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11 de outubro de 2012 CNI O Estado de S. Paulo cni.empauta.com pg.1 Reforma avança em etapas ESPECIAL - BRASIL COMPETITIVO Leão. Protesto de bancários contra a cobrança de imposto sobre a participação nos lucros Especialistas divergem sobre a 'reforma fatiada' pro- posta pelo governo, mas o ministro interino da Fa- zenda, Nelson Barbosa, garante: a mudança do sistema tributário já começou e está caminhando Em todas as pesquisas feitas com empresários, o maior problema apontado para a realização de ne- gócios no Brasil é a elevada carga tributária e a com- plexidade do sistema de impostos, fatores responsáveis pela perda de capacidade de com- petição dos produtos nacionais no mercado global. Para discutir o andamento das propostas de aper- feiçoamento do sistema, o Estado e a Agência Es- tado, com apoio da Confederação Nacional da Indústria ( CNI ),reuniram alguns dos maiores es- pecialistas no assunto no seminário "Como avançar na agenda da tributação", na última terça-feira. Hou- ve consenso de que a questão deve ser tratada como prioridade para o desenvolvimento econômico e so- cial do País, embora haja discordâncias sobre se as mudanças devem ser amplas ou de forma 'fatiada', co- mo vêm ocorrendo no governo da presidente Dilma Rousseff. Além de resumir os principais tópicos do debate, esta edição especial traz também uma entrevista ex- clusiva com o ministro interino da Fazenda, Nelson Barbosa, em que ele defende a estratégia do governo. "A reforma tributária já começou e está ca- minhando, cada tema com a sua velocidade", afirma. Ele admite que só assim é possível encaminhar dis- cussões polêmicas, como a unificação da alíquota do PIS-Cofins e da cobrança do ICMS. "Esses são os dois grandes desafios."

Caderno especial Estadão | Reforma Tributária

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Em 2013, os ventos vão soprar a favor de mudanças significativas no regime tributário brasileiro. Esse foi o diagnóstico dos sete especialistas que participaram do Fórum Estadão Brasil Competitivo. O evento, que teve o apoio da Confederação Nacional da Indústria (CNI) foi realizado nesta terça-feira, 9 de outubro de 2012, em São Paulo. http://bit.ly/TwoDTC

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Reforma avança em etapasESPECIAL - BRASIL COMPETITIVO

Leão. Protesto de bancários contra a cobrança de imposto sobre aparticipação nos lucros

Leão. Protesto de bancários contra a cobrança de imposto sobre aparticipação nos lucros

Especialistas divergem sobre a 'reforma fatiada' pro-posta pelo governo, mas o ministro interino da Fa-zenda, Nelson Barbosa, garante: a mudança dosistema tributário já começou e está caminhando

Em todas as pesquisas feitas com empresários, omaior problema apontado para a realização de ne-gócios no Brasil é a elevada carga tributária e a com-plexidade do sistema de impostos, fatoresresponsáveis pela perda de capacidade de com-petição dos produtos nacionais no mercado global.

Para discutir o andamento das propostas de aper-feiçoamento do sistema, o Estado e a Agência Es-tado, com apoio da Confederação Nacional daIndústria (CNI ),reuniram alguns dos maiores es-pecialistas no assunto no seminário "Como avançarna agenda da tributação", na última terça-feira. Hou-ve consenso de que a questão deve ser tratada comoprioridade para o desenvolvimento econômico e so-cial do País, embora haja discordâncias sobre se asmudanças devem ser amplas ou deforma 'fatiada', co-mo vêm ocorrendo no governo da presidente DilmaRousseff.

Além deresumir os principais tópicos do debate, estaedição especial traz também uma entrevista ex-clusiva com o ministro interino da Fazenda, NelsonBarbosa, em que ele defende a estratégia do governo."A reforma tributária já começou e está ca-minhando, cada tema com a sua velocidade", afirma.Ele admite que só assim é possível encaminhar dis-cussões polêmicas, como a unificação da alíquota doPIS-Cofins e da cobrança do ICMS. "Esses são osdois grandes desafios."

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Unanimidade no debate tributário: reformar é precisoESPECIAL - BRASIL COMPETITIVO

Mesa. Roberto Afonso, Dyogo Henrique, Bernard Appy, José ClovisCabrera e Leandro Modé (Estado)

Mesa. Roberto Afonso, Dyogo Henrique, Bernard Appy, José ClovisCabrera e Leandro Modé (Estado)

Todos querem mudanças para tornar o País maiscompetitivo, mas especialistas defendem reformaampla, e não 'fatiada'

Francisco Carlos de Assis

Gustavo Porto

Fátima Laranjeira

Especialistas em tributação e representantes do go-verno divergem em relação à proposta de reformatributária em discussão no governo há quase uma dé-cada. Mas todos concordamque, enquanto não for re-formada a estrutura fiscal do País, a economia vai terdificuldades para crescer de acordo com seu po-tencial.

Essa foi a conclusão dos participantes do seminário"Como avançar na agenda da tributação", promovidopela Agência Estado epelo jornal O Estado deS. Pau-lo, com apoio da Confederação Nacional da In-dústria (CNI ).O evento faz parte da série "FórunsEstadão Brasil Competitivo".

O seminário, realizado na terça-feira, foi pautado pordiscussões sobre qual seria a melhor maneira de sepromover a reforma tributária no País: se fatiada,como propõe o governo federal, ou ampla, como de-fendem alguns especialistas.

O secretário da Receita Federal, Carlos Alberto Bar-reto, que defende a adoção de medidas tributáriaspontuais, acha que a discussão é complexa e envolvefatores como questões da indústria, soberania e dis-tribuição de renda entre os Estados.

Barreto lembra que, na Constituição de 1967, a ques-tão da não cumulatividade de impostos, prin-cipalmente do Imposto de Circulação deMercadorias (ICM) e do Imposto Sobre Produtos In-

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dustrializados (IPI), já era prevista. Com aConstituição de 1988 e a minirreforma tributária de2003, ampliaram-se impostos e criaram-se outros,como PIS/Cofins.

Segundo o secretário, diante das dificuldades de im-plantação de uma reforma ampla, a saída é o fa-tiamento, com adoção de medidas isoladas - citou adesoneração em 20% na folha de pagamento da con-tribuição previdenciária. Outras medidas previstassão a simplificação da incidência do Imposto SobreMercadorias e Serviços (ICMS )e do PIS/Cofins.

O secretário executivo adjunto do Ministério da Fa-zenda, Dyogo Henrique, disse que a reforma tri-butária fatiada foi uma opção do governo. Para ele, oICMSéumdos entraves à reforma. "Estamos em cri-se com o ICMS",disse. Uma das dificuldades é o fatode o crédito tributário ser recolhido em um Estado epagoem outro. "É importante eurgente mudar a regrado ICMS neste momento."

Os economistas e professores da Fundação GetúlioVargas Armando Castelar Pinheiro e Fernando Re-zende defenderam o envio de um projeto de reformatributária ao Congresso Nacional somente com umacordo prévio entre os partidos e o governo e com oaval da sociedade civil.

"Se a sociedade civil não participar do processo, ha-verá o aumento de imposto", disse Pinheiro. "A di-ficuldade do projeto de reforma tributária é chegarao Legislativo, sem que os interesses da sociedade edos entes federados sejam ouvidos. Não há instânciaprévia para buscar um acordo", disse Rezende.

Na avaliação do diretor de políticas públicas e tri-butação da LCA Consultores e ex-secretário exe-cutivo do Ministério da Fazenda, Bernard Appy, areforma tributária fatiada "é certamente a melhorsolução". Appy foi secretário extraordinário de Re-formas Econômico-Fiscais, justamente para im-plantar a reforma tributária. Para ele, o fato de a

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reforma ampla alterar a Constituição faz com que oprojeto se torne "um horror do ponto de vista le-gislativo". "Temos, por exemplo, uma simples ins-trução normativa da Receita entrando naConstituição."

O economista José Roberto Afonso concorda que,quandose fala em reforma tributária, épreciso der-rubar alguns mitos. Segundo ele, já não há mais o quese extinguir de impostos estaduais e municipais.Afonso discordou da avaliação de que o ICMS é prin-cipal entrave à realização de uma reforma tri-butária. Ele entende que o imposto tem se tornadodecadente eobsoleto e representa apenas 20% dacar-ga tributária. "Quando se olha a estrutura do Confaz(Conselho Nacional de Política Fazendária), dá paraentender o porquê de a arrecadação da Receita Fe-deral crescer e a do ICMS encolher."

Sem alteração

BERNARD APPY DIRETOR DA LCA CON-SULTORES

"A reforma fatiada é a melhor solução. A reformaampla vai alterar a Constituição e fará com que o pro-jeto se torne um horror do ponto de vista legislativo."

CARLOS ALBERTO BARRETO

SECRETÁRIO DA RECEITA FEDERAL

"Umareforma tributária ampla,demais difícil exe-cução, deveria trazer a simplificação do ICMS, mu-dança naestrutura dos tributos federais com acriaçãodeumimposto federal,eadesoneraçãonafolha depa-gamentos. Já a reforma 'fatiada', mais provável, deveter como foco um alívio na folha de pagamento, queestá em curso, além da modificação do PIS/Cofins."

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FERNANDO REZENDE

PROFESSOR DA FGV

"Não gosto de falar em reforma fatiada, fatiamos oque está pronto. O melhor é falar em porções. Temosde reconstruir um sistema tributário que resgate oconceito defederação, odesafio deumregimequega-ranta competitividade a todos. Além disso, um sis-tema que proporcione isonomia de oportunidades, oacesso a serviços públicos de qualidade que ga-rantam uma progressão social dos cidadãos."

ARMANDO CASTELAR PINHEIRO

PROFESSOR DA FGV

"A queda do juro e do desemprego ajuda na reduçãoda carga tributária, mas é preciso estar atento para apressão por maiores gastos com Previdência e saúde.Há possibilidade de se reduzir o custo tributário commaior simplificação, a chamada 'unificação de gui-chês', e consolidar impostoscom a mesma base de tri-butação. Uma reforma bem conduzida reduziriaincertezas."

BERNARD APPY

DIRETOR DA LCA

"O atual modelo de cobrança do ICMS e do PIS/Co-fins é uma grave distorção que precisa ser corrigido.Para minimizar eventuais impactos e resistências, se-ria preciso um período de transição que permita oajuste de preços entre empresas e fornecedores, alémda manutenção do regime cumulativo para empresasque vendem ao consumidor final. É importante ga-rantir que não haja aumento de impostos."

JOSÉ CLOVIS CABRERA

COORDENADOR DE ADMINISTRAÇÃO TRI-BUTÁRIA DE SP

"O fim da guerra fiscal passa por uma alíquota uni-forme de 4% de ICMS entre os Estados. Esse valormitiga um possível efeito de benefício fiscal na ori-gem. A aposta de todos os técnicos é buscar uma alí-quota baixa na tributação de origem para evitar que aconta seja passada para o Estado destinatário. Ha-verá uma melhora no quadro geral."

DYOGO HENRIQUE

SECRETÁRIO EXECUTIVO ADJUNTO DA FA-ZENDA

"Há hoje no país segurança judicial relacionada à co-brança do ICMS, uma situaçãomuito difícil. Um dosefeitos perversos disso tudo é a perda da com-petitividade, o que torna urgente uma redução gra-dual da alíquota do ICMS. A guerra fiscal tem umaraiz muito importante, as disparidades regionais. AUnião está disposta a prover um fundo de com-pensações parciais temporárias."

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JOSÉ ROBERTO AFONSO

ECONOMISTA

"Uma visão estratégica para a questão tributária de-veria antes de tudo pactuar princípios para mudançasestruturais. A tarefa requer a simulação de efeitos pa-

ra que fossem elaboradas e apreciadas alterações deprojetos legislativos. Mudar aos poucos não é mudarpouco. As mudanças passarão por atos diferentes emmomentos distintos, mas que deveriam seguir um fiocondutor."

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Juro menor abre espaço para reformaESPECIAL - BRASIL COMPETITIVO

Fórum, Fernando Rezende (FGV), Carlos Alberto Barreto (Receita Federal)e Armando Castelar Pinheiro (FGV) debateram o sistema tributário

Fórum, Fernando Rezende (FGV), Carlos Alberto Barreto (Receita Federal)e Armando Castelar Pinheiro (FGV) debateram o sistema tributário

Taxa Selic a 7,25% diminui desembolsos do governoe,para professor daFGV, possibilitaria queda dacar-ga tributária em 2 pontos

Francisco Carlos de Assis, Gustavo Porto e FátimaLaranjeira

O secretário da Receita Federal, Carlos Alberto Bar-reto, e o economista da Fundação Getúlio Vargas (F-GV) Armando Castelar Pinheiro divergem quanto àpossibilidade de redução da carga tributária bra-sileira. Durante sua palestra, Pinheiro avaliou que aredução da taxa básica de juros (Selic) para 7,5% aoano e atual baixa taxa de desemprego no País abremuma janela de oportunidade para se possa reduzir acarga tributária. De imediato, segundo o professor daFGV, a carga tributária já poderia ser reduzida em 2pontos porcentuais, dos atuais 36% na proporção doProduto Interno Bruto (PIB) para 34%.

No entanto, segundo Pinheiro, o espaço para a di-minuição de impostos está sendo perdido porque ogoverno Dilma Rousseff está direcionando os re-cursos ganhos com a redução das despesas com pa-gamento de juros sobre a dívida pública para arcarcom as desonerações do Imposto sobre Produtos In-dustrializados (IPI) e da folha de pagamento. "Issonão está acontecendo, porque o governo está usandoos recursos para fazer desonerações", criticou.

O secretário daReceita Federal discordouqueacargatributária poderia ser imediatamente reduzida em até2 pontos porcentuais. De acordo com ele, a reduçãode impostos depende do ambiente macroeconômico,indo além da administração tributária. "Têm de serexaminados alguns aspectos colocados pelo pro-fessor, como a redução da taxa Selic, o impacto nosencargos de governo e o espaço fiscal que o governotem para a implementação (da mudança)", disse.

Teoricamente, explicou o secretário da Receita, seria

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possível. "Mas, na prática, temos que ver outras va-riáveis. Isso não é um balão mágico, não dá para re-solver de repente", contestou. O secretário citououtras variáveis que precisariam ser consideradas,como gastos do governo,necessidade de novas de-sonerações, espaço fiscal e equilíbrio ma-croeconômico, para que houvesse uma alteração daatual carga tributária.

Para Pinheiro, o Brasil perde ainda a oportunidade dereduzir a carga tributária imediatamente por não sa-ber aproveitar do seu bônus demográfico. De acordocom ele, apenas 6,7% da população brasileira têmidade igual ou superior a 65 anos atualmente, oquetorna relativamentepequena apressão dos gastospre-videnciários sobre o PIB.

Os gastos previdenciários com essa faixa etária, se-gundo o professor, são de 10% do PIB - o equivalenteà metade do que se gasta em países com populaçõesmais velhas. Mas, de acordo com Pinheiro, se a re-dução da carga tributária não for feita agora, mais àfrente se tornar á mais difícil realizá-la, à medida quea perspectiva é de envelhecimento da sociedade bra-sileira. "Temos de aproveitar esse momento porquemais àfrente serádifícil fazer aredução dacarga", ex-plicou.

Setores. O professor aproveitou o seminário para cri-ticar as reduções pontuais de impostos que o governoDilma Rousseff vem fazendo para estimular a eco-nomia. Para ele, é preciso fazer uma redução da cargatributária horizontal, para todos edeforma ilimitada.

"Mas o governo está reduzindo o IPI, a Ci-de(Contribuição de Intervenção no Domínio Eco-nômico) e desonerando a folha de pagamento,quando deveria estar fazendo outras coisas", pro-

vocou Pinheiro, para quem a carga tributária nosúltimos dez anos subiu 10 pontos porcentuais e en-contra-se muito acima do que deveria estar.

Pinheiro recorreu a uma pesquisa mostrando que, pa-ra19,3% dos empresários da indústria, o primeiroen-trave à realização de negócios no Brasil são osimpostos.Em segundo lugar, aparece a regulação tri-butária, com 16,6% das respostas dos industriais."No ranking Doing Business, do Banco Mundial,com 183 países com menor carga tributária, o Brasilaparece na 150.ª posição neste ano. Em 2011, estavana 148.ª colocação", afirmou o economista da FGV.

"O governo está fazendo pacotes de bondades com ochapéu alheio, tirando recursos de Estados e mu-nicípios", disse o economista da FGV, ao se referir àsreduções pontuais de impostos adotadas pelo go-verno federal.

Barreto, da Receita Federal, insistiu que a per-spectiva do governo é trabalhar com uma reforma fa-tiada, caminhando dentro daquilo que é possível,considerando o ambiente macroeconômico, a ques-tão da crise internacional e do espaço econômicopara ser implementada a reforma. "A reforma deveráter sempre com o foco a melhoria dacompetitividade nacional."

O economista José Roberto Afonso,quetambém par-ticipou do seminário, também defendeu umareforma tributária amplaecriticou aredução do IPIpara alguns setores da economia. Disse que o go-verno federal só tem reduzido imposto porque ele ar-recada muito pouco.

"Por isso, eles (o governo) tiram o IPI", disse. O eco-nomista comparou a estrutura tributária a um prédio

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torto que só não cai porque "Deus não deixa ou ele étributarista". Sobre a desoneração da folha de pa-gamento, o economista diz que ela é contraditóriaporque a Previdência está trocando alíquota por tri-butação em cima do faturamento bruto. Antes, deacordo com o economista, a tributação era feita sobreo faturamento líquido.

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Oportunidade

ARMANDO CASTELAR PINHEIRO - ECO-NOMISTA E PROFESSOR DA FGV

"Temos de aproveitar esse momento porque mais àfrente será difícil fazer a redução da carga."

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Grandes ajustes tributários devem ficar para 2014ESPECIAL - BRASIL COMPETITIVO

Desoneração da folha e redução da tarifa da energiaelétrica impedem mudanças no ano que vem

O secretário executivo adjunto do Ministério da Fa-zenda, Dyogo Henrique de Almeida, avaliou, na úl-tima terça-feira, que "grandes movimentos" deajustes tributários e fiscais do governo estão com-prometidos em 2013, por causa da desoneração dafolha de pagamento e da redução da tarifa de energiaelétrica, que devem reduzir a arrecadação. Com isso,reformas do Programa deIntegração Social edaCon-tribuição para o Financiamento da Seguridade Social(PIS/Cofins) e do Imposto sobre Circulação de Mer-cadorias e Serviços (ICMS )ficarão para 2014.

"É claro que a gente tem uma agenda de ajustes na tri-butação e de questões conjunturais (em 2013)", pon-derou o secretário.

Pela proposta de reforma do PIS/Cofins, a empresa,ao fazer compras, vai gerar crédito, e as companhiasque hoje optam pelo lucro presumido, pagando umaalíquota de 3,65% sobre o faturamento, terão de mi-grar para a alíquota de 9,25% sobre o valor adi-cionado.

Oliveira confirmou que o governo vai extinguir o re-gime cumulativo do PIS/Cofins, mas admitiu que"um certo grupo de empresas" poderá manter comoopção essa alternativa para o recolhimento do tri-buto. "No geral, é não cumulativo e é possível que te-nhamos alíquotas diferenciadas, mas não maioresque 9,25%", disse o secretário.

Segundo ele, as microempresas e as que tenham umasituação de mudança na cadeia que possa ser muitoprejudicial com o novo regime poderão fazer a op-ção.

Ressarcimento. Oliveira lembrou que o processo deinformatização da apuração do PIS/Cofins está emfase final de homologação, oque permitirá às em-presas o pedido de ressarcimento de créditos do tri-buto acumulado. "A compensação do créditocorrente já é automática. Para o acumulado, a opçãoda empresa de pedir o ressarcimento, que hoje aindaprecisa da avaliação manual, será informatizada."

Consenso. O secretário avaliou ainda que a falta deumconsenso político edeumacordo entre os Estadospoderia dificultar o encaminhamento da reforma doICMS, para um ritmo mais lento do que a do PIS/Co-fins.

"Mas, como discutimos (ICMS )há mais de um ano,isso permite que as duas propostas caminhem nomesmo ritmo", afirmou. Ainda sobre o ICMS, Oli-veira confirmou que será criado um fundo de com-pensação, com valor ainda indefinido, para osEstados que tenham perda de arrecadação após o fim

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Continuação: Grandes ajustes tributários devem ficar para 2014

da guerra fiscal. / G.P., F.C.A. e F.L.

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Alíquotas

3,65% é quanto as empresas que optam pelo lucro

presumido pagam hoje de PIS/Cofins sobre o seu fa-turamento

9,25% é quanto pagarão após a reforma, calculadossobre o valor adicionado

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Para a indústria, simplificação de tributos éprioridade

ESPECIAL - BRASIL COMPETITIVO

Porto. Alíquota do ICMS entre Estados deve ser unificada

Porto. Alíquota do ICMS entre Estados deve ser unificada

Mudança mais urgente na agenda dos impostos, navisão da CNI, é a simplificação do PIS e da Cofins

Carlos Dias

A reforma tributária desejada pelos empresáriosbrasileiros tem como primeiro alvo uma sim-plificação na cobrança e arrecadação do PIS/Cofinsjá para o ano que vem, embora o governo afirme queas mudanças só serão implementadas em 2014. Di-rigentes da Confederação Nacional da Indústria(CNI ),queparticiparam na terça-feirado fórum"Co-mo avançar na agenda da tributação", organizado pe-lo Grupo Estado e CNI, apostam em um avanço"gradual e possível" para temas considerados com-plexos, como a própria cobrança do PIS/Cofins e aguerra fiscal entre Estados com o ICMS.

"A estratégia éatacar em blocos", afirmaFlávio Cas-telo Branco, gerente executivo de política eco-nômica da CNI. "No caso do PIS/Cofins, queremossimplificar os dois tributos, transformá lo em um só,com sistemática única, para que exista um sistemamais racional de crédito." Para Castelo Branco, abriras negociações com o PIS/Cofins é mais fácil porcausa dos prazosmais simples para mudanças legais,com o foco bem delineado de eliminar a com-plexidade das operações.

Uma das ideias defendidas pelo secretário executivoadjunto do Ministério da Fazenda, Dyogo Henrique,é a de que todas as operações gerem crédito idênticoao valor pago, o que transformaria o PIS/Cofins emapenas uma contribuição social. "Temos dois re-gimes diferentes, o cumulativo e o não cumulativo, oque gera problemas de crédito e espaço para ar-bitragem fiscal e demonstração de compliance (nor-mas legais e regulamentares)", explicou Henrique.

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Continuação: Para a indústria, simplificação de tributos é prioridade

Castelo Branco lembra que a complexidade do sis-tema tributário brasileiro representa ne-cessariamente maior custo aos produtos fabricadosno País, o que diminui a competitividade.

"Queremos chegar a um sistema mais eficiente, queseja fácil e com redução mínima da cumulatividade.Isso significa maior transparência, com desoneraçãode investimentos e exportações, menor folha de pa-gamento, enfim, com um sistema mais racional e quesuavize as distorções a que assistimos", explica.

A possibilidade de uma unificação de alíquotas para4% do ICMSem todos os EstadosdaFederaçãoagra-da os empresários, o que pode levar ao término daguerra fiscal.

Para José Augusto Fernandes, diretor de políticas eestratégia da CNI, trata-se de uma medida potente,cujo efeito seria ao menos diminuir a briga entre osestados para atrair investimentos. "Acreditamos quenão seja ruim haver competição", comenta. "Os Es-tados podem oferecer melhores condições para atrairinvestimentos por meio de infraestrutura, edu-cação,masa disputa não pode ser feita à custa de ou-tros Estados", pondera.

Fernandes, contudo, não imagina que um acordocom os governadores seja algo fácil. "Não há dúvidade que a reforma do ICMS é muito mais complexa,pois passa por uma negociação muito grande com ospróprios Estados e obviamente com o Congresso Na-cional", conclui.

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'A reforma tributária está caminhando ESPECIAL BRASIL COMPEPITIVO

Mudanças. �A guerra fiscal hoje virou um jogo de soma negativa. OsEstados arrecadam menos e as empresas não se beneficiam�, afirma

Barbosa

Mudanças. �A guerra fiscal hoje virou um jogo de soma negativa. OsEstados arrecadam menos e as empresas não se beneficiam�, afirma

Barbosa

Entrevista - Nelson Barbosa, Ministro interino da Fa-zenda

Maior desafio é a unificação de alíquotas do PIS-Co-fins e do ICMS, diz Barbosa

Por Beatriz Abreu

O governo Dilma abandonou a prática do passado detentar mudar de uma única vez todo o sistema tri-butário brasileiro e introduziu a sua Reforma Tri-butária fatiada com as medidas pontuais paradesonerar setores da economia. "A reforma já co-meçou e está caminhando. Cada tema com a suavelocidade", afirma o ministro interino da Fazenda,Nelson Barbosa. Ele admite que os maiores desafiossão a unificação das alíquotas do PIS-Cofins e doICMS.

Nelson Barbosa concorda que a melhor opção seria ogoverno insistir na adoção de um IVA nacional, queincorporaria o ICMSeo PIS-Cofins. "Mas nem sem-pre o ótimo é o melhor." E o melhor, nesse caso, é fa-zer uma discussão isolada de cada tema para que, nofuturo, se possa convergir para o IVA nacional. Elegarante que as desonerações não vão afetar a meta desuperávit primário,masreconhece que,diantedaque-danaarrecadação, o governopode recorrer àdeduçãodos recursos de investimentos previstosno Programade Aceleração do Crescimento (PAC).

Embora o tema central fosse a reforma tributária, oministro interino concordou em avançar nas dis-cussões sobre a política macroeconômica e rebateuteses de que haveria mudança no tripé de sustentaçãoda economia - meta de inflação, meta fiscal e câmbioflutuante. "O carro continua o mesmo com volante,câmbio, pedal e freios. Só a estrada é diferente", dis-se, sobre a necessidade de adaptar a política eco-nômica aos impactos da crise financeira mundial. Eletambém defende o ritmo em que a inflação está con-

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Continuação: 'A reforma tributária está caminhando

vergindo para o centro da meta, fixado em 4,5%."Ter uma convergência mais rápida poderia sa-crificar o crescimento além do necessário."

O governo tem um projeto de reforma tributária?

A reforma tributária já começou e está ca-minhando. Desde o início do governo da presidenteDilma apresentamos ao Congresso o que ficou ca-racterizado como proposta de reforma fatiada ouuma reforma tributária em partes. Ela consiste devárias iniciativas, em separado, para agilizar a apro-vação. Cada tema com a sua velocidade.

A próxima etapa do PIS-Cofins parece ser uma dis-cussão polêmica.

Vamos decidir se tornamos o benefício mais abran-gente para considerar que toda compra de insumo ge-re crédito. Além da discussão sobre unificação daalíquota do ICMS. As mudanças no ICMS são maisum eixo. Elas começaram com a resolução 13 do Se-nado, que reduziu para 13% a alíquota interestadualpara bens que tenham conteúdo de importação muitoelevado. A proposta é reduzir a alíquota do ICMS co-mo um todo. Não há uma posição fechada sobre isso,nem no Confaz nem no governo federal.

O governo quer permitir que todos os setores tenhamdireito ao crédito tributário do PIS-Cofins?

Hoje, você tem o sistema não cumulativo com umaalíquota de9,25% sobre o valor adicionado, masnemtudo gera crédito. Isso gera um trabalho para as fir-masporquedevem separar o quegera eo quenãogeracrédito. A intenção do governo - lá na frente - é queem toda compra o insumo gere crédito. É isso o queestudamos. Atualmente, tem o sistema não cu-mulativo e o cumulativo, que paga uma alíquota me-nor de 3,65% do faturamento, mas nada gera crédito.Alguns setorespermanecemnesse sistema, masnãoéa maioria. Cerca de 20% da arrecadação do PIS-Co-fins ainda é no sistema cumulativo. O restante está no

sistema não cumulativo com alíquota de 9,25%.

Termina o sistema cumulativo?

Essa é a discussão. Pode ser que para alguns setoresesse sistema cumulativo ainda seja interessante. Es-tamos discutindo essa transição, se deve ser gradual.É uma questão que causa problemas técnicos e po-líticos.

Quanto o governo deixa de arrecadar?

Estou sendo cuidadoso porque a proposta não está fe-chada. Poderíamos fazer já. Mas não há espaço fiscalpara isso. Não éuma medidapara adoção imediata.Aquestão será discutida ao longo do ano que vem e im-plementada depois. O valor, não posso passar.

O governo também está revendo os programas de in-centivos?

Temos reavaliado todos os regimes tributários com oobjetivo de checar se aumenta a geração de valor eemprego no Brasil. Estamos reavaliando para saberse devem ser mantidos. O princípio geral é não dar in-centivo à importação quando houver similar nacionalproduzido no Brasil. Os financiamentos, os fundosconstitucionais, as regras de concessão estão in-corporando o incentivo à produção nacional.

Qualarenúnciatributária já feita? Épara mais decen-tena de bilhões. O Brasil está crescendo mais e au-mentando o grau de formalização da economia, maispessoas entrando no mercado de trabalho e com car-teira assinada, mais empresas se formalizando comacesso a crédito, proteção e seguro.

Isso dá espaço fiscal para fazer desoneração, man-tendo a estabilidade fiscal. O Brasil vive um bom fe-nômeno: ao aumentar a formalização da economia,com a mesma alíquota arrecada mais. Mas tambémnão dá para fazer qualquer desoneração. A gente temde escolher qual faz primeiro e qual faz depois.

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Continuação: 'A reforma tributária está caminhando

É uma abordagem diferente. O mundo está em crise,mas a economia brasileira vai crescer, sempre. Deonde vem tanta certeza?

Nós atravessamos 2009. A Europa está par-ticularmente mais em crise, em relação aos prin-cipais blocoseconômicos.NosEUA, o crescimento éde cerca de 2% ao ano. Não é uma questão de crise, édeuma recuperação mais lenta.Vai levar mais tempopara recuperar as perdas. Eu acho que a gente con-segue. Temos perfeitas condições de voltar a crescerentre 4% e 5%. Essa é uma característica natural daeconomia brasileira. Tem muitas oportunidades deinvestimentos ainda a serem aproveitadas. Tem mi-lhões de pessoas que já entraram na classe média etem milhões de outras pessoas a entrar na classe mé-dia. Esse ciclo virtuoso possibilita um processo decrescimento.

O que está acontecendo este ano é uma perda de ar-recadação...

Este ano estamos perdendo a arrecadação de algunsimpostos. Mas a principal fonte de queda da previsãode arrecadação é uma frustração no recolhimento doImposto de Renda e da Contribuição sobre Lucro Lí-quido (CSLL) decorrente da desaceleração do cres-cimento no final do ano passado e início deste ano eda queda dos preços das commodities, que atingiunossasprincipais firmas. A desoneração também temimpacto, mas a frustração de receita é decorrente dociclo econômico de fatores mundiais e não de fatoresinternos.

Quando se faz um desoneração pontual e setorial nãose corre o risco de desorganizar o sistema tributário?

Acho que não. Estamos tomando o cuidado para quecada reforma dessa seja autocontida. Por exemplo, aquestão da expansão e aperfeiçoamento do Su-persimples não está diretamente ligada à tributaçãosobre a folha nem à questão do ICMS interestadual.Cada passo desse acaba reforçando um ao outro. São

mutuamente consistentes.

Qual a diferença entre o IVA nacional e a unificaçãodas alíquotas do ICMS no contexto dessas mu-danças?

O IVA nacional seria fazer a reforma do PIS-CofinseICMS ao mesmo tempo, conjuntamente. Seria umaboa medida. Só que a complexidade técnica e, prin-cipalmente, política de se fazer esse movimento con-junto é muito grande. É por isso que tentativasanterioresde reformar tudoaomesmo tempo em umamedida só acabaram enfrentando fortes resistências enão tiveram sucesso.

A mudança no ICMS pode ser concluída este ano? Éuma longa discussão. Pode começar a se resolver es-te ano.Estamos finalizando várias propostas no Con-faz.

Os Estados, entre eles, também se organizam e têmsuas propostas.

Nós estamos preparando uma proposta para tran-sição para uma alíquota interestadual mais baixa. Jáapresentei no Congresso queo ideal seria migrar parauma alíquota de 4% - hoje é de 12% ou 7%, de-pendendo da transação. É migrar gradualmente paraos 4%, queseria o pontodechegada.Épreciso definirem quanto tempo. O máximo seria o prazo de oitoanos porque dá tempo para os Estados e a União seadaptarem a esse novo sistema.

É uma discussão complexa porque há os que ganhame os que perdem.

Há um forte debate sobre isso. Nós já fizemos le-vantamentos que mostram que num sistema de qua-troaquatro, apreço de2011, os Estadosperderiam nomáximo R$ 13,6 bilhões. Mas isso é uma perda na-cional. A maior parte dos Estados não arrecada isso.Essa reforma do ICMS é extremamente necessáriaporque vai eliminar a incerteza jurídica e aumentar a

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Continuação: 'A reforma tributária está caminhando

arrecadação dos Estados.

A guerra fiscal se esgotou?

A guerra fiscal hoje virou um jogo de soma negativa.OsEstadosarrecadam menoseas empresas nãose be-neficiam. Os incentivos que passam pelo Confaz sãocontestados no STF (Supremo Tribunal Federal) ecriam insegurança jurídica porque a empresa podeser obrigada a pagar com multa e juros todo o ICMSque não pagou. Virou um processo ineficiente e ne-gativo.

O difícil é chegar a um acordo.

A maioria dos governadores concorda que é precisomudar o sistema. A divergência é qual a alíquota fi-nal e em quanto tempo a gente chega lá. Há um po-tencial de arrecadação maior que poderá ser utilizadoem desonerações no âmbito estadual. Vai mudar a ló-gica. A alíquota será cobrada do consumidor de seuterritório. Quando tiver a tributação mais con-centrada no destino, toda a lógica muda. Fica maisfocada sobre o consumidor do que sobre a produção.Émais transparente porque tem mais controlesobre otributo cobrado dos residentes de seu território.

Aí acaba a política de estímulo a investimentos nosEstados?

Você tem que ter estímulo. A política de de-senvolvimento regional tem de existir. É importantequetenha uma alíquota interestadual.O principal ins-trumento de política de desenvolvimento regional

são incentivos federais. É uma política federal po-sitiva com ganho para o País.

Depois de todo esse processo de desoneração, a cargatributária diminuiu?

A carga tributária bruta está estável em 33% a 35%do PIB, nos últimos anos, por causa das de-sonerações, porque aumentou a base de arrecadação.

A base de tributação em termos do PIB aumenta por-que a economia se formaliza. Isso possibilita reduziralíquota e mantém a carga no mesmo nível. A cargatributária líquida do governo federal é cerca de 11%do PIB e está nesse nível desde 2002.

Esse novo formato sobre como a economia vai ca-minhar veio para ficar ou é circunstancial? Não achoque teve nenhuma mudança. Continuamos com omesmo arcabouço institucional de política eco-nômica. O que nós temos é a administração da po-lítica econômica para se adaptar a esse contextointernacional extraordinário.

É secretário executivo do Ministério da Fazenda.Formado em Economia pela Universidade Federaldo Rio de Janeiro (UFRJ), tem mestrado em Eco-nomia pela mesma instituição e doutorado em Eco-nomia pela New School for Social Research

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O urgente não deixa tempo ao necessárioESPECIAL - BRASIL COMPETITIVO

Gasolina. Imposto alto provoca protestos nos postos

Gasolina. Imposto alto provoca protestos nos postos

Iniciativas pragmáticas e pontuais não resolvem aquestão dos tributos

Bianca Ribeiro

O governo parece preferir ser criticado por avançarpouco em alívios pontuais da carga deimpostos noPaís a insistir na aprovação de uma reforma abran-gente do sistema tributário, quecausa embatese frus-trações intrínsecos ao tema sempre que vai aoCongresso.

Várias desonerações foram anunciadas desde o anopassado, para estimular a economia.

Alguns especialistas avaliam ser iniciativas prag-máticas que rendem resultados no curto prazo, masdestacam também que os atalhos para reduzir o pesodos tributos resultam em novos nós no já em-baraçado e pesado sistema de impostos do País.

Desde 1989, um ano após a promulgação da atualConstituição, alterações, emendas e reformas vemsendo propostas, já que a nova Carta não alterou sig-nificativamente o regime estabelecido na Cons-tituição de 1967. A última tentativa de alterar esseconjunto de regras partiu da própria União, com aProposta de Emenda Constitucional 233, de 2008,que previa redução e simplificação do número de tri-butos, bem como redução da carga de impostos, quepassou de 25,7% do Produto Interno Bruto (PIB) em1993 para 35,88% do PIB em 2011 edeve ultrapassar36% do PIB em 2012.

A proposta não vingou e o tema voltou à tona após acrise europeia, que piorou as condições decompetitividade da indústria, levando o governo aformatar mudanças em camadas,para facilitar apro-vações ponto a ponto.

Para a Confederação Nacional da Indústria (CNI ),

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Continuação: O urgente não deixa tempo ao necessário

há necessidade e espaço para arranjos pontuais quedesafoguem apressão fiscal sobre as empresas e tam-bém projetos para o futuro que sejam mais es-truturantes.

"O aperfeiçoamento do sistema tributário brasileirodeve ser buscadoem duas frentes: adiscussão sobre odesenho de uma reforma completa e, em paralelo, apromoção de mudanças que ataquem alguns pro-blemas do sistema atual. Temos de combinar o idea-lismo como pragmatismo", diz o gerente executivoda Unidade de Política Econômica da CNI, FlávioCastelo Branco.

"Não podendo fazer uma grande reforma, são feitospuxadinhos que acomodam necessidades imediatasmas não deixam a casa estruturada", critica a sóciaresponsável pela área tributária do escritório TozziniFreire Advogados, Ana Claudia Utumi.

Passos dados. O advogado e sócio da Machado,Meyer, Sendacze Opice, Marcelo Fortes, acreditaque o modelo "fatiado" resolve pontos críticos. "Nãoé preciso uma reforma ampla para racionalizar o sis-tema tributário. Pragmaticamente não seria ne-cessário mexer na Constituição", diz. "O movimentodo governo é compreensível e tenta minimizar dis-torções, mas uma reforma constitucional na área detributos é necessária", defende o advogado tri-butarista Paulo César Vaz, do Vaz, Barreto, Shingaki& Oioli Advogados.

Dos passos já dados pelo governo, destacam-se o fimdaguerra dos portos,obtido com aaprovaçãopelo Se-nado da Resolução 72, que entra em vigor no começode 2013 e estabelece uma alíquota única de 4% para oImposto sobre Circulação de Produtos e Serviços(ICMS )no comércio interestadual de produtos im-portados.

A medida deve impedir benefícios oferecidos em al-guns Estados, que ganham com o tributo na trans-ferência para onde os produtos são processados ou

consumidos. Mas há dúvidas sobre a eficiência da re-solução. Segundo Vaz, esse tipo de disputa pode seprolongar por causa da dificuldade em regulamentaro assunto. "Já há Estados tentando burlar esse im-pedimento", complementa Marcelo Fortes.

O governo também avançou na redução dos custoscom energia elétrica, pormeio de eliminação e/ou re-dução de encargos setoriais que oneravam essa contatanto para empresas como para residências e devemgarantir contas de energia pelo menos 7% menores apartir do próximo ano. Mas os especialistas lembramque o governo não fez desoneração tributária nessecaso e a maior parte do corte de custo de energia de-penderá da renovação das concessões de geração deenergia que deverão garantir tarifas mais baixas. Is-so, porém, só deveráser dimensionadoa partir de fe-vereiro de 2013.

Outro pontodaagenda éadesoneraçãodafolha depa-gamentos, aplicada a 40 setores e podendo ser am-pliada para outros. Com esse mecanismo, o governoabre mão da contribuição patronal ao INSS, de 20%,recolhida na folha, em troca de uma alíquota de 1% a2% do faturamento das empresas. Sobre essa questãoespecífica, alguns advogados levantam con-trovérsias. A desoneração não favorece todas as em-presas do setor contemplado e, em muitos casos,pode elevar a carga de impostos do empregador, de-pendendo do volume de empregados.

PauloVaz lembra também que,embora o governode-fenda ser essa uma desoneração permanente, ela nãoestá garantida a partir de 2014 e, portanto, deve servista como provisória. "É precária e indefinida", dizVaz. Outra crítica constante sobre esse tipo de de-soneração é o modelo setorizado. "A opção que o go-verno adota há algum tempo é de ajudar quem gritamais forte. Os setores que reclamam é que con-seguem redução de impostos ou incentivos", diz AnaClaudia.

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Guerra dos portos

A Resolução 72, que passa a valer em 2013, es-tabelece alíquota única de 4% para o ICMS no co-mércio interestadual de produtos importados, com oobjetivo de impedir benefícios oferecidos em algunsEstados

Energia elétrica

A eliminação e a redução de encargos setoriais de-vem reduzir em 7% os custos de energia elétrica. Ogovernodiz quearedução médiaseráde20,2% após arenovação das concessões

Folha de pagamentos

A troca da contribuição patronal de 20% para o Ins-tituto Nacional do Seguro Social (INSS) recolhido nafolha de pagamentos por uma alíquota de 1% a 2% dofaturamento das empresas já vale para 40 setores epode ser ampliada para outros setores da economia

Cesta básica

A redução de impostossobre produtos dacesta básicafoi vetada pelo governo em setembro, mas um novomodelo será proposto até o final deste ano

PIS/Cofins

Proposta em estudono governoprevê aunificação doPISedaCofins em umnovo tributo, decobrançamaissimples, quepretendeeliminar acumulatividade ege-rar crédito tributário para todos os insumos

Guerra fiscal

A união negocia com os Estados a unificação das alí-quotas interestaduais de ICMS, que hoje variam de12% a 7% e cairiam a 4% no prazo de 8 anos, com li-nhamento das distorções por meio de um fundo decompensações

Reforma em fatias

BRASIL COMPETITIVO

Entre as resoluções colocadas em prática estão a alí-quota única para o ICMS, a redução dos custos deenergia elétrica e a desoneração da folha de pa-gamentos. E todas causam controvérsias.

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Mudanças nas regras estão em estudoESPECIAL - BRASIL COMPETITIVO

No conjunto de discussões em andamento, há a de-soneração de impostos dos produtos da cesta básica.A proposta que constava na Medida Provisória 563foi vetada pela presidente Dilma Rousseff em 18 desetembro. No mesmo dia, contudo, foi anunciada acriação de um grupo técnico formado por re-presentantes de diversos ministérios - como Casa Ci-vil e Fazenda -, além do Instituto Brasileiro deGeografia e Estatística (IBGE), do Instituto de Pes-quisa Econômica Aplicada (Ipea) e dos Estados paraelaborar e apresentar até o final deste ano uma novaproposta mais adequada que reduza os tributos dacesta.

Há ainda a previsão de uma mudança de regras nascontribuições para o PISe a Cofins. O secretário exe-cutivo do Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa,afirmou háalgumas semanas queestá em análiseper-mitir que toda compra de insumo e serviço possa ge-

rar crédito desses tributos para as empresas. Alegislação atual obriga as empresas a separar o pa-gamento dos tributos sobre insumos que são usadosna produção e que dão direito ao crédito tributário.Além de reveros regimes especiais de PIS e de Co-fins, a proposta pretende atacar acumulatividade epermitir devolução mais rápida do crédito tributáriopara as empresas exportadoras.

Injustiça. Para Paulo Vaz, o PIS e a Cofins são "con-tribuições que acabam atingindo as mesmas ati-vidades em que já incidem IPI (Imposto sobreProdutos Industrializados), ICMS e ISS (ImpostoSobre Serviços)". Além de indiretos, Vazdestacaquesão contribuições socialmente injustas por não le-varem em conta a capacidade econômica dos con-tribuintes. "Qualquer classede renda pagaexatamente a mesma alíquota que incide sobre a Co-ca-Cola, por exemplo."

De todas as batalhas que ainda têm de ser travadas nocampo dos tributos, há consenso entre especialistasde que a mais difícil e de maior impacto é a que altera,reduz e unifica a alíquota de ICMS. O avanço nessetema acabaria com a chamada guerra fiscal e com as27 diferentes legislações dos Estados que operamcom benefícios fiscais distintos. Uma solução paraas distorções na incidência desse imposto entre as le-gislações, no entanto,poderia custar aos cofresdo go-verno federal R$ 14 bilhões ao ano.

A CNI defende a redução da alíquota interestadualdo ICMS de 12% para 4% e a transferência da co-brança do imposto da origem para o destino da mer-cadoria. A questão vem sendo conversada entre aUnião e os governos estaduais. Para obter a con-cordância dos Estados, o governo federal propõecompensar as perdas de receita com ICMS por meiodo Fundo de Participação dos Estados (FPE). / B.R.

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Reforma às avessasESPECIAL - BRASIL COMPETITIVO

Em vez de criar novas regras tributárias válidas paratoda a economia, governo Dilma escolheu e premioualguns setores industriais

SUELY CALDAS

Os governos FHC e Lula enviaram cinco propostasde reforma tributária ao Congresso. Todas fra-cassaram. Em 16 anos de mandatos, os dois ex-pre-sidentes pouco se empenharam e acabaram rendidosao bombardeio de interesses conflitantes vindos doCongresso e dos governadores. A presidente DilmaRousseff optou por driblar os conflitos fatiando a re-forma, mas até agora avançou pouco: iniciou a de-soneração da folha de salários das empresas, mudouregras no recolhimento do ICMS nos portos e pro-mete simplificar a cobrança do PIS/Cofins em 2014.

Em compensação, Dilma foi pródiga em fazer uma

espécie de reforma às avessas: em vez de novas re-gras tributárias válidas para toda a economia, es-colheu e premiou alguns setores industriais comisenção ou redução de tributos federais. O objetivonão era desonerar a carga tributária nem simplificar alegislação, tampouco fazer justiça social, mas tão so-mente incentivar a população a comprar produtosdesses setores, esperando que produzissem efeitomultiplicador no mornocrescimento econômico des-te ano.

Serviu para desafogar os estoques das montadoras eaumentar as vendas de eletrodomésticos, móveis emateriais de construção. Mas o efeito multiplicadornão aconteceu, o consumo de outros produtos até re-cuou e as previsões de crescimento foram cedendo aolongo do ano. O Fundo Monetário Internacional re-trocedeu sua estimativa para apenas 1,5%,muitoabaixo dos 3,9% previstos para a média da AméricaLatina, de 5% para o Chile e 6% para o Peru.

Mas, enquanto a reforma fatiada pouco produz re-sultados, é preciso avançar no grau de com-petitividade da economia. Do contrário, o País vaicontinuar perdendo na acirrada disputa do comérciono mundo e fraquejando diante dos efeitos da crisenos países ricos. Além da elevada carga tributária, acompetitividade brasileira é prejudicada pela máqualidade da infraestrutura e pela baixa pro-dutividade do trabalho, em razão da limitada es-colaridade do nosso trabalhador. Enquanto nospaísesasiáticosécada vez mais comum o trabalhadorter nível universitário, no Brasil, em média, ele es-tudou sete anos apenas. Com isso, uma tarefa con-fiada a um operário de Cingapura é realizada por seisno Brasil, onerando o custo do trabalho.

Em relação ao gargalo da infraestrutura, só re-centemente o governo Dilma reconheceu ter perdidoquase dois anos e decidiu partir para um programa deinvestimentos privados em transporte, com projetos

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Continuação: Reforma às avessas

em aeroportos, portos, rodoviaseferrovias. Mas ade-finição dos marcos regulatórios é lenta e por vezesmarcada por um inconveniente viés ideológico, queretira eficácia e compromete resultados.

Exemplo disso é o modelo concebido para explorarpetróleo do pré-sal que, ao obrigar a Petrobrás a seapropriar de todos os poços e investir recursos queelanão tem, só tem inviabilizado os investimentos. O

Brasil vive a absurda situação de ter certeza da exis-tência de óleo no fundo do mar e renunciar à sua ex-ploração, deixando de gerar emprego, renda,progresso ecrescimento econômico. Há mais dequa-tro anos não há uma só rodada de licitações paraexploração de petróleo.

Jornalista e professora de Comunicação da PUC-Rio

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Estados resistem e ameaçam reformaESPECIAL - BRASIL COMPETITIVO

Feirão. Comitê de Jovens Empreendedores mostra os impostos embutidosnos produtos

Feirão. Comitê de Jovens Empreendedores mostra os impostos embutidosnos produtos

Medo de perder receita do ICMS faz especialistaspreverem mudanças na reforma tributária só paradaqui a 10 anos

Francisco Carlos de Assis

As frequentes afirmações da presidente da Re-pública, Dilma Rousseff,sobre a necessidade de umareforma tributária não são garantia de que o sis-tema de arrecadação de impostos será reformado, pe-lo menos nos próximos 10 anos, de acordo comespecialistas em contas públicas e tributaristas.

Antes do aperfeiçoamento da estrutura de re-colhimento de tributos e dar edução da carga tri-butáriabrasileira, várias etapas ainda terão de sercumpridas. Mas o principal entrave - e nisso todosconcordam - vem da resistência dos Estados em abrirmão de receita em decorrência da unificação da ar-recadação do Imposto sobre Circulação de Mer-cadorias e Serviços (ICMS ).

O secretário da Fazenda do Maranhão e coordenadordo Conselho Nacional de Política Fazendária (Con-faz), Cláudio Trinchão, reconhece: "O que está em-perrando a reforma tributária no Brasil é a falta deuma reestruturação do ICMS como um todo". Naavaliação dele, antes de se reformar o ICMS é pre-ciso criar uma política de desenvolvimento regionalno Brasil, como um todo, de forma que os Estadosmais distantes tenham diferenciais para manter osatuais investimentos e para atrair novos.

"Todas as entidadesdaFederação devem ter amesmacapacidade de oferecer qualidade de vida e opor-tunidades para suas respectivas populações", de-fende Trinchão. Ele insiste que o ICMS é o principalimposto e a base econômica dos Estados. "É umaquestão extremamente complexa, porque o ICMSnão pode ser visto meramente como algo econômicoe financeiro. Deveria ser,mas não é." Para o se-

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Continuação: Estados resistem e ameaçam reforma

cretário maranhense, o ICMS é considerada a prin-cipal ferramenta de atração de investimentos para osEstados mais distantes. "Como não há uma políticaeconômica de desenvolvimento regional, que de-veria ter sido implantadahá30 ou 40 anos, os Estadosmais remotos começaram a usar o imposto como for-ma de atrair investimentos e, consequentemente, pa-ra instalar empresas, gerar empregos, renda e assimdar giro na economia."

Entrave.

Para o especialista em contas públicas Raul Velloso,a reforma não sai porque quem está falando em fa-zê-la não é o dono do principal imposto a ser re-formado. "O dono do imposto (ICMS ) são osgovernadores, que não aceitam perder receita." Se-gundo ele, para uma reforma tributária ampla serápreciso reunir os governadores de Estado em tornode um consenso. Velloso lembra, no entanto, que épreciso se levar em conta os pontos de vista até por-que, a partir do momento em que a sociedade decideque o governo vai fazer gastos, ele vai ter de ar-recadar.

"Mas eu prefiro que se faça a arrecadação pelo Im-posto de Renda porque ele é mais justo do que os im-postos indiretos. Já que tem de arrecadar que procureum imposto menos distorcivo, que não cause pro-blemas distributivos." Os governos, diz Velloso,normalmente preferem os impostos indiretos porqueas pessoas pagam sem ver. "Eles são mais dis-farçáveis. As pessoas não sabem o que está embutidonaquele imposto."

Trinchão, do Confaz, concorda com Velloso quandoele diz que o imposto mais justo é o que tributa a ren-da.Outraopção seria aadoção do Imposto sobre Va-

lor Agregado (IVA ) . Diferentemente de outrospaíses, no Brasil, o IVA é fracionado em três: IPI (fe-deral), ICMS (estadual) e ISS (municipal). Assim,acrescenta Trinchão, só se pode pensar em reformado ICMS.

"Há que se pensar em uma reforma estruturante noque diz respeito à atração de investimentos e de-senvolvimento regional. De forma que, por exem-plo,Estados distantes, como Rondônia e Acre, ondeas condições são mais complicadas até pela distânciafísica e pela falta de infraestrutura, tenham in-vestimentos, possam atrair empresas e capacitar amão de obra, tenham linhas de crédito diferenciadaspara que as empresas se instalem e para que o em-preendedor capte recursos com taxas diferenciadas",afirma.

Vontade política.

Na visão do advogado tributarista e coordenador deEstudos do Instituto Brasileiro de Planejamento Tri-butário (IBPT), Gilberto Luís do Amaral, a reformatributária não sai porque o próprio governo federalnão quer a reforma. "A União não quer a reforma por-que 70% de toda a arrecadação do País fica com o go-verno federal. Os Estados não querem a reformaporque o ICMS é a principal fonte de arrecadação de-les." De acordo com ele, o medo dos Estados está nafalta de garantias da União de que repassará recursosque lhes cabem.

Ainda de acordo com Amaral, o Brasil tem todas ascondições de fazer uma boa reforma porque é de-tentor da melhor e mais moderna plataforma de fis-calização tributária do mundo. "Temos todas ascondições de fazer um Imposto sobre Valor Agre-gado e uma partilha automática entre União, Estados

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Continuação: Estados resistem e ameaçam reforma

e municípios.O que falta é vontade política", critica ocoordenador do IBPT.

"Nós conseguimos fazer hoje uma reforma tri-butária semnenhum riscodeperda para Estadosemu-nicípios", assegura Amaral. Ele acrescenta que osetor público hoje tem uma legislação que permite aqualquer município monitorar minuto a minuto a ar-

recadação federal. "O Fisco brasileiro hoje tem umamplo controlede toda asociedade, seja pessoa físicaou jurídica. E, se os governadores e prefeitos pres-tassem atenção, veriam que têm chances de ganharmais com a reforma do que ganham hoje com a de-pendência da repartição", conclui o tributarista.

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Desoneração da cesta básica exige esforço nacionalconjunto

ESPECIAL - BRASIL COMPETITIVO

Cesta. Presidente vetou trecho de lei sobre desoneração

Cesta. Presidente vetou trecho de lei sobre desoneração

Para especialistas, Estados deveriam reduzir ICMS,a desoneração mais relevante para baixar os custos

Beatriz Bulla

A redução da tributação sobre produtos da cesta bá-sica passa, invariavelmente, por um esforço nacionalconjunto, com destaque para a participação dos Es-tados. Especialistas destacam que a desoneraçãomais relevante seria do Imposto sobre Circulação deMercadorias e Serviços (ICMS ),de competência es-tadual, uma vez que quase todos os produtos da cestajá são isentos do Imposto sobre Produtos In-dustrializados (IPI).

Ao converter aMedida Provisória563, queamplia osbenefícios do Plano Brasil Maior, na Lei12.715/2012, a presidente Dilma Rousseff vetou otrecho que versava sobre desoneração da cesta.

A presidente justificou o veto dizendo que a "ver-dadeira desoneração da cesta deve levar em conta tri-butos federais e também estaduais, assim como ageraçãodecréditos tributáriosaolongodacadeia pro-dutiva".

AMP reduzia a zero as alíquotas de PIS/ Pasep, Co-fins e IPI para produtos alimentares" de consumo hu-mano" que compõem a cesta básica nacional.

"Embutidos no valor dos produtos e das mercadoriasessenciais, os tributos indiretos, caso do IPI e doICMS, corroem o poder de compra da populaçãomais carente, aumentando a injustiça social", afirmao jurista e professor titular da Pontifícia Uni-versidade Católica de São Paulo (PUC-SP), RoqueAntonio Carrazza.

Em agosto, a carga tributária representava em média

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Continuação: Desoneração da cesta básica exige esforço nacional conjunto

37% do custo total da cesta básica em Porto Alegre,amais cara dentre as 17 capitais pesquisadaspelo De-partamento Intersindical de Estatística e Estudos So-cioeconômicos (Dieese), segundo a ConfederaçãoNacional dos Jovens Empresários (Conaje).

"Na medida do possível, a comercialização dos gê-neros de primeira necessidade não deve ser tributadanem por meio de IPI, nem de ICMS. Seria igual-mente o caso de desonerar de PIS e de Cofins", afirmaCarrazza.

Justificativa.

Todos os produtos dalista decesta básica definidape-lo Dieese já têm alíquota zero de IPI ou não são tri-butadospelo imposto, com exceção do açúcar.Comajustificativa do veto, Dilma sinalizou que o governofederal, sozinho, não consegue progredir. O esforçoda União dependeria também de uma redução doICMS.

"Há espaço para avançar na esfera estadual, mas issonão isenta o governo federal de responsabilidade",pondera a tributarista Fabiana Del Padre Tomé.Aprovada, a desoneração federal seria um "exemplo"para os Estados, na avaliação da advogada.

Uma possível redução do ICMS depende de con-vênio firmado entre os Estados e aprovado pelo Con-selho Nacional de Política Fazendária (Confaz).Atualmente, já existe convênio nesse sentido, de1994, que estabelece carga tributária mínima de 7%nas saídas de mercadorias que compõem a cesta bá-sica.

A Secretaria da Fazenda de São Paulo evitou co-mentar a possibilidade de acordo. O diretor adjuntodaadministração tributária dasecretaria, SidneySan-chez, alerta, contudo, que toda redução de impostosprovoca diminuição de arrecadação.

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A reforma tributária em discussão. Mais uma vezESPECIAL - BRASIL COMPETITIVO

Foram várias tentativas, desde a primeira, com Ita-mar Franco, quase 20 anos atrás. Agora, Dilma re-solveu 'comer pelas bordas'

CLÓVIS PANZARINI

O governo federal anuncia que até o final do ano en-caminha mais um projeto de reforma tributaria, o "e-nésimo" desde o longínquo 1993, quando ItamarFranco, cumprindo mandamento constitucional, ten-tou revisar o sistema tributário brasileiro e tudo o queconseguiu foi a edição da Emenda Constitucional(EC) n.º 3, que instituiu o famigerado Imposto doCheque, mais tarde convertido em ContribuiçãoProvisória sobre Movimentação Financeira(CPMF ).Essa Emenda cometeu ainda a substituiçãotributária, faculdade de os Fiscos, por meio de lei, co-brarem tributos sobre fatos geradores futuros. Uti-lizada nos anos recentes de forma promíscua pelos

Estados, desfigurou completamente a lógica doICMS, imposto do tipo valor adicionado ( IVA) querepresenta cerca de um quinto da carga tributária doPaís. Bela reforma tributária!

O presidente Fernando Henrique Cardoso tambémtentou a sua reforma tributária. Em seu primeiroano de mandato encaminhou a Proposta de EmendaConstitucional ( PEC)175/95, que traria profundas emodernizantes modificações no sistema tributário,especialmente no ICMS. Desse esforçoresultou ape-nas a ECn.º 12/96, que criou a CPMF em sub-stituição ao Imposto do Cheque, contribuição essaque foi sendo prorrogada ao longo de todo o períodoFHC.

A fila andou e chegou a vez de o presidente Lula re-formar o sistema tributário. Em abril de 2003, em atoemblemático, desceu a rampa do Palácio acom-panhado dos 27 governadores empunhando aPEC41/ 2003, que reformulava completamente oICMS, e proclamou do alto de sua glória: "Fiz em 3meses a reforma tributária que o governo anteriornão conseguiu em 8 anos".

A montanhapariu umrato: dessa bravatanasceu aECn.º 42/2003, que além de miudezas irrelevantes, pror-rogou a vigência da CPMF até dezembro de 2007.Outra proposta de reforma tributária foi tentada nosegundo mandato de Lula, a PEC31/2007, que estámofando em algum escaninho do Congresso Na-cional. No âmbito da discussão daquela PEC, o go-verno buscou a prorrogação (talvez fosse essa a suareal motivação) da vigência da CPMF, que expirava,como expirou, no fim daquele ano. O resultado, co-mo sabemos, foi amargo para o presidente Lula e do-ce para o contribuinte. A CPMF morreu.

Agora é a vez da presidente Dilma. Sabedora das di-ficuldades políticas para reformar o sistema tri-butário - que implicará redistribuição de recursos

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fiscais edepoder, alémdo provável aumentodecargatributária (para nenhum ente federativo perder, ob-viamente perderá o contribuinte) -, resolveu "comerpelas bordas". "Vamos fazer uma reforma tri-butária fracionada, a conta-gotas", pontificou. Afi-nal, é o ICMS, imposto de competência estadual, ogrande protagonista do manicômio tributário bra-sileiro, cuja reformulação depende do apoio damaioria, senão da totalidade, das unidades federadas.A possibilidade de perdas - de receita e de poder po-lítico - e a desconfiança mútua entre os entes fe-derativos sempre catapultam para o limbo qualquerproposta de reforma tributária.

Enquanto isso, o setor produtivo tem sua com-petitividade ofendida pelo cipoal de normas que tor-nam a gestão fiscal onerosa e insegura, pelatributação dos investimentos e das exportações, pe-las cumulatividades enrustidas e apela guerra fiscal.

O ICMS, concebido para ser neutro - como devemser os impostos do tipo valor adicionado (IVA )-, foisendo ao longo do tempo espancado pelas ad-ministrações tributárias estaduais e hoje é uma ja-buticaba que nem de longe lembra um IVA. O usoindiscriminado dasubstituição tributária em nome dacomodidade arrecadatória do Fisco transformou es-se imposto em exótico "IVA monofásico". A co-brança "na fonte" (na saída da indústria), porestimativa, do ICMS a ser gerado pelos elos sub-sequentes (comércio atacadista e varejista) da cadeiaprodutiva, agride profundamente as regras de mer-cado.

De outrolado, aguerra fiscal, aguerra dos portos - su-

bespécie de guerra fiscal - e a guerra do comércio ele-trônico, além de provocar perigosas tensõesfederativas, geram insegurança jurídica e quebram aneutralidade do imposto. A mitigação dessa dis-torção poderia ser alcançada com a adoção do prin-cípio de destino, vale dizer, com a aplicação dealíquota interestadual nula ou muito baixa, pois as-sim a arrecadação pertenceria ao Estado onde amercadoria é consumida, passando a ser irrelevante olocal de produção ou importação.

No caso dos bens importados, uma "fatia" dareforma tributária já foi aprovada pelo Senado,quereduziu para 4%, com vigência a partir do próximoano, a alíquota interestadual de ICMS sobre tais ben-s. Os Estados, porém, alegam dificuldades ope-racionais para sua implantação e laboram no sentidode postergar ou revogar esta "fatia".

Divulga-se, agora, uma novafatia: seráencaminhadaPEC para adoção geral do princípio de destino (ouquase destino; alíquota interestadual baixa) doICMS, que dará fim à guerra fiscal. Mas,comessehistórico de fracassos, não dá para ser otimista. Pe-riga nascer uma CPMF.

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CLÓVIS PANZARINI - ECONOMISTA,EX-COORDENADOR DA ADMINISTRAÇÃOTRIBUTÁRIA DO ESTADO DE SÃO PAULO,SÓCIO-DIRETOR DA CP CONSULTORES AS-SOCIADOS LTDA

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Controvérsia cerca substituição tributáriaESPECIAL - BRASIL COMPETITIVO

Custo. Posto de combustíveis em dia de protesto contra impostos: ICMS nagasolina é de 25%

Custo. Posto de combustíveis em dia de protesto contra impostos: ICMS nagasolina é de 25%

Estudos e especialistas não concordam no debate so-bre aumento de preços e de arrecadação

Francisco Carlos de Assis

Tido como maior obstáculo à reforma tributária, oImposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços(ICMS ),principaltributo de domínio estadual, é ob-jeto de polêmica também nos Estados. As con-trovérsias se concentram sobre a substituiçãotributária, procedimento que consiste, basicamente,na antecipação do recolhimento do imposto na in-dústria ou, tecnicamente falando, na origem.

Para a cadeia produtiva - da indústria ao consumidorfinal -, a substituição tributária provoca aumento depreços porque o imposto é calculado com base na es-timativa de receitas com as vendas. Para os se-cretários de Fazenda, o procedimento apenasconcentra na origem a cobrança do imposto que seriafeita ao longo de toda a cadeia. O benefício estaria naredução da base de fiscalização, o que permite maiorcontrole do sistema e evita sonegações e simulaçõestributárias.

Estudo realizado pela Confederação Nacional daIndústria (CNI ),denominado "A Substituição Tri-butária do ICMS no Brasil", contradiz os secretáriose afirma que "a adoção do regime de substituição tri-butária pode resultar em aumento no preço final damercadoria aoconsumidor se comparadocom o mes-mo produto sujeito à tributação pelo regime normalde apuração do ICMS".

Pelos cálculos da CNI, o preço final da mercadoriacresce em torno de 5% na substituição tributária emrelação ao regime normal do ICMS. "A substituiçãotributária interfere negativamente na livre con-corrência, na medida em que não autoriza a res-tituição do imposto quando a operação foi efetuadapor valores inferiores aos que serviram de base para o

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Continuação: Controvérsia cerca substituição tributária

cálculo do imposto, impedindo que as empresas pos-sam reduzir a margem de determinados produtosquando pretenderem incrementar sua participação demercado quando submetida à substituição tributáriado ICMS", diz o estudo.

Para o advogado tributarista e coordenador de Es-tudos do Instituto Brasileiro de Planejamento Tri-butário (IBPT), Gilberto Luísdo Amaral, do pontodevista do Fisco, a substituição tributária épositiva por-que, quando se recolhe o imposto na origem, o custovai embutido no valor de toda a cadeia. "O ponto ne-gativo é que as secretarias estão acertando a Margemde Valor Agregado (MVA) de acordo com suas res-pectivas necessidades arrecadatórias", critica.

Segundo Amaral, algumas Secretarias de Fazendaextrapolam seus poderes ao criar escritórios em ou-tros Estados e ao exigir que contribuintes desses Es-tados recolham o diferencial nas compras,o quereflete na substituição tributária. Ele acredita que osavanços na plataforma de fiscalização tributária - co-mo nota fiscal eletrônica e Spec Fiscal - no Brasil nãojustificam a vigência da substituição tarifária.

O responsável pela Coordenadoria de Ad-ministração Tributária da Secretaria da Fazenda doEstado de São Paulo, José Clovis Cabrera, discordade Amaral. Para ele, seria impraticável um es-tabelecimento de pequeno porte, como um bar, ter deemitir uma nota fiscal para tributar 18% sobre umva-lor de R$ 3,00 de cada garrafa de refrigerante ven-dida, por exemplo. De acordo com ele, do ponto devista operacional, a substituição tributária é a melhorforma de organizar os mercados porque concentra aarrecadação da cadeia em um setor oligopolizado."Do ponto de vista jurídico, o sistema está con-solidado no País", afirma Cabrera.

A tendência, com apropostado governofederaldere-duzir as alíquotas do ICMS interestadual, é a mas-sificação do regime de substituição tributária. Issoporque, com a redução da alíquota de tributação in-terestadual, abre-se espaço para sonegações esimulações tributárias, com um produto podendo sercomprado para ficar em um Estado ou ser entregueno outro. Cabrera discorda também de que o regimedistorce os preços, alegando que o tributo é fixadocom base em pesquisas feitas por institutos de re-nome, como Fundação Instituto de Pesquisas Eco-nômicas (Fipe) e Fundação Getúlio Vargas (FGV)contratados por associações e sindicatos re-presentativos dos setores envolvidos. A pesquisa, deacordo com Cabrera, é feita tomando os preços dosprodutos na origem e na ponta do consumidor.

Para o presidente do Instituto de Desenvolvimentodo Varejo (IDV), Fernando de Castro, a principalvantagem da substituição tributária é o fato de elaconcentrar em grandes empresas formais o re-colhimento dos tributos. "Isso inibe a sonegação e di-ficulta os mecanismos de não pagamentos deimpostos. Então, é uma vantagem. Agora, o sistemaestá se revelandorelativamenteummecanismo deau-mento de impostos, o que é enganoso porque oICMS, pela Constituição Federal, tem um limite deimposição de 18%, 17%", pondera o executivo doIDV.

Com base no sistema de substituição tributária, dizCabrera, os órgãos estaduais começaram a arbitrarmargens não verdadeiras e em razão, muitas vezes,deestudos questionáveis. "As Secretarias deFazendaestão, a cada ano, aumentando as MVAs e, evi-dentemente, isso é muito danoso."

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Continuação: Controvérsia cerca substituição tributária

MVA em xeque

GILBERTO LUÍS DO AMARAL

COORDENADOR DO INSTITUTO BRA-SILEIRO DE PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO(IBPT)

"O ponto negativo é que as secretarias estão acer-tando a Margem de Valor Agregado de acordo comsuas respectivas necessidades arrecadatórias."

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Pacote deve reduzir as contas de luzESPECIAL - BRASIL COMPETITIVO

Primeiro pontapé. A presidente Dilma Rousseff anuncia em Brasília opacote de redução de 20,2% da conta de luz

Mas, para empresas de energia, este é apenas o pri-meiro passo do processo de desoneração do setor elé-trico

Luciana Collet

O movimento de desoneração das tarifas de energiacomeçou em setembro passado, quando a presidenteDilma Rousseff anunciou o pacote do setor elétricoque prevê uma redução média de 20,2% da conta deluz. Parte dessa redução - o correspondente a 7,2% -virá com a eliminação ou diminuição de encargos se-toriais. A decisão foi comemorada pela indústria epor especialistas do setor elétrico, que consideramque este é apenas o primeiro passo deste processo dedesoneração.

Paraos agentes, háexcessodeencargos e tributos queincidem sobre a conta de luz e novas medidas para re-dução ainda devem ser tomadas.

A Medida Provisória 579, que trata da renovação dasconcessõesquevencementre 2015 e2017, determinaa extinção da Reserva Geral de Reversão (RGR), ofim da arrecadação para a Conta de Consumo deCombustíveis (CCC) earedução dacobrançadaCon-ta de Desenvolvimento Econômico (CDE) para 25%do valor atual. Para o sócio e consultor da TempoGiusto, Eduardo Bernini, "é o início de uma de-soneração, não é o fim da jornada".

O presidente do Instituto Acende Brasil, Claudio Sa-les, avaliou que o corte desses encargos é importantepelo que representa- uma mudança na tendência deaumento dos encargos e tributos que incidem na ta-rifa de energia. "Tributos e encargos são 45% da con-ta de luz, portanto 7,2% são importantes. Éaprimeiravez que se reverte essa tendência de aumento."

De acordo com estudo feito pela Pri-cewaterhouseCoopers, em parceria como Acende

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Primeiro pontapé. A presidente Dilma Rousseff anuncia em Brasília opacote de redução de 20,2% da conta de luz

Brasil, do totalde tributos eencargos que incidem so-bre o setor elétrico, 31% são tributos federais, 47%são tributos estaduais, 19% são encargos setoriais eos 3% restantes são encargos trabalhistas.

Na avaliação do professor Nivalde de Castro, coor-denador geral do Grupo de Estudos do Setor Elétrico(Gesel), da UFRJ, o Brasil passa por um momentoque favorece a redução dos impostos, tendo em vistaa redução da dívida líquida do setor público e a quedado custo dessa dívida, por causa da queda dos juros.

Na opinião do professor, o próximo passo do go-verno federal será negociar com os Estados a reduçãodas alíquotas de ICMS.

No Estado de São Paulo, deve haver uma redução naarrecadação de ICMS na conta de luz de R$ 1 bilhão.O Rio de Janeiro deve registrar perdas entre R$ 400milhões e R$ 600 milhões, segundo o secretário deEnergia daquele Estado, Julio Bueno. No Rio Grandedo Norte, a estimativa é de redução de 2% da receitado Estado com energia - cercadeR$ 20 milhões, diz osecretário do Desenvolvimento do Estado, BenitoGama.

Os secretários formaram uma comissão, re-presentando o Fórum Nacional de Secretários de Es-

tado de Energia (FNSE), para pedir maiorparticipação na discussão do pacote do setor elétrico."Os Estados, naquilo que foi anunciado pelo go-verno, já estão contribuindo com a redução, porquereduzindo a base de incidência do ICMS no setor deenergia diminui também o recolhimento de ICMS",disse o secretário de Energia de São Paulo, José Aní-bal. A negociação para reduzir aalíquota podeser du-ra.

Para Castro, da UFRJ, o governo federal poderia usarcomo moeda de troca dessa negociação a con-trapartida de redução do PIS/Cofins. Agentes do se-tor esperavam que a MP579 contemplaria umaredução dessa contribuição, e a ausência de algumamudança nesse sentido surpreendeu parte do mer-cado.

O estudo da Price e do Acende Brasil mostra que oPIS/Cofins responde por cerca de 8,5% da conta deluz. Até o início dos anos 2000, a contribuição era co-brada pelo regime cumulativo, com alíquota de3,65%, e passou a ser cobrada pelo regime não cu-mulativo, com alíquota de9,25%, o queprovocouau-mento na conta de luz próximo de 4%. "O que seesperava era que o governo revertesse (o PIS/Cofins)para o critério anterior,como éainda hoje para o setorde telefonia e de rodovias", disse Sales.

Além do PIS/Cofins e do ICMS, agentes do setor su-gerem que o governo poderia mexer em outros en-cargos setoriais, como o Encargo de Serviços doSistema (ESS), que tem como objetivo subsidiar amanutenção da confiabilidade e estabilidade do Sis-tema Interligado Nacional (SIN).

Para Bernini, da Tempo Giusto Consultoria, esse en-cargo, ao repartir o ônus da transmissão entre os

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Continuação: Pacote deve reduzir as contas de luz

agentes, favorece usinas mais distantes, em de-trimento deusinas mais próximas dos centros decon-sumo.

Outro encargo citado foi a Taxa de Fiscalização deServiços de Energia Elétrica (TFSEE), que financiaas atividades da Agência Nacional de Energia Elé-trica (Aneel). A alegação é que apenas parte dos re-

cursos é efetivamente destinada à agência reguladorae o restante é contingenciado.