6
A defensora pública esta- dual de São Paulo Anaí Arantes Rodrigues, que acompanha processos de remoções e desapropria- ções na capital paulista, avalia que a lei que trata do tema deveria ter sido atualizada há tempos. “Nossa legislação tem que ser urgentemente re- formulada e modernizada para, principalmente, reco- nhecer a posse em caso de desapropriação. Isso já re- solveria boa parte dos pro- blemas, porque as famílias receberiam uma indeniza- ção mais justa”, avalia. Para ela, é preciso um pacto nacional. “É neces- sário um marco legal na- cional que determine re- quisitos e premissas des- sas desapropriações de co- munidades. Como funcio- na, o que o Estado tem que garantir às famílias em caso de deslocamento forçado”, diz. Legislação precisa mudar no país Educação para escanteio Bruno Moreno [email protected] Enquanto se questiona qual será o legado dos megaeventos no Bra- sil, em especial o da Co- pa do Mundo, o direito à educação de milha- res de crianças e ado- lescentes foi colocado para escanteio e está sendo lesado. Desde 2010, en- tre 57,3 mil e 76,5 mil pes- soas residen- tes em vilas e favelas, com idade entre 0 e 19 anos, foram afetadas direta- mente e tiveram que mudar de escola ou cre- che em função das de- sapropriações ou remo- ções para as obras dos megaeventos. O cálculo é feito com base no número de pes- soas afetadas, aplican- do-se o percentual de moradores dessa faixa etária que residem em vi- las e favelas no Brasil (38%), segundo o Censo de 2010, do IBGE. Não há informações oficiais, apenas estimati- vas de quantas pessoas teriam sido desapropria- das ou removidas. Uma das mais confiáveis é a do Observatório das Me- trópoles, núcleo nacio- nal de pesquisadores das cidades. De acordo com o coorde- nador da pesquisa “Metropolização e Megaeventos: impactos da Copa do Mun- do de 2014 e Olimpíadas de 2016 sobre as metrópoles brasi- leiras”, Orlando Al- ves dos Santos Jr, é possí- vel estimar entre 150 mil e 200 mil o número de pes- soas (de todas as faixas etárias) que tiveram que deixar suas casas em fun- ção dessas obras. Foram utilizados dados de gover- nos e dos Comitês dos Atin- gidos pela Copa de cada ci- dade. MIGRAÇÃO O processo migratório pe- lo qual o Brasil passou nos últimos cinco anos foi um dos maiores da história, se não o maior, em movi- mentação intraurbana – dentro da própria cidade. Geralmente, as famílias foram para mais longe da área central. A ação, promovida pe- lo poder público, teve pouco ou nenhum supor- te para que houvesse a continuidade da vida es- colar das crianças e ado- lescentes afetados. Foi o que constatou o Hoje em Dia em visita a sete das 12 cidades-sede da Copa do Mundo, onde se concentraram maior nú- mero de remoções. A série de reportagens que começa hoje mostra- rá casos de jovens que não se adaptaram à nova realidade ou não conse- guiram vagas em escolas e largaram os estudos. Há situações em que a ajuda de conhecidos e a sorte foram determinan- tes para que os jovens pu- dessem continuar a estu- dar, outras em que esco- las comunitárias estão ameaçadas de fechar ou já pararam de funcionar. Foram mais de 10 mil quilômetros percorri- dos, centenas de telefo- nemas e e-mails nos últi- mos três meses em busca dessas pessoas nas capi- tais Belo Horizonte, Cuiabá, Fortaleza, Porto Alegre, Recife, Rio de Ja- neiro e São Paulo. MT MINAS GERAIS RS RJ CE PE Cuiabá Porto Alegre* São Paulo** Rio de Janeiro* SP BH Recife Fortaleza* 1.421 km 1.361 km 498 km 1.373 km 1.132 km 338 km 1.881 km 752 km 1.644 km 2.285 R$ 119,7 milhões 459 R$ 102,5 milhões 700 R$ 128,2 milhões 708 R$ 234 milhões 10.000 R$ 300 milhões 161 R$ 40,8 milhões 3.270 R$ 99,6 milhões Desapropriações/remoções/reassentamentos Valor gasto * Dados oficias não repassados de forma completa ** O Metrô SP se recusou a responder à demanda. Os dados foram retirados do Ministério do Esporte e do site do Metrô SP, e podem estar desatualizados Fontes: Governos locais, Ministério do Esporte, Observatório das Metrópoles, Defensoria Pública do Estado de Pernambuco e Comitês dos Atingidos pela Copa PESSOAS DESAPROPRIADAS Em função dos megaeventos: entre 150 mil e 200 mil Em idade escolar (0 a 19 anos): entre 57,3 mil e 67,5 mil ROTEIRO DA REPORTAGEM Situação nas cidades visitadas > Obras para o Mundial de futebol e Olimpíadas deixaram milhares de jovens sem aula no país O projeto que deu origem a esta reportagem foi vencedor da Categoria Impresso do VII Concurso Tim Lopes de Jornalismo Investigativo, realizado pela Andi, Childhood Brasil e o Unicef, com o apoio da OIT, da Fenaj e da Abraji. FIM DE HISTÓRIA – No Rio de Janeiro, menina observa operários derruba- rem a casa onde morava, na Vila Autódro- mo, ao lado do Parque Olímpico SAIBAMAIS O Hoje em Dia percorreu 10 mil quilômetros em sete cidades-sede da Copa do Mundo > COPA SEM ESCOLA COPA SEM ESCOLA PRIMEIRA DE UMA SÉRIE FOTOS SAMUEL COSTA 22 BeloHorizonte,segunda-feira,12.5.2014 HOJEEMDIA hojeemdia.com.br Minas

Copa sem escola - Série de reportagens sobre impactos da Copa na Educação

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Copa sem escola - Série de seis reportagens sobre impactos da Copa na Educação. Vencedora do VII Concurso Tim Lopes de Jornalismo Investigativo

Citation preview

Page 1: Copa sem escola - Série de reportagens sobre impactos da Copa na Educação

Adefensorapública esta-dual de São Paulo AnaíArantes Rodrigues, queacompanhaprocessosderemoções e desapropria-ções na capital paulista,

avalia que a lei que tratado tema deveria ter sidoatualizada há tempos.“Nossa legislação tem

que ser urgentemente re-formulada e modernizadapara,principalmente, reco-nhecer a posse em caso dedesapropriação. Isso já re-solveria boa parte dos pro-blemas, porque as famíliasreceberiam uma indeniza-

ção mais justa”, avalia.Para ela, é preciso um

pacto nacional. “É neces-sário um marco legal na-cional que determine re-quisitos e premissas des-sasdesapropriaçõesdeco-munidades.Como funcio-na, o que o Estado temque garantir às famíliasem caso de deslocamentoforçado”, diz. l

Legislaçãoprecisamudar no país

Educação para escanteio

BrunoMoreno

[email protected]

Enquanto se questionaqual será o legado dosmegaeventos no Bra-sil, em especial o da Co-pa doMundo, o direitoà educação de milha-res de crianças e ado-lescentes foi colocadopara escanteio e estásendo lesado.Desde2010, en-

tre 57,3 mil e76,5 mil pes-soas residen-tes em vilase f a ve l a s ,com idadeentre 0 e 19ano s , f o r amafetadas direta-mente e tiveram quemudar de escola ou cre-che em função das de-sapropriações ou remo-ções para as obras dosmegaeventos.O cálculo é feito com

base no número de pes-soas afetadas, aplican-do-se o percentual demoradores dessa faixa

etária que residem emvi-las e favelas no Brasil(38%), segundo o Censode 2010, do IBGE.Não há informações

oficiais, apenas estimati-vas de quantas pessoasteriam sido desapropria-das ou removidas. Umadas mais confiáveis é ado Observatório dasMe-trópoles, núcleo nacio-nal de pesquisadoresdas cidades.De acordo como coorde-

nador da pesquisa“Metropolizaçãoe Megaeventos:impactos daCopa do Mun-do de 2014 eOlimpíadas de2016 sobre as

metrópoles brasi-leiras”, Orlando Al-

ves dos Santos Jr, é possí-vel estimar entre 150mil e200 mil o número de pes-soas (de todas as faixasetárias) que tiveram quedeixar suas casas em fun-ção dessas obras. Foramutilizados dados de gover-nos edosComitêsdosAtin-gidos pelaCopa de cada ci-dade.

MIGRAÇÃOOprocessomigratório pe-loqual oBrasil passounosúltimos cinco anos foi umdos maiores da história,se não o maior, em movi-mentação intraurbana –dentro da própria cidade.Geralmente, as famíliasforam para mais longe daárea central.A ação, promovida pe-

lo poder público, tevepouco ou nenhum supor-te para que houvesse acontinuidade da vida es-colar das crianças e ado-lescentes afetados. Foi oque constatou o Hojeem Dia em visita a setedas 12 cidades-sede daCopa doMundo, onde seconcentraram maior nú-mero de remoções.A série de reportagens

que começa hoje mostra-rá casos de jovens quenão se adaptaram à novarealidade ou não conse-guiram vagas em escolase largaram os estudos.Há situações em que a

ajuda de conhecidos e asorte foram determinan-tes para que os jovens pu-dessem continuar a estu-dar, outras em que esco-las comunitárias estãoameaçadas de fechar oujá pararam de funcionar.Foram mais de 10 mil

quilômetros percorri-dos, centenas de telefo-nemas e e-mails nos últi-mos três meses em buscadessas pessoas nas capi-ta i s Be lo Hor izonte ,Cuiabá, Fortaleza, PortoAlegre, Recife, Rio de Ja-neiro e São Paulo. l

MT

MINASGERAIS

RS

RJ

CE

PE

Cuiabá

Porto Alegre*

SãoPaulo** Rio de Janeiro*

SP

BH

Recife

Fortaleza*

1.421 km

1.361 km498 km

1.373 km

1.132 km

338 km

1.881 km

752 km

1.644 km

2.285

R$ 119,7 milhões

459

R$ 102,5 milhões

700

R$ 128,2 milhões

708

R$ 234 milhões

10.000

R$ 300 milhões

161

R$ 40,8 milhões

3.270

R$ 99,6 milhões

Desapropriações/remoções/reassentamentos

Valor gasto

* Dados oficias não repassados de forma completa** O Metrô SP se recusou a responder à demanda. Os dados foram retirados do Ministério do Esporte e do site do Metrô SP, e podem estar desatualizados

Fontes: Governos locais, Ministério do Esporte, Observatório das Metrópoles, Defensoria Pública do Estado de Pernambuco e Comitês dos Atingidos pela Copa

PESSOAS DESAPROPRIADAS

Em função dos megaeventos:entre 150 mil e 200 mil

Em idade escolar (0 a 19 anos):entre 57,3 mil e 67,5 mil

ROTEIRO DA REPORTAGEM

Situação nas cidades visitadasl> Obras para oMundial de futebol eOlimpíadasdeixarammilhares de jovens semaula no país

Oprojetoquedeuorigemaestareportagemfoi vencedordaCategoria ImpressodoVIIConcursoTimLopesdeJornalismo Investigativo,realizadopelaAndi, ChildhoodBrasil e oUnicef, comoapoiodaOIT, daFenaj edaAbraji.

FIMDEHISTÓRIA–

NoRiodeJaneiro,meninaobserva

operáriosderruba-

remacasaonde

morava,naVila

Autódro-mo,ao ladodoParqueOlímpico

SAIBAMAIS

OHoje emDiapercorreu 10milquilômetros

em setecidades-sede daCopa doMundo

l>

COPA SEM ESCOLACOPA SEM ESCOLA

PRIMEIRADEUMA SÉRIE

FOTOS SAMUEL COSTA

22BeloHorizonte,segunda-feira,12.5.2014

HOJEEMDIA

hojeemdia.com.brMinas

Page 2: Copa sem escola - Série de reportagens sobre impactos da Copa na Educação

Emcontraposição às di-ficuldades que enfren-tou com a remoção emfunção da duplicaçãoda avenida Pedro I, naregião de Venda Nova,emBeloHorizonte, a fa-mília da salgadeiraAlédia Aparecida OttoPereira,de37anos, con-tou com a sorte e a soli-dariedade de pessoasquenemconhecia. Prin-cipalmente para conse-guir vaga na escola pa-ra os quatro filhos.A família foi desapro-

priada em setembro doano passado e, como ti-nha pouco tempo parasair, escolheu uma casa

em um bairro de SantaLuzia, na Grande BH. Aintenção era ficar o maisperto possível dos paren-tes, já que alguns perma-neceram próximo à anti-ga residência.Na mudança, Alédia e

família perceberam queo local era muito perigo-so. Três dias depois, ochefe do marido dela oviudesesperadono traba-lho e ajudou a conseguiruma casa para alugar nomunicípio de Confins.Assim, em menos de

uma semana eles fize-ramduasmudanças. De-pois de arrumar o tetoparamorar, faltava a es-

cola das crianças. Assim,com ajuda atémesmo doprefeito da cidade, con-seguiram vaga para to-dos os filhos. “Não tive

ajuda lá em Belo Hori-zonte, mas aqui me rece-beram mui to bem emeus filhos não ficaramfora da escola. Foi sorte,

solidariedade e Deus”,aponta a salgadeira.

FAMÍLIAComo a casa em SantaLuzia está para venderoualugar, eles não conse-guiram ainda utilizar osrecursos da indenizaçãopara comprar outro imó-vel, e estão arcando como aluguel, o que nuncahavia feito parte dos gas-tos da família.Apesar disso, estão to-

dos satisfeitos. “Aqui eles(os filhos) têmmuita ami-zade.As pessoas nos rece-beram muito bem, temosumavista linda.Masapar-te ruimé que ficamos lon-ge da nossa família. Ago-ra está cada um em umlugar”, lamenta Alédia. l

Morar relativamenteperto do Centro de BeloHorizonte, em frente àUniversidade Federald e M i n a s G e r a i s(UFMG),naavenidaAn-tônio Carlos, na Pampu-lha, era um sonho paraaestudanteRejianeSan-tos Rodrigues, de 18anos. Filha de um casalde ex-moradores derua, que ocuparam aárea há pouco mais deuma década, ela viu suafamília ser desapropria-daparaumaobradaCo-pa doMundo, em 2011.A casa que foi possível

ser comprada com o di-nheiro da indeniza-ção,nobairroAl-to Boa Vista,v iz inho aoCitrolândia,em Betim,na GrandeBH, f ica aaproximada-mente40quilô-metros de onde afamília morava.O casal, quando deci-

diu sair das ruas e mon-tar uma família, pensouem dar tudo o que fossepossível para a filha queviria. E foi com isso emmente que, assimque semudaram para Betim,os pais procuraramumaescola para que Rejianepudesse continuar os es-tudos. Entretanto, de-morou para conseguirescola.“No começo foi difícil.

Fiquei dois meses paraconseguir vaga. Eu emi-nha mãe ficávamos ten-tando. Quando conse-

gui, era no turno da noitee ficava com um poucodemedo ao voltar pra ca-sa. Hoje já me acostu-mei”, lembra a garota.

VILAUFMGSegundo a Prefeiturad e B e l o Ho r i z o n t e(PBH), na Vila RecantoUFMG, 130 famílias fo-ram remov idas , em2011, para a constru-ção de um viaduto dea c e s s o à a v e n i d aAbrahão Caram. Outrasobras na capital foramfeitas em função da Co-pa do Mundo e deman-daram remoções, comoa duplicação da aveni-da Pedro I e a Via 210(no bairro Betânia). Nototal, na capital minei-ra, foram 708 famíliasremovidas, de acordocom a PBH.Rejiane é uma das cer-

ca de 900 crianças e ado-lescentes em idade esco-lar em Belo Horizonteque foram afetadas dire-tamente pelas obras daCopa do Mundo.

PREFERÊNCIAHoje, passados três anosda mudança, ela estáacostumada com a vizi-nhança e gosta de ondemora. “Não queria ir paraumapartamento por cau-sa dos cachorros”, conta.Mas, ao mesmo tempo,

lamenta estar longe daUFMG, já que ela deve seformar neste ano no ensi-no médio. “Quero cursarpsicologia. Se ainda mo-rasse em frente à UFMG,seria ótimo”, afirma. l

Solidariedade para superar as dificuldades

l> Família sai de BeloHorizonte para Betim e peregrinação embusca de vaga emescola foi sofrida

Recomeço a 40quilômetrosde distância do antigo lar “Oqueéo

devido

atendimen-

to,nonosso

entender?A

pessoatem

quesairda

situaçãoem

quese

encontraeir

parauma

outraigual

oumelhor.

Elanunca

podepiorar

aqualidade

devidaem

razãodessa

intervenção

pública”

Anaí

Arantes

Rodrigues,

defensora

pública

estadualem

SãoPaulo

“Nósfomos

muitobem

recebidos

aqui(na

cidadede

Confins)e

estamos

gostando.

Contamos

comaajuda

demuita

gente.Mas

sentimos

faltada

nossa

família,que

ficou

separada”

Alédia

Pereira,

salgadeira,

desapropriada

nasobras

daavenida

PedroI

DESAPROPRIADA–Rejianedemoroudoismesesparaencontrarumavaganaescolapróximaàsuanovacasa,distante40quilômetrosdeondemorava

“No começo foidifícil. Eu eminhamãeficávamos

tentando vaga”,diz Rejiane

DIFÍCILADAPTA-ÇÃO–A

famíliadeAlédianãoconseguiu

vivernacasa

compradacomo

dinheirodaindenizaçãoefoiprecisoajudapara

serestabele-

ceremConfins,naGrandeBH

hojeemdia.com.br 23BeloHorizonte,segunda-feira,12.5.2014

HOJEEMDIAMinas

Page 3: Copa sem escola - Série de reportagens sobre impactos da Copa na Educação

MinasEditor:[email protected]

CUIABÁ – A capital doMato Grosso teve mui-tasdesapropriações rela-cionadasàCopadoMun-do em imóveis comer-ciais para a implantaçãodo Veículo Leve sobreTrilhos (VLT). Entretan-to,porpressãoda comu-nidade do bairro Caste-lo Branco, a prefeituradesistiu do projeto deabertura da avenida docórrego do Barbado, on-de 400 famílias estavamameaçadas de remoção.Apenas 33 que mora-

vam emárea de risco deinundação, na beira deum curso d’água, foramrealocadas para a cons-truçãode uma rotatória.A obra não faz parte daMatriz da Copa, mas in-diretamente está ligadaao Mundial.Para muitos morado-

res, a mudança de ende-reçonãoévistacomone-

gativa. Mas o que os afligeé para onde foram leva-dos: um imenso conjuntohabitacional do programaMinha CasaMinha Vida, oAltos do Parque, distante14 quilômetros, onde nãohá escola para as criançasdas mais de mil famílias.Segundo a presidente

da Associação deMorado-resdoBairroCasteloBran-co, Deumaci Freitas Afon-

so, algumas famílias fo-ram para o conjunto habi-tacional “divididas”.“Comonãohávagas pa-

ra todo mundo nas esco-las próx imas , houvequem deixasse os filhoscom parentes aqui perto,para que continuem a es-tudar.Mas nem todos pu-deram fazer isso. Então,muitas crianças ficaramfora da escola”.A Secretaria da Copa do

Mato Grosso (Secopa)não semanifestou sobre ocasoatéo fechamentodes-taedição.SegundoaSeco-pa,houvecercade700de-sapropriações na capitalmato-grossense. l

Crianças realocadas emconjunto habitacionalsemescola emCuiabá

BrunoMoreno

[email protected]

SÃOPAULO –Desde pe-quena, Raquel*, de 14anos, sonha ser atriz. Háquatro anos, ela conse-guiuumabolsanoThea-tro Municipal de SãoPaulo para estudar balé,um importante passo nafutura carreira. Mas, em2013, quase na metadedo curso, abandonou osalãoespelhado,as sapa-tilhas e o tutu. Antigamoradora do BuracoQuente, comunidade aolado do aeroporto deCongonhas, a família dagarota foi uma das desa-propriadas em funçãoda obra do monotrilhoLinha 17 – Ouro.Raquel deixou o balé

por falta de tempo. Co-mo não conseguiu vagaem escola perto da novamoradia, gasta quase 5horasnotrânsitoparaes-tudar: sai de casa às10h30evoltaàs20h.Porisso,acarreiraartística fi-cou em segundo plano.O irmãomais velho de

Raquel, Fábio*, de 17anos, tambémfoi impac-tado pela mudança. Em2013, sóencontrou vagaem uma escola distantede casa. Faltava dinhei-ro para ir à aula, e eleperdeu o ano. Em 2014,disse àmãe, a cabeleirei-ra Regina Almeida, de35 anos, que não iriamais estudar.A indenização recebi-

dadevidoàdesapropria-ção permitiu à famíliacomprar um lote na zo-na Sul de São Paulo,mas não erguer a casa.Hoje, Regina, o maridoeos filhosmoramdealu-guel no Jardim Selma, a12quilômetrosdoBura-co Quente.Raquel e Fábio fazem

parte do grupo de 57,3mil a 76,5 mil brasilei-ros de zero a 19 anosquevivemnascidades-se-dedoMundialde futebole foram impactados pelaCopa. Obrigados a mu-dar de casa, enfrentamdificuldades para conti-nuar estudando, comomostra o Hoje em Diadesde ontem. Não há le-vantamento de quantosestão nessa situação.De aco rdo com o

MetrôSP, a Linha 17 –Ouro não tem relação

com o Mundial de fute-bol. Entretanto, orçadaem R$ 1,8 bilhão, a obraesteve na Matriz de Res-ponsabilidade da Copaaté 2012, dois anos apóso anúncio de que o está-dio do torneio na cidadeseria o Itaquerão, e nãomais o Morumbi. O últi-mo será atendido pela Li-nha 17 – Ouro.A assessoria doMetrôSP

afirmaqueas desapropria-ções “respeitam os trâmi-tes judiciais”, mas não in-forma o valor da interven-ção ou quantas pessoas fo-ram removidas. No entan-to, no site da companhiaconstaque161 famílias se-riam desapropriadas. Já oComitê dos Atingidos pelaCopaemSãoPauloapontamais de 430.Para a defensora pública

de São Paulo, Anaí Aran-tesRodrigues,éprecisoob-servarqueodireitoàmora-dia inclui outros. “Quandoa pessoa vai parar em umlugar tão distante, ondenão há como manter o fi-lho na escola, o direito de-la à moradia digna e a to-dos os outros direitos, semdúvida, ficam prejudica-dos”, avalia. l(*Os nomes são fictícios)

l> EmSão Paulo, obra domonotrilho que passa junto ao estádio doMorumbi afetou 161 famílias

LINHA17–Comoomonotrilhopaulista foiexcluídodaMatrizdaCopaem2012,aMetrôSPnegarelaçãocomoMundial

Novoendereço faz garotadesistirde sonhoe irmão largar estudo

SEGUNDADEUMASÉRIE

LONGE–ParaacabeleireiraRegina, remoção foi ruim:

clientes sumiramefilhos têmdificuldadeparaestudar

ALTOSDOPARQUE–Porenquanto,

salasdeaulaestãoapenasnoprojeto

COPA SEM ESCOLACOPA SEM ESCOLA

FOTOS SAMUEL COSTA

hojeemdia.com.br 29BeloHorizonte,terça-feira,13.5.2014

HOJEEMDIA

Page 4: Copa sem escola - Série de reportagens sobre impactos da Copa na Educação

PORTO ALEGRE –Quando começou a de-sapropriação dosmora-dores da vila Dique, lo-calizada atrás do aero-porto Salgado Filho, nacapita l gaúcha, em2009, a prefeitura ofe-receu transporte paraque os filhos em idadeescolar continuassem aestudar nos colégiospróximos às suas anti-gas casas. A mudançafoi para o Porto Novo,um conjunto habitacio-nal distante cerca de no-

ve quilômetros. Mas,pouco tempo depois, es-sa ajuda acabou.“Eles tiveramque pegar

ônibus e não tinham di-nheiro para passagem.Muitos chegaram a per-deroano”, lamentaAlme-rinda Argenta Gambin,de47anos, conhecida co-mo Miranda, líder comu-nitária emembro da dire-toria do Clube de Mães.Naquele momento, as

famílias começaram abuscar vagas em escolasnos arredores, mas nãohavia para todos. Parapiorar, eles conviviamcom o preconceito de se-rem “diqueiros”, ou seja,da vila Dique, conhecidapor seruma regiãoviolen-ta da cidade.Agora, passados quase

cinco anos do início dasremoções, as pessoas jáestão mais adaptadas àmudança, mas aindanão há escolas para to-dos na região.A estudante Bianca da

Silva Ortiz, de 15, conti-nua a estudar no antigocolégio e gasta mais deuma hora no ônibus. Masconta com a solidarieda-de para arcar como custodo transporte. “Como es-tou fazendo o curso (deculinária) aqui no Clubede Mães, recebo vale-transporte”, relata.Para ela, a mudança foi

boa. “Tinha muita genteque morava em situaçãomuito precária”, lembra.Em Porto Alegre foram

maisde3.200 famíliasde-sapropriadas. l

Dificuldadedetransporteefaltadevagas

BrunoMoreno

[email protected]

RIODE JANEIRO – Per-to do meio-dia de umasexta-feirademarço, Lu-cas*, de 15 anos, acom-panha com o olhar osalunos que retornam daescola, na comunidadeNovo Lar, no Recreio,zonaOestedoRiode Ja-neiro.Enquanto isso, pe-neira a areia que seráutilizada para fazer oconcreto de um barra-co. Desde o ano passa-do, o garoto não pisaem uma sala de aula e otrabalho de ajudante depedreiro temsidoaprin-cipal ocupação.Ele é umdosmilhares

de crianças e adolescen-tes das cidades-sede daCopa do Mundo que ti-veramodireito à educa-ção lesado. A estimati-va é a de que entre 57,3mil e 76,5mil, com ida-de entre zero e 19 anos,tenham sido removidospor conta das obras re-lacionadas direta ou in-diretamente ao Mun-dial de futebol e àsOlimpíadas de 2016.Com isso, enfrentaramdificuldades para conti-nuar a vida escolar, co-mo mostra o Hoje emDia desde a última se-gunda-feira.No Rio de Janeiro não

há um número preciso,masoComitêdosAtingi-dospelaCopaeOlimpía-das estima em mais de10 mil famílias removi-das em função dessesmegaeventos.

RETORNO

AfamíliadeLucasmora-vana vilaRecreio II e foiremovida para a cons-truçãodoBRTTransoes-

te, em 2012. Como com-pensação, receberam oapartamento de um pro-grama habitacional emCampo Grande, no extre-mo oeste da capital flumi-nense. Entretanto, não seadaptaramànova realida-de. Por isso, no ano passa-do alugaramumaquitine-te (quarto, banheiro, cozi-nha e sala) na Novo Lar,comunidadea 300metrosda antiga vila Recreio II.A família, composta pe-

lamãe, padrasto e quatrofilhos, foi desmembrada.Dois dos irmãos não fo-ram para Campo Grandee decidirammorar com aavó. Outro irmão, Rodri-go*,de16, tambémtraba-lha ajudando o padrastona construção de casas.“A escola era boa aqui

perto. Lá (em CampoGrande), os alunos quemandam na escola, éumabagunça.Hoje passoo dia na lan house, ficosentado aqui no banco daárvore, ajudomeupadras-to”, diz Lucas.Ele afirmaque sente fal-

ta da escola,mas não ade

Campo Grande. Apesardisso, só pretende voltarem 2015. Assim, terá per-dido três anos de estudos,abandonados em 2012.“Quandovoltamos, fiz ins-crição pela internet, sóconsegui escola pro ladodeCampoGrande.Não ti-nha escola perto”, relata.Para a assessora de Di-

reitos Humanos na Anis-tia Internacional no Bra-sil, RenataNeder, as famí-lias não poderiam ter sidolevadas para áreas distan-tes. “O reassentamentodeve ser em área próximae em condições adequa-das. Nunca você pode le-var uma família para umasituaçãopior. Esseproces-so aprofunda as desigual-dades urbanas”, avalia.A Secretaria Municipal

de Habitação do Rio deJaneiro informou que naobra do BRT Transoesteforam desapropriadas666 famílias, e que elasforam acompanhadas porassistentes sociais até osmoradores alcançarem aautonomia. l*Nomesfictícios

l> Por ter sidoremovidodeondemorava,jovemde 15anosestá semestudardesde2012

COPA SEM ESCOLACOPA SEM ESCOLA

TERCEIRADEUMASÉRIE

RIODEJANEIRO–Adolescentequeparoudeestudarem2012ajudaopadrastoemserviçosdepedreiro

Da sala deaula parao canteirode obra

PORTONOVO–Conjuntoabriga famílias removidasparaobrasnacapitalgaúcha

FOTOSSAMUELCOSTA

hojeemdia.com.br 31BeloHorizonte,quarta-feira,14.5.2014

HOJEEMDIAMinas

Page 5: Copa sem escola - Série de reportagens sobre impactos da Copa na Educação

FORTALEZA – Hámais de 20 anos, a pro-fessora Nete Gomes,de 43 anos, trabalhana escola Irmã Iolan-da Brasil, na capitalcearense. Construídona beira da antiga li-nha de trem, no bair-ro Aldeota, o imóvel éum dos 2.185 que se-rão desapropriadospara a implantação do

Veículo Leve sobre Tri-lhos (VLT) de Fortale-za. Mas, até o momen-to, Nete não sabe paraonde vai a instituição.A escola comunitáriaatende 70 crianças e jáhavia sido desapropria-da anos atrás. Agora, te-rá que mudar mais umavez de endereço.“A maior preocupa-

ção deles (dos pais) é

com a escola dos filhos.Muitos já assinaram(acordo para serem de-sapropriados) e o di-nheiro não caiu na con-ta. Os moradores estãoficando sem opção e ospreços das casas estãoaumentando. Eles es-tão indo para bairrosmuito distantes e mui-to perigosos”, lamentaa professora.Nete encara seu traba-

lho como uma missão, ecritica a postura de go-vernantes com relaçãoao que foi prometido pa-ra o Mundial de fute-bol. “Eles colocaram co-mo se a Copa do Mundofosse deixar pra genteum grande legado. O le-gado que a gente estávendo é de famílias queestão perdendo as mo-radias, escolas perden-

do alunos”, argumenta.Enquanto se divide en-

tre o ensino e a adminis-tração da escola, ela per-de as noites de sono,sem saber qual será odestino dos alunos. “Ho-je o futuro delas (dascrianças) é a incerteza.Se daqui a quatro meses

elas vão ter a escolinha,não sei. A gente está ven-do que vai ficar sem es-cola. Porque a gentenão tem condições de ar-rumar um espaço deuma hora pra outra. Anossa grande preocupa-ção é essa. É um danosocial que o governo es-

tá provocando, que sóse preocupa em cons-truir estádio”, avalia.O governo do estado

do Ceará informou queestá garantindo moradiaa todos os reassentadospelo projeto do VLT, ofe-recendo imóveis e pagan-do aluguel social. l

BrunoMoreno

[email protected]

RECIFE – Desde o iníciodo ano, as tardes emuma rua do bairro SãoFrancisco, na cidade deCamaragibe, na Região

Metropolitana de Recife,não são mais as mesmaspara a pequena Luíza*, de7 anos. As brincadeiras narua, agora, ganharamuma atividade a mais: fa-zer o dever de casa.Regularmente, ela sai

de casa com livro a tiraco-lo e se senta em frente à

sua antiga escola, o Edu-candário Bom Jesus. Namureta da calçada folheiaa edição, no aguardo daantiga professora,Marcio-neFerreiradaCruz,de51,conhecida como Cione.Aluna e professora não

foram desapropriadas porcausa das obras do Mun-

dial de futebol. Entretan-to, sãovizinhasdeumade-sapropriação para a cons-trução doRamal da Copa,uma via que ligará Recifeà Arena Pernambuco,construídaemSãoLouren-ço da Mata. Além disso,há o projeto de aumentaro Terminal Integrado de

Passageiros (TIP), que fi-ca próximo à escola.Por isso, um boato e a

incertezadoque iria acon-tecer com a escola foramsuficientesparaquea insti-tuição de ensino fechasseas portas. Luíza e Cionemoram próximas ao está-dio e no entorno do que

seria a Cidade da Copa,um megaempreendimen-to imobiliário que teria aarenacomopontodeparti-dapara a aberturade umanova fronteira de urbani-zação na Grande Recife.“Um rapazmedisse que

se for sair daqui não temnada a ver com a Copa.Vai ser para2016. Sobre afalta de informação, nãoposso acusar ninguém.Fui atrás, mas não conse-gui.Opovo se encarregoude falar. Não posso culparo povo, porque ele temmedo. Não podia segurara turma (os alunos). Oqueeudisse éminhapala-vra: não vai sair”, lembraa professora.

MEDODEFECHARNeste ano, coma saída demuitos moradores do en-torno, nenhuma mãe searriscou a matricular o fi-lho no educandário, comreceio de que, nomeio doano letivo, a escola fossedesapropriada. Luiza foipara umaescola do bairrovizinho, e, agora, vai detransporte escolar.“Euqueria terumacerte-

za, se fossem derrubar ounão. Para mim foi muitotriste. Eu não esperavaque, realmente, parasse aescola. Eu gostava de tra-balhar, de estar com ascrianças. Eu paro ali nacalçada e os meninos fa-lam assim: Tia Cione, vo-cê me ensina a tarefa? Aescola foi pra rua. Eobomé que eu gosto”, conta,com lágrimas nos olhos.De acordo com a Procu-

radoria Geral do Estadode Pernambuco, no Reci-fe, emCamaragibeeOlin-da foram desapropriados459 imóveis, ao custo deR$ 102,5 milhões. l*Nomefictício

Escola desapropriada pela segundavez não tempara onde ir

ObradoMundial afasta alunoseeducandário é fechadol> EmRecife, estudantes que não foram removidos ficaram semaula perto de casa

COPA SEM ESCOLACOPA SEM ESCOLA

QUARTADEUMASÉRIE

SAUDADE–

Meninade7anos

tevequemudarde

escolaeagorase

encontracom

antigaprofessora

todososdias

FIMDE

LINHA–

Alunosda

escola Irmã

Iolanda

Brasilnão

têmdestino

definidona

capital

cearense

FOTOS SAMUEL COSTA

hojeemdia.com.br 31BeloHorizonte,quinta-feira,15.5.2014

HOJEEMDIAMinas

Page 6: Copa sem escola - Série de reportagens sobre impactos da Copa na Educação

O fim da 4ª Conferên-cia Municipal de Políti-cas Urbanas foi adia-do para depois da Co-pa do Mundo. Com is-so, a revisão do PlanoDiretor de Belo Hori-zonte, que fixa as nor-mas para uso e ocupa-ção do solo, será con-cluída em 2 de agosto.No calendário ante-rior, os trabalhos se-riam encerrados em31 de maio.Nem todos os envol-

vidos no processo fica-ram satisfeitos com oadiamento. O setorempresarial, principal-mente o da constru-ção civil, defende asuspensão dos traba-lhos enquanto estudosde viabilidade finan-ceira são concluídos.O secretário-adjunto

de Planejamento Urba-no, Leonardo Castro,afirma porémque todosos estudos necessáriosestão disponíveis.

MAISTEMPOO novo cronogramafoi aprovado ontem,em reunião extraordi-nária do Conselho Mu-nicipal de Políticas Ur-banas. Com a mudan-ça, as plenárias finaisserão em 19 e 26 dejulho e 2 de agosto.Amanhã não haverá

a atividade anterior-mente programada e,

para o dia 24, está pre-vista uma integração téc-nica das propostas. Nodia 31, quando seria en-cerrada a conferência,ainda haverá a apresen-tação de proposições.Umadasprincipaisquei-

xas é em relação à Outor-ga Onerosa do Direito deConstruir (ODC). A pro-posta da Prefeitura de Be-loHorizonteéadequeemtoda a cidade seja aplica-do o coeficiente básico1,0, ou seja, será possívelerguerumaobra comáreaequivalente à do terreno.Seoempreendedor quisermais, terá que pagar.

DEBATEPara o secretário-adjun-to, o ideal é que a am-pliação da conferêncialeve ao aprimoramentodas proposições.“É um tempo amais pa-

ra melhorarmos as pro-postase construirmos jun-to com a equipe técnicada prefeitura uma formade viabilizar a transiçãoda legislação de modoquesejaadequadapara to-do mundo”.Já o presidente da Câ-

mara da Indústria daConstrução da Fiemg,Teodomiro Diniz Ca-margos, esperava outroencaminhamento.“Queríamos marcar

com número as etapas,mas sem colocar data,até termos condição defazer estudos profun-dos sobre o impacto eco-nômico que a propostada prefeitura impõe à ci-dade”, afirmou. l

LeonardoCastro

“Amudançanocronogramanosdáumtempoamaisparamelhorarmosaspropostas”.

Faltapolíticanacional paraminimizarimpacto social

BrunoMoreno

[email protected]

Assim como nos em-preendimentos com sig-nificativo dano ambien-tal, para os quais a legis-lação exige um estudode impacto no entorno,deveria ser obrigatórioo levantamentodopossí-vel prejuízo social causa-doporobrasquedeman-dam desapropriaçõesemáreas urbanas, comoas que estão em cursono Brasil em função demegaeventos. A opiniãoé do advogado Ariel deCastro Alves, membroda Comissão Especialda Criança e do Adoles-cente da Ordemdos Ad-v o g a d o s d o B r a s i l(OAB) em nível federal.“Nãotemosumalegis-

laçãodeprevisãodeim-pacto social. Deveria

existir para evitar a des-continuidade na presta-ção de políticas públi-cas, como a educação. Apartir desse estudo, osconselhos poderiam su-gerirmedidasparaplane-jar ações, como, porexemplo,asseguraroses-tudos de crianças e ado-lescentes”,diz.OEstatuto da Criança

edoAdolescente (ECA)apontaquenãopodeha-ver ruptura nos servi-çospúblicosemprogra-mas de atendimento,como as escolas. “Umain te r rupção ,mesmoque de alguns meses,ou um ano, tem um im-pacto imenso na vidadessas crianças”, argu-menta o advogado.Desdesegunda-feira,o

HojeemDiamostraqueobrasligadasdiretaouindi-retamente aosmegaeven-tos(CopadoMundoeOlim-píadas)têmprejudicadoa

vidaescolardejovensemváriascapitaisdopaís.

PORTARIA317Para a defensora públicaCleide Aparecida Nepo-muceno, a Portaria 317doMinistério das Cidadesjá indica um direciona-mento no sentido de seprevenir prejuízos sociais.Entretanto, a norma só seaplica às obras que têm

financiamento federal.Cleide relata que, em

Minas,nãorecebeuqual-quer denúncia em rela-çãoàdificuldadedeconti-nuidade dos estudos depessoas desapropriadas.Apesardisso,nememBe-

lo Horizonte nem nasseis cidades visitadaspe-loHojeemDia–Cuiabá,Fortaleza, Recife, Rio deJaneiro, Porto Alegre eSão Paulo – os morado-res removidos relatarama existência de estudosdeimpactosocial.

INEGOCIÁVELPara a socióloga Graça Ga-delha, a educação é um di-reito inegociável. “Pela edu-caçãosepreparaparaoexer-cício da cidadania. É funda-mental, também, para sequalificar, desenvolver parao mercado de trabalho”.Há ma i s d e 20 ano s

acompanhando as ques-tões ligadas ao ECA, elaapontaqueosmegaeven-tosestãocontradizendooestatutoeaConstituição.“Apesardetantosinves-

timentos,nunca, comoagora, tantos direitos fo-ramdescumpridos.NoECAháamençãodequeéobrigatório que o poderpúblico forneça acesso àescolagratuita epróximaàresidência.Oquevimos,nessasreportagens,équeisso não ocorreu emmui-toscasos”,lamenta.l

Mudançanasnormasparausoeocupaçãodo solodeBHdeverá ser concluídaem2deagosto

“Queríamosmarcarasetapas,massemdatas.Oidealseriatermosumestudocomofoi feitoparaaOperaçãoNovaBH”.

Pres.daCâmaradaIndústriadaConstruçãodaFiemg

TeodomiroDiniz

l> Membro da Comissão daCriança e doAdolescente daOAB sugere estudo preventivo

Conferência dePolíticaUrbana sótermina após a Copa

CONTRA

Secretário-adjuntodePlanejamentoUrbano

SOLIDARIEDADE–ForçadaasemudardaavenidaPedroI, emBH,adolescentecontoucomaajudadeamigose

atédeestranhosparaconseguir vagaemumaescolapúblicadeConfins,naregiãometropolitana

l>

DEBATE–Umadaspolêmicasestánacobrançapara

construçãodeobrasmaioresqueaáreado terreno

AFAVOR

ÚLTIMADASÉRIE

SAMUEL COSTA

ARQUIVO HOJE EM DIA

COPA SEM ESCOLACOPA SEM ESCOLA

O artigo 53 do ECAassegura à criança eao adolescente oacesso à escolapública e gratuitapróxima de casa,para seu plenodesenvolvimento,exercício dacidadania equalificação para otrabalho

l>

hojeemdia.com.br 31BeloHorizonte,sexta-feira,16.5.2014

HOJEEMDIAMinas