Delegação de Competências nas Freguesias Enquadramento Jurídico- Constitucional

ATRIBUIÇÕES DOS MUNICÍPIOS,

COMPETÊNCIAS DOS RESPECTIVOS ÓRGÃOS

E

DELEGAÇÃO NAS FREGUESIAS

Gonçalo Ribeiro da Costa16.01.2010

A – Os diplomas enquadradores

B – O elenco das atribuições municipais

C - A distinção entre os diversos conceitos

D – As competências/poder

E – A Lei 169/99, de 18 de Setembro

F - As competências/orgânicas dos Municípios

Gonçalo Ribeiro da Costa

Os diplomas enquadradores

O actual quadro legislativo conformador do funcionamento das autarquias locais, acha-se contemplado em dois diplomas básicos:

1. A Lei 159/99, de14 de Setembro – Lei Quadro de Transferência de Atribuições e Competências para as Autarquias Locais;

2. A Lei 169/99, de 18 de Setembro, de 18 de Setembro (alterado pela Lei 5-A/2002, de 11 Janeiro) – Regime jurídico do funcionamento dos órgãos

dos municípios e das freguesias e as respectivas competências.


A distinção entre os diversos conceitos

No âmbito do Poder Local, e tomando como base aqueles dois diplomas,encontramos 3 distintos conceitos que são, por norma, geradores de confusão:

a) atribuições - que consistem nos domínios onde cabe às autarquias actuar;

b) competências/poder – que consistem nos poderes que podem exercer em cada uma das atribuições;

c) competências/orgânicas – que consistem nos poderes que cada órgão de cada autarquia dispõe para o exercício das competências/poder.

O legislador ordinário, nos diplomas avulsos que vai produzindo, utiliza sem distinguir, os conceitos de competência/poder e de competência/orgânica.


O elenco das atribuições municipais

As atribuições dos municípios acham-se elencadas no artigo 13º da Lei 159/99, de 14 de Setembro e são as seguintes:

• Equipamento rural e urbano;

• Energia;

• Transportes e comunicações;

• Educação;

• Património, cultura e ciência;

• Tempos livres e desporto;

• Saúde;


• Acção social;

• Habitação;

• Protecção civil;

• Ambiente e saneamento básico;

• Defesa do consumidor;

• Promoção do desenvolvimento;

• Ordenamento do Território e urbanismo;

• Policia municipal;

• Cooperação externa.


As competências/poder

Por sua vez, o desempenho deste conjunto de atribuições pode concretizar-se, em cada uma delas, através do exercício de uma ou mais das seguintes competências/poder

(nº 5 do artigo 2º da Lei 159/99, de 14 de Setembro):

• Competências consultivas;

• Competências de planeamento;

• Competências de gestão;

• Competências de investimento;

• Competências de fiscalização;

• Competências de licenciamento.


Conjugando o disposto nas duas citadas normas (nº 5 do artigo 2º e artigo 13º), a Lei 159/99 desenvolve, mais adiante, o elenco de competências/poder que cabem aos municípios por

cada uma das atribuições;

• Equipamento rural e urbano – artigo 16º;

• Energia – artigo 17º;

• Transportes e comunicações - artigo 18º;

• Educação - artigo 19º;

• Património, cultura e ciência - artigo 20º;

• Tempos livres e desporto - artigo 21º;

• Saúde - artigo 22º;


• Acção social - artigo 23º;•

• Habitação - artigo 24º;•

• Protecção civil - artigo 25º;•

• Ambiente e saneamento básico - artigo 26º;•

• Defesa do consumidor – artigo 27º;•

• Promoção do desenvolvimento - artigo 28º;•

• Ordenamento do Território e urbanismo - artigo 29º;•

• Polícia municipal - artigo 30º;•

• Cooperação externa - artigo 31º.


A transferência para os municípios de cada uma das competências/poder previstas neste

conjunto de artigos acha-se concretizada ora na Lei 169/99, de 18 de Setembro, ora em

diplomas avulsos, embora nem todas tenham ainda sido objecto de transferência


As competências/orgânicas acham-se repartidas, na Lei 169/99, entre:

a) A assembleia municipal (AM) – artigo 53º;

b) A câmara municipal (CM) – artigo 64º;

c) O presidente da câmara municipal (PCM):

i. Competências próprias do PCM – artigo 68º;ii. Competências do PCM delegadas pela CM – artigo 65º; iii. Outros artigos do mesmo diploma atribuem ao PCM

competências avulsas;


Existe ainda um conjunto de órgãos de natureza mista (Consultiva/deliberativa) e composição variada

(representantes municipais + representantes locais):

a) Conselho Municipal de Segurança (L 33/98, de 18 de Julho);b) Conselho Municipal de Educação (DL 7/2003, de 15 de

Janeiro);c) Conselho Local de Acção Social (P 396/2007, de 2 de Abril,

com a redacção da P 285/2008, de 10 de Abril);d) Conselho Municipal de Protecção Civil (L 65/2007, de 12 de

Novembro;e) Conselho Municipal de Juventude (L 8/2009, de 18 de

Fevereiro).


Além das competências previstas nos artigos já citados da Lei 169/99, de 18 de

Setembro, outras existem que são avulsamente atribuídas à AM, à CM e ao PCM pelos diplomas que concretizam a transferência de competências/poder

para os municípios


Esta ultima legislação encontra-se em permanente mutação, seja pela crescente descentralização nas

autarquias de competências que até agora pertencem à Administração Central, seja pela

também crescente introdução de regimes simplificados que reduzem a intervenção dos

entes administrativos (nomeadamente autárquicos) nos processos de licenciamento.


Importa ainda não olvidar que o legislador parece ter optado (ao abrigo do nº 3 do artigo 6º da Lei 159/99,

de 14 de Setembro), em alguns casos, pela transferência contratualizada de competências, o que significa que, nestes casos, também releva a

vontade da autarquia em receber (ou não receber) as competências objecto desse regime.


As competências da AM repartem-se entre:

a) Competências que podem ser exercidas por iniciativa própria (nº 1 do artigo 53º);

b) Competências que têm que ser exercidas com base em propostas apresentadas pela CM (nºs 2, 3 e 4 do artigo 53º);

c)Competências ditas de funcionamento que se repartem entre:


i. Presidente da Assembleia Municipal (PAM) –artigo 54º;

ii. Mesa da Assembleia Municipal (MAM) – artigo 46º-A;

iii. Secretários da Mesa da Assembleia Municipal (SMAM) – artigo 55º;

Outros artigos do mesmo diploma atribuem ao PAM competências avulsas


As competências/orgânicas da CM

repartem-se entre:

a) Competências delegáveis no PCM – as previstas no 65º;

b) Competências não delegáveis no PCM;


O artigo 66º da Lei 169/99, de 18 de Setembro

1. Principios subjacentes:

a) Subsidariedade – artº 6º da CRP

b) Proximidade entre eleitos e eleitores

2. Delegação de competências orgânicas


Especificidades da figura de delegação de competências orgânicas

a) Cessa mediante acto de vontade do delegante

b) Cessa com o termo do mandato do delegante oudo delegado

c) Podem ser avocadas pelo delegante


Especificidades da delegação nas freguesias

a) Só podem ser delegadas competências da CM (embora inclua ascompetências do PCM necessárias ao desempenho das competências delegadas)

b) Não inclui competências da AM (poder regulamentar)

c) Não precisa de ser para todas as freguesias, nem de ser igual paratodas – tem uma natureza contratual

d) Pode implicar (ou não) a transferência de meios financeiros,técnicos e humanos

e) Não se limita às competências descritas no nº 2 do artigo 66º


f) Trata-se da transferência do exercicio decompetências/orgânicas e não da transferênciade competências/poder – isto implica que odelegante mantém uma competência de controle

g) Para que seja eficaz é necessária a autorização daAF, que pode ser posterior.


Questões que se colocam:

a) A figura de destacamento de pessoal já não existe –tem de ser substituída pela figura de contrato decedência de interesse público

b) As competências primárias do PCM não podem serdelegadas

c) Há uma competência já revogada – licença de caça

d) A natureza contratual permite que o deleganteestabeleça as condições


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