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1 Elaborado no dia 2 de Julho de 2013. Artigos de autoria do Professor Mestre em Educação pela Universidade Estadual de Campinas-UNICAMP. Elicio Gomes Lima. Atualmente é Pesquisador do GEPLAGE - Grupo de Estudos e Pesquisas Estado, Políticas, Planejamento, Avaliação e Gestão da Educação da UFSCAR - Sorocaba. Contexto histórico social do Brasil, 20 de junho de 2013. Nas principais cidades brasileiras, milhares de pessoas foram às ruas para protestar por diferentes motivos. Os meios de comunicação divulgaram que no total, mais de um milhão de pessoas participaram das manifestações. A história não se repete de forma idêntica, ela se produz na dinâmica da conjuntura sócio-historica materializada em um processo ideológico e politico discursivo que atravessam o corpo social desagregando e destituindo valores e representações anteriormente construídas que não representam mais a construção do social pulsante. Dessa forma, por meio das lutas, das alianças e das guerras, que a humanidade foi construindo e organizando-se politicamente em sociedade que se materializa naquilo que se denomina Estado de Direito. Nesse sentido, são imprescindíveis as Instituições para o funcionamento equilibrado da sociedade e, por conseguinte, estas se devem coloca-se aos serviços dos interesses sociais, com um escopo de regras e normas, para a ordenação das interações entre os indivíduos e entre estes e suas respectivas formas organizacionais. As instituições sociais tem seu papel fundamental no processo de socialização e cidadania. Há um grande desencanto da sociedade com os políticos, mas não com a politica, portanto, os movimentos sociais devem ser compreendidos como uma política de participação dos cidadãos na vida pública, no governo e na sociedade. O povo brasileiro clama por uma sociedade mais igualitária com distribuição de renda mais justa, com serviços públicos como a educação, a saúde, o transporte, e a segurança dentres outros, que sejam de qualidade, em que a corrupção seja tratada como um crime hediondo e que seus atores sejam severamente punidos e banidos do cenário politico brasileiros. A mobilização social nesse momento e nesse contexto da historia do Brasil representa um deslocamento da ordem do político-institucional, esse deslocamento pode ser entendido de forma significativa que os políticos já não são vistos como representantes legítimos do povo, ou seja, já não são reconhecidos como porta-vozes legítimos da cidadania. A mobilização social é uma pratica política pela qual o povo se constitui simultaneamente como seu próprio representante e porta-voz de suas insatisfações com a ordem do político, do jurídico, do econômico e até mesmo do ordenamento das representações culturais.

Revolta estrutural

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As instituições sociais tem seu papel fundamental no processo de socialização e cidadania. Há um grande desencanto da sociedade com os políticos, mas não com a politica, portanto, os movimentos sociais devem ser compreendidos como uma política de participação dos cidadãos na vida pública, no governo e na sociedade.

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1 Elaborado no dia 2 de Julho de 2013. Artigos de autoria do Professor Mestre em Educação pela Universidade Estadual de Campinas-UNICAMP. Elicio Gomes Lima. Atualmente é Pesquisador do GEPLAGE - Grupo de Estudos e Pesquisas Estado, Políticas, Planejamento, Avaliação e Gestão da Educação da UFSCAR - Sorocaba.

Contexto histórico social do Brasil, 20 de junho de 2013. Nas principais

cidades brasileiras, milhares de pessoas foram às ruas para protestar por

diferentes motivos. Os meios de comunicação divulgaram que no total, mais de

um milhão de pessoas participaram das manifestações.

A história não se repete de forma idêntica, ela se produz na dinâmica da

conjuntura sócio-historica materializada em um processo ideológico e politico

discursivo que atravessam o corpo social desagregando e destituindo valores e

representações anteriormente construídas que não representam mais a

construção do social pulsante. Dessa forma, por meio das lutas, das alianças e

das guerras, que a humanidade foi construindo e organizando-se politicamente

em sociedade que se materializa naquilo que se denomina Estado de Direito.

Nesse sentido, são imprescindíveis as Instituições para o funcionamento

equilibrado da sociedade e, por conseguinte, estas se devem coloca-se aos

serviços dos interesses sociais, com um escopo de regras e normas, para a

ordenação das interações entre os indivíduos e entre estes e suas respectivas

formas organizacionais.

As instituições sociais tem seu papel fundamental no processo de

socialização e cidadania. Há um grande desencanto da sociedade com os

políticos, mas não com a politica, portanto, os movimentos sociais devem ser

compreendidos como uma política de participação dos cidadãos na vida

pública, no governo e na sociedade.

O povo brasileiro clama por uma sociedade mais igualitária com

distribuição de renda mais justa, com serviços públicos como a educação, a

saúde, o transporte, e a segurança dentres outros, que sejam de qualidade, em

que a corrupção seja tratada como um crime hediondo e que seus atores sejam

severamente punidos e banidos do cenário politico brasileiros.

A mobilização social nesse momento e nesse contexto da historia do

Brasil representa um deslocamento da ordem do político-institucional, esse

deslocamento pode ser entendido de forma significativa que os políticos já não

são vistos como representantes legítimos do povo, ou seja, já não são

reconhecidos como porta-vozes legítimos da cidadania.

A mobilização social é uma pratica política pela qual o povo se constitui

simultaneamente como seu próprio representante e porta-voz de suas

insatisfações com a ordem do político, do jurídico, do econômico e até mesmo

do ordenamento das representações culturais.

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2 Elaborado no dia 2 de Julho de 2013. Artigos de autoria do Professor Mestre em Educação pela Universidade Estadual de Campinas-UNICAMP. Elicio Gomes Lima. Atualmente é Pesquisador do GEPLAGE - Grupo de Estudos e Pesquisas Estado, Políticas, Planejamento, Avaliação e Gestão da Educação da UFSCAR - Sorocaba.

O que está em jogo é a representação da legitimidade dos partidos

políticos e dos políticos que são gestores do Estado e porta-voz do povo e da

sociedade, isso traduz em que seus atos e suas palavras (discursos políticos-

ideológicos) não coincidem com a vontade e nem com as necessidades da

sociedade.

É hora de uma reformulação na forma de pensar e fazer politica com um

olhar atendo para a sociedade e suas representações, suas mensagens de

ordem anunciativas que podem evitar conflitos não só ideológicos

desnecessários, mais conflitos físicos motivados pelo uso necessário da força

de coerção do ESTADO e que desemboca em muitos casos em desordem

social e destruição do equilíbrio e da estabilidade da nação.

A democracia é um processo, que se transforma e aperfeiçoa e que nem

sempre se faz com conquistas pacificas de caráter definitivo, mas os resultados

das lutas, dos embates e das conquistas sociais consensuais, devem ser

institucionalizados para garantir a equidade social.

Portanto, as instituições públicas democráticas é o caminho para

estabelecer o contrato social em uma perspectiva de justiça social. Dessa

forma, através dos anseios sociais as instituições tem o dever de instituir,

politicas públicas de caráter social, ou seja, pôr em vigor, e estabelecer um uso

eficiente dos equipamentos e serviços do estado com justiça social.

Para tanto, se deve compreender claramente o significado de

democracia: A definição clássica significa que o povo tem poder de

participação nas decisões políticas dos sistemas governamentais direta ou

indiretamente, por meio de representantes eleitos. No entanto, democracia é

uma construção, ou seja, a um conjunto de processos históricos forjados nos

discursos e práticas políticas em que as pessoas possuem o direito de

participar dos processos políticos e de debater ou decidir políticas na quais

certos direitos são universalizados a partir dos princípios de liberdade de

expressão e dignidade humana.

Dessa forma, democracia esta estreitamente vinculada à ideia de lei, ou

seja, ao constitucionalismo que não se resume a apenas a igualdade jurídica,

mas também depende do acesso democrático à espaços e benefícios sociais

diversos(princípio da igualdade e dignidade humana). Nessa perspectiva, a

democracia é o regime da lei e da ordem, do compromisso, da argumentação,

mas é também o regime do conflito das repressões e pressões dos

movimentos sociais.

Entre conflito e ordem existe uma contradição, mas essa dicotomia se

sustenta em um “contrato social”. Portanto, as pressões sociais são

instrumentos de luta para obrigar os governos a pensar nos interesses sociais

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3 Elaborado no dia 2 de Julho de 2013. Artigos de autoria do Professor Mestre em Educação pela Universidade Estadual de Campinas-UNICAMP. Elicio Gomes Lima. Atualmente é Pesquisador do GEPLAGE - Grupo de Estudos e Pesquisas Estado, Políticas, Planejamento, Avaliação e Gestão da Educação da UFSCAR - Sorocaba.

tomar as decisões que atenda os interesses da sociedade ou de seguimentos

da sociedade. Assim, creio que a organizações da sociedade civil, expressa

uma busca pela democracia, qualidade nos serviços públicos e investimentos

nos setores de ordem social que dignifica o humano num contexto em que os

atuais sistemas políticos perderam a capacidade de satisfazer as demandas do

sistema social e manter o funcionamento do sistema político, ou seja, do

Estado enquanto Nação.

No campo dos direitos humanos o processo democrático estabelecer

minimamente um conjunto de garantias sociais e políticas, econômicas e

culturais capazes de assegurar a dignidade da pessoa humana e participação

democrática da sociedade no mundo político. Fundamentalmente a democracia

trata de estabelecer os direitos dos povos, mas, o reconhecimento e a

consolidação desses direitos é um processo gradual e consensual até que

existam as condições necessárias para a formação de políticas nacionais que

assuma o poder e às ideologias políticas da democracia. Nessa perspectiva, a

democracia é o caminho que garantirá o estabelecimento dos direitos e de uma

gestão realmente voltada para as necessidades da sociedade.

Nesse sentido a administração pública, a gestão dos governos, em uma

concepção de democracia deve constituir em um conjunto de valores que

atenda as necessidades reais da sociedade, que dão sentido á existência,

enobrecem as coletividades e valorizam o homem.

As relações sociais não são estáticas, imutáveis, elas são dinâmicas,

pois se constituem pela a ação dos sujeitos que habitam um dado contexto

histórico-social. Isso significa que as relações sociais podem e são

transformadas pelos próprios sujeitos que integram a sociedade.

Dessa forma, na sociedade de classe os interesses das classes sociais

podem ser manifestos quando percebem claramente as contradições explicitas

nos atos e nos discursos do ordenamento regulatório social, em outras

palavras a gestão pública, as representações político-partidárias não atendem

as necessidades exigidas pela estrutura social.

Ou seja, a gestão dos equipamentos públicos, as ideias e os valores

defendidos pelos partidos e pelos políticos na governança, não condizem com

a realidade social e trazem atona os conflitos individuais e coletivos, que geram

insatisfações pelos os mais diversos motivos de caráter social, deflagrando em

manifestações que fazem surgir os movimentos sociais.

Portanto, o ato da pratica politica que envolve as manifestações

coletivas implica em lutas por modificações nas relações e na estrutura social,

é uma forma da sociedade encaminhar a sua pratica politica para concretizar

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as suas exigências e objetivos como necessidade concreta vivenciada no dia-

a-dia nos espaços das relações sociais.

Nesse sentido, os movimentos sociais é um produto das insatisfações,

angustias e contradições produzidas no ordenamento da governança da

estrutura social, as insatisfações transformam as convicções em atitudes

efetivas frente aos problemas sociais, e isso resulta em uma unidade entre os

sujeitos, que reconhecem que há diferentes motivos (embora comum) que

geram e articulam o conjunto dessas insatisfações estruturais.

Isso significa que os membros da sociedade compartilham interesses e

objetivos comuns enquanto um coletivo de cidadãos. A sociedade interage

entre si constituindo uma rede de relação interdependente que passa a

questionar se as instituições nacionais estão realmente preocupadas com o

bem-estar cívico.

E isso resulta em uma revolta estrutural, que pode se manifesta através

da violência. Em uma grande concentração de pessoas de modo geral sempre

ocorre algum tipo de violência, por uma multiplicidade de motivos, além disso,

nas grandes manifestações, vândalos, oportunistas, sabotadores e marginais

infiltram para realizarem seus intentos, protegidos em meio a tumultos que

dificultam a identificação de baderneiros e malfeitores.

Entretanto, por outro lado dentro de um clima de angustia e indignação

fervescente o povo de bem pode ser insuflado e tentado a agir de forma

violenta pensando está fazendo justiça com as próprias mãos através de atos

de destruição de bens públicos e em um clima mais quente é possível até

ocorrer linchamento de seus opressores em um confronto direto com

manifestantes tomados pela fúria da injustiça social.

Tais atos de descontrole da ordem social ocorrem pelo fato da

sociedade não reconhecerem mais a capacidade das autoridades constituída

em solucionar e agirem de forma justa em relação aos problemas de ordem

sociais imediatas. Além disso, nesse clima pode surgir insurgentes e

oposicionistas dentro do próprio sistema de governo, onde seria necessário um

repensar em conjunto as relações de poder que envolve o contrato social.

E qual o perigo de tudo isso? Inicialmente é do estabelecimento de uma

tremenda desordem na estrutura social, que pode gerar mais e mais violência

desestruturaste no ordenamento social e violência entre os próprios

manifestantes e também entre as forças do estado que tenta inutilmente

apagar os múltiplos focos de violência.

A violência desestruturante é o resultado da perda de credibilidade das

autoridades, dos gestores públicos, das politicas sociais, das representações

jurídicas e por fim das instituições em sua capacidade em gerar atendimento

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eficiente através dos serviços públicos. O grande perigo de um país envolto à

manifestações violentas é o surgimento de uma guerra civil que tentará

estabelecer um outro governo, ou até mesmo outra forma de governo.

Isso (manifestações violentas) significa um retrocesso democrático e um

desmantelamento das instituições desacreditadas e que não atende mais as

necessidades da sociedade. As manifestações violentas é uma representação

que simboliza a tomada do poder pelos oprimidos com o intuito de fazer justiça

social e reelaborar a reconstrução de instituições que passam credibilidade.

O que é necessário para evitar esse fim trágico pelo qual passa o Egito,

a Síria dentre outros? Basta... Atender as reivindicações prementes do povo e

recuperar a credibilidade nas instituições! Em primeiro lugar é necessário às

instituições, as autoridades, os gestores e os partidos políticos como

representantes do povo que ouçam as vozes sociais e implementem medidas

que atendam o clamor popular, que construa um discurso conciliador com os

seguimentos sociais e que permitam e elejam canais para a participação dos

mesmos para que apontem sugestões que possam encaminhar a resolução

dos problemas que atendam as necessidades na conjuntura social.

Em seguida é necessário que as autoridades de governos apresentem

para a sociedade evidencias concretas que suas reivindicações foram de fato

atendidas de modo real e não demagógica, porque em um clima de agitação

social, não há lugar para a demagogia que se torna um estopim para reacender

o fogo das revoltas e de levantes.

Após atender as necessidades prementes da sociedade, as autoridades,

políticos, governos, gestores e poderes jurídicos precisam ainda dialogar com

os lideres e com os seguimentos envolvidos nesse processo de manifestações

para que façam um movimento no sentido de estabilizar a ordem social do

Estado e do reconhecimento do papel fundamental das instituições na

manutenção do contrato social e no equilíbrio da ordenança social.

É necessário fortalecer as instituições e que elas realmente representem

nas mais diversas dimensões a sociedade, através da justiça social, porque

não há como uma nação democrática conviver de forma ordenada, equilibrada

e pacifica sem as instituições que a organiza e que coloca em funcionamento

os mecanismos de ordenamento para o bem social.