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O Fórum Nacional de Reforma Urbana é uma articulação de organizações brasileiras que se integram e lutam por cidades justas e democráticas para todas e todos, no enfrentamento das desigualdades sociais e contra a regulação seletiva do uso da terra. São movimentos populares, associações de classe, ONGs e instituições de pesquisa que tem como objetivo promover a reforma urbana, na defesa de políticas que garantam o direito à cidade como um direito coletivo que se concretiza na moradia de qualidade, no acesso à água e saneamento ambiental, no transporte público acessível e eficiente, dentre outras reivindicações que afirmam a qualidade de vida da população brasileira. A atuação política do FNRU, com abrangência nacional, se efetiva na mobilização de sujeitos coletivos e rede de parceiros para discutir estratégias para a construção de um novo modelo de cidade que promova a justiça social e a democracia com integração das políticas urbanas e sociais. O diálogo com os Fóruns Regionais, que também participam por meio de representação do FNRU, é importante para o espraiamento, espalhar-se, da luta pela reforma urbana. São três os princípios fundamentais do FNRU. O primeiro princípio afirma o Direito à Cidade, na defesa que todos (as) os (as) moradores (as) das cidades têm direito à moradia digna, trabalho, aos meios de subsistência, ao saneamento ambiental, à terra urbanizada, à saúde e educação, ao transporte público e à alimentação, ao trabalho, ao lazer e à informação. O segundo princípio, a Gestão Democrática das Cidades, defende o fortalecimento dos canais de participação popular para ampliar o controle social como formas de socialização do poder. Ou seja, os cidadãos têm que participar das decisões. Para isso, as prefeituras e Câmaras de Vereadores devem se abrir ao diálogo com a sociedade antes de decidir os destinos da cidade. O terceiro princípio afirma a Função Social da Cidade e da Propriedade. O espaço das cidades tem que servir, antes de tudo, aos interesses das grandes maiorias, garantindo o respeito às diferenças e à diversidade. O Fórum Nacional de Reforma Urbana existe desde 1987. Em todos esses anos, as organizações que fazem parte têm contribuído para fortalecer a participação nos conselhos e fóruns regionais e municipais com vistas a interferir na formulação e implementação das políticas, na capacitação de lideranças sociais, na elaboração de planos diretores democráticos para as cidades. Suas maiores conquistas são a aprovação do Estatuto da Cidade e a criação do Fundo Nacional de Habitação de Interesse Social e o acesso aos recursos pelas cooperativas habitacionais. Hoje, são vários os desafios do FNRU na defesa do direito à cidade. Alguns, de alcance político mais geral, estão na ampliação da visibilidade da atuação do FNRU, na autonomia da agenda política a ser discutida com o governo federal e na articulação política com novos sujeitos sociais. Outros, inseridos no contexto histórico da luta pela reforma urbana do FNRU, estão na defesa do Sistema Nacional de Desenvolvimento Urbano, na implementação do Planhab, na defesa da intersetorialidade das políticas setoriais urbanas articuladas com as políticas econômicas e sociais, na regulamentação e implementação da Política Nacional de Saneamento Ambiental e na articulação das intervenções com a questão da habitação, na aprovação do marco regulatório da mobilidade e transporte público como responsabilidade do Estado, nos avanços políticos estratégicos para ampliar o debate sobre a promoção da igualdade para homens e mulheres na dinâmica urbana, na luta contra os despejos e na definição das diretrizes da política nacional de prevenção e mediação dos conflitos fundiários, na luta pelo fim dos processos de criminalização dos movimentos sociais, na aprovação da PEC Moradia Digna, na canalização dos recursos no FNHIS. São reivindicações amplas na defesa de políticas que visam concretizar o sonho de cidades justas e democráticas no Brasil. Sobre o Fórum Nacional de Reforma Urbana TÂNIA DINIZ - CFESS Edição especial do Jornal do FNRU – Fórum Nacional de Reforma Urbana Junho/2011

Boletim FNRU

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Boletim A Cidade, produzido pelo Fórum Nacional de Reforma Urbana (FNRU). Edição Junho/2011.

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Page 1: Boletim FNRU

O Fórum Nacional de Reforma Urbana é uma articulação de organizações brasileiras que se integram e lutam por cidades justas e democráticas para todas e todos, no enfrentamento das

desigualdades sociais e contra a regulação seletiva do uso da terra. São movimentos populares, associações de classe, ONGs e instituições de pesquisa que tem como objetivo promover a reforma urbana, na defesa de políticas que garantam o direito à cidade como um direito coletivo que se concretiza na moradia de qualidade, no acesso à água e saneamento ambiental, no transporte público acessível e eficiente, dentre outras reivindicações que afirmam a qualidade de vida da população brasileira.

A atuação política do FNRU, com abrangência nacional, se efetiva na mobilização de sujeitos coletivos e rede de parceiros para discutir estratégias para a construção de um novo modelo de cidade que promova a justiça social e a democracia com integração das políticas urbanas e sociais. O diálogo com os Fóruns Regionais, que também participam por meio de representação do FNRU, é importante para o espraiamento, espalhar-se, da luta pela reforma urbana. São três os princípios fundamentais do FNRU. O primeiro princípio afirma o Direito à Cidade, na defesa que todos (as) os (as) moradores (as) das cidades têm direito à moradia digna, trabalho, aos meios de subsistência, ao saneamento ambiental, à terra urbanizada, à saúde e educação, ao transporte público e à alimentação, ao trabalho, ao lazer e à informação.

O segundo princípio, a Gestão Democrática das Cidades, defende o fortalecimento dos canais de participação popular para ampliar o controle social como formas de socialização do poder. Ou seja, os cidadãos têm que participar das decisões. Para isso, as prefeituras e Câmaras de Vereadores devem se abrir ao diálogo com a sociedade antes de decidir os destinos da cidade. O terceiro princípio afirma a Função Social da Cidade e da Propriedade. O espaço das cidades tem que servir, antes de tudo, aos interesses das grandes maiorias, garantindo o respeito às diferenças e à diversidade.

O Fórum Nacional de Reforma Urbana existe desde 1987. Em todos esses anos, as organizações que fazem parte têm contribuído para fortalecer a participação nos conselhos e fóruns regionais e municipais com vistas a interferir na formulação e implementação das políticas, na capacitação de lideranças sociais, na elaboração de planos diretores democráticos para as cidades. Suas maiores conquistas são a aprovação do Estatuto da Cidade e a criação do Fundo Nacional de Habitação de Interesse Social e o acesso aos recursos pelas cooperativas habitacionais.

Hoje, são vários os desafios do FNRU na defesa do direito à cidade. Alguns, de alcance político mais geral, estão na ampliação da visibilidade da atuação do FNRU, na autonomia da agenda política a ser discutida com o governo federal e na articulação política com novos sujeitos sociais.

Outros, inseridos no contexto histórico da luta pela reforma urbana do FNRU, estão na defesa do Sistema Nacional de Desenvolvimento Urbano, na implementação do Planhab, na defesa da intersetorialidade das políticas setoriais urbanas articuladas com as políticas econômicas e sociais, na regulamentação e implementação da Política Nacional de Saneamento Ambiental e na articulação das intervenções com a questão da habitação, na aprovação do marco regulatório da mobilidade e transporte público como responsabilidade do Estado, nos avanços políticos estratégicos para ampliar o debate sobre a promoção da igualdade para homens e mulheres na dinâmica urbana, na luta contra os despejos e na definição das diretrizes da política nacional de prevenção e mediação dos conflitos fundiários, na luta pelo fim dos processos de criminalização dos movimentos sociais, na aprovação da PEC Moradia Digna, na canalização dos recursos no FNHIS.

São reivindicações amplas na defesa de políticas que visam concretizar o sonho de cidades justas e democráticas no Brasil.

Sobre o Fórum Nacional de Reforma UrbanaTÂNIA DINIZ - CFESS

Edição especial do Jornal do FNRU – Fórum Nacional de Reforma Urbana

Junho/2011

Page 2: Boletim FNRU

O Sistema Nacional de Desenvolvimento Urbano e a Democracia nas Cidades

NELSON SAULE JÚNIOR - INSTITUTO POLIS

Com a adoção do Estatuto da Cidade temos os objetivos, diretrizes e os instrumentos da política de desenvolvimento urbano necessários para serem aplicados nos municípios visando a

mudança de padrão de nossas cidades desordenadas, excludentes e desiguais e não democráticas, para um modelo de cidade justa, democrática e sustentável .

Várias questões tem sido desafiadoras para a promoção da política de desenvolvimento urbano tais como: compatibizar projetos de desenvolvimento econômico de grande impacto urbano e ambiental com processos de inclusão social e proteção dos direitos socioambientais como o direito à cidade, da moradia , do meio ambiente , a falta de mecanismos institucionais para a gestão integradas dos municípios situados em aglomerados urbanos e regiões metropolitanas, o fortalecimento do transporte individual do automóvel como modelo prevalente de mobilidade urbana gerando os grandes trasntornos de trânsito e poluição sonora e do ar nas cidades, a produção de habitação de interesse social em áreas urbanas dotadas de infra estrutura e serviços e bem localizadas, a regularização fundiária dos assentamentos ocupados por população de baixa renda, o tratamento e destinação do lixo urbano, a precariedade dos serviços de saneamento ambiental referente a coleta e tratamento do esgoto, as transformações de áreas rurais em urbanas para projetos de especulação imobiliária , a crise dos organismos e instrumentos da democracia representativa considerando por exemplo a geral descrença da população com as Câmaras de Vereadores, entre tantos.

Entre estes desafios destacamos também a necessidade de ser constituído um Sistema Nacional de Desenvolvimento Urbano que possibilite uma gestão compartilhada e democrática da política de desenvolvimento urbano considerando que todos os entes federativos tem responsabilidades e obrigações para o desenvolvimento desta política. A sociedade tem o direito de participar da gestão desta política através das suas diversas formas de organização utilizando os

mecanismos da democracia participativa que no Estatuto da Cidade estão traduzidos como instrumentos de gestão democrática da cidade.

O Conselho das Cidades no campo das suas atribuições formulou uma proposta de lei com os principais componentes do sistema nacional de desenvolvimento urbano tais como o fortalecimento das competências administrativas e normativas do próprio Conselho de modo a fortalecer este organismo como um órgão estratégico para tomada de decisões sobre assuntos relevantes da política nacional de desenvolvimento urbano como por exemplo deliberar sobre o orçamento do Ministério das Cidades, aprovar planos e programas como os planos nacionais de saneamento ambiental , de habitação, e de mobilidade urbana.

Cabe como próximo passo o Governo da Presidente Dilma assumir a responsabilidade de submeter ao Congresso Nacional uma proposta de lei visando a criação do SNDU tendo como base a proposta elaborada pelo Conselho das Cidades.

Agenda do FNRU em 2011

LOCALReunião de Conselheiros das Cidades do campo da reforma urbana

6 e 7 junho Brasília/DF

Reunião da Coordenação Nacional

4 a 8 agosto Manaus/AM

Reunião da Coordenação Nacional

12 setembro Brasília/DF

Jornada Nacional de Luta pelo Direito à Cidade

3 outubro

Brasília/DF

Encontro Nacional do FNRU

10, 11 e 12 novembro

Rio de Janeiro/RJ

(a confirmar)

ATIVIDADE DATA

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Foto: UNMP

Page 3: Boletim FNRU

O novo Código Florestal: um Código do Desmatamento?TIAGO HOSHINO - TERRA DE DIREITOS

A aprovação na Câmara dos Deputados do PL n. 1876/99, no último dia 24/05/11, foi motivo de críticas, preocupações e desentendimentos por parte de parlamentares, pesquisadores,

entidades e movimentos sociais em âmbito nacional. Antes disso, o Fórum Nacional da Reforma Urbana já havia lançado seu manifesto contrário às alterações que se pretende introduzir no Código Florestal (Lei n. 4.771/65), especialmente denunciando os interesses do agronegócio que mobilizam a proposta e a gravidade de seus impactos urbanos, ainda pouco considerados. Assim, podem ser apontadas três grandes críticas:

a) sua relação com um modelo econômico fortemente desenvolvimentista, calcado em grandes projetos de infra-estrutura responsáveis pela constituição de núcleos urbanos frágeis e desestruturados e pela violação sistemática de Direitos Humanos;

b) seu esforço de flexibilização das restrições ambientais, aliado à ausência de políticas sócio-ambientais efetivas, o que resulta no fomento à expansão indiscriminada do latifúndio monocultor e tende a promover novos fluxos migratórios geradores de inchaço urbano e de passivos sociais, especialmente em cidades de médio porte situadas junto às áreas de avanço da fronteira agrícola;

c) sua complacência para com os processos de mercantilização da natureza e de apropriação privada de recursos naturais básicos, tais como a água e o solo, já escassos em inúmeros centros urbanos no país e que afetam direta ou indiretamente a qualidade de vida nas cidades e seu entorno.

O Fórum Nacional de Reforma Urbana avalia, ainda, a existência de aspectos específicos problemáticos nas mudanças, considerados como retrocessos em relação à legislação hoje em vigor: a desproporção entre os requisitos para a regularização fundiária de interesse social em ocupações urbanas consolidadas de áreas de proteção ambiental, em comparação com as facilidades concedidas à regularização de “interesse específico”, como para fins comerciais; a ausência de mecanismos para lidar com as Áreas de Proteção Permanentes existentes nas cidades brasileiras; a fragilidade dos critérios de demarcação urbano-rural para os fins de aplicação das novas regras ambientais; as mudanças de competência federativa sobre a matéria, com conseqüente estadualização do Código. Reconhecemos que a necessidade de construção de uma agenda socioambiental para as cidades é urgente! Esse debate interessa não só aos movimentos populares e comunidades vulneráveis, mas a todos os moradores e moradoras das cidades, que representa mais de 80% da população brasileira, pela quantidade, inclusive, de conflitos sócio-ambientais deflagrados em nosso cotidiano.

Reafirmar o compromisso com a Reforma Urbana, o Direito à Cidade, a Função Social da Terra e da Propriedade e a Gestão Democrática enquanto nortes de um modelo de desenvolvimento urbano mais justo, igualitário e sustentável, significa observar essa problemática de uma perspectiva global para aproximar as lutas do campo e da cidade e para evitar que o novo Código Florestal se torne, disfarçadamente, um Código do Desmatamento.

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Foto: http://teletube.files.wordpress.com/2008/09/elnino.jpg

Page 4: Boletim FNRU

FNRU

UNMP - União Nacional por Moradia PopularMNLM - Movimento Nacional de Luta pela MoradiaCMP - Central de Movimentos PopularesCONAM Confederação Nacional de Associações de MoradoresFASE - Federação dos Órgãos para Assistência Social e EducacionalFENAE - Federação Nacional das Associações de Empregados da Caixa EconômicaFISENGE - Federação Interestadual dos Sindicatos de EngenheirosFNA - Federação Nacional de ArquitetosInstituto Polis - Instituto de Estudos, Formação e Assessoria em Políticas SociaisIBAM - Instituto Brasileiro de Administração MunicipalIBASE - Instituto Brasileiro de Análises Sociais e EconômicasANTP - Associação Nacional de Transportes PúblicosAGB - Associação dos Geógrafos BrasileirosFENEA - Federação Nacional dos Estudantes de Arquitetura e Urbanismo do Brasil CAAP - Centro de Assessoria à Autogestão Popular ABEA - Associação Brasileira de Ensino de Arquitetura e Urbanismo Fundação Bento RubiãoCentro Dom Helder Camara de Estudos e Ação Social - CENDHECObservatório das Metrópoles IPPUR/UFRJ/FASEActionAid do BrasilTerra de DireitosConselho Federal de Assistência SocialHabitat para Humanidade BrasilFórum Nordeste de Reforma UrbanaGT Urbano do FAOR - Fórum da Amazônia OrientalFórum da Amazônia OcidentalFórum Sul de Reforma Urbana

O Fórum Nacional de Reforma Urbana - FNRU e o Fórum Brasileiro de Segurança e Soberania Alimentar - FBBSAN, juntamente com o Conselho Nacional das Cidades - CONCIDADES, Ministério das

Cidades - MCIDADES, Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional - CONSEA e o Ministério de Desenvolvimento e Combate a Fome - MDS, realizam de 10 a 12 de agosto o I Encontro Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional no Contexto da Política de Desenvolvimento Urbano.

Este encontro é bastante inovador considerando as especificidades dos dois campos da política publica e da iniciativa dos Fóruns e dos órgãos públicos em realizar este evento, considerando a existência da pobreza extrema no Brasil e a necessidade de se buscar caminhos conjuntos e articulados, voltados para a organização de ações publicas sustentáveis.O Encontro Nacional tem por objetivo aprofundar o processo de discussão da Política de Segurança Alimentar e Nutricional - SAN no

I Encontro Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional no Contexto da Política de Desenvolvimento Urbano

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sentido da garantia do Direito Humano à Alimentação Adequada - DHAA no meio urbano, visando o combate a Pobreza, a melhoria do meio ambiente e a geração de Renda, de forma a: ampliar o debate da SAN no contexto Urbano; discutir os programas de SAN implementados no meio Urbano; propor diretrizes para implementação de Políticas de SAN no meio urbano; e mobilizar movimentos populares, organizações e fóruns urbanos para a IV Conferencia Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional - CNSAN a se realizar em novembro de 2011. Os Temas Estratégicos do Encontro serão: 1) Produção de Alimentos nas áreas Urbanas e Periurbanas; acesso ao alimento Adequado e Saudável; 2) Questões ambientais considerando o universo urbano para garantia da SAN e a garantia do DHAA;3) Integração das Políticas de SAN com as Políticas de Desenvolvimento Urbano.

Coordenação Nacional

EDNO HONORATO - FAOR / Conselheiro do CONSEA

Secretaria do Fórum Nacional de Reforma UrbanaRua Eça de Queirós, 346, Vila MarianaSão Paulo-SP - CEP 04011-050Telefone - (11) 5084-1073. E-mail: Skype: Site:

Colaboradores deste BoletimMércia Alves (CENDHEC), Evaniza Rodrigues (UNMP), Edno Honorato (FAOR), Nelson Saule Jr. (Instituto Pólis), Thiago Hoshino (Terra de Direitos) e Tânia Diniz (CFESS).Edição e DiagramaçãoPaulo Lago - jornalista (Cendhec).

Apoio

[email protected] secretaria.fnru

www.forumreformaurbana.org.br

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