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1 www.revistabmais.com outubro e novembro 2011 Revista [B+]

Revista B+ novembro 2011

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Edição de novembro da revista B+ de Salvador destaca desafios da Região Metropolitana. A reportagem também ouviu este vereador. Mais uma vez defendi o metrô até Portão e chamei atenção para os problemas causados pelo pedágio novo em Lauro de Freitas.

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InspIração

Viver em uma cidade justa, limpa, acessível, alegre, produtiva, conectada, cultural, sustentável. Um sonho? Talvez. Possível? Com certeza. Cidades que superaram desafios e subiram nos trilhos do desenvolvimento são muitas. A receita para o sucesso pode ser incerta, mas três elementos estão sempre presentes: cidadania, lide-rança e inovação. Três eixos temáticos que norteiam a edição de número 10 da Revista [B+].

Em outubro de 2011, começamos a contagem regres-siva dos 12 meses que nos restam para decidir quem vai dar continuidade aos trabalhos em prefeituras e Câma-ras de Vereadores em todo o país. Momento de decisão, momento também de exercer nossos valores de cidadãos. Um deles é o de observar, conhecer o problema, para saber que decisão tomar.

Nesse sentimento, trouxemos para as páginas da [B+] luz em questões fundamentais para o desenvolvimento da capital da Bahia. Salvador, a terceira maior cidade do país, cresce, abraça os municípios vizinhos e amplia os seus próprios problemas administrativos. Mas que, por ser cidade-sede da Copa do Mundo 2014, vive um momentos de motivação e esperança por quem quer ver uma cidade melhor.

Gestores públicos, sociedade civil e a iniciativa priva-da só falam nisso e creem neste momento como a melhor saída para Salvador se encontrar com o futuro. Sendo assim, são apresentadas enxurradas de projetos de mo-bilidade, segurança, restauração, modernização em todos os cantos da cidade, e também do estado. Um cenário de previsões que torcemos que sejam realizadas. Por isso, firmamos um compromisso: o de acompanhar o que foi dito e apresentado nas matérias a seguir. E convidamos você a fazer o mesmo.

Uma atitude que se relaciona a dois outros destaques desta edição. O desafio da liderança em um novo cenário de valores, que é o tema debatido por César Souza, mas também alertado na matéria “O valor da gentileza” – uma contextualização sobre a qualidade do serviço que nos é prestado e o quanto podemos ganhar com ele.

E também uma liderança que nos impulsiona para o novo. Empresas e pessoas com ideais inovadores que estimulam a economia local, criam novas perspectivas e quebram velhos paradigmas. Assim, fomos conhecer os casos dos empresários Wellington Freire, da Softwell, Alexandre Pauperio, da Brain Brasil Inovação, Fred Barreto, na Bahia Marina, Luciana Galeão, na moda, as ideias inspiradoras do TEDx Pelourinho, as ações do Mo-vimento Nossa Salvador e tantas outras experiências que serão foleadas nas páginas seguintes. Boa leitura!

A Redação.

edito r ial

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S alvador está maior e mais complexa. O que poucos percebem é que a cidade ultrapassou limites munici-pais e incorporou as cidades vizinhas, especialmente Lau-

ro de Freitas. Ao exportar desacertos, ampliou o tamanho dos seus próprios problemas. Até porque a Região Metropolitana de Salvador (RMS), desregulamentada, continua a ser uma instância sem consequências adminis-trativas quando deveria servir para “integrar a organização, o planejamento e a execução de funções públicas de interesse comum”, conforme reza a Constituição.

Na prática, as administrações municipais tratam de ignorar-se mutuamente. Quando não por razões de interesse político-partidário, por mera distração. Nem os governos estadu-ais, que lidam com panoramas mais amplos, estão livres de errar. Um dos exemplos mais recentes é a implantação de uma praça de pedágio no Km 6 da BA-526, a rodovia CIA-Aeroporto.

Como o trecho em questão se encontra em território de Salvador, ninguém se lembrou de chamar a administração pública de Lauro de Freitas para conversar. Ali, paredes meias com a rodovia estadual, as comunidades de Areia Branca e Capelão foram transformadas em rota de escape ao pedágio. Apesar de fazerem parte de capital, as duas localidades são administradas pelo município vizinho.

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em meio a decisões sobre o futuro sistema de mobilidade para atender demandas da copa do mundo e crescimento da capital baiana, a região metropolitana de salvador observa virem à tona problemas de uma falta de gestão intermunicipal

a Lógica metropoLitana de

SaLvador

por rogério Borges

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da Mata (PSB) busca apoio para criar a fórmula alternativa da “Câmara Metropo-litana”, que seria formada por membros das câmaras municipais. A ideia básica é “conferir legitimidade” a decisões supra-municipais que os governos estaduais implantariam. A vantagem em relação à proposta petista estaria na ausência de disputa pelo poder. Marta Suplicy reconhece que fazer aprovar o novo ente federativo “não é fácil porque o governa-dor não vai querer mexer, o prefeito vai achar que vai perder poder”.

Em Lauro de Freitas, Moema Grama-cho prefere uma fórmula não institucio-nal. Ela propõe um fórum permanente de discussão que trataria de tudo o que diz respeito ao conjunto de municípios da região metropolitana, “sem envolver a disputa de poder”. Ao mesmo tempo, con-sidera que os consórcios intermunicipais ainda têm um papel a desempenhar.

Parte da Região Metropolitana de Salvador forma também o Consórcio Inter-municipal da Costa dos Coqueiros (CICC), integrado por 11 municípios. Para Moema, que preside a entidade, o consórcio só não funciona como entidade gestora da região metropolitana porque Salvador “se recusa a participar”. Criado por inspiração da Fundação OndAzul há 12 anos, o CICC atua como uma espécie de cooperativa de municípios, essencialmente reduzindo custos ao partilhar recursos e serviços. As diferenças começam nos planos diretores de cada um, divorciados entre si, cons-truídos como se a conurbação fosse mero detalhe nos mapas.

Sistema viário oeste

Formalmente parte da RMS, mas sepa-rados da metrópole pela Baía de Todos os Santos, Itaparica e Vera Cruz estão ainda longe de sofrer os efeitos do crescimento de Salvador. Mas no momento em que anunciou, em setembro, o projeto da futura ponte, o governo estadual assinou também convênios para rever os planos diretores dos dois municípios da Ilha. Em

Instado a investir do lado oposto, o po-der público promete agora adotar o “mapa correto”. Mesmo assim, sem certezas. De acordo com o secretário estadual do Pla-nejamento, zezéu Ribeiro, tudo depende de variáveis técnicas e financeiras. O governador Jaques Wagner (PT) já garan-tiu que o metrô chegará ao km 3,5 da Estrada do Coco, junto ao Centro de Lauro de Freitas, mas cobrir os 7,8 km até o Rio Joanes (bairro de Portão) continua na esfera das possibilidades. zezéu Ribeiro vê obstáculos como a falta de espaço para implantar um pátio de manobras. Além disso, falta viabilizar o financiamento do Governo Federal.

Interessada em garantir o metrô, a prefeita de Lauro de Freitas, Moema Gramacho (PT), defende que a Linha 2 seja pensada “numa perspectiva metropo-litana” desde o princípio, mesmo que os trilhos não alcancem a margem do Joanes num primeiro momento. A prefeita vê problemas na falta de uma abordagem metropolitana também em outros setores, como o da saúde.

Um exemplo é que cerca de 40% da clientela do Hospital Municipal Jorge Novis, em Itinga, é residente em Salvador. “Devia haver uma forma de compen-sação”, diz Moema, já que os recursos federais recebidos pelo município para manter o atendimento estão relacionados à população contada pelo IBGE apenas em Lauro de Freitas, mas o atendimento é intermunicipal.

Governo metropolitano

Longe de ser um problema baiano, a falta de uma gestão metropolitana aflige todos os grandes aglomerados do país e começa a mobilizar agentes políticos. A senadora Marta Suplicy (PT), por exemplo, propõe a criação de um novo ente federa-tivo, acima dos municípios e abaixo dos estados. Um “governo metropolitano” para administrar setores como mobilidade, transporte, segurança e saúde.

Também no Senado, a baiana Lídice

A falta de um planejamento metropolita-no para a nova praça de pedágio não trouxe problemas apenas para a concessionária Bahia Norte. Os moradores também não gostaram do fluxo rodoviário que passou a atravessar comunidades antes bucólicas. Provocado, o governo estadual tenta agora mediar uma solução que leve em conta o cenário intermunicipal.

Para Antônio Rosalvo (PSDB), presidente da Câmara Municipal de Lauro de Freitas e morador daquela região, “a miopia municipa-lista traz prejuízos às empresas, aos cidadãos, à sociedade como um todo”. É como “tra-balhar em cima do mapa errado”, disse ele depois de mais uma reunião com a concessio-nária para tentar corrigir o problema.

Em setembro, durante uma audiência pública que discutiu a mobilidade urbana em Lauro de Freitas, Rosalvo já havia defendido uma “abordagem metropolitana”. Mas, só depois de definido pelo Governo do Estado o modal que atravessará a Avenida Paralela é que a cidade “geradora da maioria do tráfego de passageiros” foi chamada à mesa.

O que ficou claro, de acordo com o enge-nheiro Antônio Gobbo, da Queiroz Galvão, é que a Paralela “não tem demanda própria”. Cerca de 60% do tráfego, que ali circula, tem origem em outros polos urbanos. Assim é fácil compreender que o aeroporto internacional de Salvador não vai gerar um movimento de passageiros suficiente para viabilizar econo-micamente os 22 Km da Linha 2 do metrô.

Parte do problema é que o metrô só se estenderá pela Paralela para atender as exigências da Fifa para a Copa 2014: ligar o aeroporto ao estádio da Arena Fonte Nova, com um sistema de transporte público apro-priado à ocasião.

o mapa correto

Os gestores públicos da capital deseja-riam, a esta altura, que a francesa Latécoére tivesse construído o aeródromo, nos anos 30 do século passado, mais para os lados de Pirajá. É a partir daquela região que Salvador demanda um sistema de transporte de massa qualificado, e não do norte.

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Com a ponte, surgirá um anel rodoviário na

Baía de Todos os santos com impactos que se

farão sentir até Camaçari e Dias d’Ávila

as diferenças começam

nos planos diretores de

cada um, divorciados

entre si, construídos

como se a conurbação fosse mero

detalhe nos mapas

os governos municipais

podem não estar

convencidos da necessidade

de gerir a metrópole como um

todo, mas a iniciativa

privada já trabalha com

o “mapa correto” – sem

desprezar as vantagens do descompasso

administrativo

(Acima) Levantamento aerofotogramétrico realizado pela conces-sionária mostra (em azul) a rota de trânsito que afeta as comunida-des de Areia Branca e Capelão.

(Abaixo) Anel logístico regional previsto no plano diretor de Maragogipe, já incluindo a ponte sobre a Baía de Todos os Santos, vai afetar também os municípios da RMS

BORGES
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Vera Cruz, o prefeito Antônio Magno de Souza Filho (PT) ainda administra um território com menos de 40 mil habitantes e problemas típicos de cidades do interior. A partir de 2018, sete anos e R$ 7 bilhões mais tarde, os municípios da ilha passarão a sentir toda a pressão da expansão de Salvador.

O objetivo da revisão dos planos direto-res é planejar a ocupação urbana que será estimulada pelo Sistema Viário Oeste (SVO) – de que a ponte faz parte – de modo que este sirva à ilha tanto quanto se servirá dela. Com a ponte, surgirá um anel rodoviário na Baía de Todos os Santos com impactos que se farão sentir até Camaçari e Dias d’Ávila. A lógica aconselha reformular também os pla-nos diretores dos municípios da RMS, agora já de forma a refletir e acolher as últimas novidades. A secretaria estadual de Desenvol-vimento Urbano acaba de se dar conta disso, criando uma nova Coordenação de Regiões Metropolitanas. Uma das opções é formular um plano diretor metropolitano ou adequar os vários planos uns aos outros.

Responsável pela recente elaboração ou revisão dos planos diretores de Saubara, Ma-ragogipe e Salinas da Margarida, no Recônca-vo, o arquiteto e urbanista Edmundo Ramos aplicou à região um planejamento intermuni-cipal, integrado e complementar – uma lógica que os municípios da RMS desconhecem com-pletamente. No Recôncavo, foi a implantação do Estaleiro Enseada do Paraguaçu, de grande impacto socioeconômico em toda a região, que exigiu o novo planejamento, mas a ponte sobre a Baía de Todos os Santos também foi incluída no cenário.

Quadro técnico que já respondeu pela secretaria de Planejamento da prefeitura de Lauro de Freitas, Edmundo Ramos acredita que será inevitável integrar agora o plane-jamento dos municípios da RMS. “A gestão da mobilidade é o principal problema”, diz Ramos, mas também a definição de parâme-tros do uso do solo, no encaminhamento de empreendimentos industriais, por exemplo. Na opinião dele, a “guerra fiscal” entre mu-nicípios, na oferta de vantagens para atrair investimentos, só faz tumultuar a tentativa de gestão metropolitana.

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de olho nas oportunidades

Os governos municipais podem não estar convencidos da necessidade de gerir a metrópole como um todo, mas a iniciativa privada já trabalha com o “mapa correto” – sem desprezar as vantagens do descompasso administrativo.

A Graute Empreendimentos, por exemplo, acaba de apresentar um projeto subordinado à lógica da metrópole. Mirando o turismo de negócios e o mercado consumidor do entorno, o “Aero Espaço Empresarial e Hotel” repou-sa sobre uma dinâmica intermunicipal. O aeroporto internacional, gerador de ocupação para o futuro Intercity Express, um hotel de 187 apartamentos, está em Salvador, embo-ra esteja no Polo Industrial de Camaçari o principal estímulo à demanda. Já os lojistas e profissionais liberais que ocuparão as 360 salas do complexo contam com o mercado de Lauro de Freitas.

Gilson Pinheiro, gerente comercial da Graute, destaca a forte expansão do PIB local como vantagem competitiva para os inves-tidores do projeto, mas decisiva mesmo é a economia de 70% na taxa do Imposto Sobre Serviços (ISS): 3% em Lauro de Freitas e 5% em Salvador. O diferencial pode representar a própria viabilidade econômica para um empreendimento do porte de um hotel.

Como uma gestão metropolitana integrada poderia manter o diferencial ou eliminá-lo, a solução pode não interessar a todos. Nem mesmo aos municípios, que praticam a “guer-ra fiscal” a que se refere Edmundo Ramos, de modo semelhante à dos estados quando se trata de atrair investimentos. Em Lauro de Freitas, Moema Gramacho nega que seja assim. “Há setores em que cobramos o mesmo que Salvador”, caso das instituições de ensino superior, por exemplo.

Na prática, nem sempre o ISS é determi-nante. A lógica metropolitana está presente também no investimento de R$ 200 milhões que o grupo JCPM fez em 85 mil m2 na Rótula do Aeroporto, território de Salvador. O Salva-dor Norte Shopping, inaugurado há um ano, mira o público da área norte da capital, mais Lauro de Freitas e Simões Filho. Porém

João Carlos Paes Mendonça, presidente do grupo, estava mais atento aos futuros aces-sos. A duplicação da BA-526 (CIA-Aeroporto) por exemplo, que deve ter a primeira etapa concluída em janeiro de 2012, foi apontada por ele como fator de alavancagem de vendas ao aproximar outros municípios da região metropolitana.

O SVO aumentará, exponencialmente, o potencial de vendas do empreendimento de Paes Mendonça, mas também problemas ur-banos que permanecem sem tratamento. [B+]

Antônio Magno de Souza Filho, prefeito de Vera Cruz, o prefeito de Salvador, João Henrique, o governador do

Estado, Jaques Wagner, e o secretário Zezéu Ribeiro

Sistema do metrô e a ponte Salvador-Itaparica prometem transformar radicalmente o sistema de mobilidade urbana da Região Metropolitana

Moema Gramacho (PT) vê problemas na falta de uma abordagem metropolitana em setores

como transporte, saúde, educação e segurança

Antônio Rosalvo (PSDB), presidente da Câmara Municipal de Lauro de Freitas, acredita que a miopia

municipalista traz prejuízos à sociedade