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Como escolher um candidato Flavio Farah* Introdução Escrevo este artigo em julho de 2013. Ano que vem teremos eleições presidenciais. A finalidade deste texto é ajudar você, eleitor, a escolher um bom candidato, aumentando a probabilidade de ele- ger um bom presidente e reduzindo a probabilidade de se decepcionar com o candidato escolhido, de modo a eleger alguém que satisfaça, senão todas as suas expectativas, ao menos a maioria delas. Meu propósito é fornecer-lhe alguns critérios de tomada de decisão, de modo que você deixe de de- pender dos conselhos, sugestões ou recomendações de terceiros e assuma o comando do processo de escolha de seu candidato, eliminando ou, ao menos, reduzindo sua indecisão na época do pleito. Evidentemente, as orientações que seguem não valerão em um contexto no qual o presidente é can- didato à reeleição e você está satisfeito com ele. Nesse caso, não há orientação alguma a dar. Você já terá feito sua escolha. Neste momento, porém, você pode estar em dúvida sobre como avaliar a atual Presidente da República, isto é, que nota dar a ela. Nesse caso, você precisaria de orientações a respeito. Se esse é o seu caso, eu peço desculpas por não lhe dar essas orientações. A razão é que, se eu fizesse isso, eu seria influenciado por minhas preferências partidárias e teria que justificar tais preferências, o que faria o assunto ficar complicado e cansativo. Além disso, eu poderia ferir a sus- cetibilidade de eleitores simpatizantes de outros partidos. As presentes orientações também não valerão se você for fanático por algum partido político. Nesse caso, sua preferência já estará definida. Antes de prosseguir, porém, devo informar que eu mesmo sou simpatizante de um partido político o PSDB. Em tais condições, será que sou capaz de fornecer critérios imparciais de escolha de um candidato à Presidência da República? Sim, sou capaz porque, embora simpatizante de um partido, não sou fanático. Não votarei automaticamente no candidato indicado pelo PSDB. Pretendo aplicar eu mesmo os critérios que proponho neste trabalho. Ademais, vou procurar evitar que minhas prefe- rências partidárias influenciem as diretrizes que vou apresentar. Vou apresentar critérios de tomada de decisão que me parecem lógicos e racionais, critérios que vou apresentar acompanhados de justi- ficativas, para que você entenda a razão de ser de cada um. Analisando a lógica de cada critério, vo- cê poderá verificar se cada um deles faz sentido e se eu estou sendo realmente imparcial. O processo de escolha Você precisa encarar o processo de escolha do seu candidato a Presidente da República como se vo- cê fosse um gerente de empresa que deseja contratar um funcionário. Esse processo, nas empresas, é chamado de seleção de recursos humanos ou seleção de pessoas. Seleção de pessoas é o processo por meio do qual a empresa escolhe, dentre um conjunto de candidatos previamente recrutados, o mais adequado a exercer o cargo que se deseja preencher, por meio de uma comparação entre o per- fil dos candidatos reais e o perfil do candidato ideal. Será escolhido para contratação o candidato cujo perfil mais se aproximar do ideal.

Como escolher um candidato

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O processo de escolha de um candidato a Presidente da República deve ser análogo ao da contratação de um funcionário. Esse processo, nas empresas, é chamado de seleção de recursos humanos ou seleção de pessoas e consiste essencialmente de uma comparação entre o perfil dos candidatos reais e o perfil do candidato ideal. Será escolhido para contratação o candidato cujo perfil mais se aproximar do ideal. Em tais condições, o processo de escolha do candidato a Presidente é constituido das seguintes etapas: 1) Elaborar o perfil do candidato ideal; 2) Obter informações sobre os candidatos reais; 3) Comparar o perfil dos candidatos reais com o do candidato ideal e eliminar os não qualificados; 4) Elaborar uma lista com os candidatos restantes, postos em ordem decrescente de qualificação; 5) Tomar uma decisão.

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Page 1: Como escolher um candidato

Como escolher um candidato Flavio Farah*

Introdução

Escrevo este artigo em julho de 2013. Ano que vem teremos eleições presidenciais. A finalidade

deste texto é ajudar você, eleitor, a escolher um bom candidato, aumentando a probabilidade de ele-

ger um bom presidente e reduzindo a probabilidade de se decepcionar com o candidato escolhido,

de modo a eleger alguém que satisfaça, senão todas as suas expectativas, ao menos a maioria delas.

Meu propósito é fornecer-lhe alguns critérios de tomada de decisão, de modo que você deixe de de-

pender dos conselhos, sugestões ou recomendações de terceiros e assuma o comando do processo

de escolha de seu candidato, eliminando ou, ao menos, reduzindo sua indecisão na época do pleito.

Evidentemente, as orientações que seguem não valerão em um contexto no qual o presidente é can-

didato à reeleição e você está satisfeito com ele. Nesse caso, não há orientação alguma a dar. Você

já terá feito sua escolha. Neste momento, porém, você pode estar em dúvida sobre como avaliar a

atual Presidente da República, isto é, que nota dar a ela. Nesse caso, você precisaria de orientações

a respeito. Se esse é o seu caso, eu peço desculpas por não lhe dar essas orientações. A razão é que,

se eu fizesse isso, eu seria influenciado por minhas preferências partidárias e teria que justificar tais

preferências, o que faria o assunto ficar complicado e cansativo. Além disso, eu poderia ferir a sus-

cetibilidade de eleitores simpatizantes de outros partidos.

As presentes orientações também não valerão se você for fanático por algum partido político. Nesse

caso, sua preferência já estará definida.

Antes de prosseguir, porém, devo informar que eu mesmo sou simpatizante de um partido político –

o PSDB. Em tais condições, será que sou capaz de fornecer critérios imparciais de escolha de um

candidato à Presidência da República? Sim, sou capaz porque, embora simpatizante de um partido,

não sou fanático. Não votarei automaticamente no candidato indicado pelo PSDB. Pretendo aplicar

eu mesmo os critérios que proponho neste trabalho. Ademais, vou procurar evitar que minhas prefe-

rências partidárias influenciem as diretrizes que vou apresentar. Vou apresentar critérios de tomada

de decisão que me parecem lógicos e racionais, critérios que vou apresentar acompanhados de justi-

ficativas, para que você entenda a razão de ser de cada um. Analisando a lógica de cada critério, vo-

cê poderá verificar se cada um deles faz sentido e se eu estou sendo realmente imparcial.

O processo de escolha

Você precisa encarar o processo de escolha do seu candidato a Presidente da República como se vo-

cê fosse um gerente de empresa que deseja contratar um funcionário. Esse processo, nas empresas, é

chamado de seleção de recursos humanos ou seleção de pessoas. Seleção de pessoas é o processo

por meio do qual a empresa escolhe, dentre um conjunto de candidatos previamente recrutados, o

mais adequado a exercer o cargo que se deseja preencher, por meio de uma comparação entre o per-

fil dos candidatos reais e o perfil do candidato ideal. Será escolhido para contratação o candidato

cujo perfil mais se aproximar do ideal.

Page 2: Como escolher um candidato

Você deve considerar o processo de escolha do candidato a Presidente da mesma forma, como uma

comparação do perfil de cada candidato real com o perfil do candidato ideal. O processo é constitui-

do das seguintes etapas:

1. Elaborar o perfil do candidato ideal

2. Obter informações sobre os candidatos reais

3. Comparar o perfil dos candidatos reais com o do candidato ideal e eliminar os não qualificados

4. Elaborar uma lista com os candidatos restantes, postos em ordem decrescente de qualificação

5. Tomar uma decisão

Para concluir este tópico, três recomendações:

1) Durante todo o processo de escolha, mantenha-se frio. Não se deixe dominar pela raiva, pela de-

cepção, pelo cansaço ou pela revolta contra os políticos ou contra o processo eleitoral. Se você

se deixar dominar pela emoção, você correrá um grande risco de fazer uma escolha ruim.

2) Também não se deixe influenciar pela aparência de qualquer dos candidatos. Seu objetivo não é

escolher o candidato mais simpático, mais popular ou mais carismático, mas sim, o mais qualifi-

cado. Eleição não é concurso de Miss Brasil nem de mister simpatia, tampouco é concurso de

popularidade. Se você, no final do processo, tiver que escolher entre dois candidatos igualmente

capacitados, aí sim, nesse momento, e apenas nesse momento, você poderá se deixar levar pela

simpatia. Antes, não.

3) Esqueça também a ideia de usar o voto como arma de protesto. Não cometa a bobagem de votar

em branco ou anular o voto. Você perderá a oportunidade de exercer influência sobre quem ven-

cerá a eleição. Mesmo que você não goste de nenhum candidato, procure escolher o menos

ruim. Você cumprirá seu dever de cidadão e se sentirá mais em paz com sua consciência.

Primeira etapa – Elaboração do perfil do candidato ideal

Neste item, eu vou propor um perfil para o candidato ideal. Quais são os requisitos que, em minha

opinião, compõem o perfil do candidato ideal à Presidência da República?

Honestidade

O primeiro requisito, evidentemente, chama-se reputação ilibada ou, em bom português, honestida-

de. Honestidade é pré-requisito para um candidato seja qual for o cargo em disputa. Se o candidato

não for honesto, esqueça. Não perca tempo avaliando suas outras características. Qual o critério pa-

ra se decidir se um candidato é honesto? Essa é uma questão difícil e muito pessoal. É difícil apre-

sentar um critério absolutamente objetivo que qualquer pessoa possa seguir. Por essa razão, vou ex-

por um ponto de vista particular e subjetivo.

Primeiro critério. A Lei Complementar nº 135, de 2010, a “Lei da Ficha Limpa”, estabelece, como

regra geral, que é inelegível o candidato que tiver sido condenado em segunda instância. Isto signi-

fica que a Lei permite a candidatura de um indivíduo condenado em primeira instância. Eu, porém,

não conseguiria votar em um candidato condenado, ainda que apenas em primeira instância, mes-

mo sabendo que ele poderá apresentar recurso e ser inocentado nas instâncias superiores.

Page 3: Como escolher um candidato

Segundo critério. Agora, e se o candidato não tiver sido condenado em nenhuma instância mas for

réu em algum processo? Para isso, precisamos entender o que significa tornar-se réu. Vamos, por-

tanto, examinar algo a respeito do processo penal, começando pelo inquérito policial.

Inquérito policial é uma investigação realizada pela polícia civil com dois objetivos: a) confirmar a

materialidade do crime, isto é, verificar se houve realmente um crime e quais suas circunstâncias, e

b) buscar indícios de autoria, ou seja, identificar o possível autor, para que o promotor público pos-

sa denunciá-lo ao juiz. O inquérito policial não faz parte do processo penal nem é conduzido pelo

Poder Judiciário. Trata-se de um procedimento administrativo informativo que antecede a ação pe-

nal propriamente dita, e que é realizado por um órgão do Poder Executivo, a Polícia Civil.

Depois de concluido, o inquérito é enviado ao Ministério Público, isto é, ao promotor. Se o promo-

tor considerar que existem elementos suficientes, ele denunciará o possível autor do crime ao juiz.

Se o juiz aceitar a denúncia, será aberto um processo contra o denunciado que, nesse momento, e só

nesse momento, tornar-se-á réu. O processo propriamente dito tem início com a aceitação da denún-

cia pelo juiz. Em contraste, se o juiz rejeitar a denúncia, não haverá processo nem réu. O juiz poderá

rejeitar a denúncia se decidir que o fato descrito pelo promotor não constitui crime ou se decidir que

houve crime mas que o denunciado não é o possível autor do delito

No inquérito policial, não existe acusado, pois, a princípio, não se sabe sequer se houve um crime e,

ainda que o delegado de polícia conclua que houve um delito, esse será apenas o parecer da autori-

dade policial, pois quem decide se o fato constitui crime não é o delegado de polícia, nem mesmo o

promotor, mas apenas o juiz. E mesmo que o juiz decida que houve crime, ele poderá rejeitar a indi-

cação feita pela autoridade policial em relação a quem é o possível autor. Assim, antes que o juiz

diga que houve um crime e que há indícios de que fulano de tal é o possível autor, legalmente não

há nada. Somente se o juiz aceitar a denúncia do promotor é que haverá um processo e um acusado.

O juiz aceitará a denúncia somente se decidir que houve um crime e que existem indícios de autoria.

Assim, se um candidato tornar-se réu em um processo criminal, isto significará que um juiz decidiu:

a) que houve um crime; b) que existem indícios de que o candidato é o autor.

Lamento, mas também não votarei em um candidato que for réu em um dos seguintes tipos de pro-

cesso: a) por crime comum; b) por improbidade administrativa; c) por crime de responsabilidade.

Terceiro critério. Agora, e se o candidato não foi condenado nem é réu em nenhum dos processos

citados acima mas foi indiciado pela polícia em um inquérito policial ou seu nome foi simplesmente

citado em um inquérito? Nesse caso, meu ponto de vista é que não se deve tratar ninguém como réu,

nem mesmo como suspeito ou investigado durante o inquérito, porque o inquérito não é instaurado

para investigar quem quer que seja, isto é, não existe inquérito policial contra uma pessoa, mas sim,

para apurar a ocorrência de um possível delito. Os indivíduos simplesmente citados em um inquéri-

to devem ser considerados inocentes e seu nome não deveria ser divulgado em nenhuma hipótese,

salvo para fins de captura em caso de decretação da prisão preventiva.

A imprensa costuma divulgar detalhes dos inquéritos policiais, mesmo que ainda não concluidos.

É frequente os inquéritos citarem nomes de pessoas supostamente envolvidas em supostos crimes.

A divulgação do nome dessas pessoas constitui violação de sua privacidade e causa dano à sua hon-

ra e à sua imagem. Em tais condições, a simples menção do nome do candidato em um inquérito po-

licial não deveria ser motivo para considerá-lo desonesto.

Page 4: Como escolher um candidato

Quarto critério. E se alguém simplesmente denunciar o candidato como tendo supostamente come-

tido algum crime ou ato ilícito? Se o denunciante não apresentar provas, vou ignorar a denúncia.

Quinto critério. Não votarei em candidatos presos em flagrante delito ou que tenham contra eles

alguma evidência divulgada pela imprensa, tal como um filme no qual o candidato apareça come-

tendo um ato ilícito.

Resumo. Eu rejeitarei o candidato que, na época da eleição: a) tiver sido condenado em qualquer

instância ou; b) for réu em um dos processos citados acima; c) tiver sido preso em flagrante delito;

d) tiver contra si uma evidência, ou seja, uma prova de que cometeu ato ilícito. Em contraste, eu

não rejeitarei o candidato que: a) foi indiciado em inquérito policial ou cujo nome foi apenas citado

no inquérito; b) foi denunciado por alguém sem apresentação de provas.

Competência

Além de honestidade, como segundo requisito o candidato precisa ter competência. Há dois tipos de

competência: política e administrativa.

Competência política. Por que um candidato a Presidente precisa ter competência política? Sim-

plesmente porque o Brasil é uma democracia. No nível federal, existem três poderes: Legislativo

(Congresso Nacional), Executivo (Presidência da República) e Judiciário. Esses poderes são inde-

pendentes e harmônicos, de acordo com o art. 2º da Constituição Federal. O que significa isso?

Dizer que os poderes são independentes significa dizer que nenhum deles é subordinado ao outro.

Cada poder se organiza e opera livremente, sem precisar consultar os outros poderes, sem pedir-lhes

autorização e sem receber ordens dos outros. Por exemplo, o Congresso não é subordinado ao Presi-

dente da República, portanto os deputados e senadores não recebem ordens do Chefe do Poder Exe-

cutivo. Por outro lado, dizer que os poderes são harmônicos significa dizer que nenhum deles pode

desempenhar suas funções sem a colaboração dos outros. Para que o governo funcione eficazmente,

deve haver harmonia entre os poderes, isto é, entre eles deve haver entendimento, acordo, concilia-

ção. Nestas condições, para os fins do presente trabalho, a principal consequência do art. 2º da

Constituição é que o Presidente da República não pode governar sem o Congresso, muito menos

contra o Congresso. O Presidente só pode governar com o Congresso.

Em nosso sistema multipartidário, no qual há vários partidos relevantes disputando eleições e ocu-

pando cadeiras no Congresso, o partido do presidente nunca tem maioria no Parlamento para apro-

var sozinho os projetos do governo. Por essa razão, a maioria de votos necessária para sustentar o

governo e dar-lhe suporte político no Legislativo tem que ser formada por meio de uma coalizão, de

um acordo entre os partidos que garanta um número suficiente de votos. Assim, não importa o ta-

manho do “capital eleitoral” do presidente eleito, isto é, não importa sua votação, ele precisa, no dia

seguinte à eleição, formar “capital político”, isto é, ele precisa construir uma coalizão que lhe dê

apoio no Congresso, caso contrário não conseguirá governar, por não contar com a “base aliada”.

Essas são as razões pelas quais a competência política é tão fundamental para qualquer candidato a

Presidente. Assim, competência política, no ambiente brasileiro:

Significa a compreensão de que existe a situação, composta pelos partidos que apoiam o gover-

no, e a oposição, que se constitui dos partidos contrários ao governo;

Page 5: Como escolher um candidato

É a compreensão de que os parlamentares, inclusive dos partidos governistas, possuem interes-

ses próprios, sendo que seu principal interesse, que deve ser considerado legítimo, é a sobrevi-

vência política, representada pela possibilidade de reeleição para um novo mandato;1

Compreende a disposição e a habilidade de negociar e de conciliar esses interesses divergentes

para formar acordos políticos com vistas à formação de uma base de poder no Congresso que

viabilize a aprovação de medidas de interesse do governo.

Esse conceito de competência política exclui de saída os candidatos populistas. Populista é um tipo

de líder político que se aproveita de seu carisma para tentar estabelecer uma relação direta com o

povo, sem a intermediação dos canais próprios da democracia representativa, que são os partidos

políticos e o Parlamento. O líder populista se coloca acima dos partidos e encara o Parlamento não

com o respeito institucional que este merece como um dos Poderes do Estado, mas como um órgão

a ser usado e manipulado (V. mais adiante o tópico “O risco de votar em candidatos populistas”).

O conceito de competência política também exclui os candidatos contestadores. Contestadores são

os indivíduos que não aceitam o sistema político brasileiro, que rejeitam a atividade política, que

consideram que todos os políticos, sem exceção, são “corruptos” e que desprezam o Congresso Na-

cional. Para pretender o cargo de Presidente da República, o candidato não pode ser contestador,

mas sim, realista e procurar fazer o melhor possível dentro do sistema que aí está.

O conceito de competência política é incompatível com candidatos autoritários. A razão é que indi-

víduos autoritários não têm habilidade nem disposição para negociar porque estão acostumados a

fazer prevalecer sua vontade e seus interesses por meio da força. As pessoas autoritárias apresentam

alguns comportamentos típicos, tais como o costume de dar ordens aos outros e esperar obediência,

a agressividade e o costume de não respeitar os mais humildes ou mais fracos. Um presidente auto-

ritário é inviável porque, por considerar o Parlamento como Poder subordinado a si, recusar-se-á a

negociar com os parlamentares e/ou tentará comandá-los, provocando atritos com o Congresso.

O conceito de competência política exclui os candidatos oportunistas e os individualistas. Oportu-

nista é aquele que busca o proveito pessoal na atividade política, desprezando a finalidade mais no-

bre dessa atividade, que é servir o bem comum. Como o nome indica, o oportunista procura tirar

proveito de todas as oportunidades que surgem, sem se prender a compromissos de mais longo al-

cance. O oportunista, portanto, é alguém que rejeita a ideia de uma carreira política de longo prazo,

construida tijolo por tijolo. Já o individualista é aquele que coloca seus próprios interesses acima

daqueles do partido. A pessoa individualista não aceita, por exemplo, decisões do partido que con-

trariem seus interesses. Se isso ocorrer, sua tendência será abandonar o partido. Na política, uma

conduta típica do individualista é a mudança constante de partido político. Deve-se, pois, desconfiar

do indivíduo que já passou por várias agremiações. Em contraste, o coletivismo, que é a postura

contrária, manifesta-se pela seguinte declaração que, às vezes, os políticos fazem: “Sou um homem

de partido”. Essa frase expressa o compromisso do político com as diretrizes e decisões de sua agre-

miação e é indício de que ele coloca os interesses do partido acima de seus interesses individuais.

Outra característica inimiga da competência política é a arrogância. Certos indivíduos parecem sa-

ber de tudo, nunca têm dúvidas, têm resposta para qualquer pergunta, sempre têm certeza das coi-

sas, não admitem ser contestados, possuem todas as informações e acham que estão sempre certos.

Tais indivíduos tendem a ser vistos como antipáticos. Esse tipo de pessoa, que costuma ser chama-

do de “dono da verdade”, demonstra desprezo pelas idéias e opiniões alheias, razão pela qual tende

Page 6: Como escolher um candidato

a provocar conflitos. O “dono da verdade” costuma falar usando sentenças afirmativas ou negativas

para exprimir suas certezas ou para condenar as idéias e opiniões dos outros. Ele dificilmente usa

sentenças interrogativas, isto é, ele quase nunca faz perguntas, só afirmações. Ele dá a impressão de

considerar todos os outros como ignorantes que nada têm de útil ou interessante a dizer. Indivíduos

arrogantes têm dificuldade em aceitar críticas e, em geral, são “surdos”, ou seja, não prestam aten-

ção no que os outros dizem, principalmente se estes emitirem opiniões contrárias às suas. Indiví-

duos arrogantes não tem a flexibilidade que é indispensável em uma negociação política, na qual

um dos aspectos principais é a permuta: favorecer o interesse (legítimo) da outra parte para que esta

favoreça o seu. Candidato arrogante não pode ser Presidente da República.

Competência administrativa. Inclui conhecimentos básicos sobre:

Órgãos e entidades públicas;

Formulação, implementação e avaliação de políticas públicas;

Serviços públicos;

Obras públicas;

Plano plurianual, Diretrizes orçamentárias e Orçamento anual;

Finanças públicas;

Licitações e contratos administrativos;

Gestão de projetos;

Cargos, empregos e funções públicas;

Concurso público;

Tributos.

Ter competência administrativa significa colocar esses conhecimentos em prática para realizar um

bom governo.

Experiência

O terceiro requisito é a experiência. Assim como no caso da competência, há também dois tipos de

experiência: política e administrativa.

Por que exigir que o candidato tenha experiência? Por que não votar em “uma cara nova” da políti-

ca? A resposta é: se você fosse presidente de uma empresa privada, você contrataria alguém sem

experiência para ser diretor? Claro que não. Você só contrataria um candidato inexperiente se fosse

para exercer a função de estagiário ou trainee. Por que, então, você escolheria um candidato inexpe-

riente para ser Presidente da República? Por que arriscar em um assunto tão importante como esse?

Lembre-se de que, se errar, você só poderá corrigir o erro depois de 4 anos. Honestamente, é falta

de responsabilidade votar em um candidato inexperiente para Presidente da República.

Experiência política. Ter experiência política significa principalmente ter uma carreira parlamentar

como deputado federal ou senador. A principal vantagem do exercício de um mandato parlamentar

é fazer com que o futuro candidato compreenda as realidades do Congresso e os pontos de vista dos

congressistas. O candidato, ao ocupar uma cadeira de deputado ou senador, vivencia os defeitos e

virtudes da representação política nacional e assim, adquire uma visão mais realista da atividade po-

lítica. Lembre-se, porém, que, ter uma carreira parlamentar não significa ter competência política.

A razão é que, para ser eleito deputado ou senador não é preciso ser competente politicamente, bas-

ta ser conhecido e apreciado pelos eleitores. Um político pode ter vivência como parlamentar mas

Page 7: Como escolher um candidato

não ter disposição nem capacidade para negociar e articular politicamente. Experiência política e

competência política, portanto, são coisas completamente diferentes.

Experiência administrativa. Experiência administrativa quer dizer ter exercido um cargo executi-

vo, mas não um cargo de nomeação como secretário ou ministro. O ideal é que o candidato tenha

exercido um cargo de chefe de poder executivo municipal ou estadual, isto é, um cargo executivo de

eleição, como prefeito ou governador. De modo análogo, experiência administrativa não quer dizer

competência administrativa. Um candidato que foi prefeito ou governador tem experiência adminis-

trativa mas, se sua gestão foi ruim, então ele é incompetente do ponto de vista administrativo.

Segunda etapa – Obtenção de informações sobre os

candidatos reais

Se quiser obter conhecimento suficiente para fazer uma escolha consciente, você não deve deixar a

coleta de informações sobre os candidatos para a última hora. É melhor começar a se informar sobre

eles desde já. Mas como, se ainda não há candidatos? Resposta: você deve começar a se informar

sobre aqueles que estão sendo citados pela imprensa como pré-candidatos à eleição para Presidente.

Pré-candidatos são aqueles que podem vir a ser escolhidos por seus partidos como candidatos.

Para obter informações sobre eles, o ideal é você começar a ler os jornais. A leitura de jornais lhe

dará informações não apenas sobre os pré-candidatos propriamente ditos, mas também sobre seus

respectivos partidos. Se você não estiver disposto a assinar um jornal em papel nem a comprar jor-

nal diariamente na banca, você precisará ao menos fazer uma assinatura digital ou visitar com fre-

quência o site de um ou mais jornais em busca de informações. Se você não gosta de ler, terá que

fazer um esforço. Além de ler jornal, você vai ter que fazer pesquisas na internet.

1) Obtenha a biografia dos pré-candidatos. A biografia lhe dará informações sobre a carreira dos

pretendentes, em termos dos mandatos legislativos e executivos que eles já exerceram. Para

obter a biografia, digite o nome do pré-candidato no buscador ou tente no site do partido dele ou

visite seu site pessoal, se ele tiver um.

2) Procure obter informações sobre a atuação parlamentar dos pré-candidatos, isto é, sobre seus

movimentos de articulação política, sobre suas reuniões com membros de outros partidos, sobre

sua capacidade de liderança. Procure saber o que os outros políticos dizem sobre eles. Se um

pré-candidato aparecer fazendo contatos com outros líderes políticos, este será um indício de

disposição para negociar e para formar alianças políticas. Se um pré-candidato for elogiado por

outros políticos, este será um indício de que é respeitado e de que tem liderança.

3) Leia atentamente as entrevistas dos pré-candidatos para conhecer suas ideias com mais amplitu-

de e profundidade. Procure perceber eventuais incoerências, falsidades ou dissimulações.

4) Para os pré-candidatos que são ou foram governadores ou prefeitos, procure dados de pesquisas

de aprovação popular ao seu governo. Nas pesquisas de aprovação do governo, os entrevistado-

res perguntam aos entrevistados como eles avaliam o desempenho do governante. As alternati-

vas são: ótimo, bom, regular, ruim e péssimo. O chamado índice de aprovação do governo é for-

mado pela soma dos percentuais de ótimo e bom; já o índice de reprovação é constituído pela

Page 8: Como escolher um candidato

soma dos percentuais ruim e péssimo. Os pré-candidatos considerados pelo povo como compe-

tentes do ponto de vista administrativo são os que obtêm índices de aprovação superiores a 50%.

Agora, alguns casos particulares.

1) Se um pré-candidato foi prefeito ou governador e se reelegeu para o mesmo cargo, a reeleição

significa que, provavelmente, o povo aprovou seu desempenho no primeiro mandato.

2) De modo análogo, se um pré-candidato foi prefeito e, depois de terminar esse mandato, elegeu-

se governador, a eleição para o governo do Estado significa uma provável aprovação popular a

seu desempenho na Prefeitura, bem como preferência por parte dos eleitores das outras cidades.

3) Se um pré-candidato foi governador e, na sequência, disputou uma eleição para o senado, obte-

nha dados sobre a votação dos candidatos nessa eleição para senador. A votação do pré-candida-

to em relação aos concorrentes representará uma avaliação indireta do povo ao seu desempenho

anterior como governador.

Em qualquer caso, a aprovação do povo ao desempenho do pré-candidato como prefeito ou gover-

nador é indício de competência administrativa.

Mais difícil é analisar o pré-candidato que, como prefeito ou governador, obteve um índice de apro-

vação inferior a 50%. Aqui, há duas situações a examinar:

a) Índice de aprovação inferior a 30% – é provável que o pré-candidato seja incompetente do ponto

de vista administrativo;

b) Índice de aprovação entre 30 e 50% – é preciso analisar seu desempenho mais de perto, pois a

causa desse índice de aprovação pode ser outra que não a incompetência, por exemplo, falha de

comunicação entre o governador/prefeito e os eleitores.

Também é preciso considerar a situação em que o pré-candidato se candidatou a prefeito ou gover-

nador e não se elegeu. Nesse caso, se ele já ocupou um desses cargos anteriormente, então valem os

índices de aprovação que ele obteve. Se o pré-candidato nunca foi prefeito ou governador, então na-

da se sabe sobre sua competência administrativa.

Vamos examinar agora o caso do pré-candidato que se elegeu Prefeito e deixou a Prefeitura no meio

do mandato para se candidatar a Presidente (ou a Governador). Muitos eleitores poderão considerá-

lo um traidor pelo fato de ele não terminar o mandato de Prefeito. Cuidado! Não cometa esse enga-

no. Não se deixe levar pela emoção. Mantenha-se frio. Se sua tendência é chamar o candidato de

traidor, então você, por um lado, está sendo míope, por olhar a questão com alcance curto e, por ou-

tro, está usando viseiras, por olhar o assunto de um lado só. Raciocine comigo.

Suponha que você seja funcionário de uma certa empresa, um funcionário com grande talento, exce-

lente desempenho, e que já esteja preparado para assumir postos de maior responsabilidade. Seu ge-

rente, porém, tem manobrado para impedir que você seja promovido. Ele faz isso porque não quer

perder você, já que ele o considera um membro indispensável da equipe dele. O que você acha? Vo-

cê considera correta a atitude do gerente? Claro que não. Esse gerente, além de prejudicar você, está

prejudicando a empresa como um todo.

Page 9: Como escolher um candidato

Agora suponha que você, eleitor, é o Presidente do Conselho de Administração de uma empresa

chamada Brasil. Nessa posição, você é quem escolhe o Presidente Executivo, que é chamado de

Presidente da República. Se aquele prefeito, que está no meio do mandato, tem capacidade para ser

Presidente da República, você acha certo segurá-lo no cargo atual apenas para que ele termine a

gestão? Veja bem, como Presidente, ele poderá beneficiar não só os moradores da sua cidade, mas

todos os brasileiros. Será justo impedir que os eleitores dos outros estados tenham um ótimo candi-

dato em quem votar?

Existem ainda outros aspectos a considerar. Em política, as circunstâncias mudam, e podem mudar

muito rapidamente. Vamos supor que, na época da eleição presidencial, aquele prefeito seja o me-

lhor candidato que o partido dele possui para disputar a Presidência da República. Você não acha

que qualquer partido político tem a obrigação moral de lançar o candidato mais qualificado que

existir em seus quadros para disputar uma eleição presidencial? Se um partido lançar candidato em

uma eleição, a expectativa desse partido será vencer a eleição, não é verdade? Em tais condições,

será que nós, eleitores, temos o direito de exigir que aquele partido não lance o prefeito, que é o

candidato com maior potencial, e se arrisque a perder a eleição?

Terceira etapa – Comparação do perfil dos candidatos

reais com o perfil do candidato ideal – eliminação dos

não qualificados

Esta etapa, bem como as próximas, serão cumpridas na época da eleição. Em primeiro lugar, elimi-

ne os candidatos desonestos, usando os critérios indicados anteriormente ou os seus próprios crité-

rios (V. acima o item honestidade). Em seguida, elimine os populistas, os contestadores, os autoritá-

rios, os oportunistas, os individualistas e os arrogantes. Elimine também os candidatos que não têm

experiência política ou administrativa, isto é, elimine os candidatos que nunca foram deputado fede-

ral ou senador bem como os que nunca foram prefeito ou governador (V. acima os itens competên-

cia política, experiência política e experiência administrativa). Por fim, elimine os candidatos que

exerceram mandato executivo com índice final de aprovação inferior a 30%. Restarão os candidatos

honestos que possuem experiência política e administrativa. Neste ponto, vamos supor que os can-

didatos que restaram também possuem competência política. Sua tarefa seguinte, portanto, será ava-

liar a competência administrativa dos candidatos restantes, elaborando uma lista classificatória em

ordem decrescente de competência e experiência.

Quarta etapa – Elaboração de uma lista contendo os

candidatos restantes em ordem decrescente de qualificação

Você vai elaborar uma lista na qual os candidatos restantes serão colocados em ordem decrescente

de competência e experiência administrativa. Para isto, você vai atribuir pontos a cada um.

A pontuação de cada candidato será obtida multiplicando-se a duração do mandato exercido como

prefeito ou governador (4 anos) pelo índice de aprovação de seu governo e pelo peso do mandato.

O mandato de prefeito terá peso 1 e o de governador, peso 2. Vejamos alguns exemplos.

Page 10: Como escolher um candidato

Um candidato A exerceu o cargo de prefeito e terminou sua gestão com índice de aprovação de

60%. Sua pontuação será:

Candidato A = 1 × 4 × 60 = 240 pontos

Peso do Duração do Índice de

mandato mandato aprovação

Por outro lado, um candidato B exerceu o cargo de governador e terminou sua gestão com índice de

aprovação de 55%. Sua pontuação será:

Candidato B = 2 × 4 × 55 = 440 pontos

Um candidato C foi prefeito e governador. Ele terminou a gestão como prefeito com índice de apro-

vação de 60% e a de governador com índice de 40%. Sua pontuação será:

Candidato C = (1 × 4 × 60) + (2 × 4 × 40) = 240 + 320 = 560 pontos

Um candidato D foi prefeito mas deixou o cargo na metade do mandato para ser candidato a Presi-

dente. Como prefeito, seu último índice de aprovação foi 70%. Sua pontuação será:

Candidato D = 1 × 2 × 70 = 140 pontos

Quinta etapa – Tomada de decisão

Em princípio, você deveria escolher o candidato primeiro colocado da lista. Se houver empate ou a

diferença de pontuação entre os dois primeiros colocados for pequena – inferior a 10% – é provável

que ambos sejam igualmente qualificados, situação em que você poderá escolher qualquer um dos

dois, considerando algum fator de desempate como simpatia, idade etc.

O risco do voto automático em candidatos indicados

Muitas empresas estimulam seus funcionários a indicar candidatos durante os processos seletivos.

Essas empresas recompensam o “padrinho” com um bônus (prêmio em dinheiro) caso seu indicado

seja contratado para ocupar a vaga que está aberta.2 O principal benefício para essas companhias é o

aumento do índice de acerto do processo seletivo. O fato dessas empresas estimularem e recompen-

sarem a indicação, porém, não significa que o candidato “apadrinhado” será automaticamente con-

tratado apenas por ter sido indicado. De forma alguma. Os candidatos indicados passarão pelo mes-

mo processo seletivo que os outros, e em igualdade de condições com estes.3

Existe, contudo, uma situação problemática. O problema ocorre quando um funcionário de alto es-

calão indica um candidato que não é qualificado para o cargo e usa sua posição para favorecê-lo.

Nesse caso, o processo seletivo não será mais econômico, mas sim, mais custoso para a empresa,

pois haverá necessidade de demitir o indicado e repetir a seleção.4

Page 11: Como escolher um candidato

O mesmo tem acontecido nas eleições brasileiras. Ao escolher um candidato a prefeito, governador

ou presidente, é comum os eleitores se deixarem influenciar pela indicação feita pelo ocupante atual

do cargo, principalmente quando esse governante tem um alto índice de aprovação. O problema

ocorre quando o prefeito, governador ou presidente atual indica um candidato ruim apesar de co-

nhecê-lo pouco ou de o candidato não ter experiência suficiente. Essa indicação equivocada tem lu-

gar quando o “padrinho” não sabe avaliar o candidato corretamente ou quando faz a indicação ape-

nas por simpatia. Nesse caso, os eleitores é que são prejudicados.

Em nossa história recente, temos dois exemplos dessa situação.

Celso Pitta. Em 1996, o então Prefeito paulistano Paulo Maluf, que terminou sua gestão com um

índice de aprovação de 55%,5 indicou seu então Secretário das Finanças, Celso Pitta, como candida-

to à sua sucessão, embora a única credencial que Pitta possuisse fosse exatamente a de ser Secretá-

rio de Finanças. Maluf fez campanha para Pitta e, inclusive, declarou: “Se ele [Pitta] não for um

grande prefeito, nunca mais votem em mim”.6 Pitta foi eleito exclusivamente por ser o candidato in-

dicado por Maluf, mas terminou seu governo com um índice de aprovação de apenas 3% (três por

cento) e um índice de reprovação de 83% (oitenta e três por cento).7

Dilma Rousseff. Em 2009, o então Presidente Lula, que terminou seu segundo mandato com um ín-

dice de aprovação de 80%, indicou sua então Ministra-Chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, como

candidata à sua sucessão, embora a única credencial que Dilma possuisse fosse exatamente a de ser

Chefe da Casa Civil. Lula fez campanha para Dilma, que foi eleita exclusivamente por ter sido indi-

cada por Lula. Se ela, porém, tivesse sido submetida aos critérios indicados neste texto, ela teria si-

do eliminada na terceira etapa, por não possuir: a) experiência política como senadora ou deputada

federal; b) experiência administrativa como governadora ou prefeita; c) competência política – ela é

arrogante e autoritária.

Se nas empresas, os candidatos indicados passam pelo mesmo processo seletivo que os outros, por

que não fazer o mesmo nas eleições? Se o atual prefeito, governador ou presidente indicar um can-

didato, este deveria ser avaliado pelos mesmos critérios que serão usados para avaliar os outros can-

didatos. Essa estratégia não apenas é mais segura mas também é sinal de amadurecimento do elei-

tor, que passa a decidir de forma autônoma.

Escolha você mesmo o candidato em quem vai votar. Se não quiser usar os critérios que propus nes-

te texto, crie outros mas, em qualquer caso, não vote automaticamente no candidato indicado, não

importa quanta simpatia e respeito você tenha pelo “padrinho” nem quanta confiança ele mereça, e

não importa qual o índice de aprovação do governo dele. Use qualquer critério, menos a indicação.

O risco de votar em candidatos populistas

Características dos líderes populistas

Como explicado anteriormente, populista é um tipo de líder político que tenta se relacionar direta-

mente com o povo, sem o uso dos canais próprios da democracia representativa, quais sejam, os

partidos políticos e o Parlamento. O líder populista despreza os partidos e não respeita o Legislati-

vo. Os líderes populistas se tornam particularmente sedutores em épocas de crise econômica (infla-

ção e desemprego) ou em situações de desgaste das instituições políticas tradicionais.

Page 12: Como escolher um candidato

As principais características do líder populista são as seguintes.

Messianismo. O líder populista se apresenta como “Messias”, como herói e salvador do povo.

Personalismo. O líder populista submete o sistema político à sua pessoa, às suas ideias e à sua von-

tade. Ele não se submete ao programa de seu partido mas cria seu próprio programa. No Brasil, o

conjunto de ideias, crenças, formas de atuação, prioridades, políticas, práticas e tipo de governo

instituidos pelos líderes populistas têm sido identificados por seu nome combinado com o sufixo

“ismo”, como em getulismo (de Getulio Vargas), janismo (de Janio Quadros) etc.

Autoritarismo. O líder populista tem dificuldade para exercer o poder em ambientes democráticos.

Ele se sente mais à vontade em regimes políticos autoritários ou ditatoriais.

Paternalismo. O líder populista comporta-se como pai, isto é, ele trata os cidadãos como crianças,

como indivíduos imaturos e dependentes, incapazes de decidir, indivíduos que precisam, portanto,

ser orientados por seu líder. Assim, o líder populista tende a infantilizar os cidadãos, tornando-os

dependentes dele mesmo e tomando decisões que não podem ser discutidas, muito menos questio-

nadas pelo povo, pois este é constituido de “incapazes”.

Individualismo. Se o partido do líder populista tomar uma decisão que o desagrade ou contrariá-lo

de qualquer modo, ele mudará de agremiação ou criará outro partido.

Voluntarismo. O líder populista acredita que conseguirá realizar tudo exclusivamente em função

de sua vontade, desprezando as dificuldades e condições objetivas das situações reais. O voluntaris-

mo político se expressa na frase “querer é poder” ou na crença de que, para fazer as coisas aconte-

cerem, basta ter “vontade política”. O líder populista usa frases que se iniciam por “Eu vou...”, “Eu

posso...”, “Eu quero...”, “Eu faço...”.

Estímulo ao confronto. O líder populista divide a sociedade em dois grupos opostos: de um lado, o

povo; de outro, as “elites” e a “classe política”, acusando estas últimas de corruptas, de responsáveis

por todos os males sociais e de inimigas do povo.

Sedução. O líder populista usa seu carisma para seduzir as massas, para atrair, encantar, fascinar,

deslumbrar e envolver os eleitores, estabelecendo com eles um vínculo emocional a fim de impedir

que analisem racional e friamente a qualidade e viabilidade de suas ideias e propostas.

Uso dos meios de comunicação. O líder populista enfatiza a comunicação direta entre ele e o povo

fazendo uso de todos os meios de comunicação disponíveis, inclusive, nos dias de hoje, utilizando

os novos meios como a comunicação on line, chats, blogs, fóruns de debate e redes sociais.

Gestão da atividade política. Modernamente, o líder populista usa técnicas avançadas de gestão da

atividade política, como técnicas de marketing político e de dramatização do discurso, bem como

pesquisas quantitativas e qualitativas de opinião e de intenção de voto, com a finalidade de conven-

cer os eleitores – quando candidato – e de divulgar as ações do governo – depois de eleito.

Semelhança com o povo. O líder populista se apresenta como alguém que entende as massas por-

que é igual a elas – é humilde, desprovido de riquezas, lutador, trabalhador. As elites são despreza-

Page 13: Como escolher um candidato

das porque não têm nada em comum com a massa popular. O líder procura passar a ideia de que o

governo, para ser legítimo, tem que estar nas mãos de alguém que tenha a cara e a alma do “povão”.

Nossos presidentes populistas

Desde 1946, o Brasil teve 9 (nove) Presidentes da República eleitos pelo voto direto. São eles: Euri-

co Gaspar Dutra (1946-1950), Getulio Vargas (1951-1954), Juscelino Kubitschek (1956-1960), Ja-

nio Quadros (1961), João Goulart (apelido Jango – 1961-1964),8 Fernando Collor (1990-1992), Fer-

nando Henrique Cardoso (1995-1998 e 1999-2002), Lula (2003-2006 e 2007-2010) e Dilma Rous-

seff (2011-?).

Dentre os nove presidentes citados, alguns se destacaram por respeitar os mecanismos institucionais

existentes – o Congresso Nacional e os partidos políticos – e se esforçaram para consolidar as insti-

tuições políticas. Seus mandatos contribuiram para o fortalecimento institucional. Nesse grupo estão

Eurico Gaspar Dutra, Juscelino Kubitschek e Fernando Henrique Cardoso. São os presidentes “ins-

titucionalistas” ou “democráticos”. O segundo grupo é constituido pelos “populistas”, que tentaram

governar acima das instituições e dos partidos políticos. Nesse grupo se enquadram Getulio Vargas,

Janio Quadros, João Goulart e Fernando Collor. Getulio e Jango podem ser entendidos como políti-

cos populistas de características paternalistas, ao passo que Janio e Collor podem ser caracterizados

como populistas carismáticos.9, 10

Getulio, Janio, Jango e Collor, além de serem populistas, têm em comum o fato espantoso de não

terem, nenhum deles, terminado o respectivo mandato. Getulio, para não renunciar, suicidou-se; Ja-

nio renunciou na suposição de que o povo não aceitaria sua renúncia e forçaria o Congresso a outor-

gar-lhe poderes ditatoriais – enganou-se; Jango foi deposto pelos militares; Collor foi destituído pe-

lo Congresso. Longe de ser coincidência, trata-se de um claríssimo aviso que nossa história nos en-

via: presidentes populistas são INVIÁVEIS.

Em particular, as semelhanças entre Janio Quadros e Fernando Collor são tantas que beiram o ina-

creditável. Ambos:

Eram autoritários;

Eram arrogantes;

Eram inflexíveis;

Eram individualistas;

Eram contestadores;

Eram muito jovens quando foram eleitos – Quadros tinha 44 anos; Collor, 40 anos;

Tiveram uma carreira política muito rápida – Quadros foi de vereador paulistano a presiden-

te em apenas 13 anos; Collor passou de prefeito de Maceió a presidente em apenas 10 anos;

Apresentaram-se aos eleitores como campeões da moralidade – Quadros usou como símbolo

de campanha uma vassoura, com a qual pretendia “varrer” a corrupção; Collor apresentou-se

como “caçador de marajás”, termo pejorativo usado para qualificar servidores públicos ala-

goanos que chegavam a ganhar até oito vezes seu salário básico por meio da soma de suces-

sivas vantagens à remuneração inicial, vantagens que eram estabelecidas em lei, mas clara-

mente imorais;

Page 14: Como escolher um candidato

Estavam filiados a partidos políticos inexpressivos quando se elegeram presidentes – Qua-

dros elegeu-se pelo PTN; Collor, pelo PRN;

Desprezavam as agremiações partidárias – Ambos usaram os partidos para atender seu proje-

to pessoal de poder. Quadros passou pelas seguintes agremiações: PDC, PTB, PTN e nova-

mente PTB; Collor pertenceu às seguintes agremiações: PDS, PMDB, PRN, PRTB e PTB;

Desprezavam o Congresso Nacional e perderam o apoio dos parlamentares.

Conclusão

Dos critérios propostos neste texto resultam as seguintes recomendações:

NÃO VOTE em candidatos que tenham uma das seguintes características:

Desonestos;

Populistas;

Contestadores;

Autoritários;

Arrogantes;

Oportunistas;

Individualistas;

Inflexíveis;

Desprovidos de experiência política ou administrativa;

Desprovidos de competência política ou administrativa.

VOTE em candidatos que possuam todas as seguintes características:

Honestos;

Realistas;

Democratas;

Que tenham respeito pelas instituições da democracia representativa;

Coletivistas, isto é, que sejam fieis e leais a um partido e tenham compromisso com este;

Experientes do ponto de vista político e administrativo;

Competentes do ponto de vista político e administrativo.

Para concluir, um alerta. Quadros elegeu-se presidente em 1960. Passados 29 anos, foi a vez de Col-

lor, em 1989. Decorridos outros 25 anos, teremos eleições presidenciais em 2014. Parece que, no

Brasil, de tempos em tempos surgem candidatos à Presidência cuja única credencial é a aparente ho-

nestidade. No momento em que escrevo, avoluma-se no horizonte mais uma candidatura desse tipo,

uma candidatura “santa”, inflexível e individualista. Contudo, por mais que estejamos fartos da cor-

rupção e dos políticos “tradicionais”, ninguém pode ser Presidente da República apresentando ape-

nas um atestado de idoneidade moral. É preciso muito mais do que isso. O candidato cujo currículo

contém uma única qualificação – a honestidade – é um candidato claramente inviável, isto é, ele não

terá capacidade de governar, caso eleito.

Os povos que não conhecem sua própria história estão condenados a repeti-la. Quer dizer, os povos

que não aprendem com seus erros estão condenados a errar novamente. Será que vamos desprezar

nossa história e fazer outra vez uma escolha ruim?

Page 15: Como escolher um candidato

NOTAS 1 Isto significa que, se os parlamentares da base governista julgarem que um projeto de lei, se aprovado, revoltará seus

eleitores, eles não aprovarão esse projeto, não importa o quanto eles apoiem o governo 2 ANDRADE, Marcelo. “Empresas bonificam ‘QI’ ”. Disp. em:

http://www.opovo.com.br/app/opovo/vidaetrabalho/2013/06/29/noticiasjornalvidaetrabalho,3083332/empresas-

bonificam-qi.shtml 3 Correio Braziliense. “Escolhidos a dedo”. Disp. em: http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/eu-

estudante/tf_carreira/2013/07/21/tf_carreira_interna,378231/escolhidos-a-dedo.shtml 4 Correio Braziliense. Idem.

5 TOLEDO, José Roberto de. “Pitta amplia vantagem sobre o PT; Maluf obtém sua melhor avaliação”. Disp. em:

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/1996/10/19/brasil/15.html 6 Maluf: se ele não for um grande prefeito, nunca mais votem em mim. Disp. em:

http://www.youtube.com/watch?v=Hg7poYW2HZw 7 Jornal Folha de São Paulo. “Reprovação de Pitta é recorde”. Disp. em:

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff1311200002.htm 8 Jango foi eleito vice-presidente pelo voto direto e depois assumiu a presidência com a renúncia de Janio. Naquela

época, votava-se separadamente para presidente e vice-presidente. 9 MELO, Carlos. Collor: O ator e suas circunstâncias. São Paulo: Editora Novo Conceito, 2007. pp. 54-57.

10 Em relação a Lula e Dilma, prefiro não fazer considerações para não ferir suscetibilidades.

*Flavio Farah é Mestre em Administração de Empresas, Professor Universitário e autor do livro “Ética na gestão de pessoas”. Contato: [email protected].