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Rubens Opice Filho Edição Especial Novo Código Civil Ano 5 – maio/junho 2002 Direito Civil Nova Lei Civil é considerada uma das melhores do mundo Após oitenta e seis anos o Brasil possui um Novo Código Civil. Trata-se, sem dúvida, do acontecimento mais importante da última década no meio jurídico e que certamente exigirá dos juristas e dos cidadãos em geral um esforço no sentido de estudo e compreensão das modificações. A sua longa tramitação no Congresso Nacional, aprovado após 26 anos, suscitou inúmeras críticas de parcela da comunidade jurídica e até mesmo da imprensa. Alguns ressaltaram a desnecessidade, pela sua excelência, de atualização do Código Civil de 1916. Outros propugnaram pela existência de supostas falhas e desatualizações existentes no Projeto aprovado, que já estaria "velho" e, portanto, não atenderia mais aos anseios da sociedade brasileira neste novo milênio. Chegou-se a defender até mesmo que não seria necessária a existência de um código geral para disciplinar a vida dos particulares, que, deste modo, deveria ser regida pelos denominados "microssistemas de normas". Tais críticas, entretanto, não procedem e os exemplos mais recentes no mundo ocidental têm demonstrado que a codificação ainda é o meio mais adequado para disciplinar as relações jurídicas de natureza civil. A mais, a denominada "socialização" de institutos básicos do Direito Civil levada a efeito pelo legislador no novo Código demonstra, de forma incontroversa, que o Brasil terá um Código Civil à altura daqueles existentes nos países mais avançados do mundo. Assim ocorre no Direito de Família, que foi adequado à Constituição Federal de 1988, com o reconhecimento da igualdade do homem e da mulher na gestão da família e o reconhecimento, em iguais condições, de todos os filhos, quer estejam eles dentro do casamento, quer fora. Assim também ocorreu nos ramos do Direito das Obrigações e Direito das Coisas, que, respectivamente, estabeleceram a função social do contrato e da função social da propriedade. Obra humana, certamente o novo Código Civil contém falhas e imperfeições. Por outro lado, o espírito de que o legislador esteve imbuído ao elaborá-lo, as centenas de emendas que o projeto recebeu no Congresso Nacional – inclusive aquelas que adequaram-no à Constituição de 1988 – e, sobretudo, o caráter humanista que reveste as suas normas tornam o novo Código Civil uma conquista do povo brasileiro neste início de século, constituindo, ademais, verdadeiro legado para as gerações futuras. Neste contexto, tendo em vista a atualização de seus profissionais, o escritório Machado, Meyer, Sendacz e Opice Advogados criou, há cerca de seis meses, um Grupo de Estudos destinado a estudar e compreender os aspectos mais relevantes da nova lei. Após cerca de vinte sessões de apresentação, discussão e debates dos temas, o escritório oferece aos seus clientes e colaboradores um conjunto de artigos que expressam, de forma concisa, o resultado desse Grupo de Estudos como forma de proporcionar o conhecimento de algumas das mais importantes inovações da nova codificação.

Nova Lei Civil é considerada uma das melhores do mundo

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Edição Especial Novo Código Civil – Machado, Meyer, Sendacz e Opice Advogados - LEXpress - maio/junho 2002 1 3Rubens Opice Filho

Edição Especial Novo Código Civil Ano 5 – maio/junho 2002

Direito Civil

Nova Lei Civil é consideradauma das melhores do mundoApós oitenta e seis anos o Brasil possuium Novo Código Civil. Trata-se, semdúvida, do acontecimento maisimportante da última década no meiojurídico e que certamente exigirá dosjuristas e dos cidadãos em geral umesforço no sentido de estudo ecompreensão das modificações.

A sua longa tramitação no CongressoNacional, aprovado após 26 anos,suscitou inúmeras críticas de parcela dacomunidade jurídica e até mesmo daimprensa. Alguns ressaltaram adesnecessidade, pela sua excelência, deatualização do Código Civil de 1916.Outros propugnaram pela existência desupostas falhas e desatualizaçõesexistentes no Projeto aprovado, que jáestaria "velho" e, portanto, nãoatenderia mais aos anseios da sociedadebrasileira neste novo milênio. Chegou-sea defender até mesmo que não serianecessária a existência de um códigogeral para disciplinar a vida dosparticulares, que, deste modo, deveriaser regida pelos denominados"microssistemas de normas".

Tais críticas, entretanto, não procedem eos exemplos mais recentes no mundoocidental têm demonstrado que acodificação ainda é o meio maisadequado para disciplinar as relaçõesjurídicas de natureza civil. A mais, adenominada "socialização" de institutos

básicos do Direito Civil levada a efeitopelo legislador no novo Códigodemonstra, de forma incontroversa, queo Brasil terá um Código Civil à alturadaqueles existentes nos países maisavançados do mundo.

Assim ocorre no Direito de Família, quefoi adequado à Constituição Federal de1988, com o reconhecimento da igualdadedo homem e da mulher na gestão dafamília e o reconhecimento, em iguaiscondições, de todos os filhos, quer estejameles dentro do casamento, quer fora.Assim também ocorreu nos ramos doDireito das Obrigações e Direito dasCoisas, que, respectivamente,estabeleceram a função social do contratoe da função social da propriedade.

Obra humana, certamente o novoCódigo Civil contém falhas eimperfeições. Por outro lado, o espíritode que o legislador esteve imbuído aoelaborá-lo, as centenas de emendas queo projeto recebeu no CongressoNacional – inclusive aquelas queadequaram-no à Constituição de 1988 –e, sobretudo, o caráter humanista quereveste as suas normas tornam o novoCódigo Civil uma conquista do povobrasileiro neste início de século,constituindo, ademais, verdadeiro legadopara as gerações futuras.

Neste contexto, tendo em vista aatualização de seus profissionais, o

escritório Machado, Meyer, Sendacz eOpice Advogados criou, há cerca de seismeses, um Grupo de Estudos destinadoa estudar e compreender os aspectosmais relevantes da nova lei. Após cercade vinte sessões de apresentação,discussão e debates dos temas, oescritório oferece aos seus clientes ecolaboradores um conjunto de artigosque expressam, de forma concisa, oresultado desse Grupo de Estudos comoforma de proporcionar o conhecimentode algumas das mais importantesinovações da nova codificação.

Edição Especial Novo Código Civil – Machado, Meyer, Sendacz e Opice Advogados - LEXpress - maio/junho 20022

· Os negócios jurídicos permanecerão válidosà luz do Código Civil de 1916. Entretanto, osefeitos produzidos, a partir de 11.01.2003,serão regidos pelo novo Diploma Civil, salvoestipulação em contrário. Entretanto,prevalecerá a norma de ordem pública sobreos interesses de particulares.

· O Direito Privado sofre parcial unificação,sendo que a primeira parte do CódigoComercial de 1850, que tratava dos atos decomércio, foi revogada. Sai de cena a figurado comerciante e surge a do empresário.

· Salvo disposição em lei especial,transformações, fusões, cisões e

incorporações de empresas serão reguladaspelo novo Código Civil.

· Pedidos de liquidações e dissoluçõesde pessoas jurídicas ajuizados antesde 11.01.2003 permanecerão sendoprocessados de acordo com alegislação anterior.

Direito das Obrigações

Código prevê função social dos contratosDaniel Martins Boulos

O atual Código Civil Brasileiro entrou emvigor em 1917. No entanto, por ter sido

elaborado nos últimos anos dos "1800", diz-seque ele é "filho" do século XIX, pois incorpora

a visão predominante daquele século expressano individualismo exacerbado e no liberalismo

econômico, pressupondo a não-intervençãodo Estado nas relações jurídicas travadas entre

os particulares. No decorrer deste últimoséculo, entretanto, o mundo vivenciou duas

grandes guerras, experimentou uma novarevolução industrial e tecnológica e

testemunhou os avanços da genética.Essas profundas alterações no cenário social,

político e econômico redundaram nanecessidade da reforma do Direito Civil, o que

se tem operado desde o primeiro quartel doséculo passado no pensamento dos estudiosos,

no entendimento dos Tribunais acerca devários institutos e, sobretudo, com reflexo na

legislação de diversos países. Aos poucos, ospaíses de grande parte do mundo ocidental

vêm atualizando seus Códigos Civis a fim deatender ao clamor social por um Direito Civil

que esteja mais próximo do povo e seja,sobretudo, mais justo. Neste contexto de

transformações, nenhum ramo do Direito Civilnecessitou de mais modificações do que o

Direito das Obrigações, base que é, segundoentendimento de alguns, do Direito como um

todo. Assim ocorreu, por exemplo, com oCódigo Civil Alemão, que entrou em vigor em

1900 e desde o início deste ano teve seu Livrodo Direito das Obrigações totalmente

reformulado. Assim também se deu no Brasil,onde o antigo Código Civil, especialmente

mas não só no Livro do Direito dasObrigações, deixou há muito de representar o

sentimento social predominante.Neste contexto, fez-se necessária uma

releitura do Direito das Obrigações à luz daConstituição Federal de 1988 e do

entendimento defendido pela Doutrina háalgumas décadas, o que acarretou significativas

modificações no Novo Código Civil. Taismodificações abrangem desde a melhor

distribuição e classificação das matérias (comono caso da transação, agora disciplinada entre

os contratos e da gestão de negócios, colocadadentre os atos unilaterais de vontade) até a

inserção de institutos jurídicos inexistentes noCódigo de 1916. A título de exemplo das

novidades trazidas no novo Código, citamos avedação ao enriquecimento sem causa, o

princípio da boa-fé objetiva, a previsão daexistência de contrato de adesão entre

particulares, sem contar a disciplina decontratos como o de transporte.

Mas, sem dúvida nenhuma, a modificaçãomais significativa e a que melhor expressa o

espírito do novo Código Civil é oreconhecimento pelo legislador, no artigo 421,

da função social do contrato. Esse artigo,inédito nos Códigos Civis dos países mais

desenvolvidos, é o resultado do triunfo do"social" sobre o "individual". É o

reconhecimento de que o contrato, a despeitode atender aos interesses das partes que dele

participam, deve, ainda que de forma mediata,observar e atender às suas finalidades sociais.

Isto significa que o contrato continuará adesempenhar as suas funções de promover a

circulação de riquezas e o desenvolvimentoeconômico, mas, segundo o citado artigo de

lei, deverá fazê-lo de forma tão equânimequanto justa. Trata-se de uma iniciativa

louvável do legislador, que, em conjunto comas demais alterações, coloca o Brasil dentre os

países com um Código Civil mais avançado eque mais fielmente expressa o sentimento de

justiça social.Resumo das principais modificações no Direito

das Obrigações: Reconhecimento da funçãosocial do contrato; Previsão do princípio da boa-

fé objetiva; Previsão do contrato de adesão entreos particulares; Disciplina o contrato de

transporte; Previsão do enriquecimento semcausa; Previsão da responsabilidade objetiva;

Melhor disposição das matérias (exemplos:transação e gestão de negócios).

V igência

Carta vigora a partir de janeiro de 2003James Siqueira e Juliana Coimbra Ferraz

Com o advento do novo Código Civil, queentrará em vigor em 11.01.2003, certamente

surgirão algumas dúvidas acerca da suaaplicabilidade. O “Livro Complementar” da lei

procura dirimir tais dúvidas. No que se refere,por exemplo, a um contrato celebrado antes de

janeiro de 2003, a sua validade permanecerá

sendo a do Código Civil de 1916, devendoatender às exigências da lei revogada. Contudo,

os seus efeitos se subordinarão ao novo textolegal, salvo a existência de estipulação prévia

dos contratantes em contrário.Assim, a partir de 2003 os empresários

terão um ano para adequar os atos

constitutivos de suas empresas à novalegislação. As fusões, transformações, cisões

e incorporações de empresas, quando nãoreguladas por legislação especial, também

serão regidas pelo novo Diploma Civil. Oquadro abaixo aborda algumas das principais

alterações e suas vigências.

Edição Especial Novo Código Civil – Machado, Meyer, Sendacz e Opice Advogados - LEXpress - maio/junho 2002 3

Societário

Código Civil modifica direito de empresaFlávia Ferraz, Eliana Chimenti e Luiz Felipe Martins Costa

A entrada em vigor do Novo Código Civil(CC) marcará a unificação do direito

obrigacional brasileiro. Sob essa perspectiva,relevante parte do Direito Comercial foi

incorporada pelo diploma legislativo emcomento, que encara a atividade empresarial

como uma projeção específica das matériasobrigacionais que regulamenta em seu bojo.

Em atendimento aos modernos reclamosdoutrinários e jurisprudenciais, a nova Lei

disciplinou a matéria comercial partindo da

premissa de que a satisfação das necessidadesdo mercado exige uma organização

especializada e diferenciada, regulamentadaem face de sua atuação dinâmica. Para tanto,

a legislação mercantil passou a ter dois focosprincipais, a atividade empresarial e o

empresário, em substituição às ultrapassadasidéias de comerciante e atos de comércio

individualmente considerados.Será empresário aquele que exerça

profissionalmente atividade econômica

organizada para a produção ou a circulaçãode bens ou serviços. Por sua vez, não será

considerado empresário quem exercerprofissão intelectual, de natureza científica,

literária ou artística, ainda que com oconcurso de auxiliares ou colaboradores,

salvo se o exercício da profissão constituirelemento de empresa. O empresário

obrigatoriamente deverá inscrever-se peranteo Registro de Empresas, antes do início de

sua atividade.

As associações, sociedades e fundações,constituídas na forma das leis anteriores,

terão o prazo de 1 ano, a partir da entrada emvigor do Código Civil, para se adaptarem às

suas disposições (janeiro/2004). Igual prazo é

concedido aos empresários. Salvo o dispostoem lei especial, as modificações dos atos

constitutivos das pessoas jurídicas acimareferidas, bem como sua transformação,

incorporação, cisão ou fusão, se regem pela

Nova Lei imediatamente após o decurso davacatio legis (janeiro/2003). O mesmo vale

para os procedimentos de dissolução eliquidação, se não tiverem se iniciado antes

da vigência do Código.

Na sistemática do Código Civil, as

associações, as sociedades e as fundações sãoas três categorias de pessoas jurídicas de

direito privado. Todas as sociedades, comexceção das anônimas e das cooperativas,

passam a ser reguladas pelo novo Código.As sociedades podem ser classificadas em

personificadas e não personificadas e simples(ou não empresárias – em substituição às

civis) e empresárias.As sociedades não personificadas são:

1. a chamada sociedade em comum, ou seja,aquela que não arquiva seus atos

constitutivos perante o competente registro e

2. a sociedade em conta de participação. As

demais sociedades são consideradaspersonificadas.

A outra classificação, em sociedadesempresárias e simples, utiliza como

critério a atividade a ser empreendida.Serão empresárias as sociedades que

desenvolverem a atividade de empresárioacima referida, e simples as demais. Vale

observar que se considera empresária asociedade por ações – anônima e

comandita por ações – e simples acooperativa, independentemente de seus

objetivos sociais.

Além disso, as sociedades empresárias

devem constituir-se obedecendo às formasprevistas no próprio CC, quais sejam, a

sociedade em nome coletivo, emcomandita simples, limitada, anônima e

comandita por ações, sendo que as simplespoderão adotar um desses tipos e, se assim

não fizerem, estarão sujeitas às normasque lhe são próprias.

Outrossim, marido e mulher somentepoderão contratar sociedade entre si ou com

terceiros desde que não tenham casado nosregimes da comunhão universal de bens ou

da separação obrigatória.

Sociedades empresárias e não empresárias

Sociedades Simples, Limitadas e Anônimas FechadasNas páginas a seguir, com a finalidade de melhor esclarecer as principais modificações firmadas pelo Código Civil

no regime das sociedades, o leitor encontrará o quadro sintético comparativo dos tipos societários mais comuns.

Tanto as simples como as limitadas serão regulamentadas pela nova Carta, embora estas últimas possam ter um

regime misto. As sociedades anônimas, abertas ou fechadas, permanecem com sua regulamentação especial,

prevista na Lei 6.404/76 e alterações posteriores.

Quadro sintético comparativo

Prazos para adaptações

Edição Especial Novo Código Civil – Machado, Meyer, Sendacz e Opice Advogados - LEXpress - maio/junho 20024

Quadro sintético – comparação entre os regimesjurídicos das sociedades simples, limitadas e anônimas,

em vista da Lei 10.406/02 (Novo Código Civil)

Legislação Aplicável

Natureza (conf. CC)

Registro

Denominação / Nome

Empresarial

Esferas de Poder Decisório /

Fiscalizador / Órgãos

Sociedade Simples

• CC, ressalvadas as

disposições constantes de

leis especiais, relativas ao

exercício de determinadas

atividades

• simples

• atos registrados no Reg. Civil

das Pessoas Jurídicas

• firma ou denominação

social, dependendo do tipo

societário adotado

• equipara-se ao nome

empresarial, para efeitos de

proteção, a denominação das

sociedades simples

• sem previsão legal

responsabilidade solidária dos

Sociedade Limitada

• CC, aplicando-se,

supletivamente, as regras

das soc. simples ou Lei

6.404/76 (e alt. posteriores)

• simples; ou

• empresária, se tiver por

objeto o exercício de

atividade própria de

empresário sujeito a registro

• se empresárias, atos

registrados no Reg. Público

de Empresas Mercantis

• se simples, atos registrados no

Reg. Civil das Pessoas Jurídicas

• firma ou denominação

social, integrada pela palavra

final "limitada"

• a denominação social deve

designar o objeto da

sociedade, sendo nela

permitido figurar o nome de

um ou mais sócios

• Assembléia de Sócios –

obrigatória se o nº de sócios

for superior a 10 ou se

assim previsto no Contrato

Social; e/ou

• Reunião de Sócios - se assim

previsto no Contrato Social

• Conselho Fiscal - existência

facultativa

• não será necessária reunião

ou assembléia quando todos

os sócios decidirem sobre

seu objeto

S/A (Fechada)

• Lei 6.404/76 (e alt.

posteriores)

• empresária

• atos registrados no Reg.

Público de Empresas

Mercantis

• denominação social,

acompanhada das

expressões "sociedade

anônima" ou "companhia",

vedada a utilização desta

última ao final

• Assembléia Geral

• Conselho de Administração

(existência facultativa, exceto

naquelas de capital autorizado)

• Diretoria

• Conselho Fiscal

(funcionamento facultativo)

Edição Especial Novo Código Civil – Machado, Meyer, Sendacz e Opice Advogados - LEXpress - maio/junho 2002 5

• exceto se de outra forma

disposto no Contrato Social,

a administração cabe

individualmente a cada um

dos sócios, estabelecendo o

art. 997 do CC que, em seus

atos constitutivos, dentre

outros, deverão ser indicadas

as pessoas naturais

responsáveis por sua

administração

• se a administração competir

separadamente a vários

administradores, cada um

pode impugnar operação

pretendida por outro,

cabendo a decisão aos

sócios, por maioria de votos

• são irrevogáveis os poderes

do sócio investido na

administração por cláusula

expressa do Contrato Social,

salvo justa causa,

reconhecida judicialmente, a

pedido de qualquer dos

sócios

• são revogáveis, a qualquer

tempo, os poderes

conferidos a sócio por ato

separado, ou a quem não

seja sócio

• todas as modificações do

Contrato Social que tenham

por objeto matérias indicadas

no art. 977 do CC

dependem da unanimidade

de votos

• as demais podem ser

deliberadas por maioria

absoluta de votos, contados

conforme o valor das quotas

de cada um, desde que o

Contrato Social não exija

unanimidade

• em caso de empate,

prevalece a decisão

• incumbe a uma ou mais

pessoas, designadas no

Contrato Social ou em ato

separado

• a administração atribuída no

Contrato a todos os sócios

não se estende aos que

posteriormente adquiram

esta qualidade

• faculta-se a administração a

não-sócios, se assim

estabelecido no Contrato

Social

• prazo de 10 dias para que se

requeira junto ao registro

competente: investidura de

administrador designado em

ato separado e cessação do

cargo de administrador

• a renúncia de administrador

torna-se eficaz em relação a

terceiros após registro e

publicação

• 3/4 do capital para alteração

contratual, incorporação,

fusão, dissolução da

Sociedade ou cessação de

seu estado de liquidação

• mais da metade do capital

para modo de remuneração

de administradores e pedido

de concordata

• 3/4 do capital para eleição de

administrador-sócio no

contrato e mais da metade

do capital se nomeado em

ato separado

• Unanimidade do capital para

• Conselho de Administração

(existência facultativa,

exceto naquelas de capital

autorizado); e/ou

• Diretoria

• as deliberações da

Assembléia Geral,

ressalvadas as exceções

previstas em lei ou no

Estatuto, são tomadas por

maioria absoluta de votos

Administração

Quorum de Deliberação

Sociedade Simples Sociedade Limitada S/A (Fechada)

Edição Especial Novo Código Civil – Machado, Meyer, Sendacz e Opice Advogados - LEXpress - maio/junho 20026

Limitação das Responsabilidades

dos Sócios

sufragada pelo maior número de

sócios e, se o mesmo

persistir, decidirá o juiz

• o Contrato deve indicar se

os sócios respondem, ou

não, subsidiariamente, pelas

obrigações sociais

• se os bens da sociedade

forem insuficientes para o

pagamento de suas dívidas,

respondem os sócios pelo

saldo, na proporção em que

participem das perdas

sociais, salvo cláusula de

responsabilidade solidária

• os bens particulares dos sócios

eleição de administrador não-

sócio se o mesmo não estiver

integralizado e 2/3 do

capital, caso o mesmo esteja

totalmente integralizado

• 2/3 do capital para

destituição de administrador-

sócio no contrato e mais da

metade do capital se

nomeado em ato separado

• 3/4 ou mais da metade do

capital para a destituição de

administrador não-sócio no

contrato (há divergência

interpretativa) e mais da

metade do capital se

nomeado em ato separado

• maioria de votos dos

presentes, nos demais casos,

salvo disposição legal ou

contratual diversa

• os votos deverão ser

contados conforme o valor

das quotas de cada um

• em caso de empate,

prevalece a decisão

sufragada pelo maior número

de sócios e, se o mesmo

persistir, decidirá o juiz

• nenhum sócio pode votar

matéria que lhe diga respeito

diretamente

• a responsabilidade de cada

sócio é restrita ao valor de suas

quotas, mas todos respondem

solidariamente pela

integralização do capital social

• as deliberações infringentes à

Lei e ao Contrato tornam

ilimitada a responsabilidade

dos que expressamente a

aprovaram; as demais

vinculam todos os sócios,

ainda que ausentes ou

dissidentes

• a responsabilidade dos sócios

ou acionistas é limitada ao

preço de emissão das ações

subscritas ou adquiridas

Sociedade Simples Sociedade Limitada S/A (Fechada)

Edição Especial Novo Código Civil – Machado, Meyer, Sendacz e Opice Advogados - LEXpress - maio/junho 2002 7

Capital Social

Cessão da Participação

somente serão executados por

dívidas da sociedade depois de

executados os bens sociais

• o sócio admitido em

sociedade já constituída não

se exime das dívidas sociais

anteriores à admissão

• representado por quotas, de

valor igual ou desigual

• admitida a contribuição dos

sócios em serviços

• produz efeitos perante a

sociedade e terceiros

mediante o consentimento

da unanimidade dos sócios

• responde o cedente

solidariamente com o

cessionário, perante a sociedade

e terceiros, pelas obrigações que

tinha como sócio, pelo prazo de

2 anos, contados da averbação

da alteração contratual

• representado por quotas,

iguais ou desiguais

• vedada a contribuição dos

sócios que consista em

prestação de serviços

• pela exata estimação dos

bens conferidos ao capital

social respondem

solidariamente todos os

sócios, por 5 anos

• pode ser aumentado desde

que já integralizadas as

quotas, estando

expressamente previsto o

direito de preferência –

prazo de 30 dias

• redução do capital para

restituição aos sócios –

sujeita-se ao prazo de 90

dias para oposição dos

credores (contados da

publicação do ato de sua

deliberação), findo o qual

pode tornar-se eficaz

• na omissão do Contrato, o

sócio pode ceder sua quota,

total ou parcialmente, a

quem seja sócio,

independentemente de

audiência dos outros, ou a

estranhos, se não houver

oposição de titulares de mais

de 1/4 do capital social

• representados por ações,

ordinárias e/ou preferenciais

• exigência de integralização

mínima de 10% do capital

subscrito no ato da constituição

• a avaliação dos bens

conferidos será feita por 3

peritos ou empresa

especializada, e os avaliadores

e o subscritor respondem

perante a sociedade, seus

acionistas e terceiros pelos

danos causados

• pode ser aumentado desde

que já integralizados, no

mínimo, 3/4, estando

expressamente previsto o

direito de preferência – prazo

de 30 dias

• redução do capital para

restituição aos sócios –

sujeita-se ao prazo de 60 dias

para oposição dos credores

(contados da publicação do

ato de sua deliberação), findo

o qual pode tornar-se eficaz

• o Estatuto pode impor

limitação à circulação das

ações, desde que as regule

minuciosamente e não

impeça sua negociação

• responsabilidade solidária dos

cedentes e cessionários pelo

pagamento das prestações que

faltarem para integralização

das ações transferidas, pelo

prazo de 2 anos, contados da

transferência

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• conforme determinação das

regras supletivas

• Livro de Atas da

Administração (CC, art. 1062)

• Livro de Atas e Pareceres do

Conselho Fiscal (CC, art. 1067)

• Livro de Atas da Assembléia

(CC, art. 1075, § 1º)

• os sócios são obrigados a

repor os lucros e quantias

retiradas a qualquer título,

ainda que autorizados pelo

Contrato, caso sua

distribuição se dê com

prejuízo do capital

• responsabilidade dos sócios /

administradores por voto

contrário ao interesse social

• responsabilidade do

administrador nomeado por

instrumento em separado,

pessoal e solidária com a

sociedade, pelos atos por ele

praticados antes da

averbação do correspondente

ato de nomeação

• responsabilidade do

administrador perante a

sociedade pela prática de

operações quando o mesmo

sabia, ou devia saber, que

estava agindo em desacordo

com a maioria

• responsabilidade solidária

dos administradores perante

a sociedade e terceiros por

culpa no desempenho de

suas funções

• obrigação de prestação

anual de contas dos

administradores aos sócios

• sem previsão legal

• salvo estipulação em contrário,

o sócio participa dos lucros e

das perdas, na proporção das

respectivas quotas; mas aquele

cuja contribuição consista em

serviços somente participa dos

lucros na proporção da média

do valor das quotas

• é nula cláusula contratual que

exclua qualquer sócio de

participar dos lucros e das perdas

• a distribuição de lucros ilícitos

ou fictícios implica na

• o administrador não é

pessoalmente responsável

pelas obrigações que contrair

em nome da sociedade e em

virtude de ato regular de

gestão, exceto se proceder,

dentro de suas atribuições,

com culpa ou dolo, ou ainda

mediante violação da lei ou

do Estatuto

• LSA, art. 100

• compete à Assembléia Geral

Ordinária deliberar sobre a

destinação do lucro líquido do

exercício e a distribuição de

dividendos, observadas as

disposições legais e estatutárias

• a distribuição de dividendos

com inobservância das

disposições legais implica

responsabilidade solidária dos

administradores e fiscais, que

deverão repor à sociedade as

importâncias distribuídas. Os

Responsabilidade dos

Administradores

Livros Societários

Participação nos Lucros

Sociedade Simples Sociedade Limitada S/A (Fechada)

Edição Especial Novo Código Civil – Machado, Meyer, Sendacz e Opice Advogados - LEXpress - maio/junho 2002 9

• além das hipóteses já

mencionadas, obrigato-

riedade de publicação do

anúncio de convocação para

Assembléias de Sócios

(exceto em casos de presença

totalitária ou declaração

expressa de todos os sócios

quanto à ciência do local,

data, hora e ordem do dia)

• admitida a exclusão de sócio por

justa causa (atos de inegável

gravidade), desde que haja

previsão contratual neste sentido

• exclusão de sócio falido ou

que tenha tido sua quota

liquidada por credor em

processo de execução

• podem os demais sócios

transferir para si ou para

terceiros as quotas do sócio

remisso

• direito de recesso nas

hipóteses previstas em lei

• conforme determinação da

regra supletiva

administradores que a

realizarem e dos sócios que

os receberem, conhecendo

ou devendo conhecer-lhes a

ilegitimidade

• sem previsão legal

• exclusão de sócio apenas por

via judicial, exceto nos casos

de descumprimento da

obrigação de integralizar o

capital social, sócio falido ou

que tenha tido sua quota

liquidada por credor em

processo de execução

• a retirada, exclusão ou morte

do sócio não o exime, ou a

seus herdeiros, da

responsabilidade pelas

obrigações sociais, por 2 anos

• admitida a falta de

pluralidade de sócios pelo

prazo máximo de 180 dias

Publicações

Retirada, Exclusão etc.

Pluralidade de Sócios

acionistas não são obrigados a

restituir os dividendos

recebidos de boa fé

• obrigatoriedade da publicação

de editais de convocação para

Assembléias (exceto em casos

de presença totalitária), Atas

das Assembléias e das Reuniões

do Conselho de Administração

destinadas a produzir efeitos

perante terceiros ou que

contenham eleição de

administradores, observadas as

exceções previstas em lei para

as sociedades com menos de 20

acionistas e PL inferior e

R$ 1 milhão

• obrigatoriedade de publicação

das demonstrações financeiras,

exceto em relação à publicação

da Demonstração das Origens

e Aplicações de Recursos nas

sociedades com PL não

superior a R$ 1 milhão, na data

do balanço

• direito da Sociedade de

determinar a venda de ações

do acionista em mora em

leilão especial, na Bolsa

• direito de recesso nas

hipóteses previstas em lei

• admitida a falta de pluralidade de

sócios, até a Assembléia Geral

Ordinária do ano subseqüente

Sociedade Simples Sociedade Limitada S/A (Fechada)

Edição Especial Novo Código Civil – Machado, Meyer, Sendacz e Opice Advogados - LEXpress - maio/junho 20021 0

Como era …• necessidade de quitação dos débitos condominiais para vender ou

transferir direitos sobre as unidades autônomas;• não havia previsão legal que condicionasse o direito dos condôminos a

voto nas assembléias à quitação das obrigações condominiais;• a lei vedava a locação de vaga na garagem a pessoas estranhas ao

condomínio;• a lei não previa a forma de cálculo da indenização para caso de

destruição total ou desapropriação do edifício.

Como ficou …• os débitos referentes ao condomínio, inclusive multas e juros

moratórios, ficam a cargo do adquirente;• previsão legal que condiciona o direito a voto nas assembléias à

inexistência de débitos para com o condomínio;• autorizada a locação da garagem a pessoas estranhas ao condomínio

desde que, em iguais condições, seja respeitado o direito de preferênciados condôminos e possuidores;

• previsão legal que estipula a forma de cálculo da indenização nos casosde destruição ou desapropriação do edifício.

Imobiliário

Condomínio terá novas regrasLeonardo Di Cola Nunes da Silva e Leonardo Ruiz Machado

O condomínio edilício é atualmente regido

pela Lei 4.591/64, que sofrerá alteraçõessignificativas após a entrada em vigor do

Novo Código Civil. Dentre elas, merecedestaque a limitação do percentual da multa

aplicável ao condômino que deixar de pagarsuas contribuições mensais para as despesas

do condomínio, que era de 20% e passou aser de, no máximo, 2% sobre o valor total do

débito. A multa para o condômino que, entreoutras infrações, alterar a fachada do prédio

ou não realizar obras necessárias em suaunidade também ficou limitada ao quíntuplo

do valor das contribuições mensais. Foiprevista também a possibilidade de aplicação

de multa de 10 vezes o valor dascontribuições mensais para o condômino que,

por seu reiterado comportamento anti-social,

tornar difícil a convivência com os demais.

Outra inovação digna de nota é apossibilidade de venda ou transferência de

direitos sobre a unidade condominial, quepassa a não mais estar condicionada à

quitação de todas as obrigações junto aocondomínio. Desta forma, o apartamento

pode ser vendido ainda que sobre o mesmoexistam débitos pendentes. Assim, é

necessário cuidado redobrado ao adquiriruma unidade condominial, pois nesse caso o

comprador passará a responder por todos osdébitos do vendedor relativos àquele imóvel.

Recomenda-se que, ao adquirir determinadaunidade, o comprador se informe

previamente com a administradora docondomínio sobre a existência de dívidas.

Vale mencionar ainda que o direito de voto nas

assembléias ficará condicionado à quitação das

obrigações condominiais, disposição comumnas convenções que passou a constar

expressamente no Novo Código Civil.Outra alteração a ser verificada diz respeito à

vaga na garagem; anteriormente a lei vedavao aluguel deste espaço para pessoas

estranhas ao condomínio. Com o advento doNovo Código, será possível alugar a vaga na

garagem para não-moradores, observando-se, contudo, que em iguais condições os

condôminos e possuidores (locadores, porexemplo) das unidades condominiais têm

direito de preferência.Por fim, no caso de destruição total ou

desapropriação do edifício, a indenização aque fará jus o condômino será proporcional

ao valor de sua unidade.

Contratos

Nova Carta mantém normas do CDCDaniela Cristina Alves Santana

O atual Código Civil Brasileiro (1916) é umreflexo da mentalidade do século XIX,

trazendo em seu bojo um arsenal de regrasindividualistas, dentre as quais se destaca o

princípio de que o “contrato é lei entre aspartes”. Aplicado de forma inflexível,

gerava grandes disparidades entre as partesde um contrato, que ficavam vinculadas a

obrigações que, muitas vezes, nãopoderiam mais ser cumpridas, ou por

onerosidade excessiva, ou pela alteraçãodas condições financeiras de uma delas.

Foi ganhando espaço no século XX a“teoria da imprevisão”, pautada no

solidarismo. Tal teoria introduz apossibilidade da revisão das obrigações

pactuadas entre duas pessoas, tendo em

vista a ocorrência de fato imprevisível quecause onerosidade excessiva do contrato a

uma das partes.O Código de Defesa do Consumidor –

CDC – promulgado com base nessa novateoria, trouxe, expressamente, a idéia da

boa-fé nos contratos, buscando equilibraras relações de consumo por meio de uma

maior proteção aos consumidores em facedos fornecedores, utilizando-se do conceito

da hipossuficiência.A possibilidade de revisão de contratos nos

quais há uma relação de consumo vemestampada no CDC, por meio do qual foi

dada a possibilidade de modificá-los, quandoexistem prestações desproporcionais entre

as partes, ou mesmo quando ocorrem fatos

supervenientes que tornem as prestaçõesexcessivamente onerosas.

O Novo Código Civil, buscando diminuir oabismo existente entre o moderno Direito

do Consumidor e a antiga lei de 1916, trouxeem vários de seus artigos a possibilidade de

revisão dos contratos entre particulares, pormeio da consagração do princípio da função

social dos contratos.Embora o Novo Código tenha sido

promulgado posteriormente ao CDC, é certoque este não deixará de ser aplicado, por ser

lei especial que cuida tão-somente dasrelações de consumo, nas quais é presumida a

hipossuficiência do consumidor, tratando anova Carta Civil de relações entre particulares

que se encontram em situação equilibrada.

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Família

Lei Civil eleva o cônjuge àcondição de herdeiro necessário

Fernanda Villares Matta

Dentre as mudanças mais significativas do

Código Civil destaca-se a elevação do

cônjuge à condição de herdeiro necessário.

Quando alguém falece, sua sucessão

(entenda-se a partilha do patrimônio

deixado) pode ser testamentária ou legítima.

É testamentária se o falecido deixou

disposição de última vontade (testamento).

Nesse contexto, o testador é obrigado a

reservar o equivalente a 50% de seu

patrimônio existente ao tempo de

falecimento – a denominada parte legítima

– aos herdeiros necessários, que, segundo o

Código Civil de 1916, são os descendentes

(leia-se filhos, netos, bisnetos etc.) e, na

sua falta, os ascendentes (leia-se pais, avós,

bisavós etc.). A outra metade dos bens –

parte disponível – pode ser testada da

forma que melhor lhe aprouver. Logo, de

acordo com o Código Civil de 1916, na falta

de descendentes ou ascendentes (herdeiros

necessários), o testador pode livremente

dispor sobre a totalidade de seus bens, não

havendo qualquer dispositivo legal que o

obrigue a deixá-los ao cônjuge, que, se não

contemplado em testamento com a parte

disponível do patrimônio, nada herda.

Por sua vez, a sucessão é legítima quando o

falecido não deixou testamento e seus bens

são partilhados conforme determina a lei.

Nesse sentido, dispõe o Código Civil de

1916 que a herança será partilhada segundo

a chamada ordem de vocação hereditária,

que determina, numa linha de raciocínio

excludente, que havendo descendentes do

de cujus (falecido) a totalidade do

patrimônio inventariado será por eles, em

igualdade de condições, dividida; na sua

(deles, descendentes) falta, recebem-na os

ascendentes; e, na falta da categoria

anterior, o cônjuge sobrevivente.

Entretanto, o Código Civil de 2002 elevou

o cônjuge à qualidade de herdeiro

necessário, alterando, conseqüentemente,

a ordem de vocação hereditária.

Diante disso, na lavratura de um testamento,

o testador terá de reservar a legítima (50%

do patrimônio) aos descendentes em

concorrência com o cônjuge, na falta destes,

aos ascendentes, igualmente em

concorrência com o cônjuge, e, finalmente,

se não houver descendentes ou ascendentes,

ao cônjuge. Outrossim, na esteira do Código

Civil de 1916, uma vez reservada a respeitada

eventual legítima, poderá o testador dispor da

forma que lhe aprouver acerca da parte

disponível (outros 50%).

No que tange à sucessão legítima (sem

testamento), o Código Civil de 2002

alterou a anterior ordem de vocação

hereditária incluindo o cônjuge – em

virtude de sua elevação à condição de

herdeiro necessário – nas duas primeiras

categorias de recebimento de herança,

contemplando-o em concorrência com

descendentes e ascendentes. Determina

referido Código que "a sucessão legítima

defere-se na ordem seguinte:

I) aos descendentes, em concorrência

com o cônjuge sobrevivente, salvo se

casado este com o falecido no regime

da comunhão universal, ou no da

separação obrigatória de bens (...);

ou se, no regime da comunhão

parcial, o autor da herança não

houver deixado bens particulares;

II) aos ascendentes, em concorrência

com o cônjuge; III) ao cônjuge

sobrevivente (...)".

Segundo o Código Civil de 2002, portanto, sehouver descendentes o cônjuge sobrevivente

concorre à herança se for casado sob osseguintes regimes:

I) comunhão parcial de bens (e o

falecido não tiver deixado bens

particulares, havidos antes do

casamento ou durante ele a título

gratuito, leia-se, herança ou doação);

II) separação total de bens (excluído o

regime da separação obrigatória,

cujo caso mais comum é o de

casamento de pessoa com mais de 60

anos de idade); e

III) participação final dos aqüestos,

regime criado pelo Código Civil de

2002, que dispõe que durante o

casamento os cônjuges têm

patrimônios distintos – de modo que

a titularidade do bem reflete sua

propriedade – administráveis por

eles de forma separada. Uma vez

dissolvida a sociedade conjugal

pautada segundo referido regime,

apurar-se-á haveres, de parte a

parte, relativamente a bens

adquiridos a título oneroso durante

o casamento (aqüestos), a fim de

igualar os quinhões de cada cônjuge

mediante o pagamento, a ser feito

por aquele cujo patrimônio for

maior, da diferença ao outro até o

limite de sua meação. Há, dessa

forma, uma compensação

monetária, sem que isso importe

divisão efetiva do bem sob

titularidade privada de um ou outro.

Estas são, em linhas gerais, as mudanças com

relação à sucessão de cônjuge contidas noCódigo Civil que entrará em vigor no início

do ano que vem. A partir de 2003, além deherdeiros necessários e, portanto,

obrigatoriamente contemplados emtestamento em concorrência com

descendentes, se for o caso, ou comascendentes, passarão eles a concorrer à

herança, nos casos de sucessão legítima (semtestamento), com os descendentes e, na sua

falta, com os ascendentes.

Edição Especial Novo Código Civil – Machado, Meyer, Sendacz e Opice Advogados - LEXpress - maio/junho 20021 2

São Paulo (SP): Escritório CentralR. da Consolação, 247 – 4º andar01301-903 – São Paulo – SP – BrasilTel.: (+11) 3150-7000 – Fax: (+11) 3150-7071e-mail: [email protected]ília (DF)Edifício Corporate Financial CenterSCN – Quadra 2 – Bloco A – 9º andar – Sala 904 A70712-900 – Brasília – DF – BrasilTel.: (+61) 327-2065 – Fax: (+61) 328-5224e-mail:[email protected] de Janeiro (RJ)Centro Empresarial Internacional RioAv. Rio Branco, 1 – Bloco B – 9º andar20090-003 – Rio de Janeiro – RJ – BrasilTel.: (+21) 2253-9141 – Fax: (+21) 2253-6143e-mail: [email protected] (BA)R. Raul Drummond, 1540130-150 – Salvador – BA – BrasilTel.: (+71) 339-1400 – Fax: (+71) 337-0441e-mail: [email protected] Alegre (RS)Edifício Sir WinstonAv. Dom Pedro I I, 1.351 – Cj. 601 e 70190550-143 – Porto Alegre – RS – BrasilTel.: (+51) 3325-6263 – Fax: (+51) 3342-0406e-mail: [email protected] Iorque110 East 55th Street – 10th FloorNew York – NY – 10022Tel.: (1 212) 784-8802 – Fax: (1 212) 758-1028e-mail: [email protected]

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Família

“Mea Culpa”Ana Luísa Fagundes Rovai

Aqueles que se dedicam ao Direito de Famíliasabem quão incômoda é a forçosa busca àapuração da culpa dos parceiros (cônjuges ouconviventes) no insucesso de uma união, que a leiimpõe a todos os aplicadores do direito que nessaárea se aventuram (advogados, magistrados ecuradores de família).

O incômodo se deve a dois motivos distintos.

Primeiramente porque a busca da culpa jurídica(isto é, da culpa apurada segundo as objetivasnormas insertas em nosso atual Código Civil – enão de acordo com nossos valores, crenças emoral) apenas serve para amargar ainda maisaqueles que, diante da situação extrema que avida lhes impôs, já estão suficientementeamargurados. Exacerbam-se os ânimos,revolvem-se as mágoas, os episódios tristes e osacontecimentos que um dia se pensou teremficado para trás.

Será que o legislador não poderia ter secontentado com o processo reflexivo e auto-crítico que com tanto vigor aflora nestesmomentos especiais? Será que não poderia terse contentado com o sistema humano de auto-flagelação? Ora, despiciendo dizer que ospróprios protagonistas de uma sempre dura edolorosa ruptura (ainda que desejada) já seencarregam de formular suas perguntas, deviver sua dor, de apontar os culpados, deencontrar seus erros e desacertos…

O segundo motivo do incômodo se deve àevidente falha no processo judicial de apuração doconsorte responsável pela falência da união. Sim,porque não fosse demais a necessidade de alguémser tachado como culpado pelo insucesso de umcasamento ou de uma convivência estável (o que,juridicamente falando, significa uma sentençajudicial na qual o juiz condena um dos parceirospor ter infringido tais e tais deveres matrimoniais),parece-me evidente que nenhum magistrado, pormais sábio e letrado que seja, jamais conseguirá,pela análise de um estéril processo, saber, comprofundidade, tudo o que efetivamente se passouem anos de tão íntima relação.

Como saber qual a efetiva causa de umrompimento?

Uma vida a dois, quando concebidaefetivamente como uma vida a dois, seja sob aforma de casamento ou união estável, nãoacaba da noite para o dia, em um piscar deolhos. Trata-se de um verdadeiro processo, peloqual ambos os parceiros passam, mas que,dificilmente, se inicia e finda no mesmo

momento (daí porque nem sempre são possíveisas separações amigáveis).

Como um juiz, que vem a conhecer as partes pormeio de petições há pouco apresentadas por seusrespectivos advogados, poderá dizer com exatidãoqual o responsável pelo fracasso daquela união?

Mas por que então, apesar das críticas, a culpacontinua sendo uma realidade em nossosistema jurídico? Por que então o Novo CódigoCivil Brasileiro, promulgado para acompanharas mudanças de nossa sociedade, não aboliu aperquirição da culpa em processos deseparação litigiosos?

A resposta não está na culpa propriamente dita,mas nos efeitos decorrentes de sua apuração,notadamente no que diz respeito ao direito aalimentos, ou ao recebimento de pensãoalimentícia, como se diz popularmente. Comosabido, em nosso sistema atual, o cônjuge ouconvivente considerado culpado pelo fracasso deum relacionamento perde o direito de pleitearalimentos em face do outro, ainda que delesnecessite para sobreviver. Alimentos entrecônjuges e conviventes só se prestam aosinocentes. Trata-se, nesse particular, de umcaráter punitivo da pensão alimentícia.

Tal caráter punitivo foi ainda mantido no NovoCódigo Civil, visto que, como já mencionado,permanece no projeto a perquirição da culpa e osefeitos dela decorrentes.

Há, porém, ventos de mudanças. O NovoCódigo Civil, em seus artigos 1.702 e 1.704, deforma inédita no Direito Brasileiro, relativizou asconseqüências da culpa ao permitir que ocônjuge ou convivente culpado possa pleitearalimentos ao outro consorte, ainda que restritosà sua subsistência, se da pensão alimentícianecessitar para viver e não puder contar com aajuda de parentes.

Assim, diferentemente do que até aqui ocorria, aculpa, embora possa obstar o recebimento pelocônjuge ou convivente de pensão alimentíciacapaz de suprir todas as suas necessidades e demanter o mesmo padrão de vida até então levadona constância do casamento ou da união estável,não tem mais o condão de permitir que fiquemabsolutamente desamparados aqueles (ainda queculpados) que não gozam de recursos parasubsistir e tampouco podem contar com a ajudade parentes. Nesse caso, poderão pleitear auxíliofinanceiro ao ex-cônjuge/convivente, restrito,contudo, ao suporte das necessidades básicas doalimentado (como alimentação, saúde e moradia).