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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO DE JANEIR PROMOTORRineE JUSTIÇA DA CIDADANIA 10° CENTRO REGIONAL DE APOIO ADMINISTRATIVO-INSTITUCIONAL EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA DE FAZEM:a PÚBLICA DA COMARCA DA CAPITAL - RJ O. ru -dp, Fon* rÉhit itç 1 11wl' .; r é "` 4~4 - • ct. -ftooN O MINISTÉRIO PÚBLICS DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO, pelo Promotor de Justiça que esta subscreve, designado para a 7' Promotoria de Justiça de Proteção aos Interesses Difusos e Direitos Coletivos junto ao 10° Centro Regional de Apoio Administrativo- Institucional - Capital, no exercício de suas atribuições constitucionais, vem, com fulcro na Lei n° 7.347/85, propor a presente em face de L I. 1) ESTADO DO RIO DE JANEIRO, com sede na Rua Pinheiro Machado, sin°, Palácio Guanabara, Laranjeiras, nesta cidade; 01<2) MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO, com sede na Rua Afonso Cavalcanti, 455, 13° andar, Cidade Nova, nesta cidade; e Av. Marechal Câmara n° 370,2° andar, Centro, Rio de Janeiro CEP: 20.020-080 — Te!: 2292-8697 — Fax: 2532-9644

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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO DE JANEIR

PROMOTORRineE JUSTIÇA DA CIDADANIA 10° CENTRO REGIONAL DE APOIO ADMINISTRATIVO-INSTITUCIONAL

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA

VARA DE FAZEM:a PÚBLICA DA COMARCA DA CAPITAL - RJ

O. ru -4°

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itç 1 11wl' .; r é

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ct.-ftooN

O MINISTÉRIO PÚBLICS DO ESTADO DO RIO DE

JANEIRO, pelo Promotor de Justiça que esta subscreve, designado para

a 7' Promotoria de Justiça de Proteção aos Interesses Difusos e Direitos

Coletivos junto ao 10° Centro Regional de Apoio Administrativo-

Institucional - Capital, no exercício de suas atribuições constitucionais,

vem, com fulcro na Lei n° 7.347/85, propor a presente

em face de

LI. 1) ESTADO DO RIO DE JANEIRO, com sede na Rua Pinheiro

Machado, sin°, Palácio Guanabara, Laranjeiras, nesta cidade;

01<2) MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO, com sede na Rua Afonso

Cavalcanti, 455, 13° andar, Cidade Nova, nesta cidade; e

Av. Marechal Câmara n° 370,2° andar, Centro, Rio de Janeiro CEP: 20.020-080 — Te!: 2292-8697 — Fax: 2532-9644

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X 3) GLEN ENTERTAIMENT COMÉRCIO, REPRESENTAÇÕES E

PARTICIPAÇÕES LTDA., inscrita no CNPJ sob o n°

01.161.225/001, com sede na Av. Rio Branco, 26, 140 andar,

também podendo ser citada no Estádio de Remo da Lagoa Rodrigo de

Freitas, Lagoa, nesta cidade;

pelos fatos e fundamentos jurídicos a seguir aduzidos:

DOS FATOS

O inquérito civil n° 1213/2003 foi instaurado pelo

Ministério Público a partir de requerimento do cidadão Alessandro

Zelesco, no qual poticia irregularidades pertinentes à "permissão de

USO" do Estádio de Remo da Lana, celebrada entre o ESTADO DO RIO

DE JANEIRO e a GLEN ENTERTAINMENT COMÉRCIO

REPRESENTAÇÕES E PARTICIPAÇÕES LTDA.

Consta do referido procedimento que a "permissão

de uso" acima mencionada, além de ter sido realizada sem submissão

ao devido processo licitatório, teve sua finalidade primordial desviada,

posto que os projetos apresentados pela empresa GLEN

ENTERTAINMENT para aproveitamento da área não atendem à

promoção, à expansão, ao desenvolvimento e ao contínuo fomento da

prática do remo brasileiro e de atividades esportivas e de lazer afins.

Além disso, o representante relata que a empresa

GLEN ENTERTAINMENT está inadimplente, não tendo feito nenhum

pagamento ao Estado, como contrapartida pelo uso do imóvel, e

descumprimento a uma das cláusulas contratuais.

AV. Marechal Câmara n° 370,2° andar, Centro, Rio de Janeiro 2 CEP: 20.020-080 — Tel: 2292-8697 — Fax: 2532-9644

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o. MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO DE JANEI Q

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Instaurado, pois, o inquérito civil para melhor

esclarecer as irregularidades que cercam a permissão de uso firmada

entre o ESTADO DO RIO DE JANEIRO e a GLEN ENTERTAIMENT

COMÉRCIO, REPRESENTAÇÕES E PARTICIPAÇÕES LTDA. verificou-se

que esta apresenta-se eivada de nulidades desde a prática do primeiro

ato do Governo Estadual, conforme breve relato que será feito em

seguida.

Em 07 de dezembro de 1994, o GOVERNO DO

ESTADO DO RIO DE JANEIRO firmou Termo de Cessão de Uso do

imóvel situado na Avenida Borges de Medeiros, compondo o

denominado Estádio de Remo da Lagoa com o MUNICÍPIO DO RIO DE

JANEIRO, para o fim de desenvolver atividades de serviços públicos,

inclusive nos setores de desporto e lazer, incluída a instalação de Escola

de Música visando ao ensino e preservação da memória dos diversos

gêneros históricos da música popular no Rio de Janeiro, conforme

documentos de fls. 141/147 do IC 1213, constando, de sua Cláusula

Décima-Primeira, a obrigação imposta ao cessionário (Município do RJ)

de não ceder, transferir, arrendar ou empresar a terceiros o imóvel

objeto da cessão, bem como os direitos e obrigações dela decorrentes,

salvo expressa manifestação do Governo Estadual por meio de Termo

Aditivo.

Descumprindo o acordado, o MUNICÍPIO DO RIO DE

JANEIRO, em 7 de dezembro de 1995, transferiu a posse do imóvel

referido, mediante Térmo de Permissão de Uso, à GLEN

ENTERTAIMENT COMÉRCIO, REPRESENTAÇÕES E PARTICIPAÇÕES

LTDA sem a devida frorização do ESTADO, conforme pode ser

verificado de sua Catisula Segunda (lis. 137/140 do IC 1213

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destinandè-o, exclusivamente, ao uso como complexo integrado d bar,

restaurante, mini-shopping, casa de espetáculos, espaços para

reuniões, convenções, estúdio para gravações de vídeo ou filmes,

admitida publicidade, desde que respeitada a legislação municipal.

Em razão do descumprimento contratual, o ESTADO

RO DIO DE JANEIRO propôs Ação de Reintegração de Posse com pedido

de liminar em face do MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO (fls. 150/156 e

168/172) e foi reintegrado na posse do Estádio de Remo da Lagoa por

decisão cautelar tomada em 12 de setembro de 1996.

Já na posse do bem, o ESTADO DO RIO DE

JANEIRO entendeu por bem conceder à GLEN ENTERTAIMENT

COMÉRCIO, REPRESENTAÇÕES ' E PARTICIPAÇÕES LTDA um prazo

para que apresentasse ao Departamento do Patrimônio Imobiliário

projeto de aproveitamento da área compatível com a destinaçào

originariamente prevista no termo de cessão de 07.E12.94 (fls. 173/174).

Satisfeito com o projeto apresentado, o ESTADO DO

RIO DE JANEIRO firmou, em 22 de setembro de 1997, Instrumento

Particular de Transação com o MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO e a

empresa GLEN ENTERTAIMENT COMÉRCIO, REPRESENTAÇÕES E

PARTICIPAÇÕES LTDA. para extinguir o litígio em curso perante a 5a

Vara de Fazenda Pública (fls. 175/177). Tal acordo foi homologado

judicialmente em 14 de outubro de 1997 (fls. 178), ocorrendo o seu

trânsito em julgado (fls. 179).

Ocorre que, antes mesmo de extinta a Ação de

Reintegração de Posse e no mesmo dia em que foi firmada a Transação

para a extinção do litígio, ou seja, em 22 de setembro de 1997,

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GOVERNO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO firmou novo TERMO DE

PERMISSÃO DE USO com a empresa GLEN ENTERTAIMENT

COMÉRCIO, REPRESENTAÇÕES E PARTICIPAÇÕES LTDA., contando

com a interveniência do MUNICIPIO DO RIO DE JANEIRO,

perpetuando-se no erro de ignorar a legislação vigente para tal tipo de

contrafação (fls. 21/30).

Este TERMO DE PERMISSÃO DE USO, em plena

vigência, é o que ora se discute. Como se não bastasse a avença sem

submissão a processo de licitação, dois TERMOS ADITIVOS foram

acrescidos àquela ilícita permissão de uso (firmados em 15 de junho de

1999 e em 08 de janeiro de 2002 - fls. 31/33 e 43/46) para autorizar à

empresa GLEN ENTERTAIMENT COMÉRCIO, REPRESENTAÇÕES E

PARTICIPAÇÕES LTDA. o arrendamento de espaços do imóvel objeto do

contrato a terceiros e para prorrogar a sua utilização através de

Cláusula que defme o início de contagem dos 10 anos do prazo a partir

da inauguração das obras que deveriam ser realizadas pela GLEN no

imóvel.

DA LEGITIMIDADE ATIVA

O Ministério Público, instituição permanente,

essencial ã função jurisdicional do Estado, à qual incumbe a defesa da

ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e

individuais indisponíveis, tem, dentre as funções institucionais

constitucionalmente estabelecidas, a de promover o inquérito civil e a

ação civil pública para a proteção do patrimônio público e social e de

outros interesses difusos e coletivos, nos termos do inciso III do art. 1

da Constituição da República Federativa do Brasil.

Av. Marechal Câmara n° 370,2° andar, Centro, Rio de Janeiro CEP: 20.020-080 — Te!: 2292-8697 — Fax: 2532-9644

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A legislação infraconstitucional, igualmente, elencou

o Ministério Público como um dos legitimados ã propositura de ação

civil pública para a proteção ao patrimônio público, consoante dispõe o

art. 5°, caput, da Lei n° 7.347/85 assim como o art. 25, inciso IV, alínea

"b", da Lei n° 8.625/93.

Não se pode olvidar que o patrimônio público que se

pretende proteger com a presente ação corresponde ao interesse público

primário, definido por Hugo Nigro Mazzilli (in A defesa dos Interesses

Difusos em Juízo, Editora Saraiva, 1999, 11" edição, página 39) como

'o interesse social (o interesse da sociedade ou da coletividade como um

todo)". Com efeito, procura-se com esta demanda a defesa de bem

público que vem sendo utilizado ilicitamente, por particulares, para fins

lucrativos, desvirtuado de sua finalidade.

DA LEGITIMIDADE PASSIVA

O primeiro réu, ESTADO DO RIO DE JANEIRO, é

parte legítima a figurar no polo passivo da relação processual, por ser o

autor da permissão de uso de bem público sem submissão a processo

licitatório, violando princípios constitucionais e a Lei 8666/93.

O segundo réu, MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO,

deve figurar no polo passivo da ação em razão de figurar como

INTERVENIENTE na permissão de uso do bem de propriedade

Estado do Rio de Janeiro.

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A terceira ré, GLEN ENTERTAINMENT COMÉRCIO

E REPRESENTAÇÕES E PARTICIPAÇÕES LTDA., é beneficiária da

permissão de uso e, consequentemente, diretamente afetada pelas

conseqüências desta ação.

DO CABIMENTO DA AÇÃO

Configura-se a ação civil pública como meio idôneo à

defesa do patrimônio público e à preservação dos princípios de regência

da Administração Pública, previstos no artigo 37 da Constituição da

República, além daqueles dispostos na Lei de Licitações.

Sendo assim e considerando-se que a tutela do

patrimônio público constitui modalidade de interesse difuso, à luz do

que estabelece o art. 129, III, da Constituição Federal (Art. 129. São

funções institucionais do Ministério Público: (...) III - promover o

inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do patrimônio

público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e

coletivos) e tendo em conta, ainda, a regra contida no art. 1°, IV, da Lei

n° 7.347/85 (art. 1°. Regem-se pelas disposições desta Lei, sem prejuízo

da ação popular, as ações de responsabilidade por danos causados: (...)

IV - a qualquer interesse difuso ou coletivo"), é a ação civil pública ora

ajuizada o mecanismo adequado ao resguardo das pretensões aqui

veiculadas.

DOS FUNDAMENTOS JURÍDICOS

A Constituição Federal, em seu artigo 175, dispõe

que "Incumbe ao Poder Público, na forma da lei, diretamente o ao

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regime de concessão ou permissão, sempre através de licitacão, a

prestação de serviços públicos". .

E o artigo 37, inc. XXI, determina que

"ressalvados os casos especificados na

legislação, as obras, serviços, compras e

alienações serão contratados mediante processo

de licitação pública que assegure igualdade de

condições a todos os concorrentes, com cláusulas

que estabeleçam obrigações de pagamento, mantidas

as condições efetivas da proposta, nos termos da lei,

o qual somente permitirá as exigências de

qualificação técnica e econômica indispensáveis à

garantia do cumprimento das obrigações."

A lei reclamada pela Constituição da República

acabou por ser elaborada em 1993, tendo recebido o n° 8.666 e, a partir

de então, todos os seus comandos são imperativos, e, portanto,

exigíveis.

Estes são os parâmetros legais sobre os quais se

cindirão as discussões acerca da nulidade da Permissão de Uso do

Estádio de Remo da Lagoa à empresa privada, sem o competente

processo licitatório.

Deve ficar registrado, inicialmente, que a

denominada "Permissão de Uso" em discussão nesta ação, apesar da

suposta precariedade, possui natureza verdadeiramente contratual, na

medida em que foram ajustadas obrigações recíprocas entre as parte

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contratantes, ESTADO DO RIO DE JANEIRO e GLEN ENTERTAINMENT

COMÉRCIO E REPRESENTAÇÕES LTDA., enquadrando-se, pois,

perfeitamente, no disposto no art. 2°, parágrafo único, da Lei Federal n°

8666/93, verbis:

"Art. 2° - As obras, serviços, inclusive de

publicidade, compras, alienações, concessões,

permissões e locações da Administração Pública,

quando contratadas com terceiros; serão

necessariamente precedidas de licitação,

ressalvadas as hipóteses previstas nesta Lei.

Parágrafo único - Para os fins desta Lei, considera-

se contrato todo e qualquer ajuste entre órgãos

ou entidades da Administração Pública e

particulares em que haja um acordo de vontade

para a formação de vinculo e a estipulação de

obrigações recíprocas, seja qual for a

denominação utilizada." (grifos nossos)

A Constituição da República exige licitação para os

contratos de obras, serviços, compras e alienações, ao teor de seu art.

37, XXI, bem como para a concessão e a permissão de serviços

públicos, conforme art. 175. É interessante notar, que embora o art. 37,

inc. XXI, contenha ressalva para casos especificados na legislação, o

mesmo não ocorre com o disposto no art. 175, significando dizer que,

em se tratando de concessão ou permissão, a Constituição exi

que se faça sempre através de licitação.

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4t$ MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO DE JANEI1E 0

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,r1

A Lei de Licitações, por sua vez, estabelece, no art.

2°, a necessidade de se realizar processo licitatório para as concessões e

permissões da Administração Pública e, no artigo 3 0, assevera que

"A licitação destina-se a garantir o princípio

constitucional da isonomia e a selecionar a proposta

mais vantajosa para a Administração e será

processada e julgada em estrita conformidade com

os princípios básicos da legalidade, da

impessoalidade, da moralidade, da igualdade, da

publicidade, da probidade administrativa, da

vinculação ao instrumento convocatório, do

julgamento objetivo e dos que lhe são correlatos".

Ora, conforme se demonstrou na exposição dos

fatos, o ESTADO DO RIO DE JANEIRO firmou contrato de permissão

com a empresa GLEN ENTERTEINMENT afastando-se dos princípios

elencados na Constituição e legislação vigentes.

A inexistência de licitação para a referida permissão

de uso foi apontada de maneira preocupante pelo próprio ESTADO DO

RIO DE JANEIRO conforme comprovam documentos extraídos dos

autos do procedimento administrativo E-06/20.120/1998, em curso

perante o Departamento do Patrimônio Imobiliário do Estado.

Primeiramente, ao elaborar estudo para verificação

da regularidade de Termo Aditivo ao contrato de permissão de uso que

autorizou a empresa permissionária a arrendar a terceiros parte do

imóvel objeto da permissão, a Assessora Jurídica da Secretaria de

Estado de Administração e Reestruturação, Margarida Caseira Sanches

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proferiu parecer onde apresenta, dentre outras considerações, a

seguinte:

"... 12 - Uma outra questão há de ser ressaltada,

qual seja: a permissão de uso pode ser celebrada

sem prévio procedimento Licitatório? (grifos

nossos)

Para responder esta indagação, vou me valer do

Parecer n° 2/00 - LAMGS, exarado em 28/04/2000,

pela Procuradoria Geral do Estado, através do exame

minucioso e manifestação do douto Procurador, Dr.

Luis Alberto Miranda Garcia de Sousa.

Em linha de síntese, o Procurador concluiu que a

licitação, salvo eventual caso de dispensa ou

inexigibilidade, é efetivamente obrigatória nas

permissões e cessões de uso de bens imóveis

estaduais a particulares." (vide fls. 121 do IC 1213

- grifos nossos)

gei Submetidas as considerações da Dra. Margarida

Caseira Sanches à Assessoria Jurídica da SARE (Secretaria de Estado

de Administração e Reestruturação) novo parecer foi oferecido, desta

feita pelo Assessor Jurídico Mário Veran, cuja transcrição é imperativa

a fim de se demonstrar a violação aos princípios constitucionais que

subordinam a Administração Pública (vide fls. 123):

"Senhor Secretário,

Veio o processo a esta Assessoria, por determinação

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‘NCA

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*

de V.Exa. em razão do suscitado pela ilus±re

Assessora, no seu pronunciamento de fls. 104/109.

O relatório minucioso da matéria contida na

manifestação acima referida, isenta esta Assessoria

de maiores divagações, fazendo com que se atenha

tão somente a indagação sobre se a permissão de

uso pode ser celebrada sem prévio procedimento

licitatório, tomando como base o parecer de n° 2, de

28 de abril de 2000, da lavra do Procurador-Chefe

Luis Alberto Miranda Garcia de Souza, com o visto

aposto pelo Procurador Geral do Estado na data de

10 de maio de 2000.

Realmente, qualquer autorização para permissão,

cessão ou concessão de uso, deve ser precedida

de processo licitatório a não ser quando tratar-se

de dispensa ou inelegibilidade. (grifos nossos)

Neste processo o que ocorreu é que o termo de

permissão de uso foi lavrado na data de 22 de

setembro de 1997, com a lavratura do termo aditivo

na ata de 15 de junho de 1999, datas que

predominava na douta Procuradoria Geral do Estado

a tese de que seria desnecessário o processo prévio

de licitação para as permissões, cessões e

concessões de uso de imóveis próprios estaduais,

passando a vigorar o processo de licitação para as

modalidades de uso a partir de 10 de maio de 2000,

quando do visto do Procurador-Geral do Estado no

parecer emitido.

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Assim sendo, entendo, prevalecer o termo de

permissão de uso em toda a sua legalidade,

considerando que sua lavratura ocorreu quando

prevalecia a tese pela Procuradoria do Estado, da

desnecessidade do processo prévio de licitação para

as modalidades de uso de imóveis próprios

estaduais.

ASJUR, 24 de junho de 2002."

Da leitura do parecer acima transcrito extrai-se a

certeza de que o principio da legalidade, de estatura constitucional, foi

violado pela Administração Pública. O ilustre Procurador busca

justificar, contra legem, a outorga da permissão de uso desprovida de

processo licitatório.

Se não há, na legislação genérica vigente, alguma

que permita exceção para contratos de concessão e permissão, menos

ainda a encontraremos na Lei de Licitações. Dentre as causas de

dispensa ou inexigibilidade de licitação presentes na Lei 8666/93, não

está contemplada a hipótese de concessão ou permissão de bem imóvel

do Poder Público ou qualquer outra que permitisse o enquadramento

dos fatos objeto desta ação civil pública.

Aliás, a observação da seqüência de atos praticados

pelo ESTADO DO RIO DE JANEIRO permite concluir que o último

parecer foi uma forma encontrada para a tentativa de se justificar um

ilegalidade, como se tal fosse possível.

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É de causar espécie a qualquer profissional do

direito as palavras do douto Procurador do Estado quando afirma que o

entendimento daquela Procuradoria Geral é no sentido de exigir-se a

submissão de concessão ou permissão a processo licitatório só a partir

do ano de 2000, quando a legislação que regulamenta a matéria está

em vigor desde 1993.

O principio da legalidade, ao mesmo tempo em que 4R, define a atuação administrativa, determina os limites desta atuação. A

vontade da Administração Pública é aquela que decorre da lei. Custa

crer que um assessor jurídico tenha fundamentado a violação ao

princípio da legalidade alegando que ao tempo da permissão de uso

vigorava naquele setor o entendimento de que a licitação não era

devida, permitindo-nos concluir que o próprio Poder Público deliberou

não apenas ignorar, mas descumprir a Lei 8.666/93.

Vale aqui ressaltar que a previsão de exceções ao

princípio de que a Administração Pública somente pode contratar

mediante licitação é matéria afeta à reserva de lei. É o que se

depreende da leitura do artigo 37, XXI, da Constituição da República.

Neste caso, não há discricionariedade do ESTADO DO RIO DE JANEIRO

em optar ou não pela submissão ao processo de licitação. Trata-se,

pois, de legalidade estrita. A Administração está obrigada a realizar a

licitação. A hipótese não se subsume à legalidade genérica.

O princípio constitucional da legalidade vincula o

atuar administrativo impondo que o administrador observe as regras

que a lei traçou para o procedimento, restando claro o desrespeito ao

estabelecido na Lei n° 8.666/93. Importa, inclusive, em ato d

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improbidade, a dispensa indevida de processo licitatório, conforme se

verifica do art. 10, VIII, da Lei 8.429/92, comportamento que será

apurado em sede própria, oportunamente.

Não por outra razão, o art. 82 da Lei n" 8.666/93

estatui que

"Os agentes administrativos que praticarem atos em

desacordo com os preceitos desta Lei ou visando a

frustrar os objetivos da licitação sujeitam-se às

sanções previstas nesta Lei e nos regulamentos

próprios, sem prejuízo das responsabilidades civil e

criminal que seu ato ensejar".

No caso em análise, como amplamente demonstrado,

foram violados os princípios da legalidade, igualdade, impessoalidade,

moralidade, eficiência e economicidade, tratando-se de permissão

voltada ao beneficio privado de apenas uma empresa.

A impessoalidade é principio que importa no

tratamento igual que a Administração Pública deve dispensar aos

administrados. Não se tolera tratamento privilegiado a uma ou mais

pessoas em especial. A impessoalidade é princípio impeditivo de que .se

tenha em mira, de forma especial, este ou aquele indivíduo. E fica

latente, pelos indícios do inquérito, a inobservância do principio da

impessoalidade quando um bem público é destinado à exploração por

uma empresa determinada. Cabe indagar: por que esta empresa? Por

que não outra? Qual o critério utilizado para a permissão de uso ser

outorgada à GLEN ? Não há dúvida que a permissão de uso, nos moldes

em que foi outorgada, importou em violação aos mais comezinhos

princípios administrativos, eivando de vício insanável todos os ato

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praticados.

Com efeito, diante da constatação da ilegalidade

insanável relativa à outorga da permissão de uso do Estádio de Remo

da Lagoa pelo ESTADO a particular, sem observância das normas

vigentes, outra conduta não pode ser esperada da Administração

Pública senão a revisão de seu próprio ato, anulando-o, de plano,

conforme orientam as Súmulas 346 e 374 do Supremo Tribunal

Federal, verbis:

346 - A Administração Pública pode declarar a

nulidade dos seus próprios atos.

473 - A administração pode anular seus próprios

atos eivados de vícios que os tornam ilegais,

porque deles não se originam direitos; ou revogá-

los, por motivo de conveniência ou oportunidade,

respeitados os direitos adquiridos e ressalvada,

em todos os casos, a apreciação judicial.

Como se não bastasse esta causa - a inexistência de

licitação -, que por si só, enseja a nulidade absoluta da permissão de

uso, a violação à lei é avistada em vários outros aspectos ao contrato

como algumas que serão relacionadas a seguir apenas para demonstrar

a necessidade de intervenção imediata do Poder Judiciário nesta relação

jurídica.

• Em Termo Aditivo assinado em 15 de junho de 1999,

o ESTADO DO RIO DE JANEIRO autoriza a Permissionária GLEN

ENTERTAIMENT COMERCIO, REPRESENTAÇÕES E PARTICIPAÇÕE

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LTDA. arrendar a terceiros espaços do imóvel objeto da permissão de

uso, conforme se verifica da Cláusula Terceira do citado documento

(vide fls. 43/46).

Tal arrendamento, acaso realizado, perpetua a

afronta aos princípios da legalidade, impessoalidade, publicidade,

moralidade, eficiência e economicidade que orientam a Administração

Pública. Com qual empresa a permissionária firmará o arrendamento?

Será que a escolha se dará por intermédio da licitação? É óbvio que

não.

Em 08 de janeiro de 2002, novo Termo Aditivo foi

firmado entre as mesmas partes, desta feita para, através da Cláusula

Quarta, alterar a forma de contagem do prazo contratual, fixando como

termo inicial a data de inauguração das obras a serem realizadas no

imóvel. (fls. 31/33). Ora, no contrato originário, o prazo de 10 anos para

a permissão de uso tinha seu cômputo inicial na data da assinatura da

outorga, ou seja, 22 de setembro de 1997, a vencer, portanto, em 21 de

setembro de 2007. O que está demonstrado por este Termo Aditivo é a

eternização da permissão de uso, posto que não há limite imposto à

permissionária para a realização das obras necessárias ao cumprimento

da finalidade contratual. Assim, se tais obras perdurarem por 10, 20 ou

30 anos até que possam ser inauguradas, só a partir desta data o prazo

começaria a ser contado por mais 10 anos.

Nessa linha, ê importante registrar que os projetos já

apresentados pela GLEN ENTERTAIMENT COMÉRCIO,

REPRESENTAÇÕES E PARTICIPAÇÕES LTDA. em mais de uma

oportunidade esbarraram em impedimentos por não cumprirem a

legislação urbanística e ambiental. Para apurar o desrespeito a es

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legislação foi instaurado inquérito civil pelas Promotorias de Justiça de

Defesa do Meio Ambiente (fls. 180/181).

Há mais. A Cláusula Quinta da Permissão de Uso

assinada em setembro de 1997 determina à empresa GLEN

ENTERTAIMENT COMERCIO, REPRESENTAÇÕES E PARTICIPAÇÕES

LTDA. o pagamento, a titulo de contraprestação, da importância

mensal correspondente a 10% (dez por cento) do faturamento

obtido no mês anterior com as atividades desenvolvidas no Complexo

do Estádio de Remo da Lagoa, assegurado o valor mínimo de

R$25.000,00 (vinte e cinco mil reais).

Tal pagamento nunca foi feito, conforme

demonstram as informações e a Planilha de Controle de Arrecadação

elaborada pela Superintendência do Patrimônio Imobiliário constantes

do Procedimento Administrativo E-06/20.120/98 e E-14/000043/98. A

dívida da empresa permissionária totalizava, em janeiro de 2003, o

montante de R$ 3.037.625,64 (três milhões e trinta e sete mil,

seiscentos e vinte e cinco reais e sessenta e quatro centavos),

considerando que seja exigível apenas o valor mínimo mensal

assegurado no contrato, desconsiderando, entretanto, a possibilidade

de a permissionária GLEN ENTERTAIMENT COMÉRCIO,

REPRESENTAÇÕES E PARTICIPAÇÕES LTDA. ter obtido rendimento

superior a este, o que, por certo, implicaria ou implicará em pagamento

em valores superiores aos cofres do ESTADO DO RIO DE JANEIRO. (fls.

124 e 127).

Em fls. 129 do IC 1213 consta informação de que a

empresa GLEN "nunca recolheu a taxa de ocupação" aos cofres

públicos, embora tenha sido notificada para tanto confo

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O fato de ter sido destinado uma parte do Estádio d

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documentos de fls. 124 e 127.

Com efeito, o inadimplemento do contrato é causa

suficiente para sua rescisão.

Por fim, resta mencionar o desvio de finalidade

praticado pela empresa permissionãria. Os projetos apresentados pela

GLEN ENTERTAIMENT para a área não atenderam a finalidade

primordial da permissão de uso, ou seja, a prática e o fomento do remo,

não apenas porque as obras nunca foram implementados - até por•

esbarrarem em exigências urbanísticas e ambientais-, mas também

porque a despeito disso, não houve providência paralela para que o

esporte não restasse abandonado, conforme declarações apresentadas

pelo desportista remador Alessandro Zelesco em fls. 92.

Enquanto não ocorre a devida implementação e

fomento à prática do remo - principal finalidade da permissão de uso -,

a empresa vem explorando financeiramente o espaço, sequer se

preocupando em adimplir suas obrigações financeiras para com o

Tesouro Estadual.

Mora o exposto, pode-se discutir também. a

realização do interesse público, requisito essencial para a validade de

qualquer ato administrativo. É dificil de imaginar que algum interesse

genuinamente público seja atendido ao permitir-se a uma empresa

particular, de forma generosa e sem submissão a qualquer concorrência

pública (por que a GLEN, e não outro qualquer?), a lucrativa exploração

mercantil de um bem imóvel estadual.

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Remo da Lagoa a uma atividade econômica, de fíns lucrativos, constit

clara incongruência com a Cláusula Segunda do Termo de Permissão de

Uso que afeta o imóvel ao "fim exclusivo do fomento do remo",

principalmente quando o esporte vem sendo deixado de lado, conforme

aponta o representante Alessandro Zelesco em fls. 92. O Contrato

encontra-se com sua finalidade desvirtuada na medida em que a prática

do remo vem sofrendo prejuízos desde a outorga da permissão de uso

GLEN ENTERTAIMENT COMÉRCIO, REPRESENTAÇÕES E

PARTICIPAÇÕES LTDA.

Por todas estas razões, estaria o Estado do Rio de

Janeiro legitimado a agir administrativamente, usando da auto-tutela,

rescindindo o contrato unilateramente por descumprimento de cláusula

obrigatória ou, então, em juízo, se assim entendesse conveniente,

pedindo a declaração da resolução do contrato de permissão com a

conseqüente condenação da GLEN ENTERTAIMENT COMÉRCIO,

REPRESENTAÇÕES E PARTICIPAÇÕES LTDA. a devolver-lhe o imóvel e

pagar as perdas e danos sofridos, na forma do art. 1.092, parágrafo

único, do Código Civil.

É inconcebível que se perpetue a situação de

enriquecimento ilícito de pessoas jurídicas privadas às custas do erário

público, como no caso objeto desta ação.

Pretende-se, pois, com a presente ação civil pública,

a proteção ao patrimônio público lesado por atos ilícitos praticados

pelos réus.

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DO PEDIDO DE ANTECIPAÇÃO PARCIAL DA TUTELA

JURISDICIONAL

Pretende o Ministério Público, com amparo nos arts.

273 e 461, § 30, do Código de Processo Civil sejam parcialmente

antecipados os efeitos da tutela jurisdicional para o fim de determinar o

imediato cumprimento das obrigações infra discriminadas, sob pena de

incorrer em multa diária em valor a ser estipulado por este Juízo.

In casu encontram-se presentes os pressupostos

legais à concessão da tutela antecipada.

A plausibilidade do direito alegado é manifesta, uni

vez que a outorga da permissão de uso do imóvel pertencente ao

ESTADO DO RIO DE JANEIRO sem submissão ao devido processo legal

agride os mais basilares princípios que orientam a atuação da

Administração Pública. Os artigos 37, inc. XXI e 175 da Constituição da

República e os artigos 2°, parágrafo único, e 3°, da Lei 8666/93, foram

flagrantemente violados, conforme informações da própria

Administração Pública em fls. 121 e 123 do IC 1213.

A violação da legalidade vem amplamente apontada

pela própria Administração Pública nos documentos citados, posto que

ela mesma reclama a inexistência de licitação no contrato de permissão.

Com efeito, o princípio da legalidade, ao mesmo tempo em que derme a

atuação do administrador, impõe os limites desta atuação. No caso em

tela, a "outorga de concessão e permissão de serviços e bens públicos"

está afeta a reserva de lei, ou seja, cuida-se de legalidade estrita, não

havendo espaço para escolha por parte da Administração Pública e

observar ou não o seu primado. Av. Marechal Câmara n° 370,2° andar, Centro, Rio de Janeiro

CEP: 20.020-080 — Tel: 2292-8697 — Fax 2532-9644 21

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Demais disso, é também inafastável a violação à

impessoalidade almejada pelo legislador quando dispõe sobre a

exigência de licitação para permissões como esta. Por certo, houve

privilégio conferido a um particular quando o Estádio de Remo da Lagoa

é entregue à exploração econômica de urna empresa, escolhida ao

alvedrio do Governo do Estado do Rio de Janeiro, comportamento não

tolerável pelas normas vigentes.

No que concerne à urgência, caracterizadora do

perigo da demora da prestação jurisdicional, é incontestável que a

violação aos princípios constitucionais de ordem pública

suprainvocados não pode se prolongar no tempo, sendo inconcebível

que particulares permaneçam auferindo lucros às custas de toda a

sociedade, usufruindo de bem público em" afronta à sua finalidade

específica, e, o que é pior , bem este concedido sem submissão ao

devido processo legal.

Considerando que o periculum in mora decorre

espontaneamente do fumus boni iuris, e que a violação aos princípios

constitucionais da legalidade, impessoalidade e moralidade é cristalina,

deve o Judiciário agir imediatamente no sentido de garantir o respeito à

ordem jurídica e ao Estado Democrático de Direito. As regras mais

basilares de direito e moral tornam inadmissível que se permita que

particulares continuem se enriquecendo ilicitamente às custas do erário

público.

Cumpre asseverar que no presente caso não incidem

as normas contidas nas Leis n° 8.437/92 e 9.494/97, urna vez que não

se trata de concessão de antecipação de tutela contra a Fazen

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Pública. Ao contrário, os efeitos que se buscam antecipar visam

justamente preservar os interesses da sociedade e, consequentemente,

do ente público.

DOS PEDIDOS

Por todo o exposto, requer o Ministério Público:

1. a citação dos réus para, querendo, responderem aos termos da

presente ação;

2. sejam julgados procedentes os pedidos para que:

2.1 - Liminarmente:

2.1.1. seja o Estado do Rio de Janeiro reintegrado na ~imedi~

Estádio clelterwa_____goaL.La ante a flagrante ilegalidade que assola esta

contratação, independentemente de sua oitiva, ficando o mesmo corno

depositário dos bens no local, exceto se a empresa ré desejar removê-los

às suas expensas, caso em que, deve ser autorizada a transferência

desde já para depósito público do Estado;

2.1.2. seja determinada, pelo reconhecimento inicial da nulidade, a

imediata cessação de qualquer atividade comercial na área do Estádio

de Remo da Lagoa Rodrigo de Freitas que esteja sendo praticada pela

empresa GLEN ENTERTAIMENT COMÉRCIO, REPRESENTAÇÕES E

PARTICIPAÇÕES LTDA. que não seja ligada à prática do remo;

2.1.3. seja fixada multa diária de R$ 10.000,00 para a hipótese

descumprimento da liminar;

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2.1.4-seja oficiado a Federação de Remo do Estado do Rio de Janeiro e a

Confederação Brasileira de Remo, ambas localizadas respectivamente

na Av. Graça Aranha 145/709 e na Av. Borges de Medeiros, no próprio

Estádio de Remo, informando sobre o impedimento da realização de

qualquer convênio baseado do contrato em tela;

2.1.5 seja oficiada a Prefeitura do Rio de Janeiro para sobrestar

qualquer licença eventualmente concedida ou procedimento de

licenciamento em curso;

2.2. definitivamente:

2.2.1. seja declarada a nulidade, ex tune, da Permissão de Uso do

Estádio de Remo da Lagoa e seus Termos Aditivos ante a

inexistência de licitação, condenando-se a empresa GLEN

ENTERTAIMENT COMÉRCIO, REPRESENTAÇÕES E

PARTICIPAÇÕES LTDA. a devolver a área do Estádio ao património

do Estado, independentemente de qualquer indenização;

2.2.2. seja fixada multa diária para o descumprimento, em

conformidade com os termos do art. 11 da Lei n° 7.347/85;

2.2.3. seja a empresa ré GLEN ENTERTAIMENT COMÉRCIO,

REPRESENTAÇÕES E PARTICIPAÇÕES LTDA. condenada ao

pagamento de indenização ao Estado do Rio de Janeiro em valor que

poderá ser fixado em função da remuneração prevista no contrato;

2.2.4. seja a verba sucumbencial destinada ao Fundo Especial do

Ministério Público, nos termos da Lei Estadual n° 2.819/97 e

Av. Marechal Câmara n° 310,2° andar, Centro, Rio de Janeiro CEP: 20.020-080 — Tel: 2292-8697 — Fax 2532-9644

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a Costa Santana Gldu

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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO DE JANEI 7' PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA CIDADANIA

IO CENTRO REGIONAL DE APOIO ADMINISTRATIVO-INSTITUCIONAL

Resolução GPGJ n° 801/98.

Protesta por todos os meios de prova em direito

admitidos, a serem melhor especificados oportunamente - apresentando

com a presente petição inicial a prova documental, consistente no

inquérito civil n° 1213/03 da 7a Promotoria de Justiça da Cidadania da

Capital, além de prova:

a) testemunhal, cujo rol será apresentado no momento oportuno;

b) depoimento pessoal dos representantes legais dos réus;

d) documental superveniente.

Por derradeiro, esclarece que receberá intimações na

sede das Promotorias de Justiça de Defesa da Cidadania da Capital,

situada na Av. Marechal Câmara n° 370, "2° andar, Centro, Rio de

Janeiro, CEP 20.020-080.

Dá à causa o valor de R$ 3.000.000.00 (três milhões

de reais), para os fins do art. 258 do Código de Processo Civil.

Rio de Janeiro, 28 de abril de 2003.

Promotora de Justiça

Mat. 1818

Av. Marechal Câmara n° 370,2° andar, Ceptro, Rio de Janeiro 25 CEP: 20.020-080 — Tel: 2292-8697 — Fax: 2532-9644

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2000.001.002456-5

97.001.049548-8

jiecundari o (s) :

200.1.. 054921-8

INDENIZATORIA PROTOCOLADO EM 11/ 10. VARA DE FAZENDA PUBLICA, 9. OFICIO \ O P AUTOR : RAINERIO DE SOUZA MACIEL FILHO REU : GLEN ENTERTAINMENT COMERCIO E REPRESENTACOES E FASE ATUAL : ATOS DA SERVENTIA EM 25/11/2002 ESCREVENTE : PROCESSAMENTO INTEGR DEVOLVIDO EM 25/11/2002

ACO CAUTELAR PROTOCOLADO EM 02/08/1997 5. VARA DE FAZENDA PUBLICA, 9. OFICIO AUTOR : ESTADO DO RIO DE JANEIRO REU : GLEN ENTERTAINMENT COMERCIO REPRESENTACOES E P FASE ATUAL : ARQUIVAMENTO EM 09/12/1998 ESCREVENTE : PROCESSAMENTO INTEGR MACO N. 422

1 - AGRAVO DE INSTRUMENTO 2 - AGRAVO DE INSTRUMENTO

ACAO CIVIL PUBLICA PROTOCOLADO EM 19/05/2003 8. VARA DE FAZENDA PUBLICA, 9. OFICIO AUTOR : MINISTERIO PUBLICO REU : GLEN ENTERTAINMENT COMERCIO REPRESENTACOES E P FASE ATUAL : CONCLUSO AO JUIZ EM 20/05/2003 ESCREVENTE : PROCESSAMENTO INTEGR

- ** biblEMH LI-It=1HL **

Pkb LLIWW1 CO/CN - CONSULTA PROCESSOS POR NOME

e0/05/i.d00.5 PESQUISANDO: GLEN ENTERTAINMENT COMERCIO COMPETENCIA PESQUISADA: Fazenda Publica VARA PESQUISADA: Todas

98.001m103172-0/02

114,

97.001.049548-8/01

AGRAVO DE INSTRUMENTO TOMBO : 03/03/1998 No: 1479 u. VARA DE FAZENDA PUBLICA FASE ATUAL : ARQUIVAMENTO

EM 09/12/1998

AGRAVO DE INSTRUMENTO TOMBO : 04/08/1997 No: 2287 5. VARA DE FAZENDA PUBLICA FASE ATUAL : ARQUIVAMENTO

EM 09/12/1998