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A Escola São Pedro, criada pelo padre Muraro, no bairro Getúlio Vargas, ...mantida pelo Instituto São Pedro de Educação e Assistência, estava fechada havia anos. Ligada aos padres salesianos, sucumbira pela falta de alunos. Mantinha algumas ações de cunho social e nada mais. Mas, pelo seu profundo enraizamento na comunidade, era difícil o seu fechamento definitivo, ainda mais naquele período, em que se comemorava o cinquentenário de atuação exemplar em nossa comunidade. Começamos a conversar com os representantes da instituição. Queríamos, na qualidade de prefeito de Bagé, comprar a escola e suas instalações que dominavam quase um quarteirão inteiro na ligação das avenidas Presidente Vargas e Santa Tecla, na entrada do chamado Povo Novo. Levamos quase um ano em negociação. Por fim, fechamos a compra, tendo o município investido R$ 2,7 milhões. Demos uma entrada e parcelamos o restante em prestações mensais de R$ 50 mil, que venceram no mês de dezembro de 2008, último mês de Memórias de um tempo Salvando a escola do padre Muraro nosso governo. Aliás, essa foi uma das exigências dos religiosos: que o pagamento se desse no transcorrer do nosso mandato, sob a alegação de que conheciam a fama daquele governo de ser um bom pagador. E assim foi feito e instalamos ali a maior escola do município, que chegou a ter 2,6 mil alunos, entre os do Ensino Fundamental, do ensino infantil, do ensino de jovens e adultos e os que frequentavam o Esporte e Lazer e o Programa de Ações Socioeducativas, o Rodarte, que abrigava 600 alunos da rede municipal que iam para ali, no turno inverso, para participar do programa que contribuía para a melhoria do desempenho escolar dos mesmos. Criamos e instalamos, no prédio do São Pedro, a escola infantil Frederico Petrucci, que hoje funciona no local que cedemos para abrigar a Unipampa em sua fase inicial de instalação. Também colocamos a funcionar ali o Centro de Panificação Profissional, que qualificava pessoas da comunidade para o exercício da profissão de padeiro ou confeiteiro, entre outras do ramo. Tudo isso agregamos ao que já existia,

Compra do Colégio São Pedro (Ispea - Bagé

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Page 1: Compra do Colégio São Pedro (Ispea - Bagé

A Escola São Pedro, criada pelo

padre Muraro, no bairro Getúlio Vargas,

...mantida pelo Instituto São Pedro de

Educação e Assistência, estava fechada

havia anos. Ligada aos padres salesianos,

sucumbira pela falta de alunos. Mantinha

algumas ações de cunho social e nada

mais. Mas, pelo seu profundo

enraizamento na comunidade, era difícil o

seu fechamento definitivo, ainda mais

naquele período, em que se comemorava

o cinquentenário de atuação exemplar em

nossa comunidade.Começamos a conversar com os

representantes da instituição. Queríamos,

na qualidade de prefeito de Bagé, comprar

a escola e suas instalações que

dominavam quase um quarteirão inteiro

na ligação das avenidas Presidente Vargas

e Santa Tecla, na entrada do chamado

Povo Novo. Levamos quase um ano em

negociação. Por fim, fechamos a compra,

tendo o município investido R$ 2,7

milhões. Demos uma entrada e

parcelamos o restante em prestações

mensais de R$ 50 mil, que venceram no

mês de dezembro de 2008, último mês de

Memórias de um tempo

Salvando a escola do padre Muraro

nosso governo.Aliás, essa foi uma das exigências dos

religiosos: que o pagamento se desse no

transcorrer do nosso mandato, sob a

alegação de que conheciam a fama

daquele governo de ser um bom pagador.

E assim foi feito e instalamos ali a maior

escola do município, que chegou a ter 2,6

mil alunos, entre os do Ensino

Fundamental, do ensino infantil, do ensino

de jovens e adultos e os que frequentavam

o Esporte e Lazer e o Programa de Ações

Socioeducativas, o Rodarte, que abrigava

600 alunos da rede municipal que iam

para ali, no turno inverso, para participar

do programa que contribuía para a

melhoria do desempenho escolar dos

mesmos.Criamos e instalamos, no prédio do

São Pedro, a escola infantil Frederico

Petrucci, que hoje funciona no local que

cedemos para abrigar a Unipampa em sua

fase inicial de instalação. Também

colocamos a funcionar ali o Centro de

Panificação Profissional, que qualificava

pessoas da comunidade para o exercício

da profissão de padeiro ou confeiteiro,

entre outras do ramo.Tudo isso agregamos ao que já existia,

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como o teatro/auditório, ao ginásio de

esportes, às quadras esportivas e campos

de futebol, além das muitas salas de aula. Bidart, outra históriaNaquela época, o município cedia

professores para a Fundação Bidart, que

só funcionava porque mais da metade dos

profissionais eram mantidos pela

Secretaria da Educação. E o município não

ganhava nada em troca. Pela legislação,

se a escola fosse municipal, deveríamos

receber do Fundeb cerca de R$ 350 mil

por ano, recurso suficiente para pagar os

salários dos professores.Queríamos comprar o prédio e instalar

ali mais uma escola municipal. Mas a

confusão jurídica da fundação que

mantinha o Bidart era tão grande que não

conseguíamos saber para quem

deveríamos pagar. Só nos restou a

alternativa de colocar em funcionamento a

Escola Municipal de Ensino Fundamental

Fundação Bidart, sem adquirir o prédio.

Poderíamos desapropriar o local -

tínhamos legitimidade para tanto - mas

preferi não "comprar" essa briga, na

Memórias de um tempo

medida em que fui eleito para administrar

a cidade e não para ficar brigando. E, além

do mais, nosso objetivo, que era o de

oferecer à comunidade daquela região

uma escola pública, gratuita e de

qualidade, estava assegurado. E com a

vantagem de que o município se ressarcia

de partes dos investimentos que fazia na

escola. A mesaCelebramos a conclusão da compra

do São Pedro em um almoço servido pelos

salesianos na ala residencial do prédio da

escola. Veio de Curitiba o padre César

para a assinatura do contrato. Durante a

refeição fiquei elogiando a grande mesa

que guarnecia o refeitório, que tinha um

tampo giratório para colocar os pratos de

comida. Ao sair, o padre César,

observando o quanto eu gostara do móvel,

disse que a congregação estava doando-o

para a minha pessoa particular.Minha felicidade com o presente

acabou quando, ao chegar à prefeitura,

me dei conta de que o município havia

comprado a escola de "porteira fechada",

Page 3: Compra do Colégio São Pedro (Ispea - Bagé

com tudo o que estava lá. Inclusive a

mesa. Portanto, apesar da boa vontade, os

salesianos não eram mais proprietários

daquela mesa. Liguei ao padre César e,

para a sua surpresa, comuniquei que a

mesa deveria, por justiça e de direito, ser

incorporada ao patrimônio do município e

não ao meu, particular.Instalamos a mesa na parte reservada

do gabinete do prefeito, onde recebíamos

alguns convidados para almoços ou

jantas, na "Prefeitura da Osório", prédio

que foi restaurado por nossa

administração.

Memórias de um tempo

*Esse texto faz parte de Memórias de Um Tempo, uma série publicada no Jornal Minuano de Bagé, em que procurei resgatar fatos de nossa gestão de oito anos na Prefeitura Municipal.

OrgulhoOlhando para trás, fico muito

orgulhoso do trabalho que fizemos pela

educação em Bagé. Às vezes imaginava

qual seria a reação do padre Muraro se

visse a sua obra voltando a funcionar e

cumprindo com os objetivos que o levaram

a idealizar a sua construção. Essa é umas

coisas que não há dinheiro que pague.A incorporação de três escolas

particulares à rede municipal - Geteco,

São Pedro e Bidart - demonstram um

pouco dos pesados investimentos que

fizemos em educação, tema que foi uma

das grandes marcas da nossa gestão

frente à Prefeitura de Bagé.