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PUBLICADO DESDE 1921 - PROPRIEDADE DA EMPRESA FOLHA DA MANHÃ S.A.
U M J O R N A L A S E R V I Ç O D O B R A S I L
Presidente: LUIZ FRIASDiretor Editorial: OTAVIO FRIAS FILHOSuperintendentes: ANTONIO MANUEL TEIXEIRA MENDES E JUDITH BRITOEditor-executivo: SÉRGIO DÁVILAConselho Editorial: ROGÉRIO CEZAR DE CERQUEIRA LEITE, MARCELO COELHO,JANIO DE FREITAS, CLÓVIS ROSSI, CARLOS HEITOR CONY, CELSO PINTO,ANTONIO MANUEL TEIXEIRA MENDES, LUIZ FRIAS E OTAVIO FRIAS FILHO (secretário)Diretoria-executiva: MARCELO BENEZ (comercial), MURILO BUSSAB (circulação),MARCELO MACHADO GONÇALVES (financeiro) E EDUARDO ALCARO (planejamento e novos negócios)
EDITORIAIS [email protected]
Em decisão que não pode serqualificada senão como censurainadmissível, o juizHilmar Caste-loBrancoRaposoFilho,da 21ªVa-raCíveldeBrasília, concedeulimi-nar que impedeestaFolhadepu-blicar reportagem sobre tentativadeextorsão sofridapelaprimeira-damaMarcela Temer.Os fatos são de conhecimento
público: em abril do ano passa-do,amulherdopresidenteMichelTemer (PMDB), então interino, te-ve seu telefone celular clonado;em outubro, Silvonei José de Je-sus Souza foi condenadopelo cri-me de ter exigido R$ 300 mil emtrocadanãodivulgaçãodosarqui-vos a que teve acesso.Este jornal publicou informa-
ções sobre o caso na sexta-feira(10), emsuaversãodigital.Naque-ledia,umadvogado lotadonaCa-sa Civil pediu à Justiça, em nomedaprimeira-dama,asupressãodotexto, tambémreproduzidonaedi-ção impressa de sábado (11).Emseudespacho,queaindaal-
cançou o jornal “O Globo”, o juizvedaadivulgaçãodequalquerda-do—seja emformadeáudio, ima-gem oumensagem escrita— obti-do no aparelho celular. “A invio-labilidade da intimidade tem res-guardo legal claro”, afirma.Tivesse ouvido todas as partes
antesdeconcedera liminar, oma-gistradonãopoderiadesconhecerqueareportagemamparava-se in-teiramentenasaçõespenaisaber-tas para a apuração do crime, cu-jo conteúdo estava disponível aquemsedispusesseaconsultá-lo.Ora, comofalar empreservação
da intimidade pessoal quando selida comepisódios verídicos eno-tórios, comdocumentosoficiais aque os cidadãos têm livre acesso?Deresto, trata-sedecasodeevi-
dente interessepúblico.Tentativade chantagemcontra amulherdopresidentedaRepúblicaéaconte-cimentorelevante,cujas repercus-sões empotencial transcendem aesfera da privacidade.O direito do público à informa-
ção, basilar em uma democracia,pressupõe que os veículos de co-municação disponham de plenaautonomia para conduzir sua li-nhaeditorial, conformeosprecei-tos constitucionais e o entendi-mento consagrado pelo SupremoTribunal Federal.Queminformarespondepelave-
racidade e pela relevância do quepublica; os que se sentem preju-dicados têm todo o direito de re-correr aos tribunais. O descabidoé a censura prévia, cuja memóriadeveria restringir-se aos temposdos regimes autoritários.Aofensivacontraprincípios tão
elementaresmanchariaa imagemde qualquer governo. Desta vez,adiciona-se o efeito de fomentaruma desconfiança indevida coma reação desproporcional à gravi-dade dos fatos noticiados.
Interesse públicoCensura descabida a textosobre tentativa de extorsãosofrida por Marcela Temerafronta direito à informaçãocom argumento equivocado
Casonãohajanovoadiamento,ogovernodevedefinirnestasema-naasregrasda14ªrodadadelicita-çãopara exploraçãodepetróleo egás.Odebateprincipal,queaindadesperta expressiva controvérsia,giraemtornodapolíticadeconte-údonacional—ouseja, o compro-missodeutilizaçãodeequipamen-tos e serviços brasileiros.Levada a extremos nos últimos
anos, talexigênciamostrou-se ine-ficaz.O louvável objetivodedina-mizar cadeias locais de produçãoesbarrou em limites de capacida-de e de investimento.Obrigada a arcar com atrasos e
preçosexcessivosnassuascompras,aPetrobrasamargouprejuízosema-logros—nenhumadasdezplatafor-mas adquiridas desde 2010 foi en-tregue no prazo; os equipamentoscomprados chegam a custar 40%acimadopadrão internacional.União, Estados e municípios
também sofreram com o reduzi-do interesse da iniciativa privadanos últimos leilões. A produçãoadiada acarreta a perda de em-pregos e de arrecadação—segun-do a Petrobras, R$ 36 bilhões dei-xaram de entrar nos cofres públi-cos em oito anos, entre royalties,contribuições sociais e impostos.As regrasdeconteúdonacional
precisam ser repensadas, portan-to.Pelasnormasatuais,emalgunscasosaté80%dosserviçoseequi-
pamentossãoreservadosaprodu-tores brasileiros. Como nem sem-pre as empresas conseguemcum-prir as exigências, cria-se uma si-tuação de insegurança jurídica.Partedogoverno, representada
pela área econômica, deseja vol-tar à prática de fixar somenteme-tas totais mais baixas (em tornode 40%) de conteúdo doméstico,dando às empresas liberdade deescolhaparacumpriropercentual.Outros,noPlanaltoenasassocia-
çõesempresariais,reconhecemane-cessidadedemudança,maspleitei-amregrasmenosgenéricas.Preten-dem,porexemplo,manter exigên-cias específicas em cinco segmen-tos —bens, serviços, engenharia,sistemasauxiliareseinfraestrutura.Seja como for, acelerar aprodu-
ção e eliminar gargalos deveriamserasmetasdetodapolítica indus-trial. Para tanto, émais vantajosoconcentrar os estímulos nas ca-deias emque o país possa ganharescalaecompetitividadeglobal. Éprecisodomaropoderdos lobbiesdeempresas ineficientes, quenãofazem jus à proteção.A situação de penúria em que
seencontramalgunsEstadospro-dutores, além do mais, reforça oargumento de que qualquer ten-tativa de desenvolver a indústriaprecisa levar emconta os riscos ecustos envolvidos, especialmen-te para o contribuinte.
O prejuízo é nosso
OalemãoBertoltBrecht,di-ante do avanço da violência eda injustiça, alertava quequando não se reage ao arbí-trio emalgummomento todosserão alcançados por ele. Odramaturgodenunciouapas-sividade da sociedade diantede prisões arbitrárias, ironi-zando: não protestei e quan-do finalmentevierammebus-car eu não tinha sequer paraquem pedir ajuda.Tal qual o cenário que ante-
cedeuonazismonaEuropa,osquepraticaramogolpenoBra-sil sãovítimasdassuasprópri-as incoerências,ouseja,“o fei-tiço virou contra o feiticeiro”.Vejamos: os que ontem fo-
ramaoJudiciáriopara impedira posse de Lula comoministrode Dilma são os mesmos quehojerecorremparagarantirumministério aMoreira Franco.O Judiciário suspendeu a
posse de Lula no ministériosob o argumento de que “ha-via desvio de finalidade, vistoqueorealobjetivoseria lhega-rantir foro privilegiado”.Ora, foi amparado nesse
despachoqueo juizda 14ªVa-ra Federal do Distrito Federalconcedeu liminar suspenden-do a nomeação de MoreiraFranco,afirmando:“Oenredodos autos já é conhecido doPoder Judiciário. Nesta açãopopular, mudam apenas osseus personagens”.E agora? O que fazer com a
nomeaçãodeMoreiraFranco,citadomaisde30vezesnasde-lações daLava Jato?Na lógicaestabelecida pelo Judiciário asuspensão deve ser mantida.Governo e Judiciário estão,
portanto, diante de um dile-ma, no qual qualquer dos ca-minhos possíveis prenunciaum desgaste já anunciado.Outra vítima de sua incoe-
rênciaéAlexandredeMoraes,ministro de Temer e filiado aoPSDB. Ele sustentava quemembros de um governo nãodeveriam ser nomeados parao STF e seus aliados afirma-vam que as indicações segui-riam atributos técnicos e emnenhuma hipótese políticos.Dupla incoerência!Hoje, alguns editorialistas
chamamaatençãoparaoperi-godaproliferaçãodasmanifes-taçõesemdefesadoautoritaris-mo, dos exageros da Lava Jatoeda faltadedenúnciae reaçãoa esses abusos. Ironicamente,sãoosmesmosqueaplaudiramaconduçãocoercitivadeLulaeo vazamento ilegal de conver-sa telefônica entre a presiden-taDilma e o ex-presidente.Tais contradições e incoe-
rências têm levadoaspessoasa uma conclusão óbvia: o dis-curso de Temer e de seus con-sorciados era apenas um en-redo, com o objetivo de depora presidenta para se apodera-remdogovernoe,umavez ins-talados, entregarem o nossopatrimônio ao capital estran-geiro, arrancaremdireitosdostrabalhadores, lotearem asobras públicas comempresasestrangeiras e montarem um“governo de amigos”.Enquantoaviolênciaexplo-
de, estamos sem ministro daJustiça e Temer continua atu-andoparaproteger seus auxi-liares da Lava Jato.VANESSA GRAZZIOTIN escreve às terçasnesta coluna.
O preço daincoerência
vanessa grazziotin
São paulo - A censura é sempreerrada, mas às vezes consegue sertambém ridícula. A decisão do juizque obrigou a Folha e o jornal “OGlobo”a retirarda internet reporta-gens sobre a tentativa de extorsãode que foi vítima a mulher do pre-sidente Michel Temer parece per-tencer ao segundo grupo.OqueareportagemdaFolha fazia
era basicamente juntar fatos já am-plamentenoticiados sobre a conde-nação, no ano passado, do hackerque tentou chantagear Marcela Te-mer com informações que constamde processos judiciais que estavamàdisposição de qualquer consulen-te no site do Tribunal de Justiça deSãoPaulo.Pelasregrasdatransitivi-dade, o juiz censurou o próprio Po-der Judiciário, o que implica deitarpor terra oprincípio dapublicidadedoprocessopenal.Vale lembrarqueesseprincípioéamaisefetivasenãoaúnicaarmadequeasociedadedis-põeparacoibir eventuaisabusosdaJustiça e doMinistério Público.Embora a preservação da intimi-
dade também seja um relevante va-lorapreservar,questões levantadasnosprocessosnãodizemrespeitosóàmulherdopresidente,mastambémaoprópriomandatário. E o direito àprivacidade não pode servir de es-cudo contra o escrutínio público aqueaPresidênciadevesubmeter-se.Colocar-secontraacensuranãoé
merofetichecorporativode jornalis-tas.Aliberdadedeexpressãoedeim-prensa se conta entre asmais valio-sas joiasdopensamento iluminista.Como jáescrevi aqui, ela estánaba-se de algumas das mais produtivasdenossasinstituições,comoademo-cracia, as artes e a liberdade acadê-mica —e, consequentemente, o de-senvolvimento científico.Mais até, ao assegurar que todas
as ideias possam ser discutidas sobtodos os ângulos, a liberdadede ex-pressãopermitequecadasociedadeencontreseupontodeequilíbrioen-tre a mudança e a conservação. Ju-ízes deveriam pensar 300 vezes an-tes demandar [email protected]
Sob censurah é l i o s c hwa r t s m a n
BRaSÍlIa - Alguns políticos sãomestres em fazer umacoisa e anun-ciar o seu contrário. Michel Temerlembrouquedominaaartenestase-gunda(13),aodivulgarnovasregraspara a demissão deministros.Com uma penca de auxiliares na
miradaLava Jato, opresidente con-vocou a imprensa para dizer o se-guinte: “O governo não que blin-darninguém,enãovaiblindar”.Emseguida, ele acrescentou: “Não hánenhuma tentativadeblindagem”.Nãoéprecisoir longeparaverque
o discurso não para em pé. Há me-nos de duas semanas, Temer recri-ouumministérioparaMoreiraFran-co. O cargo deu foro privilegiadoao peemedebista, que foi citado 34vezes numa delação da Odebrecht.Emportuguêsclaro,Temernomeouo aliado para blindá-lo da Justiça.Aoanunciaranovacartilha,opre-
sidente afirmou: “Se alguém con-verter-se em réu, estará afastado”.Parecia umamedidamoralizadora,mas era o oposto disso. O presiden-te deuumsalvo-conduto aos auxili-
ares investigados por corrupção. Apartir de agora, elespoderão serde-latadosàvontadeatéqueosinquéri-tossetransformememaçõespenais.De acordo com Temer, só será
“afastado provisoriamente” quemfor alvo de denúncia formal da Pro-curadoria-GeraldaRepública.Ade-missão será reservada ao ministroque conseguir a proeza de virar réuno Supremo Tribunal Federal.Na prática, o presidente oficiali-
zou a blindagem dos auxiliares en-crencados coma Justiça. A lentidãodoSupremoseencarregarádeman-ter a equipe unida. Em quase trêsanosdeLavaJato,acortesórecebeucinco denúncias contra políticos.
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Osubsecretário deAssuntos Jurí-dicosdaCasaCivil, GustavodoValeRocha, foi autordaaçãodogovernoquecensurouaFolha.Ele temexpe-riêncianoramo.ComoadvogadodeEduardoCunha,moveuumasériedeprocessos contra jornalistas que es-creveram sobre o correntista suíço.
Temer oficializou a blindagemB e r n a r D o m e l l o F r a n c o
RIo de JaneIRo - A piada correurápido.Aoser informadodesuacas-saçãopeloTribunalRegionalEleito-ral por abusodepoder econômico epolítico, o governador do Rio, LuizFernando Pezão, se surpreendeupor... aindaserogovernadordoRio.Não precisa ter sido contempo-
râneo do corsário francês René Du-guay-Trouin —que em 1711 seques-trou o Rio de Janeiro e levantou umresgatede610milcruzados, 100cai-xas de açúcar e 200 bois— para seconvencer de que cariocas e flumi-nensesenfrentamapiorcrisedasuahistória. O buraco nas finanças sóafunda, e a única saída é a tentati-va de privatizar “a bangu” a Com-panhiaEstadualdeÁguaseEsgotos.Nosprotestosdasemanapassada
nosarredoresdaAssembleiaLegisla-tiva, o fotógrafo Ricardo Borges tra-duziuemimagemodramadepenú-ria e caos: semmunição,umPMati-rou uma pedra portuguesa nosma-nifestantes.Omaior culpado está preso, o ex-
governador Sérgio Cabral, pirata delenço branco amarrado na cabeçaque não poupou nem as vítimas damaior tragédia climática do país: aPolíciaFederal investigaacobrançadesubornoatéemobrasemergenci-aisapósaschuvasnaregiãoserrana,em 2011, as quais deixarammais de900mortos e 35mil desabrigados.Pezão terá de lidar nos próximos
dias commais uma denúncia cabe-luda.AuditoresdoTribunaldeCon-tasdoEstadoconstataramqueogo-vernodeixoudefazerrepassesaoRi-oprevidência,queacumulaumdefi-cit de R$ 10,5 bilhões. O fundo che-gou a criar duas empresas empara-ísos fiscais,dandocomogarantiaosroyalties do petróleo.APF suspeita quePezão também
sebeneficioudobutimpraticadoporCabral.Oatual (atéquando?)gover-nadornãoseguiuoconselhodeMa-chadodeAssis—“suje-segordo”.Te-ria recebidopropinas no total deR$750 mil. Quer dizer, é o que se des-cobriu até agora.
O butim dos piratasa lva r o c o s ta e s i lva
Laerte
abA2 opinião ★ ★ ★ TerçA-FeirA, 14 De Fevereiro De 2017