utivo. Carmona con-seguiu fugir a tempo.

Portanto, a presidência retorna a Hugo Chávez e o povo festeja nas ruas. Evidente que o relato escrito no documentário é uma visão contada por um lado só.

A princípio para dupla de cineastas irlandeses Kim Bartley e Donnacha O’Briain estar na Venezuela significava registrar alguns

momentos íntimos do presidente Hugo Chávez

“A revolução não será televisionada”

NPor Rômulo Mendes

Resenha

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DIVULGAÇÃO

e as Forças Armadas da Venezuela tinham o respaldo suficiente para entrar nas dependências internas do palácio e pedir a renúncia do presi-dente. Retirado do poder, Chávez,

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O Equador de Rafael Correa

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A popularização de um líder na sociedade eleitoral de um país

Equador nem sempre foi um país de satisfação popular, a

maioria dos lideres foram obrigados a deixar o governo antes de terminar seus mandatos, por meio das mani-festações populares, que estavam insatisfeitas com a política de ger-enciamento dos presidentes eleitos. Na história do Equador não há um presidente que tenha conseguido cumprir os quatros anos de mandato, a não ser o líder atual Rafael Correa.

Atualmente a população equatori-ana conta com um presidente “que não só cumpriu em tempo previsto seu primeiro mandato, como tam-bém foi reeleito pela segunda vez no primeiro turno, vencendo Lucio Gutierrez,” afirma o especialista doutor em ciências sociais Paulo Edgar de Almeida. Para os eleitores do Equador, um líder exercendo o mandato pela segunda vez é vanta-joso, uma vez que presidentes ante-riores não tiveram a mesma sorte. Os outros governantes tiveram de abandonar o palácio em decorrên-cia de revoltas dos eleitores. Cor-

rêa gerencia um país que enfrenta imensos problemas que foram acu-mulados antes de sua posse. Se for avaliado com objetividade leva-se em conta que a divida social do governo do Equador com a popu-lação gera ima situação que nos levaria a um índice de desenvolvi-mento humano dos mais negativos.

Corrêa fez muito pelo país, pro-mulgou a constituição, criou uma base sólida parlamentar para gov-ernar e recebeu retorno positivo da população. “ Por outro lado não concretizou algumas promessas eleitorais, comenta o especialista e doutor em História Social Tullo Vi-gemani. Mesmo não conseguindo sanar a dívida social, Rafael Cor-rêa, adquiriu a confiança da socie-dade equatoriana, embora fosse difícil resolver todos os problemas em um curto espaço de tempo.Na política interna do Equa-dor há uma série de equívo-cos em relação ao exercício de mandatos, com apoio popular.

O país passa por uma reestrutura-

ção econômica rumo a direção que implica um processo de integra-ção no âmbito da América do Sul. Julgar que o líder Rafael Corrêa esteja preso ao Hugo Chávez. No entanto, é uma conclusão ainda precipitada, ambos falam de um socialismo o século vinte e um.

Esse socialismo por estar datado e por não ser dito que um social-ismo de século dezenove, implica que realmente há alguma criativi-dade em se postular uma economia na qual o estado possa se dar conta a ordem pública, com um projeto que leva em conta a divida social.

São fatores que não se resolverão em curto período, esse processo levará um bom tempo, isso tam-bém se dá ao fato da economia do país ser dolarizada, e por não ter o seu próprio banco central.

Foi muito fácil dolarizar a moeda equatoriana, “mas é muito difícil desdolarizar e consequentemente Rafael Corrêa não propõe absoluta-

Integração no Círculo Equatoriano

Política

Por Neila Rocha

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mente impor um processo de manei-ra voluntária. O que Corrêa propõe é que, se possa realmente pensar a meia e longa distância em uma moeda regional eletrônica, “afirma o especialista e doutor em Econo-mia, Amaury Patrick Gremaud.

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Correa está valorizando bastante o processo de integração pensando de uma forma que implica uma as-sociação para o desenvolvimento, embora saiba que esse procedi-mento de integração em contextos de grande assimetria, mesmo entre países da America do Sul é bem complexo. Tanto para Edgar de Almeida, quanto para os especial-istas Amaury Patrick e Tullo Vige-mani, o populismo só existe para os mal informados, e o foco está no governo equatoriano de Rafael Cor-rea, cujo discurso político está mais próximo da posição política dos presidentes da Venezuela e Bolívia.

“ Corrêa fez muito pelo país, promulgou a constituição, criou uma base sólida parlamentar para governar e recebeu retorno positivo da população

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ara descrever um modelo de governo como o de Evo

Morales, são necessárias muitas in-formações sobre os pontos fortes, as fragilidades, conquistas, estraté-gias e muito conhecimento sobre o atual cenário político da Bolívia. A princípio o objetivo dessa matéria é esclarecer de que maneira o presi-dente é compreendido, pela massa, como popular ou como populista. Morales, descendente de indígenas, subiu ao poder através do voto popular.

Um homem de personalidade firme, que conduz e mantém o al-icerse de seu governo, baseado numa estratégia de popularidade, que na maioria das vezes é con-fundida com um modelo populista. Para o doutor em Ciência Política da Unicamp, Rudá Ricci, não é correto

dizermos que o governo de Evo Mo-rales é populista. “Ele é um governo marcado pela democracia direta e pela ação comunitária das comu-nidades indígenas. Evo é um forte representante das comunidades in-dígenas, e como elas são muito po-bres, obviamente que toda essa ação é mal compreendida pelos ricos brancos e pela sociedade ocidental, de uma maneira geral – que não con-hece essas características”, explica. O especialista ainda ressalta que o líder não pratica exatamente um populismo: “Morales começa a governar às 4h30 da manhã e nin-guém noticia isso. A primeira re-união de Ministério dele é às 6h00 da manhã. E uma outra caracterís-tica, até pela descendência indíge-na, é que ele sai todo dia no final do expediente e vai para as ruas conversar com a população. Nós

não temos essa característica no resto da América Latina”, afirma. Ricci encerra sua linha de pensamen-to em relação ao tema, dizendo que precisamos ter um pouco mais de cuidado para não desenvolver uma análise etnocêntrica, ou seja, nos apoiarmos em valores e na lógica da nossa etnia branca na intenção de interpretar as diferenças e até subjugar a diferença indígena, pois isso tem uma diferença muito im-portante do ponto de vista cultural.

Já o doutor em Ciência Política da USP, Rui Tavares, explica que em primeiro lugar é preciso levar em conta o próprio conceito de popu-lismo. “Se pelo populismo enten-demos as ações que comportam o adjetivo de demagogia, creio eu que nenhum dos líderes da América do Sul poderiam ser assim definidos.

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Evo Morales e seu estilo de governar

A popularidade nas ações e um populismo nas intenções

Por Andréa Garbim

Política

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Por outro lado, se a massa acredita que o populismo é se comprometer com políticas e idéias, então Evo Morales é um grande populista. Porém, entendo que o maior deles é efetivamente, o presidente da Ven-ezuela, Hugo Chávez”, compara.

Tavares deixa claro que só podem-os falar em populismo, embasados em termos muito concretos, ainda mais quando citarmos o perfil de um governo como o de Evo Mo-rales. “Há uma indisposição em relação ao Evo, por parte de alguns grupos que acabam o denominando

eleito pela maioria absoluta da so-ciedade que é de origem indígena e está lutando para que haja um maior controle estatal sobre as riquezas do país, as quais pretende utilizá-las para melhorar os índices de justiça social e qualidade de vida da maior parte da população”, afima Pieri.

Por fim, de acordo com as opiniões expostas, Morales reproduz uma popularidade, de acordo com sua ideologia. Sua imensa populari-dade nos últimos cinco anos, sug-ere um cenário de não preocupação vinda da maioria dos bolivianos.

como populista. Evo é na verdade, uma pessoa que se tornou muito conhecida e muito popular pelas suas idéias e propostas políticas”,O mestre em Estudos Populacio-nais e Pesquisas Sociais (ENCE-IBGE), Vítor de Pieri, explica que existe muita confusão conceitual em relação ao termo populista, uti-lizado pelos diversos setores da so-ciedade sem defini-lo corretamente.

“As ações do governo Morales - principalmente as relacionadas à au-todeterminação dos povos - são pop-ulares e totalmente legítimas, ele foi

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Um pouco mais de Evo...

omem simples, nascido de família camponesa, deixou a agricultura para começar a

traçar sua trajetória como líder sindi-cal. Ganhou destaque com suas críti-cas ao governo dos Estados Unidos...Defendeu a folha de coca, teve condições de unir sua oposição à política americana antidrogas com a defesa da cultura nativa e os direitos dos mais pobres. Seu espírito de liderança agregou três dimensões simbólicas: o senti-mento nacionalista, a preocupa-ção com os pobres e o orgulho ét-nico entre a população boliviana. Ações que foram capazes de trans-formar um simples agricultor em um formador de opinião. Morales como líder, foi capaz de combinar três di-mensões que refletiram duas refor-mas institucionais realizadas nos anos 90, expandindo a participação social e abrindo oportunidades para novos líderes e movimentos políticos.

O país se dividiu em municipali-dades, transferindo recursos tribu-tários e capacidade de tomada de decisões para as comunidades. Com isso os sindicatos agrícolas começaram a controlar várias ci-dades, inclusive assumindo respon-sabilidades administrativas, gerando

a formação de novos partidos políti-cos, enquanto a criação de conselhos regionais em 1997 tornou possível que líderes com fortes raízes locais chegassem ao congresso boliviano sem o apoio de grandes partidos.Aproveitando o cenário político, Morales intensificou suas ativi-dades sindicais e sua luta contra as políticas antidrogas. O congres-sista seguiu com sua ideologia até vencer as eleições presidenciais em 2005, com maioria absoluta.

Os outros partidos facilitaram seu caminho ao desacreditarem uns aos outros, deixando até de defender seus próprios feitos nos 20 anos anteriores. Outros fatores que fa-voreceram a ascensão de Morales foram: o renascimento da indústria petrolífera boliviana e a criação de mecanismos para distribuir a renda produzida pelo petróleo. Ambos sustentam seu governo atualmente.Em meados dos anos 90, alguns investimentos privados elevaram a produção de gás natural – que em pouco tempo estava sendo ex-portado - com altos lucros - ao Brasil. Nesse momento a econo-mia boliviana aproveitava a alta dos preços mundiais das matérias - primas. Resumidamente, a ar-recadação aumentou, apesar das

políticas nacionalistas que dificul-taram o acesso a novos mercados.A partir de 2005, as exportações bolivianas cresceram da mesma forma que a arrecadação fiscal. O dinheiro é distribuído aos governos locais, de acordo com uma regra estabelecida pelos antecessores de Morales. E por meio de transferên-cias criadas durante os anos chama-dos de neoliberais, as famílias têm benefícios previdenciários univer-sais e não colaborativos cedidos às pessoas com mais de 60 anos, um programa que alcança mais de 30% das famílias. Alguns progra-mas de auxílio a estudantes (de es-colas públicas) e de assistência a mulheres grávidas, foram criados.

Mas o impacto foi mais político do que econômico. Contudo, sob a administração de Morales a economia boliviana foi se desenvolvendo graças à de-manda internacional e às transfer-ências de dinheiro do Estado para os governos locais e pessoas físi-cas. Essas transferências não ap-enas aumentaram o consumo das famílias, mas também trouxeram oportunidades de comércio, tanto no setor formal como no informal, o que torna as políticas mais bem-sucedidas na luta contra a pobreza.

HPor Andréa Garbim

História

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No entanto, o presidente uruguaio não prega a forma modesta e popular de governar igual ao presidente Lula impôs nos seus oito anos de mandato. Mujica utiliza um discurso difer-enciado e mais elaborado “Anal-isando o discurso do Pepe, po-demos notar que ele jamais pode ser considerado um populista, ele é de uma esquerda antiquada que observa o mercado”, afirma o Ci-entista Político doutorado pela Uni-

Da guerra para o PODER Ex-ministro de Agropecuária José “Pepe” Mujica é eleito presidente

sem dar margem ao populismo

Uruguai desde março vive uma nova era. José Mujica

foi o primeiro ex-guerrilheiro a ser eleito presidente na América do Sul. Dono de hábitos simples, residente em uma pequena casa na periferia de Montividéu, Pepe não trocou seu aconchegante lar pelo Palácio do Governo do País. Além disso, se considera o símbolo da áurea so-cialista, abolindo o exagerado con-sumo que o capitalismo prega.

Desde o início de sua jornada na presidência do Uruguai, Mujica preferiu adotar um jeito de gover-nar muito conhecido pelos brasil-eiros, o modelo do atual presi-dente Luís Inácio Lula da Silva. “Lula é um modelo de presidente, porque demonstrou uma enorme capacidade de negociação e con-seguiu transformar os conflitos em saídas”, disse Pepe em ent-revista a CNN em Los Angeles.

osé Alberto Mujica Cordano conhecido como “Pepe Mujica” nasceu em Montevidéu no

dia 20 de maio de 1934. O uruguaio já foi depu-tado, ministro da Pecuária, Agricultura e Pesca, além de ter participado da guerrilha chamada Movimento de Libertação Nacional-Tupamaros.

Pepe Mujica teve um papel importante para colo-car fim à ditadura civil-militar no Uruguai que ocor-reu entre os anos de (1973 a 1985). “A ousadia de querer mudar e a persistência em lutar contra o governo estimularam a população” afirma Ci-entista Político Walter Tadeu. Atuando por esse movimento, Pepe realizou assaltos, seqüestros e ficou preso por 14 anos, e só saiu em 1985 quan-do chegava ao fim à era da ditadura no Uruguai.Após conquistar a liberdade Pepe retornou à democracia. Em 1994 foi eleito deputado, e em

1999, senador. Nas eleições de 2004 um fato histórico aconteceu com Mujica, que acabou sendo eleito para o senado com a maior quantidade de votos (300.000), mas após o resul-tado renunciou e virou ministro do rancho, ag-ricultura e pesca. Já em 2008 ele retornou ao Senado onde ficou até o ano seguinte.

Seu retorno ao poder aconteceu em 2009, quan-do se candidatou a presidência do País e foi eleito no dia 29 de novembro com a maioria dos votos, tornando-se o Presidente mais velho a assumir uma nação com 75 anos de idade. Na comemora-ção o ex-guerrilheiro afirmou “O passado já pas-sou. Para mim, importante são presente e futuro. E eu vou ser vitorioso no comando dessa nação”.

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História

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versidade de São Paulo e autor do livro Os Franceses, Ricardo Corrêa. Corrêa ainda afirma que Mujica tem uma linguagem direta e o seu discurso que fala sobre divisão en-tre o povo e as classes dominantes é claramente chavista. Mas por outro lado, em políticas de gov-erno, se parece muito com o Lula.O Cientista Político graduado pela Universidade de São Paulo – USP, Thiago Costa concorda com Cor-rêa e complementa: “O Uruguai em conjunto com o Chile não podem e nunca serão populistas, pois você já ouviu falar em alguma associação organizacional Uruguaia? Sindica-tos Uruguaios? ONGs Uruguaias? Nunca ouviu e nunca vai ouvir falar”.

Brasil e Uruguai Em sua posse o presidente do Uru-guai só foi elogios para o Lula, descrevendo como um “velho amigo”. No entanto, ele deixou no ar que o Brasil e Uruguai ainda têm divergências na relação bilat-eral e na maneira como enxergam os planos de integração regional. Para bom entendedor, Mujica falou com sábias palavras, pois ele deixou claro que o Uruguai e Brasil ainda precisam sentar e conversar so-bre a represália que o Uruguai im-pôs em abrir o mercado ao frango fresco brasileiro e a retaliação que o Ministério da Agricultura brasile-ira vem fazendo as vendas de leite, carne, pescados e animais vivos.Outra divergência que precisa ser resolvida é a postura que o Brasil tem que ter no MERCOSUL, Para o Cientista Político graduado pela Faculdade Presbiteriana Mackenzie, Guilherme Augusto o Brasil tem que liderar o grupo do Mercosul. “Os países que fazem parte do Mer-cosul estão fechados neles próprios. O Brasil precisa ter uma postura maior e liderar, por suas dimensões.

O Uruguai como os países do Cone Sul, também enfrentou nos anos 70 um processo de ditadura mili-tar. Até a década de 60, o país era considerado uma espécie de “Suíça da América”, um fato que gerava muito desgostos para seus povos.

Nessa mesma época, o país acabou entrando numa grave crise econômi-ca e social, onde gerou o movimento guerrilheiro, no qual José “Pepe” Mu-jica fazia parte. A guerrilha chamada Tupamaros foi base para a implan-tação da ditadura militar em 1973.

O Uruguai, especialmente naquela época, era um país mais indepen-dente das potências capitalistas centrais. Nesse mesmo tempo o país chegou a ter mais ou menos cinco mil presos políticos entre out-ros. O fim da ditadura ocorreu nos anos 80, em virtude do agravamen-to de grandes problemas do país.

Ditadura Militar“ O Brasil precisa ter uma postura maior e liderar, por suas dimen-sões“

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Dentro de sua campanha política, Lugo prometeu realizar uma reforma agrária dentro dos marcos constitucionais, ampliando o sistema de segurança nacional no país

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Paraguai é um país do cen-tro da América do Sul, que

não possui uma saída para o mar, assim como o Brasil. Tem uma história de muitas tentativas de golpe, ditadura militar, e corrup-ções. Desde 1954 o comandante do Exército, general Alfredo Stroessner tomou o poder em regime militar por 30 anos, pelo partido Colorado.

Para cada eleição, suspendeu-se por um dia o estado de sítio. Stroess-ner garantiu seu regime exilando seus líderes democráticos, contro-lando diretamente as forças arma-das do país. Como a Igreja era con-tra ao regime, reagiu expulsando vários sacerdotes. Nesta mesma época, o Paraguai marcou no cam-po econômico com a inauguração da Usina Hidrelétrica de Itaipu.

Já nos tempos modernos, o Paraguai evolui bastante. Em 1991, assinou na cidade de Assunção, juntamente com o Brasil, Argentina e Uruguai, o tratado de criação do Mercado Co-mum do Sul (MERCOSUL), retirou a censura á imprensa e autorizou a volta dos exilados, além de legalizar organizações políticas que estavam

proibidas e convocou eleições.

Em 2009, o país foi marcado por uma eleição polêmica, o ex bispo católico e teólogo, Fernan-do Lugo foi eleito o novo presidente, dando fim a quase seis déca-das de domínio do Partido Colorado no país. Primeiro bispo a ser eleito chefe de Estado em toda a história, Lugo recebeu uma dispensa histórica do papa Bento XVI, permitindo-lhe exercer a presidência do Paraguai, a partir de 15 de agosto de 2008.

A Doutora em Ciências Políticas especializada em movimentos pop-ulistas na América do Sul, Gabri-ela Piquet, afirma que Lugo fez sua campanha baseada em questões im-portantes, como a reforma agrária e o desenvolvimento do país com a mudança e o reajuste na linha de transmissão de energia com o Bra-sil. Segundo Gabriela, a campanha eleitoral do ex bispo foi baseada em um estilo populista, mas ape-sar de ter afirmado que considera “interessante” o governo do ven-ezuelano Hugo Chávez, Lugo dis-tanciou-se dos líderes populistas da América do Sul, concentrando-

Paraguai na visão populista

História

Por Camila Ohana

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OLGA VLAHOU

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se principalmente na questão da desigualdade social no Paraguai.

Dentro de sua campanha política, Lugo prometeu realizar uma refor-ma agrária dentro dos marcos con-stitucionais, ampliando o sistema de segurança nacional no país. “O ex bispo enfrenta dificuldades para aprovar as principais reformas, acredito que conforme ele adquirir apoio da população, e se confirmar como um candidato de mudança, isso irá mudar”, pondera o so-ciólogo e especialista em ciências políticas, Francisco Corrêa Weffort.

Porém, explica que se ele apresentar-se como um político moderado, tudo vai se tornar mais fácil, conseguin-do apoio em suas ações, “quando tocou numa questão que tem sido reconhecida no Brasil, Lugo uti-lizou de métodos populistas para dizer que deveria negociar preços mais justos no Tratado, e o país, é claro, foi no embalo”, comenta.

Pelo Tratado de Itaipu, firmado por Brasil e Paraguai em 1973, a energia gerada pela usina deveria ser dividida igualmente entre os dois sócios, mas, o Paraguai uti-liza apenas cerca de 5% dessa en-ergia, quantia suficiente para suprir 95% de sua demanda. O excedente é vendido - a preço de custo - ao Brasil, onde 20% da energia elé-trica consumida vem de Itaipu.

O especialista alerta que o Brasil de-veria se sentir ameaçado com esse tipo de mudança, até o momento Lugo apresentou ser um estrategista de esquerda moderada, mas após ele conquistar uma maioria no con-gresso, vai enfrentar dificuldades de negociação com financiamento de energia. A Doutorada em ciên-cias e história política, Lívia Cris-

tina de Aguiar Cotrim, discorda: “desde 1973 o contrato não obteve mudanças, é uma questão de desen-volvimento do país, esse Tratado só venceria em 2023 e Lugo conseguiu antecipar isso, é uma vitória”, afirma.Lívia explica que o Brasil não deve se sentir prejudicado, pois o utiliza quantidade o suficiente para suprir as necessidades de energia. Lívia defini o governo de Fernando Lugo como moderado e de mudanças, mas não o julga populista e afirma que o presidente utilizou uma estra-tégia populista para garantir a mu-dança, mas não o populismo em si, como uma moeda de troca eleitoral.

O líder populista, geralmente, quer centralizar o poder e Lugo não ob-teve isso até o momento, afirma Lívia. “A vitória do bispo dos pobres deveu-se em grande parte às suas ações em defesa dos camponeses sem-terra, particularmente através do movimento popular Tekojoja (viver em igualdade, em guarani, lín-gua oficial do Paraguai)”, comenta. Fernando Lugo suspendeu mui-tas de suas visitas e reuniões, te-mendo a própria vida, lembrando o assassinato de Luis María Ar-gaña - crime político no Paraguai – em 1999. Hoje, o presidente vive sob proteção em decorrência de ameaças de morte que havia rece-bido por suas atividades políticas.

Lugo foi eleito o novo presidente, dando fim a quase seis décadas de domínio do Partido Colorado no país

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OLGA VLAHOU

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Trabalhadores rurais, popularizados na cidade grande

Carismática

crack de 1929 impactou a economia agro-exportadora

da América Latina, o governo não conteve a crise, para isso, era pre-ciso um Estado forte que controlasse a economia, organizar a indústria com domínio sob as revoltas e o movimento dos trabalhadores. Na América, desde a revolução Russa, havia manifestações dos partidos de esquerda,movimentação de idé-ias marxistas a fim de estimular a classe trabalhadora a realizar greves, com reivindicações da industrial-ização e o fim do poder dos pos-suidores (elite) da riqueza rural.

Parte da classe superior, apoiaram os governantes de caráter populista para minimizar a crise e controlar o desenvolvimento industrial. A época, o estado governava por intermédio dos interesses da elite dominadora.O “Populismo”, era a favor da indus-trialização, os governantes queriam ganhar a confiança dos trabalhadores por meio da propaganda, da criação de leis sociais e trabalhistas, doutor em história social Gilberto Marin-goni, diz que a falta de projetos pela reforma agrária é a principal car-acterística dos governos populistas. Os movimentos sociais e as reivindi-

cações da classe trabalhadora era guiada por um Estado populista e paternalista, mostrava ao povo que era capaz de suprir as necessidades da população, gerando confi-ança com o propósito de diminuir as revoltas sindicais.

Maringoni também faz um relato do conceito de populismo. Segundo ele, é um fenômeno contro-verso “ O conceito de populismo é controverso, não significa que seja um sinônimo de demagogia, a imprensa e a sociedade usam o populista como se fosse aquela história do político espertalhão que tem uma conversa mole para enganar o povo”.

Nos anos de 1930, 40 e 50, ocorreu um fato histórico na América Latina, quando não existia instituições de estado de participação e de agregação de pessoas e parcelas da so-ciedade muito consolidadas. Naquela época existia uma relação direta de determinados governantes com o povo.

Já no Brasil foi uma fase em que teve início um pro-cesso acelerado de industrialização e houve uma mi-gração gigantesca dos trabalhadores rurais para a ci-dade, as pessoas saíam do campo onde tinham sua “vida” social, sua vida comunitária mais ou menos organizada, ou seja, um povo simples com caracterís-tica própria, foram movidos a vir para a cidade grande com a ilusão de um futuro melhor. Hoje boa parte da elite ignora os trabalhadores rurais que chegam na ci-dade grande sonhando com melhores condições sociais. Em tempos passados, era muito fácil convencer a pop-ulação, que eram iludidas não tinham referências e a identidade adquiridos era o líder carismático, não exis-tia uma democracia, hoje o fato se inverte uma vez que,

OPor Neila Rocha

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todos tem o direito de escolher e são melhores infor-mados, tanto pela mídia quanto pela própria sociedade.

Professor titular de Ciência Política da Unicamp, Armando Boito argumenta que, no Brasil de hoje, o mesmo fetiche do estado protetor, que Getúlio Vargas utilizou para tocar adiante a industrialização e a am-pliação dos direitos dos trabalhadores, é reanimado pelo imperialismo e pela grande burguesia financeira para tirar as indústrias o pais e suprimir os direitos conquistados do povo. O feitiço do populismo voltou contra os trabalhadores enfeitiçados pelo líder caricata.

As vinculações diretas do dirigente com o povo é uma das partes do populismo. Temos como exemplo os lideres: Getúlio Vargas, Perón e Cárdenas que souberam usar o rádio muito bem, para fins políticos. Aquela época o rá-dio foi uma identidade criada na intenção de aproximar o povo dos líderes. Atualmente a lideranças políticas usam todos os meios para se manter presente na massa.

Nas eleições deste ano os candidatos não poupam esforços, José Serra usa antena parabólica para pop-ularizar-se diante dos eleitores do nordeste, a can-didata do PT Dilma Rousseff, com o apoio do presi-dente Lula, tentar popularizar, sua imagem, ainda desconhecida de metade do eleitorado, segundo a es-

pecialista doutora em Ciências Sociais, Maria Mon-teiro de Almeida. Nos dias de hoje é muito mais fá-cil polarizar e convencer a população, diante de tantos meios de comunicação e de fácil acesso para todos.

Muitos canditados apelam para todos os lados: visi-tam a classe baixa, sobem nas favelas e periferias, apertam as mãos da população humilde, utilizam-se de todos os artifícios para conquistar seus eleitores.

Esse fato não se da apenas no Brasil mais em toda a America Latina, e muitos lideres se elegem pelo caris-ma conquistado pela população com baixo poder aquis-itivo, e em alguns casos ainda não terem informações suficientemente necessárias para escolher sabiamente o líder que governará seu país nos próximos anos.

“ Parte da classe superor, apoiaram os governantes de caráter populista para minimizar a crise e controlar o desenvolvimento industrial. A época, o estado governava por intermédio dos interesses da elite dominadora

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Paternalismo e nacionalismo na América democrática

Brasil e Argentina possuem históricos de presidentes paternalistas marcados pelo sucesso diante a população

povo da América do Sul se identifica com seus

presidentes atuais. Alguns são tão nacionalistas que até a história, ou a estética, são semelhantes da maioria dos integrantes das popu-lações do continente. Evo Morales é um bom exemplo, representa muito bem os índios da Bolívia.

“Lula também veio da camada baixa da população brasileira e vi-venciou a maioria das privações que o brasileiro comum sofre no seu dia a dia. Cristina Kirchner lem-bra muito bem o aspecto europeu natural do argentino, não obstante é integrante do partido Justicial-

ista, o partido peronista da Argen-tina”, afirma a Cientista Política da USP, Denilde Holzhacker.

O nacionalismo é um dos aspectos do populismo que vivemos no passado, principalmente na Era Vargas e na Era Perón. Holzhacker acredita que “a grande imprensa insiste na arte taxionômica de intitular o discurso político da América do Sul como discurso populista, por vezes em-pregando o termo neopopulismo”. Independente da posição geopolíti-ca, todo o discurso contra o neolib-eralismo acaba sendo intitulado com neopopulista na América de hoje. Lula e Cristina Kirchner são con-

siderados os neopopulistas que es-tão em cima do muro, que não as-sumem se estão do lado da causa bolivariana ou do lado americano. Porém, a “volta do nacionalismo” é um título bem mais vindo do que a classificação de populista, uma vez que os presidentes acusados e os períodos vivenciados são outros, mesmo diante do aspecto paterno dos presidentes para com a popula-ção. É interessante notar que o as-pecto paternalista dos presidentes está presente em grande parte dos países do continente, independente da diversificação cultural dos povos. O historiador da USP, Edney Gual-berto, explica a diferença entre o

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Por Renato Duarte

Política

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populismo de ontem e o chamado “populismo atual” nos dois países: “Provavelmente o que você conseg-ue analisar mais facilmente é justa-mente a questão do trabalho. Talvez hoje o populismo que a grande imp-rensa tem pregado não exista de fato, porque o populismo é pautado na massa de trabalhadores dos anos 30 e 40, com Getúlio e o próprio Perón”.

Gualberto acredita que os governos populistas de ontem tinham como meta domesticar a população. Umas das características dos governos de Perón e Getúlio, governos populis-tas, são as questões das leis trabalhis-tas. Um dos principais motivos do surgimento destas leis no continente ocorreu por causa da recessão de 1929, o que obrigou Brasil e Ar-gentina a se modernizarem o quanto antes para que entrassem no novo sistema capitalista que lá surgia.

“A grande depressão terminou crian-do uma condição econômica difícil para o mundo todo. Os Estados Uni-dos nesta época já era um país muito forte economicamente, isto atingiu Brasil e Argentina, dois países que viviam basicamente da agricultura”, observa Petrônio Silveira, profes-sor de Sociologia da UNINOVE. Na “Era Vargas” o Brasil começou a industrialização. Consequent-emente, Vargas cria novas leis tra-balhistas favorecendo a população de baixa renda. “Mas não é porque ele queria ajudar a população, esta foi uma maneira de fazer o povo ficar mais calmo diante o problema social, você usa toda a tranquilidade que passa a existir transferindo os legíti-mos ganhos para as elites brasile-iras”, analisa Petrônio. Ou seja, esta era uma forma de você segurar as condições sociais que o Brasil vivia. Edney Gualberto considera que

as ações de Vargas foram mais impactantes do que as ações de Perón: “De uma forma muito sim-plista, sendo brasileiro é muito mais fácil eu comparar as atitudes do Getúlio como atitudes mais impactantes, porque acredito que ele criou um grande mito se en-raizando dentro da nossa estrutura política – econômica - social até os tempos atuais, muito mais do que Perón, onde fora criado um mito”.Apesar de Vargas ser uma marca de medidas sociais de legislações tra-balhistas, no aspecto cultural atual, o peronismo está muito mais pre-sente na sociedade argentina do que o getulismo na brasileira. “Vargas pode ter sido mais popular através da propaganda, mais ao mesmo tempo acredito que Perón seja muito mais forte na lembrança e na memória coletiva da argentina do que Getúlio no Brasil, no momen-to atual”, afirma Edney Gualberto. Culturalmente ainda vemos uma grande exaltação do peronismo

por parte dos argentinos. De acor-do com Gualberto, isso acon-tece porque o brasileiro comum, até por uma questão cultural, não consegue perceber a estru-tura que está presente em suas próprias vidas, desde a era Vargas.

Para o sociólogo Petrônio Silveira, isso acontece pela falta de crença que o povo da América Latina pos-sui diante o termo política. “O pop-ulismo está muito forte na América Latina porque há um descrédito na política. As pessoas não acreditam mais na política. Quando você fala em política as pessoas pensam em deputado, congressos, corrupção - a política não se restringe a isso, ela não é só isso”. Petrônio acredita que é neste ponto que mora o perigo, pois ao não existir mais respaldo pela política origina-se um grande problema de segurança que permite que quem esteja nos representando faça o que quiser. Acaba-se a crítica que favorece qualquer democracia.

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Alan Garcia

Presidente do Peru

Defendeu por menos investimentos em armas nucleares na ultima reunião da OEA (Organização dos Estados Ameri-canos).

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