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CARTA ABERTA À SOCIEDADE CONQUISTENSE Vitória da Conquista, 24 de outubro de 2011 Consideramos que a educação é uma atividade especificamente humana cuja origem coincide com a origem do próprio homem e que existirá enquanto existir o homem. O mesmo não podemos dizer da escola. Ela surge para atender a uma ou várias comunidades. Embora tenha data de criação, o seu fim se dá quando ela perde sua função social para aquela comunidade a qual se destina. Há escolas que resistem ao tempo. A exemplo temos o Colégio D. Pedro II no Rio de Janeiro que desde o período imperial até os dias atuais desenvolve os seus trabalhos, tendo o respaldo da própria sociedade. Até quando? Não sabemos. Podemos evidenciar isso aqui em Vitória da Conquista com o fechamento de escolas que serviram a sociedade por um bom período, mas tiveram os seus trabalhos encerrados. Quem não se lembra do Colégio Otávio Mansur, Diocesano, São Tarcísio, Maria Viana, Estrutural Gama, e recentemente o Dirlene Mendonça? Estas e muitas outras cumpriram com a ordem natural das coisas. Encerraram um ciclo. Normalmente o fechamento de uma escola se dá por dois motivos. 1º - Queda gradativa de matrícula. A cada ano menos alunos procuram a escola resultando em salas ociosas. Possíveis causas: taxa de natalidade cada vez menor. Tendência dos casais terem menos filhos do que os seus pais. Outro fator é a construção de escolas próximas às comunidades que estão distantes da referida escola. Os alunos deixariam de fazer um longo percurso para estudarem numa escola próxima das suas residências. 2° - Má gestão escolar. A conseqüência leva ao primeiro motivo. Os pais não se sentem seguros em matricular os seus filhos em escolas que a equipe gestora deixa à desejar. Um lugar onde vale tudo, na verdade não vale nada. Um lugar que a falta professor, merenda, normas, etc, sobra desconfiança, violência, insegurança...

Carta Aberta à Sociedade Conquistense

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CARTA ABERTA À SOCIEDADE CONQUISTENSE

Vitória da Conquista, 24 de outubro de 2011

Consideramos que a educação é uma atividade especificamente humana cuja

origem coincide com a origem do próprio homem e que existirá enquanto existir o

homem. O mesmo não podemos dizer da escola. Ela surge para atender a uma ou

várias comunidades. Embora tenha data de criação, o seu fim se dá quando ela perde

sua função social para aquela comunidade a qual se destina. Há escolas que resistem

ao tempo. A exemplo temos o Colégio D. Pedro II no Rio de Janeiro que desde o

período imperial até os dias atuais desenvolve os seus trabalhos, tendo o respaldo da

própria sociedade. Até quando? Não sabemos.

Podemos evidenciar isso aqui em Vitória da Conquista com o fechamento de

escolas que serviram a sociedade por um bom período, mas tiveram os seus trabalhos

encerrados. Quem não se lembra do Colégio Otávio Mansur, Diocesano, São Tarcísio,

Maria Viana, Estrutural Gama, e recentemente o Dirlene Mendonça? Estas e muitas

outras cumpriram com a ordem natural das coisas. Encerraram um ciclo.

Normalmente o fechamento de uma escola se dá por dois motivos.

1º - Queda gradativa de matrícula. A cada ano menos alunos procuram a escola

resultando em salas ociosas. Possíveis causas: taxa de natalidade cada vez menor.

Tendência dos casais terem menos filhos do que os seus pais. Outro fator é a

construção de escolas próximas às comunidades que estão distantes da referida

escola. Os alunos deixariam de fazer um longo percurso para estudarem numa escola

próxima das suas residências.

2° - Má gestão escolar. A conseqüência leva ao primeiro motivo. Os pais não se

sentem seguros em matricular os seus filhos em escolas que a equipe gestora deixa à

desejar. Um lugar onde vale tudo, na verdade não vale nada. Um lugar que a falta

professor, merenda, normas, etc, sobra desconfiança, violência, insegurança...

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A Escola Estadual Marcelo Rangel Pestana localizada na Av. Integração, surgiu

nos anos 1960 com o objetivo de atender aos filhos dos funcionários do Departamento

Nacional de Estradas e Rodagens – DNER (hoje DNIT) na época dos trabalhos de

construção da BR 116 no perímetro conquistense. Com o desenvolvimento da rodovia

e o acesso fácil, à escola passou a atender toda a comunidade local.

Desde o seu início (meados dos anos 60), a escola procura manter uma ética

educacional, valorizando o aluno e procurando sempre estar junto à comunidade.

Ao longo dos anos, ela foi reestruturando a sua oferta já que os trabalhos da

rodovia federal estavam concluídos. Nos anos 1980 ela passa para a esfera estadual via

portaria n°235081 DO 11 e 12/04/1981. Hoje ela oferta o segundo segmento do Ensino

Fundamental (5ª a 8ª séries).

No mês de setembro soubemos por pessoas de outras escolas que a Rangel

Pestana estava com os “dias contados”. Acionamos a direção da escola que

prontamente buscou saber sobre aqueles burburinhos que estavam circulando na

cidade. A direção conseguiu agendar uma reunião com o diretor regional da Direc-20

Sr. Ricardo Moraes com os professores e funcionários da escola no dia 20 do referido

mês para manifestar-se sobre o assunto. Daí veio o comunicado que até o momento

não entendemos: fechamento da escola.

Estaria a Escola Rangel Pestana exaurida e decadente para a SEC (lê-se Direc-20)

decretar o seu fechamento? Será que ela já cumpriu com suas funções? Certamente

NÃO! Se não vejamos:

Solicitamos da secretaria da escola um levantamento da matrícula dos

últimos oito anos e notamos que não houve redução. Hoje a escola conta

com 503 alunos matriculados. Houve uma queda sim no turno noturno ao

longo desses anos, mas isso é uma tendência em todas as escolas da rede

estadual de ensino.

No último Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) a Rangel

Pestana obteve uma das notas mais altas da região Sudoeste, inclusive

superior ao do Colégio Militar.

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A escola fora convidada em 2010 e 2011 pela Câmara dos vereadores de

Conquista pelo reconhecimento dos trabalhos realizados na cidade.

Estiveram presentes em tais sessões representantes de todos os

segmentos da escola.

Para evitar concorrência com outras escolas públicas do seu entorno, o

Rangel Pestana passou desde 2009 a garimpar alunos de escolas

particulares. Ressaltamos que o nosso maior compromisso é com as

famílias carentes que esta instituição assiste. No entanto, tal iniciativa

elevou o nível de ensino, já que é comprovado que o nível de

conhecimento dos alunos do Ensino Fundamental das escolas particulares

é superior à rede pública.

A escola atende a muitos alunos de bairro distantes como Vila Serrana IV,

Candeias, Urbis VI e até Lagoa das Flores. O que leva os pais a

matricularem os seus filhos no Rangel Pestana já que no percurso de suas

casas até o Rangel há outras escolas públicas que ofertam o mesmo

ensino? Credibilidade e confiança.

Qual a justificativa alegada pela Secretaria Estadual de Educação (SEC) para o

fechamento da Escola Marcelo Rangel Pestana? O diretor da Direc-20 apresentou

como justificativa a criação de um centro de Intermediação Tecnológica. Ou seja, a

escola daria lugar para um projeto do governo atual que ainda está em fase de

implantação no Estado.

Entendemos que implantação de um Centro de Intermediação Tecnológico para

atender não apenas Vitória da Conquista, mas vários municípios da região seja muito

salutar. Nós não somos contrários. Haja vista da desenvoltura do projeto. O que gera

indignação é por que logo no Rangel Pestana? Se a escola está dando respostas para a

sociedade, por que encerrar os seus trabalhos? Será que não existe outro local para a

implantação do Centro? A quem interessa esse centro?

A SEC deveria ao menos dialogar com a sociedade, especificamente a

comunidade escolar sobre essa medida irresponsável. Subtende-se que algo público

seja aquilo que pertença à sociedade. Há uma insatisfação explícita sobre o

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fechamento do Rangel Pestana da sociedade conquistense, sobretudo da comunidade

que é assistida pela escola estando à mesma cumprido plenamente com as sua

funções seja social, cultural, política etc. Aqui reside um paradoxo. Ao menos que o

conceito de público para o atual governo tenha se desvirtuado para estatal, passando

com isso a serem sinônimos. Somos defensores sim de uma escola pública de

qualidade e não de uma escola estatal.

Por fim manifestamos aqui a nossa indignação por uma atitude descabida,

inconseqüente e equivocada da SEC, que premia o trabalho de uma escola que está

dando resultados satisfatórios com o fechamento dos seus trabalhos!

Colegiado Escolar Marcelo Rangel Pestana