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MPF arquiva denuncia de privatização do mar

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Page 1: MPF arquiva denuncia de privatização do mar

Ministério Público FederalProcuradoria da República em Pernambuco

Procedimento Administrativo n. º 1.26.000.001178/2008-71

DESPACHO

O presente procedimento administrativo foi

instaurado nesta Procuradoria da República, a partir de matéria

jornalística inti tulada “Pedaço do mar será 'privatizado' ”1 com o

intuito de apurar possível irregularidade na concessão de uma área marítima de 1,69Km² , em frente à praia de Boa Viagem, Recife (PE),

à empresa Aqualider Maricultura Ltda. , para instalação de uma

“fazenda de peixes”, da espécie beijupirá (rachycentron canadum)2.

Ante os fatos narrados, este órgão ministerial

oficiou ao Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Renováveis - IBAMA , requisitando-lhes informações acerca do

1 Diár io de Pernambuco, segunda- fe i ra , d ia 19/05/08, Caderno Vida Urbana, pag. A8.

2 A matér ia jorna l ís t ica not ic iou que a área a ser exp lorada correspondia a 1.690Km².

Todavia, durante a inst rução do procedimento, o Prof . Dr . Fábio Hazin, Di re tor do

Depar tamento de Pesca da Univers ida Federa l Rura l de Pernambuco - UFRPE,

esc lareceu que, na rea l idade, a área corresponde à 1,69 Km² ( f ls . 34/39) .

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projeto, bem como sobre a existência de licenciamento ambiental (f l .

07).

Também solicitou à Universidade Federal Rural de Pernambuco - UFRPE informações sobre a natureza de sua

participação no empreendimento (f l . 08).

Por f im, solicitou à Capitania dos Portos em Pernambuco que informasse acerca de eventual concessão do

“pedaço de mar” à empresa Aqualider (f l . 09).

Em resposta, a Capitania dos Portos encaminhou

cópia do Ofício nº 2023/CPPE-MB dirigido à Secretaria Especial de

Aqüicultura de Pesca - SEAP, através do qual, na condição de Agente

da Autoridade Marítima, declarou que, no tocante à segurança da navegação e ao ordenamento do tráfego aquaviário , nada tinha a opor quanto ao projeto de desenvolvimento do cultivo do beijupirá

pela empresa Aqualider (f ls. 23/25).

A UFRPE encaminhou esclarecimentos prestados

pelo Prof. Dr. Fábio Hazin , Diretor do Departamento de Pesca e

Aqüicultura – DEPAq - daquela universidade, explicando, em síntese,

que:

Dentro do mesmo contexto, o DEPAq/UFRPE tem part ic ipado

e apoiado a real ização de diversos eventos re lacionados à

maricul tura, desenvolvido vár ios projetos de pesquisa

focados no tema [. . . ]

Entre as d iversas espécies de peixe com potencia l de

ut i l ização em at ividades de cul t ivo, destaca-se o bei jupirá ,

em função das suas elevadas taxas de crescimento e

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conversão al imentar, da excelente qual idade de sua carne e

de sua boa acei tação de mercado [ . . . ]

Em relação à mesma, cabe, in ic ia lmente, alertar que a área total a ser ocupada pela referida fazenda marinha será de 1,69 km², e não de 1.690Km², conforme duvulgado,

correspondendo, assim, a menos de 0,02% da área tota l da

p lataforma cont inental do Estado de Pernambuco. [ . . . ]

Em relação á ident i f icação do local ideal para a insta lação

do cul t ivo, o DEPAq/UFRPE contr ibuiu com o aporte dos

conhecimentos d isponíveis e de domínio públ ico sobre o

ecossistema costeiro do Estado de Pernambuco, or ientando

a escolha de forma a assegurar que a área selecionada tivesse o menor índice possível de impacto sobre o meio ambiente e sobre a atividade pesqueira . Em relação à pesca artesanal, [ . . . ] o impacto decorrente do empreendimento será ainda proporcionalmente muito inferior à área ocupada . Do ponto de vista ambiental , por

sua vez, o fato do empreendimento se encontrar em área de

mar aberto, a uma grande profundidade, com permanente

renovação de águas correntes marinhas, reduzirá significativamente o potencial de impacto, além de promover possíveis efeitos benéficos , na medida em que

poderá contr ibuir para o aumento da produtividade biológica no entorno do empreendimento, aspecto particularmente relevante em função da baixa produtividade pesqueira observada, em geral , nessa área

da plataforma cont inental” .

Dentro desse mesmo contexto, e com o objet ivo de contr ibuir

para o desenvolvimento do cul t ivo do bei jupirá no estado, o

DEPAq/UFRPE vem empreendendo um esforço de pesquisa

cooperat ivo com a mesma Aqual ider, o qual inclu irá a

cessão pela refer ida empresa, à UFRPE, sem qualquer ônus

para esta ú l t ima, de uma área de tanques e laboratórios ,

nos quais será possível desenvolver diversas pesquisas re lacionadas ao cul t ivo da espécie, inclu indo aspectos

nutr ic ionais, pato lógicos e de crescimento, entre outros”.

[ . . . ]

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Cabe aduzir , a inda, que os recursos f inanceiros necessários

para o desenvolvimento das pesquisas mencionadas foram

disponib i l izados pelo Conselho nacional de Pesquisa –

CNPq, [ . . . ] , e que todos os resultados obtidos serão de domínio público [ . . . ] ( f ls . 34/39).

Em agosto de 2008, a Assembléia Legislativa do Estado encaminhou a esta Procuradoria da República, através do

Ofício nº 748/2008 (fl . 42), documentos em desfavor do Projeto

Beijupirá, da empresa Aqualider, os quais foram autuados em apenso

ao referido procedimento (Anexo I).

Em 23/09/2008, a UFRPE encaminhou novos

esclarecimentos apresentados pelo Prof. Dr. Fábio Hazin,

especificamente relacionados à descrição das coordenadas geográficas que correspondem à área, objeto de cessão de uso.3

A Informação Técnica – MPF/PRPE/UPD/FS nº 48/2008 , elaborada pelo analista pericial Fábio Murilo Meira Santos,

considerando as informações apresentadas pelo Prof. Dr. Fábio

Hazin, representa detalhadamente a localização espacial das

coordenadas geográficas4.

Do referido estudo verif ica-se que, em verdade, a área onde será implantada a fazenda de piscicultura marinha

corresponde a 1,69 Km², distantes cerca de 7 (sete) milhas da costa

marítima do Estado de Pernambuco, área sob a administração da

Secretaria de Patrimônio da União - SPU.

3 Ofício nº 166/2008-PJ, fl. 51.4 Informação Técnica – MPF/PRPE/UPD/FS nº 48/2008, fls. 56/61.

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A Agência Estadual de Meio Ambiente e Recursos

Hídricos — CPRH, através do Ofício DPR nº 2068/2008, encaminhou

cópias dos Processos de Licenciamento Ambiental nºs 7419/07,

6602/2006 e 3974/2006 (fls. 62/118).

Da documentação acostada, destaca-se o Parecer Técnico DIDAQ/SUDAP/SEAP/PR nº 541/06 , emitido pela Secretaria

Especial de Aquicultura e Pesca – SEAP, favorável à execução do projeto5.

Destaca-se, também, o Parecer CGREP/COOPE nº 94/2006 , do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos

Renováveis – IBAMA, que, analisando o pedido de cessão do espaço,

concluiu pelo encaminhamento do processo à SEAP/PR para

conhecimento e providencias junto ao órgão estadual de meio ambiente , quanto ao licenciamento do projeto.

A CPRH apresentou, ainda, cópias (i) da Licença Prévia nº 00091/2006 , ( i i) da Licença de Instalação nº 00232/07, e

(i i i ) da Licença de Operação nº 02981/2007 (f ls. 81, 74 e 116,

respectivamente).

Observa-se, também, cópia da Portaria nº 129, de 4 de junho de 2007, da Secretaria do Patrimônio da União, através

da qual declara como imóvel de interesse do serviço público a

referida área, destinando-a à execução do projeto a cargo da

Secretaria Especial de Aquicultura e Pesca – SEAP para o cultivo de

Rachycentron canadum.6

5 Parecer Técnico DIDAQ/SUDAP/SEAP/PR nº 541/06, fls.107/1086 Diário Oficial da União, sexta-feira, 8 de junho de 2007, p. 54 (fl.97).

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Em complementação à instrução dos autos, este

órgão ministerial sol icitou à Superintendência Regional do Serviço

Geológico do Brasil , exemplar do mapa geológico do fundo do mar na

área de abrangência do projeto e adjacências, no que foi atendido

(fls.130/131)7. Esse mapa mostra que sob a fazenda de peixe o

terreno é arenoso, não apropriado para a pesca artesanal.

Tendo em consideração todas as informações

colhidas, bem como a documentação acostada durante a instrução do

presente procedimento administrativo, não se verifica qualquer irregularidade na execução do projeto de cultivo do beijupirá.

Como visto, o projeto foi devidamente licenciado pelo órgão ambiental responsável — CPRH, tendo obtido, ainda,

manifestações favoráveis dos demais órgãos envolvidos (SPU,

SEAP, IBAMA, Capitania dos Portos).

Por f im, é se ressaltar que a CPRH , no exercício do

controle ambiental, em constatando alguma irregularidade na

execução do projeto, pode a qualquer tempo exigir a adoção de medidas corretivas .

Em razão disso, decido pelo arquivamento do

presente procedimento administrativo e determino à DTCC que:

1. informe à Comissão de Defesa do Meio Ambiente

– CDMA, da Assembléia Legislativa de Pernambuco

sobre a presente decisão, participando-lhe que terá

o prazo de 10 dias para, querendo, apresentar

recurso dirigido ao 1º OTC, o qual, em caso de não

7 Ofício MPF/PRPE/AT nº 3930/2008, fl.128.

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retratação, será encaminhado à competente Câmara

de Coordenação e Revisão para apreciação;

2. após o prazo para recurso, remetam os autos à

4ª Câmara de Coordenação e Revisão do Ministério

Público Federal para fins de homologação.

Recife (PE), 02 de março de 2009.

ANASTÁCIO NÓBREGA TAHIM JÚNIORProcurador da República

SFR/despacho 0011782008/arquivamento

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