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Circulação da Informação e Intermediários na Convergência Digital agências de notícias, inovação e autorregulação Pedro Aguiar doutorando Universidade do Estado do Rio de Janeiro orientadora: Profª. Dra. Sônia Virgínia Moreira bolsista FAPERJ

Circulação da Informação e Intermediários na Convergência Digital: agências de notícias, inovação e autorregulação

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Circulação da Informação e Intermediários na Convergência Digital

agências de notícias, inovação e autorregulação

Pedro Aguiardoutorando

Universidade do Estado do Rio de Janeiro

orientadora: Profª. Dra. Sônia Virgínia Moreira

bolsista FAPERJ

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resumoDurante um século e meio, as agências de notícias reinaram de forma discreta mas absoluta, em escala global, como fornecedoras de informação que a imprensa e a mídia não tinham recursos próprios para alcançar. Essa hegemonia começou a ser ameaçada a partir da digitalização dos processos de comunicação e, particularmente sob a convergência digital, com a entrada de novos intermediários no mercado da informação. Hoje, Google e Facebook cada vez mais tentam se vender aos órgãos jornalísticos como canais privilegiados para a disseminação de seus conteúdos, por enquanto para o público, mas potencialmente também para as próprias redações. Em paralelo, as maiores agências transnacionais articulam-se em iniciativas para renovar seus modelos de negócio e garantir a continuidade da demanda para seus serviços. Entre as estratégias que adotam, estão a autorregulação com o desenvolvimento de padrões taxonômicos e protocolos de metadados para rastrear direitos autorais (especialmente sobre fotos), o uso de tecnologias para baixar o custo do trabalho, com a automatização da escrita de certos conteúdos, e a parceria com startups para experimentação de novos produtos e linguagens (como os vídeos imersivos, ou de realidade virtual), especialmente para plataformas móveis. Todas essas estratégias são consequência da relação às vezes de cooperação e às vezes de rivalidade que as agências transnacionais, empresas do século XIX, travam com os intermediários digitais, empresas do século XXI.

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tópicos

1) agências de notícias começam a superar o fordismo

2) entre tapas e beijos: Google, Facebook e as agências

3) autorregulação e gestão de copyrights: o IPTC

4) inovação em conteúdos digitais: o MINDS International

1)automação como estratégica para agências de notícias

2)vídeos imersivos como produto para plataformas móveis

5) pós-fordismo, produção flexível e customização de conteúdos

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agências de notícias• empresas do século XIX:

• Reuters (1851)• AFP (Havas - 1832)• Associated Press (1846)• Dow Jones (1882)

• exceção: Bloomberg (1982)

• fornecedoras da imprensa e de informação financeira/comercial• “atacadistas da informação”

• fordistas antes de Henry Ford• altíssima centralização da gestão e processo

decisório• rígida padronização das operações + hierarquia

vertical estrita• linearidade processual absoluta• massificação do produto e economia de escala:

“você pode ter o viés editorial que quiser, desde que seja o nosso”

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agências de notícias• já no século XXI...

• começam a perder o oligopólio sobre a circulação da informação

• deixam de ser exclusivamente intermediários “atacadistas” e entram nas redes sociais, divulgando sua marca (“branding”) e travando contato direto com usuários finais como clientes

• “nexo global/local” passa a ser instável (acordos de “parcerias” com agências nacionais de países subdesenvolvidos são postos em xeque)

• convergência digital nos clientes exige a multiplicidade de conteúdos e serviços a serem oferecidos (“multiplicidade da oferta” mas com os mesmos fornecedores)

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(Google x Facebook) x agências• em 2015, a Google abriu linha de crédito para agências de notícias europeias, para projetos de inovação em conteúdo digital

• no total, foram liberados 150 milhões de euros para 128 projetos (nem todos de agências), entre mais de 1.200 que se candidataram

• Facebook Instant Articles – controle “inorgânico” das visualizações pela programação do algoritmo (distribuição controlada) – 2014

• nenhuma grande agência usa por enquanto (set.2016)

• Google Accelerated Media Pages (AMP) – jan.2016• “HTML simplificado” para carregar mais rápido

em mobile• também medeia o consumo da informação e o

acesso ao conteúdo jornalístico

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International Press Telecommunications Council• fundado em 1965

• Thomson Reuters, Associated Press, Bloomberg, AFP, ANSA, DPA, Xinhua, Getty, Keystone, BBC, PA, WAN-IFRA, KUNA, QNA, APA...

• autorregulação e estandardização para o setor

• gerencia padrões de taxonomia para gestão da informação

• desenvolve protocolos de metadados para texto e foto• publica anualmente manuais de aplicação de

metadados

• mecanismos de recuperação e controle de direitos de reprodução (copyrights) – criação de escassez artificial da informação

• https://iptc.org

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International Press Telecommunications Council

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International Press Telecommunications Council“Em 1965, as maiores agências do mundo se uniram para criar o IPTC (sigla em inglês para Conselho Internacional de Telecomunicações de Imprensa), uma entidade de referência em padronizações para gestão da informação. Muito antes da popularização da internet, o IPTC já se preocupava em criar padrões universais para catalogar conteúdos (tanto texto quanto imagens) e incorporar esses padrões aos próprios materiais (o que hoje se chama “metadados” e é muito mais fácil de fazer no ambiente digital, mas antes era feito no analógico). Com o estouro da web, a interface em hipertexto da internet, o IPTC desenvolveu um padrão para a publicação de notícias chamado NewsML. Desde então, vem sendo atualizado em várias versões (a mais recente, NewsML-G2, está em vigor desde 2008).

Mais tarde, o IPTC desenvolveu um padrão específico para texto: o NITF (News Industry Text Format, ou “formato de texto do setor jornalístico”), adotado pelas maiores agências e os maiores jornais em suas versões web e nos seus sistemas internos de gestão de conteúdo. Assim como o NewsML, o NITF é baseado na linguagem de programação XML, semelhante à HTML (predominante na interface web), mas adaptada para poder ser “lida” e processada por máquinas – o que permite, por exemplo, os “agregadores de notícias” como RSS e o GoogleNews; a integração de conteúdos a plataformas de redes sociais como o Facebook; e aumenta a eficácia das ferramentas de busca para encontrar textos jornalísticos.”

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International Press Telecommunications Council“O que esses padrões fazem é criar metadados (dados “ocultos” sobre o conteúdo dos arquivos de texto e imagens) que facilitam não só a classificação e a recuperação, mas também o controle sobre direitos autorais, rastreando reproduções indevidas e permitindo às agências manter um acompanhamento sobre o uso de seus despachos.

De modo geral, todo conteúdo produzido por agências de notícias está regido sob direitos autorais (inalienáveis, ou seja, dos quais não se pode abrir mão) e direitos de reprodução (que, estes sim, a agência vende aos clientes para que possam usá-lo como quiserem). Por isso, o crédito atribuído às matérias aproveitadas pelos clientes é uma forma importante de controle e medição que as agências têm para saber como seu material está sendo utilizado. Mas a realidade é que é comum que clientes ignorem o devido crédito às agências cujo material incorporam nos textos (em televisão, então, os créditos nem aparecem sequer sob a forma de marca d’água). Algumas agências, como a Agência Brasil, fizeram opção deliberada por adotar o registro dos direitos em Creative Commons, um sistema alternativo ao copyright que permite uma gestão flexível das atribuições – nesse caso, a reprodução é liberada, exigindo-se somente o crédito à ABr.”

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MINDS International• fundado em 2007

• Associated Press, AFP, EFE, ANSA, DPA, TASS, Kyodo, Lusa, CP, Anadolu, AAP, ANP, APA, Belga, SDA-ATS, NTB, Ritzaus, TT, STT, ČTK, PAP

• inovação em negócios de gestão e distribuição de conteúdo digital

• apoio e financiamento à pesquisa & desenvolvimento em soluções para distribuição de conteúdo digital

• capacitação de gestores editoriais e de TI, “boas práticas”

• estratégia de articulação de classe para renovar acumulação

• http://www.minds-international.com

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MINDS International“Em 2007, novamente as grandes agências criaram outra entidade, a MINDS International, para fazer estudos e relatórios que sirvam aos negócios do setor. Sediada na Alemanha, a MINDS conduz pesquisas em mídias sociais e tecnologias de informação pra melhorar a produtividade e a receita das agências. Esse consórcio corporativo das agências realiza reuniões semestrais entre jornalistas, executivos e gestores de TI para trocar experiências, acompanhar tendências do mercado, promover oficinas e apresentar soluções e inovações. O objetivo principal é não deixar as agências “perderem o bonde” do mercado de informações, que caminha acelerado desde que tudo ficou digital e a convergência juntou todos os conteúdos nos mesmos aparelhos. Para empresas acostumadas a ganhar dinheiro vendendo as mesmas coisas para suportes diferentes, este é um enorme desafio.

Juntos, IPTC e MINDS são dois braços das agências para manter e ampliar o controle delas sobre os fluxos globais de informação. O primeiro é a entidade de padronização, como se fosse a "ABNT" ou a "ISO" da indústria. O segundo é um consórcio de pesquisa & desenvolvimento. Um regula, o outro inova. Não há nada de “teoria da conspiração” nisso. É apenas o capital funcionando de forma eficiente.”

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inovação 1: automação• “jornalismo automatizado”, “jornalismo-robô” x• redação automatizada, escrita automatizada ou automatização da escrita

• automatização da redação de despachos (notas e matérias) específicos e temáticos a partir de planilhas de dados

• geração de conteúdo sob demanda para clientes e áreas específicos

• liberação de trabalho qualificado para atividades mais complexas

• redução dos custos do trabalho na produção de conteúdo

•Automated Insights – fornecedora de software de AI (Wordsmith)

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inovação 2: vídeos imersivos - vr360• produto elaborado especificamente para plataformas móveis e dispositivos HMD (head-mounted display), para realidade virtual e realidade aumentada, como o Google Glass

• uso ainda experimental como produção jornalística (videodocs da Associated Press e da Reuters, por exemplo)

• voltado para expansão da base de clientela (incorporando novos clientes do segmento mobile)

• IMC (Immersive Media Company) – fornecedora dos equipamentos (hardware) e do processamento (software) para justapor e mapear as imagens (foto e vídeo) em ambientes esféricos

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inovação 2: vídeos imersivos - vr360

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conclusõesAs (grandes) agências estão se reinventando para assegurar a sobrevivência de seu modelo de negócios numa era em que a escassez artificial da informação está em extinção. Investem em flexibilizar a produção de conteúdo, em diversificar a clientela (mais empresas não-jornalísticas e mais assinantes individuais) e em reposicionar-se como intermediários mais competentes e jornalisticamente adequados que os “estranhos no ninho” Google e Facebook.

Outras iniciativas já em curso são a entrada forte no segmento dos aplicativos para plataformas móveis, mas ainda com pouco emprego dos recursos próprios do ambiente mobile, como o uso da geolocalização para hierarquização ou “edição” do serviço noticioso. Metadados podem facilitar incorporação de geolocalização em apps

Também há Storyful, agência especializada em “pescar pautas” a partir de conteúdos gerados por usuários em redes sociais, checando, contextualizando e construindo matérias sobre vídeos, fotos e informações postadas por amadores, monetizando em cima do “trabalho” alheio.

Em resumo, buscam maneiras de reposicionarem no cenário da convergência digital, abandonando o modelo em que vinham operando desde o século XIX para finalmente entrarem no século XXI.

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Aracaju, setembro de 2016