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MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL PROCURADORIA DA REPÚBLICA NO MUNICÍPIO DE BAURU Rua 13 de Maio, nº 10-93 – CEP: 17.015-270 – Fone/Fax: (014)3234-6351 – e-mail: [email protected] EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) DOUTOR(A) JUIZ(ÍZA) DA ___ª VARA FEDERAL EM BAURU - 8ª SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA DO ESTADO DE SÃO PAULO. PROCESSO 2010.61.08.001488-0 – 3ª VARA FEDERAL BAURU "(...) A legalidade normal deve ser exercida e mantida pelas autoridades constituídas pelo Estado Democrático e de Direito, afastando aqueles que, tais como os denunciados, se insurgem contra a ordem pública e criam seu próprio estado paralelo, suas próprias leis e valores, em total desrespeito aos valores sociais da dignidade da pessoa humana e do patrimônio público... 1 " Tutela Coletiva – Procedimento Preparatório nº 1.34.003.000228/2009-82 OBS: Os arquivos em PDF, mencionados ao longo desta petição inicial, referem-se aos documentos da “Operação Déjà Vu”, cujas cópias (possuem força de documento original, nos termos do art. 365, VI, CPC) digitalizadas encontram-se no CD à fl. 60 do procedimento em epígrafe, anexo à esta. O Ministério Público Federal, pelo Procurador da República que esta subscreve, no exercício de suas funções constitucionais e legais, vem, mui respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, com fundamento no art. 129, inciso III, da Constituição Federal e na Lei n.º 8.429/92, propor a presente AÇÃO CIVIL PÚBLICA DE RESPONSABILIDADE POR ATO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA 1 - Trecho da decisão proferida pelo Juiz Federal José Denilson Branco, nos autos da medida cautelar nº 2009.61.10.002024-4, em relação ao afastamento dos co-réus Vitor Aparecido Caivano Joppert, Sebastião Sérgio de Souza e Marcio Caldeira Junqueira dos cargos que ocupavam na ECT. Fonte: http://www.jfsp.jus.br/assets/Uploads/administrativo/NUCS/decisoes/2009/090310cautelarDEJAVU.pdf G:\ASCOM\2010\FEVEREIRO\AIA - 1.34.003.000228-2009-82 - Operacao Deja Vu.doc

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MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA NO MUNICÍPIO DE BAURU

Rua 13 de Maio, nº 10-93 – CEP: 17.015-270 – Fone/Fax: (014)3234-6351 – e-mail: [email protected]

EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) DOUTOR(A) JUIZ(ÍZA) DA ___ª VARA FEDERAL EM BAURU - 8ª SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA DO ESTADO DE SÃO PAULO.

PROCESSO 2010.61.08.001488-0 – 3ª VARA FEDERAL BAURU

"(...) A legalidade normal deve ser exercida e mantida pelas autoridades constituídas pelo Estado Democrático e de Direito, afastando aqueles que, tais como os denunciados, se insurgem contra a ordem pública e criam seu próprio estado paralelo, suas próprias leis e valores, em total desrespeito aos valores sociais da dignidade da pessoa humana e do patrimônio público... 1"

Tutela Coletiva – Procedimento Preparatório nº 1.34.003.000228/2009-82

OBS: Os arquivos em PDF, mencionados ao longo desta petição inicial, referem-se aos documentos da “Operação Déjà Vu”, cujas cópias (possuem força de documento original, nos termos do art. 365, VI, CPC) digitalizadas encontram-se no CD à fl. 60 do procedimento em epígrafe, anexo à esta.

O Ministério Público Federal, pelo Procurador da República que esta subscreve, no exercício de suas funções constitucionais e legais, vem, mui respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, com fundamento no art. 129, inciso III, da Constituição Federal e na Lei n.º 8.429/92, propor a presente

AÇÃO CIVIL PÚBLICA DE RESPONSABILIDADE POR ATO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA

1 - Trecho da decisão proferida pelo Juiz Federal José Denilson Branco, nos autos da medida cautelar nº 2009.61.10.002024-4, em relação ao afastamento dos co-réus Vitor Aparecido Caivano Joppert, Sebastião Sérgio de Souza e Marcio Caldeira Junqueira dos cargos que ocupavam na ECT.

Fonte: http://www.jfsp.jus.br/assets/Uploads/administrativo/NUCS/decisoes/2009/090310cautelarDEJAVU.pdf

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Procuradoria da República no Município de Bauru-SP

em face de:

ANTONIO LUIZ VIEIRA LOYOLA, brasileiro, casado, empresário, portador do RG nº 2421107 – RJ, inscrito no CPF/MF sob o nº 180.839.867-04, nascido em 02/10/1947, residente na Rua Dr. Guilherme da Silva, 397, ap. 21, Cambuí, Campinas/SP (fls. 04/05 – procedimento em anexo);

DANIEL DE BRITO LOYOLA, brasileiro, solteiro, bancário, portador do RG nº 34382484-X SSP/SP, inscrito no CPF/MF sob o nº 297.337.768-40, nascido em 14/02/1982, residente na Alameda Jaú, 600, ap. 61, Jardins, São Paulo/SP (fl. 05 – procedimento em anexo);

ALEX KARPINSCKI, brasileiro, casado, empresário, portador do RG nº 5.548.946 SSP/SP, inscrito no CPF/MF sob o nº 805.511.308-49, nascido em 28/11/1955, residente na Rua Iris Leonor, 36, Parque Mandaqui, São Paulo/SP (fl. 04 – procedimento em anexo);

DAMIANO JOÃO GIACOMIN, brasileiro, casado, gerente administrativo, portador do RG nº 9.424.765 SSP/SP, inscrito no CPF/MF sob o nº 571.979.898-68, nascido em 19/08/1949, residente na Rua Ailson Simões, 612, Jd. Cupecê, São Paulo/SP (fl. 05 – procedimento em anexo);

MARCELO COLUCCINI DE SOUZA CAMARGO, brasileiro, separado, advogado, portador do RG nº 28.919.031-9 SSP/SP, inscrito no CPF/MF sob o nº 266.803.958-44, nascido em 16/10/1977, residente na Rua Jacarepaguá, 365, Campinas/SP (fl. 07 - procedimento em anexo);

VITOR APARECIDO CAIVANO JOPPERT, brasileiro, casado, empregado público federal da Empresa de Correios e Telégrafos - ECT, Diretor Regional dos Correios São Paulo-Interior (Bauru), à época dos fatos, portador do RG nº 4.902.538-7 SSP/SP, inscrito no CPF/MF sob o nº 544.408.908-49, nascido em 10/07/1951, residente na Alameda Bem-te-vis, 245, Condomínio Residencial Jardim Cedro, São José do Rio Preto/SP (fl. 06 – procedimento em anexo);

MARCIO CALDEIRA JUNQUEIRA, brasileiro, casado, empregado público federal da Empresa de Correios e Telégrafos - ECT, Coordenador Regional de Negócios dos Correios em Bauru, à época dos fatos, portador do RG nº 295315 SSP/RO, inscrito no CPF/MF sob o nº 47088095653, nascido em 02/03/1962, residente na Rua Oliciar de Oliveira Guimarães, quadra 12, 71, Jardim América, Bauru/SP (fls. 05/06 – procedimento em anexo);

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SEBASTIÃO SÉRGIO DE SOUZA, brasileiro, solteiro, empregado público federal da empresa de Correios e Telégrafos – ECT, Gerente da Região Operacional dos Correios em Sorocaba, à época dos fatos, portador do RG nº 16402632 SSP/SP, inscrito no CPF/MF sob o nº 069.832.188-09, nascido em 11/09/1966, residente na Rua Professor Altamir Gonçalves, 79, Jd. Gonçalves, Sorocaba/SP (fl. 06 – procedimento em anexo);

HELENA AQUEMI MIO, brasileira, divorciada, empregada da empresa de Correios e Telégrafos – ECT, responsável pela Gerência de Atendimento dos Correios da Diretoria Regional São Paulo-Interior - GERAT (Bauru), à época dos fatos, inscrita no CPF/MF sob o nº 01578514860, residente na Rua Bandeirantes, 7-39, Bauru/SP (CD à fl. 67 – Arquivo: Processo Digitalizado - 5º Sub-Rel Helena – fl. 106).

pelos fundamentos de fato e de direito a seguir consubstanciados:

Conforme será demonstrado, os réus, de forma deliberada e com plena consciência da ilicitude de seus atos, valeram-se dos cargos públicos que ocupavam ou de sua posição de contratados da administração pública, ou ainda de informações privilegiadas obtidas irregularmente, para praticar atos de improbidade administrativa, os quais serão aqui devidamente especificados.

1. DA LEGITIMIDADE PASSIVA

A Lei 8.429/92 utiliza um conceito amplo de agente público, de forma a abranger tanto os servidores públicos como aqueles que mantém apenas um vínculo transitório com a administração ou mesmo não mantenham qualquer vínculo, mas concorram ou se beneficiem da prática do ato de improbidade:

“ LEI Nº 8.429, DE 2 DE JUNHO DE 1992.

Art. 1° Os atos de improbidade praticados por qualquer agente público, servidor ou não, contra a administração direta, indireta ou fundacional de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios, de Território, de empresa incorporada ao patrimônio público ou de entidade para cuja criação ou custeio o erário haja concorrido ou concorra com mais de cinqüenta por cento do patrimônio ou da receita anual, serão punidos na forma desta lei.Parágrafo único. Estão também sujeitos às penalidades desta lei os atos de improbidade praticados contra o patrimônio de entidade que receba subvenção, benefício ou incentivo, fiscal ou creditício, de órgão público bem como daquelas para cuja criação ou custeio o erário haja concorrido ou concorra com menos de cinqüenta por cento do patrimônio ou da receita anual, limitando-se, nestes casos, a sanção patrimonial à repercussão do ilícito sobre a contribuição dos cofres públicos.Art. 2° Reputa-se agente público, para os efeitos desta Lei, todo aquele que exerce, ainda que transitoriamente ou sem remuneração, por eleição, nomeação, designação, contratação ou qualquer outra forma de investidura ou vínculo, mandato, cargo, emprego ou função nas entidades mencionadas no artigo anterior.” (grifo nosso)

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Pois bem, os co-réus Vitor Aparecido Caivano Joppert, Marcio Caldeira Junqueira, Sebastião Sérgio de Souza e Helena Aquemi Mio são ocupantes efetivos de cargos públicos (funcionários/empregados da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos - ECT), portanto inafastável a legitimidade para figurar no polo passivo da presente ação.

Em relação aos co-réus Antonio Luiz Vieira Loyola, Daniel de Brito Loyola, Alex Karpinscki, Damiano João Giacomin e Marcelo Coluccini de Souza Camargo, a legitimidade passiva está caracterizada diante do que estabelece o artigo 3º da Lei 8.429/92: “As disposições desta lei são aplicáveis, no que couber, àquele que, mesmo não sendo agente público, induza ou concorra para a prática do ato de improbidade ou dele se beneficie sob qualquer forma direta ou indireta.” (grifo nosso)

2. DA PROVA EMPRESTADA

Prova emprestada, segundo Fernando da Costa Tourinho Filho 2, pode ser definida como “aquela colhida num processo e trasladada para outro”.

Pois bem, faz-se necessário demonstrar, de forma cabal, a possibilidade de utilização da prova emprestada (extraída do juízo criminal para utilização na seara cível), mormente a ligada à interceptação telefônica, haja vista que esse meio de prova será bastante utilizado nesta ação.

O art. 5º, inciso XII, da Carta Magna, dispõe:

“Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

(...)

XII - é inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações telegráficas, de dados e das comunicações telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins de investigação criminal ou instrução processual penal” (grifo nosso)

Interpretando-se literalmente o teor do dispositivo constitucional transcrito, conclui-se que a interceptação telefônica só pode se realizada se existir autorização judicial, desde que o desiderato esteja relacionado à investigação criminal ou à instrução processual penal. No entanto, a referida interpretação não é acolhida pela doutrina e jurisprudência.

Com efeito, Alexandre de Moraes 3, sobre esse tema, diz:

“(...) Ressalte-se, ainda, que limitação constitucional à decretação de interceptações telefônicas somente no curso de investigações criminais ou instruções processuais penais, não impede a possibilidade de sua utilização no processo civil, administrativo, disciplinar, extradicional ou político-administrativo como prova emprestada, aproveitando-se os dados obtidos por meio de interceptação

2 - TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Manual de Processo Penal. 7. ed. São Paulo: Saraiva, 2005. 505 p.

3 - MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 22. ed. São Paulo: Atlas, 2007. 55 p.4

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telefônica regularmente determinada pela autoridade judicial; uma vez que, conforme salientou o Ministro Cezar Peluso, “não é disparatado sustentar-se que nada impedia nem impede, noutro procedimento de interesse substancial do mesmo Estado, agora na vertente da administração pública, o uso da prova assim produzida em processo criminal.” (grifo nosso)

Nessa esteira de entendimento, o posicionamento do Pretório Excelso:

“EMENTA: PROVA EMPRESTADA. Penal. Interceptação telefônica. Escuta ambiental. Autorização judicial e produção para fim de investigação criminal. Suspeita de delitos cometidos por autoridades e agentes públicos. Dados obtidos em inquérito policial. Uso em procedimento administrativo disciplinar, contra outros servidores, cujos eventuais ilícitos administrativos teriam despontado à colheira dessa prova. Admissibilidade. Resposta afirmativa a questão de ordem. Inteligência do art. 5º, inc. XII, da CF, e do art. 1º da Lei federal nº 9.296/96. Precedente. Voto vencido. Dados obtidos em interceptação de comunicações telefônicas e em escutas ambientais, judicialmente autorizadas para produção de prova em investigação criminal ou em instrução processual penal, podem ser usados em procedimento administrativo disciplinar, contra a mesma ou as mesmas pessoas em relação às quais foram colhidos, ou contra outros servidores cujos supostos ilícitos teriam despontado à colheita dessa prova . (Inq 2424 QO-QO, Relator(a): Min. CEZAR PELUSO, Tribunal Pleno, julgado em 20/06/2007, DJe-087 DIVULG 23-08-2007 PUBLIC 24-08-2007 DJ 24-08-2007 PP-00055 EMENT VOL-02286-01 PP-00152) “ (grifo nosso)

Da análise do julgado da Corte Suprema, tem-se presentes os pressupostos para a legítima utilização da prova emprestada, conforme bem exposto por Rogério Pacheco Alves 4:

“Do voto do relator, Min. Cezar Peluso, é possível extrair algumas premissas e condições à admissibilidade do empréstimo, que podem ser assim resumidas:

a. Não se deve confundir produção e uso processual da prova, sendo a primeira admitida, em se tratando de interceptação telefônica, apenas no campo do processo penal, o que não impede o uso dos elementos da interceptação em processos de outra natureza;

b. torna-se possível o uso da interceptação, por empréstimo, em instância administrativa ou judiciária, relativamente à prova do mesmo fato apurado no campo criminal;

c. tal possibilidade de uso somente estará afastada nas hipóteses de fraude, ou seja, quando a interceptação tiver sido dolosamente obtida no juízo criminal;

d. não tem propósito argüir vício do empréstimo pois se cuidaria “...apenas de tirar da mesma fonte de prova, sem outra ofensa qualquer à intimidade já devassada do agente, a capacidade, que lhe é ínsita, de servir de meio de convencimento da existência do mesmo fato...”;

e. deve-se observar o contraditório;

f. o mesmo interesse público que autoriza a produção da prova na esfera criminal “... reaparece, com gravidade só reduzida pela natureza não criminal do ilícito administrativo, com gravidade só reduzida pela natureza não criminal do ilícito administrativo e das respectivas sanções, como legitimante desse uso na esfera não criminal, segundo avaliação e percepção de sua evidente supremacia no confronto com o direito individual à intimidade”;

4 - GARCIA, Emerson; ALVES, Rogério Pacheco. Improbidade Administrativa. 4. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2008. pp. 721-722

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g. a possibilidade de empréstimo da interceptação deve ser reservada a hipóteses de extrema gravidade;

h. o dever de sigilo deve ser mantido pelo órgão destinatário da prova emprestada.

Tal precedente, por provir da mais elevada Corte de Justiça, mostra-se plenamente aplicável ao campo da improbidade administrativa, servindo de importante reforço ao combate à corrupção...” (grifo nosso)

Vê-se, portanto, que não há dúvidas em relação à possibilidade de utilização da prova emprestada (elementos probatórios extraídos da investigação conduzida pela Polícia Federal, denominada Operação “Déjà Vu”) na presente ação.

Registre-se, por derradeiro, que o juízo da 1ª Vara Federal de Sorocaba/SP deferiu o pedido (Processo nº 2007.61.10.002128-8 - fls. 1220/1228; PDF – fls. 304/312) formulado pelo Ministério Público Federal, autorizando o compartilhamento de todas provas colhidas na investigação criminal para utilização em procedimentos cíveis, inquéritos civis públicos e ações civis públicas, notadamente de improbidade administrativa. Tal autorização foi concedida de forma extensiva a todas as provas, informações e documentos obtidos no Inquérito Policial nº 2008.61.10.007491 - 18-074/2007 (Operação “Déjà Vu”), bem como nas medidas cautelares dele decorrentes (2008.61.10.007491-1 - Medidas Assecuratórias; 2007.61.10.001361-9 - Pedido de Quebra de Sigilo de Dados).

3. DAS MEDIDAS ADOTADAS PELA PRM-BAURU/SP

A apuração dos fatos na Procuradoria da República no Município de Bauru/SP tem origem no Procedimento Preparatório nº 1.34.003.000228/2009-82 (fls. 01/02 – procedimento em anexo), instaurado após o recebimento do OFÍCIO/PRM/SOROCABA Nº 824/09, enviado pela Procuradora da República Elaine Cristina de Sá Proença (fl. 03 – procedimento em anexo):

“Tenho a honra de me dirigir a Vossa Excelência, a fim de encaminhar cópia da denúncia oferecida nos autos do Inquérito Policial nº 2007.61.10.002128-8, bem como CD-ROM contendo cópias digitalizadas de documentos referentes à Operação “Déjà Vu”, para eventuais providências relativamente a atos de improbidade administrativa...”

Cópia da denúncia oferecida na 1ª Vara Federal da Subseção Judiciária de Sorocaba/SP (Processo nº 2007.61.10.002128-8) em face de Antonio Luiz Vieira Loyola, Daniel de Brito Loyola, Alex Karpinscki, Damiano João Giacomin, Marcelo Coluccini de Souza Camargo, Vitor Aparecido Caivano Joppert, Marcio Caldeira Junqueira e Sebastião Sérgio de Souza, todos co-réus nesta ação, às fls. 04/59 (procedimento em anexo).

CD com cópias digitalizadas dos documentos concernentes à Operação “Déjà Vu” à fl. 60 (procedimento em anexo).

Oficiou-se ao Departamento de Controle Disciplinar da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) requisitando cópia dos processos

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disciplinares/sindicâncias instaurados em relação empregados da ECT envolvidos na Operação “Déjà Vu” (fls. 64/65 – procedimento em anexo).

Em resposta, Francisco Gomes da Silva, Chefe do Departamento de Controle Disciplinar, informou (fl. 66 – procedimento em anexo):

“Em atenção ao Ofício nº 1599/2009, encaminhamos a V. Senhoria mídia (em dois Cds) contendo os arquivos relativos às Sindicâncias instauradas pelas Portarias número PRT/PRESI-210 e PRT/PRESI-219/2008.

Esclarecemos que a Portaria PRT/PRESI-210/2008 apurou irregularidades na área de licitação (Núcleo Brasília), relativamente à conduta funcional do empregado da ECT, enquanto que a PRT/PRESI-219/2008 apurou as responsabilidades dos empregados mencionados na Operação Dèjá Vu da Polícia Federal (núcleo Sorocaba no que se refere a franqueadas).”

CD enviado pela ECT à fl. 67 (procedimento em anexo).

Enviou-se cópia da denúncia encartada às fls. 04/59 ao Ministério Público do Trabalho para adoção das medidas cabíveis no âmbito da Justiça do Trabalho, haja vista que os co-réus Vitor Aparecido Caivano Joppert, Marcio Caldeira Junqueira e Sebastião Sérgio de Souza ingressaram com ações trabalhistas visando anular as sindicâncias/procedimentos administrativos instaurados pelos Correios (fls. 69/70 – procedimento em anexo).

4. DA OPERAÇÃO “DÉJÀ VU”

4.1. Introito

Averbe-se, inicialmente, que a operação em análise, deflagrada pela Polícia Federal, recebeu o nome “Déjà Vu”(expressão de origem francesa), porquanto as fraudes em licitações eram semelhantes às que foram investigadas em 2005 envolvendo o ex-chefe de Contratação dos Correios Maurício Marinho, que acabou detonando o escândalo do mensalão.5

Repise-se que a Operação “Déjà Vu”, cuja finalidade, em princípio, era apurar a aquisição irregular de Agências Franqueadas dos Correios, no decorrer das investigações ganhou proporções incomensuráveis, tendo em vista que diversos crimes foram descobertos, de tal sorte que a própria Polícia Federal chegou a dizer que: “não é nosso objetivo, no momento, buscar novas fraudes, pois acreditamos que agindo assim jamais chegaríamos a um desfecho da operação em curso” (Processo nº 2007.61.10.001361-9 - fl. 1437; PDF – fl. 49).

Dessa forma, para facilitar a apreciação dos fatos em tela, a Operação “Déjà Vu” será dividida em três vertentes (Aquisição de Agências Franqueadas, Descaminho e Migração Ilegal de Postagens), sendo que apenas uma delas (Aquisição de Agências Franqueadas) refere-se aos fatos que são objetos desta 5 Vide: http://oglobo.globo.com/pais/mat/2008/10/30/pf_combate_fraude_em_licitacoes_nos_correios-586185788.asp – Acesso aos 08/02/2010

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ação, no entanto, é importante citar brevemente as outras duas, pois além dos fatos estarem ligados e serem graves, um dos co-réus (Antonio Luiz Vieira Loyola) possui participação ativa em todas elas, o que ajudará a demonstrar a sua intenção inequívoca de praticar atos de improbidade administrativa.

Digno de registro, outrossim, apesar de não ser objeto desta ação, é uma outra vertente da Operação “Déjà Vu”, ligada à fraudes envolvendo licitações 6:

“Operação Déja Vu desmonta esquema de desvio de R$ 21 milhões da União

JB Online

[11:48] - 30/10/2008

RIO - A Polícia Federal desencadeou na manhã desta quinta-feira a Operação Déjà Vu para desmontar um esquema de fraudes em licitações que resultaram em prejuízos de R$ 21 milhões à Administração Pública Federal.

Estão sendo cumpridos, 43 mandados de busca e apreensão e 19 de prisão temporária em São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Distrito Federal. Os mandados foram expedidos pela Justiça Federal.

As investigações começaram em janeiro de 2007 para apurar irregularidades na venda/transferência de agências franqueadas dos Correios. Foram colhidas provas da atuação de uma quadrilha que fraudava a empresa na ordem de 30 milhões/ano. O grupo contava com a participação de funcionários do órgão.

Outro golpe descoberto transferia ilegalmente serviços de postagens de grandes clientes para uma específica franquia, privilegiando o interesse particular. Surgiram, ainda, elementos contundentes de que uma quadrilha vinha cometendo crimes de descaminho na cidade de Campinas (SP). Apurou-se que uma família que possui uma loja de artigos de luxo situada em bairro nobre da cidade trazia os produtos dos Estados Unidos sem o devido pagamento de impostos.

A apuração de fraudes em procedimentos licitatórios realizados nos Correios e no INCRA para aquisição de equipamentos e soluções em Tecnologia da Informação – TI ocasionou o desmembramento das investigações para a Superintendência Regional da Polícia Federal em Brasília.

Os investigados estão sendo investigados pelos crimes de extorsão, tráfico de influência, corrupção ativa e passiva, advocacia administrativa, formação de quadrilha, falsidade ideológica, descaminho, dentre outros.”

4.2. Agências Franqueadas

Antes de discorrer sobre o mérito da presente ação, faz-se mister tecer breves considerações sobre as Agências de Correios Franqueadas (ACF), pois os atos de improbidade administrativa perpetrados pelos co-réus envolvem os referidos estabelecimentos.

Como bem aduzido no Relatório Final da CPMI dos Correios (fls. 386/387 – Volume I – Relatório Final da CPMI dos Correios) 7:

6 - http://jbonline.terra.com.br/extra/2008/10/30/e301016996.html7 - http://www.cpmidoscorreios.org.br/relatorios/Final%20Vol1.pdf

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“A partir de 15/09/1990, os Correios passaram a firmar contratos administrativos sem licitação com particulares interessados em operar agências postais. Esses contratos foram denominados Contratos de Franquia Empresarial (CFE) e deram origem a todas as Agências dos Correios Franqueadas (ACFs) existentes nos dias atuais.

O TCU, em 21/9/1994, por meio da Decisão 601/94-Plenário, determinou à ECT que adotasse as providências necessárias ao exato cumprimento das normas e princípios norteadores das contratações efetivadas por entes da Administração Pública, mormente os arts. 37, inciso XXI, e 175, "caput", da Constituição Federal, bem assim dos dispositivos da Lei 8.666/93, que regulamenta o instituto da licitação. Destaca-se que tal determinação foi somente para as novas franquias, pois a Decisão 721/94- Plenário, de 30/11/1994, excetuou as Agências dos Correios Franqueadas – ACFs já existentes, como também ressalvou as ACFs que estavam na fase de concretização dos contratos.

Após a origem da rede franqueada em 1990, mesmo havendo sinalização do TCU da obrigação de licitar, ocorreu uma sobrevida desses contratos iniciais por meio dos seguintes instrumentos normativos:

A Medida Provisória 1.531-18, de 29/4/1998 estendeu a validade das ACFs até 31/12/1999.

A transformação da Medida Provisória 1.531-18 na Lei 9.648/98 estabeleceu que os contratos de franquia teriam a data limite de 31/12/2002.

A Lei 10.577, publicada em 27/11/2002, prorrogou os contratos realizados sem licitação com as Agências dos Correios Franqueadas por mais cinco anos.

Em resumo, a partir de 1990, foram realizadas contratações sem licitação pela ECT. Em 1994, o TCU determinou que as novas franquias somente fossem concedidas mediante licitação. Esta atitude moralizante do Tribunal não teve o efeito desejado, pois os Contratos de Franquia Empresarial – CFE foram prorrogados (Lei 9.648/98 e Lei 10.577/2002). As prorrogações e a Decisão 721/94-Plenário possibilitaram também que os proprietários das franquias vendessem suas cotas da sociedade para terceiros, prática denominada mudança de titularidade ou alteração de composição societária.”

Ante a inércia da ECT e da União no que tange à realização de licitação para a terceirização dos serviços postais em substituição às Agências de Correios Franqueadas – ACF, o Ministério Público Federal ajuizou ação civil pública (Processo nº 2007.34.00.042990-2 - 4ª Vara da Seção Judiciária de Brasília/DF) tendo como escopo regularizar a situação através do cumprimento do disposto no art. 175 da Carta Magna 8.

Houve pedido de liminar, no qual pugnou-se por diversas providências, dentre elas, a extinção dos contratos sem licitação e a realização de certame para terceirização dos serviços postais, todavia, o pleito foi indeferido em primeiro grau de jurisdição.

Em face da relevância e urgência do caso em testilha, interpôs-se agravo de instrumento, o qual recebeu provimento, conforme verifica-se na ementa a seguir transcrita:

“AGRAVO DE INSTRUMENTO. CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. SERVIÇO POSTAL. FRANQUIAS. RENOVAÇÃO DOS CONTRATOS. LICITAÇÃO.1. Não pretendendo o Ministério Público Federal a declaração de inconstitucionalidade de lei em tese (MP403/2008, convertida na Lei 11.668/2008), mas a condenação da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos a adotar as providências necessárias para

8 - Art. 175. Incumbe ao Poder Público, na forma da lei, diretamente ou sob regime de concessão ou permissão, sempre através de licitação, a prestação de serviços públicos.

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a extinção dos contratos de franquia em vigor celebrados sem licitação (contratos concretamente identificáveis, em número certo), rejeita-se a preliminar de inadequação da ação civil pública.2. Inexistente o argüido litisconsórcio passivo necessário, a demandar a citação de cada uma das atuais agências franqueadas, porquanto não se pleiteia a declaração de nulidade de cada um dos contratos, caso em que as conseqüências da sentença retroagiriam ao início de cada relação contratual. O pedido é de extinção dos contratos atuais após a assunção dos serviços pela ECT ou celebração dos novos contratos com as empresas vitoriosas da licitação. As atuais franqueadas não têm direito à indefinida continuidade do contrato e nem sequer à manutenção do contrato pelo prazo fixado no parágrafo único do art. 7º, da Lei 11.668/2008, como prazo máximo para as novas contratações precedidas de licitação. O mero interesse econômico (interesse na demora da licitação) que não as habilita a intervir no feito.3. Não é lícito facultar, por meio do instituto da franquia - e por tempo indeterminado -, o desempenho de atividades auxiliares pertinentes ao serviço postal prestado nos segmentos de varejo e comercial, sem prévia licitação, mediante simples autorização da ECT. Precedente do Supremo Tribunal Federal.4. Agravo de instrumento a que se dá provimento.(AG 2008.01.00.000838-9/DF, Rel. Desembargadora Federal Maria Isabel Gallotti Rodrigues, Sexta Turma,e-DJF1 p.112 de 13/10/2008)”

Inconformada com a decisão, a UNIÃO formulou pedido de suspensão de tutela antecipada ao E. Superior Tribunal de Justiça, sob o arnês de que a decisão da 6ª Turma do C. TRF da 1ª Região “colocaria em risco a continuidade na prestação dos serviços postais em âmbito nacional, tendo em vista que as agências franqueadas representariam cerca de vinte e cinco por cento da oferta de postos de atendimento nas áreas de maior concentração populacional”.

Por entender que a questão em comento possui natureza constitucional, o Tribunal da Cidadania remeteu o caso para aferição da Suprema Corte.

O Presidente do STF, Ministro Gilmar Mendes, acolheu o pedido (Suspensão de Tutela Antecipada nº 335) 9 sob o argumento de que “a Lei nº 11.668/2008, em seu art. 7º, parágrafo único, determinou a substituição dos contratos de franquia em vigor (não precedidos de licitação), em um prazo máximo de vinte e quatro meses, contados da regulamentação do referido diploma legal, o que ocorreu com a edição do Decreto nº 6.339, em 10 de novembro de 2008”.

Com base nas razões mencionadas, o Ministro determinou a suspensão dos “efeitos do acórdão prolatado pela Sexta Turma do Tribunal Regional Federal da 1ª Região, nos autos do Agravo de Instrumento nº 2008.01.00.000838-9, até o dia 10 de novembro de 2010 ou até o trânsito em julgado da decisão final do processo principal, se este ocorrer antes da data fixada”.

Feitas essas sucintas considerações, analisar-se-á, em seguida, os fatos que são objetos desta ação, bem como as vertentes da Operação “Déjà Vu”.

4.3. Histórico da Operação “Déjà Vu” - Aquisição ilícita de ACF's

As investigações tiveram início a partir do inquérito policial nº 18-074/2007, instaurado em virtude da notitia criminis fornecida por Paulo Rodrigues

9 - http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/noticiaNoticiaStf/anexo/sta335.pdf10

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(Processo nº 2007.61.10.002128-8 - fls. 02/04; PDF – fls. 06/08), proprietário da Agência Franqueada 31 de Março (Votorantim/SP), à Polícia Federal de Sorocaba/SP.

As informações prestadas por Paulo Rodrigues encontram-se no termo de declarações lavrado em 24/01/2007, veja-se (Processo nº 2007.61.10.002128-8 - fls. 06/08; PDF – fls. 10/12):

“Na presença de seu procurador Dr José Roberto Galvão Certo, OAB/SP 107990, fone (15)3233-2414 lnquirido (a) pela Autoridade, RESPONDEU: (...) QUE a ECT freqüentemente fiscaliza as agências franqueadas visando apurar irregularidades, entretanto, ultimamente, há mais de 01 (um) ano, essa fiscalização foi intensificada na agência do declarante; QUE o declarante nunca foi penalizado em razão desses procedimentos internos realizados pela ECT, QUE em uma dessas fiscalizações, apontaram algumas irregularidades na agência do declarante, quais sejam, erro na classificação de postagem, atraso na recarga na máquina de franquia, não regularização da sociedade perante a ECT e falsificação de assinatura aposta em um termo aditivo; QUE tais irregularidades ensejaram um procedimento administrativo interno que culminou com a pena de descredenciamento da franquia, decisão que foi impugnada pelo advogado do declarante, estando no aguardo da decisão; QUE na data de hoje, o declarante recebeu em sua agência uma pessoa dizendo que tinha conhecimento do que estava ocorrendo com a agência do declarante, inclusive informando-o de que o processo de descredenciamento estava “na mesa do diretor da ECT" para ser assinado, e que tal decisão seria prolatada no dia de hoje, mas que em razão de sua influência, conseguiu "segurar"' para amanhã; QUE referida pessoa foi procurada ontem a noite por uma pessoa influente no âmbito da ECT de Bauru e que já havia sido um franqueado, mas que atualmente trabalha com intermediação de "negócios"; QUE referida pessoa disse ao declarante que havia alguém interessado em adquirir a agência pelo valor de R$ 100.000.00 (cem mil reais), sendo que a mesma é avaliada em aproximadamente R$ 600.000,00 (seiscentos mil reais); QUE tal pessoa disse ao declarante que a única saída seria vender a agência para seu "cliente", pois caso contrário perderia tudo com o descredenciamento; QUE o declarante esclarece que hoje em dia não há mais licitação para aquisição de agências, sendo que o único meio de se adquirir uma franquia seria por meio de uma compra dessas que já se encontram no mercado; QUE tal pessoa disse, outrossim, que se houvesse a venda, não haveria mais nenhum óbice para que o declarante participasse de licitações futuras, com vistas a adquirir uma nova franquia da ECT, QUE referida pessoa deixou bem claro que, em sendo realizada a venda da agência, o processo de descredenciamento não teria continuidade e não haveria mais nenhum vínculo com a ECT, mas, por outro lado, em se efetivando o descredenciamento, o declarante ainda teria outros problemas; QUE diante de tal situação, o declarante informou que entraria em contato com um advogado e depois daria uma posição; QUE comunicou o ocorrido ao seu procurador (acima mencionado) o qual entrou em contato com referida pessoa, momento em que descobriu chamar-se “karpinski”, cujos telefones são (11) 6979-3997 e (11) 9106-9404, QUE o advogado telefonou para tal pessoa e confirmou todos os fatos noticiados pelo declarante, inclusive gravando a conversa, comprometendo-se a apresentar a fita cassete para esta Autoridade Policial; QUE o declarante compareceu nesta unidade solicitando as providências de polícia judiciária pertinentes e ainda não decidiu qual será o desfecho do negócio; QUE o declarante nunca teve a intenção de se desfazer da franquia, até porque é o seu único meio de sustento; QUE o declarante possui consigo mais documentos que serão encaminhados para esta Delegacia, a fim de comprovar sua alegação, comprometendo-se, ainda, a comparecer nesta unidade para afirmar qual o deslinde do negócio.” (grifo nosso)

Posteriormente, em 30/01/2007, o Denunciante forneceu novas informações e documentos à Polícia Judiciária (Processo nº 2007.61.10.002128-8 - fls. 21/23; PDF – fls. 26/28):

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“PAULO RODRIGUES, já qualificado nos autos, reinquirido pela Autoridade respondeu: QUE o reinquirido compareceu nesta delegacia para apresentar a documentação que havia se comprometido para esta Autoridade Policial durante a audiência realizada no dia 24 p.p.; QUE a foto obtida no sítio www.bolsapaulistadenegocios.com.br e que se encontra acostada a fl. 12, refere-se à pessoa que se apresentou como ALEX KARPINSCKI; QUE neste ato o reinquirido apresenta mais 03 (tres) fitas k-7 contendo conversas telefônicas com ALEX KARPINSCKI, tendo a Autoridade Policial determinado sua apreensão; QUE o indigitado está exigindo que o pagamento de R$ 100.000,00 (cem mil reais) pelo negócio seja efetuado em dólares; QUE o reinquirido esclarece que não é possível realizar a transferência da franquia quando existe procedimento administrativo em andamento e que indagado a respeito, ALEX KARPINSCKI disse que isso não seria óbice para a negociação, tendo em vista que, no âmbito da ECT, tudo já estava resolvido; QUE o patrono do reinquirido entrou em contato com a Diretoria Regional da ECT em Bauru, obtendo a informação de que o recurso por ele interposto se encontra com uma pessoa chamada MARCELO para análise; QUE o reinquirido recebeu recentemente uma oferta de R$ 300.000,00 (trezentos mil reais) para transferência de sua franquia, a qual não foi aceita; QUE o faturamento mensal bruto da empresa gira em torno de R$ 50.000,00 (cinqüenta mil reais).” (grifo nosso)

Em virtude da existência de fortes indícios no sentido de que uma quadrilha, formada por particulares e pessoas ligadas à ECT, estaria praticando o crime de tráfico de influência (art. 332 do Código Penal), a Autoridade Policial, em 30/01/2007, formulou representação criminal visando à concessão de autorização judicial para a realização de interceptação telefônica nas linhas (011 9106-9404, 011 6979-3997 e 011 6855-6202) utilizadas por Alex Karpinscki (Processo nº 2007.61.10.001361-9 - fls. 02/06; PDF – fls. 04/08):

“ (...) No dia 24/01 do corrente ano, PAULO RODRIGUES, proprietário da ACF - AGÊNCIA DE CORREIOS FRANQUEADA 31 DE MARCO, situada em Votorantim/SP, foi procurado em sua empresa por uma pessoa que se apresentou como ALEX KARPINSCKI, o qual afirmou trabalhar com intermediação de negócios e que havia obtido informações, junto à ECT, de que sua franquia estaria na iminência de ser descredenciada em face de supostas irregularidades encontradas em fiscalização por ela efetuada.

(...)

Ocorre que, estranhamente, ALEX KARPINSCKl tinha conhecimento de tais fatos, tanto que utilizou referidos argumentos para mostrar ao declarante que o único meio de não se ver prejudicado seria alienando sua franquia, ainda que por valor irrisório, considerando o preço de mercado. 0 indigitado afirmou que possuía influência no âmbito da ECT, que já havia sido um franqueado e que tinha cognição do resultado do recurso administrativo, o qual, segundo ele, seria desfavorável a PAULO RODRIGUES. ALEX KARPINSCKI disse, outrossim, que teria condições de adiar a decisão de descredenciamento por mais um dia, prazo suficiente para o declarante decidir pelo desfecho ou não do negócio.

Diante da incomum situação, qual seja, o fato de ALEX KARPINSCKI ter ciência da existência de um procedimento interno na ECT, bem como do resultado de tal procedimento antes mesmo do interessado, imperioso concluir que o indigitado fora informado por algum servidor da citada empresa pública federal com o único propósito de locupletar-se ilicitamente com a aquisição de uma franquia a preço extremamente favorável.

(...)

Posto isso, não havendo outro meio de obter-se a prova e com o fito de efetivamente esclarecer possível crime de tráfico de influência, em tese, envolvendo funcionário da ECT, tem a presente a finalidade de, em caráter de urgência, com espeque na

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supracitada Lei no 9.296/96, art. 3º, inciso I, que regulamenta a medida prevista no artigo 5º, inciso XII, in fine, da Constituição da República, REQUERER a expedição de ordem judicial no sentido de que,

(...)

b) A empresa TELEFÔNICA providencie a INTERCEPTAÇÃO das comunicações telefônicas dos terminais telefônicos (11) 6979-3997 e (11) 6855-6202. Para sua operacionalização os técnicos deverão manter contato direto com os policiais federais antes mencionados;

C) A empresa CLARO providencie a INTERCEPTAÇÃO das comunicações telefônicas do telefone celular (11) 9106-9404. Para sua operacionalização os técnicos deverão manter contato direto com os policiais federais antes mencionados. Solicito, outrossim, que a decisão judicial alcance o número do telefone e o seu respectivo IMEI ou SERIAL do aparelho utilizado, tendo em vista a facilidade de troca do "chip"...”(grifo nosso)

Diante da necessidade de esclarecer os fatos e identificar as pessoas envolvidas nas atividades criminosas narradas pelo proprietário da Agência 31 de Março, o pedido de interceptação foi deferido aos 31/01/2007 (Processo nº 2007.61.10.001361-9 - fls. 08/10; PDF – fls. 10/12):

“(...) Havendo indícios razoáveis de materialidade e de autoria e não sendo possível produzir a prova por outros meios, imperativa a decretação da quebra de sigilo telefônico pugnada, a fim de que se possa dar continuidade às investigações, com a conseqüente apuração do delito e identificação dos co-responsáveis pela prática do crime de tráfico de influência.

Posto isso, defiro o requerido pela autoridade policial à fls. 02/06 dos autos e DECRETO a quebra de sigilo telefônico das linhas (11) 6979-3997 e (11) 6855-6202 (telefônica) e (11) 9106-9404 (Claro)...”

As primeiras interceptações comprovaram a suspeita anterior, qual seja, a existência de uma quadrilha composta por particulares e funcionários da ECT, é o que depreende-se do relato da Autoridade Policial, datado de 12/02/2007 (Processo nº 2007.61.10.001361-9 - fls. 17/23; PDF – fls. 19/25):

“(...) As investigações encetadas até o presente momento dão conta de que ALEX KARPINSCKI, após obter ilicitamente informações sigilosas sobre o processo de descredenciamento de PAULO RODRIGUES, utiliza-se de pressão psicológica e ameaças veladas para adquirir a agência de correios situada em Votorantim/SP a preço bem abaixo ao praticado no mercado, conforme se denota dos trechos de degravação constantes no relatório de inteligência policial nº 003/2007, da lavra do APF FÁBIO RIGONI DOS SANTOS.

Apurou-se, outrossim, que ANTONIO LUIS VIERA LOIOLA, conhecido apenas por "LOIOLA", possui uma franquia dos correios em Campinas e está à testa da negociata. É ele quem efetivamente pretende adquirir a agência de PAULO RODRIGUES, e, para tanto, pretende valer-se de laranjas, sendo certo que, um deles, será a pessoa de nome "DAMIANO" (provável gerente da agência de LOIOLA – ACF GRAJAÚ). 0 fato de DAMIANO ser gerente de uma agência o credencia a assumir uma franquia. Ademais, não se pode olvidar que há o interesse inconteste do verdadeiro proprietário (LOIOLA) em manter-se oculto, tendo em vista a forma pela qual esta sendo feita a negociação. Cabe registrar, por oportuno, que o causídico de PAULO RODRIGUES, Dr. JOSÉ ROBERTO GALVAO, foi procurado novamente por ALEX KARPINSCKI para a conclusão do negócio. Nessa reunião, esteve presente, além de ALEX, uma pessoa de nome ANTONIO LUIS, o qual se apresentou como o efetivo comprador da agência. As investigações apontam que referida pessoa é ANTONIO LUIS VIEIRA LOIOLA.

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Em tal reunião, o negócio não foi concluído, porém, o que mais causa espécie é que no dia seguinte, o Dr. JOSÉ ROBERTO GALVÃO recebeu uma ligação em seu celular da Sra. MÁRCIA, da ECT de Bauru, informando que o Coordenador Regional de Negócios dos Correios, o Sr. MÁRCIO CALDEIRA JUNQUEIRA, gostaria de ter uma reunião urgente com ele. Assim, o Dr. Galvão se deslocou com seu cliente até a regional em Bauru, local em que foi pressionado pelo Senhor MÁRCIO CALDEIRA JUNQUEIRA a vender a ACF de Votorantim a terceiros, sob a alegação de que não haveria mais nenhuma possibilidade de reverter a situação de descredenciamento da agência. Diante dessa incrível coincidência, suspeita-se que LOIOLA tenha contatado MÁRCIO após perceber que o Dr. GALVÃO ainda não estava completamente convencido de que deveria vender a agência de seu cliente.

0 período autorizado das interceptações telefônicas em curso foi implementado em 31 de janeiro p.p., e se encontra em vias de esgotamento - dia 14 de fevereiro - pelo que, com espeque no Relatório de Inteligência Policial em anexo, vislumbramos interesse na manutenção desse meio investigativo, porquanto os telefones interceptados encontram-se na posse de ALEX KARPINSCKI, o qual faz parte da sobredita organização criminosa.

Com efeito, as conversas interceptadas durante o período autorizado pela Justiça confirmam toda pressão que vem sendo experimentada por PAUL0 RODRIGUES, além de haver indícios de que ANTONIO LUIS VIERIA LOIOLA exerce forte influência na ECT de Bauru, notadamente sobre MÁRCIO CALDEIRA JUNQUEIRA...” (grifo nosso)

Impende consignar, por oportuno, alguns trechos dos diálogos interceptados entre 31/01/2007 e 14/02/2007, os quais ratificam as assertivas da Autoridade Policial (Processo nº 2007.61.10.001361-9 - fls. 24/29; PDF – fls. 26/30):

"FITA: Correio 25/01/07"JOSÉ Roberto Galvão X ALEX- ALEX fala: "vamos dizer que sim. Neste momento é isso”. E fala das conseqüências do Paulo continuar com o processo. Que ele depende de produtos pra a agência funcionar, e que “eles recolhem tudo isso aí e não liberam mais nada para ele”. Que "ele morre por asfixia”. Que está numa cidade pequena, isolada, e que não goza de um bom conceito junto aos outros franqueados da região, e que ninguém vai querer ajudá-lo.

- Em 05/02/2007 - Índice: 7044958LOIOLA diz que falou com VITOR (correio de Bauru/SP - central), e que ele disse que pode entrar com o pedido de transferência da agência (Votorantim/SP), sem a documentação estar completa. Fala ainda que ("uma novidade”) “o advogado do cara" (José Robeto), foi em Bauru na sexta. ALEX se espanta. LOIOLA diz que ele não falou com o VITOR, que o VITOR não recebeu. Diz que o advogado reclamou do valor. Diz que "é por isso que o pessoal já deve estar sabendo”. LOIOLA pergunta se ALEX falou com “o cara" hoje. ALEX diz que falou com o PAUL0 (RODRIGUES) hoje.

- Em 07/2/2007 - Índice: 7059198ALEX quer saber se LOIOLA já arrumou as pessoas (“laranjas”) para compor a “empresa”. LOIOLA diz que vai ser o "'Damiano" mesmo, e que ele liga amanhã para passar os detalhes, Que tem que ser 2 pessoas.

Com supedâneo nas informações supramencionadas, requereu-se a manutenção da interceptação das linhas telefônicas (011 9106-9404, 011 6979-3997 e 011 6855-6202) de Alex Karpinscki , bem como a implementação de interceptação em relação às linhas de Antonio Luiz Vieira Loyola (19 9113-3920 e 19 7851-2204) e de Marcio Caldeira Junqueira (14 9745-4926 e 14 3227-4337). O pedido foi deferido aos 13/02/2007 (Processo nº 2007.61.10.001361-9 - fls. 36/38; PDF – fls. 37/39).

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Em novo pedido de prorrogação/implementação de interceptação telefônica, a autoridade policial, aos 28/02/2007, aduziu que (Processo nº 2007.61.10.001361-9 - fls. 52/56; PDF – fls. 53/57):

“(...) Durante as investigações, restou demonstrado que ANTONIO LUIS VIERA LOIOLA, conhecido apenas por "LOIOLA", possui mais de uma franquia dos correios e realmente está à testa da negociata, a qual será realizada nesta data. A agência de Votorantim será adquirida por LOIOLA, mas este não aparecerá no contrato, apenas a pessoa de nome DAMIANO JOÃO GIACOMIN, o qual é gerente de uma das agências de LOIOLA e freqüentemente é utilizado como laranja em suas transações, bem como a pessoa de DANIEL, filho de LOIOLA.

Analisando os dados e as conversas telefônicas gravadas na última quinzena, denota-se, de forma cristalina, que PAULO RODRIGUES foi assaz pressionado pelos investigados, de tal sorte que outra opção não lhe restou a não ser alienar sua ACF a preço bem abaixo ao praticado no mercado.

É sobremodo importante relatar que após a implementação dos telefones de ANTÔNIO LUIZ VIEIRA LOIOLA, constatou-se que o indigitado possui forte envolvimento com VITOR, MARCUS, MARCOS e MÁRCIO, os quais possuem poder de decisão no âmbito dos Correios e se valem de conversas cifradas e telefones móveis da operadora VIVO, cadastrados em nome da EMPRESA DE CORREIOS E TELÉGRAFOS, nas cidades de Bauru, São Paulo e Brasília.

(...)

No que toca ao investigado ALEX KARPINSCKI, insta salientar que o mesmo participou ativamente do processo de venda da ACF VOTORANTIM, tendo plena cognição da atividade ilícita praticada.

Quanto ao investigado MÁRCIO CALDEIRA JUNQUEIRA, funcionário dos correios de Bauru, paira sobre ele a suspeita de que também auxiliou na negociação fraudulenta

(...)

0 período autorizado das interceptações telefônicas em curso encontra-se em vias de esgotamento pelo que, com espeque no Relatório de Inteligência Policial em anexo, vislumbramos interesse na manutenção desse meio investigativo...”

Nesse ponto, cumpre trazer à colação, os trechos mais importantes do Relatório de Inteligência que serviu de embasamento para o pleito formulado pela Polícia Federal, confira-se: (Processo nº 2007.61.10.001361-9 - fls. 57/60; PDF – fls. 01/04):

“RELATÓRIO DE INTELIGÊNCIA POLICIAL nº. 004/2007

(...) 27/02/2007(...)

- Em 14/02/2007 – índice: 712120410

Alex diz para Loiola que acha que vazou na REOP, pois Paulo recebeu uma proposta de três vezes o valor que eles estão oferecendo e Loiola diz que se ele vender para outro ele (Loiola) não deixa ele acertar a situação da ACE Alex pede orientação; Loiola diz que vai "embaçar” o negócio, diz que vai procurar o seu amigo e depois ele liga.

Loyola demonstra-se impaciente e liga mais tarde para Alex temendo perder a compra da ACF.

10 Fone: 4599232475 – ALEX KARPINSCKI – Data: 14/02/2007 – Hora: 11:44:26 – Duração: 00:02:4015

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- Em 14/02/2007 – índice: 712330811

Alex diz que está indo para Votorantim. Loiola usando linguagem em código, tentando disfarçar o que diz, fala que "O Doutor de Bauru ligou para ele agora, o médico, e que ou é este paciente, que é ele (Loiola) ou ninguém”. E que não pode falar isso para ele, que pode falar "de leve”, que é para aconselhar a fazer, que “pode ser que outro não faça”. Fala que "o cara está p da vida”, e que "o médico já estava até contando com os remédios dele" (Provavelmente Vitor ou Marcio, contato de Loiola em Bauru, receberá urna parte pela facilitação da transação), e que "o médico disse: eu mato o paciente, não quero saber" (descredencia a agência), Alex diz: "deixa comigo que eu vou lá amanhã”. E que “trocar de remédio agora é complicado”, "é fatal". Depois Alex diz que está com a documentação e que se for o caso “já faz a cirurgia” (hoje). Loiola diz que se for o caso vai amanhã e "dá o que tem que dar”. Loiola diz que é só este celular que está falando, o outro não está (possui dois).

COMENTÁRIOS DO ANALISTA DA PF:

Após Alex fala sobre a possível venda da ACF para outra pessoa, Loyola diz que entra em contato com o "Doutor de Bauru", a fim de atrapalhar o negócio. Eles falam em código, mas é possível notar que o "Doutor de Bauru" é alguém influente nos Correios e disse para Loyola que se a ACF não for vendida para este, ele descredencia-la-á. Loyola quando diz que “o médico já estava contando com os remédios”, provavelmente fala no dinheiro que a pessoa de Bauru já estava contando em receber.

- Em 15/02/2007 – Índice: 713712712

Loiola pergunta se HNI está em Bauru, e diz que já foi protocolado com o Sérgio. HNI diz que deve chegar para ele amanhã. Loiola pede para avisar se está tudo certo. HNI diz: "qualquer coisa ele vai me ligar”. Loiola dá um nome “Sebastião Sérgio de Souza" da REOP. HNI confirma: "é o Serginho”.

- Em 15/02/2007 – Índice: 713721813

Loiola diz que combinou "com o pessoal lá” (Votorantim), de assumir dia primeiro e que não sabe se vai dar tempo. HNI reafirma que assim que chegar o processo para ele, avisa. Loiola diz que dia primeiro seria um bom dia porque ... (ininteligível). HNI concorda.

- Em 15/02/2007 – Índice: 714796814

Loiola pergunta a "doutor" se "chegou o negócio”, ao que doutor responde que sim e que falta a '”firma, o nome da empresa”. Loiola diz os papéis que foram são só para dar entrada e que a empresa está sendo constituída. Doutor afirma que assim que chegar os papéis tudo estará OK, inclusive dizendo: “já pedimos uma pesquisa, já descobrimos que é seu filho e que é sua gerente...“. Loiola diz que na verdade é o seu gerente (sexo masculino). Doutor diz em seguida "a minha gerente veio contar as novidades”. Loiola também pergunta se a parte "do cara" estava tudo certo, e Doutor confirma que sim. Loiola aparentemente pronuncia o nome PAUL0 (vendedor) como sendo a pessoa quem chamou de "cara”.

COMENTÁRIOS DO ANALISTA DA PF:

Nestes contatos, Loyola fala com um homem que trabalha dentro da D.R. de Bauru, possivelmente Vitor. Este está fazendo o que pode para ajudar no trâmite da venda da ACF. Vitor utiliza um telefone de número (14) 9771-7855...”

11 Fone: 4599232475 – ALEX KARPINSCKI – Data: 14/02/2007 – Hora: 14:32:43 – Duração: 00:02:1012 Fone: 1991133920 – LOYOLA – Data: 15/02/2007 – Hora: 18:47:00 – Duração: 00:01:23 13 Fone: 1991133920 – LOYOLA – Data: 15/02/2007 – Hora: 18:54:03 – Duração: 00:01:2414 Fone: 1991133920 – LOYOLA – Data: 16/02/2007 – Hora: 19:25:46 – Duração: 00:02:16

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Registre-se que as provas/informações obtidas posteriormente comprovaram que a pessoa que, inicialmente não foi identificada, era o co-ré Vitor Aparecido Caivano Joppert, Diretor Regional dos Correios São Paulo-Interior (Bauru).

Ante o quadro exposto, a Autoridade Policial pugnou, aos 28/02/2007, pelas seguintes providências (Processo nº 2007.61.10.001361-9 - fls. 55/56; PDF – fls. 56/57):

- Manutenção da interceptação nos seguintes telefones: 11 9106-9404 (ALEX), 19 7851-2204 (LOYOLA) e 19 9113-3920 (LOYOLA).

- Implementação de interceptação nos seguintes telefones: 14 9771-7855 (VITOR), 61 9986-4200 (MARCUS), 61 7812-3860 (MARCUS), 14 9741-7291 (MÁRCIO) e 14 9905-4072 (MARCOS).

O pedido foi deferido aos 01/03/2007 (Processo nº 2007.61.10.001361-9 - fls. 69/71; PDF – fls. 13/15).

Apesar de não querer alienar a Agência 31 de Março, Paulo Rodrigues foi obrigado a vendê-la, é o que extrai-se do Relatório Parcial da Polícia Federal (Processo nº 2007.61.10.001361-9 - fls. 80/92; PDF – fls. 26/38):

“RELATÓRIO DE INTELIGÊNCIA POLICIAL nº. 005/2007

(...) 15.03.2007(...)

1 - Na questão da ACF Votorantim, a venda foi concretizada e hoje Loyola é quem administra a mesma através de seu gerente. Aparentemente, o problema da perda do "status" de ACF que deveria acontecer não ocorreu. Com a influência de Loyola na DR de Bauru, o processo foi revertido e hoje a agência está regular e registrada em nome de Daniel (filho de Loyola) e Damiano (laranja). Assim, entende-se que Alex foi o corretor da negociação e não mais é de interesse para a investigação daqui para frente, salvo no momento em aparecer outra ACF para a venda nos moldes da primeira, visto que Loyola o acionará novamente para intermediar a transação...”

Novos esclarecimentos foram prestados por Paulo Rodrigues em 10/04/2007 (Processo nº 2007.61.10.002128-8 - fls. 32/33; PDF – fls. 41/42):

“Reinquirido(a) pela Autoridade, RESPONDEU: QUE o reinquirido não teve outra opção a não ser alienar sua franquia pelo valor de R$ 118.000,00, pois sofreu forte pressão de MÁRCIO, que trabalha na D R. de Bauru e de LOYOLA, por intermédio do corretor ALEX, QUE a negociação foi realizada na cidade de Campinas, no apartamento de LOYOLA, onde o pagamento foi efetuado, sendo parte em real e parte em dólar; QUE os novos proprietários da ACF de Votorantim são DANIEL, filho de LOYOLA e Damiano, que é gerente de uma das agências de LOYOLA; QUE neste momento o reinquirido se compromete a entregar a esta Autoridade Policial toda a documentação envolvendo a negociata e confirmando suas declarações; QUE durante as trataivas, LOYOLA disse, por diversas vezes que era bem assessorado.” (grifo nosso)

Enfatize-se, neste ponto, que os documentos (4 Fitas K7 contendo os diálogos entre o causídico do Denunciante e Alex Karpinscki, 6º Termo Aditivo ao Contrato de Franquia Empresarial nº 0690/94 e Solicitação de transferência da

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titularidade de outorga da marca Correios feita por Paulo Rodrigues e Rita de Cassia Gonçalves da Silva) apresentados pelo Denunciante corroboram as suas declarações (Processo nº 2007.61.10.002128-8 - fls. 23 e 35/37; PDF – fls. 28 e 45/48).

Conforme consta do documento apresentado (6º Termo Aditivo ao Contrato de Franquia Empresarial nº 0690/94 e Solicitação de transferência da titularidade de outorga da marca Correios), a venda se deu aos 29/03/2007.

De outra banda, compulsando-se os autos da Operação “Déjà Vu”, verifica-se que há diversas transcrições de conversas entre Antonio Luiz Vieira Loyola e seus comparsas (Alex Karpinscki, Vitor Aparecido Caivano Joppert e Damiano João Giacomin) relacionadas à aquisição da ACF 31 de Março, as quais confirmam tudo o que já foi dito (Processo nº 2008.61.10.007491-1 - fls. 165/178; PDF – fls. 07/20), inclusive com detalhes acerca das peculiaridades do trâmite administrativo da transferência de citada ACF, no âmbito interno da ECT:

“OPERAÇÃO DÉJÀ VU

(...)

Maio/2008

(...)

Índice: 723299915 VITOR X LOYOLALoyola liga para VITOR, que se encontra no aeroporto embarcando para Brasília, onde terá reuniões por 2 dias, informando sobre ligação feita por Alex. Loiola posiciona que o negócio (Agência de Votorantim) esta tudo em ordem (faltando somente a negativa do INSS) e pede a VITOR para dar uma checada. VITOR diz a Loiola que estava tudo em ordem até na sexta-feira, quando o procuraram dizendo sobre outro interessado (Sorocred) que estaria disposto a pagar 3x mais. Loiola diz que o negócio já está fechado. VITOR diz que está tudo bem então e diz que depois gostaria de conversar pessoalmente com Loiola sobre a Sorocred, esclarecendo que eles são seu "4º maior cliente”, dizendo em seguida: "a gente faz um outro negócio com eles”.

Índice: 724733016 VITOR X LOYOLALoyola pede para que VITOR verifique situação da Agência de Votorantim (dívidas) para que ele possa saber antes de fechar negócio no dia de amanhã. Loiola diz que almoçou com um colega de VITOR, e diz que vai ter “aquela troca lá” depois de amanhã e que ficou sabendo de urna situação que deixou Loiola preocupado. Diz que a pessoa que está no cargo hoje foi indicada por VITOR ("a doutora”). Diz em tom jocoso: “...não vamos tirar.. vamos deixar ela lá !...(risos)...". VITOR nega e diz que não, que essa situação (de indicação) foi em “outras épocas”.

Índice: 724806417 ALEX X LOYOLALoyola diz a Alex que quer amarrar o negócio, pois tem receio de pagar e o Paulo desistir depois ou arrumar outro interessado. Eles comentam que o VITOR (Correios-Bauru) deu o OK, mas Loiola continua desconfiado. Alex diz que falou com CLÁUDIA e ela confirmou que está tudo bem, faltando apenas alguns documentos (certidão do INSS negativa de protesto). Alex diz não saber quanto tempo levará o processo em seu trâmite burocrático dentro dos Correios, tampouco se passará pelo departamento

15 Fone: 1991133920 – LOYOLA – Data: 26/02/2007 – Hora: 17:07:40 – Duração: 00:03:1816 Fone: 1991133920 – LOYOLA – Data: 27/02/2007 – Hora: 19:13:00 – Duração: 00:03:2217 Fone: 1169793997 – ALEX – Data: 27/02/2007 – Hora: 20:21:46 – Duração: 00:01:10

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jurídico. Loiola diz que ligou para uma pessoa em Brasília saber se estava tudo ok. Loiola diz que vai ligar novamente para ter certeza, inclusive em relação a possíveis pendências jurídicas. Loiola questiona pela forma de pagamento combinada e Alex diz que foi tudo à vista na posse. Por fim eles falam do episódio que Paulo ligou para Alex dizendo sobre outro interessado para comprar a Agência por R$ 300K e eles acham que pode ter sido uma jogada de Paulo. Alex disse que falou para Paulo: "..ou você fecha comigo...agora..amanhã eu não sei o que vai acontecer com você...". Alex confirma que Loiola deve fazer o pagamento de R$100K amanhã".

Índice: 724831318 VITOR X LOYOLA

Loiola liga para VITOR para se certificar se o negócio de amanhã (Votorantim) estava ok, e se já havia passado pelo jurídico. Vitor disse que estava OK e que não precisava passar pelo jurídico. Loiola pede uma sinalização para amanhã para ele fechar negócio.

COMENTÁRIOS: Durante todo o trâmite da compra, Loyola sempre encontrou suporte no Diretor Regional, Vitor. Várias das informações passadas por ele, acreditamos ser de caráter sigiloso.

Índice: 725918719 VITOR X LOYOLA16:45Loiola pede para VITOR (Correios-Bauru), a quem ele se refere como "meu chefe”, para este verificar o valor exato da dívida da ACF-Votorantim. VITOR diz a Loiola que é "mais ou menos 18 mil e pouco.. não sei certinho...”. A seguir VITOR diz que não tem como ver o valor exato, dando a entender que “pegaria mal” Loiola aparecer com este valor, pois iria transparecer a influência de Loiola dentro do Órgão. Loiola compreende e pergunta em seguida: "19 mil resolve ?”, Vitor diz : "sim, com certeza”.

Índice: 735878620

VITOR X LOYOLALoyola chama VITOR JOPPERT de "meu diretor”. Pergunta sobre a entrevista de Damiano e Daniel, se vai ser “aí” (Bauru). Fala que o "sócio falou com uma moça”, falou com o Alex, negócio legal" (outra ACF). Loyola diz que está quase certo "do homem subir”, que ontem teve reunião do Turco (Samir) com o Ministro (Hélio) e ficou tudo bem.

Índice: 746740321 VITOR X LOYOLALoiola diz que está fazendo investimentos na Agência de Votorantim e quer saber se está tudo certo. Vitor diz que pode fazer que está tudo certo. Loyola fala que reinaugurará a ACF e pergunta se Vitor poderá ir, que ele marca uma data que Vitor possa ir. Vitor diz que tudo bem. Loyola fala que o Omar realmente está cotado “para pegar lá em cima”, e pergunta o que Vitor acha. Vitor diz que "tem medo”. Que ele e um bom técnico mas que "deu uma isolada quando pegou o poder”. Loiola fala que o ruim e que ele é petista. Vitor diz que não tem nada contra, mas que "não sabe a que nível podem conversar com ele". Loiola diz: “já entendi". Falam no problema de ele não ser do PMDB e sobre a "cota do Ministro Hélio Costa". Loiola fala que vai encontrar com Vitor de qualquer jeito, “pode ficar tranqüilo".

Índice: 746896522

DAMIANO X LOYOLA

18 Fone: 1991133920 – LOYOLA – Data: 27/02/2007 – Hora: 20:21:46 – Duração: 00:01:1019 Fone: 1991133920 – LOYOLA – Data: 28/02/2007 – Hora: 16:45:28 – Duração: 00:01:4620 Fone: 1991133920 – LOYOLA – Data: 07/03/2007 – Hora: 20:07:46 – Duração: 00:02:1621 Fone: 1991133920 – LOYOLA – Data: 13/03/2007 – Hora: 19:00:39 – Duração: 00:05:0122 Fone: 1978512204 – LOYOLA – Data: 13/03/2007 – Hora: 20:46:19 – Duração: 00:05:54

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Damiano diz que "mentiram um pouco" na entrevista. Loyola diz que ficou sabendo que as entrevistadoras insistiram em saber como eles tinham conhecimento que a ACF estava à venda. Damiano diz que "escorregou mais do que sabão” e disse que ficaram sabendo no meio, no mercado. Loyola pergunta se elas "engoliram" e Damiano diz que sim e que elas falaram que a ACF estava realmente para fechar. Loyola diz: você acha que eu não sabia disso? Loyola fala que "vai acertar aquele negócio que falei contigo". Damiano aparenta temor e fala: “não estou te cobrando, por favor”.

Índice: 760359223

VITOR X LOYOLALoyola pergunta se houve alguma novidade daquele assunto e Vitor diz que nada ainda. Loyola pergunta se chegou lá e Vitor diz que não. Loyola diz que está meio apreensivo para resolver logo isso e Vitor diz que pode ficar tranqüilo. Loyola diz que precisa fazer alguns investimentos e precisa deixar tudo preparado. Vitor diz que "pode mandar pau”, pois não vai ter erro. Loyola diz que precisa informatizar e tem muita coisa velha e pergunta se “pode mandar o pau”. Vitor diz que pode e que "qualquer coisa a gente segura".

COMENTÁRIOS: Analisando-se todas as conversas acima, fica muito clara a forma que eles atuam para conseguir a compra da ACF. Loyola obtém as informações junto a Vitor e Sérgio e imediatamente contata Alex. Este tem a função de pressionar o franqueado para que se sinta sem alternativa e venda a ACF por um preço bem abaixo do mercado. Concretizado o negócio, Loyola registra a ACF em nome de “laranjas” (Damiano e Daniel). Em todas as etapas foi observada a participação de Diretores Regionais da ECT.”

Faz-se necessário, ainda, em relação à ACF 31 de Março, aduzir que Antonio Luiz Vieira Loyola utilizou, novamente, os seus contatos (Sebastião Sérgio de Souza e Vitor Aparecido Caivano Joppert ) na ECT, dessa vez, visando à obtenção de “auxílio” para mudar a sede da referida agência (Processo nº 2007.61.10.002128-8 - fls. 1091/1093; PDF – fls. 177/179):

“ (...) Evidente, dessarte, que LOYOLA é o real proprietário da ACF 31 DE MARÇO, situada em Votorantim/SP e que o valor dessa franquia supera a cifra de R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais).

Após a aquisição da franquia, LOYOLA decidiu alterar a sede das suas instalações. Para tanto, novamente precisou contar com a participação de alguns servidores da ECT, no caso, de SEBASTIÃO SÉRGIO DE SOUZA E VITOR JOPPERT.

As investigações apontam que a mudança de sede depende de autorização da estatal, mas SÉRGIO, em um dos diálogos estabelecidos com LOYOLA, afirma ser praticamente impossível obtê-la. Entrementes, de forma um tanto contraditória, na mesma conversa deixa claro que será possível obter a autorização, desde que haja a ajuda de alguns servidores da ECT, sobretudo do então Diretor Regional, VITOR JOPPERT (fls. 22/25 dos autos nº 2008.61.10.007491-1).

Considerando que o local escolhido por LOYOLA estava fora da área alvo, SÉRGIO orienta-o a fundamentar o pedido, chegando inclusive a enviar um e-mail para DANIEL LOYOLA com todos os argumentos necessários para obter a autorização da ECT.

lmportante registrar que SÉRGIO dá a entender que não é possível aprovar o processo de transferência e afirma que acha complicado explicar ao telefone, demonstrando que tem plena consciência de que está agindo em desacordo com a lei. Por tais razões, LOYOLA liga para VITOR, que se encontra em férias, e solicita que intervenha no processo de transferência do local da agência, tendo em vista que SÉRGIO está encontrando dificuldades, ao que VITOR informa que o ajudará, mais uma vez. Após, SÉRGIO liga para

23 Fone: 1991133920 – LOYOLA – Data: 22/03/2007 – Hora: 19:15:26 – Duração: 00:02:1420

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LOYOLA e o avisa que o Diretor de Bauru, VITOR, “já deu o sinal verde para a transferência física da ACF VOTORANTIM (...)".

Diante disso, ou seja, após todo o empenho dos servidores da ECT, mormente de SÉRGIO e VITOR e malgrado em total desacordo com as normas do órgão, LOYOLA consegue alcançar seu intento e mudar a sede da ACF VOTORANTIM para uma galeria, consoante se verifica das fotos de inauguração da agência, acostadas a fls. 183/184 dos autos do processo nº 2008.61.10.007491-1. Nas fotos, inclusive, é possível divisar os servidores do órgão participando da inauguração. lndagado a respeito, SEBASTIÃO SÉRGIO DE SOUZA confessou ter encaminhado a DANIEL LOYOLA os argumentos necessários para obter referida autorização (fls. 7081713, IPF 18-07412007)...”

Os diálogos interceptados demonstram de forma irretorquível todo o empenho de Sebastião Sérgio de Souza e Vitor Aparecido Caivano Joppert para Antonio Luiz Vieira Loyola lograr êxito em sua empreitada (Processo nº 2008.61.10.007491-1 - fls. 179/182; PDF – fls. 21/24):

“Índice: 810697324

SÉRGIO X LOYOLA

Loyola comenta que foram oferecidas 03 lojas em um shopping quase em frente da ACF VOTORANTIN e mostra interesse dizendo que seria “uma jóia para todo mundo” e pede a seu interlocutor para ir lá junto com ele para ver se vale a pena.

Índice: 845264825

LOYOLA X SÉRGIO

Loyola diz que acertou o negócio das 2 lojas no Shopping em Votorantim...Sérgio diz que Loyola tem de fazer um pedido colocando uma justificativa, e ele encaminha para a GERAT, com parecer favorável para poder sair... Loyola diz que está comprando o ponto da moça (Angela)...o lugar é maravilhoso e vai dar uma melhorada...

Índice: 845942826

LOYOLA X SÉRGIO

Conversam sobre o novo local em Votorantim para a ACF de Loyola...Sérgio orienta Loyola como proceder para fundamentar o pedido e facilitar o seu parecer, já que o local está fora da área alvo...

Índice: 849360927

SÉRGIO X LOYOLA

Loyola pede endereço e nome completo de Sérgio para mandar um 'sedex' para ele. São os dados: Sebastião Sérgio de Souza passa seu endereço para Loyola ir encontrá-lo: Rua Altamir Gonçalves, 160, bairro Jd Gonçalves, CEP 18016-410, Sorocaba-SP. Loyola está indo encontrá-lo neste momento em Sorocaba.

COMENTÁRIOS: Achamos muito estranho Loyola inicialmente dizer que irá mandar um SEDEX e depois ir ao encontro de Sérgio em sua residência. Logicamente ele levaria o documento pessoalmente, motivo pelo qual acreditamos que Loyola está falando de maneira cifrada. Há grande suspeita de que Loyola tenha levado algum agrado para Sérgio, mas tem receio de revelar tal fato ao telefone.

24 Fone: 1978512204 – LOYOLA – Data: 15/05/2007 – Hora: 11:40:09 – Duração: 00:04:4525 Fone: 1978512204 – LOYOLA – Data: 18/06/2007 – Hora: 15:11:04 – Duração: 00:04:3926 Fone: 1978512204 – LOYOLA – Data: 19/06/2007 – Hora: 11:36:18 – Duração: 00:04:2027 Fone: 1978512204 – LOYOLA – Data: 22/06/2007 – Hora: 14:53:19 – Duração: 00:01:13

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Índice: 855608928

SÉRGIO X LOYOLA

Serginho diz que está complicado para aprovar o processo (transferência do ponto da ACF Votorantim). Serginho acha complicado falar por telefone. Serginho diz que tem que esperar processo que está para acontecer até setembro (Licitação das ACF's).

Índice: 858965929

VITOR X LOYOLA

Loyola liga para Vitor (Diretor dos Correios em Bauru-SP), que está de férias, para intervir no processo de transferência de ponto da ACF de Votorantim, já que Serginho disse que está complicada a aprovação de tal processo (índice 8556089). Vitor diz que vai dar uma passada para verificar a situação e ajudar Loyola.

Índice: 859542530

SÉRGIO X LOYOLASérgio informa que Vitor (Diretor em Bauru) já deu o sinal verde para a transferência física da ACF Votorantim e diz que vai levar a gerente de atendimento (Helena) de Bauru em Votorantim, porque na GERAT (?) eles estavam tendo um probleminha, e vai levá-la tanto no atual endereço e na futura instalação.

Índice: 863927331

VITOR X LOYOLA

Loyola: “aquele negócio lá (transferência do ponto da ACF Votorantim) o Serginho falou que a moça está indo e 5 horas me ligava pra dar o ok”. Vitor: “não vai ter problema...ele já deve ter orientado ela, inclusive”. Loyola, depois de agradecer mais uma vez: “sabe o meu amigo da Ouro Verde, Wilson, aquele caso, a moça informou pra ele que hoje já está na sua mesa pra assinar...” Vitor fala que vai para Brasília e só na outra segunda vai chegar...

Índice: 872044032

SÉRGIO X LOYOLA

SERGIO vai fazer o parecer favorável ao LOYOLA sobre a CI. Apesar de a decisão favorável que a direção vai tomar contrariar a área técnica. Sérgio vai modificar documento que Loyola deveria fazer, para facilitar decisão dentro dos CORREIOS. Já há três casos em que a área técnica negou, mas vão fazer. SÉRGIO vai enviar pro email do DANIEL LOYOLA o parecer e o que LOYOLA deve fazer: [email protected].

COMENTÁRIOS: Apesar de o próprio Sérgio ter consciência da impossibilidade técnica da mudança da ACF Votorantim, ele afirma que não haverá problemas, pois estará ajudando para tal fato se concretizar. Sérgio se compromete a elaborar e enviar para Loyola o pedido de transferência.

Índice: 872100133

SÉRGIO X LOYOLA

Sérgio pergunta se Loyola viu (algum email com documento que Sérgio elaborou para ele sobre a transferência da ACF Votorantim) e Loyola responde

28 Fone: 1978512204 – LOYOLA – Data: 28/06/2007 – Hora: 18:34:29 – Duração: 00:03:2929 Fone: 1991133920 – LOYOLA – Data: 02/07/2007 – Hora: 11:17:05 – Duração: 00:03:0530 Fone: 1978512204 – LOYOLA – Data: 02/07/2007 – Hora: 18:25:04 – Duração: 00:03:0331 Fone: 1991133920 – LOYOLA – Data: 06/07/2007 – Hora: 14:29:14 – Duração: 00:02:4532 Fone: 1978512204 – LOYOLA – Data: 13/07/2007 – Hora: 13:46:30 – Duração: 00:03:3833 Fone: 1978512204 – LOYOLA – Data: 13/07/2007 – Hora: 14:18:57 – Duração: 00:04:55

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que ficou beleza. Sérgio diz que ainda falta completar e pergunta se Loyola tem alguma sugestão para acrescentar e este diz que achou ótimos os comentários. Sérgio diz que teve que exagerar um pouco, “pintar o diabo mais feio do que ele é”. Loyola pergunta se faz “por aqui” ou se já está feito por aí. Sérgio explica que está fazendo no seu “particular” e quando terminar Loyola assina e manda para ele como se tivesse vindo dele (Loyola). Depois disso ele diz que precisa de um contato mais estreito com Vitor, mas ele vai mandar de qualquer jeito para Helen do GERAT e ela já está avisada pelo Sérgio que Vitor autorizou tal procedimento. Sérgio diz que dia 18 terá uma reunião em Bauru e pergunta se ele irá. Loyola diz que os funcionários irão e pergunta que dia estará lá. Sérgio diz que terça estará na GERAT. Loyola diz que aí “a gente mexe lá também”.

Índice: 874965434

SÉRGIO X LOYOLA

SERGINHO mandou email pro DANIEL. (Processo de transferência da ACF de LOYOLA). SÉRGIO diz que mandou do seu email: SEBSERGIO@hotmail(.com?), e não do email dos CORREIOS, pra DANIEL ler e ver se tem sugestões e assinar, pois o ideal é que até quarta-feira esteja em BAURU, porque tem reunião lá.

Índice: 875364635

SÉRGIO X LOYOLA

Loyola vai mandar passar no Carlinhos ainda hoje, para amanhã estar com a documentação em Bauru. Serginho narra parecer favorável à mudança de endereço da ACF Votorantim de Loyola.

Índice: 880661836

SÉRGIO X LOYOLA

Sérgio diz que já está com o deferimento assinado pelo Correio autorizando a mudança da ACF de Votorantim para a Galeria.

COMENTÁRIOS: Nestas conversas, fica claro que Sérgio, Vitor e Helena (segundo Sérgio) atuaram de uma forma não oficial para beneficiar Loyola, inclusive Sérgio utilizou e-mail particular para não deixar qualquer rastro. Não nos parece razoável, em princípio, funcionários (ainda mais um Diretor Regional) tratar ou ficar ensinando franqueados a “driblar” imposições regulamentares da própria empresa que trabalham, pois se trata de empresa pública. Além disso, o servidor Sérgio foi quem elaborou todo o processo que deveria ser feito pelo franqueado, garantindo, segundo ele, a aprovação do pedido.”

Realce-se, para que não reste dúvidas quanto à participação fundamental de Sebastião Sérgio de Souza e Vitor Aparecido Caivano Joppert no que concerne à transferência do local de funcionamento da ACF 31 de Março, que ambos compareceram na festa de inauguração das novas instalações da Agência (31 de Março – Votorantim/SP) de Antonio Luiz Vieira Loyola, conforme bem comprovam as fotos tiradas durante o evento (Processo nº 2008.61.10.007491-1 - fls. 183/184; PDF – fls. 25/26).

Por fim, no que tange à ACF 31 de Março, consigne-se que o referido estabelecimento foi vendido para Antonio Dellarmelinda, pelo valor de R$ 550.000,00 (quinhentos e cinqüenta mil reais), aos 09/06/2008, portanto bem superior ao pago para o antigo proprietário Paulo Rodrigues, aos 29/03/2007, qual seja, R$ 118.000,00

34 Fone: 1978512204 – LOYOLA – Data: 16/07/2007 – Hora: 10:17:26 – Duração: 00:02:4435 Fone: 1978512204 – LOYOLA – Data: 16/07/2007 – Hora: 15:06:37 – Duração: 00:02:5336 Fone: 1978512204 – LOYOLA – Data: 20/07/2007 – Hora: 16:09:28 – Duração: 00:01:27

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(cento e dezoito mil reais), configurando o alto retorno financeiro que a empreitada criminosa rendeu aos seus mentores/executores (Processo nº 2007.61.10.002128-8 - fls. 123/125; PDF – fls. 154/156). Veja-se o depoimento de Paulo Rodrigues aos 08/10/2008:

“PAULO RODRIGUES , já qualificado nos autos, reinquirido pela Autoridade respondeu. QUE o reinquirido compareceu nesta delegacia espontaneamente para trazer novas informações sobre o caso ora investigado; QUE o reinquirido esclarece que foi procurado por ANTONIO DELLARMELINDA, residente em Santo André - SP com telefone para contato nº (11) 4461-2989, alegando que precisava saber se o reinquirido estava movendo alguma ação judicial em face de ANTONIO LUIZ VlElRA LOYOLA, QUE o reinquirido informou que não possui nenhuma demanda judicial contra o indigitado; QUE segundo o reinquirido ANTONIO DELLARMELINDA disse que teria adquirido a agência franqueada dos Correios de Votorantim - SP de LOYOLA, pelo valor de R$ 550.000,OO (quinhentos e cinqüenta mil reais); QUE ANTONIO DELLARMELINDA esclareceu que já teria pago R$ 275.000,00 (duzentos e setenta e cinco mil reais) a LOYOLA, quantia esta que foi depositada em duas contas pertencentes a LOYOLA, QUE ANTONIO DELLARMELINDA possui documentação que comprova a transação comercial, bem como os depósitos efetuados na conta de LOYOLA, QUE ANTONIO DELLARMELINDA deu início aos trabalhos na franquia de Votorantim-SP investindo aproximadamente R$ 22.000,00 (vinte e dois mil reais) na agência; QUE ANTONIO DELLARMELINDA informou que realizou o negócio por meio de ALEX KARPINSKI e ANTONIO LUIZ VIEIRA LOYOLA, QUE segundo ANTONIO DELLARMELINDA, depois que assumiu a agência, percebeu que ela não faturava a quantia alegada por LOYOLA, ou seja, que o faturamento mensal era inferior ao alegado e, além disso, descobriu que havia uma ação trabalhista movida em face da agência, o que O deixou deveras preocupado e ressabiado, tendo em vista que as informações inicialmente prestadas por ALEX e LOYOLA não estavam se confirmando, além de outras que foram omitidas, como o caso da ação trabalhista movida por ex-funcionário; QUE diante disso, ANTONIO DELLARMELINDA procurou LOYOLA e acabou discutindo com ele; QUE LOYOLA disse que não entregaria mais a agência a ANTONIO DELLARMELINDA, pois “quem mandava lá seria ele (LOYOLA)” e que, a partir daquele momento, ANTONIO DELLARMELINDA deveria procurar seus direitos na justiça; QUE LOYOLA disse que se quisesse, devolveria apenas R$ 250.000,00 (duzentos e cinqüenta mil reais) a ANTONIO DELLARMELINDA, em 10 (dez) parcelas de R$ 25.000,00 (vinte e cinco mil reais) aproximadamente; QUE diante disso, ANTONIO DELLARMELINDA ficou muito inconformado e preocupado com o acontecido e buscou informações junto ao reinquirido, pois não sabia o que fazer QUE segundo ANTONIO DELLARMELINDA, a bandeira dos Correios está avaliada em R$ 300.000,00 (trezentos mil reais); QUE ANTONIO DELLARMELINDA já está movendo ação judicial contra LOYOLA, em face dos fatos ora relatados.”

Registre-se, por pertinente, que as informações retrocitadas foram ratificadas pelas declarações de Antonio Dellarmelinda, aos 13/10/2008, perante a autoridade policial, bem como pelos documentos por ele apresentados (Processo nº 2007.61.10.002128-8 - fls. 127/167; PDF – fls. 160/203):

“(...) QUE o declarante conheceu o gerente de uma agência dos correios o qual se chama PAULO que era bem próxima do seu posto de gasolina e em algumas conversas com ele, PAULO sugeriu que o declarante adquirisse uma franquia dos correios; QUE o declarante, quando alienou o posto e retornou para Santo André/SP começou a procurar agências franqueadas do correio para investir seu dinheiro (...) QUE viu um anúncio de ALEX KARPINSKI nos jornais e houve por bem fazer contato com ele para obter maiores informações sobre franquias (...) QUE certa feita, ALEX ofereceu uma agência ao declarante, informando que referida agência estaria na faixa de preço por ele procurada, qual seja, R$ 550.000,00 (quinhentos e cinqüenta mil reais) (...) QUE diante de tais fatos, ALEX marcou um encontro com o declarante e com o proprietário da agência, ANTONIO LUIZ VIEIRA LOYOLA, na cidade de Campinas/SP para acertarem as tratativas (...) QUE nessa conversa LOYOLA afirmou que a agência de Votorantim não estava em seu nome, mas na de seu filho DANIEL e de DAMIANO pois segundo as normas dos Correios, uma pessoa física pode ser proprietária de 02 (duas)

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agências, no máximo; QUE LOYOLA informou que era proprietário das seguintes agências: ACF 31 de Março, situada em VOTORANTIM/SP ACF AMOREIRAS, situada em CampinaslSP ACF GRAJAU situada em São PaulolSP e outra cujo nome não tem conhecimento, situada em São Carlos/SP (...) QUE o declarante fechou o negócio acertando que daria R$ 10.000,00 (dez mil reais) de sinal na assinatura do contrato, 50 % de entrada, no ato da posse e mais 50 % após autorização dos Correios (...) QUE a posse se deu dia 01 de julho, na ACF 31 de Março QUE nesse dia, foi almoçar com LOYOLA e com SEBASTIÃO SÉRGIO DE SOUZA, Gerente de Região Operacional; QUE durante o almoço, LOYOLA fez questão de elogiar diversas vezes “SERGINHO” e disse ao declarante que era sempre bom ter um relacionamento bem próximo com 'esse pessoal' referindo-se aos servidores dos correios, avisando que não deveria nunca “bater de frente” com eles, que deveria “pagar um almoço, ou um jantar, fazer algum agrado” QUE durante esse almoço, “SERGINHO” agradeceu LOYOLA por ter indicado uma oficina de Campinas para consertar seu carro, dando a entender que o conserto teria sido pago por LOYOLA, QUE disse também ao declarante, que para ele aumentar o faturamento da franquia, deveria deixar como gerente a esposa de “SERGINHO”; QUE ora LOYOLA se referia a esposa, ora a irmã, ora a parente de “SERGINHO”, dizendo que isso seria muito bom para o declarante (...) QUE o declarante disse também a ALEX que LOYOLA havia omitido algumas coisas, pois não informou que o antigo gerente, GILBERTO, havia ajuizado uma ação trabalhista e obtido decisão favorável em duas instâncias, no valor aproximado de R$ 90.000,00 (noventa mil reais); QUE ALEX ligou para o declarante, informando que LOYOLA havia dito que era para o declarante procurar seu advogado, porque ele tinha que cumprir o contrato (...) QUE ALEX ligou para o declarante oferecendo devolver R$ 200.000,00 (duzentos mil reais) em 10 (dez) parcelas o que foi recusado pelo declarante; QUE posteriormente, ALEX disse que LOYOLA pagaria R$ 200.000,00 (duzentos mil reais) à vista, ao que o declarante disse que gostaria de receber a proposta por escrito, com firma reconhecida, mas ALEX não deu resposta e nunca mais procurou o declarante; QUE diante do ocorrido, houve por bem procurar o antigo gerente GILBERTO o qual informou como se deu a aquisição da agência por parte de LOYOLA, QUE segundo GILBERTO, a agência 'foi tomada' de PAULO RODRIGUES e este não tinha interesse em vendê-la (...) QUE Loyola disse ao declarante que possui muitos diretores dos Correios que são seus amigos; QUE segundo informado por ALEX KARPINSCKI LOYOLA teria muitos contatos em Brasília, e para provar que LOYOLA é uma pessoa pontual, disse que, certa feita, LOYOLA combinou com alguns políticos que pagaria certa quantia para que eles votassem a favor de um projeto dos Correios, que o declarante não sabe informar qual seria; QUE LOYOLA ia de franqueado em franqueado pedindo dinheiro para acertar esse pagamento, mas quando da data, por não ter conseguido arrecadar toda a quantia que foi combinada, pagou do próprio bolso (...) QUE o declarante ajuizou uma ação judicial em face de LOYOLA, para reaver o dinheiro que foi pago...” (grifo nosso)

Nesse ponto, faz-se necessário abrir um parênteses para fazer breves considerações em relação às declarações de Antonio Dellarmelinda concernentes aos contatos políticos que Antonio Luiz Vieira Loyola supostamente possui no Congresso Nacional, pois as investigações revelaram a existência de diversos indícios no sentido de que este co-réu realmente possui contatos influentes e utiliza-os para defender interesses pessoais e praticar crimes/atos de improbidade administrativa, veja-se:

Suposta influência na aprovação de nome indicado para o TST

- LOYOLA x MARIA CALSING / Índice 787646537

(Processo nº 2007.61.10.001361-9 - fl. 253; PDF – fl. 44)

Maria diz que é amiga da "Dada". Maria diz que esta concorrendo a uma vaga de Ministro do TST, e que sabe que LOYOLA "tem muito conhecimento no Senado, com o pessoal do Sarney, e que podia dar uma ajuda". LOYOLA confirma. Maria diz que falou

37 Fone: 1991133920 – LOYOLA – Data: 17/04/2007 – Hora: 14:40:21 – Duração: 00:04:3025

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com o Sarney já, mas que ele tinha que ligar para o Ministério da Justiça e para a Dilma Roussef, que já está na Casa Civil. LOYOLA diz que "tem um contato muito bom" com "o quarteto", e diz que "o quarteto é formado por: José Sarney, Jader Barbalho, Renan Calheiros e Romero Jucá". Maria dá seu nome completo: "Maria de Assis Calsing". Maria diz que o Renan também já fez uma carta apoiando ela, mas que se ele desse uma ligada ajudava. LOYOLA diz que "vai pedir para os 4", que pede por intermédio de uma pessoa (MARCO PUIG).

- MARCO PUIG x LOYOLA / Índice 787740738

(Processo nº 2007.61.10.001361-9 - fl. 254; PDF – fl. 45)

LOYOLA passa o nome de Maria de Assis Calsing (sua amiga de infância) para MARCO, para que ele fale com o "quarteto" (PMDB) para ajudá-la a concorrer a vaga para Ministra do Tribunal Superior do Trabalho. LOYOLA diz que ela é sua amiga de infância, gente fina e está concorrendo a vaga. LOYOLA diz que Sarney E Renan Calheiros já deram suas cartas com a indicação de Maria (segundo ele 'apadrinharam'). LOYOLA pergunta se MARCO PUlG tem como ajudar em algum sentido ('dar uma forcinha'). MARCO diz que vai dar uma 'sondada' no assunto. Depois falam de assuntos dos Correios e MARCO pergunta se o 'menino' de SP não quis cooperar (achou que negócio era 'muito pequeno' - negócio do SEDEX). LOYOLA diz que vai dar um 'jeito na vidinha dele'.

Fato é que a magistrada Maria de Assis Calsing (à época do Tribunal Regional do Trabalho da 10ª Região), acabou tendo seu nome aprovado na Comissão de Constituição e Justiça do Senado Federal, aos 09/05/200739. E, efetivamente, assumiu a vaga de Ministra do C. Tribunal Superior do Trabalho, tendo a posse ratificada em sessão solene que ocorreu aos 14/06/200740, naquela Corte Superior de Justiça. Outrossim, para tal solenidade foi enviado convite ao co-réu ANTONIO LUIZ VIEIRA LOYOLA, conforme se depreende do seguinte diálogo interceptado pela Polícia Federal aos 06/06/2007:

Índice: 835959141

06/06/07ELEONOR (TST) X LOYOLA(Processo nº 2007.61.10.001361-9 - fl. 496; PDF – fl. 43)

Eleonor trabalha para a Ministra Maria de Assis Calcing pega o endereço de Loyola para enviar o convite da posse . Loyola passa seu endereço: R Dr. Guilherme da Silva, 397, 2º andar, Cambuí, Campinas/SP. 0 telefone da sua irmã, Maria Aparecida Loyola (Dadá), (32) 3212.1220, que também sera' convidada.42

Índice: 836865143

LOYOLA X MARC0 PUIG(Processo nº 2007.61.10.001361-9 - fl. 607; PDF – fl. 57)

Marco informa que Loyola não vai conseguir vôo para Palmas, pois está tendo um congresso em Palmas/TO e os vôos estão lotados....Marco está falando com o Secretário

38 Fone: 1978512204 – LOYOLA – Data: 17/04/2007 – Hora: 15:55:34 – Duração: 00:10:1539 Fonte: http://www.senado.gov.br/agencia/verNoticia.aspx?codNoticia=63156&codAplicativo=2 – Acesso aos 08/02/201040 Fonte: http://www.conjur.com.br/2007-jun-14/tst_empossa_ministras_maria_calsing_dora_costa – Acesso aos 09/02/201041 Fone: 1978512204 – LOYOLA – Data: 12/06/2007 – Hora: 13:01:14 – Duração: 00:00:4442 - A Dra. Maria de Assis Calsing integra atualmente o TST, uma vez que seu nome foi aprovado pelo Senado Federal por ampla maioria (52 x 3), conforme verifica-se no sítio http://www.senado.gov.br/sf/atividade/materia/mate/votacao.asp?ct=125246843 Fone: 1978512204 – LOYOLA – Data: 13/06/2007 – Hora: 09:59:50 – Duração: 00:03:57

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Zé e ele está vindo para Brasília na próxima semana e marcam reunião em Brasília com ele...Marco está pensando em não ir a Palmas, pois seu pessoal está em Palmas e eles estão vindo a Brasília ... Loyola fala que tem que ir de qualquer forma à posse da Ministra e Marco fala que quer ir também para posse, e que está com um projeto muito grande 1á ... Marco pede para Loyola resolver negócio com o Cebola, que vai marcar com o Secretário em Brasília e Loyola marca com o amigo dele com antecedência, para deixar tudo certinho...

Suposto contato em uma das varas de São Paulo

Índice 735619844

LOYOLA X CARLOS (Processo nº 2007.61.10.001361-9 – fl. 122; PDF – fl. 66)

LOYOLA diz que "dançaram naquele negócio do gás", que recebeu uma intimação "dando prazo para tirar" (encanamento de gás não autorizado). Falam que a decisão é do Dr. Maurício Botelho Silva da 10º vara de Campinas e que é para retirar a instalação do gás de sua casa. Carlos diz que vão recorrer. LOYOLA diz: "porra, caralho, o cara dá um negócio desse? Quem é esse Juiz aí?". Carlos diz que não conhece mas que é um novo que veio de Santo André. LOYOLA pergunta qua1 a "Vara que vai o processo em São Paulo, que lá a conversa é outra"..

Outro Suposto contato no Poder Legislativo

- LOYOLA X DANILO / Índice 738180145

(Processo nº 2007.61.10.001361-9 - fl. 124; PDF – fl. 68)

Danilo pergunta se LOYOLA conhece alguém do Ceará. LOYOLA fala em Tasso Jereissati. Danilo fala em Ciro Gomes. Danilo diz que tem um processo de liberação de verba da empresa de 1,5 milhão, e que precisa de "um apoio". LOYOLA diz que "podemos ver", que resolve. Danilo pergunta se LOYOLA conhece pessoal da GVT de Brasília. LOYOLA diz: "pode deixar comigo, não tem problemas, em Brasília, Goiás e Tocantins, o que precisar, acabou". Danilo diz que "é coisa grande, para todo mundo encher o c... de dinheiro".

Suposto Contato no Poder Executivo

Dia 14/03/2007

- LOYOLA X MARCOS LOPES I Índice 748242746

(Processo nº 2007.61.10.001361-9 - fls. 130/131; PDF – fl. 77/78)

LOYOLA fala que o que "o que o Cabral fez com ele é brincadeira". MARCOS fala que ele está em rota de ser descredenciado. LOYOLA fala em resolver "de outra forma". MARCOS fala que só mudando o documento que esta na sua mão (restrições na licitação), e que ele tem que se desfazer do negócio. LOYOLA pergunta se tem como "resolver no jurídico". MARCOS acha que não. LOYOLA fala que sócio dele foi no DICOM. MARCOS fala que tem 2 soluções, 1 é credenciá-lo a participar do processo de licitação, "que está na nossa mão", a outra é mudar o documento que está na sua mão, e "isso também está na minha mão", mas não é para agora. LOYOLA diz que encontrou com o Ministro Hélio Costa e que ele disse: "Fica tranqüilo que está tudo muito bem encaminhado. Não vai mudar nada, nem na casa nem em lugar nenhum". MARCOS fala que pode "tocar aquele negócio do Dudu", que "já mudei lá, 2 de abril". LOYOLA fala que é para deixar ele "fazer uma onda primeiro", que "não vai dar muita gordura porque é um negócio mínimo, mas tudo bem. E que amanhã ele (Dudu) está mandando "um zero” (dinheiro - provavelmente conta de Valéria) para você, e vou ver se ele

44 Fone: 1991133920 – LOYOLA – Data: 07/03/2007 – Hora: 17:33:02 – Duração: 00:04:1345 Fone: 1991133920 – LOYOLA – Data: 09/03/2007 – Hora: 11:34:34 – Duração: 00:02:5546 Fone: 1978512204 – LOYOLA – Data: 14/03/2007 – Hora: 18:23:16 – Duração: 00:06:22

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manda mais. MARCOS fala que foi fácil, que se "fosse para mudar a redação era difícil". LOYOLA pergunta se mandar mais uma vez "um zero" naquela conta esta bom, MARCOS concorda.

- LOYOLA X MARCOS LOPES I Índice 748518447

(Processo nº 2007.61.10.001361-9 - fl. 131; PDF – fl. 78)

LOYOLA fala que esqueceu "o envelope" dentro avião. MARCOS se assusta. (eram informações sigilosas internas da ECT que MARCOS tinha passado). LOYOLA pergunta se MARCO pode "copiar de novo". MARCO fala que não, mas que o problema é alguém ver isso: "se isso cai na mão de alguém...vai ser entregue no Correio porque está escrito Correios...", e depois: "o problema é a informação que te ali pô..,o nível de informação...isso dá uma merda do cacete". MARCO pergunta se o "Onildo deu para trás". (provavelmente processo de descredenciamento de ACF). fala que o negócio do Dudu, mudar "data de vigência" é tranqüilo, mas pede para LOYOLA "valorizar", dizer que teve que falar no jurídico, etc..(para valorizar seu serviço e aumentar seu pagamento). MARCOS diz que viu na TV e que o Lula vai atender todos os pedidos do PMDB, que são 5 pastas, e que confirmou o Hélio Costa nas comunicações. LOYOLA torna a falar sobre sua conversa com Hélio Costa e que ele disse que "está muito bem encaminhado" (regularização das ACF's). MARCOS diz que estava com o DICOM e que acha que ele vai ser presidente. MARCO torna a falar sobre um descredenciamento, que teria que mudar um documento que esta com LOYOLA, para ele poder vender a ACF, ou eles não "fazerem aquela inclusão” para ele participar de novo da licitação. Que não dá para retirar o processo.

Outro negócio ilícito e suposto contato no TCU

Em algumas conversas entre os nossos alvos (MARCO PUIG, MARCOS SILVA, MARCOS LOPES, LOYOLA e ALEX) ficou claro que estão agilizando um processo de descredenciamento de uma ACF localizada em São Bernardo do Campo, no Best Shopping, para que possa ser adquirida de forma fraudulenta, conforme Loyola comprou a de Votorantim e São Carlos. Fica clara a participação de através do cargo ocupado de Marcos Lopes, Marcos Silva e do Samir, segundo conversa de Marco com Adrianno. Há uma possibilidade de esta ACF ser comprada pelo grupo da LWS, com o intuito de entrar no esquema de postagem de correspondências bancárias. Todo o esquema fraudulento está se desenhando aos poucos e acreditamos que nos próximos dias as coisas se concretizarão. Selecionamos algumas transcrições de áudios abaixo, para melhor esclarecimento do fato:

Índice: 787873148

17/04/07MARCO PUIG X ADRIANNO(Processo nº 2007.61.10.001361-9 - fls. 591/592; PDF – fls. 41/42)

Marco fala que "acertou com o cara 50 pau (50 mil) até sexta feira, que o cara queria 100 mas eu acertei por 50, que o cara devolveu o 3 processos”. Marco fala sobre outro negócio do Loyola, que é o cancelamento de uma ACF da “Best shopping”; que “a gente está conseguindo fazer que em vez de cancelar entre um aceite de venda" e o cara vai pagar l50 pau (mil reais), só que isso é só semana que vem, então “a gente vai ter que ver um jeito de tirar 50 pau (mil) da LAN”, e daí "o Loyola pagando isso a gente devolve". Adrianno concorda e pergunta se o Loyola vai pagar 150 para eles. Marco fala que não, que é "uma bobagem”, está ficando "50 pau para eles (LAN), 50 para "os técnicos todos que salvaram” (a ACF) e 50 para o Turcão (Samir) que vai assinar. Adrianno fala que vai passar isso para a conta de Marco. Marco fala que vai pagar em dinheiro, então vai ter que fazer uma previsão de saque. Marco fala que a gente tinha

47 Fone: 1978512204 – LOYOLA – Data: 14/03/2007 – Hora: 21:45:54 – Duração: 00:15:1848 Fone: 78123860 – MARCO ANTÔNIO – Data: 17/04/2007 – Hora: 17:51:59 – Duração: 00:22:36

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acertado com o pessoal “10” (mil), "eu falei que eu ia fazer aqui uma parte deles”; então "aqui eu acertei 5 e vou descontar dos 10 dos caras”; do negócio do wireless" (vai receber de Ivan da Get pela intermediação). Marco fala que "o cara do lado do ministro" ligou para ele falando que não tinha sido juntada a defesa do TCU, que é o Roberto Aranha. Adrianno fala: "mas o cara é amigo ou não é amigo?". Marco diz: '"amicícimo”, pois para o cara ligar para mim e falar: manda o teu advogado juntar isso aí para o "nosso amigo julgar"... E fala que o cara que assinou o protocolo (de recebimento da defesa) é funcionário do "cara que me ligou”. Fala que "isso é coisa dos advogados do Português". Marco diz que pelo menos o item 1 ele vai ver se consegue liberar amanha".

Manobras visando escolher o novo presidente da ECT

Dia 07/03/2007

- LOYOLA X MARCO PUIG / Índice 735598349

(Processo nº 2007.61.10.001361-9 - fls. 121/122; PDF – fls. 65/66)

LOYOLA diz que o "Cebolinha" (MARCOS LOPES?) ligou, que está recebendo o Diretor de Tecnologia (DICOM ECT - SAMIR) amanhã e quer saber de MARCO o que falar para ele. LOYOLA diz que não falou porque está vendo o "Jucá” (Romero), o Hélio Costa (Ministro), e que estava o "Renan" (Calheiros) também. MARCO diz: "parece que o Hélio (Costa) estava com o “Tuquinho" (SAMIR) ontem, e “ficaram amiguinhos". LOYOLA vibra: "show de bola, notícia boa, ótima".

(Este diálogo mostra as relações políticas dos alvos e o forte desejo de ambos de que o "Turquinho" - Samir de Castro Hatem seja o novo presidente da ECT)

Dia 08/03/2007

- LOYOLA X MARCOS LOPES / Índice 736217550

(Processo nº 2007.61.10.001361-9 - fl. 123; PDF – fl. 67)

LOYOLA reafirma que o "Turco" (Samir) falou com o Hélio (Costa) e "estão de bem". MARCOS diz que existe a possibilidade forte de o "Turco" sair, que "tem Senador correndo para ele". LOYOLA diz que só se o Senador "for do grupo", que ele não vai indicar ninguém que não for do grupo, que "isso aí tem dono", "eu seguro isso aí, se for do grupo beleza, senão, pode esquecer. MARCOS diz: "o cenário é o seguinte, se esse cara assumir..." LOYOLA diz: não precisa nem falar, eu dou um tiro na cabeça".

(Dão a entender que se outra pessoa assumir a presidência, que não o "Turco" (Samir), algo de ruim vai acontecer para eles. LOYOLA demonstra que há um "grupo" específico que aprova as nomeações na ECT).

Manobras visando alterar um edital da ECT

Dia 19/03/2007

LOYOLA X MARCOS LOPES I Índice 754688751

(Processo nº 2007.61.10.001361-9 - fl. 136/137; PDF – fl. 83/84)

MARCOS diz que precisa fechar "aquele item do edital, sobre as restrições". LOYOLA parece falar "20 e pouco"(??). MARCOS também vai mudar uma data. (LOYOLA opina

49 Fone: 78123860 – MARCO ANTÔNIO – Data: 07/03/2007 – Hora: 17:21:49 – Duração: 00:12:2850 Fone: 1978512204 – LOYOLA – Data: 08/03/2007 – Hora: 08:30:15 – Duração: 00:05:4551 Fone: 6181822007 – MARCOS LOPES – Data: 19/03/2007 – Hora: 10:22:48 – Duração: 00:05:14

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na formatação de um edital da ECT....). MARCOS fala sobre "FAC" e "mala direta", que não seria mais permitido para as ACF's, e que vai tentar mudar isso. MARCOS fala em ajudar. Loila pergunta se tem como resolver o problema "do Sul", "sem os 26, independente" (outras ACF's). MARCOS diz que só alterando o documento que está na mão de LOYOLA, que ele, possibilita a venda da ACF, e "todo mundo que quiser fazer vai fazer e vender".. LOYOLA fala que assim "facilita para todo mundo".

LOYOLA X OSANDO I Índice 754717952 (Processo nº 2007.61.10.001361-9 - fl. 136/137; PDF – fl. 83/84)

LOYOLA fala que existem 26 "colegas nossos" (ACF's) que estão funcionando com liminar (descredenciados). LOYOLA fala do edital que está sendo feito pelo DlCOM e que estes 26 não vão conseguir participar da licitação, e que está tentando reverter isso. (junto a MARCOS LOPES - conversa anterior).

Dia 22/03/2007

- MARCOS LOPES x LOYOLA I Índice 759374353

(Processo nº 2007.61.10.001361-9 - fl. 183; PDF – fl. 35)

MARCOS diz que deu uma 'mexida', falando: ".. daquelas 21 que..da relação que você tem..agente vai matar 11 delas..porque eu vou colocar a restrição para participar débito com a ECT..". LOYOLA pergunta quando MARCOS vai fazer isto e MARCOS diz que já está fazendo e que aquele caso do Sul estaria fora e não teria impacto para ele, dizendo: "..ele poderia continuar normal e participar do processo normalmente. MARCOS diz que isto dá 'um fôlego' a LOYOLA para negociar. LOYOLA reitera para MARCOS passar a relação de quem está no processo. MARCOS diz para LOYOLA que este já tem a relação e explica: "..ali você tem: aquela tem débito você vai ticando..são onze que a gente mata tá..quem tá inadimplente não participa..se quiser participar tem que quitar..ai já é um obstáculo maior..mas pra este caso que você vai estar no almoço você já pode acertar aí porque ele estaria salvo..ele não tem débito, o problema dele é outro..". Ao final MARCOS diz mais uma vez que as informações passadas dão um subsídio a LOYOLA para a conversa que terá no almoço, dizendo: "..ele vai gostar mais".

(MARCOS praticamente deixa claro que está passando informações sobre ACF's que podem "render" para ele e para LOYOLA. As "21" citadas, são ACF's com problemas de iminência de descredenciamento, LOYOLA e MARCOS procuram formas de ajudá-los junto a ECT e cobram por isso).

Manobras visando aprovar o “MANCAT”

Relatório de Inteligência Policial nº 012/2007(Processo nº 2007.61.10.001361-9 - fls. 584/588; PDF – fl. 37/38)

(...)

LOYOLA continua com seus intentos em estabelecer um novo modelo de renovação de ACFs, através da corrupção dos servidores MARCOS LOPES, VITOR (Bauru) e MARCOS VIEIRA DA SILVA, vulgo 'Cebola' ou 'Cebolinha'. Ele está tentando adquirir uma em São Bernardo do Campo, em lugar denominado 'BEST SHOPPING'. Para provocar o desentrave burocrático desta ACF Loyola contou com a ajuda de seus 'comandados' e pagou propina a Samir (via Marco Puig), conforme já mencionado na INFORMAÇÃO complementar ao Relatório nº 11/2007 de 19/06/2007. Cumpre-se também registrar que Loyola poderá ter um sócio neste empreendimento, ARISTEU (Print Laser) ou alguém indicado por Marco Puig. 0 documento que ele e sua quadrilha

52 Fone: 1978512204 – LOYOLA – Data: 19/03/2007 – Hora: 10:40:05 – Duração: 00:02:3353 Fone: 1978512204 – LOYOLA – Data: 22/03/2007 – Hora: 10:28:29 – Duração: 00:04:01

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estão envidando esforços para promover a aprovação é o denominado MANCAT. Trata-se de um manual que versará sobre o funcionamento das ACFs, inclusive delimitando suas funções e áreas de atuação. Logicamente os 'comandados' de Loyola, também contando com a ajuda de Santana, ou 'Volkswagen' (assessor de Samir) adotaram na confecção do referido manual postura extremamente benéfica às ACFs, permitindo a essas atuar em áreas antes administradas diretamente pelos Correios, ou seja, aumentar sobremaneira suas margens de lucro, proporcionando assim uma migração destes, que antes entravam nos cofres públicos, via EBCT. O manual MANCAT ainda não foi aprovado e Loyola não está medindo esforços para que isto aconteça. 0 grupo tem conseguido inclusive a troca de servidores que criam algum tipo de óbice ao projeto dentro dos Correios...

Vale registrar que Marcos Lopes era, á época, Gerente do Projeto de Modelagem e Implantação de Agência Terceirizada Comercial – PROAT, da Diretoria Comercial (DICOM) dos Correios em Brasília.

Os fatos acima narrados estão sendo investigados nos juízos competentes, no entanto, merecem ser lembrados pois envolvem Antonio Luiz Vieira Loyola, mentor do esquema fraudulento de aquisição de Agências Franqueadas (objeto desta ação), fazendo-se necessário trazê-los à baila para demonstrar a inequívoca vontade deste co-réu de praticar atos de improbidade administrativa, bem como seu poder de penetração nos órgãos públicos e na cooptação de agentes públicos e até mesmo agentes políticos.

Voltando ao cerne da presente ação, acentue-se que a quadrilha de Antonio Luiz Vieira Loyola utilizou o mesmo procedimento escuso/espúrio, usado em relação à aquisição da ACF 31 de Março, para adquirir, aos 13/04/2007, a ACF Capital do Clima (localizada na cidade de São Carlos/SP), eis que através de coação obrigou seus proprietários (Silvia Helena Mello Migliato e Luiz Carlos Migliato) a vender o estabelecimento por valor (R$ 600.000,00) bem abaixo do mercado (R$ 1.200,000,00), causando-lhes enorme prejuízo, é o que depreende-se das conclusões da Autoridade Policial (Processo nº 2008.61.10.007491-1 - fls. 25/27; PDF – fls. 26/28):

“(...) Após ter adquirido de forma fraudulenta a ACF 31 DE MARCO, situada em Votorantim-SP, LOYOLA utiliza-se do mesmo modus operandi para pressionar outro franqueado, desta feita o proprietário de uma agência instalada na cidade de São Carlos, denominada CAPITAL DO CLIMA.

Em uma das conversas interceptadas, VITOR diz para LOYOLA que SÉRGIO possui algumas informações relevantes para serem transmitidas a ele, asseverando que "tem uma boa em São Carlos e que é urgente, que envolve briga de família, cujo faturamento é de R$ 28.000,00" (índice 7726281). LOYOLA comemora e diz que está pensando em colocar um amigo no negócio e diz: "aí vai ser bom pra você, entendeu?".

Em menos de vinte minutos, LOYOLA liga para ALEX e o informa sobre a possibilidade de adquirirem mais uma agência, referindo-se à situada em São Carlos, momento em que ALEX indaga LOYOLA se já é para ir até a agência para pressionar o proprietário, tendo LOYOLA respondido que nesse caso "terão de trabalhar rápido". Nessa ligação, ALEX comunica LOYOLA que a agência deve valer em torno de uns R$ 400.000,OO. (v. índice 7726643).

Alguns minutos depois, LOYOLA informa sua esposa que recebeu uma ligação e diz em tom jocoso que: "um diretor seu (VITOR) ligou oferecendo outra moleza em São Carlos"(índice: 7726755).

Em outra ligação (índice: 7740002), ALEX informa a LOYOLA que a agência de São Carlos possui um faturamento líquido de R$ 28.000,OO e que a proprietária está

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negociando com outra pessoa de São Paulo, a qual teria ofertado R$ 800.000,OO. Nessa conversa, ALEX avisa LOYOLA que a proprietária está com sérios problemas financeiros e que o fator complicador da agência perante a ECT, foi o fato de ela ter passado um cheque sem suficiente provisão de fundos. LOYOLA diz que pode oferecer R$ 250.000,OO pela agência, ao que ALEX o adverte de que "esta quantia ela nunca aceitaria", e LOYOLA retruca: "não vai fazer, mas ela vai dançar, igual o outro Iá”; referindo-se ao caso de Votorantim". Diante disso, ALEX diz que tem outra estratégia para eles não deixarem de "ganhar um troco", pois acha que sabe quem seria o pretenso comprador da agência e pensa em procurá-lo. Nesse caso, LOYOLA concorda, mas informa que "....tem que ser bem explicadinho, porque o cara Iá (VITOR) vai querer ...você sabe, né...", sendo que ALEX concorda e diz "que consegue manipular a questão para levar uns 100 paus em cima". LOYOLA o adverte mais uma vez: "...no mínimo! Tem que dar um lucrinho de 100 paus senão ninguém resolve...'; no que ALEX indaga: "...se der uns 100 contos dá pra você segurar a peteca?" e LOYOLA responde afirmativamente e reafirma "mas aí ó...100 paus .... tem que dividir entre eu, você e ele lá ...proporcional".

Como se vê, diante da noticia de que haveria outro cliente interessado em adquirir a agência de São Carlos, ALEX e LOYOLA planejam outro negócio, o de intermediar a venda e lucrarem R$ 100.000,00 com a transação, ficando evidente que referida quantia seria dividida de forma igualitária entre ALEX, LOYOLA e o Diretor Regional de Bauru, VITOR.

Conforme demonstraremos a seguir, a agência CAPITAL DO CLlMA acabou sendo adquirida por LOYOLA, com o auxílio de VITOR.

Com efeito, LOYOLA liga para VlTOR (índice 7766026) e reclama da atitude da proprietária da agência de São Carlos, alegando que: "a mulher está fazendo muita onda", ao que VlTOR responde: "não tem que forçar ... mas eu não vou mais dar muito tempo não, ela não cumpriu, vai ter que pagar o prejuízo".

Em outra ligação, LOYOLA informa sua esposa MARIA ALBA que adquiriu a agência situada em São Carlos por R$ 600.000,00, em sociedade com uma pessoa de epíteto ALEMÃO. Nessa conversa, LOYOLA dá a entender de que a comissão de VITOR é de R$ 100.000,00 (vide índice 7790776) e temendo falar ao telefone, diz a sua esposa que lhe explica depois....”

Nesse diapasão, impende consignar as transcrições das conversas entre o co-requerido Antonio Luiz Vieira Loyola e seus “comandados”. No que tange às conversas com o co-requerido Vitor Aparecido Caivano Joppert, é despiciendo maiores comentários, pois o teor dos diálogos revelam, de maneira cristalina, que o aludido servidor da ECT valeu-se inúmeras vezes de seu cargo (Diretor Regional) para auferir benefícios para si próprio e para a quadrilha chefiada pelo co-requerido Antonio Luiz Vieira Loyola (Processo nº 2008.61.10.007491-1 - fls. 185/192; PDF – fls. 27/34):

“- Em 02/04/2007

Índice: 772628154

VITOR X LOYOLA12:06LOYOLA liga para VITOR (ECT-BAURU), dizendo que está indo para BAURU para assinar documentos. Diz que esta indo somente como pai. Vitor diz que Serginho (ECT) vai passar algumas notícias (informações) para Loyola e diz que se este precisar de alguma coisa pode ligar. VITOR diz para LOYOLA que “tem uma boa em São Carlos” (provavelmente outra ACF em dificuldade para Loyola tentar tomar). Loyola comemora e diz que está pensando em colocar um amigo no negócio e fala em seguida para VITOR: ".. ai vai ser bom pra você aí, entendeu?..”. Vitor diz que é urgente, que tem um débito razoável (em torno de R$ 200.000,00) e faturamento de R$ 28.000,00. Vitor fala que a questão envolve briga de

54 Fone: 1991133920 – LOYOLA – Data: 02/04/2007 – Hora: 12:06:21 – Duração: 00:06:2132

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família. Diz que tentou acordo com a proprietária, mas ela deu um cheque sem fundo. Loyola pergunta se já pode começar o processo e Vitor confirma que sim.

Índice: 772664355

ALEX X LOYOLA12:24LOYOLA liga para ALEX e o informa sobre novo negócio (São Carlos) passado por VITOR. Alex pergunta se Loyola quer que ele vá até lá para pressionar. Loyola diz que terão de trabalhar rápido. Loyola diz que o faturamento é de R$ 28.000,OO. Alex acha que deixa 'na mão' uns R$ 14.000,OO e avalia que a Agência deva valer uns R$ 400.000,00. Loyola diz que não sabe se vai ser ele próprio ou um amigo que vai fazer o negócio, mas diz a ALEX que vai ser 'mamão-papaia..igual a outra (Votorantim)' e que a parte dele estaria garantida. Loyola pergunta a ALEX sobre PAULO (Votorantim) o chamando de “filho-da-puta”. Alex diz que tentou contatá-lo, mas sem sucesso.

COMENTÁRIOS: Nestas duas últimas conversas e na próxima, colocamos a hora para ficar claro que logo que Vitor passou a informação a Loyola, este imediatamente repassa a Alex para começar os trabalhos de persuasão.

Índice: 772675556

LOYOLA X JULIANA//ALBA (ESPOSA) X LOYOLA12:31JULIANA diz que o faturamento da loja de ALBA já está em R$ 4.000,00 hoje. Após, ALBA fala com Loyola e este fala que um 'diretor seu' (VITOR) ligou oferecendo, segundo Loyola - em tom jocoso - 'outra moleza' em São Carlos.

Índice: 773311457

VITOR X LOYOLA

LOYOLA diz que gostou muito da reunião ocorrida em Bauru e só tem elogios para o 'pessoal de Vitor'. Fala também do negócio de São Carlos e pergunta se já pode ir lá (colocar pressão). Vitor diz que sim, e que inclusive a proprietária ofereceu para um pessoal que faz intermediação de negócios. Loyola pensa que é Alex e Vitor diz que não, que é outra pessoa. Vitor diz que gostaria que Loyola 'caprichasse', pois a proprietária 'está ferrada'. Diz que é um caso até 'humanitário'. Fala que a dívida está em R$ 220.000,00 em Bauru. Loyola fala que colocará Alex no negócio.

Índice: 773678558

VITOR X LOYOLA

LOYOLA pede para VITOR lhe passar o nome da ACF de São Carlos: CAPITAL DO CLIMA, sendo a proprietária uma mulher, da qual não sabe dizer o nome.

Índice: 774000259

ALEX X LOYOLAAlex diz que a ACF de São Carlos está deixando R$ 28.000,OO líquido e não bruto. Alex diz que proprietária está negociando com AROUCA (outro negociante de SP) e este estaria trazendo um possível comprador amanhã (que estaria pagando R$ 800.000,OO). Alex diz que a ACF tem uma carteira grande e antiga de clientes. Alex diz que a compradora está mantendo contato com HELENA da GERATI e esta lhe disse que o fator complicador para a proprietária foi o cheque sem fundo. Alex diz também que proprietária está 'quebrada' com muitas dívidas de seu marido. Loyola diz que o que teria para oferecer é R$ 250.000,OO. Alex diz que esta quantia ela nunca aceitaria e Loyola retruca: "..não vai fazer jamais, mas ela vai dançar!". Alex concorda e diz que falou isso para ela. Loyola diz que é o mesmo caso de VOTORANTIM. Alex diz ter outra estratégia para eles não deixarem de 'ganhar um troco'. Fala que acha que

55 Fone: 1991133920 – LOYOLA – Data: 02/04/2007 – Hora: 12:24:23 – Duração: 00:03:4756 Fone: 1991133920 – LOYOLA – Data: 02/04/2007 – Hora: 12:31:31 – Duração: 00:01:4557 Fone: 1991133920 – LOYOLA – Data: 02/04/2007 – Hora: 19:33:30 – Duração: 00:03:3958 Fone: 1991133920 – LOYOLA – Data: 03/04/2007 – Hora: 09:32:17 – Duração: 00:01:1159 Fone: 1991133920 – LOYOLA – Data: 03/04/2007 – Hora: 13:24:39 – Duração: 00:05:02

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sabe quem é a pessoa que estaria indo para S.Carlos amanhã e esta pensando em procurá-lo. Loyola adverte: "... o problema é o seguinte..veja bem cara..tem que ser bem explicadinho porque o cara lá (VITOR) vai querer..você sabe né..”. Alex concorda e diz que consegue 'manipular' a questão para 'levar uns 100 paus em cima'. Loyola adverte mais uma vez: '..no mínimo !.. tem que dar um lucrinho de 100 paus senão ninguém resolve". Alex fala para Loyola: "..se der uns I00 contos dá pra você segurar a peteca? (Loyola diz que sim) ... mas aí ó.. 100 paus.. tem que dividir entre eu você e ele lá [VITOR]". Loyola concorda e diz que depois 'racham' proporcional. Alex diz que vai buscar o futuro comprador hoje, para furar o outro corretor.

Índice: 774011360

ALEX X LOYOLA

Loyola diz para Alex não abrir o todo o jogo com o possível comprador, pois Loyola também teria um amigo interessado. Loyola fica de dar retorno para Alex se seu amigo vai querer comprar ou não. ALEX fala que a pessoa interessada é EDUARDO de ITAPIRA. Loyola diz conhecer e que inclusive é seu amigo. LOYOLA diz que tem força para tirar AROUCA da jogada. Loyola fala para Alex tentar fechar por R$ 600.000,00. LOYOLA diz que vai falar para seu amigo que o negócio é de R$ 950.000,00, para poder 'negociar'.

Índice: 774058261

VITOR X LOYOLA

Loyola informa VITOR que faturamento de S. Carlos é de R$ 28.000,00 líquido. Pede para Vitor confirmar esta informação. Vitor consulta o sistema informatizado dos Correios, mas não consegue entrar. Fica de dar o retorno para Loyola. Loyola diz que tem outra pessoa no negócio e Vitor pergunta se é gente boa e se o mesmo tem 'bala' para o negócio.

Índice: 774077562

ALEX X LOYOLALoyola diz que VITOR está levantando a informação sobre o lucro líquido. Alex disse que viu os papéis sobre os dados financeiros e passa por telefone a Loyola (média de R$ 40.000,00/mês – faturamento bruto de R$ 11.000,00 de despesa). Loyola pergunta para Alex se ela não deixa por R$ 600.000,00. Alex acha que não, mas talvez por 700 se 'forçarem a barra'.

Índice: 774089363

VITOR X LOYOLA

VITOR confirma para LOYOLA que a média de faturamento bruto (comissão) da ACF de São Carlos é de R$ 40.0000,00. Loyola diz que pra resolver em Bauru é '2 minutos?... é só fazer o checão e pronto ?'. VITOR diz que sim.

Índice: 774096864

ALEX X LOYOLA

Loyola diz que 'está com fogo no rabo' e vai dar uma olhada na ACF de São Carlos. Fala que ele (Loyola) e seu amigo vão ser sócios e querem fechar por R$ 600.000,00.

60 Fone: 1978512204 – LOYOLA – Data: 03/04/2007 – Hora: 13:34:39 – Duração: 00:07:5061 Fone: 1991133920 – LOYOLA – Data: 03/04/2007 – Hora: 14:05:50 – Duração: 00:06:4562 Fone: 1978512204 – LOYOLA – Data: 03/04/2007 – Hora: 14:20:57 – Duração: 00:04:4563 Fone: 1991133920 – LOYOLA – Data: 03/04/2007 – Hora: 14:33:51 – Duração: 00:00:5764 Fone: 1978512204 – LOYOLA – Data: 03/04/2007 – Hora: 14:42:07 – Duração: 00:02:05

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Índice: 774378065

VITOR X LOYOLA

Loyola diz que está chegando de S. Carlos e gostou muito do que viu. Loyola acha que está bem encaminhado e amanhã a mulher deverá dar retorno. Loyola fala de mulher da Gerati de Bauru que teria ligado para proprietária da ACF para propor solução do cheque devolvido e VITOR diz para Loyola ficar tranqüilo que ele não autorizaria tal transação.

Índice: 776602666

VlTOR X LOYOLALoyola (após a informação de Alex), diz que sobre a ACF de São Carlos que "a mulher esta fazendo muita onda”, que esta recebendo propostas. Vitor fala: "é, mas eu não vou mais dar muito tempo não, ela não cumpriu, vai ter que pagar o prejuízo". Loyola dá a entender que era isso que queria (uma pressão por parte de Vitor). Loyola fala que ontem de manhã foi a reinauguração da ACF de São Paulo. Loyola diz que "seu filho falou, o Marquinho falou" e dá a entender que Daniel (seu filho) é o dono. (provavelmenfe ACF Grajaú).

Índice: 779077667

ALBA X LOYOLALOYOLA diz para Alba que fechou o negócio de São Carlos por R$ 600.000,00 (50 % ele e 50 % Alemão). Loiola parece dizer que a comissão (Vitor ou Alex) é de R$ 100.000,00 - “tem que dar ...'do cara lá'...100...”.

Índice: 779140468

EDUARDO KAUFMAN X LOYOLA

Pessoa que se identifica corno Eduardo Kaufrnan (ACF de ITAPIRA) diz para Loyola que conseguiu telefone deste através de ALEX. Eduardo diz que em um jantar em que estiveram juntos, Loyola teria dado um parecer bastante positivo sobre 'o cenário' (provavelrnente se refere da renovação dos contratos de ACF's para o fim deste ano). Loyola diz que continua com a mesma opinião, chegando a dizer: 'pode comprar, que eu comprei mais uma!.. tranqüilo.. .acabei de comprar uma hoje inclusive (São Carlos),.eu já tinha comprado uma em Votorantim.. agora peguei mais uma e beleza.. eu tô investindo tudo nisso,.. eu tô por dentro de tudo que está se passando em Brasília...todo dia eles me passam um relatório de tudo o que está acontecendo...". Loyola diz saber que seu interlocutor está adquirindo uma ACF e diz para ele ir em frente com o negócio. Eduardo diz que esta pagando R$ 1 milhão e 200 mil e nã0 tem pendência nenhuma. Eduardo pergunta como Loyola faz a inscrição das ACFs e pergunta: "você põe em nome de outros?". Loyola diz que isto ele conversa pessoalmente com seu interlocutor e que vai dar uma dica para ele. Loyola parece mencionar que esta (São Carlos) é a 4a ACF que adquire.

Índice: 779371569

ALEX LOYOLA

ALEX diz que sobre contrato de compra e venda vai assinar a ex-proprietária e o marido. Loyola sugere que ela venha na quinta-feira para Campinas para fazer o pagamento 'do Correio', Alex diz que ficou acertado R$ 300.000,OO no ato (com valor do Correio-divida-em separado) e as outras parceladas (3 notas promissórias). Loyola fica na dúvida sobre forma de pagamento e diz que provavelmente não será em cheque. Chega a citar um exemplo de negocio feito com Alex em São Paulo (ACF Grajaú??). Alex diz que ela tem 2 carros financiados em nome dela, da empresa. Alex diz que deixou os 2 veículos na parte das despesas (embora admita que e INVESTIMENTO) com o propósito de baixar a demonstração do faturamento da ACF (poder barganhar menor preço). Fica combinado o encontro em Campinas na quinta-feira, Alex fala que

65 Fone: 1991133920 – LOYOLA – Data: 03/04/2007 – Hora: 18:42:11 – Duração: 00:03:1666 Fone: 1991133920 – LOYOLA – Data: 05/04/2007 – Hora: 18:16:05 – Duração: 00:07:0967 Fone: 1991133920 – LOYOLA – Data: 09/04/2007 – Hora: 11:46:30 – Duração: 00:02:3368 Fone: 1991133920 – LOYOLA – Data: 09/04/2007 – Hora: 12:42:34 – Duração: 00:06:1469 Fone: 1991133920 – LOYOLA – Data: 09/04/2007 – Hora: 16:01:38 – Duração: 00:07:26

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depois de assinado, o contrato tem que ser 'eliminado'; pois não e interessante para nenhuma das partes.

Índice: 779403070

ALEX X LOYOLA

Alex diz que confirmou reunião para quinta-feira, só que ela ainda não sabe se poderá ir para Campinas. Alex comenta que a mulher 'não é picareta'. Loyola comenta que Eduardo Kaufman ligou para ele hoje e diz para Alex que Eduardo esta pagando 1 milhão e duzentos. Alex diz que o valor real da ACF-S.Carlos é parecido com esse (!!) [estão pagando R$600K]. Loyola menciona em oferecer a de Votorantim a Eduardo [Loyola comprou por R$100K] e Alex descarta, achando que ele não aceitaria. Alex comenta sobre negócio feito por ambos em Votorantim, por valor muito abaixo do mercado: '..aquela lá foi pra matar o cara (Paulo)...'.

Índice: 823687671

VITOR X LOYOLA

Loyola quer marcar almoço entre 12 e 14:00 horas...na cidade São Pedro...Vitor está num Hotel grande. Loyola parece aflito para resolver alguma questão com seu interlocutor.

Índice: 823692172

WILSON X LOYOLA

Wilson passa caso da Agência (ACF)...começa a falar o caso, que teve um processo de INSS mas Loyola interrompe e diz que falam depois...(Loyola está indo encontrar com VITOR JOPPERT em Águas de São Pedro para tratar do assunto). Loyola diz que quando estiver com Vitor ele ligará novamente para seu interlocutor.

COMENTÁRIOS: Loyola irá intermediar solução de problema de Wilson em ACF de Bragança Paulista (problemas de INSS) perante o Diretor Regional VITOR JOPPERT com quem irá se encontrar em Águas de São Pedro para também tratar de assuntos de interesse de suas ACF'S.

Índice: 823834773

VITOR X LOYOLA

Loyola e VITOR marcam de se encontrar num Posto de gasolina entre São Pedro e Águas de São Pedro, na padaria Amigão. VITOR conta que está hospedado no Hotel São João.

COMENTÁRIOS: Pode-se diz que é no mínimo estranho o fato de um Diretor Regional marcar reunião com um franqueado fora dos Correios, em um posto de gasolina.”

Ressalte-se, outrossim, que no mesmo sentido das assertivas da Autoridade Policial, encontram-se as declarações de Silvia Helena Mello Migliato e Luiz Carlos Migliato, ex-proprietários da ACF Capital do Clima - São Carlos/SP, prestadas aos 13/01/2009, perante a autoridade policial (Processo nº 2007.61.10.002128-8 - fls. 1873/1877; PDF – fls. 286/291):

“ (...) SILVIA HELENA MELLO MIGLIATO, brasileira, casada, empresária, RG 11.8069.867 SSPISP, CPF 074.537.348-86, filha de lrineu Mello e de Dirce Javaroni Mello, nascida em 03/12/1963, em São Carlos/SP, com endereço residencial na Rua

70 Fone: 1978512204 – LOYOLA – Data: 09/04/2007 – Hora: 16:24:13 – Duração: 00:03:0471 Fone: 1991133920 – LOYOLA – Data: 30/05/2007 – Hora: 09:47:19 – Duração: 00:01:4172 Fone: 1991133920 – LOYOLA – Data: 30/05/2007 – Hora: 09:52:25 – Duração: 00:02:4073 Fone: 1991133920 – LOYOLA – Data: 30/05/2007 – Hora: 12:15:02 – Duração: 00:01:40

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Antonio Rodrigues Cajado, 2192, Vila Elizabeth, São Carlos/SP. Sabendo ler e escrever, inquirido pela Autoridade o declarante, RESPONDEU: QUE atualmente a declarante encontra-se desempregada; QUE a declarante possuía 50% do capital social da ACF Capital do Clima, sendo encarregada da parte contábil da agência, sendo que a outra metade pertencia a seu esposo, Luis Carlos Migliato, que era o responsável pela expedição das postagens, coleta, fornecimento de produtos etc.; QUE a declarante informa que no mercado uma ACF vale aproximadamente 40 vezes o seu faturamento mensal, de sorte que a ACF Capital do Clima possui valor de mercado aproximado de R$ 1.200.000,00; QUE em 2006 a ACF passou por dificuldades financeiras em razão de diversos fatores, dentre eles a interdição judicial de seu esposo, que à época sofria de distúrbio Bipolar; QUE seu esposo permaneceu interditado de maio/06 a julho/07, sendo que atualmente encontra-se no pleno gozo de seus direitos; QUE a ECT tinha conhecimento de toda a dificuldade enfrentada pela declarante, a qua1 sempre buscou negociar a dívida com o órgão; QUE nunca anunciou a venda de sua ACF e não tinha conhecimento de qualquer processo administrativo instaurado em desfavor de sua agência, razão pela qua1 ficou bastante surpresa quando Alex Karpinski afirmou que sua agência seria descredenciada se não fosse alienada para seus clientes; QUE segundo Alex Karpinski a agência seria adquirida por Marcelo Coluccini, o qual comparecia à ACF mostrando interesse em comprá-la na companhia de Antonio Loyola; QUE Antonio Loyola disse que estava apresentando Marcelo Coluccini à declarante, no entanto, por diversas vezes compareceu à agência, inclusive no primeiro mês após a alienação; QUE após a negociação a declarante permaneceu um mês na agência transmitindo os serviços ao gerente, José Carlos Gagliardi, ocasião em que presenciou, algumas vezes, Antonio Loyola no interior da ACF; QUE a declarante, diante do cenário apresentado por Alex Karpinski, sentiu-se bastante pressionada, pois temia ser descredenciada pela ECT e ainda ter de arcar com a divida de aproximadamente R$ 230.000,OO; QUE a agência foi vendida por R$ 600.000,00, embora a declarante tivesse conhecimento que o valor de mercado era bastante superior, ultrapassando a quantia de R$ 1.000.000,00; QUE recebeu aproximadamente R$ 370.000,00, pois a dívida foi abatida do valor da negociação (R$ 600.000,OO); QUE não conhece Damiano e nunca conversou com o mesmo sequer por telefone; QUE Alex Karpinski recebeu da declarante R$ 30.000,OO de comissão, em face da intermediação do negócio; QUE não sabe se realmente havia processo de descredenciamento instaurado em desfavor da sua ACF, pois nunca foi intimada para prestar esclarecimentos ou defender-se...”

“ (...) LUlS CARLOS MIGLIATO, brasileiro, casado, empresário, RG 5.271.969-8 SSPISP, CPF 979.565.388-15, filho de Antonio Pascoal Migliato e de Deolinda Mattioli Migliato, nascido em 13/04/1952, em São CarloslSP, com endereço residencial na Rua Antonio Rodrigues Cajado, 2192, Vila Elizabeth, São Carlos/SP. Sabendo ler e escrever, inquirido pela Autoridade o declarante, RESPONDEU: QUE atualmente o declarante encontra-se desempregado; QUE foi um dos sócios da ACF Capital do Clima, possuindo 50% do capital social, sendo que a outra metade pertencia a sua esposa, Silvia Helena Mello Migliato; QUE foram proprietários da referida agência por aproximadamente 12 anos; QUE o preço de uma ACF, em regra, gira em torno de 40 vezes o valor do seu faturamento mensal, de modo que a ACF Capital do Clima possuía preço de mercado de R$ 1.200.000,00 aproximadamente, já que o seu faturamento era de R$ 30.000,00 mensais; QUE o declarante esclarece que no final do ano de 2006, início de 2007, a referida agência passou por dificuldades financeiras, sendo que a dívida atingiu a quantia de cerca de R$ 230.000,00; QUE, segundo o declarante, a dívida alcançou esse importe em razão da má administração da agência; QUE o declarante era encarregado da expedição das postagens, coleta, fornecimento de produtos etc, ao passo que sua esposa era responsável pela contabilidade da agência; QUE desde que a agência passou por problemas financeiros buscaram junto a REOP de Rio Claro/SP, a qua1 é subordinada a DRISPI-Bauru, negociar a dívida, mas nunca obtiveram uma resposta favorável; QUE não chegou a anunciar a venda da agência em qualquer periódico ou comentar com alguém a tal respeito, visto que não tinham interesse em aliená-la, pois acreditavam em uma solução junto à ECT; QUE no inicio de 2007, Alex Karpinski compareceu à agência dizendo que possuía um cliente que estava interessado em adquiri-la; QUE se recorda que a agência foi visitada por Antonio Luiz Vieira Loyola e Marcelo Coluccini, os quais se apresentaram como possíveis compradores; QUE Alex karpinski intermediou o negócio em nome de Antonio Loyola e Marcelo Coluccini, e durante as tratativas o mesmo dizia que se a agência não fosse vendida para seus

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clientes, o declarante e sua esposa seriam descredenciados; QUE causou estranheza ao declarante o fato de Alex Karpinski ter conhecimento de que a ACF estava sofrendo um procedimento administrativo de descredenciamento junto à ECT; QUE em razão da "pressão" exercida por Alex, não tiveram outra opção a não ser a de alienar a agência pelo valor de R$ 600.000,00, fato que ocorreu em 13/04/2007; QUE a comissão de Alex Karpinski foi de R$ 30.000,OO; QUE não conhece pessoalmente Vitor Joppert e Márcio Caldeira Junqueira; QUE tomou conhecimento de que a agência possui como sócios Marcelo Coluccini e um tal de Damiano; QUE o declarante não conhece Damiano...”

Anote-se que os documentos (11º termo aditivo ao contrato de franquia, ficha cadastral e cópia do processo de transferência da titularidade da ACF Capital do Clima – São Carlos/SP) carreados aos autos confirmam as declarações de Silvia Helena Mello Migliato e Luiz Carlos Migliato, o que comprova o objetivo da organização criminosa comandada pelo co-réu Antonio Luiz Vieiera Loyola, qual seja, a de, com a ajuda de outros comparsas, enriquecer-se indevidamente em detrimento de pessoas vulneráveis (franqueados de serviços postais), valendo-se de informações privilegiadas e de auxílio administrativo indevido dos demais réus, agentes públicos, que exerciam funções-chaves na ECT. (Processo nº 2007.61.10.002128-8 – fls. 1378/1380 e 1386/1541; PDF – fls. 30/32 e 38/193).

Portanto, neste caso, o co-réu Antonio Luiz Vieira Loyola valeu-se de procedimentos escusos para, através de contratos administrativos celebrados com a ECT, ampliar o seu patrimônio, contando ainda com a participação dos co-réus Damiano João Giacomin e Marcelo Collucini de Souza para adquirir a ACF Capital do Clima – São Carlos/SP, conforme concluiu a Autoridade Policial: “Considerando que restou sobejamente demonstrado nos autos, seja pelos depoimentos coligidos ao longo da investigação, seja pelo teor dos diálogos interceptados, que ANTONIO LUlZ VlElRA LOYOLA é um dos proprietários da ACF CAPITAL DO CLIMA, situada em São Carlos/SP, e que DAMIANO JOAO GIACOMIN, na realidade, foi utiliado por ANTONIO LUIZ VlElRA LOYOLA e pelo seu sócio MARCELO COLUCClNl DE SOUZA para mascarar o quadro societário de referida ACF, determino o formal indiciamento de MARCELO COLUCCINI DE SOUZA, como incurso nas penas dos artigos 299 e 304, do Codigo Penal Brasileiro.” (Processo nº 2007.61.10.002128-8 – fl. 1365; PDF – fl.17).

Decisiva ainda a participação do co-réu Vitor Aparecido Caivano Joppert, que valendo-se de seu cargo/função de Diretor Regional da ECT Interior Paulista (Diretoria sediada em Bauru), transmitiu informações privilegiadas e orientações fundamentais, sem as quais o co-réu Antonio Luiz Vieira Loyola não teria alcançado seus objetivos. E, mais, ainda valendo-se de seu cargo/função pública, prestou todo o auxílio necessário no âmbito da ECT para o sucesso da empreitada criminosa, omitindo-se quanto ao seu dever de lealdade para a instituição a que servia – a ECT.

Outrossim, mister registar que, para tais aquisições fraudulentas das Agências Franqueadas dos Correios, Antonio Luiz Vieira Loyola visando escamotear a alicantina e até mesmo a extensão de seu patrimônio, utilizou-se de interpostas pessoas – “laranjas”.

No caso da ACF 31 de Março – Votorantim/SP os “laranjas” foram os co-requeridos Daniel de Brito Loyola e Damiano João Giacomin . Já quanto à ACF Capital do Clima – São Carlos/SP os laranjas foram os co-requeridos Marcelo Coluccini de Souza Camargo e Damiano João Giacomin.

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Como o co-réu Antonio Luiz Vieira Loyola está ligado a duas Agências dos Correios Franqueadas (ACF Grajaú e ACF Campinas), tal escamoteamento foi necessário em razão do que dispõe o MANCAT (Manual de Comercialização e Atendimento da ECT), item 3.4, alínea "d", ou seja, que não é lícito a uma mesma pessoa participar da sociedade em mais de duas Agências dos Correios Franqueadas – ACF.

Assim, passou o co-réu Antonio Luiz Vieira Loyola a deter a propriedade de 4 (quatro) Agências dos Correios Franqueadas – ACF, localizadas nas cidades de Votorantim/SP, Campinas/SP, Grajaú/SP e São Carlos/SP (Processo nº 2007.61.10.002128-8 - fls. 1084/1088; PDF – fls. 170/174).

Após a realização de diversas diligências e interceptações telefônicas, a Polícia Federal conseguiu identificar todos os integrantes da quadrilha chefiada pelo co-requerido Antonio Luiz Vieira Loyola, bem como as funções de cada membro dentro da organização criminosa (Processo nº 2008.61.10.007491-1 - fls. 52/63; PDF – fls. 53/64):

“(...)

A) ALEX KARPINSCKI

(...)

Trata-se do responsável pela intermediação dos negócios escusos de ANTONIO LUIZ VIEIRA LOYOLA.

Das provas carreadas aos autos denota-se que ALEX KARPINSCKI, de posse de informações privilegiadas obtidas por LOYOLA junto a servidores graduados dos Correios, realiza ameaças veladas para pressionar os franqueados a concluírem o negócio, sob pena de perderem a franquia e experimentarem maiores prejuízos.

(...)

Após ter adquirido de forma fraudulenta a ACF 31 DE MARÇO, situada em Votorantim-SP, LOYOLA utiliza-se do mesmo modus operandi para pressionar outro franqueado, desta feita o proprietário de uma agência instalada na cidade de São Carlos, denominada CAPITAL DO CLIMA.

(...)

B) ANTÔNIO LUIZ VIEIRA LOYOLA

Trata-se de um dos 'cabeças' da organização criminosa, sendo proprietário de diversas franquias dos Correios.

Restou evidente nos autos que LOYOLA obtém informações privilegiadas junto a importantes servidores dos Correios, os quais o auxiliam nas mais variadas falcatruas, desde a aquisição ilegal de ACF's que se encontram na iminência de serem descredenciadas, até a transferência ilícita de postagens para urna de suas agências. Não há dúvidas, também, que LOYOLA utiliza "laranjas" para mascarar a propriedade das franquias.

(...)

LOYOLA é o real proprietário da ACF 31 de MARÇO, situada em Votorantim - SP, confirmando a suspeita de que DANIEL LOYOLA e DAMIANO foram utilizados para mascarar o quadro societário da franquia. Com isso, as condutas de LOYOLA se

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subsumem aos crimes de extorsão (em concurso com ALEX) e falsidade ideológica (em concurso com DANIEL e DAMIANO).

Forçoso concluir, ainda, que LOYOLA cometeu tráfico de influência, pois obtém importantes informações de servidores graduados dos Correios, as quais se apresentam como indispensáveis para a conclusão dos negócios ilícitos da quadrilha. Obviamente que, para obter tais informações, há a contrapartida de LOYOLA, qua1 seja, o pagamento de propina para tais servidores públicos, configurando, dessa forma, o delito de corrupção ativa.

(...)

C) DANIEL LOYOLA

Trata-se de um dos "laranjas" utilizados por LOYOLA. É proprietário de direito das ACF's Grajaú (São Paulo) e Votorantim - SP, esta, adquirida fraudulentamente com plena consciência do investigado.

Tão logo preencheu o documento que transferiu a titularidade da franquia, sabedor de que não lhe pertence, cometeu o delito de falsidade ideológica juntamente com seu sócio de direito, DAMIANO GIACOMIN e em concurso com o seu genitor, ANTONIO LUIZ VlElRA LOYOLA, idealizador do esquema.

D) DAMIANO JOÃO GIACOMIN

Também figura como "testa-de-ferro" em diversos negócios de LOYOLA e possui plena cognição dos esquemas fraudulentos de compra de agências franqueadas dos Correios.

Em um dos diálogos interceptados (índice 7468965), DAMIANO informou LOYOLA que durante a entrevista realizada nos Correios para poder adquirir a ACF 31 de MARÇO, situada em Votorantim - SP foi necessário apresentar uma história mendaz, pois as entrevistadoras insistiram em saber como ele teve conhecimento de que tal agência seria alienada, ao que respondeu que ficou sabendo "no meio, no mercado".

E) MÁRCIO CALDEIRA JUNQUEIRA

Trata-se do Coordenador Regional de Negócios dos Correios em Bauru - SP e encarregou-se de pressionar pessoalmente o advogado de Paulo Rodrigues, demonstrando que não haveria outra saída para o franqueado que não fosse a alienação de sua agência, cometendo assim o delito de extorsão.

Além disso, integra um grupo de servidores dos Correios que, valendo-se da condição de servidor público, patrocinam, constantemente, interesses de LOYOLA perante a empresa pública federal, mediante o recebimento de propinas.

(...)

F) VITOR APARECIDO CAIVANO JOPPERT

É o Diretor Regional dos Correios de Bauru, a qual abrange a área de Sorocaba.

As provas coletadas dão conta de que foi VITOR quem passou, de forma privilegiada, as informações referentes às ACF's da cidade de Votorantim e de São Carlos, para que LOYOLA e ALEX utilizassem o mencionado modus operandi de pressionar seus proprietários a alienar a agência, sob pena de descredenciamento.

Além disso, auxiliou LOYOLA a alterar o local da ACF de Votorantim – SP, mesmo tendo conhecimento de que o novo endereço se encontrava fora do raio de atuação dos Correios.

G) SEBASTIÃO SÉRGIO DE SOUZA

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Prestou auxílio a LOYOLA, valendo-se de sua condição de servidor do órgão, no seu intento em transferir o ponto da ACF 31 de MARÇO para uma galeria comercial (ou mini-shopping) nas cercanias de onde hoje está estabelecida. Além disso, a mando de VITOR municiou LOYOLA com informações privilegiadas de agências que estavam na iminência de serem descredenciadas, como se deu no caso da ACF de São Carlos – SP...”

Observe-se que, embora não conste o nome do co-réu Marcelo Coluccini de Souza Camargo, ele também ajudou Antonio Luiz Vieira Loyola a concretizar seus intentos, eis que juntamente com Damiano João Giacomin atuou como laranja na aquisição da ACF Capital do Clima, conforme demonstram os elementos probatórios carreados aos autos da Operação “Déjà Vu”.

A Autoridade Policial, através de representação criminal, pleiteou a prisão temporária de Alex Karpinsck, Antonio Luiz Vieira Loyola, Daniel Britto Lovola, Damiano João Giacomin, Marcio Caldeira Junqueira, Vitor Aparecido Caivano Joppert e Sebastião Sérgio de Souza, tendo em vista a existência de fortes indícios de autoria, as provas coligidas aos autos e a necessidade de segregação dos acusados para obtenção de novas provas e cessação das atividades criminosas.

Solicitou, ainda, em relação aos co-réus supramencionados, a concessão de mandados de busca e apreensão visando à apreensão de “moeda nacional em valor igual ou superior a R$l0.000,00 (dez mil reais), moeda estrangeira (dólar/euro) em valor igual ou superior ao equivalente a R$10.000,00 (dez mil reais), agendas telefônicas em meio físico ou eletrônico, CPUs de Computadores com autorização para análise de quaisquer informações neles armazenadas - protegidas ou não por sigilo -, Notebooks, pen drives ou qualquer outra mídia digital”.

Por derradeiro, pugnou pela decretação de seqüestro do veículo (Audi A6, ano 2005, placas DQY 4222) utilizado por Antonio Luiz Vieira Loyola, bem como pela expedição de ordem ao Banco Central do Brasil determinando o bloqueio de todos os valores constantes nas contas correntes do referido co-réu (Processo nº 2008.61.10.007491-1 - fls. 370/378; PDF – fls. 07/15).

Em razão da imprescindibilidade das medidas pleiteadas, a representação da Autoridade Policial obteve deferimento, conforme verifica-se na decisão judicial a seguir transcrita (Processo nº 2007.61.10.002128-8 - fls. 109/120; PDF – fls. 140/151):

“Trata-se de requerimento formulado pela autoridade policial, buscando ordem judicial para que seja decretada a prisão temporária dos investigados nestes autos e nos autos nº 2007.61.10.001361-9; e para que seja determinada a expedição de mandado de busca e apreensão nos endereços indicados, assim como para que seja decretado o seqüestro e bloqueio de bens e contas correntes dos investigados...

(...)

A prisão temporária tem fundamento na lei n. 7 960/89 Ao caso presente, as condutas dos acusados subsumem-se ao enquadramento legal descrito no artigo 1º, inciso I e III, alínea “d" e "l", todos da referida lei.

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Entendo que a decretação da prisão temporária, neste momento processual, é imprescindível para a conclusão das investigações do inquérito policial.

0 que se apurou até o momento com as quebras de sigilo telefônicos decretadas nos autos é que os investigados se associaram para canalizar informações sigilosas e privilegiadas, em razão do cargo que ocupam dentro da Empresa de Correios e Telégrafos - ECT, no intuito de obterem lucro fácil e ilícito. As provas até então captadas são robustas e demonstram que se trata de um esquema organizado, com ramificação em Bauru/SP, São Paulo/SP e Brasília/DF, em setores estratégicos da ECT/Correios, tudo com finalidade totalmente distinta do interesse público na prestação do serviço público monopolizado de correios e telégrafos.

A prisão dos envolvidos também servirá para cessar a prática reiterada das conduta, eis que se comprovou a habitualidade das condutas, além de afastar fisicamente os acusados dos lugares onde as buscas serão realizadas, no ensejo de se evitar a possibilidade de destruição das provas buscadas.

No que pertine aos investigados, observo que as provas até então carreadas, demonstram que há indícios da participação de vários investigados nos delitos. Os relatórios realizados pela Autoridade Policial Federal – fls. 160/351 – trazem elementos concretos da participação de cada um.

Vejamos:

1) - Alex Karpinsck - Há fortes indícios da autoria e prática de constrangimento contra os proprietários das agências dos Correios em Votorantim/SP e São Carlos/SP, mediante grave ameaça de descredenciamento e perda do patrimônio, com punição administrativa, no intuito de favorecer a si e Antonio Luiz Veira Loyola, para obterem indevida vantagem econômica de lucro fácil e ilícito, por intermédio de prévio tráfico de influência e corrupção ativa dos servidores dos Correios em Bauru/SP, São Paulo/SP e Brasília/DF na obtenção de informações sigilosas e privilegiadas de franqueados em dificuldades financeiras e administrativas perante a ECT/Correios, associando-se aos demais investigados para a prática reiterada de crimes de extorsão, tráfico de influência, corrupção ativa e corrupção passiva.

2) Antonio Luiz Vieira Loyola - Há fortes indícios da autoria e pratica de tráfico de influência e corrupção ativa dos servidores dos Correios em Bauru/SP, São Paulo/SP e Brasília/DF na obtenção de informações sigilosas e privilegiadas de franqueados em dificuldades financeiras e administrativas perante os Correios, com intuito de constranger os proprietários das agências dos Correios em Votorantim/SP e São Carlos/SP, mediante grave ameaça de descredenciamento e perda do patrimônio, com punição administrativa, no intuito de favorecer a si e os outros, associando-se aos demais para a prática reiterada de crimes de extorsão, tráfico de influência, corrupção ativa e corrupção passiva.

3) - Daniel Britto Lovola - Há fortes indícios de que integra ativamente a quadrilha ao emprestar seu nome para aquisição ilícita de franquias dos Correios em dificuldades, ocultando o verdadeiro proprietário, através de falsidade ideológica, associando-se aos demais investigados para a prática de crimes da quadrilha.

4) – Damiano João Giacomin – Há fortes indícios de que se trata de uma “laranja” consciente, visto que tem ciência dos ilícitos praticados por Antonio Luiz Vieira Loyola, e mesmo assim empresta seu nome para ocultar o verdadeiro proprietário das agências dos Correios compradas de forma ilícita, mediate falsidade ideológica, associando-se para a pratica de crimes da quadrilha.

5) Marcio Caldeira Junqueira - Há fortes indícios de que patrocina interesses da quadrilha dentro dos Correios, eis que, prevalecendo do seu cargo de coordenador regional de negócios em Bauru/SP, levanta e repassa informações sigilosas de franqueados, ameaçando os que se encontram em situação difícil perante os Correios, caso não vendam suas franquias a Antonio Luiz Vieira Loyola. Recebe indevidas vantagens em função desses serviços e tem pleno conhecimento das atividades dos demais servidores dos Correios que se associaram para a prática de crimes.

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6) Vitor Aparecido Caivano Joppert - Há fortes indícios de que patrocina interesses da quadrilha dentro dos Correios, eis que, prevalecendo do seu cargo de diretor regional dos Correios em Bauru/SP, levanta e repassa informações sigilosas de franqueados, ameaçando os que se encontram em situação difícil perante os Correios, caso não vendam suas franquias a Antonio Luiz Vieira Loyola. Recebe indevidas vantagens em função desses serviços e tem pleno conhecimento das atividades dos demais servidores dos Correios que se associaram para a prática de crimes.

7) Sebastião Sérgio de Souza - Há fortes indícios de que patrocina interesses da quadrilha dentro dos Correios, eis que, prevalecendo do seu cargo de servidor dos Correios em Sorocaba/SP, levanta e repassa informações sigilosas de franqueados. Recebe indevidas vantagens em função desses serviços e tem pleno conhecimento das atividades dos demais servidores dos Correios que se associaram para a pratica de crimes.

(...)

No mais, os pedidos de busca e apreensão (art. 240 CPP) justificam-se diante dos indícios de autoria acima declinados, bem como da comprovada materialidade dos crimes perpetrados pelos investigados. Há imperiosa necessidade de se colher elementos para a convicção e objetos utilizados na prática criminosa, além de aprender coisas obtidas por meios criminosos, visto que não outro meio para se produzir tais provas senão pela busca forçada nos locais indicados. Há o perigo demora, o que pode proporcionar a possibilidade de destruição destas provas, caso não seja imediatamente colhida nos locais apontados.

Também há indícios apurados durante as investigações, que o patrimônio dos acusados foi amealhado por renda advinda da prática de ilícitos criminais de corrupção, quadrilha e tráfico de influência, configurando-se como incompatível com a renda declarada licitamente perante a Secretaria da Receita Federal em exercícios anteriores, e que por tal motivo indicam aquisição com o produto dos crimes perpetrados, nos termos do artigo 132 do Código de Processo Penal, justificando-se a apreensão antecipada dos bens móveis indicados (veículos).

(...)

Por todo o exposto:

1) Decreto a prisão temporária, pelo prazo de cinco dias, a contar do efetivo cumprimento dos mandados, dos seguintes investigados: 1) - Alex Karpinsck, CPF n. 805.511.308-49; 2) Antonio Luiz vieirk Loyola, CPF n. 180.839.867-04, 3) Daniel Britto Loyola, CPF n. 297.337 768-40; 4) Damiano João Giacomin, CPF n. 571 979.898-68; 5) Márcio Caldeira Junqueira, CPF n 470.880.956-53, 6) Vitor Aparecido Caivano Joppert, CPF n. 544.408.908-49; 7) Sebastião Sérgio de Souza, CPF n. 069.832.188-09...

2) Defiro os pedidos de busca e apreensão, para o fim de obtenção de documentos físicos e eletrônicos, inclusive análise e perícia das informações armazenadas nos equipamentos apreendidos, bens, valores (acima de R$ 10 000,00) e aparelhos eletrônicos que constituam elementos de prova da existência dos crimes investigados, devendo a Autoridade Policial observar os princípios da razoabilidade e proporcionalidade no cumprimento das medidas, observando-se, ainda, que os mandados de busca e apreensão deverão consignar os endereços fornecidos pela Policia Federal às fls.375/376.

3) Defiro a busca e apreensão dos veículos relacionados à fl. 377, devendo tais veículos serem encaminhados para a Delegacia da Policia Federal de Sorocaba ou outro local indicado pela DD Autoridade Policial. Posteriormente, a DD Autoridade Policial deverá remeter cópia do ofício de restrição ao DETRAN da Unidade da Federação a qual o veículo está vinculado...”

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Obteve-se êxito no cumprimento dos mandados de prisão temporária/busca e apreensão, consoante exposto no Relatório Circunstanciado confeccionado pela Autoridade Policial (Processo nº 2007.61.10.002128-8 - fls. 511/514; PDF – fls. 115/118):

“Cumpre-me informar, inicialmente, que em cumprimento aos Mandados de Busca e Apreensão e Prisão Temporária expedidos por V. Exª nos autos do IPL 18-0074/2007, desencadeou-se a Operação DÉJÀ VU, com a participação das Superintendências Regionais da Polícia Federal nos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Distrito Federal e Porto Alegre, além das Delegacias de Polícia Federal de Juiz de Fora, São José do Rio Preto, Bauru e Campinas, servindo a Delegacia de Sorocaba como Sede da Operação.

A logística da Operação citada contou com a participação de aproximadamente 120 policiais federais divididos em 08 Bases de Execução situadas nos Municípios de Campinas, Rio de Janeiro, Distrito Federal, Bauru, São José do Rio Preto, Juiz de Fora e Porto Alegre, além da Sede da Operação estabelecida em Sorocaba.

No que diz respeito aos Mandados de Prisão Temporária expedidos por este Juízo, informa-se que somente o ALVO MARCIO CALDEIRA JUNQUEIRA não foi encontrado em sua residência, no Município de Bauru/SP, consoante informado a esta DPF pelo Chefe da base Bauru, DPF ANTONIO VAZ DE OLIVEIRA, por meio do Oficio 477/9/2008-DPF/BRU/SP, já que o ALVO se encontrava em um curso na cidade de Florianópolis/SC.

(...)

Inusitadamente, no final da manhã de 31/12/2008, MARCIO CALDEIRA JUNQUEIRA apresentou-se na SR/SC, onde o seu Mandado de Prisão foi cumprido e indiciamento formalizado, protestando-se pela remessa das peças cartorárias a este Juízo assim que recebidas na DPF/SOD.

(...)

No respeitante aos Mandados de Busca e Apreensão comunica-se que apesar de em alguns locais as buscas resultarem negativas, todos foram cumpridos com êxito...”

Os co-réus Alex Karpinsck, Antonio Luiz Vieira Loyola, Daniel Britto Lovola, Damiano João Giacomin, Marcio Caldeira Junqueira, Vitor Aparecido Caivano Joppert e Sebastião Sérgio de Souza foram interrogados e indiciados.

Vale a pena reproduzir, por pertinente, os trechos mais importantes dos interrogatórios:

Alex Karpinsck (Processo nº 2007.61.10.002128-8 - fls. 658/660; PDF – fls. 02/04)

Cientificado das imputações que lhe são feitas e dos seus direitos constitucionais, dentre eles o de permanecer calado, acompanhado de sua Advogada, Dra. Rebeca Andrade de Macedo, OAB 181560- SP, com escritório situado à Avenida Pavão, 231, apto 43-A, Moema, São Paulo - SP, tel (11) 5097- 9290, e inquirido pela Autoridade sobre os fatos em apuração, em especial sobre as seguintes indagações, RESPONDEU: (...) QUE confirma que intermediou a negociação da ACF 31 de MARÇO, situada em Votorantim/SP, cujo proprietário era PAULO RODRIGUES (...) QUE o interrogando foi procurado por ANTONIO LUIZ VIEIRA LOYOLA para negociar a ACF 31 DE MARÇO; QUE confirma que LOYOLA pediu ao interrogando que procurasse PAULO RODRIGUES e oferecesse R$ 100.000,00 (cem mil reais) pela ACF e o informasse de que tinham conhecimento de que sua agência seria descredenciada pelos Correios; QUE confirma que exerceu uma "pressão" em PAULO RODRIGUES a pedido de

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LOYOLA; QUE confirma que a pressão consistia no seguinte: LOYOLA mandava o interrogando dizer que se a ACF não fosse alienada para ele por aquele valor (R$ 100 mil), não seria vendida para mais ninguém e o franqueado ainda perderia sua agência (...) QUE confirma que quem fez toda a negociação com a ACF 31 DE MARÇO foi LOYOLA e que a agência foi colocada em nome de DANIEL DE BRIT0 LOYOLA e DAMIANO JOÃO GIACOMIN; QUE confirma que foi pago R$ 118.000,OO pela referida ACF (...) QUE DAMIANO é homem de confiança de LOYOLA e trabalha na ACF GRAJAÚ (...) QUE acredita que DANIEL DE BRIT0 LOYOLA e DAMIANO JOAO GIACOMIN sejam "Iaranjas" de LOYOLA; QUE confirma que LOYOLA obtém informações privilegiadas de servidores dos Correios e que possui muito contato com os diretores da ECT; QUE LOYOLA possui muito contato com o Diretor VITOR JOPPERT e MARCOS SILVA, ex-Diretor Regional de São Paulo-Metropolitana; QUE confirma que PAULO RODRIGUES foi pressionado a vender a referida ACF, que teve de pressioná-lo a mando de LOYOLA; QUE confirma que o áudio apresentado corresponde a sua voz; QUE LOYOLA orientava o interrogando a como realizar a pressão em PAULO RODRIGUES; QUE quando LOYOLA disse que o Dr. de Bauru já estava contando inclusive com o remédio, na verdade estava se referindo à "comissão” (propina) que seria paga ao Diretor Regional, que à época dos fatos era VITOR JOPPERT; QUE não sabe dizer como LOYOLA conseguiu alterar as instalações físicas da ACF 31 DE MARÇO; QUE confirma que LOYOLA é proprietário das ACF's de VOTORANTIM, CAMPINAS, GRAJAÚ e SÃO CARLOS; QUE em relação à ACF CAPITAL DO CLIMA, situada em São Carlos/SP, confirma que foi procurado por LOYOLA para realizar "pressão” no proprietário, nos mesmos moldes da realizada em Votorantim/SP; QUE confirma que LOYOLA disse que tal informação foi obtida por meio de VlTOR JOPPERT em primeira mão; QUE acredita que LOYOLA tenha pago R$ 600.000,OO (seiscentos mil reais) pelo negócio, mas que na verdade a agência deveria valer em torno de R$ 800.000,OO (oitocentos mil reais) (...) QUE o interrogando esclarece que recebeu R$ 5.000,00 (cinco mil reais) pela intermediação da ACF 31 DE MARÇO e R$ 30.000,00 (trinta mil reais) pela intermediação da ACF CAPITAL DO CLIMA; QUE confirma que combinaram em vender a ACF CAPITAL DO CLIMA e que receberiam um lucro de aproximadamente R$ 100.000,00 (cem mil reais) que seria dividido entre o interrogando, LOYOLA e VITOR JOPPERT; QUE confirma que intermediou a alienação da ACF 31 DE MARÇO para ANTONIO DELLARMELINDA e que a transação atingiu a cifra de R$ 550.000,00 (quinhentos e cinqüenta mil reais); QUE confirma que o negócio foi fechado na ACF AMOREIRAS, em CampinaslSP, onde estavam presentes LOYOLA, ANTONTO DELLARMELINDA e o interrogando; QUE confirma que ANTONIO DELLARMELINDA quis desfazer o negócio, tendo em vista que LOYOLA faltou com a verdade no tocante ao faturamento da ACF; QUE além disso, ANTONIO DELLARMELINDA disse ao interrogando que outro fato que motivou a sua desistência foi porque LOYOLA estaria utilizando da VARILOG, em total dissonância das normas dos Correios; QUE na verdade ANTONIO DELLARMELINDA pagou R$ 275.000,OO (duzentos e setenta e cinco mil reais), sendo que o restante, ou seja, os outros 50% seriam pagos por ocasião da transferência: QUE LOYOLA não aceitou em desfazer o negócio e que depois de muita discussão, LOYOLA chegou a oferecer R$ 250.000,OO para ANTONIO DELLARMELINDA, ocasião em que este solicitou que LOYOLA fizesse a proposta por escrito e LOYOLA desconsiderou o pedido e disse que era para ele procurar seus direitos...”

Damiano João Giacomin (Processo nº 2007.61.10.002128-8 - fls. 686/691; PDF – fls. 30/35)

“Cientificado das imputações que lhe são feitas e dos seus direitos constitucionais, dentre eles o de permanecer calado. Inquirido pela Autoridade sobre os fatos em apuração, RESPONDEU AOS SEGUINTES QUESITOS:

“1) Qual sua profissão? Desde quando? Possui alguma empresa em seu nome? Qual?

QUE, é gerente administrativo financeiro da empresa D. BRITO LOYOLA & CIA LTDA ME, exercendo esta profissão desde dezembro de 2006; QUE, possui uma empresa denominada DAL SERVICOS (ACF TRINTA E UM DE MARÇO), localizada em Votorantim/SP, em sociedade com DANIEL BRITO LOYOLA, QUE, também possui outra

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empresa chamada COLUCCINE E GIACOMIN SERVICOS DE LOGÍSTICA (ACF), localizada em São Carlos/SP;

2) Possui alguma franquia dos Correios? Em sendo positiva a resposta, citar endereço.

QUE, que as duas empresas acima são franquias do correio; QUE, uma delas se localiza na Av. Trinta e um de março em Votorantim/SP e a outra não se recorda o endereço sabendo dizer que apenas é no Centro de São Carlos/SP

(...)

8) Qual a origem do dinheiro utilizado para comprar a ACF 31 DE MARCO, situada em Votorantim/SP ?

QUE, foi ANTONIO LUIZ LOYOLA quem pagou o negócio, esclarecendo o indiciado que o dinheiro pode ter tido origem em outras empresas de ANTONIO LUIZ LOYOLA;

(...)

11) Qual era sua função dentro da ACF 31 DE MARCO? E a de DANIEL? Qual sua participação nos negócios diários do empreendimento? Quem é o responsável pela tomada de decisões ?

QUE, o indiciado nunca trabalhou na empresa ACF 31 DE MARCO, somente assinando documentação fiscal, contábil e bancária da empresa; QUE, DANIEL também não trabalha na referida empresa, sendo que todas as decisões são tomadas por ANTONIO LUIZ LOYOLA;

(...)

16) Confirma que, na realidade, a ACF 31 DE MARÇO é da propriedade de ANTONIO LUIZ VlElRA LOYOLA, e que você e DANIEL são laranjas dele?

QUE, confirma que na realidade, a ACF 31 DE MARCO é da propriedade de ANTONIO LUIZ VIEIRA LOYOLA, e que o indiciado e DANIEL são laranjas dele.

(...)

24) Quantas ACF's ANTONIO LUlZ VlElRA LOYOLA possui? Sabe dizer a maneira pela qual ele as adquiriu?

QUE, ao todo ANTONIO LUIZ VIEIRA LOYOLA possui 04 ACF's; QUE, a ACF de Campinas/SP em que ANTONIO LUIZ LOYOLA figura como sócio, e nas outras três (GRAJAÚ, SÃO CARLOS E VOTORANTIM), ANTONIO LUIZ VIEIRA LOYOLA utilizou-se de laranjas...”

Marcelo Collucini de Souza(Processo nº 2007.61.10.002128-8 - fls. 1372/1373; PDF – fls. 24/25)

Cientificado das imputações que lhe são feitas e dos seus direitos constitucionais, dentre eles o de permanecer calado. Inquirido pela Autoridade sobre os fatos em apuração, na presença de seu advogado Dr. RALPH TORTIMA STETTINGER FILHO, OAB 126.739-SP, com escritório situado à Rua Alexandre Flemming, 87, Nova Campinas, Campinas-SP, tel. (19) 3294-7707, RESPONDEU: (...) QUE é proprietário da ACF CAPITAL DO CLIMA em São Carlos - SP, sendo esta sua primordial atividade; QUE não possui outra ACF; QUE possui 50% do capital societário da referida ACF, sendo que a outra metade pertence a DAMIANO JOÃO GIACOMIN (...) QUE o interrogado pagou 300 mil e DAMIANO pagou a outra parte (...) QUE ANTONIO LOYOLA encontrou a agência para ser adquirida pelo interrogado e indicou DAMIANO para ser o seu sócio (...) QUE não confirma o fato de DAMIANO ser "laranja" de LOYOLA; QUE indagado se DAMIANO reuniria condições de arcar com 300 mil reais para adquirir a ACF respondeu que, pelo que sabe, DAMIANO obteve um empréstimo

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desse valor do Sr. ANTONIO LUIZ LOYOLA (...) QUE possui o apelido de "alemão" (...) QUE após ter acesso ao Áudio de índice n° 7744377, no qual foi interceptada uma conversa estabelecida entre MARIA ALBA e ANTONIO LUIZ VIEIRA LOYOLA, o interrogado afirmou que compareceu com ANTONIO LOYOLA a ACF CAPITAL DO CLIMA a fim de conhecer a agência; QUE não sabe explicar porque LOYOLA disse a sua esposa MARIA ALBA porque compraria a agência com o interrogado, tendo em vista que seu sócio é DAMIANO; (...) QUE mostrado ao interrogado o Áudio de índice nº 7861729, que contém um diálogo entre o interrogado e ANTONIO LUIZ VIEIRA LOYOLA, o interrogado confirma ser sua a voz que consta no Áudio e nega que LOYOLA seja seu sócio na ACF CAPITAL DO CLIMA, sendo que na verdade LOYOLA estava indicando DAMIANO para ser sócio do interrogado, haja vista que o mesmo não conhecia nada a respeito dos Correios e precisaria de alguém que fosse do ramo...”

Vitor Aparecido Caivano Joppert (Processo nº 2007.61.10.002128-8 - fls. 703/707; PDF – fls. 47/51)

“Cientificado das imputações que lhe são feitas e dos seus direitos constitucionais, dentre eles o de permanecer calado. Inquirido pela Autoridade sobre os fatos em apuração, na presença do advogado Dr. Henrique Augusto Dias, OABISP no 73.907, com escritório na Rua Olavo Bilac, no 10, bairro Vila Diniz, nesta cidade, telefone (17) 321 1-4400, RESPONDEU: (...) QUE, indagado se conhece ANTONIO LUIZ VIEIRA LOYOLA, esclarece que conhece a pessoa de nome "LUIZ LOYOLA", proprietário de uma agência em Campinas/SP, e membro da Associação dos franqueados; QUE, acredita que ANTONIO LUIZ VIEIRA LOYOLA é proprietário também de uma agência em São Paulo/SP; QUE, conhece LUIZ LOYOLA desde que assumiu a Diretoria Regional em meados de 2000; QUE, mantinha relacionamento com LUIZ LOYOLA em decorrência de o mesmo ser da Associação dos franqueados; (...) QUE confirma que transmitiu a LUIZ LOYOLA algumas informações em relação ao funcionamento, existência de débitos ou processos administrativos referentes a algumas agências que o mesmo estava interessado em adquirir (...) QUE, não considera tais informações como “privilegiadas”, apenas informativas (...) QUE, ouvido o áudio índice 7123308 (ALEX x LOYOLA), o interrogado esclarece que a expressão "o médico estava até contando com os remédios dele", não se refere a qualquer valor que receberia pela informação prestada, reconhecendo que a referência "médico" foi feita em relação a sua pessoa (...) QUE, ouvido o áudio índice 7232999 (VITOR x LOYOLA), confirma que citou para LUIZ LOYOLA o interesse da empresa SOROCRED em adquirir a agência 31 de Março de Votorantim/SP por um valor três vezes maior do que o oferecido por LUIZ LOYOLA; QUE, não sabe se tal oferta foi concretizada, não sabendo também os motivos pelos quais PAULO teria vendido "a um preço menor" para LUIZ LOYOLA; (...) QUE, a expressão "tem uma boa em São Carlos" (índice 7726281 - VITOR x LOYOLA), referia-se à possibilidade de compra de uma agência naquela cidade que passava por problemas administrativos e financeiros; QUE, a expressão "o negócio será bom para você?" (índice 7726281 - VITOR x LOYOLA), referia-se à possibilidade de o interrogado ser sócio da agência, esclarecendo que há vedação institucional de funcionários dos Correios ser franqueado, mesmo que em sociedade; QUE, em relação à agência Capital do Clima em São Carlos/SP, confirma ter informado a LUIZ LOYOLA sobre os débitos existentes e os problemas administrativos pelos quais a agência passava; (...) QUE, não é "normal" passar este tipo de informação para franqueados, esclarecendo que tratava-se de um caso especial, devido à urgência, tendo em vista que a franqueada estava prestes a ser descredenciada...”

Antonio Luiz Vieira Loyola utilizou o direito assegurado pelo art. 5º, inciso LXIII, da Constituição Federal e permaneceu calado (Processo nº 2007.61.10.002128-8 - fls. 665/674; PDF – fls. 09/18).

Daniel de Brito Loyola, como já era de se esperar, não forneceu nenhuma informação importante, pelo contrário, proferiu apenas falácias,

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em total dissonância com os elementos probatórios coligidos aos autos (Processo nº 2007.61.10.002128-8 - fls. 679/681; PDF – fls. 23/25).

Marcio Caldeira Junqueira, de igual forma, não disse nada profícuo e tentou rechaçar todas as acusações que lhe são imputadas (Processo nº 2007.61.10.002128-8 - fls. 696/699; PDF – fls. 40/43).

Sebastião Sérgio de Souza também não disse nada relevante (Processo nº 2007.61.10.002128-8 - fls. 708/713; PDF – fls. 52/57).

O Relatório Final da Operação “Déjà Vu” encontra-se às fls. 1082/1130 do Processo nº 2007.61.10.002128-8 (PDF – fls. 168/216).

O Parquet Federal ofereceu denúncia em face de todos co-réus (exceto Helena Aquemi Mio) desta ação civil pública pela prática dos crimes a seguir expostos (Processo nº 2007.61.10.002128-8 - fls. 2151/2202; PDF – fls. 03/54):

Antonio Luiz Vieira Loyola: Arts. 158 (Extorsão), parágrafo primeiro (Causa de aumento de pena), 288 (Quadrilha ou bando), 299 (Falsidade ideológica), 304 (Uso de documento falso) e 333 (Corrupção ativa), combinados com o art. 69 (Concurso material), todos do Código Penal.

Daniel de Brito Loyola: Arts. 288 (Quadrilha ou bando), 299 (Falsidade ideológica) e 304 (Uso de documento falso), combinados com o art. 69 (Concurso material), todos do Código Penal.

Alex Karpinscki: Arts. 158 (Extorsão), parágrafo primeiro (Causa de aumento de pena), 288 (Quadrilha ou bando) e 333 (Corrupção ativa), combinados com o art. 69 (Concurso material), todos do Código Penal.

Damiano João Giacomin: Arts. 288 (Quadrilha ou bando), 299 (Falsidade ideológica) e 304 (Uso de documento falso), combinados com o art. 69 (Concurso material), todos do Código Penal.

Marcelo Coluccini de Souza Camargo: Arts. 299 (Falsidade ideológica) e 304 (Uso de documento falso), combinados com o art. 69 (Concurso material), todos do Código Penal.

Vitor Aparecido Caivano Joppert: Arts. 158 (Extorsão), parágrafo primeiro (Causa de aumento de pena), 288 (Quadrilha ou bando), 317 (Corrupção passiva), parágrafo primeiro (Causa de aumento de pena), 321 (Advocacia administrativa), 325 (Violação de sigilo funcional), 327 (Conceito de funcionário público), parágrafo segundo (Causa de aumento de pena), combinados com o art. 69 (Concurso material), todos do Código Penal.

Marcio Caldeira Junqueira: Arts. 158 (Extorsão), parágrafo primeiro (Causa de aumento de pena), 288 (Quadrilha ou bando), 317 (Corrupção passiva), parágrafo primeiro (Causa de aumento de pena), 321 (Advocacia administrativa), 325 (Violação de sigilo funcional), 327 (Conceito de funcionário público), parágrafo segundo (Causa de aumento de pena), combinados com o art. 69 (Concurso material), todos do Código Penal.

Sebastião Sérgio de Souza: 288 (Quadrilha ou bando), 317 (Corrupção passiva), parágrafo primeiro (Causa de aumento de pena), 321 (Advocacia administrativa), 325 (Violação de sigilo funcional), 327 (Conceito de funcionário público), parágrafo segundo (Causa de aumento de pena), combinados com o art. 69 (Concurso material), todos do Código Penal.

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A exordial acusatória foi recebida pelo Juízo da 1ª Vara Federal da Subseção Judiciária de Sorocaba/SP, o qual determinou a citação dos co-réus para apresentação de defesa prévia, nos termos do art. 396 do Código de Processo Penal, dessa forma, o processo criminal encontra-se em tramitação (Processo nº 2007.61.10.002128-8 - fls. 2203/2204; PDF – fls. 55/56).

Anote-se, outrossim, que o Parquet Federal, através da Medida Cautelar nº 2009.61.10.002024-4, distribuída por dependência ao Juízo da 1ª Vara Federal da Subseção Judiciária de Sorocaba/SP, conseguiu obter o afastamento 74 dos funcionários da ECT (Vitor Aparecido Caivano Joppert, Sebastião Sérgio de Souza e Marcio Caldeira Junqueira) dos seus cargos, sob o argumento de que a permanência nas respectivas funções ofende a Administração Pública.

Expostos os fatos principais que tornam de rigor o ajuizamento da presente ação, é imperioso explanar, ainda que de forma sucinta, as outras vertentes da Operação “Déjà Vu”, a fim de que possa ter um panorama mais completo do caso, notadamente quanto à participação ativa de Antonio Luiz Vieira Loyola em todas elas, o que demonstra que este co-réu faz da prática de atos de improbidade administrativa/crimes a sua profissão.

5.4. Loja “Alba Loyola” - Descaminho

O nascedouro das investigações policiais sobre o caso foi a apuração de irregularidades concernentes à aquisição de Agências Franqueadas dos Correios. Contudo, no decorrer das investigações, em razão de outras vertentes delituosas, houve necessidade de cisão, sendo que uma delas refere-se à Loja Alba Loyola (Campinas/SP), conhecida como “Daslu de Campinas”, cuja proprietária é Maria Alba Andere de Brito Loyola, esposa do co-réu Antonio Luiz Vieira Loyola, veja-se o Relatório de Inteligência nº 004/2007 (Processo nº 2007.61.10.001361-9 - fls. 62/64; PDF – fls. 06/08):

“(...) No curso da investigação, foi constatada uma possível prática de crime de Descaminho de roupas de luxo de origem nova-iorquina cometido por Loyola e outras pessoas, com entrada no Aeroporto Internacional de Guarulhos, contando com a ajuda de pessoas que trabalham naquele local. Não se sabe de qual instituição fazem parte tais pessoas. Neste feriado de carnaval Loyola viajou com a esposa e com esses amigos para Nova Iorque e numa conversa telefônica falaram sobre o assunto.

- Em 26/02/2007 – índice: 722136175

Pessoa a quem Loiola chama por CHIC0 e CHIQUINHO, mostra intimidade e transparece ter sido companhia de viagem de Loiola ao exterior. Loiola diz que está com o telefone novo do Valdir; Chico diz que encontrou com ele lá (no Aeroporto), Chico diz que a Nívea foi com a Júlia (para o exterior e ligou para Valdir); Chico diz que hoje ele estava lá, mas tinham outras pessoas que ele estava esperando. Chico diz que Valdir comentou que ontem encontrou com Loiola ontem. Loiola fala sobre MAURÍCIO, que parece ser servidor público que trabalha no aeroporto de Guarulhos. Loiola e Chiquinho conversam de maneira cifrada. Chiquinho chega a dizer: "vou falar por código, tá?...”, .."Você deu 'naquele esquema' que você dava antigamente?".., "aquele esquema ..... você fez da mesma forma? (ontem)”, Loiola responde: 'mesma coisa'.

74 - http://www.jfsp.jus.br/assets/Uploads/administrativo/NUCS/decisoes/2009/090310cautelarDEJAVU.pdf75 Fone: 1978512204 – LOYOLA – Data: 25/02/2007 – Hora: 12:40:02 – Duração: 00:14:34

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Chiquinho responde: "eu também, Ele [MAURÍCIO] me disse 'gente.... vocês não imaginam o que isso ajuda na minha vida..”. Depois Chiquinho diz : “Parece que ele não está mais lá em cima no terminal como antigamente...”. Falam também de outras pessoas que parecem ser servidores, Loiola diz que deu U$ 30,00 para um 'carequinha' e Chico informa que deu U$ 50,00, aparentemente para liberação de malas e mercadorias. Chico comenta com Loiola que ele (Loiola) deixou somente algumas coisas e o grosso ele deixou com o Gilmar; Loiola confirma o fato. Eles falam sobre Laura, que também tinha mercadorias. Chico pergunta se ele mandou o dinheiro e Loiola diz que mandou certinho (provavelmente para NY). Ao final Alba entra na ligação para conversar com mulher de Chico (Nívea), deixando a entender que foi comprar roupas no exterior para abastecer sua loja, dizendo: '”..eu acho que a gente comprou bem ... compramos poucas roupas de festa,..mas, se precisar [a gente] volta....” Alba diz que ainda nem tirou as malas do carro, só as de mão, pois vai ter que levar para lá depois (para a Ioja de roupas dela). Alba chega a anotar telefone celular de uma mulher (Yara??) que aparentemente traz roupas de Nova Iorque (21-9588.8858,212-7309444-NY, Hotel Saint James). Alba diz que Laura, que também tinha mercadorias chegando, convidou as duas famílias para um jantar de lançamento de roupas.

(...)

- Em 26/02/2007 – índice: 722138376

Loiola mostra intimidade com YARA (que está no RJ e vai hoje para NY), aparentemente a mesma mulher que Alba menciona em conversa com Nívea, perguntando: "você tem previsão?”, ao que YARA responde: “a partir de amanhã uns 10 dias". Loiola: “É por causa do nosso lançamento aqui. .. (coleção)”. Loiola confirma o telefone em que Yara vai estar “lá” (NY): (347)806.4465.

COMENTÁRIOS DO ANALISTA

Analisando tais conversas, fica claro que essas pessoas mantêm um esquema para introduzirem mercadorias importadas no Pais, pela via aérea, sem o recolhimento dos tributos devidos e corrompendo pessoas que exercem atividade no Aeroporto Internacional de Guarulhos.

Vale salientar, por fim, que o Sr. Loyola viajou para Nova Iorque na semana do carnaval e falou poucos dias no período analisado, mas, ainda assim, foi possível detectar o uso de sua influência em vários assuntos de seu interesse, conforme explanado...”

As interceptações telefônicas não deixam dúvida em relação à importação irregular de mercadorias dos Estados Unidos (Processo nº 2007.61.10.001361-9 - fls. 81/83; PDF – fls. 27/29):

“(...) Com relação ao Descaminho no Aeroporto Internacional de Guarulhos, Loyola e sua esposa Alba continuam, através de terceiros, trazendo mercadorias para abastecerem a loja chamada "Alba Loyola", na cidade de Campinas, situada na Rua Coronel Silva Telles, 570. Trata-se de uma loja de luxo, bem localizada, com manobrista e com pelo menos uma propaganda num imenso "out door" exposto em uma das avenidas de Campinas. Acreditamos que a foto da mulher que aparece nele seja a própria Alba Loyola.

(...)

- Em 10/03/2007 – índice: 739794177

LOYOLA X ALBA

76 Fone: 1978512204 – LOYOLA – Data: 25/02/2007 – Hora: 12:43:23 – Duração: 00:01:3077 Fone: 1978512204 – LOYOLA – Data: 10/03/2007 – Hora: 11:07:15 – Duração: 00:04:19

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Loyola diz que pegou alguém (Cris) no aeroporto que veio do exterior; diz que a sacola de mercadorias veio na mala sem estar escondida. Alba diz que explicou como ela deveria arrumar a mala para disfarçar. Loyola diz que pagou para Cris US$ 550,00 que ela gastou, fora o Gilmar e o Regine (meio inaudível), o Regine é 1210. Alba pergunta se as coisas estão bonitas. Loyola diz que deu para pagar a viagem, pois só as bolsinhas já “puxa a nota”. Loyola diz que ela trouxe 36 bolsinhas. Alba diz que mandou comprar 3 dúzias. Loyola diz que ela pagou 7 dólares cada, ele pergunta por quanto vende e Alba diz que por 58 (reais), ela diz que precisa levar "as coisas" para botar preço. Loyola pergunta se vai levar tudo para Iá. Alba diz que não, mas vai separar algumas coisas para o lançamento.

- Em 10/03/2007 - Índice: 739834678

LOYOLA X JULIANA

Loyola pergunta como está o andamento, se estão arrumando as coisas. Juliana diz que estão arrumando tudo, porém tem que fechar a loja (para arrumar), mas já estão dando uma organizada. Loyola diz que está com "as coisas" que vieram com ele (aquelas que vieram com a Cris de NY) e precisa entrar na casa para descarregar, pois Alba quer colocar preço. No final ele pergunta se está vendendo e Juliana diz que está parado...”

As investigações culminaram na prisão em flagrante da esposa de Antonio Luiz Vieira Loyola pela prática do delito tipificado no art. 334 do Código Penal (Processo nº 2007.61.10.001361-9 - fls. 275/276; PDF – fls. 15/16):

“(...) verificou-se ainda, no curso da investigação, a prática de crime de sonegação fiscal e/ou descaminho de roupas de luxo de origem estrangeira cometido também por LOYOLA e outras pessoas. Insta salientar, que em razão das investigações encetadas, logramos efetuar a prisão de MARIA ALBA LOYOLA e de mais duas mulheres que a acompanhavam, no último dia 26 de abril, pois traziam diversos artigos de luxo, desacompanhados dos comprovantes de pagamento dos tributos aduaneiros. As prisões foram efetuadas por policiais federais lotados no Aeroporto Internacional de Guarulhos, sendo o auto de prisão em flagrante presidido pela Dra. Regiane Martinelli.

As pessoas envolvidas utilizaram o vôo 951 da Companhia American Airlines e os artigos de luxo apreendidos foram adquiridos em Nova Iorque – EUA, totalizando aproximadamente 180 quilos.

As investigações iniciadas por esta Delegacia, demonstram, à saciedade, que as mercadorias seriam destinadas ao abastecimento do estoque de uma loja situada em Campinas/SP...”

As transcrições abaixo ilustram o desrespeito de Antonio Luiz Vieira Loyola às autoridades constituídas, bem como ao ordenamento jurídico (Processo nº 2007.61.10.001361-9 - fls. 313 e 318; PDF – fls. 53 e 58):

“(...) LOYOLA X CARLOS / Índice 796664179 – 26/04

LOYOLA diz para Carlinhos ".. a mulher filha-da-puta aqui (Delegada) prendeu todo mundo aqui, a ALBA ta presa acredita ?..". Carlinhos pergunta: "..como ta presa? Ficou la?". Loyola: "na Policia Federal, a Alba, mais urna amiga nossa do Estado do Rio e urna moça do RJ também..". Carlinhos pergunta o que aconteceu e Loyola explica: ".. pegou a mercadoria.. porra.. e a filha-da-puta da mulher da Policia Federal..alguma coisa.. alguém dedurou viu Carlinhos.. alguma deduragem, alguma intriga.. a PF que prendeu lá fora, tava chegando no carro.. diz que era uma deduragem de eletrônico.. com um cara de camisa xadrez, que era eu.. aí pegou todo mundo e levou lá pra dentro.. chegou lá, não temos nada né (de eletrônicos).. é óbvio.. aí o cara falou 'ah então vamos lá pra PF'.. chegou lá uma porra de uma delegada grosa pra cacete falou

78 Fone: 1978512204 – LOYOLA – Data: 10/03/2007 – Hora: 11:25:09 – Duração: 00:01:5779 Fone: 1978512204 – LOYOLA – Data: 26/04/2007 – Hora: 17:27:42 – Duração: 00:04:37

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'vai ficar todo mundo aí'.. aí ficou eu, o motorista da outra moça lá e tudo bem.. aí peguei liguei pro advogado.. [ele] veio e ela (a delegada) mandou fazer um levantamento de toda a mercadoria que tava..e deu como desvio né..sei lá..tem um nome lá..ela poderia apreender a mercadoria, poderia só mandar pagar o que fosse..não, ela quis prender todo mundo e apreender a mercadoria..". Carlinhos pergunta onde Loyola está e ele responde: "estou saindo de Guarulhos, indo pra Campinas, pegar documentação pra voltar pra cá, que a Alba vai dormir aqui, você acredita numa estorinha dessas?..". Loyola desabafa que, em seu ponto de vista, acha que a delegada demorou com o flagrante para que não desse tempo de seu advogado entrar com habeas-corpus no dia de hoje. Ao final, Loyola pede a Carlinhos não comentar nada com ninguém.

LOYOLA X DANIEL / índice 796725380 - 26/04Daniel pede para o pai dar detalhes do acontecido. Loyola esclarece que o problema todo se deu pelas mercadorias que elas trouxeram de NY e a delegada prendeu todas. Daniel pergunta se foi por contrabando e Loyola diz não saber direito, mas acha que não é contrabando, diz que elas somente trouxeram mercadorias em excesso. Daniel pergunta se a mãe foi algemada e Loyola repele enfaticamente: "que algemada nada.. ninguém é Iadrão, ninguém fez nada de errado.. ". Daniel diz que não quer que a estória vaze e Loyola fala que isto é obvio.

LOYOLA X THIAGO (SOBRINH0 DO RJ)/ índice 797077081 - 27/04

Loyola fala com sobrinho do RJ de nome THIAGO, que aparentemente é advogado. Loyola diz que vão optar de tentar o habeas-corpus amanhã, pois amanhã tratarão direto com o Juiz plantonista. Thiago diz que a delegada poderia ter liberado e não precisava 'criar escarcéu', dizendo que possivelmente quis chamar atenção para si para obter mérito. Loyola concorda e comenta que acha que as mercadorias apreendidas, segundo ele em torno de U$4.000,00, são de valor 'irrisório'.

(...)LOYOLA X JULIANA/Índice 797084982 – 27/04

Loyola passa ordem para JULIANA para separar o cartão de crédito de Alba e todos os extratos que estão na loja, assim como extrato bancário e carnês de dividas adquiridas por Alba. [Muito provavelmente Loyola está receoso sobre possível busca policial na loja de sua esposa e está providenciando a retirada de provas documentais do estabelecimento]...”

O co-réu Antonio Luiz Vieira Loyola, além de não respeitar as autoridades constituídas, acredita que tudo pode ser resolvido através de contatos “poderosos e influentes”, confira-se (Processo nº 2007.61.10.001361-9 - fls. 315/319; PDF – fls. 55/59):

“(...)HENRIQUE X LOYOLA X LUCIANO LIRA/Índice 798884583 – 29/04

Irmão de Loyola (Henrique) oferece ajuda a Loyola, através de seu amigo LUCIANO LlRA (que está a seu lado durante ligação), dizendo ser este sobrinho do ex-Ministro da Justiça Fernando Lira e muito amigo de Marco Aurélio de Mello, Ministro do Supremo Tribunal Federal. Após Luciano Lira fala ao telefone com Loyola, dizendo-se sobrinho de Fernando Lira, e diz que se preciso for irá a Brasília para ajudar Loyola, que fala com Marco Aurélio, falando que é seu conterrâneo e desfruta de boa amizade com o Ministro. Fernando diz que se até amanhã não resolver ele vai para Brasília e 'dá um jeito'. Após Henrique volta para a Iigação e ratifica: ".. se precisar nos vamos lá no Marco Aurélio e no outro lá e resolvemos isso.. o que tão fazendo com a Alba e com a outra menina..é arbitrário.. não existe isso.. eu sei que é uma sacanagem..". Loyola diz

80 Fone: 1978512204 – LOYOLA – Data: 26/04/2007 – Hora: 18:34:59 – Duração: 00:03:1181 Fone: 1978512204 – LOYOLA – Data: 27/04/2007 – Hora: 09:52:10 – Duração: 00:03:2282 Fone: 1978512204 – LOYOLA – Data: 27/04/2007 – Hora: 10:01:13 – Duração: 00:01:4083 Fone: 1978512204 – LOYOLA – Data: 29/04/2007 – Hora: 16:46:04 – Duração: 00:07:29

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que vai esperar até amanhã e se for preciso vai aceitar a ajuda de seus interlocutores. Diz também que depois vai sim precisar da ajuda deles (deixando a entender que é sobre desenrolar do processo criminal). Henrique diz a Loyola: "..daqui pra frente depois..mesmo que liberar.. vem conversar com ele (Marco A. Mello).. nós vamos pra Brasília e ele resolve procê.. pra poder abafar isso tudo aí..porque vai ter problema pra frente, você sabe disso". Externa também indignação sobre decisão da Juíza Federal de SP que exigiu certidões para liberar Alba Henrique comenta: ".. manda ela à merda.. porque se o Marco Aurélio ligar aí vai (inaudível) na hora.. ele tem como liberar aqui". Henrique se mostra inconformado pela situação vivenciada por Alba. Loyola diz que se seu interlocutor tivesse ligado antes, tentaria algo através dele. Ao final Henrique se emociona e fica com voz de choro.

HENRIQUE X LOYOLA/índice 798890284- 29/04

LOYOLA volta a falar com LUCIAN0 LIRA e diz que se amanhã não liberarem ALBA ele vai para Brasília para falar com Marco Aurélio de Mello. Loyola volta a falar que precisará de seus interlocutores mais adiante, ao que HENRIQUE responde: "... eu tenho um pessoal pra te indicar pra livrar de tudo pra frente também ... uns amigos muito forte".

LOYOLA X HENRIQUE/índice 798942685 - 29/04

Henrique volta a oferecer ajuda a Loyola, agora através do ex-Ministro da Justiça e atual Senador FERANDO LIRA, dizendo que ele e o 'homem mais rico de Brasília' e que tem 'todo mundo no bolso', sendo muito amigo de Marco Aurélio de Mello. Loyola diz que se precisar vai ligar, mas acha que o mais certo é que precisará para depois, não só para 'abafar' o caso mas também em caráter de retaliação. Diz Loyola: "..eu vou precisar porque esta mulher fez com ela.. a delegadinha que tava lá.. é brincadeira o que ela fez de humilhação.. de sacana.. o que eu quero é ir aí pra pegar o processo.. quero marcar audiência depois com o Ministro, com quem for aí.. pra poder explicar a situação..". Henrique: "... aqui o que você quiser nós vamos conseguir meu filho..". Loyola continua: "... nós vamos lá, você pode ter certeza..". Henrique desmerece o advogado de Loyola dizendo que ele não resolveu 'bosta nenhuma'. Loyola argumenta que não é fácil conseguir as coisas em feriado. Loyola se irrita um pouco com a insistência de Henrique. Loyola volta a falar da Delegada: ".. ela foi muito sacana com ela, mas tudo bem.. deixa a mulher.. pegou 2 malinhas de roupa lá.. bosta de 4 mil dólares.. fazer um escarcéu desses.. todo mundo paga e vai embora pra casa.."...”

LOYOLA X ALEMÃO I índice 798968786- 29/04

Marcam de se encontrar para conseguir documentação no poupa-tempo. Loyola diz que conseguiu contato para chegar em Marco Aurélio de Mello e Alemão diz: ".. mesmo depois que resolver (soltura de Alba).. isso aí é bom marcar (audiência) pra zerar a condução do processo.. vai precisar..". Loyola diz também que tentará fazer alguma retaliação contra a delegada que fez o flagrante. Loyola diz ainda que 'todo mundo', inclusive um delegado da policia federal amigo seu, disse que a delegada 'estava louca'. Loyola diz que vai marcar audiência em Brasília com o Ministro Marco Aurélio, com o advogado Saluci e que Alemão também irá. Alemão diz que no relatório do inquérito se tiver somente os fatos que ocorreram no aeroporto a delegada vai estar 'complicada'. Loyola concorda e diz que pode ser que 'tenha algo pro trás' que ele ainda não sabe e diz enfaticamente: "ela (delegada) vai pagar por isso".

84 Fone: 1978512204 – LOYOLA – Data: 29/04/2007 – Hora: 16:56:37 – Duração: 00:02:1785 Fone: 1978512204 – LOYOLA – Data: 29/04/2007 – Hora: 18:37:19 – Duração: 00:07:5586 Fone: 1978512204 – LOYOLA – Data: 29/04/2007 – Hora: 19:32:42 – Duração: 00:03:35

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CAI0 X LOYOLA I índice 799182487 – 30/04

Caio diz para Loyola que a matéria está sendo gravada a pedido da Globo de SP. Diz que não vão entrevistar ninguém e não sabem o conteúdo da matéria. Caio pergunta a Loyola o conteúdo das malas de Alba e Loyola explica: "...na mala dela tinha roupa normal, que ela compra lá roupa, Iógico e bolsas, bolsa vagabunda, falseta, essas bolsas que custam 15, 20 dólares lá.., devia ter umas 20 bolsas.. e mais roupa.. o total apurado pela Receita foi 4 mil dólares,.. pegou uma puta de uma delegada da polícia federal filha da puta.. e a mulher meteu o ferro.. falou que era descaminho e falsidade ideológica.. quer dizer, ela passou com o papel na mão que tem que declarar e não declarou.. e que se pegasse dentro da Receita você pode pagar e ir embora.. aí deixaram ela sair e foram buscar ela la fora (para provar o descaminho, diz Caio)..". Caio diz: ".. você viu esse negócio da DASLU rapaz.. ela (dona da butique) está com câncer.. tem que ter calma, tem que botar calma nela.. infelizmente nós estamos vivendo um momento muito complicado". Caio diz que vai tentar saber pela Globo de SP. Caio diz para Loyola tomar cuidado por causa das bolsas apreendidas, pois segundo Caio, 'eles' (PF?, RF?) iriam tentar provar falsificação de produtos. Loyola diz que isto não lhe preocupa muito agora e que já tem inclusive marcado audiência com Ministro do Supremo para tentar resolver a situação e diz: "..eu quero ir a fundo.. eu gasto 1 milhão de reais, mas quero ir a fundo nisso". O que mais lhe aflige neste momento é a repercussão da notícia que está prestes a ser veiculada e pede para Caio descobrir quem estaria por trás.

COMENTARIOS DO ANALISTA: Praticamente uma confissão por parte de Loyola da venda de artigos falsificados na loja de sua esposa....”

Realce-se que mesmo após o cerceamento da sua liberdade, Maria Alba Andere de Brito Loyola continuou tendo condutas incompatíveis com a legislação em vigor (Processo nº 2007.61.10.001361-9 – fl. 315; PDF – fl. 55):

“(...)

ALBA X CAROL / índice 800103388 – 01/05

Alba aparentemente mandou foto tirada pelo celular dentro da cadeia e diz para Carol sobre as pessoas de lá que constam na foto: "..a de vermelho é a Néia..tá aqui há 6 anos e 3 meses e [cometeu] 12 internacional (artigo 12 da Lei 6368/76), tráfico internacional.. a Taiane é a de blusinha branca e short marinho..26 anos..a outra moreninha é a Gisele.. tráfico..e a Ana Cláudia, de bonézinho.. em Amparo, pertinho de nóis..". Carol pergunta de Katia e Alba diz que ela não está na foto. Alba diz, em tom de brincadeira (??), que a de vermelho está fumando maconha, um 'baseado'. Carol pergunta se Alba fumou e ela diz que não, que vai 'fumar hoje à noite', rindo bastante. Alba diz que achou muito boa as instalações de seu 'quarto' e que o banheiro é bastante limpo. Diz que inclusive vai tirar umas fotografias para mostrar. Diz que já jogou tranca hoje e que as amigas agora estão jogando, mas fala que isso é proibido (é contravenção, segundo ela). Carol diz que depois liga novamente e Alba fala que tem que ser antes das 18h00, pois depois o celular 'vai embora'.

COMENTÁRIOS DO ANALISTA: Alba fez farto uso de aparelho celular dentro da carceragem do presídio feminino do Carandiru. Fica claro a existência de um "comércio" de aparelhos, ou seja, as detentas "alugam" aparelhos para aquelas que podem pagar. A situação chega ao surrealismo, quando Alba passa a enviar fotos, via celular, de suas "novas amigas" para a apreciação de sua filha Carol, inclusive mencionando uso de entorpecentes dentro da carceragem...”

O Ministério Público Federal ofereceu denúncia em face de Maria Alba Andere de Brito Loyola como incursa nas penas do art. 334 do Código Penal e propôs a suspensão condicional do processo. A denúncia foi recebida pelo juízo da 5ª 87 Fone: 1978512204 – LOYOLA – Data: 01/05/2007 – Hora: 16:18:22 – Duração: 00:04:5488

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Vara de Guarulhos/SP e a ré aceitou a proposta de suspensão processual – art. 89, da Lei nº9.099/95 (processo nº 2007.61.19.002935-00), conforme se verifica no sítio da Justiça Federal 89.

Por derradeiro, cumpre ressaltar que, de acordo com as investigações, a prisão em flagrante de Maria Alba Andere de Brito Loyola não fez cessar a importação irregular de mercadorias de luxo (Processo nº 2007.61.10.001361-9 – fl. 588; PDF – fl. 38):

“(...) foi constatado que Loyola e Alba estão contando com pessoa de nome MARCELO (21-8897.0707) e JOSÉ EDUARDO (telefone em levantamento), da empresa Best Trading, no Rio de Janeiro. Tudo indica que estão se valendo de tais pessoas para dar continuidade no ingresso de mercadorias de luxo para a loja de Alba, sem recolher os impostos de importação. Em conversa com a funcionária da loja de Alba, de nome JULIANA, Loyola fica sabendo da projeção de faturamento para o mês de Julho de 2007: R$ 210.000,OO e mostra-se bastante frustrado pelo 'fraco' número. Juliana o consola, dizendo ser este um mês difícil, justificando que o faturamento de Julho de 2006 foi de R$ 193.000,OO (índice 8494366). Isto comprova que a butique de luxo de Alba alcança faturamento mensal de até R$ 500.000,OO...”

5.5. Migração ilegal de postagens

Como se já não bastassem tais fatos criminosos o co-réu Antonio Luiz Vieira Loyola conseguiu lograr a transferência de serviços de postagem de grandes clientes da ECT para a sua Agência de Correios Franqueada Grajaú/SP. A terceira vertente da Operação “Déjà Vu”, portanto, está ligada à migração indevida de postagens.

O tema em comento já foi debatido e analisado pela CPMI dos Correios. Traz-se à colação, por ser bastante elucidativo, trecho do Relatório Final que aborda a questão em testilha (fls. 396/398 – Volume I – Relatório Final da CPMI dos Correios 90):

“(...) A ECT registrou, no ano de 2005, uma migração substancial de grandes clientes dos Correios para as ACFs. Os maiores clientes corporativos que deixaram de realizar o Franqueamento Autorizado de Cartas – FAC diretamente com a ECT e passaram a executar as suas postagens com a intermediação das ACFs foram: Banco Itaú, Banco Unibanco, Banco Santander e Banco Real.

O Manual de Comercialização e Atendimento possibilita a migração de grandes clientes, como também estabelece como deve ser o comissionamento das franquias que foram autorizadas a receber o serviço migrado. O pagamento de comissão, segundo tal manual, é executado com base no excedente da média histórica. Vale destacar que a média histórica é calculada utilizando os últimos 6 meses das faturas do serviço executado diretamente pela própria ECT.

O então Diretor Comercial, Sr. Carlos Eduardo Fioravanti da Costa, autorizou, excepcionalmente, o pagamento de comissionamento com base na média histórica da época em que foram solicitadas as respectivas vinculações (ano de 2002). Portanto, as migrações ocorridas desses clientes corporativos não observaram a regra estabelecida no Manual de Comercialização e Atendimento.

(...)

89 - http://www.jfsp.jus.br/90 - http://www.cpmidoscorreios.org.br/relatorios/Final%20Vol1.pdf

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O ex-presidente dos Correios, senhor Carlos Hassan Gebrim, afirmou no seu depoimento que a idéia inicial de agência franqueada foi ampliar a rede de atendimento no varejo, ou seja, para atuar como pequenas agências de serviço postal. Contudo, os franqueados se transformaram em grandes comerciantes, por via de conseqüência, segundo o depoente, algumas ACFs passaram a realizar trabalhos junto aos grandes clientes. Declarou, ainda, que é totalmente desnecessário o pagamento de comissão por serviços prestados aos grandes clientes, uma vez que a ECT poderia realizar o trabalho sem qualquer intermediação da rede franqueada, motivo pelo qual na sua gestão determinou o retorno dos clientes corporativos para os Correios (interesse público).

O SR. CARLOS HASSAN GEBRIM – A intenção, quando foram criados os franqueados, era ampliar a rede de atendimento, era ampliar a rede de atendimento, mas no varejo. Era para ampliar a rede de atendimento no varejo, chegar mais perto da população. Os franqueados viraram grandes comerciantes, agiam no atacado. Os Correios estavam repassando para os franqueados, ou repassam, em média, de 8% a quase 10% de todo o seu faturamento. Um levantamento do que foi repassado para os franqueados de 98 a 2002 dá conta de mais de US$1 bilhão. Nenhuma empresa, em sã consciência, repassa US$1 bilhão para ninguém sem necessidade. Não digo que foi irregular. Não foi, porque havia o contrato, mas sem necessidade. Por que sem necessidade? Porque os Correios poderiam fazer aquele trabalho junto aos grandes clientes. E eu determinei: vamos pegar de volta os grandes clientes, porque os franqueados não são para isso, eles foram criados para atender no varejo, mas eles se transformaram. Então, é essa a razão da verdade...”

No decorrer das investigações, descobriu-se o responsável pelo prejuízo causado à ECT decorrente da migração ilegal de postagens (fls. 398/401 – Volume I – Relatório Final da CPMI dos Correios):

“(...) O Sr. Carlos Eduardo Fioravante da Costa afirmou ser o único responsável pela autorização da utilização da média histórica de 2002, empregada para viabilizar a migração dos Bancos Santander, Itaú, Unibanco e Real. Segundo o depoente, se não fosse autorizada a migração desses quatro grandes clientes com tal média histórica, a concorrência poderia atuar no mercado e tirar esses clientes corporativos da ECT, mesmo sendo o serviço FAC garantido pelo monopólio. Quando questionado se sua decisão foi motivada por estudo de viabilidade econômica ou parecer jurídico, declarou que apenas foram feitas várias reuniões para fundamentar sua decisão.

Explicou também que a utilização da média histórica de 2002 foi para atender ao pleito de algumas franquias que se achavam injustiçadas pela ECT (interesse particular), pois as instituições financeiras supracitadas deixaram de realizar os serviços postais com as ACFs em razão de uma prática comercial agressiva dos Correios em 2002 (ação determinada pelo ex-presidente Carlos Hassan Gebrin).

(...)

O atual Diretor Regional dos Correios em São Paulo, Sr. Marcos Antônio Vieira da Silva, confirmou que não houve um estudo de viabilidade econômica formal para motivar as migrações com a média histórica de 2002. Declarou, inclusive, que a utilização de tal média histórica baseia-se no relacionamento anterior das instituições financeiras com as franquias (interesse particular). O depoente deixou claro que somente efetivou essas migrações porque teve autorização do Sr. Carlos Eduardo Fioravante da Costa.

(...)

É de rigor observar que o Sr. Carlos Eduardo Fioravante da Costa declarou, no seu depoimento, que apenas foram feitas várias reuniões para fundamentara autorização do uso da média histórica de 2002, ou seja, não houve motivação formal do ato. Também afirmou não ter solicitado um parecer jurídico para tomar essa decisão que contrariava o Manual de Comercialização e Atendimento.

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(...)

É importante destacar ainda que a diretoria dos Correios não foi consultada a respeito da autorização excepcional realizada pelo então Diretor Comercial. Em razão disso, a responsabilidade pela migração e pelo débito gerado é do Sr. Carlos Eduardo Fioravanti da Costa...”

A CPMI, em relação à migração ilegal de postagens, concluiu: (fl. 417 – Volume I – Relatório Final da CPMI dos Correios):

“(...) A Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos deve ser informada sobre as migrações de grandes clientes (Itaú, Unibanco, Real e Santander) com a utilização da média histórica de 2002, uma vez que tais migrações não foram devidamente motivadas, não observaram a supremacia do interesse público, não respeitaram o Manual de Comercialização e Atendimento dos Correios e causaram um pagamento desnecessário de comissão de R$ 3.440.340,42, no período de janeiro a julho de 2005, tendo como responsáveis:

MINISTÉRIO DAS COMUNICAÇÕES1) Marcelo Perrupato e Silva – Secretário de Serviços PostaisCPF.: 010.821.326-91Período: 13/4/1999 a 9/4/20032) Vanderlei Rodrigues – Secretário de Serviços PostaisCPF.: 410.898.638-53Período: 9/4/2003 a 29/7/20043) Paulo Machado Belém Filho – Secretário de Serviços PostaisCPF.: 370.738.857-34Período: 4/8/2004 até a presente data

EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELÉGRAFOS1) Carlos Eduardo Fioravanti da Costa – Diretor ComercialCPF.: 298.243.117-34Período: 29/4/2004 a 9/6/2005

Quanto aos nomes acima arrolados, esta CPMI deve propor a responsabilização do Sr. Carlos Eduardo Fioravanti da Costa, nos termos dos artigos 10 e 11 da Lei de Improbidade Administrativa, pelas condutas comissivas/omissivas ora relatadas...”

Utilizar-se-á, em seguida, excerto da representação criminal da Autoridade Policial para, em resumo, explicar a atuação da organização criminosa em relação à migração ilegal de postagens (Processo nº 2008.61.10.007491-1 – fls. 34/48; PDF – fls. 35/49):

“(...) ANTONIO LUIZ LOYOLA socorreu-se do atuante lobista MARCO PUIG, que por sua vez, valeu-se da sua influência junto aos diretores dos Correios, notadamente, MARCOS VIEIRA SILVA, Diretor Regional dos Correios em São Paulo e SAMIR HATEM, Diretor Comercial dos Correios em Brasília, para, no caso específico do Banco do Brasil, utilizar a empresa COBRA TECNOLOGIA para terceirizar tanto os contratos de impressão como os de postagem, sem licitação.

Nesse caso, o Banco do Brasil teria fechado contrato com a COBRA para impressão, separação e postagem de correspondências bancárias, e esta, por sua vez, repassaria a digitação para a empresa PROBANK, a impressão para a empresa PRINTLASER e a separação e postagem para as agências de LOYOLA.

(...)

Cabe registrar, por oportuno, que com a intermediação da COBRA, a ACF de LOYOLA ficaria livre da chamada 'média histórica' prevista no MANCAT, a qual fora utilizada

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por CARLOS EDUARDO FIORAVANTE DA COSTA, conforme relatado acima, enquanto Diretor Comercial dos Correios.

Nessa esteira, ainda convém registrar, ante a sua clareza, um importante diálogo estabelecido entre MARCO PUIG e LOYOLA (indíce 7837069). De fato, MARCO PUIG diz que entendeu todo o esquema realizado por LOYOLA e explica: "hoje o banco faz direto com a empresa (ECT), o banco vai passar isso para a empresa do menino do Rio (Cobra), tá entendendo? ... então eles já processam lá aqueles documentos lá naquele espaço da XEROX, lembra? inclusive tem uma agência que posta...só que esta postagem vai passar, nós vamos trabalhar pra passar pro tiozinho (COBRA), entendeu? Hoje, o tiozinho só faz a manipulação da papelada toda, faz o impressão e a manipulação e não posta, ok? Quem posta é o banco." Ao que LOYOLA responde: "entendido! O que sair de lá dele então vai pra Grajaú, é isso? (GRAJAÚ é ACF de LOYOLA em São Paulo). MARCO PUlG afirma: "exatamente, e mais ou menos, o banco gasta hoje uns 12 a 15 (milhões) por mês....como não pode passar da empresa pública para...,tirar do monopólio, mas na dele (COBRA) não tem problema, então o banco passa pra ele e ele escolhe quem vai fazer o trabalho, entendeu?". LOYOLA diz: "show de bola" e MARCO continua: "você captou o volume? Você passa a ter uma conta de ...dá pra girar uns 2 pau-mês (dois milhões por mês)...então nós já vamos mexer com a parte da empresa dele, agora nós vamos mexer com a parte do banco, que tá mais ou menos conversado, e eu vou conversar no casa (ECT) lá pra fechar isso, esse ciclo todo, entendeu?..nós vamos fazer um trabalho agora rápido, ele já fez uma parte, vai fazer em outra e eu vou fazer em outra, aí a somatória desses três trabalhos vai dar esse resultado aí, entendeu?(...)”

Como se vê, MARCO PUIG explica detalhadamente a estratégia para passar a postagem do Banco do Brasil para a ACF GRAJAÚ, pertencente a LOYOLA, valendo-se da empresa COBRA como intermediária. Considerando que o Banco do Brasil não pode postar diretamente com a ACF, a empresa COBRA, que já fazia o serviço de impressão e manipulação, passaria a fazer também as postagens dos impressos. Tendo em vista que a mencionada empresa pode contratar ACF's para realizar as postagens e não precisa licitar para contratar tais serviços, contratariam, então, a ACF GRAJAÚ, que realizaria a manipulação e postagens dos impressos.

Em outra ligação, MARCO PUIG comunica LOYOLA que esse 'trabalho' resultará em aproximadamente seis milhões de reais por mês.

(...)

Destarte, depreende-se que SAMIR HATEM sucedeu CARLOS EDUARDO FIORAVANTE DA COSTA na Diretoria Comercial dos Correios, mas, apesar disso, a questão da migração ilegal de postagens se repetiu, não obstante o resultado apresentado pela CPMI.

No tocante aos bancos privados, as postagens já eram efetuadas por agências franqueadas. Por se tratar de grandes valores, tarifas especiais são aplicadas, com a aprovação de SAMIR HATEM, Diretor Comercial. A Direção Regional na qual pertence a ACF (no caso em questão a DR de São Paulo - MARCOS VIEIRA SILVA), também precisa aprovar, não bastando o fechamento de contrato entre a instituição financeira e a ACF. Esta atuação ficou mais evidente no caso do Unibanco, onde foram realizadas reuniões em Brasília, com a presença de SAMIR HATEM, MARCO PUIG e LOYOLA.

Ainda sob esse prisma, existem registros da atuação da quadrilha junto ao Departamento Jurídico dos Correios para prejudicar ACF's que possuem contratos com instituições financeiras, visando a migração de tais contratos para a ACF de LOYOLA. Um exemplo disto foi a atuação do grupo junto a uma ACF de pessoa a quem se referem como 'português ou 'bacalhau'.

(...)

lnsta registrar, também, que a organização criminosa obteve êxito na migração de postagens referentes aos carnês "Baú da Felicidade" do Grupo Silvio Santos. As investigações encetadas demonstram toda a atuação de MARCO PUIG e LOYOLA

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para tentar a liberação desse assunto junto a MARCOS VlElRA SILVA, SAMlR HATEM e ROBERTO MOTTA DE SANT'ANNA.

(...)

Portanto, não restam dúvidas de que a organização criminosa continuou agindo, mesmo após a conclusão dos trabalhos da CPMl dos Correios...”

Conforme já explanado alhures, Alex Karpinsck, Antonio Luiz Vieira Loyola, Daniel Britto Lovola, Damiano João Giacomin, Marcio Caldeira Junqueira, Vitor Aparecido Caivano Joppert e Sebastião Sérgio de Souza (todos co-réus nesta ação) tiveram a prisão temporária decretada em virtude do envolvimento no esquema (chefiado por Antonio Luiz Vieira Loyola) de aquisição irregular de agências franqueadas.

Decretou-se, também, o cerceamento da liberdade de outras pessoas que, juntamente com o co-réu Antonio Luiz Vieira Loyola, praticaram crimes contra a Administração Pública. Transcrever-se-á trecho da decisão judicial que decretou a prisão, na qual é possível verificar as funções dos outros integrante da quadrilha (Processo nº 2007.61.10.002128-8 - fls. 109/120; PDF – fls. 140/151):

“(...) 0 que se apurou até o momento com as quebras de sigilo telefônicos decretadas nos autos é que os investigados se associaram para canalizar informações sigilosas e privilegiadas, em razão do cargo que ocupam dentro da Empresa de Correios e Telégrafos - ECT, no intuito de obterem lucro fácil e ilícito. As provas até então captadas são robustas e demonstram que se trata de um esquema organizado, com ramificação em Bauru/SP, São Paulo/SP e Brasília/DF, em setores estratégicos da ECT/Correios, tudo com finalidade totalmente distinta do interesse público na prestação do serviço público monopolizado de correios e telégrafos.

A prisão dos envolvidos também servirá para cessar a prática reiterada das conduta, eis que se comprovou a habitualidade das condutas, além de afastar fisicamente os acusados dos lugares onde as buscas serão realizadas, no ensejo de se evitar a possibilidade de destruição das provas buscadas.

No que pertine aos investigados, observo que as provas até então carreadas, demonstram que há indícios da participação de vários investigados nos delitos. Os relatórios realizados pela Autoridade Policial Federal – fls. 160/351 – trazem elementos concretos da participação de cada um.

(...)

Vejamos:

(...)

8) Marco Antonio Vieira da Silva - Há fortes indícios de que patrocina interesses da quadrilha e outros interessados dentro dos Correios, eis que, prevalecendo do seu cargo de diretor regional dos Correios em São Paulo/SP, levanta e repassa informações sigilosas de franqueados. Recebe indevidas vantagens em função desses serviços e tem pleno conhecimento das atividades dos demais servidores dos Correios que se associaram para a prática de crimes. Juntamente com Marco Puig, foi um dos servidores dos Correios que autorizou a transferência ilegal de clientes para a agência ACF Grajaú, pertencente a Antonio Loyola, em prejuízo da ECT/Correios.

9) Marcos Lopes - Há fortes indícios de que patrocina interesses da quadrilha e outros interessados dentro dos Correios, eis que, prevalecendo do seu cargo de servidor público dos Correios. Recebe indevidas vantagens em função desses serviços, por intermédio da conta corrente de sua esposa Valeria Moreira de Lima Lopes, e tem

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pleno conhecimento das atividades dos demais servidores dos Correios que se associaram para a prática de crimes.

(...)

11) Samir de Castro Hatem - conhecido como "Turco”, há fortes indícios de que patrocina interesses da quadrilha e outros interessados dentro dos Correios, eis que, prevalecendo do seu cargo de diretor comercial dos Correios em Brasília/DF, autorizou a migração de grandes clientes dos Correios para agência franqueada ACF Grajaú, pertencente a Antonio Loyola, assim como autorizou taxas mais benéficas a esses clientes. Provavelmente recebe indevidas vantagens em função desses serviços e tem pleno conhecimento das atividades dos demais servidores dos Correios que se associaram para a prática de crimes. É citado diversas vezes por Marcos Puig e outros investigados, inclusive mantendo estreito relacionamento com o investigado Antonio Loyola.

12) Marco Antonio Puig da Silva Reis - Há fortes indícios que seja o articulador de esquemas fraudulentos em diversos órgãos públicos, mediante tráfico de influência e corrupção ativa. Neste caso, é o intermediador entre com Antonio Loyola e Samir Hatem, principalmente no conluio de migração de grandes clientes para a agência ACF Grajaú. Pratica corrupção ativa para obter vantagens indevidas dentro dos Correios, mediante o pagamento em dinheiro pelos serviços ilícitos obtidos. Associou-se aos demais integrantes da quadrilha para praticar diversos crimes e tem pleno conhecimento das atividades ilícitas dos servidores dos Correios. Utiliza a conta corrente de sua genitora para movimentar o dinheiro oriundo dos ilícitos – fls. 133/134.

13) Adrianno Barcellos - Há fortes indícios de que é sócio de Marcos Puig nas empresas LWS e LAN PROFESSIONAL, e atua em conjunto com este na prática de tráfico de influência, corrupção e quadrilha, tendo pleno conhecimento das atividades dos integrantes da quadrilha.

14) Carlos Eduardo Fioravante da Costa - Há fortes indícios da prática de tráfico de influência. Foi diretor comercial dos Correios em Brasília/DF, sendo sucedido por Samir Hatem. Influenciou decisivamente para o descredenciamento da agência franqueada ACF Tamboré/SP, juntamente com Marcos Vieira Silva, e foi beneficiado com a decisão dos Correios. Mas não há indícios, por ora, de que tenha associado-se aos demais integrantes para cometer crimes.

(...)

19) Roberto Motta de Sant'anna - Há fortes indícios de que patrocina interesses da quadrilha e de outros interessados dentro dos Correios, eis que é assessor direto de Samir Hatem, diretor comercial dos Correios em Brasília/DF, e é constantemente citado pelos integrantes da quadrilha como pessoa que soluciona as pendências junto à Diretoria Comercial dos Correios em Brasília/DF Provavelmente recebe indevidas vantagens em função desses serviços e tem pleno conhecimento das atividades dos demais servidores dos Correios que se associaram para a prática de crimes. É citado diversas vezes por Marcos Puig e Antonio Loyola

(...)

Por todo o exposto:

1) Decreto a prisão temporária, pelo prazo de cinco dias, a contar do efetivo cumprimento dos mandados, dos seguintes investigados: 1) - Alex Karpinsck, CPF n. 805.511.308-49; 2) Antonio Luiz Vieira Loyola, CPF n. 180.839.867-04, 3) Daniel Britto Loyola, CPF n 297.337 768-40; 4) Damiano Jogo Giacornin, CPF n. 571 979.898-68; 5) Márcio Caldeira Junqueira, CPF n 470.880 956-53, 6) Vitor Aparecido Caivano Joppert, CPF n. 544 408.908-49; 7) Sebastião Sérgio de Souza, CPF n. 069.832.188-09; 8) Marco Antonio Vieira da Silva, CPF n. 214 074 101-30; 9) Marcos Lopes, CPF n. 728.296.217-00; 11) Samir de Castro Hatem, CPF n. 025.407 148-11, 12) Marco Antonio Puig da Silva Reis, CPF n. 053.550.508-67, 13) Adrianno Barcellos,

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CPF n. 107.017.508-04, 19) Roberto Motta de Sant'anna, CPF n. 626.576 157-91...”

As condutas delituosas supracitadas estão sendo apuradas em outros Juízos, pois remeteu-se cópia integral dos autos nºs 2007.61.10.002128-8 (Operação Déjà Vu) 2008.61.10.007491-1 (Medidas Assecuratórias) 2007.61.10.001361-9 (Pedido de Quebra de Sigilo de Dados) para as Seções Judiciárias do Distrito Federal e de São Paulo (Processo nº 2007.61.10.002128-8 - fls. 2203/2204; PDF – fls. 55/56).

Registre-se que os fatos que foram descobertos no decorrer da Operação “Déjà Vu” não violam apenas os princípios (art. 37, caput, CF) que norteiam a Administração Pública, pois são tão graves que chegam, inclusive, a ser verdadeiros atentados contra o Estado Democrático de Direito (art. 1º, caput, CF).

Com efeito, o corolário lógico da lesão ao erário é a ampliação da dificuldade de materializar os objetivos fundamentais (art. 3º, incisos I, II, III e IV, CF) da República Federativa do Brasil, por conseguinte, inexoravelmente, o fundamento mais importante do Estado é atingido, qual seja, a dignidade da pessoa humana (art. 1º, inciso III, CF), pois enquanto 43 milhões de brasileiros 91 ainda encontram-se abaixo da linha da pobreza (pessoas que sobrevivem com menos de US$ 2 por dia), agentes públicos e particulares associam-se para buscar o enriquecimentos através da dilapidação (impiedosa e voraz) dos cofres públicos.

Nesse diapasão, vale a pena transcrever mais duas informações extraídas dos autos da Operação “Déjà Vu”, que bem retratam o até aqui exposto:

(Processo nº 2007.61.10.001361-9 – fl. 243; PDF – fl. 34)

“(...) Mais uma amostra do poder econômico dos investigados: SAMIR, em apenas uma compra de vinhos gasta R$ 4.000,00. E, todos os alvos parecem estar aproveitando muito a pujança financeira. LOYOLA está negociando a compra de uma cobertura de 1 milhão de reais, MARCOS LOPES comprou apartamento de 400 mil e uma TV de 42 polegadas recentemente, ADRIANNO, sócio de MARCO na LAN viaja constantemente à Europa e gastou 80 mil reais em um evento de fim de semana com sua esposa, MARCO segue com sua Touareg e seu Passat, alugando um Flat no Blue Tree apenas para sua namorada por cerca de R$3.500,00 por mês, RONALD participa de regatas, e, como será transcrito a seguir, para comemorar um negócio recentemente fechado, MARCO, EGÍDlO e RONALD planejam contratar "atrizes/artistas" famosas que atuam como garotas de programa para uma comemoração num iate no Guarujá, segundo MARCO, tem que ser "de Luana Piovani para cima, e a própria seria cotada para o "evento”...”

(Processo nº 2007.61.10.001361-9 – fls. 406/407; PDF – fls. 03/04)

“(...) Por fim, destacamos o empenho por parte de Marco Puig em organizar festa com garotas de programa na cidade de São Paulo, com presença de grande parte de seus comparsas, para comemorarem os inúmeros 'sucessos' que vêm experimentando com licitações fraudulentas. Marco Puig está investindo nesta 'festa' cifra próxima de R$ 20.000,OO. Vale aqui relembrar conversa que Marco teve com seu sócio Adrianno em 14/03 (índice 7476084) na qua1 justifica um valor adicional agregado no já superfaturado edital da Funasa. Disse Marcos na ocasião que os R$ 110,OO de diferença no preço unitário de cada máquina era para 'pagar as putas' e ainda asseverou: '..senão quem vai pagar?..". 0 que achávamos que ainda poderia ser uma brincadeira de péssimo gosto de Puig, na verdade era real. Este episódio ilustra

91 - http://planetasustentavel.abril.com.br/noticia/desenvolvimento/conteudo_415445.shtml 61

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sobremaneira o total desrespeito e a ganância da quadrilha de Marco Puig, que dilapidam impiedosamente o erário, se vangloriam e para comemorarem organizam orgias...”

5. DA COMISSÃO DE SINDICÂNCIA INSTAURADA PELA ECT

O Presidente da ECT, através da Portaria 219/2008, constituiu Comissão de Sindicância para apurar, na íntegra, todos os fatos relativos ao Inquérito Policial nº 2007.61.100.2128-8 e à Ação Cautelar 2008.611.0007.7491-1, em andamento na 1ª Vara da Justiça Federal de Sorocaba/SP, tendo em vista que a persecução penal desencadeada pelo Ministério Público Federal envolve funcionários (Vitor Aparecido Caivano Joppert, Marcio Caldeira Junqueira, Sebastão Sérgio de Souza e Helena Aquemi Mio) da ECT (CD à fl. 67 – Arquivo: Processo Digitalizado - 2º Sub-Rel Vitor – fls. 04/05).

Em relação à funcionária Helena Aquemi Mio, apesar da sua ausência no pólo passivo da ação penal nº 2007.61.100.2128-8, não é possível olvidar as apurações realizadas pela Comissão de Sindicância da ECT, pois conclui-se que a participação desta empregada foi fundamental para a concretização dos intentos (alteração das instalações e mudança de titularidade da ACF 31 de Março) da quadrilha chefiada por Antonio Luiz Vieira Loyola.

A conclusão da Comissão de Sindicância foi desfavorável aos investigados, dessa forma, apresentar-se-á, em síntese, um resumo sobre cada caso.

VITOR JOPPERT

Os membros da Comissão de Sindicância, após a análise dos documentos carreados aos autos, apontaram as irregularidades perpetradas por Vitor Aparecido Caivano Joppert, conforme verifica-se no 2º Sub-Relatório Preliminar (CD à fl. 67 – Arquivo: Processo Digitalizado - 2º Sub-Rel Vitor – fls. 198/243):

“Pelo exposto, não restam dúvidas de que o ex-Diretor Regional VITOR APARECIDO CAIVANO JOPPERT procedeu de forma incorreta quando, beneficiando-se da função de Diretor Regional, auxiliou direta e indevidamente ao Sr. ANTÔNIO LUIZ VIEIRA LOYOLA, facilitando a ação do Sr. ALEX KARPINSCKI, pessoas que de forma inescrupulosa, utilizavam-se dessas informações para, sob ameaça, franqueados a negociarem suas agências por preços fora do valor de mercado, sob garantia de que no âmbito administrativo da DR/SPI os procedimentos de seus interesses estavam garantidos pelo ex-diretor.

Assim, fica caracterizado que o empregado cometeu, de forma reiterada e sistematizada, as seguintes irregularidades:

Aliar-se ao franqueado Luiz Loyola com o intuito de identificar agências franqueadas que se encontravam em condições ideais para a compra e venda.

Repassar, na condição de diretor regional de SPI, informações de natureza privilegiadas relativas às ACFs que estavam em situação irregular na ECT e que pudessem ser objeto de negócios para LOYOLA.

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Agir, utilizando a função de então diretor regional, no sentido de garantir que os procedimentos administrativos internos na DR/SPM, principalmente os de natureza técnica, tivessem o curso desejado por eles (Loyola, Alex e Vitor).

Anuir, na condição de diretor regional de SPI, com o método adotado pelo empresário LUIZ LOYOLA quando a aquisição da ACF-alvo o qual consistia em forçar a negociação das franqueadas a preços estabelecidos por LOYOLA e ALEX.

Interferir, na função de diretor regional, irregularmente no processo que resultou na alteração indevida do endereço da ACF 31 de Março, atendendo a pedido de Luiz Loyola.

Autorizar a venda (alteração) da titularidade de ACF para Luiz Loyola de forma indireta, utilizando pessoas nomeadas por aquele empresário.

Receber, conforme declarações de Alex Karpinscki e Loyola, vantagem financeira relativa à participação do ex-diretor nos processos de compra e venda de ACF's.

Indicar, na função de diretor regional, ao empresário Loyola, cliente que pudesse comprar agência vendida por Loyola, contrariando de forma direta o teor do previsto no MANCAT, módulo 1, capítulo 4, subitem 5.4, onde prevê o seguinte: “...A ECT não pode e não faz intermediação ou negociação de quaisquer valores entre as partes envolvidas na compra e venda de cotas societárias de empresas titular de ACF...”.

(...)

Assim, faz-se necessário que o empregado seja citado para apresentar sua AMPLA DEFESA relativa aos fatos acima apurados...”

Em cumprimento ao preceito insculpido no art. 5º, inciso LV, da Carta da República, determinou-se a citação do ex-diretor para apresentação de defesa (CD à fl. 67 – Arquivo: Processo Digitalizado - 2º Sub-Rel Vitor – fls. 244/245).

A defesa apresentada (CD à fl. 67 – Arquivo: Processo Digitalizado - 2º Sub-Rel Vitor – fls. 246/350), em resumo, lutou pelo reconhecimento da improcedência das acusações, todavia, não obteve êxito, consoante constata-se no Relatório Final da Comissão (CD à fl. 67 – Arquivo: Processo Digitalizado - 2º Sub-Rel Vitor – fls. 351/383): .

“Diante das irregularidades e fatos aqui tratados não se pode deixar de ressaltar que o empregado Vitor Joppert, ao prosseguir com contatos com Antonio Luiz Vieira Loyola, mesmo sendo conhecedor de que tal pessoa já era franqueado da ECT, e que a finalidade de suas ações era, antes de tudo, iludir a própria ECT disfarçando o fato de ser o real proprietário de mais de duas ACFs, o que não é permitido, demonstrou uma atitude no mínimo preocupante, pois, além de permitir que fosse considerada a possibilidade de sua participação nessas ilicitudes, tal como observada nessa apuração, contribuiu também para que a ECT ficasse a mercê das interpretações e ações inescrupulosas do tal Sr. ANTONIO LUIZ VIEIRA LOYOLA, que chegou ao ponto de articular a indicação de empregados e pessoas ligadas ao seu grupo para cargos estratégicos na ECT.

As ações do ex-diretor regional Vitor Joppert de suspender o descredenciamento da ACF 31 de Março; autorizar a mudança de endereço da ACF 31 de Março; transmitir informações privilegiadas, dentre outros, em nada favoreceu a ECT, muito pelo contrário, impediu que a empresa tomasse ações comerciais necessárias à realidade que envolvia as duas franqueadas, sua atitude, apenas favoreceu em todos os seguimentos aos interesses escusos do Sr. Luiz Loyola.

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É verdade que não há um documento/recibo atestando o possível recebimento de propina por parte de Vitor, entretanto, muitas são as evidências de que tenha auferido vantagens indevidas, dada à farta demonstração de beneficiar Luiz Loyola, mesmo não sendo Loyola declarado formalmente o verdadeiro proprietário das agências 31 de Março e Capital do Clima, como já amplamente demonstrado.

Face ao exposto, restaram caracterizadas todas as irregularidades mencionadas no Relatório Preliminar e que foram objeto da Citação as quais o empregado VITOR APARECIDO CAIVANO JOPPERT, não conseguiu apresentar as justificativas que pudessem afastar de si as responsabilidades”

MARCIO CALDEIRA JUNQUEIRA

As irregularidades praticadas por Marcio Caldeira Junqueira, segundo a Comissão de Sindicância, estão elencadas no 3º Sub-Relatório Preliminar, confira-se (CD à fl. 67 – Arquivo: Processo Digitalizado - 3º Sub-Rel Marcio C Junqueira – fls. 221/251):

“Considerando o exposto, ficou caracterizado que ANTONIO LUIZ VIEIRA LOYOLA, com a participação efetiva de empregados dos Correios da Diretoria Regional de Bauru-DR/SPI, adquiriu para seu filho DANIEL LOYOLA a ACF 31 de Março, beneficiando-se de informações privilegiadas repassadas por VITOR JOPPERT, condição de Diretor Regional, sendo que para obtenção do êxito foi necessário contar com atos administrativos os quais foram adotados pelo empregado MARCIO JUNQUEIRA, vez que era o Coordenador de Negócios da Regional, e, também, com poderes decidir em nome da Diretoria Regional, reuniu-se com o advogado do franqueado e apresentou a opção pela venda da ACF.

Conforme já demonstrado, já estava decidido o descredenciamento da ACF 31 de Março por irregularidades de origem dolosa, contudo, quando o CONEG (Márcio) reuniu-se com o representante do franqueado mudou de posição, apresentando a opção da mudança de titularidade conforme pretendiam o ex-diretor VITOR JOPPERT, o REOP, e, principalmente, o Sr. Loyola.

Ainda para atender os objetivos das pessoas citadas acima, o empregado MÁRCIO, permite que a ACF mude de endereço, mesmo diante do impedimento sinalizado pelas áreas técnicas, ou seja, a distância mínima entre ACF e Agência própria”.

Diante do exposto, esta Comissão conclui pela citação do empregado MÁRCIO JUNQUEIRA para que se defenda nos autos desta Sindicância interna que tem o condão de apurar eventuais irregularidades do ponto de vista funcional.

Assim, fica caracterizado que o empregado cometeu, na função de Coordenador de Negócios, e consequentemente, responsável pelas atividades da GERAT, as seguintes irregularidades:

Contribuir, na função de Coordenador Regional de Negócios, para que os objetivos de Vitor e Loyola tivessem o êxito necessário, no que se refere às transferências de titularidade das ACFs 31 de Março e ACF Capital do Clima, tendo em vista que o mesmo, em razão de sua função, tinha todas as condições técnicas e hierarquia suficiente para evitar o resultado.

Anuir, na função de Coordenador Regional de Negócios, irregularmente no processo que resultou na alteração indevida do endereço da ACF 31 de Março, atendendo assim aos anseios do REOP/Sorocaba, Sebastião Sérgio de Souza e do ex-diretor Vior Joppert, e, consequentemente, a Luiz Loyola.

Omitir, perante à Comissão de Sindicância, as circunstâncias que levaram a GERAT/SPI a negar, no primeiro momento, a alteração de endereço da ACF 31 de Março tendo em

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vista que à época dos fatos a anuência de tal procedimento era de responsabilidade do CONEG, função exercida pelo empregado.

(...)

Assim, faz-se necessário que o empregado seja citado para apresentar sua AMPLA DEFESA relativa aos fatos acima apurados...”

Determinou-se a citação do empregado para a apresentação de defesa (CD à fl. 67 – Arquivo: Processo Digitalizado - 3º Sub-Rel Marcio C Junqueira – fls. 252/253).

A defesa foi apresentada (CD à fl. 67 – Arquivo: Processo Digitalizado - 3º Sub-Rel Marcio C Junqueira – fls. 254/620), no entanto, não conseguiu alijar as imputações, pois a Comissão de Sincância concluiu (CD à fl. 67 – Arquivo: Processo Digitalizado - 3º Sub-Rel Marcio C Junqueira – fls. 621/659):

“Diante do exposto, a Comissão de Sindicância, após análise da DEFESA apresentada pelo empregado Márcio Caldeira, ratifica, com exceção do último item da citação, o que foi apontado no Sub-Relatório de Sindicância Preliminar onde concluiu que o empregado cometeu falta disciplinar, quando na função de Coordenador de Negócios, deve responder pelas irregularidades que restaram imputadas neste Relatório” .

SEBASTIÃO SÉRGIO DE SOUZA

O empregado foi citado (CD à fl. 67 – Arquivo: Processo Digitalizado - 4º Sub-Rel SEBASTIÃO SERGIO – fls. 287/288) para apresentar defesa em relação às imputações descritas no Quarto Sub-Relatório Preliminar (CD à fl. 67 – Arquivo: Processo Digitalizado - 4º Sub-Rel SEBASTIÃO SERGIO – fls. 250/286):

“A luz da documentação agregada ao presente, aliada às incoerências apuradas neste processo, restou comprovado que SEBASTIÃO SÉRGIO DE SOUZA cometeu as seguintes irregularidades:

Juntar-se ao ex-diretor VITOR JOPPERT, a então gerente de atendimento, HELENA AQUEMI MIO e, também ao empresário LUIZ LOYOLA, com o intuito de favorecer os seus interesses relativamente à ACF 31 de Março, utilizando-se da sua função de gerente da REOP/Sorocaba.

Repassar, usando a função de gerente da REOP/Sorocaba, informações privilegiadas dos Correios ao empresário LUIZ LOYOLA quando da confecção da carta que seria enviada pelo franqueado ao DR/SPI, solicitando mudança de endereço.

Colaborar, na função de gerente da REOP/Sorocaba, com aval de seu chefe maior, o ex-diretor VITOR JOPPERT, de forma decisiva no sentido de viabilizar a mudança de endereço da Franqueada em detrimento ao impedimento técnico.

Contribuir, na função de gerente da REOP/Sorocaba, para a transferência da Titularidade da ACF 31 de Março, beneficiando diretamente o empresário ANTONIO LUIZ VIEIRA LOYOLA ao emitir Parecer Técnico contendo tal sugestão.

Receber, na função de gerente da REOP/Sorocaba, indevidos presentes do empresário LUIZ LOYOLA o qual o fez com a finalidade de “agradar” o empregado.

Omitir perante à Comissão de Sindicância, os fatos que levaram a GERAT/SPI a negar, no primeiro momento, a alteração de endereço da ACF 31 de Março.

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(...)

A materialidade resta demonstrada pelos documentos juntados aos autos, comprova que o empregado SEBASTIÃO SÉRGIO DE SOUZA, Matrícula 8.103882-8, cometeu irregularidades no exercício de suas atividades laborais, como empregado dos Correios, contrariando as normas acima mencionadas e pelo exposto, encaminha o presente Relatório à Comissão para emitir a respectiva Citação...”

A Comissão de Sindicância não acolheu a defesa apresentada (CD à fl. 67 – Arquivo: Processo Digitalizado - 4º Sub-Rel SEBASTIÃO SERGIO – fls. 289/346) e proferiu a seguinte decisão (CD à fl. 67 – Arquivo: Processo Digitalizado - 4º Sub-Rel SEBASTIÃO SERGIO – fls. 347/381):

“(...) Esta Comissão de Sindicância concluiu que o empregado Sebastião Sérgio de Souza, matrícula nº 8.103.882-8, não conseguiu afastar de si as responsabilidades a ele atribuídas, devendo sua conduta ser objeto de avaliação para aplicação as penalidades pertinentes”

O Departamento Jurídico da ECT, por seu turno, elaborou o seguinte parecer (CD à fl. 67 – Arquivo: Processo Digitalizado - 4º Sub-Rel SEBASTIÃO SERGIO – fls. 496/532):

“Configuradas as faltas perpetradas pelo empregado, opina-se pela possibilidade de impor-lhe a dispensa motivada com espeque no art. 482, alíneas “a”, “b” e “h” (improbidade, mau procedimento, ato de indisciplina ou de insubordinação) da CLT, eis que rompida a fidúcia, elemento nuclear do contrato de trabalho firmado entre as partes, o que impossibilita a mantença do vínculo empregatício, cabendo, entretanto, à autoridade julgadora a decisão final sobre a penalidade a ser aplicada.”.

O parecer foi acolhido pela Comissão de Ética e Disciplina da ECT, que deliberou (CD à fl. 67 – Arquivo: Processo Digitalizado - 4º Sub-Rel SEBASTIÃO SERGIO – fls. 533/534):

“Após o exame do assunto, a Comissão de Ética e Disciplina acolheu o parecer jurídico deliberando pela aplicação da penalidade de demissão por justa causa, conforme previsão expressa no artigo 482, alíneas “a”, “b” e “h” da CLT”

HELENA AQUEMI MIO

As irregularidades cometidas por esta co-ré, de acordo com a Comissão de Sindicância, estão expostas no 5º Sub-Relatório Preliminar (CD à fl. 67 – Arquivo: Procsso Digitalizado - 5º Sub-Rel Helena – fls. 176/177):

“(...) Assim, fica caracterizado que a empregada cometeu, de forma reiterada e sistematizada, as seguintes irregularidades:

Aliar-se ao ex-diretor regional Vitor Joppert para, por meio ardiloso, desviar os procedimentos relativos ao devido Processo de Descredenciamento referentes a ACF 31 de Março.

Repassar, na condição de GERAT/DR/SPI, informações de natureza privilegiada relativas às ACFs que estavam em situação irregular na ECT e que pudessem ser objeto de negociação por parte do ex-diretor Vitor Joppert.

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Agir, utilizando a função de GERAT, no sentido de garantir que os procedimentos administrativos internos na DR/SPI, principalmente os de natureza técnica, tivessem o curso desejado por Vitor Joppert.

Anuir, na condição de GERAT, com o método adotado pelo ex-diretor regional Vitor Joppert, interferindo irregularmente no processo de descredenciamento da ACF 31 de Março.

Anuir, na função de GERAT, irregularmente no processo que resultou na alteração indevida do endereço da ACF 31 de Março, atendendo ao pedido do REOP-08 Sebastião Sérgio e do ex-diretor Vitor Joppert.

Omitir, perante à Comissão de Sindicância, os fatos que levaram a GERAT/SPI a negar, no primeiro momento, a alteração de endereço da ACF 31 de Março tendo em vista que a empregada era a Gerente de Atendimento à época dos fatos.

(...)

Assim, faz-se necessário que o empregado seja citado para apresentar sua AMPLA DEFESA relativa aos fatos acima apurados...”

A co-ré foi citada (CD à fl. 67 – Arquivo: Procsso Digitalizado - 5º Sub-Rel Helena – fl. 179) e apresentou defesa (CD à fl. 67 – Arquivo: Procsso Digitalizado - 5º Sub-Rel Helena – fls. 190/258), pugnando pelo decreto de improcedência das acusações.

As teses defensivas não prosperaram, vez que a Comissão de Sindicância manifestou-se nos seguintes termos (CD à fl. 67 – Arquivo: Procsso Digitalizado - 5º Sub-Rel Helena – fls. 480/508):

"(...) Pelas análises dos argumentos apresentados pela empregada Helena Aquemi Mio, fica evidenciado que seu posicionamento se afasta da realidade das ocorrências, pois apesar de demonstrada as formas como ocorreram os fatos, a empregada opta por declarar ter atuado em conformidade com a previsão. Como descrito, ao deixar de providenciar os atos referentes ao descredenciamento da ACF 31 de Março e solicitar a emissão de Parecer Técnico que não impedia tais ações, a empregada Helena, condicionou diretamente as ações que desejam o ex-Diretor Vitor Joppert, Luiz Loyola e Alex Karpinscki. Constatou-se ainda que antes da emissão da Nota Jurídica ASJUR/DR/SPI-094/2007 e do despacho do então CONEG, que foram emitidos em 05.03.2007, as providências da Seção de Gestão da Rede Terceirizada - SGRT/GERAT sobre a mudança de Titularidade, AINDA NÃO AUTORIZADA, já havia iniciado (15.02.07), o dossiê formatado com documentos e ações da SGRT e, que o valor da dívida da ACF 31 de Março, no montante de R$ 19.344,81, já tinha sido recolhido (01.03.07), por LUIZ LOYOLA, antes mesmo da avaliação da ASJUR/SPI e autorização do CONEG (índices nºs 7259187 e 7259015). Ora, qual a finalidade de Loyola saldar dívida da Franqueada pertencente à outra pessoa ?. Assim, ficou demonstrado de forma transparente que, independentemente dos impedimentos normativos, a alteração da titularidade da ACF 31 de Março seria realizada, ou seja, LOYOLA já tinha adquirido a posse da franqueada. Todo o jogo que envolveu a alteração da titularidade foi apenas para regularizar a posse de Loyola. A conduta adotada pela empregada HELENA, apenas facilitou que o ex-diretor Vitor Joppert pudesse manipular a rotina administrativa. Pelo exposto, esta Comissão de Sindicância concluiu que a empregada Helena Aquemi Mio, matrícula nº 8.009.042-7, com exceção do último item da citação, não conseguiu afastar de si as responsabilidades a ela atribuídas, devendo sua conduta ser objeto de avaliação superior...”

6. DA INDIVIDUALIZAÇÃO DOS ATOS DE IMPROBIDADE

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Expostas as informações concernentes à Operação “Déjà Vu” e à Sindicância realizada pela ECT, tratar-se-á, separadamente, da conduta dos acusados, identificando os atos de improbidade por eles praticados.

VITOR APARECIDO CAIVANO JOPPERT

Condutas:

a) Forneceu a Antonio Luiz Vieira Loyola informações privilegiadas (violação de sigilo funcional) que teve conhecimento em razão do cargo (Diretor Regional dos Correios em Bauru/SP) ocupado na Empresa de Correios e Telégrafos – ECT.

b) Usou, indevidamente, o seu cargo (Diretor Regional dos Correios em Bauru/SP) para patrocinar os interesses espúrios de Antonio Luiz Vieira Loyola dentro da ECT, mesmo sabendo que tais pretensões eram ilícitas/imorais .

c) Valendo-se de seu cargo/função na ECT ajudou Antonio Luiz Vieira Loyola a exercer “pressão” sobre os ex-proprietários (Paulo Rodrigues, Silvia Helena Mello Migliato e Luiz Carlos Migliato) das Agências Franqueadas 31 de Março (Votorantim/SP) e Capital do Clima (São Carlos/SP) visando à alienação dos referidos estabelecimentos.

d) Valendo-se de seu cargo/função da ECT, contribuiu (juntamente com Sebastião Sérgio de Souza), de forma fundamental, para a transferência das instalações da Agência 31 de Março – Votorantim/SP, mesmo tendo ciência que as normas dos Correios vedam tal procedimento (local fora da área alvo)

e) Valendo-se de seu cargo/função na ECT, contribuiu (juntamente com Sebastião Sérgio de Souza), de forma fundamental, para a transferência da “Agência de Correios Franqueadas 31 de Março” – Votorantim/SP e “Agência de Correios Franqueadas Capital do Clima” – São Carlos/SP, para Antonio Luiz Vieira Loyola, (através de interpostas pessoas - “laranjas”) procedimento vedado pelo MANCAT92, já que ele era sócio em outras duas Agências de Correios Franqueadas;

f) Na qualidade de chefe de Marcio Caldeira Junqueira (Coordenador Regional de Negócios dos Correios em Bauru/SP), Sebastião Sérgio de Souza (Gerente da Região Operacional dos Correios em Sorocaba/SP) e de Helena Aquemi Mio (Gerente de Atendimento da DR/SPI), não cumpriu seus deveres funcionais, pois acobertou as condutas irregulares perpetradas pelos seus subordinados, auxiliando-os/instigando-os/induzindo-os, inclusive.

g) há fortes evidências de que recebeu vantagens indevidas (propina) como contraprestação pelo auxílio prestados à quadrilha chefiada por Antonio Luiz Vieira Loyola, o que se tentará provar durante a instrução processual.

Provas:

92 Manual de Comercialização e Atendimento da ECT, item 3.4, alínea "d"68

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a) As interceptações telefônicas transcritas nesta exordial e nos autos digitalizados (2007.61.10.002128-8, 2008.61.10.007491-1 e 2007.61.10.001361-9) da Operação “Déjà Vu” não deixam nenhuma dúvida acerca da participação (constante e fundamental) de Vitor Aparecido Caivano Joppert no que tange às operações ilícitas realizadas por Antonio Luiz Vieira Loyola.

b) A Comissão de Sindicância da ECT, através de análise técnica e minuciosa, concluiu que Vitor Aparecido Caivano Joppert cometeu diversas irregularidades na condição de Diretor Regional, conforme já exposto, resumidamente (no tópico: Da Comissão de Sindicância Instaurada pela ECT).

c) Vitor Aparecido Caivano Joppert compareceu na festa de inauguração das novas instalações da ACF 31 de Março, o que demonstra a relação estreita entre ele e Antonio Luiz Vieira Loyola (Processo nº 2008.61.10.007491-1 - fls. 183/184; PDF – fls. 25/26).

d) Alex Karpinscki, além de confessar os crimes cometidos pela quadrilha de Antonio Luiz Vieira Loyola , informou também que Vitor Aparecido Caivano Joppert recebia propina, veja-se (Processo nº 2007.61.10.002128-8 - fls. 658/660; PDF – fls. 02/04): “(...) QUE quando LOYOLA disse que o Dr. de Bauru já estava contando inclusive com o remédio, na verdade estava se referindo à "comissão” (propina) que seria paga ao Diretor Regional, que à época dos fatos era VITOR JOPPERT (...) QUE confirma que combinaram em vender a ACF CAPITAL DO CLIMA e que receberiam um lucro de aproximadamente R$ 100.000,00 (cem mil reais) que seria dividido entre o interrogando, LOYOLA e VITOR JOPPERT...”.

e) Vitor Aparecido Caivano Joppert, apesar de não ter admitido que recebeu propina, confirmou que a expressão “o médico”, utilizada por Antonio Luiz Vieira Loyola em uma das conversas com Alex Karpinscki, foi usada para se referir a sua pessoa (Processo nº 2007.61.10.002128-8 - fls. 703/707; PDF – fls. 47/51): “ (...) QUE, ouvido o áudio índice 7123308 (ALEX x LOYOLA), o interrogado esclarece que a expressão "o médico estava até contando com os remédios dele", não se refere a qualquer valor que receberia pela informação prestada, reconhecendo que a referência "médico" foi feita em relação a sua pessoa...”.

Ressalte-se, outrossim, que o próprio Vitor Aparecido Caivano Joppert admitiu que a postura que adotou (informações privilegiadas passadas para Antonio Luiz Vieira Loyola) não é algo padrão na ECT (Processo nº 2007.61.10.002128-8 - fls. 703/707; PDF – fls. 47/51):“(...) QUE, em relação à agência Capital do Clima em São Carlos/SP, confirma ter informado a LUIZ LOYOLA sobre os débitos existentes e os problemas administrativos pelos quais a agência passava; (...) QUE, não é "normal" passar este tipo de informação para franqueados...”.

f) Os fatos que são objetos desta ação ocorreram em 2007, todavia, como o próprio ex-diretor admitiu, o relacionamento entre ele e Antonio Luiz Vieira Loyola é bastante antigo (Processo nº 2007.61.10.002128-8 - fls. 703/707; PDF – fls. 47/51): “(...) QUE, conhece LUIZ LOYOLA desde que assumiu a Diretoria Regional em meados de 2000; QUE, mantinha relacionamento com LUIZ LOYOLA em decorrência de o mesmo ser da Associação dos franqueados...”.

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g) O Laudo de Exame Contábil (Laudo nº 5030/2007- NUCRIM/SETEC/SR/DPF/SP) constatou que Vitor Aparecido Caivano Joppert tem apresentado movimentação financeira bastante superior aos rendimentos declarados, o que confirma as suspeitas relacionadas ao recebimento de propina (Processo nº 2008.61.10.007491-1 - fls. 150/151; PDF – fls. 84/85).

Atos de improbidade:

As condutas deste co-réu enquadram-se nos artigos 9º, caput, incisos I, VIII, e X, 10, incisos I e XII, e, subsidiariamente, no artigo 11, caput, incisos I, II e III da Lei 8.429/1992.

SEBASTIÃO SÉRGIO DE SOUZA

Condutas:

a) Forneceu a Antonio Luiz Vieira Loyola informações privilegiadas (violação de sigilo funcional) que teve conhecimento em razão do cargo (Gerente da Região Operacional dos Correios em Sorocaba/SP) ocupado na Empresa de Correios e Telégrafos - ECT.

b) Valendo-se de seu cargo/função na ECT, contribuiu (juntamente com Vitor Aparecido Caivano Joppert), de forma fundamental, para a transferência das instalações da Agência 31 de Março – Votorantim/SP, mesmo tendo ciência que as normas dos Correios vedam e vedavam tal procedimento, em local fora da área alvo;

c) Valendo-se de seu cargo/função na ECT, contribuiu (juntamente com Vitor Aparecido Caivano Joppert), de forma fundamental, para a transferência da “Agência de Correios Franqueadas 31 de Março” – Votorantim/SP e “Agência de Correios Franqueadas Capital do Clima” – São Carlos/SP, para Antonio Luiz Vieira Loyola, (através de interpostas pessoas - “laranjas”) procedimento vedado pelo MANCAT93, já que ele era sócio em outras duas Agências de Correios Franqueadas;

d) Manteve vários contatos com o mentor (Antonio Luiz Vieira Loyola) da quadrilha fornecendo-lhe diversas informações (obtidas em decorrência do cargo ocupado) sobre os procedimentos escusos que deveriam ser adotadas para obtenção de êxito na mudança de sede da Agência Franqueada 31 de Março (Votorantim/SP).

e) Enviou, inclusive, para o endereço eletrônico ([email protected]) de Daniel de Brito Loyola (filho de Antonio Luiz Vieira Loyola) documento que deveria ser elaborado pelos próprios interessados (proprietários da ACF 31 de Março), tudo para facilitar a aprovação do pedido no âmbito dos Correios.

93 Manual de Comercialização e Atendimento da ECT, item 3.4, alínea "d"70

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f) Usou, indevidamente, o seu cargo (Gerente da Região Operacional dos Correios em Sorocaba/SP) para patrocinar os interesses espúrios de Antonio Luiz Vieira Loyola dentro da ECT, mesmo sabendo que tais pretensões eram ilícitas/imorais.

g) recebeu vantagens indevidas como contraprestação pelo auxílio prestados à quadrilha chefiada por Antonio Luiz Vieira Loyola.

Provas de Autoria:

a) As interceptações telefônicas transcritas nesta exordial e nos autos digitalizados (2007.61.10.002128-8, 2008.61.10.007491-1 e 2007.61.10.001361-9) da Operação “Déjà Vu” não deixam nenhuma dúvida acerca da participação (constante e fundamental) de Sérgio Sebastião de Souza no que tange às operações ilícitas realizadas por Antonio Luiz Vieira Loyola.

b) A Comissão de Sindicância da ECT, através de análise técnica e minuciosa, concluiu que Sebastião Sérgio de Souza cometeu diversas irregularidades na condição de Gerente Operacional dos Correios, conforme exposto, resumidamente (no tópico: Da Comissão de Sindicância Instaurada pela ECT).

c) As declarações de Antonio Dellarmelinda demonstram o contato próximo entre Antonio Luiz Vieira Loyola e Sérgio Sebastião de Souza, bem como as vantagens indevidas recebidas pelo aludido servidor dos Correios (Processo nº 2007.61.10.002128-8 - fls. 127/167; PDF – fls. 160/203): “(...) QUE a posse se deu dia 01 de julho, na ACF 31 de Março QUE nesse dia, foi almoçar com LOYOLA e com SEBASTIÃO SÉRGIO DE SOUZA, Gerente de Região Operacional; QUE durante o almoço, LOYOLA fez questão de elogiar diversas vezes “SERGINHO” e disse ao declarante que era sempre bom ter um relacionamento bem próximo com 'esse pessoal' referindo-se aos servidores dos correios, avisando que não deveria nunca “bater de frente” com eles, que deveria “pagar um almoço, ou um jantar, fazer algum agrado” QUE durante esse almoço, “SERGINHO” agradeceu LOYOLA por ter indicado uma oficina de Campinas para consertar seu carro, dando a entender que o conserto teria sido pago por LOYOLA, QUE disse também ao declarante, que para ele aumentar o faturamento da franquia, deveria deixar como gerente a esposa de “SERGINHO”; QUE ora LOYOLA se referia a esposa, ora a irmã, ora a parente de “SERGINHO”, dizendo que isso seria muito bom para o declarante...”

Por outro lado, é imperioso trazer à colação as declarações prestadas por Sebastião Sérgio de Souza à Comissão de Sindicância, pois quando indagado se esteve com Antonio Luiz Vieira Loyola em algum momento social, ele respondeu (CD à fl. 67 – Arquivo: Processo Digitalizado - 4º Sub-Rel SEBASTIÃO SERGIO – fl. 283): “(...) Que não. Excetuado alguns almoços, em torno de 4. Que por meio do Sr. LOYOLA, recebeu convites para um Rodeio, onde compareceu Que Loyola lhe disse que iria lhe encaminhar um CD e um DVD dos cantores Bruno e Marroni, César Menotti e Fabiano. Que os objetos foram-lhe encaminhado por meio de Sedex...” (grifo nosso).

Vê-se, portanto, que houve confissão quanto às vantagens indevidas recebidas em virtude dos “serviços” prestados a Antonio Luiz Vieira Loyola.

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Registre-se, por oportuno, a clara contradição entre as declarações prestadas à Polícia Federal e o que foi dito para a ECT em relação conteúdo do sedex enviado por Antonio Luiz Vieira Loyola, o que também está a indicar a presença de evidências de que houve, na verdade, envio de dinheiro (Processo nº 2007.61.10.002128-8 - fls. 708/713; PDF – fls. 52/57):

“9) Quanto recebeu para auxiliar LOYOLA na alteração do endereço da ACF Votorantim/SP? O que LOYOLA mandou para você por SEDEX no dia 22/06/2007, mencionado na conversa de índice 8493609? QUE não recebeu nenhum centavo para isso; QUE o único SEDEX que se recorda de ter recebido de LOYOLA foi um pacote contendo um DVD de Vitor & Leo e um CD do Bruno & Marrone , ambos de gravação caseira, enviados como presente para a esposa do interrogando, porque em ocasião anterior o interrogando comentou com LOYOLA que sua esposa era fã desses cantores.” (grifo nosso).

Para que não restem dúvidas sobre a relação estreita entre os co-réus Sebastião Sérgio de Souza e Antonio Luiz Vieira Loyola, acentue-se que o aludido servidor da ECT, assim como o co-ré Vitor Aparecido Caivano Joppert, compareceu na festa de inauguração das novas instalações da ACF 31 de Março (Processo nº 2008.61.10.007491-1 - fls. 183/184; PDF – fls. 25/26).

Atos de improbidade:

As condutas deste co-réu enquadram-se nos artigos 9º, caput, incisos I, VIII, e X, 10, incisos I e XII, e, subsidiariamente, no artigo 11, caput, incisos I, II e III da Lei 8.429/1992.

MARCIO CALDEIRA JUNQUEIRA

Condutas:

a) Ameaçou o ex-proprietário (Paulo Rodrigues) da Agência Franqueada 31 de Março, forçando-o a alienar seu estabelecimento, sob pena de descredenciamento. Para tanto, agendou para o dia 02/02/2007 uma reunião com o causídico (José Roberto Galvão Certo) de Paulo Rodrigues na sede dos Correios em Bauru/SP, ocasião em que valeu-se do seu cargo (Coordenador Regional de Negócios dos Correios em Bauru/SP) na ECT para praticar a conduta ilícita.

b) Valendo-se de seu cargo/função na ECT, contribuiu para que os objetivos dos co-réus Vitor Aparecido Caivano Joppert e Antonio Luiz Vieira Loyola tivessem êxito no que se refere às transferências de titularidade das ACFs 31 de Março (Votorantim/SP) e ACF Capital do Clima (São Carlos/SP), tendo em vista que em razão do cargo ocupado na ECT tinha todas as condições técnicas e hierarquia suficiente para impedir o prosseguimento dos procedimentos ilícitos, doas quais tinha pelo conhecimento.

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c) Valendo-se de seu cargo/função na ECT, anuiu, irregularmente, no processo que resultou na alteração indevida do endereço da ACF 31 de Março, em conflito com o MANCAT94, atendendo assim aos anseios de Sebastião Sérgio de Souza, Vitor Aparecido Caivano Joppert e Antonio Luiz Vieira Loyola.

d) Usou, indevidamente, o seu cargo (Coordenador Regional de Negócios dos Correios em Bauru/SP) para patrocinar os interesses espúrios de Antonio Luiz Vieira Loyola dentro da ECT, mesmo sabendo que tais pretensões eram ilícitas/imorais e não permitidas pelo MANCAT95.

e) Há indícios de que recebeu vantagens indevidas (propina) como contraprestação pelos “serviços” prestados à quadrilha chefiada por Antonio Luiz Vieira Loyola.

Provas de Autoria:

a) As declarações de Paulo Rodrigues (Processo nº 2007.61.10.002128-8 - fls. 32/33; PDF – fls. 41/42) e José Roberto Galvão (Processo nº 2007.61.10.002128-8 - fl. 1368; PDF – fl. 20) são claras quanto à participação de Marcio Caldeira Junqueira na organização criminosa comandada por Antonio Luiz Vieira Loyola.

b) O documento enviado por José Roberto Galvão à Autoridade Policial por e-mail (Processo nº 2007.61.10.001361-9 - fls. 30/32; PDF – fls. 31/33) possui todos os detalhes da coação (venda da ACF 31 de Março ou descredenciamento) que Marcio Caldeira Junqueira exerceu em face de Paulo Rodrigues.

Nesse diapasão, averbe-se que a Comissão de Sindicância da ECT, ao inquirir Marcio Caldeira Junqueira, formulou a seguinte indagação (CD à fl. 67 – Arquivo: Processo Digitalizado - 3º Sub-Rel Marcio C Junqueira – fl. 210): “Conforme relato da Polícia Federal, uma funcionária da DR/SPI ligou para o Dr. José Roberto Galvão, advogado do Sr. Paulo Rodrigues, informando que você gostaria de ter uma reunião urgente com ele, essa reunião ocorreu ?”.

A resposta confirma as assertivas do causídico do ex-proprietário da ACF 31 de Março (CD à fl. 67 – Arquivo: Processo Digitalizado - 3º Sub-Rel Marcio C Junqueira – fls. 210/211): “(...) Sim, e ocorreu na sala de Coordenação no dia 02.02.2007 (...) Que o assunto foi o descredenciamento da ACF 31 de Março e da possibilidade de transferência da titularidade (...) Que na verdade falou com o Dr. José Roberto sobre o resultado da Sindicância e que a decisão inicial da diretoria ser pelo descredenciamento. Entretanto, havia a possibilidade de ele apresentar novo comprador e ser alterada a titularidade da franquia...”.

Acrescente-se que a ACF 31 de Março, antes de ser vendida para Antonio Luiz Vieira Loyola, já estava sendo alvo de um procedimento de descredenciamento, dessa forma, segundo a Comissão de Sindicância da ECT, deveria ter ocorrido o descredenciamento e não a concessão de autorização (concedida por Marcio

94 Manual de Comercialização e Atendimento da ECT, item 3.4, alínea "d"95 Manual de Comercialização e Atendimento da ECT, item 3.4, alínea "d"

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Caldeira Junqueira, através de portaria, na ocasião em que substituiu Vitor Aparecido Caivano Joppert) para mudança de titularidade, o que feriu flagrantemente as normas da ECT, veja-se (CD à fl. 67 – Arquivo: Processo Digitalizado - 3º Sub-Rel Marcio C Junqueira – fl. 636):

"(...) Tem-se que todos os atos que resultaram na mudança de posicionamento do empregado MÁRCIO CALDEIRA, optando pela alteração de titularidade, em detrimento a todo o processo já instruído e que ao final culminou com a decisão de descredenciar a ACF 31 de Março, não poderiam ter existido, pois contrariam diretamente o MANCAT e, como ficou demonstrado no Relatório Preliminar, só beneficiou o ex-diretor VITOR JOPPERT e o sr. LOYOLA, cujos interesses eram completamente contrários aos da ECT. Assim, atitude do empregado, ainda mais numa posição de destaque, (Coordenadoria de Negócio) em concordar com o ex-diretor regional foi decisiva tendo em vista que o empregado abandonou todos os atos já praticados anteriormente e adotou posição complementamente oposta e contrária à norma (MANCAT) ao que já se tinha adotado, contrairando normas, pareceres técnicos da GERAT e, também, da Jurídica, já que sempre opiniram pelo descredenciamento...”.

Pontue-se que além de ter contribuído, de forma fundamental, para alteração da titularidade da ACF 31 de Março, Marcio Caldeira Junqueira, mais uma vez, ignorou as normas da ECT, pois nada fez para impedir a alteração da sede do aludido estabelecimento (CD à fl. 67 – Arquivo: Processo Digitalizado - 3º Sub-Rel Marcio C Junqueira – fls. 653/654):

"(...) De acordo com as orientações da Gerência de Atendimento, ao contrário do que afirmou o empregado, existia sim uma regra específica imprescindível para o caso de haver alteração de endereço. Trata-se de um check-list da denominada Sistematizçaão dos Processos utilizados por aquela gerência, sendo que neste instrumento consta como regra a ser obedecida quando da autorização para mudança de endereço a distância de 1 km de raio entre as agências; tanto é que no parecer elaborado pela GERAT ao CONEG a empregada Helena, juntamente com sua equipe técnica, submeteu o assunto (distância mínima não observada pela ACF 31 de Março, vide folha 105) ao próprio CONEG, distância essa correspondente ao que previa a Instrução Normativa; ou seja, a distância regulamentar era sim um fator impeditivo e fora levantado e registrado pela área técnica (a GERTA) ainda assim houve plena concordância do empregado MÁRCIO CALDEIRA em homologar a alteração de endereço. Daí a preocupação do REOP de Sorocaba (sr. Sebastião Sérgio) e, também, a providencial intervenção do sr. Loyola junto ao gerente da REOP, pois o local pretendido, o mini-shopping, era de grande interesse para os negócios de Loyola...”.

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No que tange à ACF Capital do Clima (São Carlos/SP), registre-se que, novamente, as normas da ECT foram preteridas, tudo visando à satisfação dos interesses da quadrilha de Antonio Luiz Vieira Loyola (CD à fl. 67 – Arquivo: Processo Digitalizado - 3º Sub-Rel Marcio C Junqueira – fls. 648/649):

"(...) A atitude do coordenador de negócio, sr. Márcio Caldeira, foi de extrema omissão no que se refere a sua obrigação de CONEG cuja atribuição normativa é supervisionar as atividades da GERAT, ainda mais em um caso semelhante ao ocorrido como a ACF 31 de Março que foi adquirida por laranjas nomeados pelo sr. Loyola (...) Daí a conclusão de que, tão mais grave quanto a sua posição diante da ACF 31 de Março foi sua atitude omissa quanto à ACF Capital do Clima, até mesmo por ser a segunda ACF a ser vendida para Loyola que se utilizou da mesma sistemática para atingir seus objetivos. Não bastasse isso, o próprio empregado reconhece que houve um processo de descredenciamento que resultou em notificação à ACF Capital do Clima, sendo que esta, por sua vez, sequer apresentou DEFESA, vide folha 296 parágrafo sétimo. Ora, se a ACF sequer apresentou DEFESA no Processo de Descredenciamento, não há motivo algum para que a Diretoria Regional a premiasse com a transferência de titularidade que foi autorizada justamente para LOYOLA, que mais uma vez, indicou dois laranjas para assumirem a franqueada. O curso normal do processo, considerando a ausência de apresentação de defesa pela franqueada não deveria ter sido como citou o empregado, sendo irrelevante inclusive o fato de, com a alteração de titularidade, ter havido quitação dos débitos, pois ao não apresentar sua defesa no processo a DR/SPI deveria ter partido automaticamente para a decisão de descredenciar prevista no subitem 3.2.1 e já tomada em 28/12/2006 (...) Observa-se que o empregado Márcio Caldeira Junqueira, ainda que detentor de larga experiência na área comercial, não avaliou corretamente os procedimentos técnicos adotados no caso concreto, optando por atender as solicitações do ex-diretor Vitor Joppert...”.

A Comissão de Sindicância da ECT, através de análise técnica e minuciosa, concluiu que Marcio Caldeira Junqueira cometeu diversas irregularidades na condição de Coordenador Regional de Negócios dos Correios em Bauru, conforme exposto, resumidamente, (no tópico: Da Comissão de Sindicância Instaurada pela ECT).

Atos de improbidade:

As condutas deste co-réu enquadram-se nos artigos 9º, inciso VIII, 10, incisos I e XII, e, subsidiariamente, no artigo 11, caput, incisos I e II da Lei 8.429/1992.

HELENA AQUEMI MIO

Condutas:

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a) Valendo-se de seu cargo/função na ECT, aliou-se a Vitor Aparecido Caivano Joppert para desviar os procedimentos relativos ao devido Processo de Descredenciamento referente à ACF 31 de Março.

b) Valendo-se de seu cargo/função na ECT, agiu no sentido de garantir que os procedimentos administrativos internos na DR/SPI, principalmente os de natureza técnica, tivessem o curso desejado por Vitor Aparecido Caivano Joppert.

c) Valendo-se de seu cargo/função na ECT, anuiu, irregularmente, no processo que resultou na alteração indevida do endereço da ACF 31 de Março, atendendo ao pedido de Sebastião Sérgio de Souza e de Vitor Aparecido Caivano Joppert.

Provas:

d) A Comissão de Sindicância da ECT, através de análise técnica e minuciosa, concluiu que Helena Aquemi Mio cometeu diversas irregularidades na condição de Gerente de Atendimento, conforme exposto, resumidamente (no tópico: Da Comissão de Sindicância Instaurada pela ECT).

Atos de improbidade:

As condutas desta co-ré enquadram-se no artigo 10, inciso XII, e, subsidiariamente, no artigo 11, caput, incisos I, II da Lei 8.429/1992.

ANTONIO LUIZ VIEIRA LOYOLA, DANIEL DE BRITO LOYOLA, ALEX KARPINSCKI, DAMIANO JOÃO GIACOMIN E MARCELO COLUCCINI DE SOUZA CAMARGO

Em relação aos có-réus supramencionados, restou caracterizado que eles foram beneficiados pelas condutas ilegais previstas nos artigos 9º, caput, incisos I, VIII, e X, 10, incisos I e XII, 11, caput, incisos I, II e III da Lei nº 8.429/1992, motivo pelo qual devem figurar no pólo passivo da presente demanda para sujeitarem-se às penalidades cabíveis, face ao que preceitua o artigo 3º da mesma Lei: “As disposições desta lei são aplicáveis, no que couber, àquele que, mesmo não sendo agente público, induza ou concorra para a prática do ato de improbidade ou dele se beneficie sob qualquer forma direta ou indireta”.

Antonio Luiz Vieira Loyola, como já foi ostensivamente exposto ao longo desta inicial, criou e liderou uma quadrilha, composta por particulares e funcionários públicos, tendo como desiderato o enriquecimento ilícito.

Valeu-se de seus contatos para angariar informações privilegiadas e utilizou-as para ampliar o seu patrimônio, pois adquiriu (através dos “laranjas” Daniel de Brito Loyola, Damiano João Giacomin e Marcelo Collucini de Souza Camargo), de forma ilícita, duas agências franqueadas (ACF 31 de Março e ACF Capital do Clima).

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As transações financeiras envolvendo os estabelecimentos mencionados gerou um lucro que ultrapassa R$ 1.000,000,00 (um milhão de reais), conforme será adiante explicado.

Alex Karpinscki, usou sua experiência na área de negócios para intermediar as negociações concernentes às Agências de Correios Franqueadas 31 de Março e Capital do Clima, pois após receber as informações privilegiadas repassadas por Antonio Luiz Vieira Loyola (obtidas através do auxílio dos funcionários da ECT), dirigiu-se até os proprietários das agências mencionadas para achacá-los, induzindo-os a vender seus estabelecimentos por preços bem abaixo do mercado, tendo pleno conhecimento da irregularidade das operações.

Daniel de Brito Loyola, filho de Antonio Luiz Vieira Loyola, ajudou seu pai a concretizar seus objetivos ilícitos, tendo em vista que no contrato de alienação da Agência 31 de Março consta o seu nome como sendo o comprador do estabelecimento (atuou como “laranja”), quando na verdade o real proprietário é seu genitor.

Damiano João Giacomin, assim como Daniel de Brito Loyola, atuou como “laranja”, eis que fez se passar por proprietário/comprador das Agências 31 de Março e Capital do Clima, sendo que o proprietário verdadeiro é Antonio Luiz Vieira Loyola.

Marcelo Collucini de Souza Camargo, outrossim, figurou como proprietário fictício pois, conquanto formalmente e juntamente com Damiano João Giacomin, seja o proprietário da Agência Capital do Clima, na realidade referida Agência de Correios Franqueada pertence a Antonio Luiz Vieira Loyola.

Descritas, em resumo, as condutas ilícitas praticadas, faz-se mister destacar que o conjunto probatório proveniente da “Operação Déjà Vu”é robusto e possui inúmeros elementos de convicção (interceptações telefônicas, documentos, depoimentos, confissões etc) no sentido de que as condutas ilícitas apontadas nesta inicial foram realmente perpetradas pelos co-réus, sendo assim, de rigor a aplicação das sanções cabíveis, consoante será exposto adiante.

Anote-se, por derradeiro, que os Laudos de Exame Contábil (Laudo nº 5030/2007 e 5031/2007- NUCRIM/SETEC/SR/DPF/SP) produzidos e juntados aos autos do Processo nº 2008.61.10.007491-1 (fls. 127/158; PDF – fls. 61/92) apontam diversas irregularidades em relação às movimentações financeiras dos co-réus Alex Karpinscki, Antonio Luiz Vieira Loyola, Daniel de Brito Loyola, Damiano João Giacomin, Marcio Caldeira Junqueira e Vitor Aparecido Caivano Joppert, o que demonstra o recebimento de propina e enriquecimento ilícito, cite-se, a título de ilustração, algumas observações tecidas pela Polícia Federal (Processo nº 2008.61.10.007491-1 - fls. 79/82; PDF – fls. 13/16):

“(....)

b) ANTÔNIO LUIZ VIEIRA LOYOLA (laudo ng. 5030/2007 - fls. 19).

0 laudo apresentado aponta diversas irregularidades praticadas pelo investigado. Com efeito, na declaração de imposto de renda referente ao ano de 2.003, LOYOLA afirma

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ter recebido R$ 33.523,55, mas efetuou gastos no valor de R$236.147,30, ou seja, despendeu R$ 202.23,75 acima de seus rendimentos, fato que se repete na declaração referente ao ano de 2.004, onde diz que recebeu R$ 138.174,99, porem, efetuou gastos no valor de R$ 373.603,42, muito acima dos seus rendimentos. Alem disso, afirma que em 2.004 recebeu a título de lucros cerca de R$ 118.000,00, mas na declaração de IR da empresa da qua1 era sócio naquele ano não consta ter havido distribuição de lucros para o mesmo. 0S peritos também afirmam haver irregularidades na compra e venda de imóveis, além de chamarem a atenção para um fato incomum, qua1 seja o de LOYOLA ter terminado o ano de 2.006 com R$450.000,00 em espécie. Por fim, informam que a movimentação financeira do increpado mais do que duplicou em relação ao ano de 2.005, chegando ao importe de aproximadamente R$450.000,00, alem de ter adquirido R$600.000,00 em imóveis.

b.1) LOYOLA & LOYOLA AMOREIRAS SERVIÇOS LTDA. (laudo ng. 1158/2008 - fls. 13).

A empresa desempenha atividades de franqueada da ECT- Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, sendo que foram analisadas pelos experts as declarações referentes aos anos de 2.002 a 2.005. Segundo o laudo pericial, em todos os anos a empresa apresentou movimentação financeira média de 5,53 vezes o valor da sua receita bruta, além de irregularidades outras verificadas pelos peritos. A título de ilustração, no ano de 2.005 a empresa declarou receita bruta de aproximadamente R$ 1.200.000,00 (um milhão e duzentos mil reais), sendo que movimentou mais de R$ 7.500.000,00 (sete milhões e quinhentos mil reais), ou seja, 6,55 vezes o valor de sua receita bruta.

(...)

f) VlTOR APARECIDO CAIVANO JOPPERT (laudo nº. 5030/07 - fls. 15/16).

A documentação encaminhada pela Receita Federal de Sorocaba - SP veio a confirmar as suspeitas que recaiam sobre este servidor publico da ECT, pois de acordo com os peritos, além de outras irregularidades assinaladas no laudo, no ano de 2.003 o indigitado apresentou movimentação financeira de R$ 590.000,OO aproximadamente, sendo superior em cerca de R$ 358.657,77 aos rendimentos declarados, fato que se repete em 2.004, ano em que os seus rendimentos seriam inferiores ao da sua movimentação financeira em R$ 55.000,OO aproximadamente.”

7. DO DANO MORAL COLETIVO

De tudo quanto exposto, emerge evidente que os prejuízos sofridos pela Administração Pública em face das condutas protagonizadas pelos co-réus vão muito além de limites exclusivamente materiais, visto que também valores morais foram fortemente abalados.

Evidentemente, a conduta dos co-réus (Vitor Aparecido Caivano Joppert, Sebastião Sérgio de Souza e Marcio Caldeira Junqueira), utilizando-se dos cargos ocupados na ECT para auferir benefícios ilegais e beneficiar terceiros (Antonio Luiz Vieira Loyola, Daniel de Brito Loyola, Alex Karpinscki, Daniel de Brito Loyola, Damiano João Giacomin e Marcelo Collucini de Souza Camargo), afetou e continua afetando negativamente a imagem da União, e em especial da ECT, já tão desgastada pelos recentes escândalos ligado ao esquema de corrupção (público e notório) que ficou conhecido como “Mensalão”.

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Os meios de comunicação fizeram uma ampla divulgação da Operação “Déjà Vu”. Em consulta realizada no Google 96, utilizando-se o nome da Operação, obteve-se como resultado mais de 50.000 (cinqüenta mil) páginas em Português relacionadas aos ilícitos praticados pelos co-réus, veja-se, como exemplo, a notícia publicada no site globo.com 97:

“30/10/08 - 10h18 - Atualizado em 30/10/08 - 10h18

PF faz operação contra irregularidades em franquias dos CorreiosOperação acontece em quatro estados e no Distrito Federal.

Ao todo, são 43 mandados de busca e apreensão e 19 de prisão.

A Polícia Federal cumpre nesta quinta-feira (30) em quatro estados e no Distrito Federal 43 mandados de busca e apreensão e 19 de prisão temporária em uma operação que combate fraudes em agências franqueadas dos Correios.

A chamada Operação DeJá Vu foi iniciada em janeiro de 2007 em Sorocaba, a 99 km de São Paulo. Durante as investigações, foi apurada a atuação de um grupo que frauda a aquisição de agências franqueadas dos Correios, com esquema de transferência ilegal de serviços para franquias específicas. O prejuízo estimado é de R$ 30 milhões.

A operação é realizada em São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Brasília. Os investigados foram indiciados por extorsão, tráfico de influência, corrupção ativa e passiva, advocacia administrativa, quadrilha ou bando, falsidade ideológica e descaminho, entre outros. As penas variam de dois a 12 anos de prisão.

Durante as investigações da PF de Sorocaba, foi descoberto que uma família de Campinas, a 103 km de São Paulo, revendia artigos importados que entravam no país sem cobertura fiscal para moradores da cidade. Além disso, foram identificadas fraudes em licitações nos Correios e no Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra).

O G1 entrou em contato com a assessoria de imprensa dos Correios e aguarda posicionamento da empresa.”

Não há a menor dúvida de que o descalabro evidenciado neste indecoroso episódio (fatos descobertos pela Operação “Déjà Vu”) irá reforçar a convicção popular no sentido de que a ECT, como as demais Empresas Públicas/Órgãos Públicos, possui em seus quadros servidores inescrupulosos, corruptos, que geram o efeito inverso de sua função, que é a insegurança nas instituições que zelam pela proteção da população brasileira e prestam serviços essenciais.

Ainda, reforça, a tese de que os tributos pagos pelos cidadãos honestos não se revertem em prol da coletividade, mas são malversados ou apropriados por agentes ímprobos conluiados com terceiros, prevalecendo-se de suas funções dentro da Administração Pública.

Assim é que as condutas dos réus violaram a imagem do Estado, da honra objetiva da ECT, gerando descrédito na seriedade da Administração Pública, pelo

96 - http://www.google.com.br97 - http://g1.globo.com/Noticias/SaoPaulo/0,,MUL842744-5605,00.html

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que alvejaram os cidadãos, de forma difusa, provocando dano extremamente prejudicial à consolidação de padrões éticos exigidos pela sociedade brasileira, também atingida.

Reforçando os argumentos esposados em relação à possibilidade do ato de improbidade administrativa ensejar o pleito de danos morais, a jurisprudência do STJ:

“ADMINISTRATIVO. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA CONTRA CHEFE DO PODER EXECUTIVO MUNICIPAL. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. UTILIZAÇÃO DE FRASES DE CAMPANHA ELEITORAL NO EXERCÍCIO DO MANDATO. ADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA. LEGITIMIDADE DO MINISTÉRIO PÚBLICO. VIOLAÇÃO DO ART.267, IV, DO CPC, REPELIDA. OFENSA AOS PRINCÍPIOS ADMINISTRATIVOS. INTERPRETAÇÃO DO ART. 11 DA LEI 8.429/92. LESÃO AO ERÁRIO PÚBLICO. PRESCINDIBILIDADE. INFRINGÊNCIA DO ART. 12 DA LEI 8.429/92 NÃO CONFIGURADA. SANÇÕES ADEQUADAMENTE APLICADAS. PRESERVAÇÃO DO POSICIONAMENTO DO JULGADO DE SEGUNDO GRAU.(...)3. A violação de princípio é o mais grave atentado cometido contra a Administração Pública porque é a completa e subversiva maneira frontal de ofender as bases orgânicas do complexo administrativo. A inobservância dos princípios acarreta responsabilidade, pois o art. 11 da Lei 8.429/92 censura “condutas que não implicam necessariamente locupletamento de caráter financeiro ou material” (Wallace Paiva Martins Júnior, “Probidade Administrativa”, Ed. Saraiva, 2ª ed., 2002).4. O que deve inspirar o administrador público é a vontade de fazer justiça para os cidadãos, sendo eficiente para com a própria administração. O cumprimento dos princípios administrativos, além de se constituir um dever do administrador, apresenta-se como um direito subjetivo de cada cidadão. Não satisfaz mais às aspirações da Nação a atuação do Estado de modo compatível apenas com a mera ordem legal, exige-se muito mais: necessário se torna que a gestão da coisa pública obedeça a determinados princípios que conduzam à valorização da dignidade humana, ao respeito à cidadania e à construção de uma sociedade justa e solidária.5. A elevação da dignidade do princípio da moralidade administrativa ao patamar constitucional, embora desnecessária, porque no fundo o Estado possui uma só personalidade, que é a moral, consubstancia uma conquista da Nação que, incessantemente, por todos os seus segmentos, estava a exigir uma providência mais eficaz contra a prática de atos dos agentes públicos violadores desse preceito maior.6. A tutela específica do art. 11 da Lei 8.429/92 é dirigida às bases axiológicas e éticas da Administração, realçando o aspecto da proteção de valores imateriais integrantes de seu acervo com a censura do dano moral. Para a caracterização dessa espécie de improbidade dispensa-se o prejuízo material na medida em que censurado é o prejuízo moral. A corroborar esse entendimento, o teor do inciso III do art. 12 da lei em comento, que dispõe sobre as penas aplicáveis, sendo muito claro ao consignar, “na hipótese do art. 11, ressarcimento integral do dano, se houver...” (sem grifo no original). O objetivo maior é a proteção dos valores éticos e morais da estrutura administrativa brasileira, independentemente da ocorrência de efetiva lesão ao erário no seu aspecto material.(...)8. Recurso especial conhecido, porém, desprovido.(REsp 695.718/SP, Rel. Ministro JOSÉ DELGADO, PRIMEIRA TURMA, julgado em 16/08/2005, DJ 12/09/2005 p. 234)

“ADMINISTRATIVO. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. DANO AO ERÁRIO. MULTA CIVIL. DANO MORAL. POSSIBILIDADE. PRESCRIÇÃO.(...)3. Não há vedação legal ao entendimento de que cabem danos morais em ações que discutam improbidade administrativa seja pela frustração trazida pelo ato ímprobo na comunidade, seja pelo desprestígio efetivo causado à entidade pública que dificulte a ação estatal.

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4. A aferição de tal dano deve ser feita no caso concreto com base em análise detida das provas dos autos que comprovem efetivo dano à coletividade, os quais ultrapassam a mera insatisfação com a atividade administrativa.(...)(REsp 960.926/MG, Rel. Ministro CASTRO MEIRA, SEGUNDA TURMA, julgado em 18/03/2008, DJe 01/04/2008)” (grifo nosso)

Cumpre reproduzir, parcialmente, por ser bastante claro quanto à viabilidade de caracterização dos danos morais no âmbito da improbidade administrativa, o voto do Ministro Castro Meira, proferido no Recurso Especial 960.926/MG, referente à ementa citada:

“(...) Primeiramente, cabe referir que a ação de improbidade se insere no contexto da legislação pátria como uma espécie própria de ação civil pública e, desse modo, deve ser aplicada subsidiariamente, no que couber e não se contrapuser à legislação de regência.

Nesse sentido, trago a lição de Maria Sylvia Zanella de Pietro:

“Vem se firmando o entendimento de que a ação judicial cabível para apurar e punir os atos de improbidade tem a natureza de ação civil pública, sendo-lhe cabível, no que não contrariar disposições específicas da lei de improbidade. Lei nº 7.347, de 24-7-95. É sob essa forma que o Ministério Público tem proposto as ações de improbidade administrativa, com aceitação pela jurisprudência (cf. Alexandre de Moraes, 2000; 330-331, especialmente jurisprudência citada na nota nº 2. p.330). Essa conclusão encontra fundamento no artigo 129, inciso III, da Constituição Federal, que ampliou os objetivos a ação civil pública, em relação à redação original da Lei 7.347, que somente a p revia em caso de dano ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico. O dispositivo constitucional fala em ação civil pública ' para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos'. Em conseqüência, o artigo 1º da Lei nº 7.347 85⁄ foi acrescido de um inciso, para abranger as ações de responsabilidade por danos causados ' a qualquer outro interesse difuso ou coletivo'. Aplicam-se, portanto, as normas da Lei nº 7.347 85, no que não contrariarem dispositivos da lei de improbidade”⁄ (in Direito Administrativo, Ed. Atlas, 17ª edição, p.718-719).

O Professor Alexandre de Moraes ensina que “a Lei Federal 7.347 85 é norma⁄ processual geral para a tutela de interesses supra-individuais, aplicando-se a todas as outras leis destinadas à defesa desses interesses, como a Lei Federal 8.429 92,⁄ conforme artigos 17 e 21. Essa disposição integra-se ao art. 83 da Lei Federal 8.078 90⁄ (Código de Defesa do Consumidor), que determina a admissão de qualquer pedido para tomar adequada e efetiva a tutela aos interesses transindividuais, ou seja, possibilita a formulação de qualquer espécie de pedido de provimento jurisdicional desde que tenha por objeto resguardar defesa do interesse em jogo. Os artigos 110 e 117, da referida Lei 8.078 90, inseriram na Lei da Ação Civil Pública (Lei 7.347 85) o inciso IV do art. 1°⁄ ⁄ e o art. 21, estendendo, de forma expressa, o que a Constituição Federal havia estendido de maneira implícita, ou seja, o alcance da ação civil pública à defesa de todos os interesses difusos” (in Direito Constitucional, Atlas, 12ª ed., pág. 344 5).⁄

Com base nesse entendimento, há de se entender presente o cabimento de pedido de condenação por dano moral no âmbito de ação de improbidade movida pelo Ministério Público, pois a Lei de Ação Civil Pública sustenta tal pedido como direito coletivo, mormente após a edição da Lei nº 8.88494, que o⁄ explicitou.

Diz José dos Santos Carvalho Filho:

“A alteração introduzida pela Lei nº 8.884 94 ao art. 1º, guarda, por conseguinte,⁄ perfeita harmonia normativa com o perfil constitucional relativo ao dano moral. Na verdade, a redação anterior, referindo-se a danos, já ensejaria a interpretação de que o termo abrangeria também o dano moral. Não obstante, para dirimir eventuais

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questionamentos, decidiu inserir expressamente no dispositivo a qualificação morais ao substantivo danos. Dessa maneira, o autor, na ação civil pública, postulará a condenação do réu a uma indenização em dinheiro, ou a uma obrigação de fazer ou não fazer, seja patrimonial ou moral o dano que tenha provocado como causa de sua responsabilidade” (in Ação Civil Pública, Lúmen Júris, 6ª edição, 2007, p. 13-14).

Nesse sentido, cito o seguinte julgado:

"PROCESSO CIVIL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. COMPATIBILIDADE DAS AÇÕES. ART. 6° DA LEI N. 8.906 1994.⁄1. É cabível a propositura de ação civil pública que tenha como fundamento a prática de ato de improbidade administrativa, tendo em vista a natureza difusa do interesse tutelado. Também mostra-se lícita a cumulação de pedidos de natureza condenatória, declaratória e constitutiva nesta ação, porque sustentada nas disposições da Lei n.8.429 92.⁄2. Recurso especial conhecido parcialmente e improvido" (REsp 516.190 MA, Rel. Min.⁄ João Otávio de Noronha, DJU de 26 03 2007).⁄ ⁄

A Lei de Improbidade Administrativa (arts. 10 cc 12) prevê o ressarcimento⁄ integral do dano causado por lesão ao erário, sem fazer qualquer restrição específica no diploma legal.

Desse modo, deve ser aplicado o artigo 5º da Constituição da República, que explicita:

"Art. 5 - (...)X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação."

Esta Corte de Justiça pacificou a sua jurisprudência, reconhecendo a possibilidade de dano moral contra a pessoa jurídica, nos termos da Súmula 227, que assim preconiza:

"A pessoa jurídica pode sofrer dano moral."

Nada justifica a exclusão da pessoa jurídica de direito público, já que um ato ímprobo pode gerar um descrédito, um desprestígio que pode acarretar o desânimo dos agentes públicos e a descrença da população que, inclusive, prejudique a consecução dos diversos fins da atividade da Administração Pública, com repercussões na esfera econômica e financeira.

Emerson Garcia e Rogério Pacheco Alves, invocados pelo parecer ministerial, examinam, de forma didática, algumas dessas conseqüências no trecho abaixo destacado:

"Do mesmo modo que as pessoas jurídicas de direito privado, as de direito público também gozam de determinado conceito junto à coletividade, do qual muito depende o equilíbrio social e a subsistência de várias negociações, especialmente em relação: a) aos organismos internacionais, em virtude dos constantes empréstimos realizados; b) aos investidores nacionais e estrangeiros, ante a freqüente emissão de títulos da dívida pública para a captação de receita; c) à iniciativa privada, para a formação de parcerias; d) às demais pessoas jurídicas de direito público, o que facilitará a obtenção de empréstimos e a moratória de dívidas já existentes etc.É plenamente admissível, assim, que o ato de improbidade venha a macular o conceito que gozam as pessoas jurídicas de relacionadas no art. 1º da Lei n° 8.429 92, o que⁄ acarretará um dano de natureza não-patrimonial passível de indenização" (in Improbidade Administrativa, Lúmen Júris, 2ª edição, 2004, 470-471).

Em resumo, seja pelo dano moral causado à coletividade ante a frustração concreta causada pelo ato ímprobo, seja pelo prejuízo moral que leve a macular a imagem do agente público junto à coletividade, são devidos danos morais.

(...)

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O Magistrado deve ter como foco as conseqüências do ato e, com base nas argumentações e provas trazidas nos autos, nortear a aferição de existência e o grau do dano para efeito de cálculo da indenização.

(...)

Quanto à possibilidade de cumulação dos pedidos de indenização por danos patrimoniais e danos morais, trago à colação o seguinte tópico do parecer subscrito pela ilustre Subprocuradora-Geral da República Dra. Dulcinéa Moreira de Barros:

"Com a sanção prevista no art. 12, II, da Lei nº 8.429 92 (ressarcimento integral do⁄ dano por lesão ao erário) é estritamente patrimonial, ela pode ser somada à reparação por dano moral, que tem fundamento autônomo, embora proveniente do mesmo fato.

A autonomia do dano moral está respaldada no art. 5º, X, da CF e na Súmula 37STJ, valendo a pena transcrevê-los:⁄

'Art. 5 - (...)X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação'.

Além da possibilidade de cumulação de indenização por danos materiais e morais na demanda em curso, não se verifica qualquer incompatibilidade entre seus pedidos, em observação às regras do art. 292, do Código de Processo Civil" (fls. 735 736).⁄

Desse modo, afastada a prescrição, bem como a premissa de que não haveria possibilidade de condenação para ressarcimento do dano moral em ação de improbidade, devem os autos retornar à origem para apurar-se sua existência e extensão.

Ante o exposto, conheço em parte do recurso especial e dou-lhe provimento também em parte.

É como voto.” (destaques nosso)

Destarte, ante o exposto e com fundamento no disposto no artigo 5º, incisos V e X da Constituição Federal, artigo 1º da Lei nº 7.347/85 e com assento ainda em jurisprudência iterativa de nossos Tribunais, consubstanciada inclusive nas Súmulas do Eg. Superior Tribunal de Justiça onde fixada no enunciado nº 37 a possibilidade de cumular-se indenização por dano material e moral oriunda do mesmo fato, e na Súmula 227 que vislumbra a possibilidade da pessoa jurídica, no caso a União/ECT, sofrer dano moral, o MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL pugna pela condenação de todos os co-réus, ao pagamento de valor que deverá ser arbitrado por este Juízo, pelos danos morais causados em relação à ECT. Os valores deverão ser destinados à Empresa Brasileira de Correios e telégrafos – ECT ou ao Fundo de Defesa de Direitos Difusos (art. 13, da Lei nº 7.347/1985 e Decreto 1.306/1994)

8. DOS PEDIDOS

8.1. Da Liminar

Como forma de assegurar o integral ressarcimento do dano (material/moral) advindo dos atos de improbidade administrativa, o legislador ordinário previu, implementando o comando do § 4º do art. 37 da Constituição Federal de 1988, a

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indisponibilidade dos bens dos agentes ímprobos, no artigo 7º, da lei nº 8.429/92, como medida cautelar imprescindível para satisfação de um pronunciamento judicial definitivo e eficaz, veja-se:

"Art. 37. (...)(...)§4º Os atos de improbidade administrativa importarão a suspensão dos direitos políticos, a perda da função pública, a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao erário, na forma e gradação previstas em lei, sem prejuízo da ação penal cabível." (grifo nosso)

"Art. 7º Quando o ato de improbidade causar lesão ao patrimônio público ou ensejar enriquecimento ilícito, caberá à autoridade administrativa responsável pelo inquérito representar ao Ministério Público, para a indisponibilidade dos bens do indiciado.Parágrafo único. A indisponibilidade a que se refere o caput deste artigo recairá sobre bens que assegurem o integral ressarcimento do dano, ou sobre o acréscimo patrimonial resultante do enriquecimento ilícito."(grifo nosso)

A propósito, traz-se à colação os escólios de Rogério Pacheco Alves 98, constantes na obra que, hodiernamente, melhor analisa os aspectos ligados ao tema em comento:

“A obrigação de reparar o dano é regra que se extrai do art. 159 do CC, tendo merecido expressa referência por parte do texto constitucional (art. 37,§ 4º )e pela própria Lei de Improbidade (art. 5º). Trata-se, como visto amplamente na primeira parte desta obra, de um princípio geral do direito e que pressupõe: a) a ação ou a omissão do agente, residindo o elemento volitivo no dolo ou na culpa; b) a constatação de dano, que pode ser material ou moral; c) a relação de causalidade entre a conduta do agente e o dano verificado; d) que da conduta do agente surja o dever jurídico de reparação.

Deste modo, verificada, a partir da disciplina contida no art. 10 da Lei 8.429/92, a ocorrência de “lesão ao erário” (rectius: ao patrimônio público), o acervo patrimonial do agente, presente e futuro (v.g: créditos sujeitos a condição suspensiva ou resolutiva), estará sujeito à responsabilização, aplicando-se, aqui, a regra geral de que o devedor responde, para o cumprimento de suas obrigações, com todos os seus bens presentes e futuros, salvo as restrições estabelecidas na lei (art. 591, CPC). Também o patrimônio do extraneus que tenha auferido benefícios da improbidade (v.g.: a pessoa jurídica que se beneficiou de uma licitação superfaturada).

O desiderato da “integral reparação do dano” será alcançado, assim, por intermédio da decretação da indisponibilidade de tantos bens de expressão econômica (dinheiro, móveis, imóveis, veículos, ações, créditos de um modo geral etc.) quantos bastem ao restabelecimento do status quo ante...”

O referido Autor leciona 99 , ainda, que:

“(...) A indisponibilidade de bens, desta forma, busca garantir futura execução por quantia certa (a reparação do dano moral e patrimonial), assemelhando-se ao arresto do CPC, que também pode recair sobre qualquer bem do patrimônio do devedor.

Sem prejuízo da generalidade da medida, o certo é que deve a constrição incidir apenas sobre o montante necessário à plena reparação do dano, não sobre todo o patrimônio do requerido quando este se apresentar bem superior ao prejuízo. A medida deve ser, em resumo, proporcional ao escopo que se deseja alcançar. Daí a importância de indicação, pelo autor da ação de improbidade, de pelo menos uma estimativa do valor

98 - Ibid., p. 749.99 - Ibid., p. 750 -754.

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do dano causado (quantum debeatur), parâmetro a ser utilizado apenas como vistas ao dimensionamento da indisponibilidade.

(...)

Ressalte-se que a indisponibilidade de bens é medida que pode ser requerida nos próprios autos da ação principal, na forma do art. 12 da Lei nº 7.347/85.

Considerando-se que a multa civil é modalidade de sancionamento cabível nas hipóteses de dano ao patrimônio público (art. 12, II, da Lei nº 8.429/92), nada impede o manejo da cautelar de indisponibilidade como forma de garantir a sua futura execução.

(...)

Por fim, embora de rara ocorrência, nada impede, de lege lata, a decretação da medida quanto aos atos de improbidade de que cuida o art. 11 da Lei nº 8.429/1992 (“violação de princípios”), mormente no que diz respeito à garantia de reparação do dano moral, o qual, para fins de indisponibilidade, deverá ser estimado pelo autor da petição inicial. Sobre o ponto, vale notar que o art. 7º da LIA submete a indisponibilidade de bens à ocorrência de “lesão ao patrimônio público”, expressão que deve ser interpretada em seu sentido mais amplo de modo a também abarcar o patrimônio moral do ente. Por outro lado, não se tem dúvida de que além de lesões morais, a violação de princípios também pode repercutir na esfera propriamente pecuniária do lesado, o que se vê confirmado pelo próprio art. 12, III, da Lei de Improbidade.”

Impende consignar, por pertinente, que a indisponibilidade de bens, que pode incidir inclusive sobre os bens adquiridos antes do ato ímprobo, não é cabível apenas nos casos em que há enriquecimento ilícito ou lesão ao erário, pois tal providência pode ter como escopo assegurar o pagamento de multa civil. Por tratar-se de medida de natureza cautelar, é despiciendo aguardar o recebimento da petição inicial, sendo possível, portanto, a concessão imediata da constrição de bens.

Nessa esteira de entendimento, a jurisprudência do colendo STJ:

“PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. LIA. INDISPONIBILIDADE DE BENS. MULTA CIVIL. INCLUSÃO.1. Considerando-se que a multa civil integra o valor da condenação a ser imposta ao agente improbo, a decretação da indisponibilidade de bens deve abrangê-la, já que essa medida cautelar tem por objetivo assegurar futura execução da sentença condenatória proferida na ação civil por improbidade administrativa.2. Ainda que não haja previsão literal no art. 7º da Lei nº 8.429/92 para a decretação da indisponibilidade de bens em relação à multa civil, o magistrado tem a faculdade de determinar a efetivação da medida com base no poder geral de cautela consubstanciado nos artigos 797 e 798, do Código de Processo Civil.3. Aferida a razoabilidade da medida, o valor dos bens tornados indisponíveis deve ser suficiente para o pagamento do valor total da condenação, abrangida a multa civil.4. Recurso especial provido.(REsp 1023182/SC, Rel. Ministro CASTRO MEIRA, SEGUNDA TURMA, julgado em 23/09/2008, DJe 23/10/2008)” (grifo nosso)

“ADMINISTRATIVO. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. ATO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. INDISPONIBILIDADE DE BENS. NATUREZA JURÍDICA. LIMITES DA CONSTRIÇÃO. PRECEDENTES DO STJ. RECURSO ESPECIAL PROVIDO.1. A natureza jurídica da indisponibilidade de bens prevista na Lei de Improbidade Administrativa é manifestamente acautelatória, pois visa assegurar o resultado prático de eventual ressarcimento ao erário causado pelo ato de improbidade administrativa. Assim, o deferimento da constrição não está condicionada ao recebimento da petição inicial da ação civil de improbidade administrativa.

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2. A decretação de indisponibilidade de bens em decorrência da apuração de atos de improbidade administrativa deve observar o teor do art. 7º, parágrafo único, da Lei 8.429/92, limitando-se a constrição aos bens necessários ao ressarcimento integral do dano, ainda que adquiridos anteriormente ao suposto ato de improbidade.3. Nesse sentido, os seguintes precedentes: REsp 806.301/PR, 1ª Turma, Rel. Min. Luiz Fux, DJ de 3.3.2008, p. 1; REsp 886.524/SP, 2ª Turma, Rel. Min. João Otávio de Noronha, DJ de 13.11.2007, p. 524; REsp 781.431/BA, 1ª Turma, Rel. Min. Francisco Falcão, DJ de 14.12.2006, p. 274.4. Provimento do recurso especial.(REsp 1003148/RN, Rel. Ministra DENISE ARRUDA, PRIMEIRA TURMA, julgado em 18/06/2009, DJe 05/08/2009)” (grifo nosso)

“ADMINISTRATIVO. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. ART. 7º da LEI 8.429/1992. INDISPONIBILIDADE DE BENS.1. A indisponibilidade de bens – em Ação de Improbidade Administrativa ou em Cautelar preparatória – serve para garantir todas as conseqüências financeiras (inclusive multa civil) da conduta do agente, independentemente de o patrimônio ter sido adquirido antes da prática do ato investigado. Precedentes do STJ.2. Recurso Especial não provido.(REsp 637413/RS, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 07/05/2009, DJe 21/08/2009)” (grifo nosso)

No que tange aos requisitos que autorizam a decretação da indisponibilidade de bens, a jurisprudência costuma exigir a presença do fumus boni iuris e do periculum in mora, veja-se:

"ADMINISTRATIVO: IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. INCLUSÃO DA PESSOA JURÍDICA DE DIREITO PÚBLICO NO PÓLO ATIVO DA LIDE. POSSIBILIDADE. PARÁGRAFO 3º, DO ARTIGO 17 DA LEI 8.429/92. INDISPONIBILIDADE LIMINAR DOS BENS DOS INVESTIGADOS. PRESENÇA DOS REQUISITOS AUTORIZADORES. FUMUS BONI IURIS E PERICULUM IN MORA. (...)II- A decretação da indisponibilidade dos bens dos réus na ação de improbidade administrativa é cabível, em medida liminar, desde que presentes os seus requisitos autorizadores. III- O fumus boni iuris revela-se presente na existência de fartos indícios da prática de atos de improbidade administrativa, colhidos pelo Ministério Público Federal. IV- O periculum in mora, por sua vez, está consubstanciado na própria gravidade dos fatos descritos na exordial, bem como no risco de dilapidação do patrimônio da ré, a ensejar a decretação da indisponibilidade dos seus bens, como medida assecuratória do ressarcimento do erário público. V- Agravo improvido" (Origem: TRIBUNAL - TERCEIRA REGIÃO Classe: AG - AGRAVO DE INSTRUMENTO - 64342 Processo: 98030337475 UF: SP Órgão Julgador: SEGUNDA TURMA Data da decisão: 22/08/2000 Documento: TRF300055791)” (grifo nosso)

No presente caso o fumus boni iuris encontra-se demonstrado pelas provas carreadas aos autos que evidenciam os atos de improbidade administrativa praticados pelos co-réus.

Já o periculum in mora evidencia-se tanto na gravidade dos fatos descritos como no risco de dilapidação do patrimônio dos requeridos. Surpresos pelo descortino e pela resposta estatal aos seus atos delituosos, acostumados que estavam a promover e a deles se beneficiar-se, tenderão a evitar que a punição alcance seus patrimônios. Prejudicado será, nesta hipótese, mais uma vez o erário.

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É oportuno registrar que a melhor doutrina dispensa o autor de provar a intenção dos requeridos em dilapidar seu patrimônio, valendo transcrever, novamente, as lições que constam na obra de Emerson Garcia e Rogério Pacheco Alves 100:

"Quanto ao periculum in mora, parte da doutrina se inclina no sentido de sua implicitude, de sua presunção pelo art. 7º da Lei de Improbidade, o que dispensaria o autor de demonstrar a intenção de o agente dilapidar ou desviar o seu patrimônio com vistas a afastar a reparação do dano. Neste sentido, argumenta Fábio Osóro Medina que ‘O periculum in mora emerge, via de regra, dos próprios termos da inicial, da gravidade dos fatos, do montante, em tese dos prejuízos causados ao erário", sustentando, outrossim, que ‘a indisponibilidade patrimonial é medida obrigatória, pois traduz conseqüência jurídica do processamento da ação, forte no art. 37, § 4º, da Constituição Federal’. De fato, exigir a prova, mesmo que indiciária, da intenção do agente de furtar-se à efetividade da condenação representaria, do ponto de vista prático, o irremediável esvaziamento da indisponibilidade perseguida em nível constitucional e legal. Como muito bem percebido por José Roberto dos Santos Bedaque, a indisponibilidade prevista na Lei de Improbidade é uma daquelas hipóteses nas quais o próprio legislador dispensa a demonstração do perigo de dano. Deste modo, em vista da redação imperativa adotada pela Constituição Federal (art. 37,§ 4º) e pela própria Lei de Improbidade (art. 7º), cremos acertada tal orientação, que se vê confirmada pela melhor jurisprudência." (grifo nosso)

Ainda, em relação ao periculum in mora, sem prejuízo das ponderações supratranscritas, vale fazer as seguintes observações:

Após a Operação “Déjà Vu” os “negócios” de Antonio Luiz Vieira Loyola sofreram um forte golpe, pois a ECT passou a indeferir os contratos celebrados entre as suas Agências Franqueadas e Empresas Privadas. Diante de tal fato, Antonio Luiz Vieira Loyola e seus “laranjas” (Damiano João Giacomin e Marcelo Coluccini de Souza Camargo – proprietários fictícios da ACF Capital do Clima – São Carlos/SP) impetraram 2 mandados de segurança (Processos nsº 2009.61.08.009590-6 – 3ª Vara Federal em Bauru/SP; 2009.61.00.013089-1 – 21ª Vara Federal em São Paulo) contra os Correios visando anular/impedir os atos que, segundo eles, violam direito líquido e certo.

A impetração dos mandados de segurança demonstra que que Antonio Luiz Vieira Loyola está preocupado em relação aos seus “negócios”, pois a atitude da ECT vem gerando prejuízo de ordem pecuniária, conforme relatado pelos seus laranjas (processo 2009.61.08.009590-6 – 3ª Vara Federal em Bauru/SP – fl. 05):

“(...) Tais contratos representam a maior parte do faturamento das agências franqueadas, em razão do enorme volume financeiro movimentado, de modo que, para uma agência de correio franqueada, está operação é, sem a menor sombra de dúvidas, a grande porção do faturamento, ou seja, a mais expressiva parcela do movimento financeiro do negócio, uma vez que o atendimento feito em balcão, apesar de proporcionar retorno de investimento, gera receita muito menor, não continuada e esparsa, se comparada à receita gerada com contratos de prestação de serviços múltiplos...” .

100 - Ibid., p. 751.87

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O Juízo da 21 ª Vara Federal em São Paulo não concedeu a ordem pleiteada, tendo proferido a seguinte decisão 101:

“(...) O exame aprofundado dos motivos que levaram a impetrada a suspender a vinculação dos contratos firmados demanda ampla dilação probatória, não podendo ser examinado na via estreita do mandado de segurança. ISTO POSTO e considerando tudo mais que dos autos consta, denego a segurança requerida nos termos do artigo 6º, 5º da Lei nº 12.016/2009 c/c artigo 267, VI do Código de Processo Civil...”.

Além dos óbices criados pela ECT, um dos automóveis (Audi A6, ano 2005, placas DQY 4222) de Antonio Luiz Vieira Loyola foi objeto de seqüestro (decisão decretada nos autos nº 2008.61.10.007491-1 - – 1ª Vara Federal em Sorocaba/SP), tendo em vista a existência de indícios veementes de que o bem foi adquirido através das atividades ilícitas descobertas pela “Operação Déjà Vu”. Inconformado com a decisão, Antonio Luiz Vieira Loyola já tentou diversas vezes obter a restituição do veículo, no entanto, não obteve êxito, veja-se a decisão prolatada no bojo dos autos de Restituição de Coisa Apreendida (autos nº 2008.61.10.015820-1 – 1ª Vara Federal em Sorocaba/SP)

“(...) indefiro o pedido de restituição do veículo apreendido, porque entendo prematura a sua restituição, na medida em que ainda não ficou demonstrada que o proprietário do veículo não possui qualquer responsabilidade na prática do ato ilícito apurado nos autos do inquérito policial acima mencionado (...) INDEFIRO a presente reiteração de requerimento de restituição de veículo automotor deduzido pelo requerente ANTÔNIO LUIZ VIEIRA LOYOLA, forte no dispositivo legal antes mencionado, em combinação com o disposto no artigo 119 do Código de Processo Penal...”.

Resta claro, portanto, que os negócios de Antonio Luiz Vieira Loyola não estão mais gerando os mesmos rendimentos de antes, o que aumenta a possibilidade de dilapidação do patrimônio e/ou realização de negócios escusos visando frustrar a execução das sanções decorrentes da prática de atos de improbidade administrativa.

Nesse diapasão, vale lembrar que Antonio Dellarmelinda (comprador da ACF 31 de Março) está movendo uma ação (processo nº 1505/2008 - 2ª Vara Cível de Votorantim/SP) em face de Antonio Luiz Vieira Loyola, Damiano João Giacomin e Daniel de Brito Loyola, na qual está pleiteando, em síntese, a desconstituição do contrato e a condenação dos réus ao pagamento de R$ 485.922,05 (quatrocentos e oitenta e cinco mil, novecentos e vinte e dois reais e cinco centavos), tendo em vista que o negócio jurídico encontra-se eivado de vícios (Processo nº 2007.61.10.002128-8 - fls. 141/154; PDF – fls. 176/190).

101 - Cópia da decisão obtida através do site da Justiça Federal88

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Consultando-se o sítio do Tribunal de Justiça do Estado de SP 102, verifica-se que houve antecipação de tutela e determinação de bloqueio de valores:

“01/12/2008Despacho ProferidoJunte-se resposta do pedido de bloqueio e dê-se ciência ao autor. Sem prejuízo, aguarde-se a citação. ( SUCESSO NO BLOQUEIO R$ 3.891,10 BANCO SANTERDER, R$ 203,02 BANCO ABN).”

No sítio do TJ/SP consta, ainda, que Antonio Luiz Vieira Loyola apresentou Embargos de Terceiro (processo nº 145/2009 - 2ª Vara Cível de Votorantim/SP) a fim de obter a liberação dos valores bloqueados:

“09/02/2009Despacho Proferido1 – Junte-se nos autos principais resposta do pedido de bloqueio hoje impresso. Vistos. Trata-se de Embargos de Terceiro apresentado por LOYOLA AMOREIRAS SERVIÇOS LTDA em face de ANTONIO DELLARMELINDA. Recebo os embargos de terceiro para discussão, suspendendo o processo principal apenas em relação aos bens que envolvem o embargante (art. 1052, do CPC). Em que pesem os fatos alegados na inicial, persistem ainda os motivos ensejadores da antecipação dos efeitos da tutela, pois as provas juntadas nos autos principais ainda não foram refutadas, ao passo que, neste processo, o “fumus boni iuris” não restou satisfatoriamente demonstrado, já de início. Defiro no entanto, a liberação dos valores bloqueados mediante a apresentação de caução, o que poderá ser feito através de apresentação de bem durável, desembaraçado e desde que comprovada a propriedade e seu valor. Intimem-se. Fls. 59: “ Vistos. Muito embora o embargante tenha demonstrado a propriedade dos bens e comprovado o valor deles, oportuno que se dê oportunidade de manifestação ao embargado, na medida em que a liminar pleiteada implica revogação parcial do pedido de antecipação da tutela dos autos principais. Publique-se, com urgência, para manifestação em 48 horas. Após voltem para apreciação da caução e determinação de citação, se o caso. Intimem-se.”

Vê-se, dessa forma, que Antonio Luiz Vieira Loyola está enfrentando diversos problemas de ordem financeira, todos ligados aos crimes/atos de improbidade administrativa que ele cometeu.

As dificuldades ligadas às Agências Franqueadas e o bloqueio do veículo/valores são uma prova cabal de que o patrimônio de Antonio Luiz Vieira Loyola está diminuindo. Além disso, não é possível olvidar que este co-réu possui como hábito utilizar “laranjas” nos seus negócios (exemplos: negócios envolvendo as Agências Franqueadas 31 de Março e Capital do Clima), se tal conduta continuar se repetindo, sem dúvida nenhuma, futura sentença condenatória não surtirá os efeitos esperados, seja por

102 - http://www.tj.sp.gov.br/89

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causa dos negócios fraudulentos, seja por causa da diminuição do acervo patrimonial gerado por outras demandas (criminais/cíveis), de tal sorte que a decretação de indisponibilidade de bens nos autos desta ação é condição sine qua non para evitar a frustração de futura condenação.

Por outro lado, mister registrar que se torna imprescindível o reconhecimento/declaração da desconsideração da personalidade jurídica em relação à ACF Capital do Clima São Carlos/SP (COLUCClNl & GlACOMlN SERVICOS DE LOGlSTlCA LTDA.-ME - CNPJ: 08.822.370/0001-16 - Data de abertura: 10/05/2007 - Atividades de franqueadas do Correio Nacional).

A “disregard of legal entity” (teoria da desconsideração da personalidade jurídica) foi acolhida pelo nosso Ordenamento Jurídico, eis o teor do art. 50 do Código Civil:

“Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade, ou pela confusão patrimonial, pode o juiz decidir, a requerimento da parte, ou do Ministério Público quando lhe couber intervir no processo, que os efeitos de certas e determinadas relações de obrigações sejam estendidos aos bens particulares dos administradores ou sócios da pessoa jurídica.”.

Sílvio de Salvo Venosa 103, ao analisar o sentido da expressão “desvio de finalidade”, faz as seguintes observações: “ (...) Quando a pessoa jurídica, ou melhor, a personalidade jurídica for utilizada para fugir a suas finalidades, para lesar terceiros, deve ser desconsiderada, isto é, não deve ser levada em conta a personalidade técnica, não deve ser tomada em consideração sua existência, decidindo o julgador como se o ato ou negócio houvesse sido praticado pela pessoa natural (ou outra pessoa jurídica). Na realidade, nessas hipóteses, a pessoa natural procura um escudo de legitimidade na realidade técnica da pessoa jurídica, mas o ato é fraudulento e ilegítimo. Imputa-se a responsabilidade aos sócios e membros integrantes da pessoa jurídica que procuram burlar a lei ou lesar terceiros...”. (grifo nosso)

Para que ocorra o levantamente do véu da pessoa jurídica é dispensável o ajuizamento de ação autônoma, bastando a comprovação de abuso de direito, consoante entendimento firmado pelo STJ 104: “(...) A jurisprudência da Corte, em regra, dispensa ação autônoma para se levantar o véu da pessoa jurídica, mas somente em casos de abuso de direito - cujo delineamento conceitual encontra-se no art. 187 do CC/02 -, desvio de finalidade ou confusão patrimonial, é que se permite tal providência...”.

No caso em análise há evidente abuso de direito, porquanto a ACF Capital do Clima está sendo utilizada para ocultar uma parcela do patrimônio de Antonio Luiz Vieira Loyola, o que obstruirá a execução das medidas cabíveis contra este co-réu.

103 - VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2007. 271 p.104 - REsp 693.235/MT, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 17/11/2009, DJe 30/11/2009

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Antonio Luiz Vieira Loyola é o verdadeiro proprietário da ACF Capital do Clima. No papel a agência pertence a Damiano João Giacomin e Marcelo Collucini de Souza, mas esta realidade formal não se coaduna com o que consta nos autos.

Com efeito, as declarações dos ex-proprietários (Silvia Helena Mello Migliato e Luiz Carlos Migliato) do referido estabelecimento indicam que Antonio Luiz Vieira Loyola participou das negociações e visitou diversas vezes as dependências da agência (Processo nº 2007.61.10.002128-8 - fls. 1873/1877; PDF – fls. 286/291).

O próprio Antonio Luiz Vieira Loyola, em conversa com sua esposa (Maria Alba Andere de Brito Loyola), admitiu que adquiriu a ACF Capital do Clima: “índice 7790776 - LOYOLA diz para Alba que fechou o negócio de São Carlos por R$ 600.000,00 - 50 % ele e 50 % Alemão”. Nesse ponto, cumpre esclarecer, que o “Alemão” citado na conversa é Marcelo Collucini de Souza, pois ele mesmo disse que é conhecido como “Alemão” (Processo nº 2007.61.10.002128-8 - fls. 1372/1373; PDF – fls. 24/25). .

Acrescente-se que Alex Karpinscki, o “negociador”, em seu depoimento, foi enfático ao afirmar que a ACF de São Carlos pertence a Antonio Luiz Vieira Loyola (Processo nº 2007.61.10.002128-8 - fls. 658/660; PDF – fls. 02/04).

Nesse mesmo sentido, as declarações de Damiano João Giacomim, proprietário fictício da ACF de São Carlos: “(...) ao todo ANTONIO LUIZ VIEIRA LOYOLA possui 04 ACF's; QUE, a ACF de Campinas/SP em que ANTONIO LUIZ LOYOLA figura como sócio, e nas outras três (GRAJAÚ, SÃO CARLOS E VOTORANTIM), ANTONIO LUIZ VIEIRA LOYOLA utilizou-se de laranjas...” (Processo nº 2007.61.10.002128-8 - fls. 686/691; PDF – fls. 30/35).

Marcelo Collucini de Souza, por seu turno, embora tenha negado que a agência pertence a Antonio Luiz Vieira Loyola, informou que ficou sabendo que este fez um “empréstimo” de R$ 300.000,00 (trezentos mil reais) para seu sócio (Damiano João Giacomin) a fim de que eles pudessem realizar a aquisição da agência situada em São Carlos (Processo nº 2007.61.10.002128-8 - fls. 1372/1373; PDF – fls. 24/25).

Destarte, sob qualquer dos ângulos que se tente aferir a questão em testilha, a conclusão é uma só: Antonio Luiz Vieira Loyola é o verdadeiro proprietário da ACF Capital do Clima.

Em relação aos co-réus Vitor Aparecido Caivano Joppert, Sebastião Sérgio de Souza e Marcio Caldeira Junqueira, o periculum in mora está ligado principalmente ao perigo iminente da ruptura definitiva dos vínculos com a ECT.

Como já afirmado, a Comissão de Sindicância da ECT concluiu que todos os co-réus cometeram graves irregularidades no exercício de suas funções, o que já

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gerou, inclusive, a decisão de aplicar a pena de demissão por justa causa em relação ao co-réu Sérgio Sebastião de Souza.

Preocupados com a forte possibilidade de perderem os cargos na ECT, os co-réus ajuizaram reclamações trabalhistas, cujos dados (números dos processos e varas) encontram-se na fl. 70 (procedimento em anexo), visando obstruir os trabalhos realizados pela Comissão de Sindicância.

Devido ao evidente comprometimento, Vitor Aparecido Caivano Joppert parece já ter se conformado com o provável desligamento da ECT, tal assertiva tem como arrimo as informações obtidas no site da Justiça Federal, pois consta que ele pediu para a ECT aceitar o seu pedido de “demissão voluntária” (Processo nº 2009.61.10.002024-4 - 1ª Vara Federal em Sorocaba/SP):

“(...) O pedido formulado por Vitor Aparecido Caivano Joppert à fl. 827, no sentido de que este Juízo determine à ECT que acolha o seu pedido de demissão voluntária, não cabe a este Juízo Criminal a sua análise, devendo ser requerido em ação própria...”.

Tal pedido escamoteia uma esperteza, pois visa diminuir os impactos e as consequências que uma demissão por justa causa lhe acarretará. Espera-se que a ECT não venha a aceitar, ingenuamente tal pretensão.

A perda das funções vai gerar diminuição patrimonial significativa, haja vista que os co-réus terão que encontrar outros empregos e não poderão mais contar com os vencimentos vultosos que recebiam em decorrência dos altos cargos que ocupavam na ECT. Frise-se, nesse ponto, que a demissão não é mera probabilidade, constitui, na verdade, algo que inevitavelmente vai acontecer, pois além de já ter ocorrido o afastamento cautelar e a Comissão de Sindicância ter concluído pela existência de graves irregularidades, os elementos probatórios amealhados aos autos da Operação “Déjà Vu” são bastante reveladores dos comportamentos ilícitos dos réus.

Comprovado o preenchimento dos requisitos que autorizam o decreto de indisponibilidade dos bens, faz-se necessário expor os parâmetros para que tal medida seja concretizada em relação aos principais co-réus (Antonio Luiz Vieira Loyola, Alex Karpinscki, Vitor Aparecido Caivano Joppert, Sebastião Sérgio de Souza e Marcio Caldeira Junqueira) desta ação:

- Antonio Luiz Vieira Loyola – A indisponibilidade de bens deverá ter como parâmetro o lucro ilícito (mais de R$ 1.000,000,00 – um milhão de reais) auferido por meio das transações envolvendo as Agências Franqueadas 31 de Março (Votorantim/SP) e Capital do Clima (São Carlos/SP).

Explica-se: A ACF 31 de Março possuía valor de mercado de aproximadamente R$ 600.000,00 (seiscentos mil reais), sendo que foi adquirida por R$ 118.000,00 (cento e dezoito mil reais) e vendida por R$ 550.000,00 (quinhentos e cinqüenta mil reais). A ACF Capital do Clima possuía valor de mercado de aproximadamente R$ 1.200,000,00 (um milhão e duzentos mil reais) e foi comprada por R$ 600.000,00 (seiscentos mil reais).

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Deve ser usado como parâmetro, ainda, o valor estimado da multa civil/do dano moral decorrente da condenação pela prática de atos de improbidade administrativa.

- Alex Karpinscki - A indisponibilidade de bens deverá ter como parâmetro o lucro ilícito (R$ 35.000,00 – trinta e cinco mil reais) auferido por meio das transações envolvendo as Agências Franqueadas 31 de Março (Votorantim/SP) e Capital do Clima (São Carlos/SP). Explica-se: O próprio Alex Karpinscki confessou que recebeu R$ 5.000,00 (cinco mil reais) pela intermediação da venda da ACF 31 de Março e R$ 30.000,00 (trinta mil reais) pela intermediação da venda da ACF Capital do Clima.

Deve ser usado como parâmetro, ainda, o valor estimado da multa civil/do dano moral decorrente da condenação pela prática de atos de improbidade administrativa.

− Vitor Aparecido Caivano Joppert, Sebastião Sérgio de Souza e Marcio Caldeira Junqueira – Apesar das diversas provas carreadas aos autos ligadas à prática de atos de improbidade administrativa, por ora, não é possível fazer uma estimativa do valor das vantagens ilícitas obtidas por estes co-réus, sendo necessário, todavia, diante da gravidade dos fatos expostos, decretar a indisponibilidade de bens visando assegurar o pagamento de multa civil/dano moral, cujo valor deverá ser fixado por Vossa Excelência, tendo como parâmetro as vantagens ilícitas obtidas por Antonio Luiz Vieira Loyola, as quais só foram conseguidas em virtude da participação dos funcionários da ECT.

Isto Posto, o MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL requer:

a) Seja decretada liminarmente a indisponibilidade dos bens/aplicações financeiras/depósitos, dos co-réus Antonio Luiz Vieira Loyola, Alex Karpinscki, Vitor Aparecido Caivano Joppert, Sebastião Sérgio de Souza e Marcio Caldeira Junqueira por meio do sistema BACEN JUD 2.0105, nos termos da Resolução nº 524, do Conselho da Justiça Federal,;

b) Seja determinado, através do sistema RENAJUD Restrições Judiciais de Veículos Automotores106, o bloqueio administrativo de qualquer veículo em nome dos requeridos, impedindo assim, possíveis alienações;

c) Seja determinado o bloqueio de todo e qualquer valor aplicado em investimentos ou planos de previdência privada pelos réus, ou seja, com recursos seus, independente de quem sejam os beneficiários, oficiando-se, para tanto, ao

105O sistema Bacen Jud 2.0 é um instrumento de comunicação eletrônica entre o Poder Judiciário e instituições financeiras bancárias, com intermediação, gestão técnica e serviço de suporte a cargo do Banco Central. Por meio dele, os magistrados protocolizam ordens judiciais de requisição de informações, bloqueio, desbloqueio e transferência de valores bloqueados, que serão transmitidas às instituições bancárias para cumprimento e resposta.

106Vide: http://www.cnj.jus.br/images/renajud/manual_renajud.pdfhttp://www.cnj.jus.br/index.php?option=com_content&task=view&id=4740&Itemid=327 http://www.cnj.jus.br/images/renajud/Acordo_de_Cooperacao_Tecnica.pdf

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Superintendente da Superintendência de Seguros Privados – SUSEP107, Sr. Armando Vergilio dos Santos Júnior, sito na Av. Presidente Vargas, 730, 13º Andar – Centro, CEP 20071-001 Rio de Janeiro-RJ, Telefones (21)3233-4103, 3233-4101 e 3233-4102, Fax (21)3233-4104, a fim de que retransmita a ordem judicial às entidades de previdência privada abertas, inclusive determinando-se que elas informem a esse r. Juízo sobre o cumprimento da medida e os dados sobre os valores e bens bloqueados.

d) Seja determinado o bloqueio dos valores que as Agências de Correios Franqueadas GRAJAÚ (D BRITO LOYOLA & CIA LTDA ME – CNPJ: 05.597.704/0001-07), AMOREIRAS (LOYOLA & LOYOLA AMOREIRAS SERVIÇOS LTDA. - CNPJ: 97.447.221/0001-44) e CAPITAL DO CLIMA (COLUCCINI & GIACOMIN SERV DE LOGÍSTICA LTDA. - CNPJ: 08.822.370/0001-16) tenham a receber da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos – ECT, oficiando-se ao seu Diretor Comercial, Sr. Ronaldo Takahashi de Araújo, sito no SBN, Qd. 01, Bl. A, 18º Andar, Ala Sul - Ed. Sede, CEP 70002-900 Brasília-DF, Telefones (61)3426-2450 e 3426-2451, Fax (61)3426-1880, determinando-se-lhe que tais valores sejam depositados em conta corrente judicial a ser indicada e à disposição desse r. Juízo;

e) Seja determinada a QUEBRA DE SIGILO FISCAL de todos os co-réus (visando aferir a extensão dos seus acervos patrimoniais e buscar mais provas relacionadas ao recebimento de propina/enriquecimento ilícito) através da utilização do sistema INFOJUD (Sistemas de Informação do Judiciário)108 para que sejam obtidas informações acerca das declarações de bens e rendas dos últimos 4 (quatro) anos;

f) Sejam concedidas, inaudita altera pars, as medidas liminares pleiteadas, visto ser fundado o receio de que a ciência prévia dos co-réus poderá gerar a dilapidação dos patrimônios, tornando inútil a cautela e, por conseqüência, irreparável o prejuízo que causaram ao erário (material/moral).

8.2. Dos Demais Pedidos

Ante as razões de fato e direito supra expostas, evidenciadoras das improbidades administrativas praticadas pelos requeridos, o Ministério Público Federal requer:

a) a autuação da inicial, juntamente com os documentos que a instruem;

107 A SUSEP é o órgão responsável pelo controle e fiscalização dos mercados de seguro, previdência privada aberta, capitalização e resseguro. Autarquia vinculada ao Ministério da Fazenda, foi criada pelo Decreto-lei nº 73, de 21 de novembro de 1966, que também instituiu o Sistema Nacional de Seguros Privados, do qual fazem parte o Conselho Nacional de Seguros Privados - CNSP, o IRB Brasil Resseguros S.A. - IRB Brasil.

Missão: " Atuar na regulação, supervisão, fiscalização e incentivo das atividades de seguros, previdência complementar aberta e capitalização, de forma ágil, eficiente, ética e transparente, protegendo os direitos dos consumidores e os interesses da sociedade em geral. "

Fonte: http://www.susep.gov.br/menususep/apresentacao_susep.asp - Acesso aos 07/11/2007108 http://www/cnj.jus;br/index.php?option=com_content&view=article&id=7957&Itemid=980 – Acesso aos 09/02/2010

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Procuradoria da República no Município de Bauru-SP

b) a notificação dos réus para manifestação em 15 dias, nos termos do art. 17, § 7º, da Lei nº 8.429/92, bem como o seu recebimento em 30 dias, após exaurido o prazo para manifestação prévia, de acordo com o § 8º do referido dispositivo;

c) a notificação da União e da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos – ECT, para, querendo, nos termos do artigo 17, § 3º, da Lei n. 8.429/1992, integrarem a presente relação jurídico-processual;

d) oportunamente, após a observância da alínea “b”, a citação dos réus, para responderem, no prazo de 15 (quinze) dias, sob pena de revelia;

e) a declaração da desconsideração da personalidade jurídica de COLUCCINI & GIACOMIN SERV DE LOGÍSTICA LTDA. - CNPJ: 08.822.370/0001-16 – ACF Capital do Clima, D BRITO LOYOLA & CIA LTDA ME – CNPJ: 05.597.704/0001-07 – ACF Grajaú e LOYOLA & LOYOLA AMOREIRAS SERVIÇOS LTDA. – CNPJ: 97.447.221/0001-44 – ACF Amoreiras, com o reconhecimento de que todos os respectivos patrimônio e ativos pertencem, na verdade, ao co-réu ANTONIO LUIZ VIEIRA LOYOLA, nos termos do artigo 50 do Código Civil;

f) sejam julgados procedentes os pedidos para o fim de condenar os requeridos ANTONIO LUIZ VIEIRA LOYOLA, DANIEL DE BRITO LOYOLA, ALEX KARPINSCKI, DAMIANO JOÃO GIACOMIN, MARCELO COLUCCINI DE SOUZA CAMARGO, VITOR APARECIDO CAIVANO JOPPERT, MARCIO CALDEIRA JUNQUEIRA, SEBASTIÃO SÉRGIO DE SOUZA e HELENA AQUEMI MIO, em razão dos atos de improbidade que praticaram, nas sanções previstas no art. 37, § 4º da Constituição Federal e no art. 12, incisos I, II e III, da Lei 8.429/92, porquanto suas condutas enquadraram-se nos arts. 9º, 10 e 11, da referida lei;

g) sejam confirmadas as as medidas liminares requeridas e/ou concedidas;

h) a condenação dos réus ao pagamento de danos morais;i) a condenação dos réus nos ônus da sucumbência.

Protesta o Ministério Público Federal pela produção de todos os meios de prova em direito admitidos, notadamente, depoimento pessoal dos requeridos, oitiva de testemunhas e tudo o mais que se fizer necessário para aferição da veracidade dos fatos articulados.

Dá-se a causa o valor de R$ 1.000.000,00 (um milhão de reais), para efeito meramente estimativo.

Bauru, 23 de fevereiro de 2010.

PEDRO ANTONIO DE OLIVEIRA MACHADOProcurador da República

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