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O MOVIMENTO PSICANALÍTICO BRASILEIRO

Movimento Psicanalitico Brasileiro

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O MOVIMENTO

PSICANALÍTICO

BRASILEIRO

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INTRODUÇÃO

SIGMUND FREUD

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JULIANO MOREIRA

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FRANCO DA ROCHA

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DURVAL MARCONDES

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ADELHEID KOCH

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RIO DE JANEIRO – MEDICINA E PSICANÁLISE

No Rio de Janeiro, vários dentre os grandes nomes que compunham o establishment psiquiátrico em vias de constituição se interessaram pela nova doutrina.

O vínculo prioritário desses personagens era com a medicina, grande fonte de prestígio é legitimidade.

A psicanálise ocupava um lugar secundário, como um saber ou uma prática acessórios à psiquiatria. Por isso não havia interesse na criação de uma corporação psicanalítica, isto é, de sociedades de formação.

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HENRIQUE ROXO (1877-1969)

Catedrático de psiquiatria da Faculdade de Medicina a partir de 1911, introduziu a doutrina freudiana em seus cursos.

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ANTONIO AUSTREGÉSILO

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ARTHUR RAMOS (1903-1949)

ARTHUR RAMOS

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JULIO PORTO-CARRERO (1887-1937)

O maior de todos os divulgadores da teoria freudiana e o único dentre os pioneiros a praticar a psicanálise e intitular-se psicanalista, foi catedrático de Medicina Legal na Faculdade de Direito.

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CARACTERÍSTICAS DESSA PRIMEIRA FASE DE INTRODUÇÃO DA PSICANÁLISE NO BRASIL

A doutrina psicanalítica, aparentemente tão subversiva, seduz figuras notáveis tão bem estabelecidas do campo médico.

Vinculação desses pioneiros com projetos pedagógicos e higiênicos.

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ULISSES PERNAMBUCANO

Grande nome da psiquiatria pernambucana e também considerado um dos precursores da psicanálise, foi diretor da Escola Normal de Pernambuco em 1923, onde fez importante reforma pedagógica.

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JULIO PORTO-CARRERO (1887-1937) Foi colaborador assíduo da Associação Brasileira de Educação.

Mesmo quando a questão pedagógica não era explícita, a visão da psicanálise como uma espécie de "ortopedia moral" era o que prevalecia.

Foi o responsável pela criação de uma clínica psicanalítica na Liga Brasileira de Higiene Mental em 1926 e, no decorrer dos anos 1930, revelou-se feroz defensor das idéias eugênicas.

Essa convivência entre psicanálise, higiene e eugenia parece inexplicável ao nosso olhar contemporâneo. Torna-se mais compreensível quando se levam em conta as preocupações desses médicos do início do século, obcecados em viabilizar um projeto "civilizador" e modernizador para o país. A teoria psicanalítica, apesar de seu viés subversivo (ou mesmo por causa dele), era capaz de fornecer uma alternativa moderna e científica para os preceitos da moral tradicional, vistos como arcaicos e ultrapassados.

Porto-Carrero foi um dos precursores que mais publicou títulos psicanalíticos.

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DIFUSÃO LEIGA DA PSICANÁLISE

A psicanálise, como fator de modernização e "civilização", logo ultrapassou as fronteiras da academia e da corporação médica.Livros de vulgarização começaram a ser publicados, surgiram colunas sobre o tema em revistas femininas, programas radiofônicos começam a ir ao ar.

Toda essa difusão leiga da psicanálise se dá em meio a um interesse generalizado pela chamada "questão sexual". No decorrer dos anos 1930, assiste-se à realização de cursos populares sobre sexologia, de comemorações especiais como o "Dia do Sexo", de emissões radiofônicas sobre sexo e campanhas de educação sexual.

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DIFUSÃO LEIGA DA PSICANÁLISE

Em termos de mercado editorial, pode-se falar num boom sexológico. Em meio a obras de sexólogos de renome surgem livros sobre Freud (como na coleção "Freud ao alcance de todos", da editora Calvino), ou de autoria do próprio Freud e de seus discípulos.

O primeiro livro publicado pela Editora José Olympio em 1932 foi Conheça-te pela psicanálise, do psicanalista americano J. Ralph. Na década de 1930 são publicados dez volumes com cerca de 50 títulos de autoria do próprio Freud, entre conferências, ensaios, artigos e livros. Além destes, muitos títulos de autores brasileiros sobre psicanálise são publicados.

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GASTÃO PEREIRA DA SILVA (1897-1987).

Foi um dos primeiros psicanalistas do Rio de Janeiro, tendo iniciado sua prática nos anos 1930, sem nunca ter feito formação em qualquer das sociedades de psicanálise fundadas posteriormente.

Afirmava ter praticado "medicina em lombo de burro" no interior antes de interessar-se pela psicanálise no final dos anos 1920. Com o intuito explícito de tornara doutrina freudiana acessível ao leitor comum, publicou em 1931 o livro Para compreender Freud.

Esse primeiro livro de Pereira da Silva – que em 1942 estará na sua sexta edição – foi publicado às expensas do próprio autor. Os livros-seguintes serão publicados por editoras diversas, incluindo a prestigiosa Jose Olympio.Dentre os inúmeros títulos de sua autoria encontramos Lenine e a psicanálise, Crime e psicanálise, Neurose do coração, Educação sexual da criança, A psicanálise em doze lições, Conhece-te pelos sonhos, O drama sexual dos nossos filhos, Vícios da imaginação e O tabu da virgindade.

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GASTÃO PEREIRA DA SILVA (1897-1987).

Além dos livros, Gastão manteve intensa atividade na imprensa escrita. , Em 1934 criou na revista Carioca a coluna "Psicanálise dos sonhos", ilustrado, por uma fotografia de Freud. Na revista Vamos Ler manteve uma coluna intitu lada "Página das mães". Posteriormente colaborou na revista Seleções Sexuais com a seção "Confidências".

Ainda nos anos 1930, manteve durante três anos o programa "No mundo dos sonhos", na Rádio Nacional, no qual, segundo suas palavras, "radiofonizava os sonhos [enviados pelos ouvintes], como se fossem pequeninas histórias, em sketchs, interpretadas pelo cast do rádio teatro daquela emissora". Escreveu rádio novelas que foram ao ar e ainda criou um "Curso de psicanálise por correspondência",

Pode-se dizer que a extensa produção de Gastão Pereira da Silva indica a existência, na época, da demanda por uma espécie de auto-ajuda psicanalítico-sexológica que parecia fazer bastante sucesso. A difusão entre os leigos, portanto, pelo menos no Rio de Janeiro, antecipou em alguns anos a institucionalização da nova prática.

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ALDELHEID KOCH (1896-1980) Em São Paulo, o movimento de institucionalização surgiu mais

cedo, tendo em Durval Marcondes sua figura central. Em dezembro de 1936, a partir do contato estabelecido por Marcondes com a IPA, a jovem psicanalista Aldelheid Koch chegou à cidade de São Paulo com a tarefa de formar o primeiro grupo de psicanalistas oficialmente autorizados em solo brasileiro.

Koch iniciara em 1929 sua formação no prestigioso Berliner Psychoanalytische Institute, a mais prestigiosa instituição de formação em psicanálise na época. Entre 1934 e 1935, entretanto, o Instituto Berlinense foi "arianizado" por decreto do governo nazista. As obras de Freud e outros analistas judeus foram queimadas em praça pública.

Koch foi obrigada a se filiar diretamente à IPA e, aos 40 anos, recém-autorizada como analista, fugiu da Alemanha com a incumbência de iniciar o treinamento oficial de analistas no Brasil, formando o embrião da futura Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo, que foi reconhecida pela IPA em 1951.

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PSICANÁLISE E O MOVIMENTO MODERNISTA

É importante lembrar que na São Paulo dos anos 1920 as idéias psicanalíticas circulavam no movimento Modernista. As grandes figuras do movimento, Oswald (1914-1972) e Mário de Andrade (1893-1945), leram Freud e assimilaram suas idéias em maior ou menor grau.

A própria idéia de antropofagia parece ter se inspirado em um dos grandes clássicos freudianos - Totem e tabu.

Além dessa difusão junto às vanguardas artísticas e intelectuais, a nova doutrina estava presente em espaços institucionais não médicos que certamente contribuíram para sua maior aceitação e difusão.

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FUNDAÇÃO DA CLÍNICA DE ORIENTAÇÃO INFANTIL NO SERVIÇO DE HIGIENE MENTAL DA SECRETARIA

DE EDUCAÇÃO DO ESTADO DE SP

Durval Marcondes funda a Clínica de Orientação Infantil no Serviço de Higiene Mental da Secretaria de Educação do Estado de São Paulo, por ele dirigido.

Nessa clínica, supervisionava e formava educadoras, que aprenderam a encarar a criança e sua família a partir do ponto de vista psicanalítico.

No ano seguinte a psicanálise foi introduzida como disciplina no curso de sociologia da Escola Livre de Sociologia e Política, de novo sob a responsabilidade de Durval Marcondes e Aldelheid Koch.

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BUSCA POR UM PSICANALISTA AUTORIZADO PARA DAR INÍCIO À FORMAÇÃO DE

PSICANALISTAS CARIOCAS

Enquanto isso, no Rio de Janeiro, ao longo dos anos 1940, um pequeno grupo de médicos tentava trazer um psicanalista autorizado para dar início à formação de psicanalistas cariocas.

Entre estes estavam Danilo (1916-1989) e Marialzira Perestrello (1916-), Alcion Bania (1911-1974) e Walderedo Ismael de Oliveira (1917-).

Após algumas tentativas frustradas, o grupo rumou em direção à Argentina em busca de formação junto à Sociedade de Psicanálise de Buenos Aires.

Somente no final dessa década chegaram dois psicanalistas enviados pela IPA para dar início à formação de analistas.

O primeiro a chegar, em fevereiro de 1948, foi Mark Burke (1900-1975), membro da Sociedade Psicanalítica Britânica, e o segundo, em março de 1949, foi Werner Kemper (1899-1975), membro da Sociedade de Berlim.

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SOCIEDADES PSICANALÍTICAS CARIOCAS

Dois anos depois, um desentendimento entre os adeptos de um e outro analista formou dois grupos, um dirigido por Kemper e outro por Burke.

O grupo do analista alemão foi reconhecido em 1955 pela IPA como Sociedade Psicanalítica do Rio de Janeiro - SPRJ.

Burke retomou à Inglaterra em 1953, em meio a boatos sobre sua sanidade mental.

Seus seguidores se juntaram aos analistas formados em Buenos Aires, e o grupo foi reconhecido em 1957 como Sociedade Brasileira de Psicanálise do Rio de Janeiro - SBPRJ.

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SOCIEDADES PSICANALÍTICAS CARIOCAS

Foram assim formadas as duas sociedades psicanalíticas que dominaram a cena da formação no Rio de Janeiro até os anos 1970.

Ao contrário da sociedade paulista que, coerente com os vínculos desde cedo estabelecidos com o meio não médico admitia candidatos "leigos" desde sua fundação, as duas sociedades cariocas foram monopolizadas pelos psiquiatras que, a exemplo das sociedades americanas, exigiam de seus candidatos a posse de um diploma de medicina.

Como se pode perceber, a calorosa recepção da psicanálise pelo establishment médico carioca não foi sem consequências, e esse vinculo privilegiado com a psiquiatria será a marca do movimento carioca.

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SOCIEDADES PSICANALÍTICAS CARIOCAS

Curiosamente, entretanto, a abertura aos não-médicos conferiu ao movimento paulista e à sociedade lá fundada um alto grau de estabilidade e relativa tranquilidade, quando comparado ao seu congênere carioca,

No Rio, como vimos, desde logo armou-se uma dissidência - duas sociedades são formadas no lugar de uma.

Além desse começo já turbulento, em 1953 foi fundado um instituto dissidente, vinculado à linha "culturalista" norte americana (dissidência das sociedades "oficiais"), o Instituto de Medicina Psicológica - IMP. Em 1968,

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CÍRCULO PSICANALÍTICO

Kattrin Kemper (1905-1978), esposa de Werner, abandonou a SPRJ e fundou, no ano seguinte, com alguns de seus analisandos, o Círculo Psicanalítico da Guanabara, mais tarde Círculo Psicanalítico do Rio de janeiro.

O Círculo iniciou em 1972 sua primeira turma para formação em psicanálise, também aberta a "leigos".

Em 1971, um grupo de psicólogos que estudavam e faziam supervisão com psicanalistas da SPRJ fundou a Sociedade de Psicologia Clínica, que oferecia formação exclusivamente para psicólogos.

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1970 E esse o momento de maior obscurantismo da

ditadura militar que havia se instalado em 1964. A Censura, a repressão e a tortura de presos políticos chegaram a seu auge.

Ao mesmo tempo, a psicanálise, que, como vimos, já vinha se difundindo desde pelo menos os anos 1930, conquistou definitivamente os corações e mentes das camadas médias letradas dos grandes centros urbanos.

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Como entender essa convivência, até certo ponto pacífica, entre o obscurantismo político e a busca de liberação "interior"?

A resposta mais fácil tem sido explicar a volta sobre si mesmo pelo fechamento político. Isto é, a repressão política, impedindo uma preocupação com o que estava "lá fora", na sociedade, obrigou as pessoas a se preocuparem exclusivamente com o que estava "dentro", com sua vida interior, sua psicologia.

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A repressão teve como um de seus efeitos uma despolitização no sentido tradicional do termo.

Na década de 1970, porém, já era possível falar de um outro tipo de politização, vinculado ao movimento contracultural que então florescia nos países desenvolvidos do Ocidente.

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Essas questões "menores" produziam uma crítica contundente à chamada "moral burguesa", visando muito mais aos costumes, aos comportamentos cotidianos, aos modos de pensar e sentir, do que à grande e abstrata luta capital versus trabalho.

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Na esteira da expansão psicanalítica – expansão enquanto terapia enquanto profissão e enquanto modo de compreensão do ser humano –, surgiu e se expandiu uma nova especialidade: a psicologia.

Além de se "psicanalizar", a psicologia também conheceu uma expansão sem precedentes. Em 1974, quando entrou em funcionamento o Conselho Federal de Psicologia, havia 895 profissionais inscritos. Em 1975 esse número subiu para 4.950 e no ano seguinte chegou a 6.890.

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“DIVISÃO SEXUAL DO TRABALHO CLÍNICO”

Aqui nos voltamos para o desenrolar do movimento psicanalítico na cidade do Rio de Janeiro, local onde o embate entre psicólogos e médicos em torno do monopólio do título de "psicanalista" atingiu contornos dramáticos.

A relação dos novos profissionais com os psicanalistas das sociedades oficiais – que, como vimos, até o início dos anos 1970 praticamente monopolizavam a formação em psicanálise no Rio de Janeiro – era de reverência e ambiguidade.

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“DIVISÃO SEXUAL DO TRABALHO CLÍNICO”

Esse monopólio, entretanto, estava com seus dias contados.

Dois movimentos ocorridos no decorrer da década de 1970 já indicavam a ameaça que as psicólogas representavam para a corporação psicanalítica tal como ela então se constituía. Utilizando uma linguagem bélica, vamos chamá-Ias de"invasão argentina" e "invasão francesa".

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“INVASÃO ARGENTINA”

A "invasão argentina" ocorreu quando um grande número de psicólogos e psicanalistas, vários dentre eles afugentados de seu país pela repressão política, veio se estabelecer no Rio de Janeiro.Trouxeram com eles uma forma de trabalhar com a psicanálise que desafiava a hegemonia das sociedades "oficiais".

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“DIVISÃO SEXUAL DO TRABALHO CLÍNICO”

A partir do final da década de 1970, surgiu uma série de instituições de formação de psicanalistas não "oficiais" cuja clientela vai ser formada principalmente por psicólogas.

A hegemonia das sociedades da IPA foi seriamente ameaçada, a ponto de as duas sociedades "oficiais" passarem a admitir candidatos-psicólogos para formação a partir de 1980.

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“PSICANÁLISE E FACISMO” Desde o início dos anos 1970 corriam boatos sobre a

participação de um dos candidatos em formação na Sociedade - Amilcar Lobo - como médico junto aos aparelhos de repressão da ditadura.

Denúncias foram formalizadas junto à direção da sociedade e também da IPA, sem que qualquer providência oficial fosse tomada.

No final de 1980, numa mesa-redonda promovida na PUC-Rio intitulada "Psicanálise e Fascismo", o caso Amílcar Lobo é trazido a público através da denúncia de um ex-preso político.

Dois psicanalistas da SPRJ que participavam da mesa-redonda - Hélio Pellegrino (1924-1988) e Eduardo Mascarenhas (1943-1997) - reafirmaram a denúncia junto à direção da sociedade e acabaram por ser excluídos de seus quadros.

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“PSICANÁLISE E FACISMO” No início de 1981, o caso ganhou a manchete dos

principais jornais cariocas através do depoimento de vários outros presos políticos e não foi mais possível ignorar a conivência do establishment psicanalítico com as atividades de Lobo junto ao DOI-CODI.

O desfecho do caso só ocorreu após a redemocratização do país, em 1986, quando o Conselho Regional de Medicina abriu um processo contra Lobo, cassando seu direito de exercer a profissão dois anos depois.

A crise política e moral gerada pelo caso Amílcar Lobo foi o golpe final de uma série de outros golpes que vinham sofrendo as sociedades ditas "oficiais".

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SOCIEDADES DE FORMAÇÃO EM PSICANÁLISE

A partir de 1969, quando ocorreu a primeira cisão na SPRJ com a fundação do Círculo de Kattrin Kemper, até 1989, foram criadas no Rio de Janeiro 18 sociedades de formação em psicanálise não vinculadas à IPA.

Destas, 16 surgiram após 1974, e, dentre estas, dez se apoiavam de forma mais ou menos explícita na teoria LACANIANA como fonte de legitimação.

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Curiosamente, a proliferação de sociedades lacanianas ocorreu no Brasil como um todo (embora o Rio de Janeiro permaneça sendo uma espécie de recordista), o que não acontecera no período do monopólio das sociedades "oficiais", nem mesmo na época de maior difusão da psicanálise.

Sem contar cinco sociedades paulistas, entre 1982 e 1990 foram fundadas 13 instituições de formação lacaniana nas seguintes cidades: Brasília, Vitória, Salvador, Recife, Belo Horizonte (duas), Curitiba, Teresina, Porto Alegre (duas), Fortaleza e São Luís (duas).

Esta informação revela-se finda mais surpreendente quando se sabe que até 1987 só havia sociedades psicanalíticas "oficiais" no Rio de Janeiro (duas), em São Paulo e Porto Alegre, além de núcleos psicanalíticos no Recife e em Brasília.

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RUPTURA DO MONOPÓLIO EXERCIDO PELAS SOCIEDADES VINCULADAS AO IPA

Mais que a "invasão argentina", portanto, uma espécie de "invasão "francesa" – isto é, lacaniana – instrumentou a ruptura do monopólio exercido, pelas sociedades vinculadas à IPA (e, no Rio de Janeiro, pelos médicos) sobre o controle e a transmissão do título de psicanalista.

Essa reorientação do meio psicanalítico, que atingiu mais fortemente o meio carioca, ocorrida no final dos anos 1970 e no decorrer dos anos 1980, foi, portanto, provocada pela: intensa difusão da psicanálise no meio "psi" não médico e entre o público leigo – o que se traduziu numa ampliação sem precedentes do mercado e numa pressão muito forte por parte dos profissionais não médicos pelo acesso ao título de psicanalista.

A disputa profissional se desdobrava, assim, em uma disputa teórica – a teoria lacaniana pretendendo substituir a teoria kleiniana que até então reinava absoluta nas sociedades "oficiais" – e em uma disputa política pela hegemonia no campo e, consequentemente, pela definição tanto da própria psicanálise quanto do oficio de psicanalista.

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A definição do que é ser "psicanalista" é uma questão candente desde seu surgimento. Quem pode ou deve atribuir a alguém o título de psicanalista?

Sabemos que tudo começou de modo extremamente personalizado em torno de figura de Freud. Com o passar do tempo, a institucionalização tornou-se inevitável, com a fundação da Associação Internacional (IPA) e a implantação de um modelo único de formação.

Pode-se falar aí na escolha de uma via burocrática de legitimação, em detrimento do carisma – que se baseia na autoridade e na legitimidade do "pai fundador" e seus discípulos.

A via carismática, entretanto, permanecia como potencialidade sempre presente, expressando-se nos diversos casos de rupturas, dissidências e concomitante fundação de outras escolas ou instituições como a leitura do capitulo anterior nos demonstra.

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LACAN - CONTRIBUIÇÕES Lacan foi o grande atualizador dessa via, através de sua

crítica à rigidez burocrática das sociedades "oficiais" e de seu chamado a uma "volta a Freud", uma volta às origens da psicanálise.

O que Lacan propunha não era apenas uma releitura dos textos do pai fundador, mas sobretudo uma revolução no modo de transmissão do título de psicanalista.

A via carismática é valorizada em detrimento da burocrática. A psicanálise não pode ser contida nos limites de uma formação pré-programada – tantos anos de análise didática, tantas horas de supervisão, um certo número de cursos.

A ênfase na experiência singular de cada candidato implica, além do abandono de esquemas escolares de transmissão, um constante testar de sua, adesão irrestrita à doutrina.

A formação nunca acaba. O analista deve dar provas constantes de seu compromisso com a causa.

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LACAN - CONTRIBUIÇÕES O fundamentalismo lacaniano teve, como vimos, importante

papel no redirecionamento do movimento psicanalítico brasileiro. Este conheceu uma efervescência sem precedentes, em termos

de produção de textos, encontros, seminários, conferências. Ao mesmo tempo, no que tange à sua difusão entre o público

leigo, a psicanálise passou a competir com as chamadas terapias "alternativas" e, no campo psiquiátrico, com uma inclinação cada vez mais pronunciada em direção a uma visão biológica dos transtornos mentais que se alia, na psicologia, à perspectiva cognitivo-comportamental.

O futuro do próprio movimento vai depender do modo como irão se estruturar tanto no campo profissional quanto entre os clientes potenciais – essas duas tendências que expressam, sem dúvida alguma, um novo "espírito do tempo", uma nova forma de conceber o ser humano e suas perturbações.

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